Poema de agora: Quiçá, a Eternidade – Jaci Rocha

Quiçá, a Eternidade

Um girassol se abre!
Um botão de rosa perfuma o espaço
O sol desenha seus traços no céu
Gostas de chuva branca beijam o horizonte

O espetáculo da vida,
Sem alarde,
Nasce.

Uma estrela morre, na galáxia
Um big bang faz surgir uma nova morada
Meu corpo, poeira das estrelas
Enquanto as roupas secam no varal…

No quintal,
Um coração bate e pulsa
Alguém respira, uma criança ri.

E na asa daquele passarinho,
Quiçá, more a raiz do meu pai,
E hoje, é ele quem faz um ninho
Aqui, à beira do jardim.

Tudo vira em outra coisa: até a própria consciência.

A gente (re)acontece a todo instante
Essa é a verdade da existência
Cada coisa se fragmenta e tudo se agiganta!
Nada de dissolve: exceto a constância.

Eis a realidade:
Não estamos preparados
Para a beleza da nossa forma de eternidade

Jaci Rocha

Poema de agora: o lado azul da borracha – Pat Andrade

o lado azul da borracha

de lá de onde vinham
as juras e promessas
não havia amor ou sentimento
[era um grande vazio]

e pra onde foram as canções
e todas as declarações?
eram palavras ao vento
[um vento que ficou frio]

não há em ti lugar
pra guardar sensações
eram só minhas as emoções
[era só meu o desvario]

hoje entendi que tuas palavras
eram palavras apenas
e era só eu quem ouvia poemas
[e disso eu me vanglorio]

mas vou te apagar de mim
com o lado azul da borracha

até rasgar o papel
até sangrarem os dedos
até virar outra página

Pat Andrade

Poema de agora: ELISA – Pat Andrade

ELISA

andava com ela,
pela madrugada,
a lua branca e bela,
de vermelha à prateada.
sempre na calada da noite,
se pintava de carmim…
seus beijos, como açoite,
eram usados contra mim.
depois durante o dia,
eu a vi, como nunca
pensei que veria…
me olhou, muda, e saiu,
sem dizer se voltaria

Pat Andrade

Poema de agora: Afinal – Lara Utzig (@cantigadeninar)

Afinal

eu vou te amar pra sempre
podes contar comigo sempre
sempre estarei ao teu lado
quero ficar contigo pra sempre
a ternura do eterno:
tensão contratual
[contraste moderno]
quanto tempo dura o pra sempre?
pra sempre é muito tempo.
o tempo do pra sempre
talvez não seja o tempo dos homens.
então por que cargas d’água
sempre juramos pra sempre?
quiçá estejamos sempre
equivocados:
o pra sempre dura
enquanto se sente.

Lara Utzig

Poema de agora: RAMSÉS – Pat Andrade

RAMSÉS

ainda faz escuro lá fora
viro pro lado e não há o que ver
me estico e apago a luz já fraca

[uma vela no candelabro]

inesperadamente
ele entra pela janela
já não pede licença

[eu permito, claro]

me agrada e acaricia
chego a pensar que ele me ama
me convenço quando
se atira aos meus pés
e me lança o olhar
mais doce dessa semana

[seu olho é um brilho raro]

Pat Andrade e Ramsés

desce as escadas antes de mim
pra me sorrir lá de baixo
com seus dentes de marfim

[e um hálito de orvalho]

sei que ele não tem coração
e deve pular outras janelas
mas me rendo aos seus carinhos
e lhe sirvo a melhor refeição

[agradece com um longo miado]

e ele
nem mesmo
é o meu gato…

PAT ANDRADE

Poema de agora: BENZE ELE – @stkls

BENZE ELE

eita! o geraldo tá entrevado na cama
não sei nem o que fazer
o que será que aconteceu?
por que será que ficou entrevado?
será que foi mau-olhado?
vento ruim? quebranto? sei lá!

Foto encontrada no site: https://pagina3.com.br/

minha mãe diz que eu não sou uma mulher direita
porque não vou nem consolar o coitado
mas o que eu posso fazer?
o homem não se mexe pra nada
e eu só sei consolar de um jeito
e com esse jeito ele pode se entrevar de vez, diacho!
e não é que a mãe diz:
pega esse homem e leva na casa da dona joaquina
diga ela: “benze ele, dona joaquina.
benze ele pelo amor da santa.
benze ele com essas mãos
que já trouxeram tantas crianças ao mundo.
benze ele com galho de arruda.
benze ele com alecrim brabo.
benze que ela não pode ficar viúva.”
e eu disse: digo nada!
o geraldo já anda fraquinho se entreva do nada
e eu quero ser viúva negra
vixi! conte comigo não!

Pedro Stkls

Poesia de agora – POEMINHA SEM ELE – Pat Andrade

POEMINHA SEM ELE

e essa saudade
enjoadinha
que não passa
que engasga a graça
que deve existir

e esse aperto no peito
que não tem jeito
que me dá medo de olhar
a estrela nascer
e a noite cair

e essa melancolia
que não me deixa
ver a manhã chegar
pra te ver entrar
e sorrir pra mim

e essa tristeza profunda
que se alojou aqui
que não quer ir embora
e que não me deixa
esquecer de ti

PAT ANDRADE

Poema de agora: AMOR COM AÇAÍ – @stkls

AMOR COM AÇAÍ

ah! daqui o amor
é uma coisa tão urgente
na boca da noite
ele me beija mururés
ah! se a lamparina falasse
como o giral ressoa
ecoa e grita as maravilhas
que a gente desenha
eu cuido do peixe do almoço
ele me pega
e a gente se perde no pitiú
se lambuza
abusa de mim, joão
na canoa eu nunca fiz
na balançar da rede
foi como mergulhar na pororoca
você me tocava naquela hora
não importava que hora o mundo seguia
já era preamar dentro de mim
eu te quis como a bandaia
aquela altura eu já era a tua iara
caboca das águas
voz doce no pé do teu ouvido
meu joão menino,
assobia aquelas coisas todas
outra vez?
aquela gritaria de periquitos
a vida era aquilo
amor que dura e cura
qualquer falta de riso
você me mundiando
e eu me achando
a deusa a estrela rara
e o giral, joão?
e a rede, joão?
que horas tu você volta
com o açaí?
eu nunca comi amor com açaí
como será, joão?
vumbora?

Pedro Stkls

Poema de agora: O fim do mundo – @alcinea

O fim do mundo

Quando disseram
que o mundo ia acabar
Tia Lila pegou seu terço
e pôs-se a rezar.

O dono da venda
dividiu toda a mercadoria com seus funcionários
e distribuiu o dinheiro do caixa para os mendigos.

A recatada dona Clotilde
jogou-se aos pés do marido
e implorando perdão
confessou que o tinha traído com o compadre.

Seu Joaquim, um santo homem, ajoelhou-se no meio da rua
ergueu as mãos para o céu
e pediu perdão a Deus pelos assassinatos que cometeu
como matador de aluguel.

No dia seguinte
o dono da venda pedia esmolas,
a recatada Clotilde, expulsa de casa,
foi morar num velho puteiro,
Seu Joaquim foi preso.

Só Tia Lila continuou do mesmo jeito.
De terço na mão continuou rezando
e entre uma oração e outra murmurava:


– É mesmo o fim do mundo
– Dona Clotilde, hein, quem diria?
– Seu Joaquim com aquela cara de santo, hein!
É o fim do mundo!
É o fim do mundo!

Alcinéa Cavalcante

Poema de agora: Um amor amazonas – Jaci Rocha

Um amor amazonas

O mar é lindo
O mar dá medo
– Amar também –

Amar é uma ‘onda’
Tem tudo a ver com o mar:
profundo, belo…um risco!
também, salgado…

No mar, há zonas.

E o Amazonas é um mistério
feito de doçura e imensidão…

É, depois de um tempo
Amor de Amazonas é tudo que a gente precisa:
Aquela onda doce, aquele vento forte
A sensação de carícia enquanto a maré dança

A mística fantástica, a energia quântica
A coisa simples e cabocla,
Ah…tudo que a gente precisa
é de amor…

e de um tanto de Amazonas!

De forma tal que o peito se transborde,
multiplique e viaje sem medo,
Pois navega nessas águas como quem é parte
de um todo muito mais bonito

de um segredo profundo e coletivo
Uma coisa doce e rouca
Como maré do Equador…

AH! e não seria seria exatamente isso
O que a gente diz – e quer- do AMOR?

Jaci Rocha

Poema de agora: RECEITA – Pat Andrade

RECEITA

pra não sofrer
por teu amor
caço novos sorrisos
desvendo mistérios

refaço caminhos
disfarço sentimentos
visito meu passado
desenho o futuro

desmancho saudades
costuro boas memórias
invento amores
pinto meias verdades

teço mais versos
ensaio mil rimas
escrevo uns poemas
e declamo só alegrias

PAT ANDRADE

Livro dos Ipês de Thiago Soeiro ganha versão em libras

Depois do lançamento do audiobook do Livro dos Ipês, o poeta, Thiago Soeiro, lança no sábado, 20, no seu canal no Youtube a versão na Língua Brasileira de Sinais – Libras, do livro. A tradução foi feita pelo interprete Fernando Fernandes.

O Projeto do Livro dos Ipês é uma série de cinco poemas que começaram a serem escritos no ano de 2013, e foram produzidos durantes cinco anos, um poema por ano, todos intitulados com cores de ipês, são: Ipê Rosa, Ipê, Branco, Ipê Amarelo, Ipê Roxo e Ipê Verde.

O intuito do poeta é deixar suas poesias de uma forma acessível para todos que a recebem, usando internet como espaço democrático de acesso a arte.

Sobre Thiago Soeiro

Nascido em 1989, de Belém abraçou Macapá em 2008 e nunca mais o largou. É formado em Jornalismo e publica sua produção literária na internet desde 2009 onde começou com o blog Amor Cafona criado por ele, postava cartas e poemas de amor. Além disso, em 2010 criou o sarau mensal Poema de Quinta e ao lado do seu amor Pedro Stkls apresentou o grupo litero-musical Poetas Azuis ao público do Brasil, e desde 2011 levam em seus poemas diálogos sobre o fazer poético, sempre tentando popularizar a sua poesia.

Sobre Fernando Fernandes

Possui Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado do Amapá (2013), é Tradutor Intérprete de Língua Brasileira de Sinais certificado pelo exame de Proficiência na Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa (2015). É membro parcial do Instituto de Ensino Superior do Amapá (2015), Esteve como Professor Substituto da Universidade Federal do Amapá (2017 – 2019). Diretor Pedagógico da Escola Conexão Aquarela (2020). Atualmente cursa o programa de Doutoramento em Linguística e Literatura na Universidade de Évora em Portugal. Integra o Grupo de Pesquisa Processos Linguísticos, Indentitários e Culturais Surdos (PLICS).

Onde ler e ouvir os poemas de Thiago

Se você ficou curioso em saber mais fique atento aos links e aproveite!!
E-book: https://bityli.com/TQgRC
Lançamento do audiobook: http://www.youtube.com/c/ThiagoSoeiro

“A poesia é pop”: Poetas brasileiros mostram seus olhares e visões poéticas em série de lives que será lançada nesta sexta-feira, 19

A poesia, sempre vista como a mais tradicional forma de se expressar, já tem uma aliada muito importante que têm contribuído fortemente para que essa arte consiga alcançar mais e mais pessoas pelo mundo, não apenas como obra, mas como conhecimento e expressão: as redes sociais.

Mas isso está indo além! A nova forma utilizada para aproximar do público é por meio das lives, ferramenta que ganhou destaque principalmente nesse período de isolamento social. E é assim que surge o “Poesia é pop”. Projeto criado por um grupo de poetas de quatro estados do Brasil que tem o objetivo de abordar a essência da poesia e do poeta em conversas descontraídas e acessíveis, comandadas pelos poetas Pedro Stkls e Áquila Emanuelle. As lives irão acontecer às terças e sextas, às 20h, a partir desta sexta-feira, 19, transmitida pelo perfil do Instagram da Duas Telas Produções.

Como diz Mário Quintana, no poema “Emergência”, “quem faz um poema, salva um afogado”. É isso que a escrita em suas infinitas formas de se apresentar representa para Thiago Soeiro, Lucão, Aline Monteiro, Pedro Muriel, Carla Nobre, Áquila Emanuelle e Pedro Stkls, que compõe o grupo “Poesia é Pop” e serão entrevistados na série de lives que está sendo preparada. Para o poeta e idealizador do projeto, nesse período em que estamos, a poesia é uma saída de emergência para a sociedade. “É muito importante você estar compenetrado dentro da poesia para aliviar esses danos todos que o mundo vem sofrendo e essas dores todas que o mundo vem ganhando todos os dias”, explica.

Com um olhar de cada canto do Brasil, as lives prometem levar ao público uma visão diferenciada sobre a poesia, já que cada um dos poetas participantes tem na bagagem muito conhecimento sobre o assunto e uma carreira respeitada por quem é fã das palavras. “A gente acha que o público precisa conhecer o nosso íntimo. O nosso fazer com a literatura, sobre as nossas leituras”, diz Pedro sobre a importância de mostrar às pessoas mais sobre o poeta em si com essa oportunidade.

“A poesia é pop” é uma realização da produtora amapaense Duas Telas, que também coordena o trabalho musical do grupo Poetas Azuis, composto por Thiago Soeiro e Pedro Stkls e é uma grande propagadora da arte, com grandes nomes em seu portifólio.

As lives apresentarão ao público um conteúdo exclusivo e especial roteirizado para que a mensagem de cada um dos episódios seja entregue com muita riqueza de conhecimento. Segundo Pedro, quem assistir as lives irá presenciar conversas poéticas que irão variar de acordo com a vivência de cada artista. “O público pode esperar perguntas muito poéticas, jogos poéticos e uma intimidade muito grande entre todos desse grupo”, conclui ele. A primeira entrevista será nesta sexta-feira (19), com a poeta uauaense Áquila Emanuelle.

Serviço:

Série de lives “A poesia é pop”
Quando: Todas as terças e quintas, a partir desta sexta,19.
Onde: No perfil do Instagram da Duas Telas Produções (@duastelasproducoesap)
Evelyn Pimentel (96) 991230923
Assessoria de imprensa