Poema de agora: Canto Marginal – Marven Junius Franklin

Canto Marginal

pondero
que qualquer dia
retrocedo às prática marginais

(e unido
aos meus antigos cúmplices
tirarei da inércia uma antiga parceira)

[eu]
Sancho e Quixote
embraveemos outra vez
lutas inolvidáveis contra anfibológicos
moinhos de vento.

nos aguardem!
Dulcinéias esquálidas
e impérios desalumiados

(pois a hoste de abstrações
açoitará suas portas de presunção).

Marven Junius Franklin

Poema de agora: Rio! – Jaci Rocha

Rio!

O que será que é o amor?
Quantas milhões de coisas ele ainda virá a ser?
Quem um dia poderá, ainda que breve
Explicar, ponderar, compreender?

Sei que é toque, canção, cheiro, emoção (alucinada!)
Sei que é dia a dia, mão na mão
Segurar o coração,
Seguir em par pela estrada…

É perda, suor e ganho
Inocência, saliva e ilusão
Mas é que é também o possível
Depois de encontrar com a razão…

É deixar de abrir páginas encantadas
Para estar na pele amada
ter absoluto medo e ainda assim,
aceitar-se desassossegada…

Mas eis que não sei mais do amor
do que aquilo já alcancei.
Sempre à procura de seu infinito!
Feito chuva, molha a alma, invade a pele,

Doce rio de mistério…

Jaci Rocha

Poema de agora: Existencial – Jaci Rocha

Existencial

Tudo que se movimenta, vibra
Vida é coisa tão bonita, pulsa!
De repente, o olho cai na curva
Da beleza mágica de um arco-íris…

– água e luz no céu que tornam em cor… –

Olho ao redor, todos em busca da própria paz
Por que a gente não veio em linhas retas?
Com tarja de “cuide bem de mim”
Entregue com a rota certa?

E no reverso, tudo é descoberta
Missão particular de cada um
Escolha entre o tato e o coração
Sem lógica ou porque algum…

Ah! me diz, qual o sentido?
Nós, Multiversos, a grande charada!
Sem lógica:caos ou destino?
encontro de luz e de cores na mesma jornada…

Jaci Rocha

Poesia de agora: Poema para o Amigo – @alcinea

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Poema para o Amigo

É possível que eu te conte
uma história de príncipes e fadas
que escutarás com o olhar perdido na infância.
Ou que te conte uma piada tão engraçada
que rolaremos de tanto rir.
Nossas gargalhadas contagiarão os passantes
e de repente todo mundo estará rindo
sem nem saber por que.
É possível
que eu faça um café com tapioca e te chame
pois café, tapioca e amigo tem tudo a ver.
É possível que eu chegue na tua casa sem avisar
só pra te ofertar uma rosa que acabara de nascer
e te oferecer um Johrei.
É possível que eu te ofereça uma música no rádio
ou te mande, pelo Correio,
uma carta numa folha de papel almaço.
É possível que eu te ligue
no meio da noite
no meio do dia
a qualquer hora
– mesmo na mais imprópria –
só pra dizer:
Amigo, eu amo você.

(Alcinéa Cavalcante)

Poema de agora: Não brigo com Deus (Luiz Jorge Ferreira)

Não brigo com Deus
Porque minha impressora quebrou.
Nem procuro a memória no dedal em que escondi um caroço de uva.
Pisco para acender a luz interior
E ponho as palavras em fila do Alpendre desbotado da Av. Ernestino Borges…
Descendo descalças pela beira do rio.
Amo a parte em que saio de mim, e sou outros.
O passado, o depois, o dia que vinha, o ontem que foi.
Quando os vermes parasitas atemporais, inudarem com suas mandíbulas químicas, minhas células cerebrais, se embriagarão de poesia.
Os pluricelulares, alvissareira, declamarão.
Os mono celulares, acharão um absurdo, achar que o sol é tudo.
Quando há lua, chuva, amor, paixão, destino, e intestino.
A impressora quebrada, continuará oxidada.
As palavras nascerão em outras paragens, vindas de bocas, afoitas, e corações apaixonados.
Os bisnetos, dos bisnetos, dos unicelulares, que disseram versos, porque neles não cabem.
Acharão doce a palavra amor.
E com ela subirão pela aorta até o coração.
Onde terei deixado o desenho da palavra paz.

Luiz Jorge Ferreira

* Do livro Nunca mais sairei de mim, sem as Asas.
**Luiz Jorge Ferreira é amapaense, médico que reside em São Paulo e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames).
***Contribuição do amigo Fernando Canto.

Poema de agora: Depois da Travessia – Fernando Canto

Depois da Travessia

Aqui o estreito:
Como as ruas da tua mãe europeia,
Como o rastro da lendária cobra
A apaziguar-se lentamente
Ao sonho de tuas construções.

Ainda agora velhos aposentos aconchegam
As mãos que brindam

O cálice do vinho/ o púcaro/ a xícara
A chávena de louça, cristais e porcelanas
Tilintantes ao som de um novo tempo

Como a flor do bougainville nos jardins
Brotando sob a lua cheia.

Fernando Canto

Poema de agora: Já era Eu – @ManoelFabricio1

Já era Eu

Viajo na velocidade de dobra na minha bicicleta só pra te vê
Espero o usina Muca pra dá um rolê com você
Como manga com leite
Tomo cachaça de jambu
Licor de jenipapo
Ando na lama ao invés de arrastar o pé
Pra vê se pego uma ferroada de arraia
Quem sente mais eu, ela ou tu?
Pego um pelo de gato maracajá, pra ti por no teu feitiço, ora para meu soluço, ora para meu sumiço
já era
Eu
Já era
Eu

Manoel Fabrício

Poema de agora: DOR DOR – Fernando Canto

                                                                  DOR DOR

Cântico                                                                      A dor se professa em si mesma
objeto                                                                             por ser a dor combustível

Cântico de                                                                 A dor se processa em silêncio
raiva                                                                              por ser a dor como a reima

Cântico                                                                      A dor se confessa uma causa
obstáculo                                                                  de interminável impossível
ultrapassando o sentido
do tato, do amor perdido

Cântico de                                                                   A dor permeia o objeto
medo                                                                        dentre os meandros do medo
acorda cedo e dejeta
o mundo desconhecido

Cântico do                                                               A dor não mede o possível
Homem                                                                   A dor é a origem da espécie

                                                               

                                               Fernando Canto

Poema de agora: ANFITEATRO DE SOMBRAS (Marven Junius Franklin)

CANDIDO PORTINARI, Retirantes (Retirantes), 1944 Óleo s/ tela 190 x 180 cm. Col. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand São Paulo, Brasil

ANFITEATRO DE SOMBRAS

Sobre a cabeça
Mégatonnes de incertezas [vozes crepusculares que jazem em
Meu jardim de girassóis petrificados]
Urros equidistantes
A fazer assombradas as esquinas
Desalumiadas de Oiapoque
Punhais de injustiça dilacerando
A carne puída do aldeão [cantos de guerra
Que se ouve em aldeias equidistantes]
Ah, marasmos e luas mortas
Valas comuns de incertezas [sorrisos amarelados de saltimbancos tristonhos]
Oh, maldita sensação de morte
Essa que amanhece comigo
Quando os primeiros raios de sol
Adentram sem cerimônia meu anfiteatro de sombras!

Marven Junius Franklin.

Poema de agora: Onze arcanos – @rebeccabraga

Onze arcanos

Ela é Beatles. Ele é Stones.
Ela é ar. Ele é fogo.
Ela é flor. Ele é árvore.
Ela é lunar. Ele é solar.
Ela é Buarque. Ele é Sampaio.
Ela é chuva. Ele é calor.
Ela é feminista. Ele, um marxista tropical.
Ela escreve cartas. Ele escreve canções.
Ela dança. Ele se movimenta.
Ela é um solfejo. Ele, um solo de guitarra.
Ela é passarinho. Ele é ninho.

Rebecca Braga no seu Girassol e Catavento