Poema de agora: Feliz Aniversário, Flávio Cavalcante, Amigo de fé. Irmão. Camarada! – ( do poeta Obdias Araújo para @PedraDeClariana)

“OB” e Flávio Cavalcante

Feliz Aniversário, Flávio Cavalcante, Amigo de fé. Irmão. Camarada!

Cinco de julho é o
septuagésimo
octogésimo dia do ano
no gregorianocalendário.

Flávio Cavalcante
Escolheu este dia
Para imprimir
Seus pedaleiros pés
Molhando de suor menino
O chão e o coração do Agreste.

Neste cinco de julho
Eu te saúdo Flávio
Agradecendo à Deusa
Do Poema que a mim
Mostrou o Azimute de teus
Companheiros passos!

Obdias Araújo

 

Flávio Cavalcante, a fotógrafa Márcia do Carmo, o jornalista Everlando Mathias e eu, em um encontro de trabalho em abril de 2019.

*Dou uma de “enxerido” e pego carona na homenagem do “OB” (como o Fernando Canto chama o Obdias Araújo e ele não gosta) para também desejar ao aniversariante, a quem considero um amigo, além de um de meus chefes, muita saúde, ainda mais sucesso e tudo que couber no seu conceito de felicidade.

Pai, filho, marido e irmão amoroso (gosto de ver suas manifestações para com a família nas redes sociais), escritor (poeta, cronista e contista) ciclista, fotógrafo e incentivador de esportes (também um de seus principais retratistas), Flávio Cavalcante é, sobretudo, um cara muito porreta e um homem de bem. A ele, todo amor que houver nesta vida! (Elton Tavares)

Poema de agora: Prelúdio para a Catedral – Luiz Jorge Ferreira

Prelúdio para a Catedral

Encontro com Fernando Canto, parece que foi Ontem esses dez anos.
Aumentamos o grau dos Óculos.
Estou ileso, chamuscado , teso e ‘liso’, porém pareço eterno.
Ele fala.Eu falo.Bebe-se.
O tempo adoece.


Conversamos então sobre a solidão pousada no prato de azeitona, temo que sejamos herdeiros da mesma angústia que fala de canoas.
Digo-lhe que amaremos a mãe de nossos filhos, ele acha que Cuba pode vir a produzir mamão Papaya.
Divagamos sobre o fim de Tróia, e a glória de estarmos embriagados.
Bebo Conhaque e lhe segredo que sempre amei Helena.
Ele refere-se as Sereias como Sardinhas.
Diz que Deus é brasileiro, acho que tudo começou com um Símio.
Conhece uma Marcha Turca que termina em palmas, canta e eu aplaudo ritmicamente.

Belém está afônica.
Ele imita Sancho, eu imito o Capitão Gancho e Brizola.
Um Padre passa para a Igreja, atiro nele um caroço de azeitona.
Fernando vê-me menino, eu o vejo imberbe, fazendo poemas para as meninas do Colégio.
Digo-lhe que amaremos os netos de nossos filhos.
Ele acha que postumamente.

Os poetas Fernando Canto e Luiz Jorge Ferreira, em algum lugar do passado.

Rimos a ‘bandeiras despregadas’.
Mais ou menos de pé, cantamos o hino, despidos como nascemos.
O dono do bar, nos xinga.
É Domingo, saímos do bar, para a Missa.

Luiz Jorge Ferreira

* Do Livro Thybum – Rumo Editorial – 2004 (Primeira Edição) – São Paulo.

Poema de agora: Sempre a Poesia (Ana Anspach e Patrícia Andrade)

Sempre a Poesia

as notícias sobre o vírus
chegam de todos os lados
o número de óbitos
supera os de cura
meu peito dói
pela dor do mundo

então descanso
olhos e ouvidos
ouço Lenine
leio Cecília
e releio Cora

meu coração pulsa
a poesia que há
bem no fundo de mim
no fim de tudo.

Ana Anspach & Patrícia Andrade

Poema de agora: O DELTA – Ori Fonseca

O DELTA

Dize-me, irmão, por que tens medo dela.
O teu fascínio louco, a tua procura,
O delta pra onde corres na loucura,
Sem nem saber se o mar se encontra nela.

O feromônio, irmão, está naquela
Que, muitas vezes, se em querer te atura;
Aquela que desprezas, a criatura
Que quebra as tuas colunas: ela, Ela!

Que sabes da vagina só de vista?
A vista é a única coisa que te anima?
O que de fato nela te aproxima?

Se achas que a mulher é uma conquista,
E que só parte dela é “terra à vista”,
Nasce de novo, o ponto é mais em cima.

Ori Fonseca

Poema de agora: Atirando pedras por sobre os Ombros – Luiz Jorge Ferreira

 

Atirando pedras por sobre os Ombros

Eu vou me associar a você.
Sentados de costas para a terceira rua invernamos.
Rascunho com um pouco de saliva, desenhos a esmo.
A cara de um anjo careca tocando gaita.
Uma baleia azul vestida em um Suéter…Made in Pernambucana…voltada para Oeste.
Assobio mais da metade de uma Música de dois compassos que termina em Lá.
18:-45 .


Cruzo dois dedos polegares de unhas roídas, e os mordo até que sangrem.
Posso mergulhar meus dedos entre os teus cabelos úmidos de laquê.
Próximo escrever em Braile o décimo primeiro mandamento.
Aquele que diz:-NãoCreia.

Nada disso me importa quando caminho por ruas tortas com meus sapatos puídos de passos.
Eu amo os passos, os pés, e os sapatos.
Amo, os nós,os cós,e o Cal.


Amo o sal, e a brisa que enxuga o suor, e que penteia em mim os enfins espalhados pelas lembranças.
Ami a criança que fui e abandonei no Alpendre onde o Sol dormia a sesta na sexta-feira 13.
Adiante de mim o tempo como um imoral, mostrava-se despido.

Eu saí de mim, e passei a segui-lo.
Ele em um ritmo cada vez mais acentuado.
Hoje sei que fiz errado em arranhar a lua, e cuspir nas estrelas.
Enquanto eu corria entre os outros, que corriam entre outros, não havia lado que terminasse.
Os Corvos voavam as cegas e as penas que caiam, eu as pregava no corpo para ensaiar um vôo.
Por fim repleto de cicatrizes, tatuagens, garras, e tropeços.


Vejo-me as voltas com o retorno.
Hoje! Sozinho. Aqui estou.Como um Boto Cor de Rosa.
Menino e Avô.

Luiz Jorge Ferreira

*Do livro de Poemas “Nunca mais vou sair de mim sem levar as Asas” – Rumo Editorial – São Paulo.

Poema de agora: MISÉRIA II – Patrícia Andrade

MISÉRIA II

dá pra ver o desamparo
nos teus olhos cansados
no rastro da lágrima seca

não há raiva em ti
e nem dor se manifesta

é só a tristeza dura
de quem passa ao largo

(daquilo que chamam vida)

teus lábios feridos e rachados
não acham mais palavra

(nem sombra de sorriso)

é só um rosnar
um gemido tosco e rouco
um quase grito

(que ninguém quer ouvir)

nessa sobrevida
te escondes e te revelas
sem sequer incomodar

(a quem mal te enxerga)

Patrícia Andrade

Poema de agora: Para um certo lugar atolado no Ontem. – Luiz Jorge Ferreira

Para um certo lugar atolado no Ontem

Planto chuvas como se Abril fosse bissexto.
Molho textos como se tardes nascessem do mar.
Amanheço em mim, assustado com a possibilidade de voar.
Mas não saio de ti, nem que o avesso apareça por traz da pintura de R.Peixe…ou esculturas de Rodin.

Enxerto pecados em virtudes, canto com Alaúde uma Ave Maria agnóstica, que na surdina do barulho infernal dos sapateios, finge ser muda.
Mas eu a traduzo para a linguagem gestual dos mudos, e ela fica lilás e sensual.

Com as lágrimas que pulam para a calçada…
Afogo rosas todas esculpidas em barro como o de Brumadinho.
E ponho em fila todas as vidas abortadas e nuas pelas valas espremidas.

Planto chuvas e as carrego sobre os ombros, que imagino largos, a Noroeste do Riacho que chamo de lama.
Da casa a céu aberto que chamo de alma.
Da imensidão de saudade, que chamo de drama.
Do paneiro cheio de palavras átonas e tônicas … que chamo de poema.

E se eu soubesse que viraria lama.
Teria atirado minha chuva na tua cara!

Luiz Jorge Ferreira

 

*Poema do livro “Nunca mais vou sair de mim, sem levar as Asas”.

Poesia de agora: as cidades, as chuvas – @stkls (Vídeo e voz de Áquila Almeida) @manudosertao

as cidades, as chuvas

{para manu do ser tão}

choveu nas tuas duas cidades de uma ponta a outra
queria ter estado com todas as coisas que molharam
com cada cinematografia
astro meteorológica
uma pena foi não saber
que a previsão era de chuva
nas cidades que você fotografa
já é hora de decretar o fim do verão das flores secas
da rachadura das terras dos rios
e um monte de coisas empoeiradas
de quantos em quantos séculos
chove nas tuas duas cidades
a primeira vez foi na aparição de dalila
a segunda vez foi na existência dos anjos
a terceira vez você estava na cidade sertão enquanto o rio-mar se molhava
pensei em escrever uma carta
e te contar como a cidade dançou na chuva como no vidro do carro
a chuva desenhou uma alcateia
e de repente já era uma cantoria de grilos
a gente nunca sabe qual desenho
a chuva pinga no vidro
choveu nas tuas duas cidades
e um passarinho se molhou
quando atravessou o céu

Pedro Stkls – Vídeo e voz de Áquila Almeida

Poema de agora: Tom perfeito – Sabrina Zahara

Tom perfeito

Lá está,
Tudo indica que não sabe nada
Vou aí te mostrar
Cola no meu quadril
No meu tom vem dançar
Arrebenta a sandália.

Sei lá,
De certo, o ponteiro do tempo dispara
Deixa a chuva molhar
Manda nudes da alma
Link que acompanha
Cola na minha calma

Vida!
O tom desse som
É Que não tá certinho?
Vem aqui me mostrar
Faço desse seu jeito
Dois pra lá, dois pra pra cá
E Caio noutro enredo
Todo compasso que você cantar


Eu quero dançar samba…
Mas, Tem ordem nesse caos
Nós não temos segredo
Dois pra lá, três pra cá
Pra toda música que eu cantar
Você é O Tom perfeito.

Sabrina Zahara

IMPORTAR – Por Vladimir Belmino

A palavra importar é da classe gramatical verbo do tipo regular, etimologicamente vem do Latim (importare: ‘trazer para dentro, importar’). Como verbo, pode ter vários significados, variáveis de acordo com sua flexão e com seu emprego, seja como verbo intransitivo, seja como verbo pronominal, seja como verbo transitivo direto e, finalmente, como verbo transitivo indireto.

Para efeito deste rápido trabalho, nos interessa o verbo pronominal, o que traduz ‘dar importância a’; ‘fazer caso de’, podendo ser utilizado como nas frases: “não se importa com nada” e “ele se importa com ela”.

Ainda como verbo, como todo e qualquer verbo, ele é ação em sua essência. Ou seja, o palavra-verbo importar implica um movimento; sendo da classe verbo às palavras que fazem a vida existir, a exemplo do famoso texto bíblico de João 1:1-4 “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito, foi feito sem ele. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens”.

E esse pensamento é muito poderoso, uma chave de conhecimento, independente de sua contextualização religiosa. Em verdade, a mensagem que vem do texto bíblico transpassa a religiosidade ao se perceber que não é dado a ninguém, nem mesmo ao Deus, realizar sem ação, sem verbo.

Então, na frase “ele se importa com ela”, o que nos conta o verbo ‘importar’ na utilização pronominal? A qual movimento nos agita? A qual ação nos inspira? Ele nos diz que temos que nos importar com o outro, mas como se dá essa ação de se importar com o outro? É a compaixão, seria compreender o que o próximo está passando ou o colocar-se no lugar do outro? Refletindo sobre outro trabalho apresentado na sessão da Loja Zohar, de autoria de nosso irmão José Lobo Neto, cheguei a outra conclusão.

Se importar com o outro é o movimento de trazer o outro para dentro de si; como se fosse um ato de importar produto do estrangeiro para dentro de nosso pais. É mais que sentir compaixão, muito mais do que se colocar no lugar do outro, sentir na pele o que ele passa. Isso é só o começo do ‘se importar com o outro’.

No momento em que se realiza a dificuldade alheia, percebendo-a, foi dado o primeiro passo no complexo ato de ‘se importar’ com o outro, na sequencia vem a ação propriamente dita de tirar o outro de onde se encontra – ajudar a sair da dificuldade ou do sofrimento – trazendo-o para seu mundo onde esta vicissitude não existe, ou onde pode ser mais branda pelo compartilhamento da solidariedade.

Solidariedade é um ato de bondade com o próximo ou um sentimento, uma união de simpatias, interesses ou propósitos entre os membros de um grupo. Ao pé da letra, significa cooperação mútua entre duas ou mais pessoas, interdependência entre seres e coisas ou identidade de sentimentos, de ideias, de doutrinas. Alguém quer falar de sua etimologia? Pois ela não é verbo, mas rende bons pensamentos também.

Por fim, para que repouse em nossa mente algo de útil sobre o verbo e sobre agir, que demonstre a beleza de seu movimento e a pequenez de nossa mente, socorro-me e espalho o pensamento inquietantemente belo de Manoel de Barros, no poema VII de “Uma didática da invenção” (in Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011), deixando a quem deseje, criar a poesia IMPORTAR:

No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio.

Confrade Vladimir Belmino de Almeida, cadeira nº 31 Moacyr Arbex Dinamarco, em 12.02.2017.

Poema de agora: RETORNO – Pat Andrade

RETORNO

depois de tantas
noites sem dormir
esta manhã
me olhei no espelho

por um segundo eu vi
a mulher que eu era
antes de ti

falei suavemente
o meu nome
e lembro vagamente
que consegui me ouvir

me chamei de volta
e bem devagar eu vim

fiz as pazes comigo

aos poucos
estou voltando pra mim

PAT ANDRADE

Poema de agora: Saudade fuleira – @ManoelFabricio1

Saudade fuleira

Toda vez que vê passa e sorri sem graça
E diz no cumprimentar, bem no pé do ouvido; saudade.
ouço e não esboço reação
fico pensando, mas… que saudade mais fuleira
que não tem eira nem beira
Que não manda recado
que não liga
que não faz nada
só fala
não faz nem sinal de fumaça
Não escreve um recado
não manda um bilhete
é só um tirinete

Manoel Fabrício

“Em tempos de lonjura”, o novo livro da poeta Pat Andrade está disponível para aquisição em versão virtual. Compre e incentive a cultura local!

A poetisa, escritora e colaboradora deste site, que assina a sessão “Caleidoscópio da Pat”, Pat Andrade, lança mais um livro virtual.

“Em tempos de lonjura” tem apenas 17 poemas. Todos autorais – e a maioria, inéditos.

O livro foi concebido em parceria com o Artur Andrigues, filho da autora. O trabalho é uma espécie de estreia despretensiosa do moleque, que assina a arte do livro.

A intenção da poeta é arrecadar recursos financeiros nessa época de isolamento social, por conta da epidemia de coronavírus. Além, é claro, de divulgar sua poesia.

Há 21 anos em Macapá, a poetisa paraense escreve belos poemas, declama e edita ela mesma os seus livros. Em tempos normais, comercializa suas obras em eventos culturais, cafés, bares e restaurantes da capital amapaense, o que não é possível nestes tempos de Covid-19.

Sempre compro e recomendo o trabalho de Pat Andrade, de quem sou fã e tenho a honra de ser também amigo.

Eu já tenho o meu “Em tempos de lonjura”. Corre, fala com a Pat, e adquire o teu exemplar virtual. A cultura agradece.

Poema de agora: Sobre as bênçãos – Jaci Rocha

Sobre as bênçãos

Eu e Deus

O universo respira em paz,
O vento sopra as novidades
eu, o espaço, os sons do chão e do céu…

Eu e Deus

e o fuxicar das flores,
do jardim ao mundo afora
o farfalhar alegre das árvores
Dizem em alto e bom som

‘ isso vai passar…’

A natureza sabiamente
Não deixou de trabalhar
Para a beleza do todo
E isso é um afago, uma certeza

-e um consolo!-

é também uma grande responsabilidade
enquanto a vida trabalha e faz sua arte
Para o grande milagre
é preciso cooperar…

E isso é forte. É suave e diário
Feito a asa de uma borboleta!
O efeito do ‘eu’ sobre o ‘alheio’
tem a exatidão do nosso – redondo e cíclico- planeta

Eu e Deus
nos entendemos bem!

E ele fala, nas mais belas lições – feito Francisco
E assim, a vida é mais do que um risco:
é um rio, um abraço,
cachoeira de bênção que cai macia, sobre mim….

Jaci Rocha