Programação “Farofando com Elas” inicia nesta quinta no espaço cultural Farofa Tropical

Por Pérola Pedrosa

Farofando com Elas é a programação do Gastrobar Farofa Tropical, que inicia nesta quinta-feira, 10 e vai até o sábado, 12, a partir das 20h.

Serão show temáticos em homenagem ao Dia da Mulher, a Quinta Lilás terá a cantora Sandra Lima com todo seu repertório de interpretes brasileiras, vai rolar Cássia Ellen, Marisa Monte e outras.

Na sexta-feira, 11, o palco será da cantora Márcia Fonseca trazendo o Brega Retrô, para embalar a noite. No sábado, 12, é a vez da cantora Deize Pinheiro numa apresentação especial da diva Clara Nunes.

A promoter cultural e proprietária do espaço, Marta Lacerda, ressalta que a programação é toda voltada para as mulheres, no entanto os homens não estão de fora, a intenção é homenagear e exaltar o talento das cantoras amapaenses e também celebrar a luta das mulheres por seus direitos.

Vamos celebrar nossas conquista e o talento das mulheres, embora muito ainda precisa ser feito, podemos sempre vibrar com o que já conseguimos”, relata Marta Lacerda.

Serviço:

Horário das atrações: a partir das 20h.
Bar aberto as 18:00.
Informações e reservas 98137 3130.

Fonte: Café com Notícias

Hoje é o Dia do Guitarrista (minha crônica sobre a data e homenagem aos Guitar Heroes)

Hoje, 10 de março, é o Dia do Guitarrista, aquele cara ou menina que nos emociona com solos, riffs e acordes do instrumento mais legal do Rock and Roll. Músicos que nos alegram os ouvidos, coração, alma e mente. Não encontrei a origem da data, mas tá valendo!

A guitarra é o instrumento mais popular e influente na história da música e, é claro, do rock´n roll. O conceito diz: “guitarrista é um músico que toca guitarra. Sejam elas acústicas ou elétricas, solo, em orquestras ou com bandas, em uma variedade de gêneros. Mas a gente gosta mesmo é dos roqueiros doidos, né não?

Tenho uma inveja branca de quem toca, compõe ou canta. Quem faz música é foda! É, são pessoas que fazem a trilha sonora da vida, sejam nas madrugadas em bares enfumaçados, teatros, boates ou palcos ao ar livre que precisam ser festejadas.

Eu poderia falar do espetacular John Frusciante, o performático Slash, Angus Young e sua dancinha muito foda, dos lendários Jimmy Page, Carlos Santana, Stanley Jordan, Body Guy,Robert Cray, David Guilmour, Pepeu Gomes, Bruin May, Eric Clapton, B.B. King e suas Lucis, Eddie Van Halen ou Jimi Hendrix, o “Pelé da Guitarra”, ou até de Robert Johnson, que, segundo a lenda, vendeu a alma para o diabo para ser um guitarrista extraordinário, entre tantos outros guitar heroes históricos, mas prefiro homenagear os bateras amigos. Portanto, meus parabéns músicos:

O Régis, o “Beck” ou “Anjo Galahell”, um dos melhores guitarristas que vi tocar; Alexandre Avelar (o Cabelo); Ruan Patrick (stereo); Ronilson Mendes (Manoblues); Wendril Ferreira da Psychocandy (ex Godzilla); Adriano Joacy; Irlan Guido; Ozy Rodrigues; Geison Castro; Wedson Castro; Sandro Malk; Finéias Nelluty; Fabinho; Alan Gomes; Israelzinho; Zé Miguel; Edivan Santos (Ito); Ricardo Pereira; “Zezinho”, “O Sósia”; Rulan Leão, entre outros. Enfim (acho que esqueci alguns), todos os meus queridos amigos que tocam o sublime instrumento. “Parabéns!

“Ziggy tocava guitarra…”.

Assista ao vídeo 100 Riffs (A Brief History of Rock N’ Roll) :

Elton Tavares

Poesia de agora: Demônios – Ana Anspach

Demônios

Tenho medo da vida
Da violência contra nós mulheres
E da desigualdade a que
Somos submetidas.
Também tenho medo da morte,
Pois o número de feminicídios só cresce.
Convivemos com
sofrimentos, mentiras, fracassos, traições e decepções,
Sobretudo somos torturadas por dores
Da alma e do corpo, que nos acompanham
Pela vida inteira.
Nossos demônios nos pegam pelas mãos
E fazem um pacto de jamais nos deixar.
E levamos a vida tentando equilibrar
Os momentos alegres – fugidios
Com a dor – companhia constante.
Aguardando o dia da libertação
Que só a morte é capaz de nos dar.

Ana Anspach

Hoje rola apresentação do Espetáculo Espelhos no Teatro Porão do Sesc/AP

A Companhia Teatro Riso encena, nesta quarta-feira (9), a partir das 19h, no Teatro Porão do Sesc/AP, a segunda apresentação do espetáculo “Espelhos”. A primeira das três apresentações ocorreu na segunda (7), na Escola Mário Quirino e a última será na sexta-feira (11), no Restaurante Sesc-Centro de Macapá.

Sobre a Mostra Teatral

ESPELHOS é um espetáculo intimista centrado nas interpretações das atrizes: Rechene Amim, Roberta Picanço, Tina Araújo e Solange Simit, que usando de fragmentos de suas trajetórias de vida e apropriando-se do biodrama, trazem para a cena histórias vividas de seus mundos. As atrizes/personagens relatam em narrativas suas memórias, convocando o público a refletir, compreender e trocar experiências, numa relação olho a olho. Através de seus conflitos, já superados, no jogo dos retrovisores da vida, principiando pela infância até os dias de hoje, os rastros (hoje dramaturgia) vão revelando-se nas questões afetivas, amorosas, familiares, de mulheres empoderadas dispostas a usar palavras e registros de suas histórias numa perspectiva de abraçar mais mulheres e ecoar mais os discursos. O espetáculo é um desafio tênue onde os conflitos vividos pelas atrizes/personagens, aportam em um lugar presente/físico, o palco, para ressoar ao mundo a história de mulheres que deixaram seus legados em prol de uma sociedade mais justa. “Espelhos” é um espetáculo que reflete vidas e almas.

FICHA TECNICA

Elenco: Rechene Amim, Roberta Picanço, Tina Araújo e Solange Simit.
Musica de acolhimento “TODA MULHER” – Composição de Genário
Execução de sonoplastia: Airton Silva
Figurinos e adereços: O Grupo
Fotografia: Luke Araújo
Design: Lucas Costa
Conscientização Corporal e Coreografia: Rafael Nunes
Captação de voz e estúdio: Aron Miranda
Musica Final: EU SOU DO NORTE – composição de Fineias Nelluty – interpretação de Brenda Melo.
Dramaturgia Coletiva: o grupo
Codireção: Paulo Alfaia
Estudo dramatúrgico e Direção Geral – Genário Dunas

Assessoria de comunicação do Espetáculo Espelhos

Poema de agora: Deusas negras” – Ricardo Iraguany

Deusas negras

Deusas negras
Força, fé, encanto e Beleza
Que quando chegaram ao Brasil
Já tinham o tom da realeza

Filhas do berço mãe África
Crias do colo de Iansã, de Iemanjá
Brilhantes reluzem brilho ônixi
São tesouros das bandas de Kianda

Guerreiras da linhagem de Oiá
Como, Lurdes, Dayse, Eloá, Marielle e Dandara
Elas conduzem os rumos dos ventos
E tudo podem transformar

Mulheres, manas das águas de Oxum
Divinas, poderosas como o clã de Obá
Que refletem no amuleto brilho do olhar
A pureza sábia transcendente de Ewá.

Ricardo Iraguany

*Para minha vó, dona Maria de Lurde, assim quero homenagear todas as mulheres pelo seu dia de luta, dia 8 de março – Ricardo Iraguany.

 

A mulher da chuva e do sol do Equador – Crônica poética de Fernando Canto

Foto: Fernando Canto

Por Fernando Canto

Chove em Macapá neste amanhecer de pétalas caídas nos jardins. Ondas verticais fustigam a pobreza das ruas, alagam o oco das pedras e atiçam o furor do céu, onde deuses cavalgam atônitos em busca das últimas estrelas que o firmamento esconde nesta época de nimbos. Uma dádiva esta chuva. É uma faca que golpeia o rastro dos caracóis e que retarda o voo das aves migratórias. Uma chuva é uma caba colossal dona de seu próprio voo que procura sobre a terra o segredo do veneno perdido na face espelhada das lamas matinais Uma chuva é um dom de Deus na relativa necessidade de quem a almeja. E assim eu te quero, chuva. Hoje mais do que nunca, porque és elemento da minha paisagem cotidiana, cenário da transformação do meu amor e indubitável perfume que cai suavemente sobre nós, sobre mim e ela, a mulher da minha vida.

Mulher que chove aos cântaros quando envidraça a escuridão dos teus sentidos, mulher que arde – absolutamente chama – sem o consumir do fogo. E chama a oceânica vontade do teu ser plural no sexo espumoso que especula degredos, inda que guardando segredos indizíveis na semente do tucumã, fruta ancestral. Mítica mulher que habita a cavidade dos sonhos enredados e abre as portas para o resoluto amor. Inexorável és como as calvas cúpulas da serra do Tumucumaque, a cobra adormecida, a morada dos alados seres que nunca estilhaçaram o gelo inexistente no teu dorso. Reserva-te ao direito de seres como Mitaraka, ó mulher, a montanha em forma de gente, observada pelos invasores de tua curta solidão, que chegam com o vento em alucinantes tropéis. Ora podes ser um arquipélago. Uma teia abissal de ilhas perdidas no oceano, ilhas que bailam e que dançam sob a música dramática dos dias da civilização. Ora podes ser também a mãe orgulhosa do fulgor das vozes e o relâmpago capaz dessa esperança. Talvez até no sol que invade a tua garganta com sua luz vertiginosa das manhãs cênicas do Bailique tu podes transformar-te, ó mulher.

Fernando Canto e Sônia Canto- Foto: acervo pessoal do escritor. Dois amigos queridos deste editor.

Eu amo o teu estuário de loucura e a generosidade das águas que em ti moram e louvo o bailado das ondas fulgurantes e o esplendor das estações que existem em ti. Amo, sim, pois és a chibata que açoita os pesadelos, o sustentáculo que abriga bons augúrios, a flor, o jardim e a raiz das plantas crescidas no sabor da aurora, esta que invade nossa casa sem precisar pedir licença. Eu amo o teu cabelo e o magnetismo depositado na escova, assim como as páginas viradas de um livro que relemos rindo. E ali no canto do banheiro talvez uma sandália virada espere teus pés para que calces novos planos e andes na direção do oriente. Nossos livros e telas, nossos vinhos e cds flutuam sobre uma lona azul-turquesa. Estão lá, junto aos amigos, os cerzidores do que rasgamos no passado, inquilinos que são da nossa vida para sempre.

Agora me despeço. Eu vivo a luz e a sombra da mulher que esbraveja o verbo e absorve a vida. Eu observo a mão que trata a argila do manancial diário das notícias da família, eu voo vaga-lume perto deste refletor iluminante, lâmina certeira, mulher dadivosa de chuva, enfeitada de estrelas e de andaimes, amante inconclusa da minha vontade.

Sônia Canto e Fernando Canto – Foto: acervo pessoal do escritor. Dois amigos queridos deste editor.

Agora sim, eu me despeço inundado em poesia, sobre a mesa posta que abriga somente o pão quentinho e o aroma do café que tomamos juntos quando o dia chega. Eu me despeço naufragado na ternura dos teus olhos cuidadosos, enquanto a chuva, lá fora, lava almas e plantas e espera o sol brilhar para todas as mulheres que trabalham, sofrem e amam nesta terra salpicada de luz do equador.

*Do livro “Adoradores do Sol”. Scortecci, S. Paulo, 2010.

Antologia “Mulheres Livres Senhoras de Si” é lançada em 8 de março, na Praça da Bandeira

No próximo 8 de março, Dia Internacional da Mulher, às 9h30, na Praça da Bandeira, será lançada a Antologia “Mulheres Livres Senhoras de Si” será lançada em 8 de março, na Praça da Bandeira.

O lançamento ocorrerá dentro do Movimento de paralisação nacional dos servidores públicos e em defesa da vida das  mulheres.

Mais sobre a obra

Mulheres Livres Senhoras de Si é uma obra genuinamente escrita por mulheres escritoras de todas as regiões do Brasil. A diversidade cultural e social das histórias de nossas autoras faz desta obra um rico registro literário social e traduz, em seus textos ficcionais ou baseados em histórias reais, enredos onde a história de uma reflete a história de todas.

Mulheres livres fala e expressa com muito prazer e propriedade sobre a temática de mulher para mulher e de mulher para a sociedade neste momento em que o mundo se volta para a causa do empoderamento feminino como forma de justiça social e proteção às mulheres.

Em cada texto, uma rica emoção aguarda os leitores para o deleite de cada história como uma causa, luta, libertação, coragem de exercer o protagonismo feminino. É nítida a angústia demostrada em todos os contos e crônicas sobre a situação de opressão, violência, resistência, superação e desejo de realização.

Leia Mulheres Livres Senhoras de Si e se encontre em cada história, indique essa maravilhosa e importante obra como leitura de cabeceira para suas amigas e amigos. Sororidade a toda prova à causa feminina e feminista e pela vida das mulheres.

Serviço:

Lançamento da Antologia “Mulheres Livres Senhoras de Si”
Data: 8 de março de 2022
Hora: 9h30
Local: Praça da Bandeira, centro de Macapá.

Secult/AP: 1ª Virada Feminista do Coletivo Juremas conta com quase 10 atrações culturais

Em homenagem ao Dia da Mulher (8), a partir de segunda-feira (7) acontece a 1ª Virada Feminista Amapá. O evento será realizado na Escola Estadual Mário Quirino e no Barracão da Tia Gertrudes, ambos locais em Macapá e se estende até a madrugada de terça-feira (8). Começando às 8h, a festividade conta com café da manhã, rodas de conversas e 9 atrações culturais para celebrar a data internacional.

A realização da programação conta com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura do Amapá (Secult/AP), que está trazendo as atrações culturais, e busca evidenciar as lutas das mulheres por seus espaços na vida e na arte. A programação conta com apresentações de música, poesia, oficinas e debates sobre temas que envolvem conquistas e lutas das mulheres por justiça, paz e direitos, ao longo da história.

Para o titular da pasta de Cultura, Evandro Milhomem, o momento é vital para ressaltar a importância da mulher na sociedade amapaense, que rapassa tradição, formações históricas, culturais e sociais fundamentadas em figuras femininas.

“São 24 horas de festividade e cultura. Essas mulheres se unem às suas ancestrais reunindo forças para a luta diária. Elas clamam às tias do Marabaixo: Tia Gertrudes, Tia Natalina, Tia Chiquinha, Tia Biló, Tia Dica Gongó, Tia Sinhá, Tia Vevina, Mãe Luzia, Tia Luci, Mãe Venina, Tia Davina, Tia Gitóca, Tia Guita, Tia Cândida e todas as Orixás femininas, fundamentais para a cultura do nosso estado”, completou.

A celebração também conta com a participação de figuras como a Laura do Marabaixo, Verônica dos Tambores, Piedade Videira, Pagodelas, Mulheres que gingam no meio do mundo, Zimba, Tocadoras do Raízes da Favela, Tocadoras do Berço do Marabaixo, Tocadoras do Curiaúe e Tocadoras do Marabaixo da Juventude.

Atrações culturais:

19h – Coletivo Juremas
19h30 – Julia Medeiros
20h30 – Roni Moraes
21h30 – Brenda Zeni
22h30 – Tonny Silo
23h30 – Elysson Pereira
1h – Sabrina Zahara
2h30 – Mulher e Arte
6h – Rufar Feminista Deusas do Tambor

Serviço:

1ª Virada Feminista do Coletivo Juremas
Datas : 7 e 8 de março de 2022
Horário: 8h
Locais : Escola estadual Mário Quirino da Silva – Rua Claudomiro de Moraes, 1268 – Novo Buritizal e Barracão da Tia Gertrudes – Av.: Duque de Caxias, 1203 – Santa Rita

Poesia de agora: Ucrânia – Pat Andrade

“Vocês são ocupantes, são fascistas. Por que vieram aqui com armas? Leve no bolso essas sementes de girassol, para que elas brotem quando vocês morrerem aqui” – Frase da senhora ucraniana para soldado russo no momento desta foto.

UCRÂNIA

na televisão gritos de horror
em uma língua estranha

mais uma vez a estupidez humana
arreganha os dentes podres para o mundo
à noite o céu clareia de um jeito mórbido
o coração do homem faz escuro

uniformes e coturnos
pisam escombros de muitos lares
os dias amanhecem sangrentos
mísseis e bombas cortam os ares

[é o futuro da gente ficando cinzento]

a mão inocente condenada à morte
ainda quer regar as flores no jardim
mas não há nada que brote
não há flor nem fruto
não há pão nem vinho

morrem homens mulheres
e seus meninos
os deuses fecharam os olhos
outras mãos tecem seus destinos

Pat Andrade

O porão da velha Marta – Conto de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Conto de Lorena Queiroz

Viúva, rabugenta e peculiarmente religiosa, era assim a velha Marta. Tudo mudou depois que o marido faleceu, ou melhor, se tornou o que era antes de nascer. Era assim que ela pensava nele e em sua morte, algo associado com uma das poucas coisas que lembrava da leitura de Schopenhauer.

Ao se tornar viúva, a nossa Marta não teve mais como se sustentar. Tinha uma única filha, uma ingrata que foi embora com o marido e nunca mais deu notícias. Mas quem nasceu sobrevivente nunca é engolido por naufrágio. Pensou em abrir um pequeno comércio, mas não tinha simpatia para lidar com os clientes. Pensou em ser prostituta, mas lhe faltava vocação e sobrava bexiga baixa.

Então, olhou para seu porão e pensou em abrir um bar e, com bêbado, ela sabia tratar. Viveu com um durante trinta e cinco anos, tinha plena consciência que dono de bar não precisa ser simpático se a cerveja estiver gelada e o tira-gosto com preço camarada e, como não lhe passava pela cabeça pagar impostos, seu preço seria um atrativo.

Assim nasceu o porão da velha Marta, escada de madeira velha, umidade demais e tubulação aparente. Aquelas escadas levavam até o submundo das almas perdidas, como se o próprio Hades tivesse abençoado o lugar em parceria com Dionísio. E se lá era o lado divertido do inferno, Cérbero andava entre aqueles que bebem, um cachorro caolho e de três patas que a velha Marta adotou após encontrar o pobre estropiado em sua porta.

Muitas pessoas desciam aquelas escadas; gente de todo jeito, com um fator em comum, a clandestinidade. E isso a velha Marta adorava. Era a mãe de todos os que foram rejeitados pela normalidade. A velha Marta conhecia os hábitos e as histórias de cada um, e os que iam chegando, a nova leva, como dizia nossa Marta, ela adivinhava algum traço de personalidade pela bebida que pediam; Campari; bicha velha. Martini; hum, puta. Gim; atrás de sexo. Marta também reconhecia vários de seus clientes assistindo o noticiário; o prefeito desportista que adorava a prostituta de cabelos vermelhos. O rapaz que sempre bebia whisky, sozinho no canto mais escuro do porão, e se matou enforcado dentro do próprio quarto. Entre muitos outros. A velha Marta era conselheira e ouvinte de muitos deles, ouvia cada empolgação, desgraça ou ilusão que lhe relatavam. Era impaciente, mas sua vasta experiência de vida lhe propiciara a dar conselhos; se eram bons? Questão de perspectiva. Sempre aconselhava os casados que a viuvez é melhor que a separação. Toda mágoa vai junto com eles para o fundo da terra, é libertador, dizia ela à uma. O que é a vida? É o simples agora, o imediato e nada vale mais a pena do que o agora, disse ela para o outro. E o que seria a morte? Um momento inevitável de solidão, pois você pode viver junto, mas vai morrer sozinho, disse para mais um.

E todos os dias ao nascer do sol, a velha Marta fechava o caixa, alimentava Cérbero e se despedia de cada uma daquelas almas que continuariam; algumas felizes, outras perdidas e muitas mutiladas, mas agora, expostas à luz do sol.

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora contista e cronista. E, ainda, de prima/irmã amada deste editor.

Poema de agora: MUNDO INVENTADO – Pat Andrade

MUNDO INVENTADO

era um desenho em giz de cera
uma estrada de mentira
com um céu bem azulzinho

lá por cima da mangueira
gritava alto uma arara
um gavião voava no horizonte
e o sabiá cantava afinado

era um quintal bem verdinho
com goiaba e manga espada
um pé de abiu um limoeiro
e jaca madurinha

era um mundo inventado
com unicórnio cintilante
ursinho cor-de-rosa
e uma vaquinha azul

nas tardes de sol tinha jardim
com grilo formiga e borboleta
rosas meninas e mil flores douradas
tudo pintadinho nas paredes caiadas

na casa pequenina
enfeitadinha de flor
morava uma menina cega
que pintava tudo de amor

Pat Andrade

Escritora Zenilde Soares lança livros em Macapá

São dois livros, um de poemas e o outro, um romance. Ambos retratam o universo feminino em sua plenitude.

O projeto Quarta de Arte da Pleta realiza em 4 de março, evento de lançamento de dois livros da escritora Zenilde Soares, ambos contemplados pela Lei Federal Aldir Blanc de 2021. Trata-se da obra poética “Memórias do Silêncio” e do seu primeiro livro de romance “Eu, o Outro e os Outros”. O romance tem como pano de fundo o universo feminino, sendo a personagem principal uma maestrina amazônida que mora em Paris. A história aborda temas como relacionamentos amorosos e de amizade, doenças emocionais e o trabalho da maestrina à frente do coral e da orquestra, pertencentes a uma fictícia Universidade da Cidade de Paris.

A autora está em seu quarto livro, tendo participado de várias coletâneas nacionais. Escreve tomada pela sensibilidade poética aflorada pela força da mulher amazônida que ama ser o que é,  explorando a força e a beleza desse universo lírico e acolhedor.

Escritora Zenilde Soares

Zenilde é paraense e escolheu lançar seus livros em Macapá por amor à cidade e ao povo receptivo e intenso,  especialmente as mulheres, que fortalecem a cena literária dando vida e liberdade à poesia do norte. Ela é advogada e tem amor profundo pelas palavras e pela arte da escrita.

lançamento conta com a música e a poesia dos artistas do Coletivo Juremas com apresentações de Carla Nobre, Edu Gomes, Hayam Chandra, Suane Brazão e Fernanda Canora.

Sobre o Quarta de Artes da Pleta

Quarta de arte da Pleta  é um projeto artístico cultural,  que visa reunir e difundir o trabalho autoral de artistas amapaenses.   Surgiu em 2015 do encontro entre Andreia Lopes e  Ton Rodrigues no “Bar do Nego”, o primeiro palco de grandes noites culturais entre artistas, ainda desconhecidos pelo público, e os já consagrados.

Hoje, o Quarta de Artes da Pleta desenvolve diversos eventos e projetos com grandes parceiros como o Estúdio Tattoo Naldo Amaral,  Quilombo Sankofa,  Coletivo Juremas, SESC-AP, SECULT, FUMCULT, Movimento Cultural Desclassificáveis, Barracão da Tia Gertrudes e alguns parceiros de imprensa.  O núcleo forte do “Quarta” vem do grupo intitulado “Os de Sempre” composto pelos artistas. Hayam Chandra, Kassia Modesto, Fernada Canora, Edu Gomes, Negra Áurea, Wendel Cordeiro,  Kazumba Akele, Mary Paes, Pat Andrade, Carla Nobre,  Laura do Marabaixo e Barca do Yraguani.

Serviço:

Lançamento de livros da escritora Zenilde Soares
Data: 4.3.,2022 (sexta-feira) | 18h

Local: Farofa Tropical | Rua São José, 1024 – Centro – Macapá/AP

Mary Paes
Assessoria de Comunicação
(96)98138-5712 | 99179-4950

CARTAZISTA: Um olhar urbano da crise econômica na pandemia (Por Fernando Canto)

Por Fernando Canto

Depois das perguntas de praxe, o delegado encara o preso e pergunta:

– O que é que tu fazes na vida além de vender drogas por aí?
– Sou letrista eu, falou Tinzinho, cheio de empáfia.
– Quer dizer que tu és compositor igual ao Osmar Júnior… o Zé Miguel…?
– Não, só letrista, com muito orgulho.
– Huumm! Ah é, é. Mas onde é que tu publicas teus trabalhos, malandro? Na baixada?
– Não, doutor, lá no centro.
– Como assim? É na banca do Dorimar? Em alguma livraria ou na boca de fumo?
– Não, doutor, é nas esquina.
– Como assim?
– Sou letrista e cartazista eu.
– Diz logo, seu féla. Não me deixa ficar enfezado.
– É que eu tô desempregado. Faço qualquer negócio.
– Para com a mentira. Olha a palmatória….
– É que eu me divido entre vender droga e fazer as letra eu.
– Quer dizer que és universitário, hem? Tu também vende drogas pros intelectuaisinhos da Universidade?
– Não, doutor.
– Me dá essa mão aqui.
– Pelamor, doutor. É com essa que eu faço as letra.
– Que letras, caralho?
– Dos cartaz.
– Que cartazes, filho de uma égua?
– Ai, ai, ai, doutor, não me bata.


– Não vou bater. – Ô Alcinão, dá-lhe um sapeca aiai nesse traficante safado e mentiroso. Olha só a conversa do malandro…
– Por favor, por favor, seu doutor delegado…
– Diz logo, seu corno. – Pra quem é que tu vendes essas porcarias.
– Eu pego com o Papacu lá do PHelp. E com o Cleoinsano da baixada Pará. Pronto. Falei. Não me bata doutor nem mande esse monstro aí me bater também de novo.
– Porra, Alcinão o artista aí te chamou de monstro… Se eu fosse tu não alisava.
– Ai, ai, ai, doutor não deixe ele me bater.
– Tá bom, mas tu vais me dizer que cartazes são esses. É propaganda pra vender drogas? Ou tu és cafetão de alguma putinha de menor?
– Não, seu delegado. Longe de mim ser isso.
– E como é que tu faturas, como ganhas teu l’argent?
– O que é esse tal de larjan, delegado.
– Não enrola, rapá. Olha o Alcinão só te abicorando com a palmatória. – Diz logo, porra!
– Eu escrevo os cartaz de papelão pros meus amigo desempregado que ficam pedindo nas esquina do centro da cidade. Cobro dez real. Pode ver, doutor, a caligrafia é a mesma…

O delegado coça a cabeça, respira fundo e fala:

– Ô Alcinão, libera esse artista filho da mãe. Cada um que me aparece…

Resenha do livro Guerra e paz – Por Bruno Muniz

No livro Guerra e paz, de Tolstói, que conta a história da invasão Napoleônica na Rússia, quando Napoleão invade o país e avança para Moscou, o então General Chefe do Exército russo, Kutuzov, ordena o abandono da cidade sob o olhar incrédulo dos outros membros do Exército. Ninguém conseguiu demover a ideia de Kutuzov. Moscou foi evacuada, o exército russo retrocedeu. O imperador Alexandre, possesso, aceitou contrariado essa retirada.

Ao chegar em Moscou, Napoleão ordenou que chamassem o prefeito da cidade para assinar a rendicão e ficou perplexo ao perceber que não havia ninguém para recebê-lo. O exército Francês, já cansado e faminto, se espalhou por Moscou invadindo e furtando tudo que podia. Napoleão percebendo que perderia a unidade de seu exército ordenou que punissem os franceses que não obedecessem suas ordens. Não adiantou. Com os soldados franceses em debandada, Napoleão não viu outra alternativa que não fosse partir em retirada antes que fosse surpreendido pelos russos.

No livro, Tolstói narra que ao saber que Napoleão saíra em retirada, Kutuzov chorou e agradeceu a Deus. Ordenou que seu exército não perseguisse os franceses pois ele não queria mais nenhum soldado russo morto. Vários membros do exército não aceitaram a ordem e alguns pelotões, de maneira desordenada, foram ao encalço dos franceses que fugiam desesperados. Muitas outras mortes aconteceram, a maioria do lado francês. Dizem que Napoleão quase foi pego, mas conseguiu escapar.

Este livro me marcou muito e quando vejo o presidente da Ucrânia proibindo a saída de homens entre 18 e 60 anos do país e os obrigando a morrer lutando contra um insano, percebo que faltou um estadista com a sabedoria de um Kutuzov para proteger os ucranianos. A própria população russa exigirá o fim da guerra quando o resultados das sanções impostas chegarem nas suas famílias. Espero.