Poema de agora: Distraída – Jaci Rocha

Distraída

Longe das ordinariedades
De um cotidiano pálido
Distante dos homens de palavra
Que falam e andam
costas envergadas por pesadas pastas

distraída de relatórios e notas explicativas
que delimitam fácil demais o sentido da vida
Afastada demais das Societés e suas comunhões
– O par a par da confraria de múltiplas convenções –

A poeta olha o céu.

Bebe água quando sente sede
Abraça p´ra doar calor
Molha os olhos quando sente dor
Ri, conversa com crianças
E gosta de ser e se vestir de amor…

Distante das esfinges de pedra
Que observam a vida sem deslumbre
Quase com desdém
desentendida de quem passa sem surpresa
Por canteiros e esquinas

Alheia às ilusões de poder
Que abrilham-se em mentes pequenas
e às vidas que antes do riso pedem identificação
num tipo de quid pro co
que ordinariza a emoção

– A Poeta olha o céu.

Gosta da vida e aprecia ser viva
Da luz das flores e das coisas coloridas
Aprecia o som da brisa e o sopro do vento
Segue distraída, entre sonhos, luz
fé e movimento.

Jaci Rocha

Poema de agora: Pequenos notas sobre o “Quando…” – Jaci Rocha

Pequenos notas sobre o “Quando…”

O último pedaço de bolo, um domingo no cinema,
Perder a hora do poema, esquecer e não anotar a rima,
Não ir gastar o fim de tarde na Paulista
Deixar de observar o vento balançar a vida…

Não viver o momento, adocicado e lento
Com a delicadeza de estar presente, inteira.

Esquecer o aniversário de alguém amado,
Esconder um verso, ir menos ao teatro e mais ao supermercado,
Apagar um sonho riscado com a ponta de giz,
ter medo, errar e não pedir perdão…

Só me devora o que não fiz, quase sem querer!
A aula que não pude aprender, o tempo em que desfiz laços…
As vezes que fugi de mim e nem notei
A lágrima sentida, no bolso esquerdo guardado

O amor que esqueci no varal e secou,
A velha dor nos joelhos, o tempo que não me doo,
e justifico e sigo! a falta que não digo,
e às vezes, nem percebo.

Não fazer o melhor poema de amor a cada ser amado,
às vezes, desatentamente, errar a curva da estrada
machucar a emoção de alguém
Ou não doar o melhor em mim no ‘agora’,

—- Só o que não fiz e o que não vivi
O que não doei e não me dispus,
A dor que gerei e não pude reparar
A vida flagrante, que deixei de respirar :

São as coisas tantas que, às vezes, junto do poema
Sentam comigo, sob minha janela
e perguntam sempre e muito:
Quando? Quando? Quando? —

#

” O mundo começa agora
Apenas começamos”

Jaci Rocha

Poema de Agora: Amor rebelde – Obdias Araújo

Eu e Jaci, o meu amor – 2013

Amor rebelde – Obdias Araújo

Amar. Verbo de
Primeira conjugação.

Mas isso quem diz
É a gramática
Na sua eterna tentativa
De organizar em fila
Coluna única
As figuras semânticas.

Mas no meu caso
O amar é mais embaixo.
O amor meu é mais rasteiro.
Mais juntinho e portanto
Mais coloquial.

Eu que me entretenho
Roendo com os dentes
Afiados de meu poema
As amarras dos ditames
Gramaticais.

Mascando e
Cuspindo de lado as
Normas mofentas
Da velha escrita.
Que meu amar
Por ti é e será
Sempre assim
O meu poema
:Teimoso.
Chorão.
Apocalítico.
Tsunâmico.

Obdias Araújo

Fonte: blog da Alcinea

Poema de agora: Infinito mundo! Tão pequeno…- Jaci Rocha

Infinito mundo! Tão pequeno…

Veja, aquela flor, cabe na palma da minha mão.
Num universo vasto e lindo
O que importa é o bem-vindo
Apelo da emoção…

Assim, km, metro,segundo
Tudo é apenas medida e comporta
Regras de espaço e tempo que a gente só nota
quando é preciso alcançar a rota…

Prefiro então a medida do verso
Que eu seja o alcance do verbo
Que a gente saiba caber
Bem dentro de um amor!

Prefiro então a medida do abraço
Com quanta alegria de faz um laço
E que a gente só conte o espaço
Entre a pele e o coração!

Não metrificar ou quantificar alegria
provar do sal e do sol na saliva
Sentir o calor da terra no pé ao tocar chão!
Andar por ai e descobrir a geografia da vida

segurando em tua mão…#

Jaci Rocha

* Mas meu amor está distante, umas sei lá, 48 horas. Quando faz falta, já diz o poema: A gente nota! <3

Poema de agora: Enigmas do Espelho – Jaci Rocha

Enigmas do Espelho

Universo complexo, mundo disperso,
Tudo em que toco seria o que realmente vejo?
Nem me lembro da última vez em que não duvidei…

É que o espelho me diz que do avesso é como a face se parece!
e que o rosto que ri na imagem
É um tipo de ‘eu ao contrário’…
– Ou seria só miragem?

Então, por que será que a gente cresce
Sem se perceber ?…

Depois desta constatação,
dei de olhar desconfiada para o reflexo
Suspeito que a qualquer hora, se moverá, per si
Alma que não movi,identidade alheia a mim…

– Deves me achar louca, bem sei.

E até confesso que já cometi loucuras
Perco tempo a entender cada ângulo de um quadrado
Há tanto cuidado, pois, no cotidiano de espelhos quebrados
Tudo é avesso ou lado?

Será que fui para o verso errado
Da última vez em que te vi?
Será que num outro unir de verbo
Onde mudei o bater de minha asa

Tu ainda estás em casa?

Será que não estou dentro de um paradigma?
Ou existo num tipo de estranho enigma?
Numa Matrix onde nem mesmo percebo?
Presa em metáforas,

feito ‘Alice, através do espelho?’

Jaci Rocha

Poema de agora: Poeta ensimesmada – Jaci Rocha

Poeta ensimesmada

Escrevo como poeta
Advogo como poeta
Ouço as pessoas como poeta
Eu me comovo em demasia…

E por isso, me movo
Eu me desloco no espaço
Só para a vida não me estatizar…

Sou minha, mas sou de quem amo
Não reclamo, porém clamo
Peço muito mais ao tempo, todos os dias
E corro para alcançar.

Mas eu sou lenta, porque sou pessoa
E sou frágil, porque sou pessoa
Sou poeta, quase envergonhada
De sentir tão demasiadamente…

Por vezes, estou no mundo da lua
N´uma matrix particular
Não é falta de tato, nem mesmo de gesto
É um jeito desconexo de não entregar

Minha fé, minha palavra, meu gesto
As minhas crenças e transgressões
É tudo, enfim, tão particular!
Por isso, eu comovo

Que é pra vida não me estatizar.

Jaci Rocha

Poema de agora: POESIA DE RUA – Marven Junius Franklin

Imagem do fotógrafo húngaro Sarolta Bán.

POESIA DE RUA

uma poesia de rua
que discorra a respeito de calçadas
e paralelepípedos
que profira frases feitas [de amor]
e conceba flores aos apaixonados
uma poesia de rua
que converse sobre o tempo acontecido
[de semáforos…e bar]
uma poesia de rua
urbana como o monóxido de carbono
que descreva os meus zepelins imaginários
que nos faça prestar atenção
no arroubo majestoso das
andorinhas de arribação

Marven Junius Franklin.

Poema de agora: Colagem – Jaci Rocha

Colagem

Passo tempo colando figurinhas
No álbum da vida,
Imagens soltas, pinturas vivas
Quarando na luz da emoção…

Junto pedaços do existir,
Retalhos de nostalgia,
E, no entremeio de uma imagem e outra
Com o fio da memória, teço poesia.

As minhas preferidas no álbum da vida
Confesso, são as repetidas
Aquelas com quem rio de alegria
E já derramei o mar inteiro de minhas ilusões…

Nelas, encontro facilmente comigo
E com as paisagens que há tanto, não são mais
Mas moram dentro de algum lugar
Entre o peito e a razão – é tudo tão voraz.

Por isso, gosto das coisas piegas e velhas
Ainda escrevo num velho diário
Chamo o jornal de noticiário
E acredito em contos de alegria…

Acho que já deveria ter parado,
– mas, afinal, que graça teria?
Viver n´um mundo onde não existe cola,
A cor, o papel e a tinta da nostalgia ?

Passo a vida em figurinhas,
Não coleciono o instante,
Mas por teimosa teimosia
Colo figurinhas no álbum da vida.

Jaci Rocha

Poema de agora: Desalento – Maria Ester

Desalento

Mesmo triste
não sei não sorrir
quem me dera soubesse
Não somos sós
somos muitos em nós

Bisavôs, bisavós, avôs, avós,
pai, mãe e diz um estudo somatória das cinco
pessoas com as quais convivemos,-

Tomara, oxalá não esteja ficando rabugenta (rs)

Somos experiências, vivências e convivências
gotículas de luz e carbonos viajantes do tempo

Somos arquivos talhados no coração
acredito em memória genética.
DNA, luz, conhecimento, ferimentos e
sonhos tudo costurado ao divino particular.

Semente, Terra, Água, Sóis, Céus e Infernos.

Natureza, interações, aprendizados, lembranças
e penso naquela pequena biblioteca

Perdão, meu pai!
Estou triste vi um anjo chorando
de asas avariadas.
Indignada ouvi ontem no jornal de
Brasília outro atentado: Ganância.

E o rio da minha aldeia em banzeiro
Diz que boba estou na contramão.

De São Paulo gritam:
Aguenta firme, irmão!

Notícia que me chega ao coração, alguém que admirávamos
da nossa amada Educação, aos 81 se foi, virou passarinho ou bolha
de sabão.

Aqui do portal do meio do mundo
vejo a sagrada compaixão
se desintegrar a olhos vistos…

Alianças, famílias, reinos, sociedades são quebradas ao alvedrio
e ao triste silêncio. Que desastre!

Emoções precedem sentimentos
Peço que me proteja e proteja nosso clã.

Ah! Mamãe manda lembranças e sempre que toca Roberto, chora.

Com amor!

Maria Ester

Poema de agora: Das coisas que eu vim fazer aqui – Jaci Rocha

Das coisas que eu vim fazer aqui

A gente está aqui para aprender a voar no fim de tarde
Barcos de papel marché em busca do horizonte
Ao sabor de um ardente sol…

E sabemos tão pouco
Do tanto, do gesto
Do multiverso que abriga cada um…

A gente está aqui, sem dublê
E tudo é movimento, vida, ação
E a alma se bate toda no imenso labirinto
enquanto quixoteia moinhos de vento…

Parece que a gente devia ter vindo
Com manual de instruções
Quiçá, bula de contra-indicações
Com tarja de aviso: “Advertência: risco de dano severo às emoções”

E no reverso, a gente se faz de grande navegador
E descobre um mundo novo a cada abrir de olhos
E corre a vida só para não cair na apatia
De ir com a maré…

A gente veio ao mundo
Desinventar de ter medo
E aprender com a aerodinâmica sutil da borboleta!

E no meio do caminho, a gente prova-vida:
Manga, suor, sorvete: Existir é um banquete
Cada um se serve como pode.

A gente veio ao mundo se espantar
Cair de amores pelo pôr do sol!
Encher os olhos d´agua de ler um Pessoa
Vibrar numa matriz particular (Ou simplesmente mergulhar n´uma lagoa)

Só não vale não se apaixonar
Não experimentar, não mover com força o próprio coração
Não se encantar, não arriscar, não se vestir de luz e cor
Só não vale não ser , falar,sentir, doar…

AMOR!

Jaci Rocha

*Publicado no blog “A Lua não dorme”. 

Poema de agora: À minha rosa tola – Jaci Rocha

À minha rosa tola

Ah! Flor egoísta do meu amor
Mora ali, bem aqui, longe,longe
Noutro planeta

Tola, finge que nem gosta de mim
Que de tão frágil, não pode sentir o vento
Não se deslumbra com milhões de sóis que nascem
E se despetala quando falo em cometas…

Ah! flor egoísta e frágil do meu amor…

Eu viajo, penso nela, conheço a terra,
piso nas areias de minha própria solidão
Giro mundos e aprendo que, ao olhar para o milho
Recordo, por encanto, de um amigo…

Ah! Na terra, tu nem sabes
Mas tem mais de um milhão iguais a ti
Tão perfumadas e brilhantes quanto tu
Mas é a ti que amo,

Flor egoísta e tola do meu amor…

Eu viajo, pouso em outros mundos
Conheço reis sem súditos
e bêbados envergonhados
E até um aviador num grande pássaro

com o motor quebrado…

Mas eu te levo, em toda tua exuberância
e vou a cada lugar falar em ti
preciso que saibam que tu existes,
e que eu existo e faço morada na órbita de uma longínqua estrela

só para ao teu lado estar.

* Ao pequeno príncipe, por todos os anos em que eu procurei a órbita do asteroide B612, só para lembrar que lá, mora um principezinho e uma rosa frágil, tola e amada.
E ao meu pai, que já virou estrela, e que não me deixou desacreditar nessa verdade, quando aos prantos, eu perguntei se o principezinho existia…
E a esta noite enluarada, onde, de lá de seu pequeno espaço, um menino de cabelos cor de trigo contempla a tarde cair…

LUZ!

Jaci Rocha

Poetas premiados nacionalmente (Via @alcinea)

Marven Franklin e Tiago Quingosta

Por Alcinéa Cavalcante

Os poetas amapaenses Marven Franklin e Tiago Quingosta brilham no cenário nacional com suas obras. Vencedores de vários concursos, ganharam este ano mais um prêmio para suas coleções e orgulho dos amapaenses. Desta feita eles ficaram entre os 40 melhores poetas brasileiros que participaram do V Prêmio Literário Cidade Poesia promovido pela Associação de Escritores de Bragança Paulista.

A coletânea – que reúne as melhores poesias que disputaram o prêmio – foi lançada no final de maio no III Encontro Nacional de Escritores, realizado em Bragança Paulista.

Eis as poesias premiadas:

350×776

Estrábicas medusas arrastam-se sinuosas
pela calefação das mitocôndrias.
Sussurros despertam a inércia dos rabiscos entrelaçados no vazio.
Escuro e hodierno sol de erupções bucólicas:
Meu corte em transversal da saudade amiúde.
Corações de metal estão pairando sobre o arrebol,
trazem nos calcanhares canções carnívoras que me recordam do dia gris
em que pairei nos teus braços esfumaçados da carvoaria.

Vêm brilhar do fundo do mar as abissais
para que como noiva loba eu te dispa em falsas aquarelas de spleen
e caia no teu enfarto primaveril de Guernica.
Como te dizer que eu te sublimo dos radares que nos multam,
mas não das trepadas que damos até os açaizeiros derrubarem diamantes?
Como te dizer que só me importará o fim, se tivermos relógios para garantir o exclusivismo colonial,
o plantio de novas flores do deserto
e poesias que atinjam a alma como se fossem um soco?

Tiago Quingosta

BORBOLETAS CINÉREAS

I

pelos vales e cordilheiras
óbito da bondade – benevolências que jazem reprimidas
em covas rasas de iniquidades
(ah, rios de lágrimas
– a encharcar plantios de girassóis petrificados –
quando sustarão sua caudalosidade?)

II

sinfonias e hinos fúnebres
a ecoar em esquinas desalumiadas
(dejeções humanas
que rastejam consternados
coalhados de olhares gris)

III

oh, borboletas cinéreas
– culpadas pelos meus macambúzios entardeceres –
onde repousam tão infames
depois de um arroubo bélico pelas cercanias
do fim do mundo?
(será que são as emissárias dos letíficos tsunamis
que abocanham aldeias de beiras de rios?

Marven Franklin

Fonte: blog da Alcinéa Cavalcante.

Poema de agora: Agenda – @alcinea

projeto-da-ilustração-da-agenda-do-amor-35544881

Agenda

Na segunda-feira
vou quebrar o relógio
rasgar o livro de ponto
jogar fora o celular
e mandar o chefe à merda.

Na terça-feira
vou atar uma rede
e embalar meus sonhos.

Na quarta-feira
vou acender sorrisos
e regar esperanças.

Na quinta-feira
vou plantar borboletas azuis
e colher flores e estrelas.

A partir de sexta-feira
vou viver só de amor.
Amor para a vida inteira
e alguns anos mais.

Alcinéa Cavalcante