Poema de agora: PRECE – Ori Fonseca

PRECE

Ó Deus, tira-me a mente
Para que eu te creia
Cega-me os olhos
Para que eu não veja
Corta-me as pernas
Pra que eu não me mova.
Sem isso, Pai,
Continuarei a pensar e duvidar
Continuarei a ver teus filhos abandonados
À miséria, à escravidão, ao terror de tiranos
Continuarei a caminhar em busca da verdade
Longe de tuas linhas tortas.

Senhor, desfaze-me, te peço
Não sou digno de mentir contigo
Não sei contar tuas histórias falsas
Não quero iludir com tua Palavra.

Tua Luz é fria para mim
Tua Luz é cega
Tua Luz não guia
Tua Luz não brilha
Tira-me o ar, Criador
Senhor da minha dúvida
Pai absoluto da minha certeza.

E perdoa-me, te peço
Por muitos que humilham te louvando
Por tantos que ferem em teu nome
Por todos os que matam te clamando
Não sabem eles, teus filhos órfãos, que não sabes nada.

Por fim, deixa-me em paz, ó Pai
Por ti houve fogueiras de gente
Houve guerras sangrentas
Houve gritos de horrores
Houve descaminho, mentira e morte
Houve outros deuses amparados em ti.

Dá-me o sono tranquilo da tua inexistência.

Amém!

Ori Fonseca

Poema de agora: SOBRE SENTIMENTOS – Pat Andrade

SOBRE SENTIMENTOS

depois de esbarrar na estante da sala,
vejo caírem os sentimentos todos…
um a um, vão se espalhando pela casa.

os mais antigos se escondem muito bem.
mas, numa varredura mais ciosa,
acharemos raridades…

tem uns mesquinhos;
são insistentes e maldosos.
jogo fora sumariamente, assim que os agarro.
os de amor, procuro-os em vão;
há tempos me abandonaram.

os mais recentes são confusos;
fogem da caixinha e são muitos…
tantos, que às vezes posso vê-los
bem à vontade, pendurados no teto,
estirados na cama, ou sobre o sofá.

[considero-os inúteis e superficiais…]

guardo-os a sete chaves;
não os quero por aí,
iludindo mais ninguém…

PAT ANDRADE

Poema de agora: De Costas para o Farol – Luiz Jorge Ferreira

De Costas para o Farol

Aguardo a luz para acender a noite…
A noite dorme atrás do farol
Parece até que a lua cheia brinca pira na areia
Parece até que os meninos pobres pelas ruas são estrelas.
Eu imagino que Deus dorme e o malino faz asneiras.
Ih… esqueci dos cães, das lagartixas agarradas nas lisas paredes, dos jabutis, dos canários para quem a gaiola é um vale… e da pichação colorida das borboletas.

Não acho que vale a pena todos esses passos em direção ao portão…
Ou amordaçar essa lua pálida que se reflete no meus olhos como um peixe apaixonada por reflexos azuis.

Ih… esqueci da vida, imprensada entre os dias, e as noites estamos nas duas últimas décadas…

Já em breve não serei plural… serei aquele que pedalou imberbe pelas ruas de costas para um rio enorme que abocanha suas margens, como um dia abocanhei mangas verdes com sal.

Agora aguardo… olhando as fotografias no quarto…
Lá fora tudo continua…
Simples como o vento pondo as folhas para dançar.
Ainda a mesma lua, a se esconder por detrás do
meu destino posto a secar no girau, o tataravó d’aquela lagartixa alpinista, olha minha ausência pela janela.
Uns acordes destinados a um frevo
Descansam seus calos em um chinelo de tiras, cujo os passos são apenas ensaios de um rumo sem rumo…

Em mim, ando às voltas com lágrimas…
As coloco dispersas entre várias décadas …
As consumi demais.
Hoje restam poucas, ou não me restam mais!

Luiz Jorge Ferreira

* Do Livro de poemas “Defronte da Boca da Noite… ficam os dias de Ontem” – Rumo Editorial – São Paulo – Brasil.

Poema de agora: Eu já fui borboleta – Mary Rocha

Eu já fui borboleta

… eu já fui borboleta…
e de flor em flor
distribui minha delicadeza…
com as asas em movimento
ajudei o vento
…a eternizar a existência…

eu já adorei a essência
e mesmo sem o raciocínio humano
considerado uma dádiva a quem
nesta vida se acha superior

eu
conheci o amor
no mais puro e particular significado
e,
liberta do ser racional
não apreciei a filosofia do homem usual…
que necessita de muitas palavras
para entender o que eu já vivi desde o casulo

pois,
quando teci meu leito
despedi-me em vida
daquela lagarta querida
que também habitou em mim

e bem no meio da transformação
conheci de perto a solidão
e nunca me fez falta pensar

pois me componho da própria vida
desde a lagarta
até o último voo
eu entendi que o choro
é um instante da alma chovendo

e ainda depois de me desfazer para esta existência
saiba que minha essência
deixei espalhada no infinito…

Mary Rocha

*Além de poeta, Mary Rocha é competente advogada e querida amiga deste editor.

Poema de agora: SALVE A POESIA – Pat Andrade

SALVE A POESIA

salve a poesia
em cada beco escuro
em cada ponte de periferia
em cada beira de estrada

salve a poesia
em cada noite de balada
em cada cama desarrumada
em cada mulher desvirginada

salve a poesia
em cada criança assassinada
em cada bala predestinada
em cada mãe desesperada

salve a poesia
porque não nos resta mais nada

Pat Andrade

Poema de agora: Perguntas a Papai Noel – Arthur Nery Marinho

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Quando em criança o sapato
que tinha pus à janela
lhe esperando. Noutro dia
nem sapato e nem chinela.

Quando em rapaz lhe pedi
para me dar meu amor.
Aqui estou sozinho e triste
fazendo versos de dor.

Que lhe fiz, que não me olha?
que lhe fiz, que não me escuta?
Responda, Papai Noel!
Papai Noel filho da puta!

Esse poema do Arthur está no livro “Sermão de Mágoas”, lançado em 1993. Arthur era Jornalista, poeta e músico.
*Contribuição de Alcinéa Cavalcante

A ALMA BAILARINA DE JOSYANNE FRANCO (*) – Texto de Fernando Canto

 

Texto de Fernando Canto

Escritora e poeta Josyanne Rita de Arruda Franco

Há tempos eu queria escrever sobre a arte poética de Josyanne Rita de Arruda Franco. Infelizmente perdi seus livros, a mim enviados em 2017, numa dessas mudanças de estante que periodicamente a gente precisa fazer. Porém a Musa da Poesia não falha. Dia desses lá estava um deles olhando para mim. Justamente o “Assoalho de Plumas” (Rumo Editorial, São Paulo, 2013).

A partir desse saboroso título a autora se revela em versos de natureza intimista, nos quais segredos e paixões são mostrados de um jeito bem peculiar de poetizar sentimentos, pois os desejos e as vontades estão abertos, e sua sabedoria lhe permite dizer “Eu sei que não existe amor sem causar danos”. E faz pergunta às estrelas, que lhes respondem: “Amores passarão!” (Natureza viva). E é nessa linha criativa que Josyanne esbanja sua experiência transformada em versos, em um porto que poucas mulheres teriam coragem de ancorar, posta a lânguida língua do erotismo que faz os corpos gemerem de paixão e a realidade crua do amor e das metáforas que o envolvem. Reforça-se, então, a autenticidade de uma poesia robusta, bela e cheia de personalidade. Personalidade madura e sem escapes que nos mostra em “Desejo e Fúria”:

Desejo e Fúria

Gana de outra vez ter a ti.,
De desmanchar-me em ti feito doida dançarina
Que se embriaga na boêmia arte de fazer-minha sina…
Destino incerto que em mim caminha.

Derreter o viço da eloquente e densa bruma
Que se espalha pelo céu da minha boca nua
E se entrega, enfim, rendido… corpo inerte, estendido.
De insanidade ativo… de amor vencido.

Desejo-te nas manhãs…espero-te à tardinha.
Nas noites, feito cães, o cio nos desalinha.
Ébrios de amor faminto, nós somos tão errantes…
Na voz da poesia dois seres inconstantes…

Arranho tua carne… te beijo, arrependida.
Sou tua… tresloucada, esgoto tua vida.
Entregue à paixão, em ti vou… viajante.
Aranha presa inteira na teia de brilhantes…

Me perco nos teus olhos… me acho em teu sorriso.
Sorver de tua alma é tudo que preciso.
Na paz do meu caminho tu segues adiante
E eu sigo teus passos serena e confiante.

Em outros dos 127 poemas deste livro as palavras caem como estrelas no assoalho (construído) de plumas (naturais) da autora. Ela que sabe o que quer neste belo livro, e se posiciona advertindo, em seu erudito poema “Mitológica”: “Não pede pelo inferno se queres paraíso”. E sem precisar dizer a Édipo que é Esfinge, decifra-se “terna e lírica” com sua alma bailarina, aventureira nos penhascos das palavras e numa poesia verdadeira plantada por ela no asfalto das cidades grandes e na sua tênue e inconsciente memória erótica de uma índia da Amazônia.

Ler e compreender, portanto, a poesia de Josyanne Franco é absorver de sua experiência lírica e literária o sentido do seu devir poético que trará sempre o multiculturalismo universal da alma.

Como também encontrei me olhando da estante o seu “Desvãos do Pensamento” (Coleção Letra de Médico, Volume 6, Rumo Editorial, 1ª Edição, São Paulo, 2016), no qual ela publica contos, poesia e prosa poética, diria que ela segue com mais vigor os poemas iniciados no boletim literário Caju e depois com o “Assoalho de Plumas”. No “Desvãos do Pensamento” ela se assenhora de sábias frases e de um estilo muito peculiar de prosa que será objeto de novo comentário que farei futuramente.

(*) Josyanne Rita de Arruda Franco é médica pediatra e psicanalista nascida em Macapá-AP. É escritora, membro da Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES), da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES) e da Academia Jundiaiense de Letras (AJL), entre outras instituições literárias nacionais e internacionais. Reside em Jundiaí – SP há cerca de 30 anos, onde exerce suas atividades profissionais. Costuma dizer, sobre suas composições poéticas, que tem “o pensamento no sublime, a vida na realidade e o coração na selva” (Texto extraído da contracapa do livro “Desvãos do Pensamento”).

Poema de agora: Sobre o amor que eu quero – Pat Andrade

Sobre o amor que eu quero

cansei do amor não vivido
quero o amor declarado
explícito
chega do amor platônico
quero o amor da carne,
do espírito

nada de amor virtual
quero o amor ao vivo
em tempo real
nunca mais o amor que sofre
quero o amor que se alegra
sem igual

também não quero o amor calado
quero o amor que canta,
apaixonado

quero o amor insano,
o louco amor dos desesperados

o amor maior, você e eu,
de braços dados.

Pat Andrade

Hoje rola “Quarta de arte da Pleta”, edição Café com Notícias, no Sankofa

Hoje (18), a partir das 17h45, rola mais uma edição da Quarta de arte da Pleta, edição Café com Notícias. O programa de rádio que nomeia o evento será transmitido da Casa de Cultura Sankofa

Na ocasião, vai rolar Feiras das empreendedoras pretas, bate papo com Alzira Nogueira; Elaine Albuquerque e Mariana Gonçalves. Além de poesia de Kassia Modesto; Hayam Chandra; Pat Andrade; Rosa Rente e Preta Aurea.

As atrações musicais da noite serão: Deize Pinheiro, Fernanda Canora, Jessica Neves Laura do Marabaixo , Erick Pureza , Wendell Cordeiro Edu Gomes e banda Mister Zé. Ainda vai rolar exibição do Filme BACURAL, bate-papo com a cineasta Ana Vidigal e coleta de brinquedos

Serviço:

Data: 18/12/2019
Local: Sankofa, localizado na Rua Beira Rio 1488, Orla do Santa Inês, zona sul de Macapá.
Hora: a partir das 17h
Couvert: R$ 5,00
Mais informações pelo telefone: 98109-0563 (Andreia Lopes).

Poema de agora: ESQUECIDA – Ori Fonseca

Ilustração: Estudo de Nu (1921), de Tarsila do Amaral.

ESQUECIDA

Já quis matá-la e quis morrer por ela
Em cada pesadelo de agonia,
Em cada noite que virava dia,
Em cada vento a me invadir a cela.

Já quis sumir e quis sumir aquela
Que dominava os braços da poesia,
E que me amava tanto – é o que dizia -,
E se esquecia disso, tão singela.

Quis esquecê-la, mas é tudo um vício,
Volto ao início na ilusão do fim
Sem perceber seu bote de motim.

E volto ao fim na ilusão do início
De que ela amou-me no tempo propício,
Mas que depressa se esqueceu de mim.

Ori Fonseca

Luau na Samaúma, edição de Natal, encerra temporada 2019 com gastronomia, oportunidades de negócio e shows musicais

Com arte, gastronomia, oportunidades de negócio e shows musicais, o Luau na Samaúma edição de Natal, encerrou na noite da última sexta-feira (13), a sua temporada 2019. O evento multicultural, realizado na Praça Samaúma, em frente à Procuradoria-Geral de Justiça – Promotor Haroldo Franco – do Ministério Público do Amapá (MP-AP), cumpriu a promessa de fomentar a economia criativa; ocupar o espaço público pela população e promover lazer e cultura.

O Luau na Samaúma é promovido pelo MP-AP, Prefeitura Municipal de Macapá (PMM), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/AP) e Governo do Amapá, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult). A parceria com esses entes, que já ocorre desde as edições anteriores, contribuiu mais uma vez na consolidação do evento, oferecendo uma programação variada que agradou ao público presente.

A noite foi literalmente iluminada pelas luzes instaladas do prédio do MP-AP a Praça Samaúma, chamando a atenção das famílias que vieram apreciar a programação recheada pela música, arte e gastronomia amapaense. Cumprindo um papel de motivador da economia local, o Luau também reuniu empreendedores e ajudou mais uma vez a aquecer a geração de renda no fim de ano.

Uma rede de trabalhadores e artesãos locais, cadastrados previamente, tiveram espaço para a comercialização de seus produtos. O fomento da economia criativa e independente é uma das marcas fortes do evento desde a sua concepção e tem propiciado muitas possibilidades de negócio, fazendo o público conhecer os artigos e serviços oferecidos no Estado.

Literatura e programação infantil

O Luau dedicou uma programação especial para as crianças, que com muita alegria e entusiasmo assistiram contações de histórias de Natal e o espetáculo infantil “Buiando na Antranet”, além de participarem de oficina de MiniChef. Em um momento muito especial da noite, o Papai Noel chegou para fazer a alegria de centenas de crianças.

Sempre abrindo espaço para a literatura e a poesia amapaense, nessa edição o Luau contou com uma tenda literária com exposições e comercialização de livros e declamações poéticas, recebendo um grande público visitante desses trabalhos. O poeta e promotor de Justiça Mauro Guilherme também aproveitou a programação do evento para lançar o seu livro “Poesia de Rio”.

Feiras, exposições e gastronomia

Com a ajuda dos parceiros do evento foram montadas feiras e exposições, possibilitando aos expositores a comercialização de seus trabalhos e produtos. Fizeram parte da atividade a feira afro e o “Projeto Mulheres que Fazem”, discos de vinil e sons retrô, exposições de artes plásticas, feira de plantas e feira de produtos do campo.

A gastronomia do luau foi muito variada, atendendo todos os gostos, com Food Trucks, feira gastronômica, coquetelaria e muitos outros.

Atrações musicais

O Coral Anjos da Guarda, da Banda da Guarda Civil Municipal de Macapá fez a abertura das atrações artísticas da noite. Com canções de natal chamaram a atenção do público que já se fazia presente e também os passantes que começavam a lotar a Praça Samaúma. Na sequência, a Banda Mirim do Exército e a Orquestra das Forças Armadas emocionaram com músicas natalinas.

Os músicos Nonato Santos, João Amorim, Amadeu Cavalcante e banda Sambarte completaram a noite de festa com músicas que reuniram muitos amigos e familiares em torno do palco, sendo uma das principais missões do evento organizado pelo Ministério Público do Amapá.

O show do cantor amapaense Amadeu Cavalcante teve uma homenagem especial ao álbum “Sentinela Nortente”, obra de Osmar Júnior e interpretada pelo cantor amapaense. Esse ano o CD completou 30 anos de lançado, sendo um marco da música regional, com músicas que ainda hoje fazem sucesso com o público.

Assim como nas três edições anteriores, a sociedade amapaense compareceu ao Luau de Natal e reforçou o evento no calendário cultural de Macapá.

“Ficamos felizes em realizar esse lindo evento e ver as famílias frequentando a Praça da Samaúma. Essa é a nossa finalidade. Isso só foi possível com a união de forças entre MP-AP, PMM, Sebrae/AP e Secult, que resultou nessa linda programação que tanto agradou ao público”, manifestou Ivana Cei.

Nossa equipe da Assessoria de Comunicação do MP-AP. A gente trampa muito e o resultado tá aí em cima. Valeu, gente! Foto: Sal Lima.

Serviço:

Elton Tavares
Assessoria de comunicação do MP-AP
Contato: (96) 3198-1616
E-mail: [email protected]

Poema de agora: SOBRE O MUNDO – Pat Andrade

SOBRE O MUNDO

Desarmei bombas
Em corações vadios
Para que eu pudesse
amar sem medo
pintei memórias
em cores vivas
pra que tu visses
como era belo o antigo
passei a limpo
o tempo vivido


pra que não visses os erros
que a vida me fez cometer
plantei árvores pelo caminho
para que o teu caminhar
fosse mais tranquilo
mas fiz questão
de te mostrar o mundo como ele é
para que saibas como enfrentá-lo

Pat Andrade