Empenada pelo vento
Macapá
linda na ilha
cercada pelo rio
empenada pelo vento
igual um pé de açaí
atracada na terra
e segura.
segura feito aturiá
que dança com o amazonas
em noite de lua cheia
Manoel Fabrício
Empenada pelo vento
Macapá
linda na ilha
cercada pelo rio
empenada pelo vento
igual um pé de açaí
atracada na terra
e segura.
segura feito aturiá
que dança com o amazonas
em noite de lua cheia
Manoel Fabrício
O VENTO DE PIRRAÇA
no azul do céu,
uma nuvem menina passa…
flutua com graça…
mas, o vento,
ciumento (que desgraça!),
de súbito a esgarça.
a menina despedaça…
o malvado disfarça
e segue sua farsa:
passa o seu tempo
dedicado à caça;
logo, logo,
outra nuvem menina
esvoaça…
ele vai lá e a escorraça.
só pra fazer pirraça
Pat Andrade
Biografia
Três cavalos passam adiante da casa.
Os cachorros da rua, os perseguem em algazarra.
No Quintal um velho cão, magro, cansado, quase cego, se arrasta com dificuldade até o portão, com muito esforço late algumas vezes.
Satisfeito e feliz, retorna… ofegante, rastejando,quase morto.
Os cavalos passaram na direção contrária.
Luiz Jorge Ferreira
*Do livro Cão Vadio, publicado pela Imprensa Oficial do Governo Federal do Amapá, em 1986.
Os acadêmicos do curso de Letras da Universidade Federal do Amapá (Unifap), do Campus de Santana, fizeram este vídeo, para falar do trabalho da poeta e colaboradora deste site, Patrícia Andrade. Assistam:
Sonho de Flor
com o derradeiro
raio de sol
pintei
em tua pele
as margaridas
do lençol
com o primeiro
raio de luar
desenhei
lírios brancos
pelo céu
e me pus
a viajar
Pat Andrade
Nova lua.
O boto deflorou-se na lua.
Sentiu a vista turva.
E um enjoo de caju.
No ventre ergueu-se um caroço.
Depois do mexerico dos outros peixes.
Escondeu-se no meio do esterco, flutuante do cais.
E deu cria a um pedaço pequeno de luz.
Chamado…Luar.
Luiz Jorge Ferreira
* Do livro Cão Vadio – 1986.
Tragédia ciriana
Morreu
De Cirrose
Hepato
No tucupi
Depois do erro escrito
Vou rever
OVER
Náculo
Encontro com o poeta Manoel Bispo
Encontrei novamente
O Poeta
Manoel (bis)
Pô!
Fernando Canto
Tarde de verão
Tarde de verão
a árvore estendia
para um céu azul
seus galhos nus
de longe o menino
encantado assistia
aquela cena
e pensava que bem que podia
ser uma prece, uma oração,
mas acabou virando poesia
Pat Andrade
HAPPY HOUR
quando
te foste,
eu já sabia
exatamente
como seria.
me vesti,
me pintei
e saí…
fui tomar
um chope
de testa
com a boemia…
Pat Andrade
EU TÔ CHEGANDO, BELÉM
pra me receber,
quero Waldemar encenando boas-vindas;
quero Ruy Barata com asas de miriti;
quero a chuva da tarde pra me lavar a alma;
quero o tacacá pra me aquecer o coração;
quero tua manga mais doce,
meu verso mais forte;
quero tua Praça mais bela,
minha mangueira mais velha;
quero tua noite mais louca,
minha avenida mais longa;
quero teu Largo do Carmo,
minha rua mais estreita;
quero tua Igreja Matriz,
meu Theatro da Paz,
quero meu Bar mais antigo,
meu garçom mais amigo.
quero a minha cidade
que tanto bem faz.
Pat Andrade
Barbárie
e foi assim:
um estrondo-estopim
é festa?
foguete?
a rua inteira desembesta
a correr.
na frente do campo de futebol
na frente de casa
no sol
de quatro horas da tarde
um corpo-massacre
em uma poça rasa
absurdo:
o barulho?
um tiro-certeiro
foi ciúme?
queima de arquivo?
naquele horário não passou carteiro,
só a Morte acertando em cheio.
esgoto a céu aberto
o povo boquiaberto
o homem na vala
da indiferença
e do desalento
cercado de gente que fala
sobre a sentença
do esquecimento
a polícia chegará logo
para fechar a avenida
a TV virá fazer filmagens
para o jornal do outro dia
transeuntes já compartilham imagens
pelo Whatsapp.
o homem-fulano
o homem-humano
o homem-na-sarjeta
tinha nome
e identidade
e agora repousa
sob raios ultravioleta
mas o perímetro
está ficando intrafegável
e preciso trabalhar.
é provável que a passagem
fique interrompida.
abro o portão com desgosto
sem sequer olhar
o rosto…
cúmplice-selvagem
da barbaridade
em meio ao zumzum,
sigo rumo a uma noite comum
na universidade.
Lara Utzig