Se vivo, Raul Seixas faria 10.075 anos hoje! – Por Silvio Neto

Por Silvio Neto

Decifre as entrelinhas dos hieróglifos das pirâmides do Egito, do calendário Maia, das Itacoatiaras de Ingá. Leia os símbolos sagrados de Umbanda, as centúrias de Nostradamus e o Tarot de Crowley… Não importa qual seja o mistério, todos serão unânimes em lhe revelar: Existe um cometa errante; uma estrela bailarina que vaga no abismo do espaço sem fim flamejando um rock e um grito! Em sua jornada, ele só passa pelo nosso planeta a cada dez mil anos. É quando ele renasce e encarna como um Moleque Maravilhoso, trazendo ao mundo à sua volta mudanças profundas no seu pensar e no seu comportamento.

Sua derradeira passagem por aqui durou apenas 44 anos. Mas foi suficiente para que um país inteiro de dimensões continentais se tornasse menos careta. Há exatos 75 anos, quando ele chegou por aqui em mais uma de suas passagens, esse intrépido cometa trouxe em seu rastro a bomba atômica, em 1945, fechando um ciclo da Terra conhecido como velho Aeon e trazendo à luz o Novo Aeon materializado em forma de música.

Era o dia 28 de junho. Aquele, foi o dia em que a Terra parou. Mas antes disso, ele usou de seus artifícios alquímicos e conseguiu juntar as águas do rio São Francisco e do rio Mississipi, criando a fusão perfeita do rock’n’roll de Elvis Presley com o baião de Luiz Gonzaga e como um novo Macunaíma desvairado gritou em cima do palco do III Festival Internacional da Canção (1971) “Let me sing, let me sing (my rock’n’roll)”!

Seu nome é o contrário do luaR pois ele é um cometa iluminado. Em sua metamorfose ambulante pela Terra, se fez de maluco para revelar sua genialidade; brincou de cowboy para mostrar que preferia ser um fora-da-lei; acumulou riquezas e glórias por um tempo para mostrar que o ouro é para o tolo.

Esse ano, em agosto, já terão se passado 31 anos de sua última visita aqui no nosso planeta. Ainda assim, seu rastro é tão presente, tão vivo, que é como se ele ainda estivesse por aqui, cruzando o nosso céu.

E assim como as estrelas que vemos são muitas vezes apenas o reflexo de milhões de anos-luz de corpos celestes que ainda nos impressionam a visão, o cometa Raul Seixas, brilhará na mente e no coração de milhares de fãs por muitos e muitos anos até, quem sabe, sua próxima passagem há dez mil anos…

Meu comentário: grande Raulzito. Um artista sensacional que inspirou e inspira muitos de nós, fãs. Tanto pelo fascínio da linha tênue entre a feliz loucura da autenticidade, quanto pela sinceridade à bruta, sempre poetizada em um rock and roll dos bons. Viva Raul! (Elton Tavares).

Poema de agora: Sobre as bênçãos – Jaci Rocha

Sobre as bênçãos

Eu e Deus

O universo respira em paz,
O vento sopra as novidades
eu, o espaço, os sons do chão e do céu…

Eu e Deus

e o fuxicar das flores,
do jardim ao mundo afora
o farfalhar alegre das árvores
Dizem em alto e bom som

‘ isso vai passar…’

A natureza sabiamente
Não deixou de trabalhar
Para a beleza do todo
E isso é um afago, uma certeza

-e um consolo!-

é também uma grande responsabilidade
enquanto a vida trabalha e faz sua arte
Para o grande milagre
é preciso cooperar…

E isso é forte. É suave e diário
Feito a asa de uma borboleta!
O efeito do ‘eu’ sobre o ‘alheio’
tem a exatidão do nosso – redondo e cíclico- planeta

Eu e Deus
nos entendemos bem!

E ele fala, nas mais belas lições – feito Francisco
E assim, a vida é mais do que um risco:
é um rio, um abraço,
cachoeira de bênção que cai macia, sobre mim….

Jaci Rocha

Poema de agora: Quiçá, a Eternidade – Jaci Rocha

Quiçá, a Eternidade

Um girassol se abre!
Um botão de rosa perfuma o espaço
O sol desenha seus traços no céu
Gostas de chuva branca beijam o horizonte

O espetáculo da vida,
Sem alarde,
Nasce.

Uma estrela morre, na galáxia
Um big bang faz surgir uma nova morada
Meu corpo, poeira das estrelas
Enquanto as roupas secam no varal…

No quintal,
Um coração bate e pulsa
Alguém respira, uma criança ri.

E na asa daquele passarinho,
Quiçá, more a raiz do meu pai,
E hoje, é ele quem faz um ninho
Aqui, à beira do jardim.

Tudo vira em outra coisa: até a própria consciência.

A gente (re)acontece a todo instante
Essa é a verdade da existência
Cada coisa se fragmenta e tudo se agiganta!
Nada de dissolve: exceto a constância.

Eis a realidade:
Não estamos preparados
Para a beleza da nossa forma de eternidade

Jaci Rocha

Poema de agora: o lado azul da borracha – Pat Andrade

o lado azul da borracha

de lá de onde vinham
as juras e promessas
não havia amor ou sentimento
[era um grande vazio]

e pra onde foram as canções
e todas as declarações?
eram palavras ao vento
[um vento que ficou frio]

não há em ti lugar
pra guardar sensações
eram só minhas as emoções
[era só meu o desvario]

hoje entendi que tuas palavras
eram palavras apenas
e era só eu quem ouvia poemas
[e disso eu me vanglorio]

mas vou te apagar de mim
com o lado azul da borracha

até rasgar o papel
até sangrarem os dedos
até virar outra página

Pat Andrade

Poema de agora: ELISA – Pat Andrade

ELISA

andava com ela,
pela madrugada,
a lua branca e bela,
de vermelha à prateada.
sempre na calada da noite,
se pintava de carmim…
seus beijos, como açoite,
eram usados contra mim.
depois durante o dia,
eu a vi, como nunca
pensei que veria…
me olhou, muda, e saiu,
sem dizer se voltaria

Pat Andrade

Poema de agora: Afinal – Lara Utzig (@cantigadeninar)

Afinal

eu vou te amar pra sempre
podes contar comigo sempre
sempre estarei ao teu lado
quero ficar contigo pra sempre
a ternura do eterno:
tensão contratual
[contraste moderno]
quanto tempo dura o pra sempre?
pra sempre é muito tempo.
o tempo do pra sempre
talvez não seja o tempo dos homens.
então por que cargas d’água
sempre juramos pra sempre?
quiçá estejamos sempre
equivocados:
o pra sempre dura
enquanto se sente.

Lara Utzig

Poema de agora: RAMSÉS – Pat Andrade

RAMSÉS

ainda faz escuro lá fora
viro pro lado e não há o que ver
me estico e apago a luz já fraca

[uma vela no candelabro]

inesperadamente
ele entra pela janela
já não pede licença

[eu permito, claro]

me agrada e acaricia
chego a pensar que ele me ama
me convenço quando
se atira aos meus pés
e me lança o olhar
mais doce dessa semana

[seu olho é um brilho raro]

Pat Andrade e Ramsés

desce as escadas antes de mim
pra me sorrir lá de baixo
com seus dentes de marfim

[e um hálito de orvalho]

sei que ele não tem coração
e deve pular outras janelas
mas me rendo aos seus carinhos
e lhe sirvo a melhor refeição

[agradece com um longo miado]

e ele
nem mesmo
é o meu gato…

PAT ANDRADE

Poema de agora: BENZE ELE – @stkls

BENZE ELE

eita! o geraldo tá entrevado na cama
não sei nem o que fazer
o que será que aconteceu?
por que será que ficou entrevado?
será que foi mau-olhado?
vento ruim? quebranto? sei lá!

Foto encontrada no site: https://pagina3.com.br/

minha mãe diz que eu não sou uma mulher direita
porque não vou nem consolar o coitado
mas o que eu posso fazer?
o homem não se mexe pra nada
e eu só sei consolar de um jeito
e com esse jeito ele pode se entrevar de vez, diacho!
e não é que a mãe diz:
pega esse homem e leva na casa da dona joaquina
diga ela: “benze ele, dona joaquina.
benze ele pelo amor da santa.
benze ele com essas mãos
que já trouxeram tantas crianças ao mundo.
benze ele com galho de arruda.
benze ele com alecrim brabo.
benze que ela não pode ficar viúva.”
e eu disse: digo nada!
o geraldo já anda fraquinho se entreva do nada
e eu quero ser viúva negra
vixi! conte comigo não!

Pedro Stkls

Poesia de agora – POEMINHA SEM ELE – Pat Andrade

POEMINHA SEM ELE

e essa saudade
enjoadinha
que não passa
que engasga a graça
que deve existir

e esse aperto no peito
que não tem jeito
que me dá medo de olhar
a estrela nascer
e a noite cair

e essa melancolia
que não me deixa
ver a manhã chegar
pra te ver entrar
e sorrir pra mim

e essa tristeza profunda
que se alojou aqui
que não quer ir embora
e que não me deixa
esquecer de ti

PAT ANDRADE

Poema de agora: AMOR COM AÇAÍ – @stkls

AMOR COM AÇAÍ

ah! daqui o amor
é uma coisa tão urgente
na boca da noite
ele me beija mururés
ah! se a lamparina falasse
como o giral ressoa
ecoa e grita as maravilhas
que a gente desenha
eu cuido do peixe do almoço
ele me pega
e a gente se perde no pitiú
se lambuza
abusa de mim, joão
na canoa eu nunca fiz
na balançar da rede
foi como mergulhar na pororoca
você me tocava naquela hora
não importava que hora o mundo seguia
já era preamar dentro de mim
eu te quis como a bandaia
aquela altura eu já era a tua iara
caboca das águas
voz doce no pé do teu ouvido
meu joão menino,
assobia aquelas coisas todas
outra vez?
aquela gritaria de periquitos
a vida era aquilo
amor que dura e cura
qualquer falta de riso
você me mundiando
e eu me achando
a deusa a estrela rara
e o giral, joão?
e a rede, joão?
que horas tu você volta
com o açaí?
eu nunca comi amor com açaí
como será, joão?
vumbora?

Pedro Stkls

Poema de agora: O fim do mundo – @alcinea

O fim do mundo

Quando disseram
que o mundo ia acabar
Tia Lila pegou seu terço
e pôs-se a rezar.

O dono da venda
dividiu toda a mercadoria com seus funcionários
e distribuiu o dinheiro do caixa para os mendigos.

A recatada dona Clotilde
jogou-se aos pés do marido
e implorando perdão
confessou que o tinha traído com o compadre.

Seu Joaquim, um santo homem, ajoelhou-se no meio da rua
ergueu as mãos para o céu
e pediu perdão a Deus pelos assassinatos que cometeu
como matador de aluguel.

No dia seguinte
o dono da venda pedia esmolas,
a recatada Clotilde, expulsa de casa,
foi morar num velho puteiro,
Seu Joaquim foi preso.

Só Tia Lila continuou do mesmo jeito.
De terço na mão continuou rezando
e entre uma oração e outra murmurava:


– É mesmo o fim do mundo
– Dona Clotilde, hein, quem diria?
– Seu Joaquim com aquela cara de santo, hein!
É o fim do mundo!
É o fim do mundo!

Alcinéa Cavalcante

Poema de agora: Um amor amazonas – Jaci Rocha

Um amor amazonas

O mar é lindo
O mar dá medo
– Amar também –

Amar é uma ‘onda’
Tem tudo a ver com o mar:
profundo, belo…um risco!
também, salgado…

No mar, há zonas.

E o Amazonas é um mistério
feito de doçura e imensidão…

É, depois de um tempo
Amor de Amazonas é tudo que a gente precisa:
Aquela onda doce, aquele vento forte
A sensação de carícia enquanto a maré dança

A mística fantástica, a energia quântica
A coisa simples e cabocla,
Ah…tudo que a gente precisa
é de amor…

e de um tanto de Amazonas!

De forma tal que o peito se transborde,
multiplique e viaje sem medo,
Pois navega nessas águas como quem é parte
de um todo muito mais bonito

de um segredo profundo e coletivo
Uma coisa doce e rouca
Como maré do Equador…

AH! e não seria seria exatamente isso
O que a gente diz – e quer- do AMOR?

Jaci Rocha

Poema de agora: RECEITA – Pat Andrade

RECEITA

pra não sofrer
por teu amor
caço novos sorrisos
desvendo mistérios

refaço caminhos
disfarço sentimentos
visito meu passado
desenho o futuro

desmancho saudades
costuro boas memórias
invento amores
pinto meias verdades

teço mais versos
ensaio mil rimas
escrevo uns poemas
e declamo só alegrias

PAT ANDRADE