Livro dos Ipês de Thiago Soeiro ganha versão em libras

Depois do lançamento do audiobook do Livro dos Ipês, o poeta, Thiago Soeiro, lança no sábado, 20, no seu canal no Youtube a versão na Língua Brasileira de Sinais – Libras, do livro. A tradução foi feita pelo interprete Fernando Fernandes.

O Projeto do Livro dos Ipês é uma série de cinco poemas que começaram a serem escritos no ano de 2013, e foram produzidos durantes cinco anos, um poema por ano, todos intitulados com cores de ipês, são: Ipê Rosa, Ipê, Branco, Ipê Amarelo, Ipê Roxo e Ipê Verde.

O intuito do poeta é deixar suas poesias de uma forma acessível para todos que a recebem, usando internet como espaço democrático de acesso a arte.

Sobre Thiago Soeiro

Nascido em 1989, de Belém abraçou Macapá em 2008 e nunca mais o largou. É formado em Jornalismo e publica sua produção literária na internet desde 2009 onde começou com o blog Amor Cafona criado por ele, postava cartas e poemas de amor. Além disso, em 2010 criou o sarau mensal Poema de Quinta e ao lado do seu amor Pedro Stkls apresentou o grupo litero-musical Poetas Azuis ao público do Brasil, e desde 2011 levam em seus poemas diálogos sobre o fazer poético, sempre tentando popularizar a sua poesia.

Sobre Fernando Fernandes

Possui Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado do Amapá (2013), é Tradutor Intérprete de Língua Brasileira de Sinais certificado pelo exame de Proficiência na Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa (2015). É membro parcial do Instituto de Ensino Superior do Amapá (2015), Esteve como Professor Substituto da Universidade Federal do Amapá (2017 – 2019). Diretor Pedagógico da Escola Conexão Aquarela (2020). Atualmente cursa o programa de Doutoramento em Linguística e Literatura na Universidade de Évora em Portugal. Integra o Grupo de Pesquisa Processos Linguísticos, Indentitários e Culturais Surdos (PLICS).

Onde ler e ouvir os poemas de Thiago

Se você ficou curioso em saber mais fique atento aos links e aproveite!!
E-book: https://bityli.com/TQgRC
Lançamento do audiobook: http://www.youtube.com/c/ThiagoSoeiro

“A poesia é pop”: Poetas brasileiros mostram seus olhares e visões poéticas em série de lives que será lançada nesta sexta-feira, 19

A poesia, sempre vista como a mais tradicional forma de se expressar, já tem uma aliada muito importante que têm contribuído fortemente para que essa arte consiga alcançar mais e mais pessoas pelo mundo, não apenas como obra, mas como conhecimento e expressão: as redes sociais.

Mas isso está indo além! A nova forma utilizada para aproximar do público é por meio das lives, ferramenta que ganhou destaque principalmente nesse período de isolamento social. E é assim que surge o “Poesia é pop”. Projeto criado por um grupo de poetas de quatro estados do Brasil que tem o objetivo de abordar a essência da poesia e do poeta em conversas descontraídas e acessíveis, comandadas pelos poetas Pedro Stkls e Áquila Emanuelle. As lives irão acontecer às terças e sextas, às 20h, a partir desta sexta-feira, 19, transmitida pelo perfil do Instagram da Duas Telas Produções.

Como diz Mário Quintana, no poema “Emergência”, “quem faz um poema, salva um afogado”. É isso que a escrita em suas infinitas formas de se apresentar representa para Thiago Soeiro, Lucão, Aline Monteiro, Pedro Muriel, Carla Nobre, Áquila Emanuelle e Pedro Stkls, que compõe o grupo “Poesia é Pop” e serão entrevistados na série de lives que está sendo preparada. Para o poeta e idealizador do projeto, nesse período em que estamos, a poesia é uma saída de emergência para a sociedade. “É muito importante você estar compenetrado dentro da poesia para aliviar esses danos todos que o mundo vem sofrendo e essas dores todas que o mundo vem ganhando todos os dias”, explica.

Com um olhar de cada canto do Brasil, as lives prometem levar ao público uma visão diferenciada sobre a poesia, já que cada um dos poetas participantes tem na bagagem muito conhecimento sobre o assunto e uma carreira respeitada por quem é fã das palavras. “A gente acha que o público precisa conhecer o nosso íntimo. O nosso fazer com a literatura, sobre as nossas leituras”, diz Pedro sobre a importância de mostrar às pessoas mais sobre o poeta em si com essa oportunidade.

“A poesia é pop” é uma realização da produtora amapaense Duas Telas, que também coordena o trabalho musical do grupo Poetas Azuis, composto por Thiago Soeiro e Pedro Stkls e é uma grande propagadora da arte, com grandes nomes em seu portifólio.

As lives apresentarão ao público um conteúdo exclusivo e especial roteirizado para que a mensagem de cada um dos episódios seja entregue com muita riqueza de conhecimento. Segundo Pedro, quem assistir as lives irá presenciar conversas poéticas que irão variar de acordo com a vivência de cada artista. “O público pode esperar perguntas muito poéticas, jogos poéticos e uma intimidade muito grande entre todos desse grupo”, conclui ele. A primeira entrevista será nesta sexta-feira (19), com a poeta uauaense Áquila Emanuelle.

Serviço:

Série de lives “A poesia é pop”
Quando: Todas as terças e quintas, a partir desta sexta,19.
Onde: No perfil do Instagram da Duas Telas Produções (@duastelasproducoesap)
Evelyn Pimentel (96) 991230923
Assessoria de imprensa

Poesia de agora: CRIADOR E CRIATURA – Elisa Lucinda. (Vídeo e voz de Áquila Almeida) @manudosertao

CRIADOR E CRIATURA

Quando se pensa profundamente e como gente grande
sobre a operacionalidade da existência de Deus,
a fé não dura nem mais um pio e conclui-se logo:
Deus não existe!
Pois, como pode o mesmo homem
cuidar de todos os corpos e suas saúdes,
de todas as almas e suas angústias?
Todos os desejos e seus requintes,
todos os amores e riscos,
todos os filhos e seus perigos,
todos os medos e principalmente o da morte?
Como pode um só ser acolher toda a humanidade que sofre
e ainda resolver a parte que cabe a Deus dos seus destinos
(que é sempre a do desfecho)?
Só um Deus poderia fazê-lo
e o faz por sê-lo.

Mas se não fosse Deus,
que nome daríamos ao acaso?
A quem chamaríamos amparo?

A quem beijaríamos como excelente pintor de cores e matizes
nos vernissages múltiplos das tardes,
dos amanheceres e dos crepúsculos?
Quem seria o cobertor solvente de nosso medo irascível?
Quem seria o senhor do impossível,
o motorista que muda o rumo da impossibilidade?
Quem seria o arguto alfaiate para a roupa justa dos nossos sonhos?
Quem seria o medonho punidor dos nossos pecados inconfessáveis,
com sua cota de céus-perdões e sua munição de infernos?
Quem seria o moderno maquinista do mesmo trem,
com tantas linhas cruzadas no universo inteiro?
Quem seria o valente marinheiro a nos conduzir em mar revolto?
Quem seria o exposto a tragédias e tempestades
antes de nós ou a nosso fundo?
E a quem agradeceríamos, salvos deste mundo, em meio à calmaria?
Ah, se não tivéssemos inventado Deus, meu Deus,
quem nos inventaria?

Elisa Lucinda – Voz e vídeo de Áquila Emanuelle

Poema de agora: POEMA DA LIBERTAÇÃO DO RIO – @stkls

 

POEMA DA LIBERTAÇÃO DO RIO

não tenho medo da palavra que corta o rio
que divide o rio em dois hemisférios
duelo de águas nas costas da maré
quantas vezes deixei de naufragar?
quantas vezes não vi o rio sobre o rio
e pensei ser um rio só?
isso é a porrada do mundo
da força do mundo sobre a miudeza
nos olhos que só procuram pelo pouco
a gente nunca sabe como funciona
o olho da esperança
a gente nunca conserta
um dente de leão
eu tenho medo é de velhas dores
ou de não entender que a poesia vai além da rima
eu tenho medo é de achar
que o rio não é libertação
que só pode lavar banhar molhar navegar
e outros verbos que só servem para a linguagem
repartir o rio vai além de passar a faca ao meio


repartir o rio com o sol
repartir o rio com a chuva
repartir o rio com a canoa
quer dizer sinônimo de poesia
você tem histórias com o rio?
imagine um cavalo correndo nas mãos da pororoca
imagine uma boiada indo em disparada no banzeiro
imagine que do rio o barro é uma jura de amor eterno
se o mururé disser que um dia foi uma estrela
acredite!


essa é uma história nascida do possível que a vida gera
o que você levaria do rio?
uma corrente de água
fenômeno raro das marés?
um Deus que fosse sujeito ao toque
a forma física do rio que nunca dorme?
eu vou repartir é a minha sede com o rio
eu vou repartir o meu tambor
em dia de santíssima trindade
do rio eu levo a fúria a alquimia o deserto e o universo
os seus pontos cardeais quero no poema
o seu santo remédio a sua visagem o seu nascedouro
o rio é poesia
acredite no que lhe falo
quem chorou o rio e o fez assim não foi Deus
quem chorou o maior rio do mundo foi um poeta.

Pedro Stkls

Poema de agora: D. JOSEFA. (Cem anos sem Solidão) – Luiz Jorge Ferreira

Tia Zefa – Foto encontrada no blog da Alcinéa.

D. JOSEFA. (Cem anos sem Solidão)

Tia Zefa espreitava Cybelle
para um duelo de letras, e palavras.

Quando o sol trocava de lugar com a noite,
atras do Grêmio Estudantil, e o beiço vermelho da Avenida Ernestino Borges.
A lua tinta de açaí cobria a si mesma com a poeira que subia ainda tonta,
que se fosse orvalho era doce, que se fosse ontem era hoje,
que se para uns era assovio de Matinta, e de outra visagens,
para meus olhos míopes, era dança ao som do Mar-a-baixo.

O que conversavam n’aquela língua de XI… !
-Nossa mãe! Não conta…! -Vixe Santa.

Coisas talvez que só a tradução mais feliz,
fosse feliz em traduzi-las.

Quando os cães latindo
avisavam, que dia de noite tinha passado.
Cada uma pegava seus momentos,
e entrava em si.
Disto tudo que falo…
passaram-se cem anos.

Luiz Jorge Ferreira

Poema de agora: IMPRESSIONISMO – Pat Andrade

IMPRESSIONISMO

penso que agora
me encanto mais com o céu
olho ainda mais
para as árvores e flores
sinto cada vez mais
a intensa noite
e consigo ver melhor
o brilho das estrelas

absorvo luzes e tons
capto cores e matizes
e começo a perceber
que desvendar Van Gogh
é cortar a própria orelha

PAT ANDRADE

Poema de agora: Faca no Peito – Thiago Soeiro (@ThiagoSoeiro) – (Vídeo e voz de áquila e. – @manudosertao)

Faca no Peito

é neste nó no meu peito que engatam as palavras eu não saberia dizer que é mentira
quando tu perguntas se é a ti que amo
um golpe certeiro
uma faca no peito
esse sentimento que beira a imoralidade me pego contando as tábuas no teto tudo parece ter um pouco de nostalgia a janela aberta
tuas mãos me abrindo caminho
não saberia dizer se ainda estou vivo
ou se aqui é o céu.
deveria ser proibido
amar tanto alguém assim.

Thiago Soeiro (Vídeo e voz de áquila e.)

Poema de agora: MORMAÇO – Poetas Azuis (com participação da @rebeccabraga)

MORMAÇO – (Pedro Stkls/ Igor de Oliveira) – Com participação de Rebecca Braga

Você plantou em mim uma saudade
Dessas de raízes fortes
Que vão pro fundo da terra
E não sabem voltar

Tanta coisa linda pra viver
Tanta chuva pra se aproveitar
E nós dois aqui nessa distância
De lembranças e remendos

Hoje vou pegar o meu barco
E do meio do mar
Eu vou cantar aquela canção
Sobre a roseira
E debaixo do sol sob o mormaço
Vou lembrar que um dia
Eu te transformei em poesia

Programa “Conhecendo o Artista”: hoje Kássia Modesto entrevista Os Poetas Azuis

Os nossos sábados já tem um gostinho especial de encontro, de troca e de arte. E para abrilhantar essa noite, eu recebo os Poetas Azuis, para um bate papo bem poético e divertido e você é nosso convidado de honra!

Foto: Elton Tavares

O Poetas Azuis é um grupo lítero-musical, criado em 2012 a partir de estudos e investigações poéticas e musicais para popularizar a poesia, dedica-se à criação de recitais/shows que propiciem dinâmicas horizontais entre públicos de diversas faixas etárias, baseando-se na capacidade de maravilhar as pessoas através dos sentimentos que imprimem em seus poemas-canções, com foco em suas habilidades e sensibilidades emocionais, poéticas e estéticas. Paralelamente às apresentações, o grupo fomenta seu espaço na internet onde busca compartilhar poemas de poetas conhecidos pelo grande público ou não. Atua também na esfera de projetos voltados para a criação literária e poesia falada através de oficinas, palestras e workshops.

Foto: Jhenni Quaresma

O grupo tem como seus líderes os poetas Pedro Stkls, que nasceu nascido em 1988, em Macapá – AP, e ainda reside na sua cidade de origem. É poeta, compositor e dizedor de poesias. Teve sua estreia em 2010 como ator de teatro na peça 4 Elementos, Participou como autor convidado de diversos eventos literários no Brasil, ministrando oficinas ou dizendo poesias e participando de debates, dentre os quais destaca-se a OFFFLIP (Paraty-RJ), em 2013.

Foto: Elton Tavares

Thiago Soeiro, nascido em Belém do Pará, morou até os 18 anos na cidade de Monte Dourado- PA, onde começou seu contato com a escrita por meio de textos e cartas, desenvolveu sua poesia falando do seu cotidiano e de todas as coisas que o cerca e dos seus sentimentos. No ano de 2009 criou o blog Amor Cafona, onde publicou durante anos poemas e textos acerca da temática do amor e das desilusões amorosas. Participou do grupo Poesia na Boca da Noite, onde declamou poemas em logradouros públicos e participou da coletânea publicada em 2010. Ainda neste ano criou o sarau Poema de Quinta, juntamente com outros poetas a exemplo de Aline Monteiro e Janete Lacerda.

Criou em 2012 junto com o poeta Pedro Stkls, o grupo Poetas Azuis, que trabalha a popularização da poesia por meio da música e da fala. O grupo surgiu com a ideia de declamar as poesias de poetas locais e desde então, tem pesquisado vários poetas locais e nacionais trabalhando de um jeito a deixa-los ao estilo do grupo. Os “azuis” já realizaram inúmeros shows em sua cidade natal e demais estados brasileiros, participaram de diversos festivais de música, feiras literárias e prêmios de literatura.

Foto: Elton Tavares

O grupo trabalha com apresentações em um formato de PocketShow, com duração média de 1h (uma hora), e já se apresentou em instituições de ensino superior como Universidade Federal do Amapá-UNIFAP, Universidade Estadual do Amapá– UEAP.

E para esta noite, com gostinho especial em alusão ao dia dos namorados, os poetas participarão da entrevista no Conhecendo o Artista, com a apresentação da atriz Kássia Modesto. Você é nosso convidado mais que especial e para você, nós preparamos um sorteio que estará disponível até o início do programa de hoje no Instagram @srta.modesto.

Arrecadações voluntárias, destinadas a doação de alimentos, remédios, produtos de higiene pessoal e limpeza, podem ser feitas através da conta Ag: 8529, CC: 23542-9, CPF: 008.482.032-24 Itaú, Rita de Cassia Silva Modesto, ou no telefone 96 981005163.

Então, vem com a gente, hoje às 21h, no perfil do Instagram @srta.modesto, a Live Programa, Conhecendo o Artista.

Apresentadora: Kássia Modesto
Roteiro: Marcelo Luz
Produção: Wanderson Viana
Arte: Rafael Maciel
Artistas Convidados: Poetas Azuis

Poema de agora: Ataranto – (@cantigadeninar)

Ataranto

possuo estas mãos
um tanto quanto desajeitadas
que sequer sabem dar conta
das tarefas domésticas diárias

lavo a louça respingando em toda a cozinha
demoro duas horas só para cortar os temperos
minha motricidade — nada fina —
[não por falta de esmero
apresenta uma caligrafia apenas legível
o suficiente para impor ao quadro branco
[e às turmas
uma letra minimamente entendível

estas mãos te tinham:
com semelhante ausência de habilidade
me atrapalhava em desabotoar teu sutiã
e tentar amar-te era sinônimo de risadas
das quais agora sou órfã

então eu me concentrava
[desengonçada
em trançar entre os dedos
cada centímetro de teus cabelos
e esperando diante da porta
me permitia ser convidada
pra dentro de tua morada
e apreciava tua pequena morte
antes de ires embora

estas mesmas mãos
hoje encontram-se vazias
minha pele? embrutecida…
e contrariando o ditado popular
não há nenhum pássaro a voar

Lara Utzig

Poema de agora: Balada para fazer recomeços – Luiz Jorge Ferreira

Balada para fazer recomeços

Meu coração é louco.
Eu sou destro, ele é canhoto.
Olha sempre para o alto, é míope, mas quer enxergar Andrômeda.
Domingo diz que vai estar em Janeiro.
Eu sou Julho.

Meu coração é cabisbaixo quando recorda do passado.
Anunciou aos muros em ruínas que tem uma máquina do tempo.
E jorra sangue para meu cérebro.

Para que eu enxergue a alma.
Ama as Músicas das outras décadas.
Dança sozinho quando eu me aproximo do espelho.

Meu coração é louco.
Já criou Deuses, já desceu ladeiras, já fez monólogos, para pulgas Norte-americanas, falado em Esperanto.

Hoje me pregou uma peça…quis sair de mim
batendo descompassado,ao Som de uma Canção do Jards Macalé.

Onde vais?…perguntei.
Gritei …Quo Vadis.
Em latim.
…se tu fores de mim.

Nunca mais eu serei eu. Ameacei gritando aos ventos que sacudiam as venezianas.
Ele riu…e voltou…escondendo um par de Asas, que só me mostrou quando choveu sal em Outubro.

Luiz Jorge Ferreira

 

* Do livro de Poemas “Nunca mais sairei de mim sem levar as Asas” – Rumo Editorial – 2019 – São Paulo.

Poema de agora: Bailarina de Louça – Luiz Jorge Ferreira

Bailarina de Louça

Deus te rasgue o peito com a harmonia leve de um Bolero.
O som é de um hino militar.
Dois pés em Amsterdam, dois passos sobre a Babilônia, dois dedos sujos de poeira lilás, e silêncio sobre a bailarina de louça, de voz rouca que segura o ventre proeminente de ais.


No desenho do perfil abstrato, cheiro de sabonete de tartaruga, e duas verrugas azuis sob o pomo de Adão.
Na parede ilustrada, um verão em Salinas, e duas almas gêmeas semi cegas, concubinas, simplesmente, dão as mãos.

Teu coração ainda menina… palpita…do pé entre os chinelos, ao fio mais externo de cabelo…
Teu vestido de chita…tua meia elástica repuxada, tua boca Carmim…teu olhar ensaiado…vais onde eu irei…ou vais onde ficas.

Deus te dê…dois generais para governar o país.
Um cavalo cego para te levar as ribanceiras…e dois valentes crioulos com o chicote de couro, para açoita-los por demais.

Dois violões afinados em lá, e um memorial…terra e lama.
Na calada entranha sob um sol dourado … cheirando a Macapá.

Um amor na gaveta na página de uma revista careta, e duas pílulas de matar bebê.
Uma estampilha de mulher…uma gorda, outra magra, duas escravas de cara branca pó de arroz.
Risonha e farta de seios, Nossa Senhora de Guadalupe, e um lume azul da estrela mais vadia.

O rosto de Guernica, e a foz antiga do Marajó.
Uma chuva fina da Patagônia, e um Bolero saindo de uma vitrola Philips desafinada de um vizinho chileno em um sábado inútil de Janeiro.

Hoje eu te adivinho deitada… curtindo a sombra de teus seios na parede.
Eu te adivinho escrava dos cabelos,
penteando-os com os dedos.

Alisando-os no espelho embaçado do quarto.
Eu te adivinho sonolenta, arfante, subindo e descendo os peitos.
O coração descompassado, a língua em um bailado entredentes, molhada de saliva.

E se eu chegasse, correndo, assustado…
Dançaríamos, um Bolero, ou cantaríamos um Fado.

Luiz Jorge Ferreira