Poesia de agora: Poema de agora: Feira-saudade-fevereiro – @julio_miragaia

Ação Olodum no Pelourinho, em Salvador — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Feira-saudade-fevereiro

No olhar marejado
Da chuva-fevereiro,
Esfriam na feira
Frutos e carnes;

Apesar do povo
Há vírus
E apesar do cinza
Há dia;

Resfria-se o domingo
Entre lama e asfalto
Nos corredores de ervas,
Peixes e polpas;

Resfria-se o domingo
Entre lama e asfalto
Na anti-solidão
Da Cícero Marques;

No olhar-fevereiro
Da chuva,
Esfria na lixeira
A fome dos urubus;

Apesar do povo
Há vírus e há dia
E apesar do cinza
Há dia e sobretudo;

Mora,
Nalpam e implacável,
No frescor da saudade
Quem não vai mais à feira

Mora,
Nalpam e implacável,
No frescor da falta
Quem não é Carnaval

Júlio Miragaia

Nem te conto… – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Tenho um segredo pra contar. Segue aí. Ou não.

Sempre passei a ideia de que sou analfabeto em termos digitais, aquele cara totalmente bronco, desprovido de recursos para manejar qualquer objeto eletrônico. E tenho convencido bem as pessoas do meu entorno. Sou considerado o avô do homem de Neanderthal ou alguém da Idade Média. O simples fato de apertar o play já é uma tarefa complicada pra mim. Games? O máximo que consigo jogar é paciência spider. E só com um naipe!

Pois bem, o segredo que quero contar é que, na verdade, sou um hacker foda pra caralho! Um daqueles caras que podem fazer um avião explodir só manejando um dispositivo tão avançado e tão pequeno que escondo embaixo da unha do meu dedo mindinho.

Ninguém pode saber disso. Vão achar que sou um infiltrado de alguma organização cyberterrorista, de uma milícia virtual, que passo o dia disparando fake News. Nada disso. Não sou esse tipo de hacker. Jamais usei ou usarei meus conhecimentos para o mal. Meu lance é só ser capaz de tal domínio sobre a tecnologia, pelo simples prazer de saber, movimentando um arsenal de gadgets apenas para o meu deleite, coisa que não interfere na vida de ninguém. Mesmo porque, como disse lá no início, isso é um segredo guardado a sete chaves, digo, sete senhas.

Promete não contar o meu segredo? O quê? Você tem uma proposta de trabalho irrecusável? Se eu posso, com o poder que tenho sobre informática, internet profunda, essas coisas, manipular resultados dos sorteios da loteria ou da corrida eleitoral? Claro que sim. Sou capaz de causar um terremoto em qualquer lugar do planeta ou entrar no sistema das bolsas de valores mundiais e fazer o maior estrago só colocando alguns algoritmos pra trabalhar. Mas prefiro mexer meus pauzinhos cibernéticos pra combater as queimadas na Amazônia, pra incentivar as pessoas a tomarem vacina e tal.

Mas pelo jeito, você aí que está trocando mensagens comigo, não entendeu nada. Eu sabia que não era uma boa ideia revelar esse segredo, portanto não o farei. Não insista, por favor. Não está mais aqui quem falou. Fui!

(Esta crônica não tem qualquer vínculo com a realidade e será deletada em 3… 2… 1!)

Poesia de agora: As Cores da Saudade – Kassia Modesto

As Cores da Saudade

Eu nunca vi interrogação tão grande e tão mal resolvida
Se eu fosse um pintor, eu faria da saudade a tela mais colorida
Se ela fosse uma cor, somente, eu me pergunto que cor ela seria
Um tom de azul, céu profundo
A me sugar solitária ao seio do mundo?
Um branco limpo e infinito
Enlouquecendo aqui dentro, como em um próprio hospício?
A saudade é uma parceira solitária e fugaz
Que caminha a espreita e vai correndo atrás
De uma fiel companheira, sangria voraz..
Saudade, saudade, saudade…
Minha companheira nas horas tardias
Gostaria de pintar de um azul, verde-mar
Ou as cores da primavera eu poderia recriar.
Dar-lhe um tom cintilante
E deixar pelo menos por um instante
A sua dosagem me embriagar…
A saudade que carrego comigo
É preto, é luto, é medo
A viúva negra a companheira eternamente ausente
O passado ainda presente
A lembrança constante,
O afago ao frio
O arrepio apenas na mesma recordação
A saudade que carrego comigo é como o preto,
É a ausência das cores que guardo no peito.

Kassia Modesto

Professora e alunos da Unifap lançam livros sobre desenvolvimento sustentável e ressacas de Macapá

A Universidade Federal do Amapá (Unifap) irá lançar no dia 16 de fevereiro os livros “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em Tempo de Pandemia: Desejamos um Mundo melhor para 2030” e “Habitação Popular na Amazônia: O caso das ressacas na cidade de Macapá”. A live de lançamento será transmitida às 19h pelo canal oficial da Unifap no YouTube.

O livro “Habitação Popular na Amazônia: O caso das ressacas na cidade de Macapá” traz os resultados da pesquisa de doutorado da autora da publicação, profa. Dra. Bianca Moro, defendida na na Universidade Autónoma de México em 2015. A obra analisa os assentamentos precários da cidade de Macapá conhecidos como ressacas, enfocando a exclusão social e as configurações urbanas que as cidades brasileiras e latinoamericanas têm adquirido. A publicação está disponível em português desde o início de 2020 e seria lançado em março daquele ano, mas o evento foi impossibilitado pela pandemia de covid-19.

“O livro sobre as ressacas é resultado de muitos anos de pesquisa sobre esta temática. O material original está disponível em espanhol de forma gratuita na internet, mas era importante que estivesse em língua portuguesa para contribuir para a continuidade das pesquisas sobre o tema, pois ele contém uma importante investigação de campo que ocupa um capítulo inteiro, no qual constam 13 variáveis que revelam importantes características dessas áreas que envolve habitabilidade, perfil dos moradores, mobilidade, acessibilidade, posse, etc. São informações relevantes para o planejamento urbano da cidade”, observa Bianca Moro.

Bianca Moro desenvolve trabalho com as comunidades em áreas de ressacas há mais de dez anos. Desde 2009 a autora realiza um projeto de extensão na Unifap denominado “Planejando com a comunidade”, que leva alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo a trabalhar nas áreas de ressacas de Macapá. “Esses 12 anos de projeto permitiu dar visibilidade e voz para essas comunidades que estavam “invisíveis” na cidade. Era um verdadeiro tabu falar sobre esse assunto há uma década. Atualmente existe a conscientização de que este tema precisa fazer parte das prioridades nas políticas públicas de moradia para alcançar o tão almejado direito à cidade”, avalia.

Desenvolvimento Sustentável – A coletânea “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em Tempo de Pandemia: Desejamos um Mundo melhor para 2030”, organizada pela profa. Dra. Bianca Moro e por João Dias de Carvalho Júnior, conta com a participação de alunos da graduação de Arquitetura e Urbanismo da Unifap e é resultado da disciplina “Gestão e Políticas Públicas”, ministrada em 2021 pela docente. A publicação está disponível no final desta matéria e no dia do lançamento a obra ganhará também um site.

“Na coletânea escrita com os alunos fomos motivados por um tema que abordamos em sala de aula, o documento “Transformando o nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”. Diante desta experiência perguntei: como podemos pensar em um mundo melhor para 2030? Que tipo de projeto você faria para ser incorporado às políticas públicas para alcançar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável? Senti uma enorme motivação de todo o grupo, mesmo em um momento difícil, provocado pela pandemia, a vontade e união coletiva prevaleceu”, afirma Bianca Moro.

Segundo a docente, a coletânea permite que as pessoas da área de planejamento de cidade e autoridades públicas saibam o que os jovens pensam sobre o assunto. “A geração do século XXI é diferente dos que foram educados no século XX. Cada pessoa é um indivíduo, nós (professores) temos que descobrir o que eles querem fazer, e qual é o sonho desta pessoa. Temos que configurar um processo para que eles consigam realizar seus sonhos. O sonho do aluno do século XXI é contribuir para o mundo com sua singularidade. A educação na atualidade não pode ser apenas reprodução de conteúdo, mas um guia, um orientador incentivando os estudantes na criação de conteúdo e conhecimento”, adita Moro.

SINOPSES

Habitação Popular na Amazônia: O caso das ressacas na cidade de Macapá – O tema das favelas brasileiras tem sido estudado por muitos investigadores, contudo a Amazônia brasileira, especificamente o estado do Amapá, possui um tipo de produção de habitação popular em áreas úmidas, chamadas localmente de ressacas, que carecem de estudos. Estas são áreas favelizadas onde predominam moradias precárias do tipo palafita, conectadas por pontes de madeira. Grande parte da população que habita esses lugares é originária da região do arquipélago do Marajó. Esse processo de migração foi intensificado com a criação da Área de Livre Comércio de Macapá e Santana nos anos de 1990.

A presente obra procura investigar e analisar a experiência de moradia popular em Macapá, no marco da política de habitação no Brasil. A moradia popular nessa cidade é analisada desde o enfoque da pobreza, da exclusão social e da forma urbana que têm adquirido as cidades no Brasil e na América Latina. O período analisado abarca o lapso temporal de 1990 a 2015, no qual ocorreu um notável crescimento das ressacas em um contexto de mudanças na Administração Pública ao nível nacional, que se reflete na política de habitação e no papel dos municípios nesses processos urbanos.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em Tempo de Pandemia: Desejamos um Mundo melhor para 2030 – Como podemos pensar em um mundo melhor para 2030? Que tipo de projeto você faria para ser incorporado às políticas públicas para alcançar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030? Essas perguntas foram feitas a 48 alunos participantes da disciplina Gestão e Políticas Públicas da Universidade Federal do Amapá (Unifap) em janeiro de 2021. Durante um semestre atípico, repleto de dúvidas e dor, os alunos foram orientados a escreverem mensagens para diversos setores da sociedade. Essas mensagens estão nos artigos apresentados nesta coletânea de ideias.

A pandemia trouxe muita tristeza e revelou que a maneira como a humanidade vive é insustentável. O consumismo, a destruição de ecossistemas, a criação de tecnologias de destruição em massa, a falta de empatia e solidariedade têm colocado em risco o planeta. Este livro contém mensagens que surgiram de conversas e debates em uma sala de aula virtual. Os artigos foram escritos como cartas a serem colocadas dentro de uma garrafa lançada no oceano em busca de resgate. Trata-se de uma iniciativa coletiva e local para contribuir para o esforço global da Agenda 2030.

Fotos: Capas dos livros/Divulgação

SERVIÇO

Lançamento dos livros “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em Tempo de Pandemia: Desejamos um Mundo melhor para 2030” e “Habitação Popular na Amazônia: O caso das ressacas na cidade de Macapá”.

Dia 16 de fevereiro de 2022, às 19h. A live de lançamento será transmitida pelo canal oficial da Unifap no YouTube.

CLIQUE AQUI E BAIXE SEU EXEMPLAR DO LIVRO.

Ascom Unifap

Poema de agora: Epílogo de uma história de amor – Pat Andrade

Epílogo de uma história de amor

quando o amor acabou
o andor se quebrou
o mingau desandou
o arroz queimou

pela primeira vez
foi João quem chorou
pediu e implorou
rezou com fervor
pra Jesus e Nossa Senhora

de nada adiantou

mesmo assim
Maria foi-se embora
não aguentava mais
pôs na mala os vestidos
a escova de dentes
e seu sorriso mais triste

partiu sem demora
sem olhar pra trás

no canal que enchia
jogou a chave fora

nem ela sabia
que era capaz

Pat Andrade

Poema de agora: Pátria Muda – Marcelo Abreu

PÁTRIA MUDA

Nada muda
Nessa moda antiga
Nessa pátria muda
De sorrisos tristes
De abraços frios
De discursos mórbidos

Nada passa
Essa gente apática
De palavras bélicas
De hipocrisia farta
De bravura pífia

Nada finda
Na República elitista
No separatismo imposto
Nesse fundo fosco
De almas sem vidas

Nada alcança
Esse país sem fé
Sem esperança
Sem o doce afago
Sem a grandeza
da inocência
de uma criança

Nada muda
Nada passa
Nada finda
Nada alcança

Marcelo Abreu

Poesia de agora: Não nos afastemos – @julio_miragaia

Não nos afastemos

Não nos afastemos, cantou um pássaro
Ou um poeta em uma noite asmática
De chuva em Macapá

Não mergulhemos na omissão
E nas bolhas intumescidas e líquidas
Desse tempo de multidão e de robôs

São homens que nada sentem
Além das próprias metamorfoses,
Frágeis
E alimentadas de árvores de medo

Não nos afastemos
Apesar da raiva invertebrada
Porque
O peito é um abismo que
Desaba

Enquanto a esperança
Espera nossa canhota coragem
Para caminhar

Não nos afastemos,
Todos cabemos
No labirinto do futuro,

No futuro
Que ainda nem se prometeu…

Júlio Miragaia

*Para os amigos que vivem e lutam por sonhos indestrutíveis.

Poesia de agora: Capitu – Lara Utzig (@cantigadeninar)

Capitu

Manhã de uma segunda qualquer,
Com a mochila nas costas,
Ela parou, menina-mulher
Para abraçar uma árvore
Que chora…

Tarde de uma terça divina,
Olhos de cigana oblíqua…
Pedalou, mulher-menina,
Na bicicleta, a estrada passou
Longínqua…

Capitu…
Cadê tu?
Capitu,
Cadê tu?

Noite de sexta que prometia,
Boca que embriaga…
Dançou, inocentemente vadia,
Preguiçosa, esparramou-se
Pela sala…

Madrugada, domingo dormente,
Com sua saia comprida…
Rodopiou, vadiamente inocente
E ao seu lado, senti-me
Preenchida…

Toda semana…
Café na cama.
Toda semana…

A gente se ama…

Lara Utzig

Poesia de agora: Romaria – Lara Utzig (@cantigadeninar)

Romaria

O lado de lá
Que é o lado bom de se estar.
Pergunte ao seu orixá!
Aqui é só blablablá,
Apenas terreno lugar.
Um dia hei de voltar
Ao pó de onde vim
Que não é começo nem fim,
Somente parte de mim.
E como fênix ressurgir
Pronta para novamente partir
Até minha real origem,
Nem devassa nem virgem,
Mas viajante estelar.
Eis que já estou outra vez cá.
Oxalá!

Lara Utzig

Poema de agora: Parece não chorar, mas chove – Luiz Jorge Ferreira

Parece não chorar, mas chove

Baby deixa eu vasculhar teu passado
Prometo que não vou rasgar os retratos
Nem cuspir nos beijos que levastes
Não vou retirar do teu corpo tantos abraços que criaram trilhas intranquilas…

Baby deixa esconder os teus Domingos
Desenhar teus sonhos no grafite
Te dizer o que fizemos em 66
Te fazer ouvir Caetano
Raul e Simon e Garfunkel
Deixa eu criar enredos e te ler títulos de filmes que parecem pequenas historias de amor
Deixa eu voltar o Calendário
E te colocar não em Junho, mas em Setembro
Para te embriagares com a Primavera
Sobe na garupa desta bicicleta, anda nesta rua deserta
Que o tempo nos olha da janela, com uma incrível inveja de vir e nos ajudar a nos conhecermos
Não diga não, pois chove uma chuva vinda dos espelhos
Que eu espalhei no encontro das esquinas.

Baby… sorria… há um gosto de sal no ar… e não nos embriaga…
Temos um mar guardado em nossos olhos
E um vazio a bombordo, grávido de notas musicais.
E uma canção incrível que fala de ontens.
Incrivelmente aquela que a própria vida… com as nossas vidas… nunca dançou.

Luiz Jorge Ferreira

Versos, Retratos e canções: neste sábado (22), rola noite de autógrafos do livro “O avesso do verso, poemas de mim”, da escritora Pat Andrade, no Farofa Tropical Gastrobar

Neste sábado (22), a partir das 20h, no Farofa Tropical Gastrobar, rola noite de autógrafos do livro “O avesso do verso, poemas de mim”, da escritora Pat Andrade. O evento, denominado “Versos, Retratos e canções”, contará também com música ao vivo com os cantores Marcelo Abreu e Cássio Pontes (também violonista). A dupla ensaiou um repertório escolhido a dedo para a noite, que terá, ainda, exposição fotográfica de Aog Rocha. A noite poética respeitará todos os protocolos de prevenção à Covid-19.

Sobre o livro

O livro, lançado em 22 de dezembro de 2021, reúne poesia diversa, que fala de amor, arte, sociedade e cotidiano. A obra traz poesias cuidadosamente selecionadas para contemplar o subtítulo “poemas de mim”. Calmarias e tempestades permeiam suas páginas. Amores e desencantos se apresentam de maneira intimista. Alegrias, tristezas e resiliência se desenham entre os versos. É fácil identificar-se com a poesia nele contida.

A poeta arriscou-se um pouco mais e ilustrou alguns de seus poemas, colocando no traço a mesma delicadeza de sua pena. O escritor, cartunista e publicitário Ronaldo Rodrigues fez o prefácio. A OCA Produções é a agência responsável pelo projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc, trabalhada pela Secult/AP. O avesso do verso vem pra festejar e brindar a vida da escritora na poesia.

Eu e Pat Andrade, a poeta que mais colabora com este site e querida amiga.

Sobre a autora

Pat Andrade é uma escritora / artista plástica / produtora cultural da Amazônia, que vive em Macapá, no Meio do Mundo.

Há pelo menos 14 anos, divulga seus poemas em livrinhos que ela mesma produz. São mais de 30 publicações – das quais seis são virtuais, produzidas em tempos de maior reclusão na pandemia. Também tem poemas publicados em várias coletâneas e em revistas digitais.

Colaboradora assídua do Site De Rocha! e membro do coletivo Urucum, Pat se considera uma militante da Literatura: quando possível, visita escolas, universidades e participa de eventos literários e culturais, os mais diversos. A poesia é sua arma / escudo / refúgio / conforto / sustento.

Serviço:

Evento: Versos, Retratos e canções – Noite de autógrafos do Livro “O avesso do verso, poemas de mim”, da escritora Pat Andrade.
Dia: 22 de janeiro de 2022.
Local: Farofa Tropical Gastrobar, localizado na Rua São José 1024, centro.
Hora: 20h
Entrada franca
TODOS OS PROTOCOLOS DE SEGURANÇA DEVEM SER SEGUIDOS: USO DE MÁSCARA, DISTANCIAMENTO SOCIAL E HIGIENIZAÇÃO COM ÁLCOOL

Elton Tavares, com informações de Pat Andrade. 

Poema de agora: Escalada – Naldo Maranhão

ESCALADA

Sabe aquela escada?
Desde aquele dia
Começou uma derrocada
Degrau por degrau
se degradando
Dentro de mim
uma comichão
Aflição, espanto e desespero
Desci demais
até só ter a escuridão.
Mas, subitamente,
Ascendeu um candeeiro
E uma outra escada eu vi
No nevoeiro e decidi subir
E a luz se fez forte
E mais presente
E lembrei de Judas
De Cristo, da cruz e Novamente, degrau
Por degrau eu escalei
E sai do calabouço
Aonde aquele beijo soturno
Me levou…
E emergi.

Naldo Maranhão

Hélio meu amigo Pennafort – Por Fernando Canto – @fernando__canto – (republicado por conta de hoje, 21 de janeiro, seria o aniversário de 84 anos de vida do escritor e jornalista Hélio Pennafort) .

Hélio Penafort – Foto encontrada no blog Porta Retrato

Por Fernando Canto

Ao dar o nome de Hélio Pennafort a sua biblioteca a instituição SESC realizou um ato de carinho às nossas letras e uma justa homenagem ao escritor e jornalista que muito contribuiu para que o Amapá tivesse as suas mais legítimas manifestações culturais conhecidas. Foi através do Hélio que a maioria dos que fazem a formação da opinião local hoje, se basearam para sistematizar a questão da identidade do homem amapaense. Fora ou dentro das academias seu trabalho ganhou a dimensão esperada e a valorização merecida, posto que só ele conseguia expressar com elegância nos seus textos as formas rudes (para nós) do falar cotidiano da vida do interior. Muitas vezes publiquei sobre a obra do Hélio por considera-lo um narrador excepcional das coisas da nossa gente. “Triste como um tamaquaré no choco”, “foi cocô de visagem” eram expressões do homem interiorano que ele usava no dia-a-dia. Para qualquer objeto ou situação complicada chamava “catrapiçal”. Vivia contando anedotas de caboclo se divertindo a valer com elas. Era extremamente sincero com seus amigos e não guardava o que tinha de dizer. Apesar de ter exercido inúmeros cargos importantes no Governo, tinha lá suas fraquezas e de vez em quando fugia do expediente para ir ao Abreu ingerir uma gelada, mas era também grave e sério nas suas responsabilidades.

Arquivo pessoal de F.C.

Ainda adolescente andei em sua companhia, juntamente com o Odilardo Lima, repórter e poeta que virou delegado de polícia, e o Manoel João, um telegrafista e caçador de primeira linha, bom contador de histórias. Minha função no grupo era tocador de violão e guardião da memória deles, afinal iriam precisar de detalhes que fatalmente esqueceriam, quando da redação das reportagens que faziam para a rádio Educadora e o jornal A Voz Católica. Hélio proporcionava muitas histórias engraçadas, como certa vez em Mazagão, no início dos anos 70. Fomos de barco até a sede do município, e de carro até Mazagão Velho registrar a festa da Piedade. Ele ia dirigindo (Pasmem!) um jeep, e nós vínhamos tensos, no maior medo, porque até então ninguém jamais o vira dirigir, a não ser uma bicicleta. Com alguns atropelos e barbeiragens chegamos ao destino. Anoitecia e ele foi à casa do seu Osmundo, que liderava o conjunto “Mucajá”. Era um grupo rústico, de pau e corda e clarinete que tocava samba, baião, polca e outros ritmos. Lá pelas tantas, devido sua generosidade etílica, acabou o suprimento de uísque e cachaça. Em toda a vila também não tinha nada de álcool. Ele chamou uma rapaziada e disse: – Vão ver se encontram cachaça que eu dou uma grana pra vocês. Eles voltaram com uma “meiota” de “canta-galo”. O Hélio deu uma golada e cuspiu: “Querendo me enganar… É, seus porras? Cachaça com água eu não bebo, inda mais se é de mulher que acabou de parir”. Fiquei sabendo depois que as mulheres do lugar usavam aguardente na assepsia do pós-parto e que os moleques haviam roubado a garrafa de uma senhora que parira uns dias antes. Esse episódio só fez solidificar a minha admiração pela figura simples e humana do jornalista.

Dia da posse da de Fernando Canto na Academia Amapaense de Letras, 1988. Com os jornalistas Jorge Basile e Hélio Pennafort. Arquivo pessoal de F.C.

Fecundo no seu trabalho, Hélio sempre procurou dar a ele novas formas em linguagens diferentes. Em 1984/85 associou-se ao talento do piloto e vídeo-maker Roberval Lavor e produziu inúmeros vídeos sobre aspectos turísticos do então Território do Amapá. Embora não se adaptasse ao computador, o apregoava como instrumento do futuro, pois era atualizado nas informações tecnológicas.

*Hoje, 21 de janeiro, o escritor e jornalista Hélio Pennafort faria 84 anos (nascido no Oiapoque (AP), em 1938).