Sociólogo e professor Patrick Bitencourt gira a roda da vida pela 44ª vez. Feliz aniversário, brother!!

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Quem gira a roda da vida neste vigésimo dia de agosto é o professor Patrick Bitencourt. Trata-se de um irmão de vida e por isso lhe rendo homenagem.

Patrick Bitencourt não é um cara qualquer, mas sim um dos grandes amigos que fiz nessa jornada, uma daquelas amizades imprescindíveis dessa vida (e provavelmente das das anteriores e das próximas existências).

Patrick é pai da linda Manu, mestre-jedi/sith do João e filho do Nazareno (nosso amigo “Bode”) e da dona Conceição, irmão do Frank, Boca e Najara, namorado da Karinny. Eu e Emerson, meu irmão de sangue, também somos irmãos dele. Sim, a gente ama esse cara.

Sociólogo, bacharel em Direito e educador do Estado, o cara equilibra bem responsa e curtição – pois é assim que deve ser. A gente não pode negligenciar o trampo nunca, já que é o que paga a nossa vida louca (risos). Todos nós temos isso bem claro e assim o fazemos – que é o certo.

Patrick é inteligente, divertido, bem-humorado, espirituoso, coerente, sensato, irreverente, viajado, dono de vasta cultura geral, impetuoso, criativo (vocês precisam ouvir quando a gente se junta pra falar merda, rs), competente profissional da educação, pai exemplar e amigo prestativo.

Sócio fundador da Cúpula do Trovão, flamenguista convicto, maçom, praticante de artes marciais, assíduo frequentador de missas dominicais, boêmio, bicolor, pirata da batucada, ex- patrulheiro das ruas, roqueiro das antigas, fã de cinema, apreciador de quadrinhos e desenhos animados, velho aliado da batalha anual chamada de “A Banda” (evento ao qual sempre sobrevivemos, mas não sei até quando).

E também, antigo aliado de vitoriosas batalhas contra uma vida ordinária e contra pregos em geral. Patrick é um dos melhores caras que tenho a honra de chamar de AMIGO, literalmente ao pé da letra e em caixa alta, pois o cara é Phoda!

Com o Patrick, e um seleto grupo de brothers, acumulo uma memória afetiva diversa e rica em cagadas porretas que nos moldaram. Quando a gente se junta é só alegria. Como diz o escritor Fernando Canto: “de um tempo que fomos para sermos o que somos”. Juntos, temos muitas aventuras e desventuras pra contar – mas a maioria é impublicável, fazem parte das “Guerras Secretas”. Já disse e repito: nosso arquivo renderia um roteiro porreta para um filme dos anos 90, violento e muito doido, mas com uma trilha sonora paid’égua demais.

Às vezes, ao lembrar das presepadas dele (nossas juntos também), lembro do escritor, jornalista e compositor Nelson Motta, que uma vez disse sobre Tim Maia: “um personagem real e único, que nenhuma ficção poderia criar”. Assim é o Urso. Sorte nossa termos uma cara desses como amigo. Patrick, manão, que sigas com saúde, mais sucesso e que tua vida seja longa. A gente te ama, “tu saaaabes”. Feliz aniversário!

Elton Tavares

Hoje é o dia do Estagiário (minha homenagem a eles)

Hoje, 18, é o Dia do Estagiário. A celebração é em homenagem ao jovem trabalhador que ingressa no mercado de trabalho e coloca em prática tudo o que aprende em sala de aula. Foi por meio de um decreto em 1982, que a data foi instituída.

Por experiência própria, sei que não é fácil cumprir dupla jornada (às vezes, tripla). Fui estagiário na TV Amapá e no Portal Amazônia e comprovei que estudar e trabalhar é dureza mesmo. Cumprir com as atividades acadêmicas e o trampo do estágio requer responsabilidade, compromisso e muita força de vontade.

Eu, nos tempos de estagiário.

Também trabalhei com muitos estagiários no TRE/AP, MP-AP e agora no Tribunal de Justiça do Amapá. Sempre tento ter uma relação de amizade sem frescura com eles – com as cobranças normais que o trabalho exige, mas com momentos de descontração. Só não consegui umas duas vezes, mas nem vale a pena contar.

Bacana que consegui me tornar amigo da maioria deles. Em nome da estagiária e colegas de trampo, jornalista Rafaelli Marques, rendo homenagens a todos os estagiários do Amapá e Brasil.

Eu e Rafaelli Marques, minha amiga estagiária do TJAP

Ser estagiário de jornalismo é…( já passei por isso, com algumas exceções, claro):

Pegar umas pautas bem ordinárias e achar isso o máximo.

Assinar uma matéria de dez linhas e achar isso o máximo do máximo.

Ouvir, sempre que pintar uma roubada na redação, alguém dizer: “Pede pro estagiário”.

Concluir que o início é difícil; mas ter também a certeza de que, com o tempo, a coisa piora.

Ter pique total, topar qualquer parada.

Viver à procura de um estágio melhor. Para abandonar a merda do estágio atual.

Sonhar (dormindo e acordado) com uma efetivação.

Fazer tudo o que um repórter experiente faz, mas ganhar como estagiário.

Ser culpado pelas cagadas que saem no jornal. Até que se prove o contrário.

Sofrer bullying, tipo ser comparado às crianças do lixão da novela pelo Duda Rangel.

Colocar a mão no queixo e se perguntar: “Porra, jornalismo então é isso?”

Fazer uma reportagem duca e exclamar: “Porra, jornalismo é isso!”

Descobrir que a prática é muito melhor do que as aulinhas chatas da faculdade.

Desejar que a bolsa-auxílio seja uma bolsa Prada ou uma Louis Vuitton. Legítimas.

Elton Tavares
Fonte: Desilusões Perdidas.

Quem morre vai pra Caiena – Crônica porreta de Fernando Canto

 

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Crônica de Fernando Canto

Dizem que depois que alguém “leva o farelo”, “bate as botas” ou “foi para a cidade dos pés-juntos” só tem um destino: Caiena.

Apesar de ter indagado várias pessoas sobre essa afirmação (que muita gente leva a sério), ninguém, ninguém mesmo soube me dizer o porquê. Nem o Paulinho Piloto que já foi lá tantas vezes ousou sequer inventar uma resposta.

Há, entretanto, uma versão um pouco aceitável, que é a de quem vai para lá nunca volta. É antiga: nossos emigrantes se mandavam para trabalhar na construção civil da base espacial de Kourou, se davam bem por lá e nunca mais retornavam. Uns ficavam e faziam suas carreiras como trabalhadores esforçados, e com o compromisso de apenas mandarem umas valiosas notas de franco para a família (na época não existia a união europeia e nem o euro). Outros, por não gostarem muito do pesado, acabavam ficando nas mãos dos gendarmes e consequentemente amargando uma pena nas prisões má afamadas do lugar, tipo Ilha do Diabo (que diga o seu Plancantã, pai do Waldir do Calçadão).

A maioria dos brasileiros que vai para lá vai se arriscando. São inúmeros os relatos dos que se aventuraram como clandestinos e acabaram ficando pelo meio do caminho. Perto de casa, quando criança, ouvia notícias de vizinhos que morreram afogados nas travessias do rio Oiapoque, em naufrágios de pequenas e frágeis embarcações. Todos eles eram muito pobres e tinham essa ideia fixa de ter um bom emprego e voltar com uma pequena fortuna para se restabelecer em Macapá. Lembro que uma dessas pessoas foi a Maria Lúcia, irmã da saudosa Maria Piçarra. A notícia de sua morte deixou consternados os moradores do Morro do Sapo, no Laguinho, mesmo assim, isso não inibiu o desejo de outros se aventurarem na mesma rota.

O engraçado é que Caiena é uma cidade aparentemente bonita, não tem problemas graves de trânsito e seu centro histórico é agradável aos olhos dos turistas, como a Place des Palmistes, o mercado de frutas, a área comercial, o porto e os prédios administrativos. Nada ali indica que é um inferno, ainda que como qualquer cidade cosmopolita tenha lá seus problemas sociais.

Mas se Caiena é a estação final de quem morre em Macapá, por que os caienenses não acham que quem morre lá vem para cá? Talvez o inferno daqui seja mais certo. Ninguém quer padecer depois da vida no Brasil, muito menos aqui em Macapá. Então parece ser mais cômodo “dar um jeitinho” brasileiro para ser condômino do paraíso de Caiena (com possibilidade de ser eleito síndico, comprando voto ou não) do que ficar com a alma vagando aqui, mesmo que o corpo esteja enterrado lá no “Barcelão”.

A expressão ”foi pra Caiena” ou “viajou pra Caiena”, é uma metonímia e um eufemismo, que serve para suavizar a rudeza da morte indesejável dos amigos e conhecidos. Mas como não tem jeito para ela nós vamos inventando maneiras de driblá-la, e esta certamente é uma delas, afinal a morte representa o fim absoluto de qualquer coisa que existe de positivo, e simboliza tudo o que é perecível e destrutível da existência.

Mas se “ir pra Caiena” é morrer, é bom também lembrar que a morte significa libertar-se das preocupações e penas e que ela abre o acesso ao reino do espírito. Dizem que a morte suscita a necessidade de ir mais longe, pois ela é a condição para o progresso e para a vida.

Certa vez, lá em Caiena, participando de um desses festivais culturais, o Bomba D’água reconheceu um gari que varria a praça do centro da cidade. Era o Maiambuco, um amapaense que tinha saído de Macapá para a Guiana Francesa há mais de trinta anos e que ninguém mais sabia dele. Bomba D’água, também conhecido por Joaquim, chamou o Pavão, apontou com o dedo e disse: – Olha o Maiambuco lá! O Pavão ficou tremendo e meio amarelo de medo, quase não acreditando, mas exclamou: – É mesmo, Bomba. É por isso que dizem que quem morre vem pra Caiena. Égua, vamo embora daqui.

(*) Publicado no Jornal do Dia. 2007.

A maça e as escolhas – (crônica porreta de Dia dos Pais do Fernando Canto)

Por Fernando Canto

A primeira vez que comi maçã devia ter uns doze anos. Até então só ouvira falar dela pelos relatos bíblicos ou através de revistas que a mim chegavam eventualmente na escola ou na Biblioteca Pública. Lembro como se fosse hoje minha mãe repartindo a fruta que meu pai trouxe da sorveteria onde trabalhava à noite, após dura jornada de trabalho como funcionário público. Não sei como, mas ela a cortava em sete pedaços, pois esse era o número de filhos que os dois tinham, todos ainda crianças. E ainda hoje cada um deles certamente guarda em sua memória o gosto e o cheiro da maçã como a lembrança do amor que nossos pais nutriam por nós enquanto viveram.

Simbolicamente a maçã representa o fruto da Árvore da Vida ou da Árvore do Conhecimento do bem do mal: conhecimento unificador que confere a imortalidade, ou conhecimento desagregador, que provoca a queda. Mas há inúmeras interpretações. Aquela, por exemplo, em que cortada em dois, no sentido perpendicular, se encontra um pentagrama desenhado e por isso representa o saber; e aquela que simboliza a eterna juventude.

Para Paul Diel (1966) ela significa os desejos terrestres. “A proibição de Jeová alertava o homem contra a predominância desses desejos, que o levavam rumo a uma vida materialista, por uma espécie de regressão, opostamente à vida espiritualizada, que é o sentido de uma evolução progressiva”. O autor diz ainda que “A advertência divina dá a conhecer ao homem essas duas direções e o faz optar entre a via dos desejos terrestres e a da espiritualidade. A maçã seria o símbolo desse conhecimento e a colocação de uma necessidade: a de escolher”.

Na verdade todos nós escolhemos. No dia-a-dia decidimos o que queremos e o que não queremos face às maçãs dos desejos e estímulos que a serpente mídia nos oferece desde que acordamos até a hora de dormir. Se não escolhermos alguém decide por nós, num processo repentino de acomodação que concordamos pelo cansaço.

Não caberia só isso na simbologia da maçã: ela está mesmo ligada á ambição, à desobediência, à astúcia do mal e à expulsão do paraíso, sem contar que a história de Adão e Eva serviu para estigmatizar na humanidade o mito da mulher curiosa e traidora.

Ser expulso do Éden significa percorrer caminhos tortuosos, o resultado da escolha de comer a fruta da Árvore da Vida ou do Conhecimento do bem e do mal. Significa também experimentar o outro lado da liberdade, aquela em que o sofrimento e o trabalho de se sustentar é o produto da dignidade humana, da obrigação de suar para merecer a comida e o sono. Quer dizer também que uma escolha dessas possibilita fazer a diferença entre os indivíduos, que vivem em sociedade, mas competem; se matam e sobrevivem. Fazem sua história e propõem novas escolhas, porém sempre lembrando suas origens, aquelas que formam identidades.

A imagem de um anjo munido de uma espada expulsando nossos avôs primordiais trajando folhas de parreira do Jardim do Éden, não só é o símbolo do abandono como a lembrança de que nós muitas vezes nos expulsamos interiormente quando achamos que erramos em nossas escolhas. É possível que essas escolhas, pelas quais optamos na vida, se deem em razão de múltiplas oportunidades que nos chegam e nos “oprimem”. Optar às vezes pelos “desejos terrestres” ao invés da espiritualidade me parece ser necessário, embora tenhamos que buscar na essência das coisas, algo de deidade, algo que transcenda e nos faça pensar e acreditar que somos mais que isso.

Fico a pensar que quando meu pai levou a fruta do pecado para conhecermos não foi só um ato de amor corroborado por minha mãe. Foi, talvez, uma metáfora da escolha que teríamos de fazer pela vida. Não apenas entre matéria e espírito, mas entre ser ou não ser, o que chamamos hoje de bons ou maus cidadãos. Obrigado, pai.

Hoje é o Dia dos Pais – Minha homenagem aos que amam e zelam por seus filhos

Hoje (9) é o Dia dos Pais. A data tem origem na antiga Babilônia, há mais de 4 mil anos, por conta do jovem chamado Elmesu, que moldou em argila o primeiro cartão. Nele, o rapaz desejava sorte, saúde e longa vida a seu pai. Para alguns, é somente mais uma data inventada pelo comércio para promover suas vendas. Quem idealizou a data para o segundo domingo de agosto foi o jornalista Roberto Marinho, em 1953, justamente para aquecer as vendas do comércio e, consequentemente, o faturamento de seu jornal, O Globo.

O Dia dos Pais é muito mais que isso, é dia de reverenciar nossos heróis. A paternidade é uma dádiva, nem me imagino como pai, mas admiro quem cria, cuida, protege e educa sua prole. Sempre digo aos meus amigos: “cuidem e amem seus pais enquanto eles estão por aqui”. Ah, diga “eu te amo, pai!”. Acredite, esse é o melhor presente.

O dia de hoje mexe comigo, me traz muitas saudades do meu pai, José Penha Tavares, do patriarca de nossa família, meu avô João Espíndola Tavares e do meu tio, Itacimar Costa Simões (que também foi um pai para mim). Os três já partiram para outro plano, mas que fique registrado, eles foram homens valorosos, com quem aprendi coisas fundamentais para a vida como dignidade, honra e respeito às pessoas.

Dedico este texto a todos os meus amigos e parentes que foram abençoados com a paternidade, aos filhos que ainda tem o privilégio de terem seus pais por perto e aos pais que fazem tudo pelos seus filhos, cada um a sua maneira. Em especial ao meu irmão Emerson. Além de alguns parentes e meus muitos amigos que são grandes pais. Alguns são mais dedicados e amorosos, outros mais práticos e de poucos chamegos, mas o importante é o papel que vocês cumprem. Feliz Dia dos Pais!

Dedique-se a conhecer seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez” – Frase do poema Filtro Solar.

Elton Tavares

Hoje é o Dia Estadual da Poesia (minha homenagem aos poetas do Amapá!)

Hoje é o Dia Estadual da Poesia. Admiro os poetas, sejam cultos, que usam refinados recursos de linguagem ou ignorantes, que versam sem precisar de muita escolaridade. Eles movimentam o pensamento e tocam corações. Não é à toa que as pessoas têm sido tocadas pela poesia há séculos. E nem interessa se o escrito fala de sensatez ou loucura. Tanto faz. O que importa é a criatividade, a arte de imprimir emoções em textos ou declamações.

De acordo com a jornalista e poeta Alcinéa Cavalcante, o dia 8 de agosto é o Dia Estadual da Poesia, instituído pela Lei nº 580, de 21/06/2000. A escolha do oitavo dia do mês oito se deu em homenagem ao poeta, médico, professor e ex-prefeito de Macapá Alexandre Vaz Tavares, nascido na capital amapaense nessa data, em 1858. Consta que ele foi o primeiro poeta a escrever poemas sobre Macapá. Sua poesia “Macapá” (praticamente desconhecida das novas gerações) foi publicada pela primeira vez em agosto de 1889, na Revista de Educação e Ensino do Pará. Vaz Tavares morreu em abril de 1926, aos 67 anos.

A palavra “poesia” tem origem grega e significa “criação”. É definida como a arte de escrever em versos, com o poder de modificar a realidade, segundo a percepção do artista.

O poeta autor/trovador escreve textos do gênero que compõe uma das sete artes tradicionais, a Poesia. A inspiração, sensibilidade e criatividade deste tipo de artista retrata qualquer situação e a interpretação depende da imaginação dele próprio, assim como do leitor.

O Amapá precisa preservar, reconhecer e homenagear seus grandes nomes em todas as áreas de atuação. Como sou fã de escritores, compositores, músicos, poetas e artistas em geral, faço isso por aqui. Pois a gente precisa aplaudir e elogiar sempre. Não tenho o nobre dom de poetizar, sou plateia. Mas apesar de não existir poesia em mim, uso a tal “licença poética”, para discorrer sobre meus devaneios e pontos de vista.

Com os poetas Pat Andrade, Fernando Canto, Ronaldo Rodrigues, Alcinéa Cavalcante, Flávio Cavalcante, Thiago Soeiro e Pedro Stkls. Amigos!!

Hoje minhas homenagens são para os poetas amapaenses (ou que versam sobre nossa terra) que são meus amigos (somente os amigos mesmo).

Parabenizo, ainda, grandes poetas amapaenses que não conheço pessoalmente, mas possuem grandes obras e contribuições expressivas para a literatura do nosso lugar no mundo. Deste grupo, em especial, o admirável Manoel Bispo, de quem sou fã, mas nunca troquei uma palavra.

Também saúdo todos os movimentos que fazem Poesia no Amapá, que realizam encontros em praças, bares, residências, etc. Enfim, saraus para todos os gostos. Portanto, meus parabéns aos poetas, artistas inventivos que fascinam o público que aprecia a nobre arte poética.

Parabéns aos poetas do Amapá. Principalmente aos meus poetas preferidos!

Elton Tavares

Um gol inesquecível (crônica de Ronaldo Rodrigues)

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Começo parafraseando Paulinho da Viola: tinha eu 12 anos de idade (e não 14, como no samba) quando meu pai me chamou para assistir, pela TV, a um jogo sem interesse para a torcida brasileira, que só admite disputa pelo primeiro lugar. A data: 24 de junho de 1978. O local: Estádio Monumental de Nuñez, Buenos Aires. O evento: decisão do terceiro lugar da Copa do Mundo, entre Brasil e Itália.

A conquista da Argentina foi embalada por muitas polêmicas. Sua classificação para a final veio através de uma suspeitíssima goleada de 6 a 0 sobre o Peru.

A seleção argentina, bastante forte, contava com craques como Fillol, Passarella, Ardilles e o artilheiro Kempes. A força da equipe ganhou um reforço de fora das quatro linhas: a pressão do governo argentino. O título mundial cairia como uma luva para a glorificação do regime do general Videla. E foi o que ocorreu.

Mas voltando ao jogo: a Itália abre o marcador com Causio, no primeiro tempo. O próximo gol da partida é uma obra-prima que ficará marcada para sempre na minha memória de torcedor.

Aos 19 minutos do segundo tempo, o lateral direito Nelinho pega uma bola pela direita, próxima ao bico da grande área, e chuta com sua potência característica. A bola descreve uma curva muito acentuada, sai do alcance do goleiro Zoff e estufa o canto direito da rede. Depois, com o gol de Dirceu aos 25 minutos, o Brasil conquistava o terceiro lugar daquela Copa do Mundo.

A minha revolta de garoto recusou o título de “campeão moral”, expressão cunhada pelo técnico Cláudio Coutinho e aceita por muita gente, mas o gol de Nelinho fez meu jovem coração vibrar como o de um campeão.

Quer ver o gol? Assistam o vídeo abaixo:

Pequenas habilidades/Grandes artes de bar – Por Fernando Canto – @fernando__canto

Por Fernando Canto

1. A arte de ouvir poetas declamarem suas oitenta e quatro mais recentes criações no seu ouvido.
2. A arte de continuar pedindo fiado sem pagar o débito anterior.
3. A arte de roer unhas sob a censura dos paladinos da higiene.
4. A arte de beber com bêbados que só conversam sobre um único assunto.
5. A arte de criar confusão depois que o garçom traz a conta.
6. A arte de mijar e depois cumprimentar com as mãos o canalha que já te sacaneou e hoje se diz teu amigo.
7. A arte de criar apelidos para os novos frequentadores do recinto.


8. A arte de jogar palitos fazendo blefe.
9. A arte de torcer calado na área delimitada ao teu time rival, em frente ao telão, durante o campeonato nacional.
10. A arte de chupar uma bala de menta como tira-gosto para uma garrafa de cachaça.
11. A arte de beber usando máscara contra a pandemia sem pegar o vírus.
12. A arte de contar mentiras cabeludas sem ser descoberto pelos clientes otários.
13. A arte de se livrar dos perdigotos dos porres de alta estatura.
14. A arte de se divertir praticando novas artes, sabendo que elas não são para qualquer um.
15. A arte de iniciar uma confusão com cizânia e sair de fininho.
16. A arte de vomitar e dormir no balcão para evitar pagar a conta e ir preso pela polícia.

Geógrafo e professor Marcelo Morgado gira a roda da vida. Feliz aniversário, mano velho!

A única foto velha que tenho com o Morgado. Eu tô com cara de mordido e parece que ele tá tirando um catota, mas tá valendo (quem me deu esse registro foi o Bruno Jerônimo).

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Quem gira a roda da vida neste terceiro dia de agosto é o amigo Marcelo Morgado. Um cara porreta e por isso lhe rendo homenagem.

Marcelo é um maluco das antigas por quem tenho apreço e respeito. Não lembro o ano, mas conheci o Morgado nos anos 90. Estudamos juntos. Aliás, eu, ele e o saudoso Jork. Ao longo daquela década, nos encontrávamos na “trasheira” do Rock and Roll e ficamos mais próximos.

Marcelo sempre foi um cara tranquilo, gente fina, inteligente. Depois a gente se encontrava pra dar uns rolês pelo lado negro da força, com as piores (e melhores) companhias da época. Ainda bem que aquela galera se separou (risos).

Morgado, entre os malucos das antigas, na casa do Bruno Jerônimo – 1 de janeiro de 2023 (umas 7h da manhã)

Morgado formou, virou mestre jedi em Geografia, começou a dar aula. Professor foda, foi pra Belém (PA) e de lá para o Rio de Janeiro (RJ). Hoje em dia, o brother faz Doutorado em Salvador (BA).

Morgado é um figura trabalhador, honesto, gente boa e, sobretudo, um homem de bem. Semana passada, tive a satisfação de encontrar este velho companheiro. Tinha que ser no Rock and Roll, claro.

Juntos, aprontamos muito na Macapá dos anos 90. Sim, vivemos no underground, no submundo da juventude da capital amapaense daquela década. Graças a Deus, sobrevivemos e conseguimos “virar gente”. O que não quer dizer que nós sejamos coroas sérios (risos). Ah, a gente também curtiu muito na casa da Val, a “lindinha”, outra queridona, com companheiros da época.

Com o velho Morgan, gente boa demais esse cara

Encontrei o cara na virada de ano (de 2022 para 2023), em Macapá. Foi bom revê-lo. Sempre gostei muito desse figura. Apesar de nossa maluquês, misturada com a lucidez, como dizia Raul, Morgadinho segue driblando os otários e colando sempre com os safos, pois o amigo manja dos atalhos invisíveis para os pregos.

Marcelo, mano velho, que teu novo ciclo seja ainda mais paid’égua. Que sigas com essa garra, sabedoria, coragem e talento em tudo que te propões a fazer. Que a Força sempre esteja contigo. Saúde e sucesso sempre, Morgado. Parabéns pelo teu dia. Feliz aniversário!

Elton Tavares
*Texto republicado, mas de coração, Morgan!

Adoradores do Sol (*) – Crônica de Fernando Canto

Foto: Márcia do Carmo

Crônica de Fernando Canto

Os olhos espantados dos turistas aguardavam a penetração do sol no orifício do monumento Marco Zero. Os presentes se encantaram com o som dos tambores do Marabaixo que irrompeu subitamente no recinto. Adiante crianças, jovens e velhas negras balançavam as saias esvoaçantes. Acontecia mais um Equinócio da Primavera no Meio do Mundo. A energia do astro-rei fluía para o centro da terra e os novos adoradores do sol recebiam de mãos abertas os raios solares com gestos ritualísticos, esfregando-os pelo corpo, como se o lavassem com uma água invisível e perfumada. E dançavam e fotografavam apreendendo aquele momento. Seus óculos escuros refletiam a imagem do Marco Zero e das mulheres de roupas coloridas ao redor. Pessoas gritavam como se festejassem um fragmento religioso de sua tribo há muito perdido no tempo, mas que agora era encarnado em sua plenitude.

Turistas e nativos estavam embevecidos de luz. A claridade reinava irradiando mistérios sobre a cidade em mais uma data em que o arco do dia era igual ao da noite: um dia equinocial. Iridescente e translúcido no meio do planeta, aqui em Macapá, na Amazônia brasileira.

O sol que ilumina a todos, que traz a luz e rompe trevas está presente no imaginário de muitas religiões, porque todas as cosmogonias se relacionavam geralmente com as divindades da natureza. No antigo Egito, o Sol, o mais importante dos deuses, tinha diversos nomes. As interpretações dadas às suas funções eram extremamente variadas: chamava-se Rá, o deus supremo, quando estava no zênite. Como disco solar chamava-se Aten; como sol nascente tinha o nome de Kepri, um grande escaravelho que faz rolar à sua frente a bola de sol, assim como na terra o escaravelho faz rolar a bola de excremento em que pôs os ovos e da qual sairá nova vida. Também tinha o nome de Hórus. No Japão, Amaterasu é a deusa homônima.

 

Já na África tropical a mitologia sobre o sol é escassa porque ele está sempre presente, não havendo necessidade de chamá-lo de volta no inverno, como os homens o faziam nos climas frios do norte da Europa ou do Japão. Na Babilônia, na época de Hamurábi (cerca de 1.700 a.C.), um dos deuses mais ativos era Shamash, o sol, também conhecido por Babar, “o Brilhante”. O sol era igualmente venerado pelos sumérios, particularmente em Larsa e Siippar, onde o adoravam sob o nome de Uru. Os Incas reclamam para si um relacionamento especial entre a nobreza e o deus Sol. O seu sistema social assentava-se no princípio hierárquico de monarquia divina e o prestígio de sua autoridade estava ligado ao culto desse astro.

Foto: BBC Brasil

Há, ainda, uma relação interessante entre as grandes religiões orientais e os fenômenos solares: o ano-novo judaico inicia no Equinócio da Primavera (em setembro), da mesma forma que o “Nauroz”, o ano-novo do Afeganistão começa no dia 21 de março, para eles também Equinócio da Primavera, quando o dia e a noite tem a mesma duração (no hemisfério Norte). Segundo Asne Seierstand, autora do belíssimo O Livreiro de Cabul, os afegãos fazem grandes festas em todo o país, apesar de o Talibã, regime teocrático islâmico que por lá passou, tê-lo proibido por considerá-lo uma festa pagã, um culto ao sol, e por ter raízes na religião zoroástrica – Adoradores do fogo – originário da Pérsia do século VI a. C. Atividades como a celebração dos druidas do solstício de verão em Stonehenge (Inglaterra) podem ser considerados como uma sobrevivência da ideia do poder mágico, da força que se pode armazenar em “acumuladores materiais”, como os monumentos megalíticos ali existentes. Da mesma forma, as grandes pedras encontradas em círculo, recentemente, em Calçoene, também podem ser considerados antigos locais de observação do sol e de acumulação de energia deixados por alguma tribo indígena. Mas não basta apenas comparar, apesar de o sol estar presente em todas as culturas. Agora o turismo amapaense precisa apostar nesse segmento insólito, que encanta e que irradia a mágica das luzes do equador. Precisa ir além de agregar valor e partir para o desafio de celebrar a vida e sua magia com os futuros visitantes do Amapá.

(*) Do livro “Adoradores do Sol – Textuário do Meio do Mundo, Scortecci, São Paulo, 2010.

Meu pai e a fofoca da vizinhança – Crônica de Elton Tavares – *Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”

Crônica de Elton Tavares

Certa vez, cansado de tanta fofoca que as vizinhas contavam pra minha mãe, meu falecido pai fez uma reunião em minha casa.

O velho Penha (meu genitor) chegou de uma noite divertida com amigos, após ter tomado umas, chamou todos os casais de vizinhos e disse: “Dona fulana, a mulher do Ciclano fala mal da senhora. Mulher do Ciclano, a Beltrana lhe detona todo dia”, e continuou a dedurar a rede de intrigas que rolava por lá.

Após jogar a merda no ventilador, foi dormir e deixou o bate-boca rolando.

Resultado: paz na rua de casa.

Aquele cara era foda!

Também existem os casos de vizinhos invejosos. Lembro quando minha mãe trocou de carro e o vizinho atravessou a rua só para perguntar quanto custou o automóvel. Meu irmão estava ao volante, íamos sair pra dar um “rolé e tals”. Prontamente respondi ao enxerido: “Não lhe interessa!”. Odeio gente invejosa.

Ainda tem aqueles vizinhos “religiosos xiitas”, que vivem querendo levar todo mundo para perto de Jesus (como se eles fossem mais próximos do Filho de Deus). Só que eles não entendem que esse papo é chato.

Sei da importância de conviver bem com vizinhos, mas às vezes é bem difícil, principalmente quando ouvem música ruim no volume máximo ou vivem arrumando confusão.

Portanto, tenham boa relação com a vizinhança, mas não lhes permitam muita abertura, senão vocês terão que emprestar algo, quebrar galho ou outros tipos de “encheção” de saco. É isso!

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Hoje é o Dia Nacional do Escritor (minha homenagem aos confrades literatos) #diadoescritor

Hoje (25) é o Dia Nacional do Escritor. O conceito diz: Escritor é o artista que se expressa através da arte da escrita ou, tradicionalmente falando, da Literatura. É autor de livros publicados, embora existam escritores sem livros publicados (chamados, por alguns, de amadores, mas não para mim). A data foi instituída em 1960 pelo então presidente da União Brasileira de Escritores (UBE), João Peregrino Júnior, e pelo seu vice-presidente, o célebre escritor Jorge Amado.

O Dia do Escritor, no Brasil, surgiu após a realização do I Festival do Escritor Brasileiro, iniciativa da UBE. O grande sucesso do evento foi primordial para que, por intermédio de um decreto governamental, a data fosse instituída com a finalidade de celebrar a importância do profissional da palavra escrita – profissão que, infelizmente, nem sempre tem sua relevância reconhecida.

Todos que escrevem crônicas, poesias, contos ou contam histórias e estórias são produtores de universos e mundos imaginários, bem como guardiões da memória, tradições, resgate da memória e fortalecimento da identidade cultural da sociedade amapaense. Sempre imparáveis e com insPiração.

Alcinéa Cavalcante e Fernando Canto. Dois imortais da Academia Amapaense de Letras, meus ídolos e queridos amigos. Foto: Flávio Cavalcante (também amigo escritor).

Hoje, em nome de Fernando Canto e Alcinéa Cavalcante, parabenizo os escritores que conheço e sou fã e também congratulo grandes literatos amapaenses que não conheço pessoalmente, mas possuem grandes obras e contribuições expressivas para a literatura do nosso lugar no mundo. Deste grupo, em especial, o admirável Manoel Bispo, de quem sou admirador, mas nunca troquei uma palavra.

Minhas homenagens aos que viraram saudade, como Gabriel García Márquez, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna. Também felicito os meus grandes e velhos amigos Victor Hugo, Mário Quintana, Fiódor Dostoiévski, José Saramago, Franz Kafka, Manuel Bandeira, Mário Prata, Machado de Assis, Luís Fernando Veríssimo, Charles Bukowski Friedrich Nietzsche, Carlos Drummond de Andrade, Nelson Rodrigues, entre outros tantos, que me ajudaram a melhorar a percepção das coisas.

Com os escritores Pat Andrade, Fernando Canto, Ronaldo Rodrigues, Alcinéa Cavalcante, Lulih Rojanski, Silvio Neto, Esmeraldina dos Santos, Flávio Cavalcante, Thiago Soeiro e Pedro Stkls. Amigos!!

Os exímios escritores, que com habilidade e criatividade usam as palavras e ajudaram a abrir cabeças e ensinaram pessoas a ler nas entrelinhas, são, como diz a minha amiga jornalista manauara Juçara Menezes, “máquinas pensantes para outros começarem a pensar”. De fato!

Quando perguntavam qual a minha profissão, dizia que “sou jornalista, assessor de comunicação e editor de um site. Mas que, um dia, gostaria de ser escritor”. Pois é, me tornei escritor e estou feliz com isso. Fiz a estreia nas antologias “Cronistas na Linha do Equador” e “61 Cronistas do Amapá”, lançadas em 2020. Sobre essas duas publicações, agradecimentos aos escritores Mauro Guilherme (saudoso amigo que fez a passagem há pouco tempo) e Alcinéa Cavalcante, querida amiga que sempre me apoia.

Também tenho dois livros publicados. São as obras “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias” (de 2020) e “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo” (2021). Eles foram os primeiros de muitos que virão, se Deus permitir. Agradeço sempre aos familiares e amigos que contribuíram e foram fundamentais ambas as publicações da obra.

Em 21 de junho deste ano, a Academia Amapaense de Letras (AAL) completou 70 anos. Durante a programação, várias personalidades foram homenageadas, entre elas, eu e fiquei feliz demais por ter recebido o troféu Destaque Cultural 2023, das mãos do presidente da AAL, meu querido amigo Fernando Canto. Fui agraciado por conta de meu trabalho e divulgação da cultura há mais de 13 anos, neste site.

Voltando à data celebrada hoje, parabenizo ainda os jornalistas que escrevem crônicas e contos. A licença poética (da poesia marginal, claro) e liberdade de expressão me permitem dizer: o que vocês fazem é bom pra caralho!

Ah, aos que nunca conseguiram publicar seus livros, deixo o recado: continuem tentando, sempre!

Enfim, senhores escritores, meus parabéns por rabiscarem ou digitarem seus pontos de vista, histórias e estórias próprias ou de terceiros, causos, contos, devaneios, tudo com muita sagacidade, inteligência e humor. A nós, literatos imparáveis, desejo muita insPiração e um feliz Dia do Escritor.

Elton Tavares – Jornalista e escritor.

Nunca fui… – (Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”)

Ilustração: Ronaldo Rony

Crônica megalomaníaca de Elton Tavares

Nunca fui sonhador de só esperar algo acontecer. Sou de fazer acontecer. Não sou e nunca serei um anjo. Não procuro confusão, mas não corro dela, nunca!

Nunca fui de pedir autorização pra nada, nem pra família, nem para amigos. No máximo para chefes, mas só na vida profissional.

Nunca fui estudioso, mas me dei melhor que muitos “super safos” que conheci no colégio. Nunca fui prego, talvez um pouco besta na adolescência.

Nunca fui safado, cagueta ou traíra, mesmo que alguns se esforcem em me pintar com essas cores.

Nunca fui metido a merda, boçal ou elitista, só não gosto de música ruim, pessoas idiotas (sejam elas pobres ou ricas) e reuniões com falsa brodagem.

Arte: Camila Karina

Nunca fui “pegador”, nem quis. É verdade que tive vários relacionamentos, mas cada um a seu tempo. Nunca fui puxa-saco ou efusivo, somente defendi os trampos por onde passei, com o devido respeito para com colegas e superiores.

Nunca fui exemplo. Também nunca quis ser. Nunca fui sonso, falso ou hipócrita, quem me conhece sabe.

Nunca fui calmo, tranquilo ou sereno. Só que também nunca fui covarde, injusto ou traiçoeiro.

Nunca fui só mais um. Sempre marquei presença e, muitas vezes, fiz a diferença. A verdade é que nunca fui convencional, daqueles que fazem sentido. E quer saber, gosto e me orgulho disso. E quem convive comigo sabe. É isso.

Elton Tavares

Foto: Flávio Cavalcante

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Máscaras de Mazagão Velho – Crônica (resgate histórico) de Fernando em homenagem à Festa de São Tiago

Foto: Marcelo Loureiro – Secom.

Texto de Fernando Canto (Uma velha homenagem à Festa de São Tiago de Mazagão Velho)

Há alguns anos ministrei palestra para uma turma de Sociologia do Ceap sobre “Cultura e Poder”, enfocando aspectos da Festa de São Tiago de Mazagão Velho (cavalhada que relembra a lenda desse santo na guerra entre Mouros e Cristãos na África) a convite do professor Luís Alberto Guedes. Nesse dia levei uma caraça utilizada pelos “Máscaras” e pedi aos alunos que a experimentassem em seus rostos. As reações foram as mais diversas e a discussão bem participativa. Entretanto, se por trás da máscara há um mundo de significados, pela frente pode representar a face divina, a face do sol. Ela exterioriza às vezes tendências demoníacas (Teatro de Bali, máscaras carnavalescas), manifesta o aspecto satânico. Ás vezes não esconde, mas revela tendências inferiores que é preciso por a correr, porque não se utiliza uma máscara impunemente. Ela é um objeto de cerimônias rituais, como por exemplo, as máscaras funerárias, que são arquétipos imutáveis nas quais a morte se reintegra. Na China ela se destina a fixar a alma errante.Ela também preenche a função de agente regulador da circulação das energias espirituais espalhadas pelo mundo e visa controlar e dominar o mundo invisível.

Foto: Fernando Canto

Na Festa de São Tiago ela é usada no “Baile de Máscaras” que ocorre no dia 24 de julho, e é um dos aspectos ritualísticos mais importantes, pois simboliza uma cena de regozijo à vitória que os mouros julgavam ter obtido sobre os cristãos O baile ocorre após terem oferecido comida envenenada aos cristãos, visando dar oportunidade aos que quisessem passar para seu lado. É um baile de homens onde todos estão fantasiados, mas às mulheres e crianças é proibida a participação. Eles dançam no sentido inverso ao do relógio até ao amanhecer. Ao meio-dia um personagem mascarado chamado “Bobo Velho” passa três vezes no território cristão e é apedrejado pela assistência, pois se trata de um espião mouro tentando obter informações. Na cena do “Rapto das Criancinhas Cristãs”, os “Máscaras”, dezenas de atores populares, surgem fantasiados, assustando e arrebatando olhares de medo das crianças que os assistem.

*As fotos são de um ‘Lambe’ feito em Mazagão Velho, em três ambientes diferentes, em Macapá no muro da casa do jornalista Jorge Herbert e essa na Casa Velha, no bairro da Cidade Velha (feitas pelo Jorge e também da Flávia Souza, fotógrafa, museóloga e pesquisadora).

A máscara parece ser uma transferência de energia que tem o sentido de mutação e que transcende o drama. Já o “Baile” é uma festa dentro da festa. É uma cena de um drama em que paradoxalmente ocorre a oportunidade de se desregrar (pela ingestão do álcool). Mas é quando se subverte a realidade constituída, pois a organização social do drama tem seus apelos e sanções: se há notícia de uma outra festa na vila, os “Máscaras” vão até lá e acabam com ela. Fazem respeitar as normas da tradição e tecem críticas à realidade através de um grande boneco mascarado chamado “Judas”, que todo ano muda de nome, conforme o momento histórico e a decisão dos que o confeccionaram.

Foto: Marcelo Loureiro – Secom

O “Baile de Máscaras” é uma forma de representação do potencial subversivo das festas, não só pela crítica, mas pelo dançar constante na direção inversa ao do ponteiro do relógio, tratando-se de um embate contínuo com o tempo, quando os brincantes giram e vão se espiralando, afastando o tempo linear e vivendo a dimensão da memória, num tempo mítico, onde os acontecimentos heroicos se repetem pelos rituais.

Culturalmente as máscaras de Mazagão Velho podem ser vistas como um aspecto místico da festa porque traduzem o tempo, a memória e o ritual que organiza a memória, a história e a sobrevivência da sociedade. Assim a cultura da festa se efetiva porque suas crenças, gestos e valores são oriundos de um processo de criação de homens e mulheres e que são partilhados por todos, por meio de juízos de valor e símbolos.

Foto: Marcelo Loureiro – Secom

A utilização da máscara na Festa de São Tiago é de disfarce, de aparência e de jogo estratégico. E para entender melhor esse processo nada como pôr no rosto uma caraça, pois assim cada um assumirá também o papel que subverte e mete medo, e que também diverte, mas, sobretudo, que une e corporifica os valores culturais daquela sociedade.

(*) Do livro “Adoradores do Sol” – Textuário do Meio do Mundo, Scortecci, São Paulo, 2010.