Poema de agora: Por um triz – Ori Fonseca

Por um triz

É tua mania me tornar a vida bela,
Esta minha vida tão carente de luz,
Do teu raio de luz que em tudo me seduz,
Tua sedução plena de moça na janela.

Sem ti, Eva querida, falta-me a costela,
Do meu pecado original à minha cruz.
E tu viajaste do pré-tempo, da pré-luz
Pra ser minha porta-bandeira da Portela.

Na vida, tudo é por acaso, é por um triz;
O barro de Deus, o Big Bang, os carnavais,
A luz, a treva; o amor, o ódio; a guerra, a paz;

Mas nossos costumes e manias, quem diz?
É meu costume te adorar demais feliz,
É tua mania me fazer feliz demais.

Ori Fonseca

Poesia Amapaense: Alcinea Cavalcante lança a obra “Poetas do Amapá” e já está à venda na Amazon – @alcinea

Alcinéa Cavalcante lançou o primeiro de três volumes da coletânea “Poetas do Amapá, Vol I”, que já está à venda na Amazon. Poeta e jornalista aclamada internacionalmente e imortal da Academia Amapaense de Letras, a escritora dispensa apresentações. A obra, que contará com três volumes, terá a segunda parte lançada em abril e o terceiro em junho deste ano. A foto de capa da obra é do fotógrafo Floriano Lima e o prefácio é do imortal da Academia Amapaense de Letras (AAL), Paulo Tarso Barros.

Neste primeiro volume, a escritora traz os poetas Alcy Araújo, Álvaro da Cunha, Paulo Tarso, Arthur Nery Marinho, Arilson de Souza, Mauro Guilherme, Isnard Lima, Maria Helena Amoras, Jô Araújo, Pat Andrade, Thiago Soeiro e Maria Ester. A proposta do livro é uma contribuição com a memória da poesia amapaense, que possui tantos talentos, história e beleza.
Por causa da pandemia, a autora não fez lançamento presencial ou noite de autógrafos da publicação, mas tanto o livro físico como a versão e-book no site da amazon.com.br. Para adquirir o e-book clique aqui e se você prefere o livro físico clique aqui:


No prefácio, Paulo Tarso diz: ” Com textos enxutos, intimistas e cheios de significados, Alcinéa Cavalcante nos apresenta, sob seu ponto de vista, alguns poetas representativos de tempos diferentes e com visões de mundo e estilos próprios. Ela, que conviveu (e convive) com esses poetas, registra as impressões e os sentimentos oriundos dessa enriquecedora vivência artística e sentimental, que começou com o seu pai Alcy Araújo, jornalista e boêmio dos bons e poeta de destaque na Amazônia, amigo de Álvaro da Cunha, Arthur Nery Marinho, Maria Helena Amoras e Isnard Lima – só para ficar na primeira geração dos poetas burocratas, com quem ela manteve estreita ligação afetiva e literária. E para completar esse ciclo, também recolhe poemas das novas gerações, principalmente autores oriundos das redes sociais, como Thiago Soeiro, Ester Pena, Pat Andrade e Arilson de Souza – e autores da geração intermediárias, como Jô Araújo. Os poemas que carregamos pela vida integram-se ao nosso ser de maneira visceral. Acoplam-se ao sangue, aos neurônios e são parte de nossa alma imortal.

Vejo nesta coletânea de textos publicados originalmente no site www.alcinea.com, a presença solar dos pioneiros poetas que fizeram suas plantações de lirismo em meio aos pés de açaí, nas margens úmidas do Amazonas e na linha do Equador. Foram poemas liricamente cultivados em solo fértil e magnânimo, que reverberam pelos anos e continuam se disseminando, cheios de vitalidade e ternura, pelo meio das novas gerações. Encantam, iluminam como os faróis, através do tempo, amenizando turbulências, vencendo labirintos e sendo alimento espiritual que fornece energia e acalanto a todos nós que somos amigos das Letras”.

Com minha querida amiga, Néa. Orgulho dela.

Alcinéa escreve com colorida ternura e leveza. Mas, não se engane: há uma propriedade de quem respirou poesia por toda sua existência e aprendeu desde cedo o ofício do jornalismo, em seu modo de registrar o mundo.

Seu lirismo é recheado de referências da memória afetiva amapaense, narrados com seu admirável talento. Tudo que li de sua autoria, sejam poemas, contos ou crônicas, além dos incontáveis textos jornalísticos, foi feito com brilho peculiar da escritora. Estou orgulhosão dela. Meus parabéns à escritora, que representa a literatura do Amapá nacional e internacionalmente. Sucesso sempre!

Elton Tavares, com informações da Alcinéa (e doido pra ler o novo livro dessa querida amiga).

Poema de agora: Conduzir-se – Fernando Canto – @fernando__canto

Conduzir-se

Eu enxergo melhor
Quando durmo
Ouço com perfeição
Quando sonho

Conduzo com mãos de asas
Minhas vontades e gestos
Para seguir o destino
(supostamente)
Por mim imposto

Caminho passo a passo
Pelas trilhas que abro e conservo
Pois sou a deidade em meu ser

E el diablo no coração
Da memória
Onde arbitrariamente enxugo
Uma estranha realidade

Fernando Canto

Poesia de agora: O SORRISO DA LUA – Pat Andrade

O SORRISO DA LUA

o dia
bateu a porta
na minha cara
e a noite
rosnou para mim…
quando pensei
que não me restava
mais nada,
veio a lua
e me sorriu
na madrugada

Pat Andrade

VASOVAZIO – Conto de Fernando Canto – @fernando__canto

Conto de Fernando Canto

Na virada do milênio (no meio da noite/ no meio do mundo) um dedo em riste aponta o homem que enche a cara no bar da praça: “um artista vazio”, diz o dono do dedo com sua voz de gralha poedeira. Mas um artista vazio sabe que a nódoa e a violência não fazem parte de sua camisa de força e que sua essência é o ar necessário à vida.

E o dedo em riste acusa: “amigo do rei é vazio, vazio”, e sai com o nariz empinado feito um carcará que saboreou sua presa, cheio de tudo, de empáfia e bactérias, enquanto o artista vaza a noite e ri, contemplando o cosmo estrelado com seus buracos negros que absorvem o tempo, a luz e o espaço, e nem sabem das misérias humanas.

DO SONHO DA NOITE FUTURA: artistas locais realizam pré-estreia de filme e música nesta terça (15), em Macapá

A pré-estreia do filme amapaense independente Do Sonho da Noite Futura é nesta terça, 15.

De ambiência fantástica e simpática à política anarquista, o filme traz desde trechos das manifestações populares durante o apagão no estado, homenagem às artistas Nina Barreto Nakanishi e Irê Peixe, atuantes no Amapá entre os anos 40 aos anos 2000; memórias do Hotel Mercúrio no centro da cidade e uma rua Cândido Mendes antiga, assim como a denúncia do ecocídio na Amazônia promovido pela corrupção; mas também traz poesia.

Com influência do cinema de Mário Peixoto e Godard, “a linguagem de montagem da obra dialoga com a dinâmica de uma videoarte, é híbrida; também é um gesto político no campo simbólico”, aponta a diretora e roteirista Jenifer Nunes, também conhecida pelo pseudônimo artístico de JJ Noones.

O filme envolve o lançamento de uma parceria musical entre a artista e o compositor amapaense Bê Duarte. Residindo na cidade de São Paulo, o músico, que se grava sozinho em estúdio caseiro, convidou a artista pra participar cantando, que por sua vez teve a ideia de criar o videoarte e convidar mais talentos pra somar.

Assim juntou-se o fotógrafo Lincoln Leão, a artista visual Laura Martins/Flora Ghost que é protagonista e animadora do curta (e estrelou o curta amapaense Ausência, em 2021); e o performer e artista visual Kazuo Yoshidome/Abismomento. O que começou como videoclipe tomou outra complexidade e rumo, durando um ano de realização, sem apoio cultural, de forma independente – “por muita disciplina minha, do Lincoln e de todes”, diz a diretora.

O evento é gratuito e aberto ao público, porém com limite curto de lotação. A programação contará com discotecagem e videotecagem, além da intervenção poética do @enpretiadu_ e intervenção de arte e tecnologia com o videomapping do @kuialab.Após o evento, serão disponibilizados pra stream gratuito na quinta (17) a música, e na sexta (18) o filme, pelos canais do Youtube e Spotify dos músicos.

Serviço:

O QUE? Pré-estreia do filme Do Sonho da Noite Futura
QUANDO? 15 de fevereiro, às 19h30
QUANTO? Gratuito. Apresentação de carteira com 3° dose.
ONDE? DAVUK Rock Bar, rua Hamilton Silva 2352 – Trem

Assessoria de comunicação

Natura Musical e Ói Nóiz Akí apresentam DEUS(A) o primeiro álbum e novo videoclipe da Mc Deeh

Nesta terça-feira (15), chega às plataformas de streaming o primeiro álbum da MC Deeh. As oito faixas acompanhadas de videoclipe da música que dá título ao trabalho, fazem parte da Pororoca Sound com produção da Ói Nóiz Akí e patrocínio do programa Natura Musical.

Empoderada e seguindo a trajetória de sucesso no rap amapaense, a MC Deeh entrega um combo super especial com oito faixas abordando temáticas do protagonismo negro e a voz da juventude que através da arte discute a exclusão social, a sexualização do corpo feminino e o lugar da mulher negra na sociedade frente ao desmando do racismo e do patriarcado instituído.

Cria das periferias de Macapá, MC Deeh começou sua trajetória desde cedo no Movimento Hip Hop. É Bgirl e dançou por anos no grupo de breakdance F.A Flavor. Através do hip hop, e como mulher negra, milita na cena cultural. Deeh é também empreendedora, artesã, trancista e faz parte do seleto grupo de artistas da Pororoca Sound, incubadora para aceleração de carreiras musicais.

No projeto, a ancestralidade e o rap produzido pela mulher negra honram o fardo carregado desde as origens até a superação da artista nascida na perifa, e que agora trilha novos caminhos rumo à projeção nacional. O álbum já nasceu grandioso, as participações especiais de Caçula Bem de Rua – na faixa “Antepassados”, Hanna Paulino – em “DEUS(A)”, e Pretogonista – em “Quero Curtir”, criaram altas expectativas nos seguidores que aguardam esse momento. A ficha técnica é fortalecida por uma banca de primeira linha da música independente local, com a produção de Dropanda e Malária, Mavambo na captação de voz, NOISPURNOISrec e Garrote na Mix&Master.

“O convite para participar da Pororoca Sound e a aprovação pela Natura Musical em 2020 trouxeram impactos positivos na minha carreira artística. A produção ganhou força no ano seguinte, um dos momentos mais desafiadores, pois tive que me desdobrar enquanto artista e mãe. Ainda com bebê de colo, intensifiquei os trabalhos, inclusive cheguei a escrever algumas letras com minha filha nos braços”, relembra a MC Deeh. E complementa, “Durante as gravações no estúdio, as pausas para a amamentação eram sagradas. Tive que alternar, ora para atender à vocação de mãe, ora para voltar ao chamado da MC, assimilando a dupla função durante a pandemia da Nova Covid-19 que ainda persiste. Contudo, estou muito feliz pelo resultado da nossa produção e espero que o público abrace o nosso trabalho, porque nele tem muito suor, mas também há muito amor envolvido. Está lindo, fiz de coração, entreguei o meu melhor.”

No lançamento, MC Deeh inclui o seu novo videoclipe. Intitulado “DEEU$A”, com roteiro de Jami Gurjão e direção de Diego Bucchiery, o clipe ressalta a faixa título do álbum no feat. que promove a junção de vozes do rap e do rock da melhor qualidade produzidos pelas duas mulheres que são destaques no Amapá, MC Deeh e Hanna Paulino.

“O conceito visual sustenta-se na estética do hip hop brasileiro e street aliados ao glam, atravessados por elementos amazônicos a partir de códigos próprios e expressados na presença emblemática das yalodês encarnadas pela MC Deeh e Hanna Paulino. Ambas são essenciais, personificam a Resistência e se completam na música”, argumenta, Jami Gurjão.

“A vontade de estar fazendo um trampo musical com a MC Deeh já vinha sendo nutrida há tempos, mas nunca pensei que seria numa canção tão incrível e empoderada! A Deeh é uma grande artista e movimentadora da cena trap/funk/rap nortista feminina, me ver ao lado dela e podendo mostrar e somar minha essência rock n’roll a esse trabalho é algo extremamente gratificante e representativo pra mim! Reunimos nossas formas e artes em uma música carregada de poder preto feminino, tenho certeza que irá impactar muitas manas Brasil a fora!”, é o que nos revela Hanna Paulino sobre a parceria.

“Colhemos até aqui o fruto da evolução musical da artista MC Deeh que nos inspira na luta diária para garantirmos o espaço da produção musical nortista. Esse novo álbum da safra de lançamentos junto à Natura Musical nos dá provas que não estamos tão isolados ou fechados em nossa geografia amazônica, muito pelo contrário, estamos aqui para transgredir fronteiras e quebrar os padrões ao incentivar a música popular brasileira periférica que não é tão nova assim, apenas foi marginalizada por muito tempo”, resume Claudio Silva, Produtor da Ói Nóiz Akí – Pororoca Sound.

“Natura Musical sempre acreditou na força da música para mobilizar as pessoas. Para refletir esse propósito e dar espaço à diferentes vozes, a plataforma apoia artistas, bandas e projetos de fomento à cena capazes de amplificar debates como a diversidade, a sustentabilidade e o impacto positivo na sociedade”, afirma Fernanda Paiva, Head of Global Cultural Branding.

Pororoca Sound foi selecionado pelo programa Natura Musical, através do Edital 2020, ao lado de nomes como Linn da Quebrada, Bia Ferreira, Juçara Marçal, Kunumi MC, Rico Dalasam. Ao longo de 16 anos, Natura Musical já ofereceu recursos para mais de 140 projetos no âmbito nacional, como Lia de Itamaracá, Mariana Aydar, Jards Macalé e Elza Soares. Saiba mais através das redes sociais do projeto e no site www.pororocasound.com.br

Sobre Natura Musical

Natura Musical é a plataforma de cultura da marca Natura. Desde seu lançamento, em 2005, o programa investiu cerca de R$ 174,5 milhões no patrocínio de mais de 518 projetos – entre trabalhos de grandes nomes da música brasileira, lançamento e consolidação de novos artistas e projetos de fomento à cenas e impacto social positivo. Os trabalhos artísticos renovam o repertório musical do País e são reconhecidos em listas e premiações nacionais e internacionais. Em 2020, o edital do Natura Musical selecionou 43 projetos em todo o Brasil e promoveu mais de 300 produtos e experiências musicais, entre lançamentos de álbuns, clipes, festivais digitais, oficinas e conferências. Em São Paulo, a Casa Natura Musical se tornou uma vitrine permanente da música brasileira, com uma programação contínua de lives, performances, bate-papos e conteúdos exclusivos, agora digitalmente.

Assessoria de Imprensa | POROROCA SOUND
Contatos: Paulo Rocha: 96 98412-4600 / Claudio Silva: 98114-9655
[email protected]
www.pororocasound.com.br

Assessoria de Imprensa | Natura Musical
Telefone: (11) 96446-0565
Luciana Rabassallo:[email protected]

O DESCENDENTE DO CAPITÃO-GENERAL – Conto de Fernando Canto – @fernando__canto

Conto de Fernando Canto

Era uma velha amizade e todos sabiam. Rondava o encantamento até. Eram inconfundivelmente perfeitas no que faziam. Davam a impressão de serem tão ternas que o excesso de abraços poderia derretê-las. Assim eram minha mulher Gianni e sua amiga Elna. As pessoas de nosso círculo de amizade se surpreendiam como se nunca tivessem tido amigos do mesmo sexo. É claro, diziam, é tudo muito bonito, adoro, ele adora, nós adoramos. Admiramos tão vasta e impetuosa amizade. Gozavam de mim, os pulhas. Perguntavam como eu me sentia vendo tudo aquilo. Aquilo o quê? Eu dissimulava. Perguntavam sempre sobre minha adesão ultra modernista às coisas da vida, já que eu, um homem maduro e bem-sucedido engenheiro, possuidor de incontáveis atributos, embora conservador, chegava agora a encarar os fatos como algo normal. As pessoas não cansavam de me atazanar a vida. E eu me fazia de ingênuo. Elas sabiam ou pensavam que sabiam da minha vida e sempre davam asas a minha fama de conquistador, pois as mulheres ainda suspiravam quando eu passava exalando um caro perfume francês. Eu ria por dentro porque sabia da zombaria dos homens por trás de mim e durante muito tempo recolhi o que eles diziam através de suas mulheres nas camas dos motéis. Sim, eu era mau. E daí? Era a única forma que tinha de me vingar deles. E melhor, em silêncio. Meu conceito era ruim, mas eles me toleravam, tinham mesmo que me engolir. Embora me reconhecessem como um dos melhores calculistas da cidade, eu sabia que me desprezavam devido a minha origem humilde. Eles se enclausuravam num mundo de nuvens de algodão como se fossem parte de uma corte principesca. Na realidade, era um clube de elite, fechado e hipócrita. Um bando de hedonistas, de pervertidos, isso sim o que eles eram.

***


Meu casamento com uma mulher da alta me trouxe alguma vantagem profissional, prestígio, grossos contratos de trabalho e sobretudo respeito, o que não me incomodava nem um pouco, porém havia conversas atravessadas de desconfiança e olhares carregados de hipocrisia, de inveja. Ah! A burguesia… Hoje convivendo com ela posso compreendê-la, mesmo não a digerindo bem.

A minha origem, o meu tão ignorado passado, era razão de certa intolerância de convívio. Mas eu dei um golpe neles, pois não bastava mostrar competência. Esse golpe surgiu por acaso, quando descobri num livro de História um tal governador da Província com um sobrenome semelhante ao meu. Fora um herói nas expulsões dos flibusteiros holandeses que andavam na região no início do século XVII. Sei lá se era meu parente, se não era ficou sendo, pois em troca de umas plantas e de alguns metros de pedra e areia, um pesquisador diletante escreveu um lindo artigo sobre o herói e seus feitos nas páginas do jornal de maior circulação da capital. Saiu num Domingo, dia em que os burgueses leem jornais no terraço. A matéria finalizava assim: “O conhecido engenheiro, Dr. F. é o único remanescente e descendente direto do Capitão-General S., fidalgo da Casa Real, Alcaide-mor e Comendador da Ordem de São Tiago, no Estado do P.”

O golpe atingiu o alvo. O joão-ninguém que eu era escondia o jogo, diziam, homem de ascendência nobre, imagine, de família fidalga, um verdadeiro continuador da nobreza no Estado.

A burguesia é de morte. Bastou uma notícia no jornal para que nos dias seguintes eu ser badalado nas colunas sociais e até ser assediado nas festas por dondocas solteironas. Só precisava naquele momento saber administrar o golpe. Então me enfurnei nos livros de História ajudado pelo falso historiador em troca de cimentos e tijolos. Juntos fizemos a árvore genealógica parecer verdadeira, e foi um alívio descobrirmos nos códices do Arquivo Público Estadual uma carta do governador Capitão-General a El-Rei, solicitando sua volta a Portugal por causa das fortes dores nos hipocôndrios em função da má qualidade da água e dos alimentos. Suplicava a compreensão de Sua Majestade, pois servi-la era a grande honra de sua família, da qual, como último herdeiro, precisava tomar seu lugar nas vinhas de Vale D’ Ouro e rogar ao bondoso Deus que assaz lhe desse proteção e vida longa pra conseguir seu intento.

Se ele viveu e teve filhos, nem eu nem o historiador conseguimos saber. Para todos os efeitos seus atos e os de seus descendentes continuavam valendo nos artigos do professor de História, que, nessa altura, pela sua cumplicidade e pela projeção do meu nome, já estava com a casa pronta, só faltavam os azulejos do banheiro.

Durante uns cinco meses o assunto nas rodas dos bares e festas era sobre a história dos antepassados. Chegavam comigo e falavam de seus ancestrais, de nobreza, de como deviam ser bons aqueles tempos na metrópole portuguesa, ou, no mínimo, na corte imperial brasileira. Eu tratava os tempos coloniais como os mais heroicos, de uma época em que se precisava ser macho pra viver, porque cada passo dado era uma luta a ser vencida, etc., etc. … Graças às leituras eu possuía segurança de conhecimento, boa conversa e uma fértil imaginação.

Os intelectuais burgueses, travestidos de socialistas, perguntavam por que eu não escrevia ou romanceava a saga da minha família. Achavam que eu poderia ganhar muito dinheiro se pudesse conseguir recursos para produzir um filme. “Fala com o pessoal da Embrafilme, contrata o Comparato para escrever o roteiro…” Fácil, fácil para eles. Misturavam assuntos históricos com religião, chegavam ao cúmulo de dizer que, de repente, eu poderia ser a reencarnação do Capitão-General ou que fulano já foi um faraó, que beltrana teria sido uma prostituta do bas-fond de Paris no período napoleônico, ou que o famoso cirurgião, Dr. W., era um médium competente e apregoava ter sido discípulo de um druida na Escócia em tempos imemoriais. Eu engoli mil bobagens e escutei milhões de asneiras, não obstante concordasse parcialmente com quase tudo. Aliás, só tinha de concordar com aquelas futilidades, pois queria mesmo levar meus interesses à frente.

***

No balcão de um bar conheci Gianni, que já me conhecia de nome e respeitava a minha famosa “nobreza”. Com ela aprendi que só um Bloody Mary bem dosado dá a arrancada para uma noite de prazer inesquecível. A pimenta-do-reino estimula o amor, ela dizia, desce pela garganta em fogo brando para arder a brasa que temos dentro de nós. Falava assim, a boêmia. Em tudo, dos gestos artificiais ao linguajar ultrapassado, não obstante sempre segura de seus conceitos, percebia-se nela uma angústia que aflorava, uma revolta contra os valores vazios de seu meio e uma dor de latejar os lábios quando falava. A insurreta Gianni não lamentava a vida, combatia o imobilismo da sociedade, o ócio, os preconceitos e as vicissitudes suspeitas dos que lhe cercavam. Combatia a tudo… Só com palavras, coitada. A ricaça fraquejava e desmoronava depois do discurso inflamado. Era uma gladiadora no seus sonhos efêmeros. Pediu ajuda a mim. Eu dei. Não sei bem o que houve, mas aprendi a amar aquele drink, tanto que convenci Gianni a ficar comigo. Não houve nenhum início de resistência e nossa relação foi se fortalecendo dia a dia, drink a drink. O que é que eu podia esperar de uma mulher descasada, mal-amada e com um passado cheio de mágoas e com uma rede de relações fragmentadas àquela altura?

***

Na pior das conjecturas, para mim, Elna seria aquele protótipo de amiga chata, pré-fabricada na adversidade, daquelas inconvenientes, mantenedoras de estímulos nada razoáveis a quaisquer problemas emocionais. E Gianni me falava tanto dela que, confesso, cheguei a ter ciúmes. “Outra balzaquiana desocupada” eu pensara, mas não falei. “Sem ter o que fazer procura ajudar a amiga e não ajuda porra nenhuma. Ainda bem que te conheci quando ela estava fazendo mestrado em Artes na Alemanha”. Cartas e postais de prédios antigos iluminavam o rosto de minha mulher. Elna achou o máximo termos casado. Uma vez ouvi o trecho: “Ah, querida, pegar um homem maduro é como fisgar um peixe arisco. Nossos machões estão cada vez mais decadentes. Eu te parabenizo, Gianni, a América do sul está prestes a cair sob nossos pés. Serão quinhentos anos que se romperão ao redor único das mãos da mulher. Em pouco tempo conhecerei teu marido, teu nobre tupiniquim colorido de penas de arara”. Esse dia chegou. Fui amargar minha primeira e real solidão tomando Campari com soda no bar da esquina. Perdi a mulher, achei.

Não. Em casa as duas estavam nuas na cama me esperando. Nenhuma palavra. Ray Conniff tocava na vitrola. Ray Conniff, ora essa, o som de fundo da suruba. Uma bacanal com a própria mulher e a amiga. Tudo bem, as doses não me afetaram no desempenho. Aceitei, claro que sim, era uma fantasia rara de se realizar e o prazer não mede a dimensão do sentimento nessas horas. O que mais valeu, no entanto, foi ter experimentado, pela primeira vez, toda a passividade que jamais pensei que um dia teria. Valeu pelos gozos múltiplos e infernais. Técnicas da milenar Germânia transculturadas pelo corpo e pelas mãos de uma pseudo-viking interessada em guerrear com os machões do Novo Mundo. Perdi a guerra. As Amazonas venceram e queimaram os despojos do vencido. Que seus deuses sejam louvados no quadrilátero da cama!

***

Ai, estas dores nas costas! A cama de ferro arqueada e no fundo a concavidade de dois corpos nus. Um de leite, outro de bronze, dormem, inertes, sem dar a mínima para a luz penetrando na janela. Tropeço em latas de cerveja, faço a barba com o mesmo aparelho que depilou as púbis devoradoras daquelas mulheres sanguinárias. Sigo para a obra com a consciência ardendo por ter derrubado um edifício de conceitos. Um erro de cálculo. Eu jamais havia errado na minha profissão, mas ali naquele cenário…

Errei dia após dia. Implodi fortificações coloniais construídas pelos meus nobres antepassados, sólidas igrejas e prédios de concreto e ferro. Nem calculava mais meus erros. Maculei minha profissão num ímpeto dilacerante. A integral esfacelou-se no meio do enunciado. Fiz besteira? Não. Elna, a do capacete bárbaro, e Gianni, a uiara devoradora, se movem em sôfregos rituais quando eu, o totem, o ídolo antropomorfo prostra-se no campo de batalha.

***

Ligar para esses pulhas do Society eu não ligo. Podem insinuar, tentar puxar conversa que de mim não arrancam nada. Temos, nós três, um segredo eivado de detalhes que só nós sabemos. Eu sei que é trivial, é prática constante uma transa dessas para eles. Só que ao meio da nossa, permeia uma contenda na qual as mulheres sempre vencem. Eu só perco porque não sei mais calcular. Não tenho e nem quero dados, só resultados. Isso me basta.

Poesia de agora: Em direção às Origens – Maria Ester

Em direção às Origens

Viver a Vida da melhor forma:
Não seja escroto com as pessoas.
Não seja escravo delas e
nem do pensar alheio .
Todo dia se surpreenda …
Tudo é lembrança.

Viva da melhor forma possível :
Criar
Se criar
(Re)criar
Experimentar
Se Experimentar
Crescer
Correr riscos…

Consciência
(Cor)agem
Conhecimento

Inspiração
Reflexões
Ações

Se divertir
Ser livre
Evoluir

Se surpreender consigo
Construir
(Re)construir
Desconstruir

Caminhar, caminhantes.

E, logo, se apressar em
sentir
Pensar
Perceber
amar!

Já dizia o Mestre: Eu não estou indo em direção ao Fim, estou indo em direção às Origens!”

Maria Ester

Poesia de agora: Conta-gotas (Lara Utzig) – (@cantigadeninar)

Conta-gotas

Chorei um rio
de lágrimas.
O bastante para afundar um navio
e preencher inúmeras páginas.
Depois de saber
com quantos paus se faz uma canoa
você conseguiria responder
com quantas mágoas se faz uma lagoa?

Lara Utzig

Meu esporte favorito – Conto de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Conto de Lorena Queiroz

Quanto mais a vida batia, mais eu bebia. Acredito que para escapar da obviedade dos dias e matar alguns neurônios sem uso. Um dia, depois de um milhão de dias sem lembranças integras, o corpo arregou. Talvez porque o coração e o cérebro briguem e justamente quem paga o pato é o fígado, que pobre infeliz sem sorte.

Eu estava no corredor no consultório médico que tem cobertura de meu plano, praticava meu esporte favorito; a observação. Sim, músculos e suor nunca foram atrativos para mim. Sempre gostei de olhar para as pessoas e imaginar o que tem por trás de cada vida; um filho, um amor, uma fatalidade, um gato. Bem, sempre foram inúmeras opções.

Vi um obeso, provavelmente esperando para fazer um exame que dirá está fodido de colesterol, ou diabético e com o coração já implorando para parar de passar tanta gordura naquelas artérias. Porra, tomara que isso tenha sido tudo de tira-gosto! Perder a vida só por comida é um desperdício que Deus não pode permitir. Coitado, tomara que esse gordo tenha ganho metade dessa gordura enfiado em um bar.

Enfim chegou a minha vez, o Doutor de blusa gola polo e jaleco igualmente alvo como lavado por mãe, deve ser virgem esse filho da puta. Muito mais novo que eu, decerto. Ele me pede para entrar e eu sento com os exames nas mãos. Tenho a sensação que é meu inquisidor. Entrego os exames para ele, ele olha minunciosamente calado.

Começo a praticar meu esporte, imagino como será sua vida, deve ter uns quarenta anos, casado, pois logo vi o bambolê dourado no anelar do infeliz. Acho que foi um bom exemplo, daqueles que sempre desprezei; estudou, casou e comprou um cachorro, deve ser o orgulho dos pais, deve ser chato pra caralho. Nunca seria amigo dele, não tem substancia. Não consigo arrancar mais nada dali. Gente assim vive bem, mas vive pela metade.

Ele interrompe meus pensamentos com a sentença que me condenaria após a leitura dos exames. Eu não podia mais beber, não podia mais fumar. Aparentemente os pulmões tinham dado as mãos para o fígado e pulado juntos de um penhasco. O coração foi rir e caiu junto, esse fodido. Mas esse merece se foder, sempre aprontou comigo e, se hoje estamos assim, é muita pela insensatez desse filho da puta.

Saio de lá com todas as recomendações. Papeis para fazer mais exames, papeis para fazer mais consultas, papeis para comprar mais remédios, papeis que ditam os hábitos novos que preciso adquirir. Morrer é burocrático.

No dia seguinte comecei a saga de tentar fugir da foice de dona morte. Acordei cedo e fui me matricular na academia, foi horrível. Aquelas pessoas estando ali por vontade própria, que merda de valores essa gente cultiva? O instrutor odiosamente simpático, me manda para esteira alegando que tenho que me aquecer. Eu já odeio tudo e repenso a opção da morte. Eu não conseguia praticar meu esporte ali, todos pareciam iguais, gente com os mesmos objetivos.

Eu era o único velho com o bucho quebrado pelo álcool e pelo tempo. Ainda lembro da prostituta que adorava apoiar o copinho de cachaça na divisão entre meu estomago e o peito. Ela dizia que minha barriga inchada segurava o liquido perfeitamente. Isso que é uma moça de visão. Após uma hora e meia de tortura e monologo interno, sai daquele lugar e acendi um cigarro, não dá pra caminhar sem um cigarro, mesmo que seja até o inferno ele te faz companhia.

Meus dias seguiram assim; dieta que a nutricionista impôs, a vagabunda quer me matar de fome, essa sim tem muita praga nas costas, cadeiruda hipócrita; zero álcool e cigarro regrado. No decimo quinto dia de minha saga, estava entediado demais. Sai para caminhar domingo de manhã, eu nunca acordava cedo aos domingos. Domingo era o melhor dia pra se ter uma ressaca, pois o dia sempre foi chato e a ressaca era meu compromisso de domingo, minha missa. Calcei meus tênis recém comprados e custei pra achar uma meia limpa, sai pela orla da cidade, o berço que embala todas as almas que se perderam no dia anterior, ainda bebendo, gente bêbada, mulheres despenteadas com olhos borrados de maquiagem, lindos pandas etílicos.

Andei mais um pouco e, enfim, praticaria meu esporte com dedicação, ali sim tinha material com substancia a ser usado. Andei mais um pouco e vi um grupo, eram três homens e uma mulher. Ela era gorda, gigante, tinha um olhar caído e um rosto que denunciava que havia sido muito bonita. Atrasei os passos afim de escutar o que conversavam, mas os bêbados falam um dialeto que só acessamos quando estamos no mesmo grau de consciência.

Aqueles quatro com o isopor encardido me causavam muita curiosidade, era como se eu não pudesse sair de lá sem ter a certeza do que os movia a quererem a companhia um do outro até aquelas horas, ali tinha uma história. O rapaz de boné olhava docemente para a gorda, não acho que queria só comer o bacon, ela realmente tem algo que desperta o interesse dele. O outro rapaz só observava já muito sonolento, aguentou até as oito, guerreiro. O mais jovem faz convites à todas as moças que caminham com intuito saudável, todas entortam o nariz e ignoram àquela alma. Quanta história tem ali. Eu dou mais uma volta e paro em um mercadinho em frente ao trapiche, compro uma garrafa de vodca e volto para saber a história daquela gorda.

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora contista e cronista. E, ainda, de prima/irmã amada deste editor.

“Tattoo Solidário” 2022 reúne 16 tatuadores afim de arrecadar doações para ajudar instituição de caridade

O “Tattoo Solidário” chega a sua 9ª edição em 2022, reunindo 16 tatuadores feras, e ocorrerá nos dias 12 e 13 de fevereiro (sábado e domingo) em Macapá, no Amapá Garden Shopping. Além de promover a arte da tatuagem, tem o objetivo de ajudar uma instituição que cuida de crianças em situação de risco social.

A ação será realizada pela Norte Rock, loja especializada em artigos de rock que já promove o festival há nove anos. No sábado, a programação inicia às 10h e segue até às 22h. No domingo, inicia às 12h e finaliza às 21h.

Além das tatuagens com preços de R$ 50 até R$ 400, a ação busca arrecadar pacotes de 200 gramas de leite em pó.

“Além de pagar pela tattoo, os interessados garantem participação no evento entregando mais 200 gramas de leite em pó, que serão distribuídas para a Casa da Hospitalidade, organização sem fins lucrativos que funciona em Santana, a 17 quilômetros de Macapá”, explicou Paulo Pontes, proprietário/sócio da loja Norte Rock e organizador do evento.

Os desenhos podem ser sugeridos pelos próprios interessados, com valor a negociar com cada artista. Para participar do evento, basta a pessoa chegar com o desenho, e escolher qual artista quer tatuar e aguardar a vez. A arte não pode ser para cobrir outras tatuagens já existentes no corpo e o pagamento deve ser feito em dinheiro em espécie. Detalhe importante: é necessário levar a carteira de vacinação com a comprovação da segunda dose da vacina. Além disso, o Tattoo Solidário é para maiores de 18 anos.

No evento, os valores cobrados são abaixo dos preços de estúdio. As tatuagens são de pequeno a médio porte, as maiores de até R$ 400 são de tamanho de 11 a 12 centímetros. Além disso, durante a ação, terão shows, exposição e dj’s, um evento multicultural.

E aí, tá ansioso? É só entrar no perfil da rede social Instagram da Norte Rock e ver quem são os feras da tatuagem que estarão no Tattoo Solidário.

Confira os perfis dos profissionais aqui:

@madtattooo
@kaostattoo
@danilomachdo
@hianmtattoo
@alextattoo40
@marconiink
@tattoogabe
@tattoo_hugo
@morhy.ink
@pristattoo
@douglasdarksidetattoo
@johnnysantostattoo
@wandotatuagem
@jhontattoo__
@omuller_
@elieltattoo

*Fotos e informações: Tatto Solidário

Editora do Ifap lança edital de fomento à literatura amapaense

A Editora do Instituto Federal do Amapá (Edifap) está com inscrições abertas até o dia 4 de março para autores interessados em submeter seus contos e poemas ao edital “I Tucuju Literário”. Trata-se de uma iniciativa que busca construir mais espaços de visibilidade para a literatura amapaense, seja ela desenvolvida por estudantes, servidores do Ifap ou comunidade externa.

Os interessados em participar devem ter no mínimo 14 anos e realizar sua inscrição gratuitamente através de um formulário online disponível no site www.ifap.edu.br 

Ao todo, serão selecionadas 400 propostas, sendo que 200 dessas devem ter como autores membros da comunidade interna do Ifap (estudantes, docentes, técnicos administrativos e funcionários terceirizados) e 200 devem ser de autores da comunidade externa.

As obras devem ser inéditas e os textos devem abordar o tema “Os encantos do meio do mundo”. De acordo com Romaro Silva, pró-reitor de Extensão, Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do Ifap, pasta na qual está vinculada a Edifap, “esta iniciativa já vem sendo pensada pela Edifap há bastante tempo. Estávamos ansiosos para lançar nosso primeiro edital voltado para a literatura amapaense. Isso mostra que a Edifap está comprometida tanto com a disseminação do conhecimento científico como também com a arte e a cultura do Amapá”.

Diretoria de Comunicação – Dicom
Instituto Federal do Amapá (Ifap)
E-mail: [email protected]

Sankofa, um dos grandes espaços culturais de Macapá, fecha as portas e se despede com festival

O espaço cultural Sankofa começou em 2016, no Quilombo do Curiaú, como símbolo de valorização da arte e da cultura quilombola. O projeto deu tão certo que o espaço foi transferido para a Orla do bairro Santa Inês, cartão postal da capital, e desde então, se tornou umas das grandes referências do setor cultural do estado. Foi palco de grandes manifestações culturais, entre shows, exposições, poesia, literatura.

Em um ano em que deveria comemorar sua existência, o local anuncia que estará de portas fechadas. O belo trabalho não impediu que a crise financeira afetasse o empreendimento. O encerramento das atividades foi a opção que restou. Mas, mesmo doendo no fundo da alma, a despedida será em grande estilo com um festival que será realizado de 10 a 13 de fevereiro, disse Willy Myranda, Sócio Fundador.

“São quase 8 anos cultuando a tradição de servir arte. Alegrias e choros, poesia e grito dos oprimidos, música e dança, arte e cultura, sons, cheiros e sabores, e acima de tudo afetividade. Uma jornada que iniciou em 2016, no Quilombo do Criaú, e veio parar na frente do majestoso Amazonas. De lá pra cá a gente só viu e viveu a evolução, muita coisa mudou, mas a essência política sempre foi aquilombar com o propósito de continuar, cultuar e manter a herança do nosso povo.

Gratidão por TOD@S que foram parte desta história, memória e experiência de vida. O Sankofa foi utopia vivida, um ponto fora da curva no entretenimento. Somos tudo isso porque fomos junt@s. Fizemos o nosso melhor, um orgulho para nós e para os nossos, manifestando nossa arte e cultura como nunca antes registrado na história, um sonho realizado. Bar, restaurante, casa, quilombo, ninho ou simplesmente SANKOFA que passa a ser parte apenas das nossas memórias.

O Sankofa encerrara seu ciclo definitivamente, o pássaro permanecerá com seus olhos no passado, está e permanecerá vivo em nós, só não esqueçamos que no seu bico há um ovo para o futuro. E nunca iriamos encerrar sem deixar de nós despedir, e como em África a gente comemora tudo, inclusive o fim, vamos celebrar junt@s em uma última despedida como um grande festival, de 10 a 13 de fevereiro e memorar o nosso adeus.

A vida tem nos ensinado que nada é infinito. É preciso fechar ciclos, encerrar processos, dar fim para abrir espaço para caber nossas transformações e, assim, haver novos recomeços de outros sonhos ancestrais. Laroyé! Caminhos abertos para a transformação e movimento positivo, prosperidade, abundância e novas felicidades! Viva o Sankofa! Viva a Resistencia de um Povo!”

Serviço:

Festival Sankofa
Data: Sábado, 12 de fevereiro
Horário: 18h
Local: Sankofa – Orla do Santa Inês – Centro de Macapá

Fonte: Blog da Cleide Freires.