Poema de agora: Procura – Alcinéa Cavalcante (@alcinea)

Procura

Eu estava lá quando o sol
jogou sorrisos dourados no rio-mar.

Eu ainda estava lá
quando uma estrela riscou o céu
e um pescador apanhou uma estrela do mar.

Por testemunha tenho um bem-te-vi
que bem me viu
quando as andorinhas bailavam no ar.

Quis fundir ouro com prata,
estrela cadente com estrela do mar
e cantar um canto novo
para sair bailando contigo.
Mas
tu não estavas lá.

Alcinéa Cavalcante

Poema de agora: Ode à Ismália – (@cantigadeninar)

Ode à Ismália

Se Ismália pode enlouquecer
Também tenho o direito de pirar
Em todas as torres me aprisionar
E assim, por causa de amor, morrer!

Quando então, vier o anoitecer,
Na lua do mar quero afundar,
À lua do céu quero me elevar
Para ver se lá feliz posso ser.

Se por muitas vezes devaneio
É porque me inspira Ismália…
Para quê imprimir falso freio?

Um destino melhor? Pois eu creio
Mesmo com infinita represália!
Para que viver nesse podre meio?

Lara Utzig

Poetas Azuis lançam seu novo trabalho, “O amor mora aqui”

Um escritor britânico chamado Philip Pullman disse uma vez, ao receber um prêmio, que “crianças precisam de arte, e de histórias, e de poesia, e de música tanto quanto precisam de comida, ar fresco e brincadeiras”. Seguindo nesse propósito, surge a Duas Telas Produções, iniciativa de Susanne Farias e Josimar de Sales, visando o incentivo por meio da elaboração de projetos e promoção de eventos de diversos segmentos artísticos, para sanar não apenas a necessidade das crianças, como disse Philip, mas de públicos de todas as idades. A produtora lança agora o seu mais novo trabalho: O Amor mora aqui, do grupo litero-musical Poetas Azuis.

Que o Amapá tem uma cultura riquíssima, isso não é novidade para ninguém, mas o que também não é novidade é falta de um cenário estável e apoio aos artistas locais atuantes. Porém, essa é uma realidade que está mudando, agora com o auxílio da Duas Telas. Já há dois anos como microempreendedores da cultura, Susanne e Josimar, amapaenses apaixonados por cultura em sua variada expressão, que também produzem a premiada cantora amapaense Patrícia Bastos, iniciam mais um trabalho que com o selo da produtora junto aos Poetas Azuis, Pedro Stlks e Thiago Soeiro.O grupo Poeta Azuis, dono de uma carreira admirada e nacionalmente conhecida pelos fãs da poesia, anunciam seu mais novo show, intitulado “O amor mora aqui”. Para o poeta Thiago, ter a produção da Duas Telas, marca a nova fase do grupo. “nesse momento da carreira, a gente precisava ter uma visão externa, com novos olhares para somar ao nosso trabalho”, diz o poeta, um dos fundadores do grupo.

Susanne conta que trabalhar com o grupo já era uma vontade antiga. “o desejo de produzi-los já nos movia há um ano. E os olhares eram recíprocos. Até que vimos, e sentimos, no projeto do “Amor Mora aqui”, o momento certo pra consolidar este compromisso”, explica ela, sobre o encontro do Poetas Azuis e a Duas Telas.

Mas a produção não é a única novidade. Após 7 anos de tradição com cenários marcantes e músicas divertidas, o grupo renasce com uma nova proposta, que surge exatamente da maturidade adquirida ao longo desses anos. Letras e cores são as primeiras mudanças que serão observadas pelo público que irá assistir ao show, segundo Pedro Stlks. Optar por ter apenas violão e teclado também faz parte dessa nova fase. “Sempre foi uma vontade nossa fazer uma coisa mais intimista, porque pra falar de amor tem que ser ali, olho no olho”, justifica a mudança. A direção musical do show é de Vinícius Bastos.

Essa e outras surpresas sobre o novo trabalho do Poetas Azuis, sob produção de Duas Telas, serão assistidas na próxima sexta e sábado, dias 8 e 9 de novembro, no Teatro Marco Zero, em Macapá, por um público de aproximadamente 250 expectadores nas duas noites. Segundo a equipe envolvida no projeto, a expectativa é muito boa, mas “a ansiedade de mostrar para as pessoas tudo o que está sendo preparado” é o que mais acomete o grupo.

Serviço:

Show “O Amor Mora Aqui” – Poetas Azuis
Local: Teatro Marco Zero
Dia: 8 e 9 de Novembro
Horário: 20h
Mais informações:
Produção: 96 991139341 – Josimar de Sales
Assessoria de Imprensa: 96 991230923 – Evelyn Pimentel

Poema de agora: MÚSICA – Pat Andrade

MÚSICA

a música transborda
vai além das cordas
escorre pelos metais
migra do sopro
para além do corpo
devora acordes
em percussão
vem do ouvido
como canção


desliza quente
para os quadris
vem rolando até os pés
subverte percursos
e inverte caminhos
vai fazer festa no coração

Pat Andrade

Poema de agora: A Moça e o Vento – (@cantigadeninar)

A Moça e o Vento

Há muito tempo, o vento se apaixonou.
Naquele entardecer, uma moça
No banco do parque se sentou,
Pálida tal qual porcelana ou louça.

O vento se debatia desesperado
Tentando tocá-la, em vão.
Chegou até a virar tornado
E as árvores foram arrancadas do chão.

Vendo, infeliz, que não deu certo,
O vento, enfim, virou furacão.
Queria abraçá-la, tê-la por perto,
Mas daí veio outra decepção:

O mundo se tornou um caos
Causado por tantas intempéries;
Os humanos se tornaram maus
Revoltados pelas fúrias naturais em série.

O vento então parou em um cume
E percebeu qual seria a solução:
Arejaria os cabelos da moça, e seu perfume
Restauraria a paz em toda a nação.

O vento hoje, portanto, vai e logo vem.
Fica um bocadinho, mas não permanece.
Pois o vento, tal qual o amor, vai além:
Eterniza no coração, mas no físico… Evanesce.

Lara Utzig

Estudante e poeta de Mazagão representa o Amapá na 6ª Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa – Por Pat Andrade

Jânisson Videira

Por Pat Andrade

Um menino que gosta de mato, de banho de rio e pesca todos os dias – sozinho ou acompanhado pelo pai – para garantir a comida na mesa.

Tem uma família grandona, aliás. São seis irmãos e mais um que está pra nascer. Os pais são gente trabalhadora e honesta, que tem sempre aquele sorriso franco e uma boa cuia de açaí pra receber quem chega na casa humilde em Mazagão Velho.

Esse menino retrata em um poema o amor pelo lugar onde vive, descrevendo as festas, a cultura e a história de Mazagão. Mas também faz críticas aos governantes em seu primeiro trabalho. Uma promessa pra literatura.

Assim é o poeta menino Jânisson Videira, um pequeno mazaganense que representa o estado do Amapá na 6ª Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa.

O tema da OLP – este ano – foi O Lugar Onde Vivo e Jânisson foi campeão estadual, passando por várias etapas para chegar a São Paulo, onde disputa a etapa regional – a penúltima da competição.

O Encontro de Semifinalistas da categoria Poema acontece de 4 a 6 de novembro e alunos (as) e professores (as) de todo o Brasil se reúnem para participar.

Abaixo, o poema campeão:

Imagem do documentário, ainda em produção, sobre a festa de São Tiago, em Mazagão Velho. O belo trabalho é assinado pelo produtor, fotógrafo, cinegrafista e editor Aladim Júnior.

O lugar onde vivo

Nasci em Mazagão
Crescendo aqui estou
Eu gosto deste lugar
Porque feliz eu sou

Mazagão tem cultura
Festa aqui não vai faltar
Pois ele é o berço da tradição
Do estado do Amapá

Tem a festa de São Tiago
A batalha travada está
Entre mouros e cristãos
Mas só um vai ganhar

Eu amo meu Mazagão
Ele está em meu coração
Das terras deste lugar
Minha família tira o pão

Não queremos ser lembrados
Apenas naqueles instantes
Precisamos todos os dias
Dos olhares dos governantes

Este é o lugar onde vivo
Tem gente de todo jeito
Humildes, trabalhadores,
Que merecem nosso respeito.

Jânisson Videira

Poema de agora: Frevando nas Quartas de Cinzas

Frevando nas Quartas de Cinzas

Rodando a saia. Por toda a rua. O sol se espraia.
…Eu vou.

Cuspindo ao vento.Areia e tempo. Fagulhas e nós.
Malinando calado.Com o próprio diabo.Que gago se empolga
Na orla,na hora,na bronca. No ronco já tonto. Dos passos do frevo. Xinga o Governo, e a Cruz.

Eu lero lero, eu Putz Grillo. Engilho o engilhado ao lado oculto da lua.
Enrugo o lado Norte da vida.Ferido…abro a ferida e cuspo.Dou um play instantâneo.
Castigo os joelhos com pulos e uivos.Desalinhados com os pelos.Desavisados do apelo. Desencravados das unhas.

Calado eu canto um frevo maneiro.
Embora a Fevereiro, nem ame, nem goste.
Mas amo estar estranho esse ano.
No meio da chuva, beijando a ruiva, mascando chiclete, uivando serelepe, dizendo asneira, gritando ‘me castra’, batendo a tabaca, falando das Rosas, troçando dos troços, cuidando do fosso, zanzando com os ossos, mexendo com as ancas, invernando os trópicos, nevando o Saara, armando bobeira, salgando a festança, virando criança, ungindo de leso, pondo o feriado dos mortos na terça, cheio de mosquitos, soltando um grito, atrás de vocês.
Atras dos dez reis.Beijando pasteis. Subindo as escadas. Correndo p’ro nada.
…E tem gente p’rá Dedéu !

O padre mocinho….no vocal….E tem gente p’rá Dedéu…BIS.BIS.BIS. E tem gente p’rá Dedéu.

Luiz Jorge Ferreira

* Do Livro Pizza Literária (2017) – Da Sobrames SP. Brasil.

Poesia de agora: Sobre a vida – Tãgaha Soares Luz

Sobre a vida

tá com a roupa tão larga e tão fora de moda
a viola afinada, mas tão longe da roda
a viagem marcada, o errado é a hora
que se a vida se acaba sem amor
nenhum lábio, mas onde eu compro um sorriso
tanta fé nesse Deus mais de pão que preciso
toda noite o meu sangue é doado às pragas
e se a vida se acaba por tanta dor
como carne em mercado eu tenho o meu preço
pelo menos a vida bem sei que mereço
e se ela termina sem ter um começo
pois quem é que me salva ou me vira do avesso
eu também como Cristo já fui açoitado
ou então como Judas estou perdoado
já perdi companhia e ganhei inimigos
é que eu brinco com a vida e ela briga comigo
penitente ou demente o que eu fiz foi tão pouco
sou pedinte, indigente, o mais louco dos loucos
e se a roupa é surrada é que a vida anda pobre
e por tantos pecados não há quem me cobre…

Tãgaha Soares Luz

*Além de poeta, Tãgaha Soares Luz foi um grande jornalista e amigo querido. O cara viajou para as estrelas em 2016, mas como ele mesmo dizia: “gente do bem é outra coisa, passa e deixa rastros”.

Poema de agora: Feira do Novo Horizonte – @juliomiragaia

Feira do Novo Horizonte

Não tem mais que 5 ou 6 anos
de banho de sol
(aos domingos pela manhã)
O “malaquinho”

Carrega,
em suas pequenas mãos,
sacas de limão

que espera vender
de dois em dois reais

A ruela enlameada
Da feira
É a única rota possível

Para o pequeno
e solitário esqueleto
Se alimentar de algo

Além da luz do sol

Júlio Miragaia

Poesia de agora: IMPROVÁVEL POEMA – Pat Andrade

IMPROVÁVEL POEMA

tenho as asas do imaginário
levanto voos impossíveis
ultrapasso todos os limites
traço rotas por céus invisíveis

tenho visões assustadoras
me embriago de liberdade
mil e uma possibilidades
entre tantas realidades

tenho versos salva-vidas
me atiro no mar da poesia
navego na maré em fúria
mas também na calmaria

tenho o grito suave nas quedas
um grito ouvido em todo canto
mas tenho a voz e o passo mais firmes
a cada vez que me levanto

PAT ANDRADE

Poema de agora: DE QUE VIVE O POETA? – Pat Andrade

DE QUE VIVE O POETA?

O poeta vive de cisma
E da própria rima;
vive de dores
E alheios amores.
O poeta vive de frases feitas
E da vida nada perfeita;


vive de versos
e de outros universos…
O poeta vive de desespero
E do lamentável erro;
Vive do engano


E sem nenhum plano
O poeta vive de teimosia
E da própria poesia.

PAT ANDRADE