Poema de agora – La vem a manga descendo a ladeira – Patricia Cattani

La vem a manga descendo a ladeira

La vem a manga descendo a ladeira
E Todos correndo atrás da manga faceira
Quando a manga parou, eram tantas pelo chão
Que correr atrás só de uma parecia algo em vão
La vem a manga descendo a ladeira
É homem velho, menino e mulher rameira
Mas aqui é tanta manga que ninguém fica sozinho
Tem pra todos que a desejam e até pro chato do vizinho


La vem a manga descendo a ladeira
Desvia das pedras e até levanta poeira
Dos automóveis só resta vidros quebrados
E a ira dos motoristas endiabrados
La vem a manga descendo a ladeira
Sua origem é indiana, essa fruta tropical
Dizem as más línguas que até pode fazer mal
Mas se não comê-la com leite, coma verde e com sal
La vem a manga descendo a ladeira
Lambuzar-se com a manga é uma bela brincadeira

Patricia Cattani

Poema de agora: Faça-me – Patricia Cattani

Faça-me

Faça-me sentir saudades
Deseje-me sem maldades
Abraça-me o quanto puder
Seremos um para o outro
somente o que Deus quiser

Faça-me rir até eu lagrimar
Não chore quando eu chorar
Não venha quando eu chamar
Não me obedeça assim tanto
Que seja teu o meu recanto

Venha-me alegre e de mansinho
Abrace-me se eu chorar baixinho
Espere-me no banho
Dedique-me o teu canto

Solte-me de vez em quando
Deixe-me correr pelo campo
Pés descalços na terra
Avistar uma tapera velha
Braços abertos ao vento
Carta rabiscada de sentimento

Deixe-me de beira
Largue-me de bobeira
Goiaba madura na goiabeira
Manga descendo a ladeira
Faço-te um chá de cidreira

Ignore-me, me provoque
Não me chame o reboque
Deixa-me ao léu e suma a galope
Da água beba o ultimo gole

Beije-me com desejo a boca
Faça-me um pouco boba
Não tanto Louca e rouca,
Faça-me uma boa loba

Se esconda de mim na madrugada
Que eu te procure até ficar zangada
Depois me ame com doçura, amor e alma
Até eu tocar o céu na noite enluarada

Conte-me mentirinhas pra me fazer feliz
E meias verdades sem que te cresça o nariz
Bagunce meus discos
Arrume meus Livros
Roube-me um sorriso
Leve-me ao paraíso

Conte-me teus segredos
Nunca todos por inteiro
De teus mistérios eu gosto
São os melhores, aposto!

Misture todos os nossos suores
Sussurros, suspiros e roucas Vozes,
Depois te faço bolo de nozes
Mais gostosos e melhores

Deixe-me degustar teus sabores
Recheados de ternura e amores
Faça-me reconhecer nosso cheiro
Impresso no lençol e travesseiro
Na mistura de nossos avessos

Mas se nada disso te bastar
Faça apenas o que te agradar
Deixe o coração solto a bailar
Experimente apenas me amar

Patricia Cattani

Poema de agora: Um caminho para o coração – Pat Andrade

Um caminho para o coração

são muitas as barreiras
parece difícil de acessar
tem pedras, tem espinhos
é bem penoso o caminhar

a trilha é longa e estreita
pouca sombra pra descansar
mas, devagar e com cuidado,
uma hora se há de chegar

deve ser boa a recompensa
desistir não é uma opção
é preciso ir até o fim da estrada
pra abrir a porta do coração

Pat Andrade

Poema de agora: Se o mundo acabar amanhã – Jaci Rocha

Se o mundo acabar amanhã

Se o mundo acabar amanhã
Tomara que eu tenha beijado tudo que poderia
E que toda a futura poesia
Saiba me perdoar, por partir

Tomara que haja um arco-íris no céu
e caia aquela chuva fina que deixa o cheiro da terra molhada invadir o espaço
e que cada beijo,elo ou laço
Esteja em seu melhor lugar…

Se o mundo acabar amanhã

Nesse hospício maluco de algum secreto Alienígena Alienista
Haja um show de Nando,
Um céu azul intenso
Ou um bonito sarau de poesia…

Sei lá, se o mundo acabar amanhã

Que o amor me perdoe por tudo que calei
E que reverencie as vezes que larguei o prumo e na chuva dancei
E todas as vezes que segui estrelas
Dia aceso ou plena madrugada

– Pois eu fui inteira, em cada passagem da estada…-

Eu sei, esse tão pouco tempo aqui
desde o big bang é quase nada
Mas, cá estamos, plenos de (in)significâncias
e é tão lindo viver…

Se o mundo acabar amanhã
Que possa esquecer tudo que foi lira não dita
Palavra riscada – poesia triste, esquecida
E que eu possa seguir para a próxima fase

Com um sorriso no lábio
E a certeza de que a vida se reinventa
Pois afinal, do caos secreto do espaço viemos
somos arte do universo:

corpo em carne: poeira das estrelas!

(Mas, se o Mundo Acabar amanhã
Tomara que seja para renascer
Mais puro e mais pleno
Dentro de nós )

Jaci Rocha

Poema de agora: Chuva do Cerrado (do poeta amapaense José Edson, que mora em Brasília (DF), em homenagem aos 60 anos da capital federal)

Chuva do Cerrado

Chove leve
lava Brasília lívida
lânguida

Abre espartilho
cinzento da noite
barca solidão partida

Brilho no olho neon
costura um silêncio
na poça d’água serena

Comove ave leviatã
como nau lupiscínica
sob falena inconsútil

Chove leve
lava Asa Norte fútil
sonata breve leviana

José Edson

*José Edson dos Santos é poeta amapaense, que reside em Brasília (DF). Este poema é de seu livro “Ampulheta de Aedo”.
**Contribuição de Fernando Canto

Poema de agora: MEDO DE AMAR – Rui Guilherme

MEDO DE AMAR

Tiger, tiger, – Tigre, tigre,
Burning bright – Cujo brilho incendeia
In the forests of the night, – As florestas da noite,
What immortal hand or eye – De quem é esta mão ou olho imortal
Dared frame – Que ousou traçar
Thy fearful simmetry? – Tua apavorante simetria?
ROBERT BLAKE (“Songs of Innocence”) – ROBERT BLAKE (“Canções da Inocência”)

Vejo o amor que chega
como um grande tigre com seus olhos amarelos.

Existe um brilho satânico naquele jeito de olhar,
na maneira graciosa com que se passeia,
as patas de veludo pisando quase sem soar
no chão forrado de folhas, enquanto a cauda coleia.

Alguma coisa, um barulho, e se detém o grande gato.
Pára; olha em torno; escuta; fareja
a espreitar algo que, no mato,
a certa distância rasteja.

Pode-se ver muito bem que é uma serpente:
é uma píton, é uma enorme sucuri
que arrasta seu ventre sem pressa, indolente,
por entre toiças de canarana e piri.

Faz um calor dos infernos na selva tropical.
O tigre, a cobra, são imagens de delírio
a prenunciar, um e outra, beleza e mal.

É o amor esta flor, orquídea ou lírio?
Ou é – quem sabe – só loucura e turbulência?

Eu vejo o amor como um tigre de olho amarelo:
bonito e trágico, capaz de levar à demência;
arriscado, letal, porém belo, sem dúvida, belo…

A cobra é símbolo da prudência,
mas é também imagem da traição.
Cobra! Tigre! Dai-me a vossa sapiência!
Tirai de mim tod’essa aflição!

Aflição, sim, porque o amor é agonia
e gozo; é vinho e veneno;
a água e a sede; o tufão e a calmaria.

Diante do amor me vejo trêmulo e pequeno,
desamparado como a corça na floresta
a que o tigre se apresta a devorar.

Sou frágil presa.
Nada mais me resta
senão morrer de medo do amor
e, mesmo assim, vou me morrendo de amar…

Vejo o amor que chega
como um tigre com seus olhos amarelos.

Rui Guilherme

Poema de agora: POETA AMADO (homenagem aos poetas que leio) – Patricia Cattani

POETA AMADO (homenagem aos poetas que leio) 

Vou te seguindo passo a passo
Me ajustando ao teu compasso
Teus poemas de amor exacerbado
Degusto pedaço a pedaço
E me envolvo em teu abraço

Sinto o coração apertado
As vezes tropeço e até caio
Na testa um galo, no peito me ralo
Mas Já, já me saro
Foi teu conto, a rosa brigou com o cravo
Mas depois brincaram no riacho

Confusos pensamentos eu trago
E me engasgo com teu traço
Sentimentos eu refaço
à tua poesia de novo me enlaço

Com meus botões eu falo
Enigma difícil, Mas que saco!
Esse eu passo…rsrs
Reconheço meu fracasso

Mas sinto teu chamado
E Me desfaço do cansaço
Passas por mim emocionado
Ou um conto bem humorado

Seja real ou inventado
Sinto meu ser novamente renovado,
E lendo teu mundo emoldurado
Me tenho alimentado

Te transporto a meus braços
Na mente te afago, sem pecado
e meu peito já palpitado
Ao ler teu poema triste e amargurado

Em teu verso alado
Voei leve ao espaço
De teu versejar me agrado
Penso que é meu o regalo
Creio ser teu “Bem Querer” amado
Sinto meu rosto beijado
E coração acarinhado

As vezes teu pensamento parece um plágio
do meu sentimento já ao teu tão embolado
nesse tecer letrado já trançado
meu e teu, mundo sonhado
por fim eternizado

Mas de novo me quebras em pedaços
Serena me calo e junto os cacos
Me parecia tão mais fácil
Pensei que éramos misturado
farinhas do mesmo saco
Pobre de meu coração enganado
Em teus versos já não caibo

Mas não paro, sigo sempre teu rastro
Em teus rabiscos me agarro,
Aprendi, agora já não caio
E me fascino em teu riscado
Com o coração já meio rachado

Mas espero um teu lampejo ou lapso
Pra que sintas meu real anseio sonhado
Mas o que desejas de fato?
O que há dentro de teu coração sagrado? indago
Oh! Poeta admirado
Que revela puro sentimentos num poema rasurado
Quisera eu, em um espasmo roubado
Desvendar o teu universo encantado

E neste meu poema borrado
Um tanto maluco, desvairado
No intuito de ser rimado.
Já nem sei se ao meu poeta eu agrado
Era só pra ser engraçado,
mas Já não aguento tanto “ado”,
Quase o apago, Imagine um poema gago
Melhor fosse mudo e calado,
Mas se postado, deixo aqui o meu recado
Ao meus homenageados
Poetas adorados
Sintam-se Carinhosamente beijados

Patricia Cattani

Poema de agora: Página Inicial – Luiz Jorge Ferreira

Página Inicial

Nunca mais se vá embora…. arrastando suas lembranças pela sala.
Nem dance com o amor lá fora de um jeito tão divertido, que a mim distraía.
Pois não sei em que tom canta a saudade.
Nunca mais diga a dor que se sente na Sala de Jantar.
E que fique para tomar café comigo ao entardecer.

Pois não consigo esquecer o que comigo fazem.
Por favor fale ao tempo que desista de se afastar abruptamente.
E que basta de embranquecer meus cabelos.
E essa Música que você canta e dança doutro lado do espelho.
Para mim que saí de mim no Outono.

Lembra um rasgar de panos e nunca um estalar de abraços.
Não sei dançar cabisbaixo, a olhar os últimos passos.
Ouço o que parece sinos Mas sei que são restos de restos empilhados para seu regresso, que a noite chuta e espalha em direção ao nada.
Simples assim.

Luiz Jorge Ferreira

*Poesia escrita em Osasco (SP), em 18.04.2020. Dia também conhecido como hoje.

Poema de agora: AS JANELAS – Pat Andrade

AS JANELAS

estou trancafiada…
o teto é muito baixo
e achata os pensamentos

as paredes comprimem
minhas vontades
o corredor estreita
meus desejos
(que nem são tantos)

apenas as janelas da casa
são minhas aliadas.
elas libertam
meus pensamentos
deixam escapar
minha imaginação
(que se espreguiça
com os gatos)
pelos telhados

é pelas janelas
que grito e solto
minha poesia

PAT ANDRADE

Poema de agora: Maru e Anum – @ManoelFabricio1

Maru e Anum

Da metade + 1
Queria da um pulo contigo
Lá no Maruanum

Me embalar, até o punho
Rasgar
Cair no chão
Rir pra ñ chorar

Levantar e ir colher o lírio roxo
Pelos campos l1
Deixando os sentidos pelo caminho

Registro do nome pela oralidade
Feijão cozido na louça de barro
Da um gosto de saudade

Preta índia
Índia preta
Ñ há registro de mulher mais linda
na literatura do planeta

Manoel Fabrício

Poema de agora: CARTA ABERTA DE CIDADÃ – Patrícia Cattani

CARTA ABERTA DE CIDADÃ

Carta aberta ao vento
ao vento e ao relento
pregada na porta
com cola de roca
na porta da igreja
para que a veja
quem quer que seja.

Carta aberta, escrita a mão
mas não papel de pão
Tão pouco papel timbrado
Sim, folhas de caderno espirado
rasgadas sem nenhum cuidado

Carta polêmica,
tomou a cena
Questionada, denunciada
Repudiada e amada
Carta maldita, carta bem quista
virou manchete e noticia

Carta aberta de cidadã autora
Mais chamada de doutora
que só lhe restou o quanto é pública
do mais alto grau da magistratura
lhe rendendo ouvidos á altura

Se errada ou certa, verdades ou mentiras
para julgá-la já tem demais especialistas
Não me meto nessa briga
que mais parece politica

Amante de cartas desde de gitinha
ainda guardo tantas numa caixinha
Mas quanto á carta não esquecida
tenho cá minhas cismas

Enquanto discutem o conteúdo da tal
me pergunto porque folhas de caderno espiral
por quanto se preze a cidadã, carta escrita a mão
tem que ter o seu valor, nem precisa ser de cor

Mas que seja papel de carta
pode até ser sem pauta.
Três partes de dobradura
Dispensa-se até cercadura

nem convêm tinta cheirosa
com aromas de botões de rosa
já que nada de amor foi dito
nem sorrisos nem suspiro

Já que estamos na onda da liberdade
ainda que sem responsabilidade
deixo aqui meu pensamento
quanto a carta do momento

Se o conteúdo
é pra muitos, petulante
Quanto a forma, eu mesmo digo
um tanto quanto DESELEGANTE.

Patrícia Cattani

Poema de agora: PRIMAVERA EM PARIS (de Patrícia Andrade para seu amigo Cruz)

PRIMAVERA EM PARIS

Para meu amigo Cruz

é primavera em Paris
e aqui as aranhas tecem casas inteiras
as flores murcham nos vasos
e os olhares são embaciados

é primavera em Paris
e aqui choramos por noites inteiras
por tantos vasos quebrados
por olhos já fechados

é primavera em Paris
e o artista pinta telas inteiras
com a dor que vem das quebradas
através de seus olhos vidrados

é primavera em Paris
e o coração percorre as fronteiras
pra quebrar a saudade em pedaços
e alegrar seus olhos cansados

PATRÍCIA ANDRADE

Poema de agora: DESPUDORADA LUA!! – Patricia Cattani

DESPUDORADA LUA!!

Desavergonhada lua!
Que vaga na noite escura,
Desfila na passarela orbital,
Oferecendo-se toda nua. Vai amoral!
Romântica e desejada lua universal!
Oh! Desvairada Lua.

Fogosa Lua!
Presente nos ardentes desejos,
Sucumbida de infinitos beijos,
Regalo de todos os amantes,
Pensas até que és um brilhante,
OH! Pretensiosa lua!

Incontestável Lua
Quanto mais gorda, mais bela e nua.
Míngua em arco, esbelta, quase uma atleta.
Seminua se mostra ao poeta.
Oh! Formosa Lua!

Sedutora lua!
Musa de cantores e poetas,
Produto de tantas promessas,
Recitada em versos de poesia,
Musicada nas mais belas rimas,
pelos boêmios nas noites frias.
Provocante e Promíscua Lua!

Apreciável Lua!
Seja mulher, homem velho ou criança,
Lua se mostra sem pedágio ou cobrança.
Sem preconceito, seja amor branco ou preto,
Faz-se bela e admirada no leito.
Adorável lua!

Prometida Lua!
Ao amor rico, ao amor pobre, seja plebeu eu nobre,
Seja de ouro ou de cobre, serás a oferta do dia.
Não chores!
Desfrutável lua!

Descolorida e acinzentada lua!
Sem cor, sem calor, sem pudor.
Descolore amores, sem piedade ou dor,
Oh! Implacável lua!

Investigável lua!
Conquistada sem consentimento,
Nas guerras do mundo imenso,
Neil Armstrong na corrida espacial,
Ou na espada de São Jorge e coisa e tal.
Mística Lua!

Ditadora Lua!
Dita a hora de fecundar a semente.
O instante do rebento nascente.
Norteou civilizações antigas.
Maias, Astecas e Incas.
Oh! Sabedora e conhecedora lua!

Lua das luas de mel.
Que leva os noivos aos céus,
Depois te mancharam o branco véu,
Te esconjuraram como réu,
Deram-te dissabores em fel,
Oh! Difamada e condenada Lua!

Lua das dores do mundo, dos moribundos vagabundos
Lua do jovem soldado aspirante, que já sem esperança e com temor errante,
Na cama de campanha da batalha, na ausência da noiva resguardada
Fez-te lua, a última amada.
Oh! Generosa Lua!

Lua dos acalantos
Da Magia dos encantos, Lua de todos os santos.
Dos descontentamentos e lamentos.
Cortejada pelos poetas loucos em desvarios,
Lua vazia e fria cai em risos,
Pois eles a tem como única amada.
oh! Debochada lua desalmada!

Lua desnuda e crua.
Lua de tantos amores,
Brindada com licores.
Lua de poucas cores,
Na noite se deixa como uma gueixa,
Muda e calada jamais se queixa.
Oh! Submissa lua!

Amável lua!
Faz-se bela, como nunca, mirada da janela ou da rua.
Namorada dos homens, perseguida pelos lobisomens.
Tantos amores em seu roll, mas quem a faz brilhar é o rei sol.
Oh! Misteriosa e eclipsada lua!

Mas és de fato dos amantes.
Sua tarefa mais importante,
Seja culta ou crua,
Oculta, nua ou obscura,
És sem dúvida alguma
A soberana. Lua de tantas luas,
ÉS A MAIS NOBRE DAS PUTAS
OH! DESPUDORADA LUA!!

Patricia Cattani