Fluminense vence Boca no Maracanã e conquista a América – Por Marcelo Guido – @Guidohardcore

Por Marcelo Guido

Em tarde de sol, com estádio lotado o Tricolor bate os Xeneizes levanta a taça e confirma ser o melhor time das Américas em 2023.

Um estádio , uma torcida , 15 anos da última tentativa. 04 de novembro , o Fluminense entra em campo pela segunda oportunidade de conquistar a glória máxima , a Libertadores.

O palco , não poderia ser melhor , Maracanã, oficialmente Mario Filho, um dos maiores tricolores que já pisaram nesta terra. Do outro lado um super campeão, 6 Libertadores no currículo, uma torcida apaixonada, síndrome do confronto perfeito , a ser feito por 22 homens .

O jogo começa , o Fluminense afoga o Boca em seu campo de defesa , a marcação exercida pelos comandados de Fernando Diniz se faz sentir efeito. Constante o Fluminense domina o jogo, mas dá espaço para contra ataques que uma hora ou outra vão funcionar.

Bola corre , chega a linha de fundo , cruzada na área poeticamente chega na marca da cal do pênalti, encontra ele , o abençoado argentino tricolor que fulmina a redonda para o fundo das redes. Fluminense 1×0 Boca Jrs , gol de Cano.

A volta para segunda etapa, sem surpresas , o Boca parte para o ataque , perdendo por 1, se perde por 10 , já diriam os filósofos. O Boca encurrala , chega , bate mas com um belo chute de fora da área , Advíncula empata a partida , Fluminense 1x 1 Boca .

Fim de jogo. Pela primeira vez o martírio final, os pênaltis teriam que esperar . A prorrogação , advento colocado pelos dirigentes esse ano, seria necessário.

Meia hora, da glória . Diniz mexe , coloca ele , um nome histórico , que com lances obtusos colocou o Flu na final , John Kennedy, cria de Xerém , cabelos amarelos , acerta um verdadeiro torpedo no fundo das redes adversárias . Sai expulso . Momentos . Fluminense 2×1 Boca Jrs .

Fim de jogo, festa do time de guerreiros . O Fluminense soube esperar pela glória, hoje seu torcedor pode dizer que é o maior .

E lembrem , que Fluminense simplesmente é maior que os fatos .

A favor da história, é o maior das Américas em 2023.

Que se escreva nos anais do universo que Fluminense é campeão da Taça Libertadores.

Médica Jamila Tavares gira a roda da vida. Feliz aniversário, querida prima!

Com Bruna, Jamila e Antônio – Setembro de 2022

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Neste segundo dia de novembro, minha prima Jamila Tavares gira a roda da vida e lhe parabenizo aqui, pois trata-se de uma baita mulher!

Jamila é médica, com especialização em Hematologia. Além disso, é uma cantora extraordinária. Ela é uma moça prestativa, gente finíssima, bicolor, fervorosa católica, humanista e sem frescura. Ela chega aos 32 anos com a carreira profissional em franca ascensão.

Com Bruna, Jamila e Antônio – Setembro de 2023

Filha do tio Paulo, irmã da Ana e da Paula, Jamila é uma mulher inteligente, educada, talentosa, esforçada, trabalhadora, sábia, discreta, dona de vasta cultura geral e de um papo porreta.

Mas acredito que o melhor papel que Jamila desempenha, além competente médica, é amorosa esposa do Antônio (Tonho, para a malandragem sith) e mãe de pets (casal de cachorrinhos Léia e Luke), além de viajante do mundo.

Jamila mora em Belém (PA) há tempos. A gente pouco se fala e pouco se encontra, porém, quando isso acontece, é festa. Mas a moça reside no meu coração. Todos nós, do meu clã paterno, temos muito orgulho e amamos essa mulher.

Com a querida Jamila

Tenho a honra de ser um dos 250 padrinhos de casamento dela e do Tonho (tô brincando, mas pensem num casal pra ter padrinhos). Aliás, sempre digo: foi o melhor casório que fui na vida.

Jamila, que teu novo ciclo seja ainda mais paid’égua. Que sigas com essa sabedoria e coragem. Que tudo que couber no seu conceito de sucesso se realize. Que a Força sempre esteja contigo. Que tua vida seja longa. Saúde e sucesso sempre junto do Antônio e todos os seus amores. Parabéns pelo teu dia, prima querida e comadre. Feliz aniversário!

Elton Tavares (mas também falo/escrevo pela Bruna Cereja, pois ela adora você, Jamila).

Quem nos dera um adeus digno – Crônica de Elton Tavares

 

Vovô, papai, Itacimar (tio) e Tagaha (jornalista), pessoas que sempre farão falta.

Crônica de Elton Tavares

Várias vezes, sonhei que conversava uma última vez com uma pessoa que partiu. Sim, alguns dirão que tenho muita imaginação, outros que sou ficcionista ou até mesmo assombrado (“sem sombra ao meio-dia em tempos de equinócio”, segundo o querido e Fernando Canto, rs).

Bom, o lance é imaginário mesmo. Quase sempre, imaginamos viagens no tempo para falar com pessoas queridas que se foram ou quem sabe alertá-las sobre um perigo iminente.

Não falo de viagens no tempo, provocadas por portais abertos no espaço-tempo como nos filmes “Donnie Darko” e “Efeito Borboleta”, cheios de possibilidades de mudanças e consequências.

Eu e meu irmão, Emerson, com o papai. Amor e saudades sempre, Zé Penha.

Também não queria psicografia, entoação ou algo assim. Falo da oportunidade de uma aparição da pessoa. Do amigo ou ente querido se manifestar logo após a desencarnação. Dessa forma poderíamos dizer ou escutar qualquer coisa do tipo: ‘eu te amo, siga seu caminho, pois vou cuidar de tudo por aqui’.

Seria ótimo dizer ‘se cuide’, quando a gente não poderá mais cuidar de alguém. Ou mesmo não dizer nada, apenas abraçar e sentir, poder dizer com o próprio corpo, o quanto aquele abraço vai fazer falta. Realmente seria bom pedir e dar desculpas, dizer um até breve, sentir e ver o trem chegar e partir. Porque, quando chega a hora, a gente não sabe e é mesmo uma história que termina em meio a reticências…

Com minha saudosa avó Peró. Amor e gratidão sempre por esse linda senhora.

Sem excessivo saudosismo e longe de ser lunático, e sem nenhum intuito de ferir o código de ‘futuro pré-determinado’ denominado Destino, o síndico de tudo isso aqui, de codinome Deus, poderia colocar mais essa cláusula no livre arbítrio: a possibilidade de se despedir. Seria ótimo. E como seria!

Não se trata de “consertar” nada, mas sim de uma última chance de diálogo, uma conversa franca, um adeus digno.

Mas a vida tem sua própria sabedoria…as crônicas também. E os sonhos, mais ainda.


*Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, lançado em setembro de 2020.

Como será quando eu morrer – Crônica de Elton Tavares

Ilustração de Ronaldo Rony

Às vezes me pego pensando: quando eu morrer vão lembrar de mim por quanto tempo? De que forma recordarão este jornalista? Vira e mexe penso que, após quatro décadas de vida intensa, desviver pode estar próximo de acontecer.

Será que vão contar piadas sobre situações inusitadas ou presepadas que cometi? Sei não, talvez a família e os amigos mais próximos até sofram, mas logo esquecerão deste gordo, feio, chato e brigão. Quem sabe será melhor desta forma, assim não terá muito mimimi…É que nunca fui dado a dramas.

Não sei se vou bater na porta de Deus ou do diabo (Não que eu tenha cultuado forças maléficas ou feito o mal a quem não procurou, mas ninguém sabe os critérios de avaliação da força que rege tudo isso aqui), se é que eles existem. Nada de exame de consciência, pois daria negativo.

Não sei se a passagem pra outra vida é a entrada na fila da reencarnação para outra existência, dimensão, planeta ou realidade paralela.

Não que eu esteja com pressa, mas penso mesmo no desencarne. Nada de finitude. É como dizem, todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer morrer. Mas se rolar, minha estada por aqui valeu a pena. E como Valeu!

E o caixão? Vão ter que pegar um guarda-roupa, tirar portas e gavetas pra caber este gordo. Só lembro do Sal, que uma vez me disse: “Porrudo, se tu morrer antes de mim, apesar de sermos brothers, não vou pegar na alça do teu caixão. É que não sou chegado a serviço pesado” (risos).

Não sei onde e como acontecerá. Apenas suspeito. Acho que o cabo da matrix será puxado de repente, como um raio, um piscar de olhos. Tomara que assim seja. Esse negócio doido de morrer, que sabemos que vai acontecer, mas sempre nos surpreende é muita onda.

Mas de volta ao tema principal, como será após eu subir no telhado. Falo dos meus familiares, amigos. Espero que sintam a saudade gostosa que tenho do meu pai, aquela sem nenhum ressentimento.

Tenho certeza que daria uma passada pelo Purgatório, afinal, já magoei um monte de gente e dei porrada noutro tanto. Isso quando mais jovem, mas pecados são pecados. Não tem jeito.

Quero que na lápide seja escrito: “Godão, ardoroso partidário da causa hedonista, botou pra quebrar. Amou os seus, combateu os inimigos de forma limpa, viveu como quis e se divertiu a valer. Com um histórico imenso de confusões, vítima da sua própria sinceridade”.

Aliás, desafetos é o que não me faltam. Talvez role até uma festa deles para comemorar meu embarque para Caiena. Quando eu morrer, se valer a pena, alguém pode escrever, eu autorizo. Mas se falar mal, volto, e minha mizura vai cobrir de porrada o autor da crítica.

Dizem que quando a gente morre passa um filme. O meu será um mix de romance, drama, aventura, humor e comédia. Enfim, quando chegar a hora, como disse o mestre Nelson cavaquinho: “quando eu morrer, os meus amigos vão dizer que eu tinha um bom coração. Alguns até hão de chorar e querer me homenagear, mas depois que o tempo passar, sei que ninguém vai se lembrar”. É por aí mesmo. Por isso vivo o agora. Digo a quem amo que os amo e honro os meus com declarações de amor viscerais. Pois é assim que deve ser. Mas afinal, como será quando eu morrer?

Elton Tavares

**Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Cemitério: um lugar de encontro e memória- Crônica de Fernando Canto

Crônica do sociólogo Fernando Canto

No cemitério todos estão iguais: mortinhos. Mas as pessoas que o visitam no Dia de Finados estão ali para reverenciar os mortos pelas suas qualidades, pela saudade que ficou, pelo respeito à obra que deixaram ou pelo amor que ainda paira na lembrança.

Assim o cemitério torna-se um lugar da memória porque ali cada lápide é uma imagem que enclausura um objeto de representação social ou familiar. E a presença dos parentes e amigos não só traz o significado do respeito e da fé religiosa como também o da mudança que se opera em todos os homens e mulheres diante da inflexibilidade da morte. Torna-se também lugar de oração, culto e reflexão.

Embora já não represente mais tanto mistério nem incuta mais tanto medo, o “campo santo” no centro da cidade é apenas mais um dos tantos aparatos urbanos encravados e irremovíveis que chegam a causar muitos problemas para as administrações municipais. Principalmente os de natureza ambiental, porque o chorume humano polui densamente os lençóis freáticos das suas redondezas, algo semelhante quando combustíveis como óleos ou gasolina penetram no subsolo.

É um lugar democrático: defuntos de todas as classes sociais estão enterrados nele. É um local frequentado por pessoas de todo tipo, que expressam seus sentimentos das mais diversas maneiras. Há fanáticos, por exemplo, que se atrelam a um devocionismo doentio, pois crêem que determinado defunto faz milagres e por isso pedem o que querem e inundam seu túmulo com plaquetas de agradecimento “pela graça alcançada”. Já vi homens virarem santos por obra e graça dessa morbidez que povoa a cabeça dos devotos. Vi pessoas serem homenageadas com pompas fúnebres pela ilibada conduta pessoal e profissional que tiveram, assim como já vi impropérios atirados a assassinos mortos pela polícia e a um político que a vida toda enganara eleitores e a família. Soube, inclusive, que nos anos 60 muita gente soltou foguetes no enterro de um delegado famoso por sua perversidade para com os presos.

O cemitério também é um lugar de encontro dos amigos. Ora, depois de uma rezada básica e uma vela acesa para os parentes, antigos amigos que hoje só se encontram no dia das eleições ou numa decisão do campeonato amapaense, se cumprimentam e se põem a conversar sobre conhecidos que já morreram. Então vêm à tona inesquecíveis episódios e velhas piadas sobre eles. A memória se reacende e traz de volta à vida o homem e sua conduta, mesmo que lhe reste apenas o pó dos ossos sob a lápide.

A conversa gira sobre os assuntos mais banais: desde a vizinhança de túmulos de entes queridos aos preços cobrados pelos coveiros que estão “pela hora da morte”; desde os “bons e velhos tempos” às doenças enfrentadas por eles (principalmente o diabetes) e as consultas periódicas aos médicos; desde aos planos mais mirabolantes às tentativas de convencimento a votar em certo candidato.

Em que pese a gritaria e o comércio de ambulantes que quase não deixam as pessoas passarem na frente do cemitério, a homenagem aos mortos passa a ser um acontecimento um tanto quanto banalizado pela força do capital que se instaura em qualquer lugar, seja onde for. Alguém vai sempre lucrar com isso. E como a morte rende… Não é à toa que cada vez mais aumenta o número de vendedores e de produtos diversificados nas proximidades das necrópoles. Não é à toa que o comércio abre suas portas mesmo sendo feriado.

Não quero dizer que acho isso estranho, pois tudo muda, evolui. Mas lembro com certa saudade a programação musical da extinta Rádio Educadora no dia de finados. O dia todo só tocava música clássica. Isso despertou em mim a curiosidade pelos eruditos que os padres italianos ouviam com prazer.

Cemitério é palavra que vem do grego, koimeterion, que significa “dormitório”. Como eu não quero ainda “dormir” na cidade dos pés juntos, prefiro me programar para ir até lá no dia dos finados, exercitar a memória e jogar conversa fora com os amigos.

A Morte e o Espanto – Crônica do sociólogo Fernando Canto

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Crônica do sociólogo Fernando Canto

Mircea Eliade conta no seu livro “O conhecimento sagrado de todas as eras” que há quatro tipos de mitos sobre a origem da morte. Um deles é o tipo da serpente e sua pele eliminada, da Melanésia.

Esse mito fala que no começo os homens nunca morriam, entretanto ao atingir certa idade eliminavam a pele como as cobras e os caranguejos, e novamente ficavam jovens. Reza o mito que certa vez uma mulher que estava ficando velha foi a um regato para mudar de pele. Ao se desfazer da pele velha, lançando-a à água, notou que a pele foi levada pela corrente, mas que ficou presa em um galho seco. Depois voltou para casa onde tinha deixado o filho. Este, contudo, recusou-se a reconhecê-la, e disse chorando, que sua mãe era uma velha, diferente dessa jovem estranha; e assim, a fim de acalmar a criança, a mãe voltou ao regato em busca de seu tegumento eliminado e vestiu-o novamente. Desde então os seres humanos deixaram de eliminar a pele e começaram a morrer.o-tempo-que-passa-o-homem-do-nascimento-lavra-morte-53579253

A explicação do nascimento da morte em todas as culturas é sempre seguida pelo inevitável encontro com ela e pela explicação da imortalidade da alma humana, alma que ela introduz aos desconhecidos mundos dos infernos e dos paraísos. Ela é a filha da noite e irmã do sono, por isso possui como a mãe e o irmão o poder regenerador. Se o ser que ela abate vive apenas no nível material ou bestial, ele fica na sombra dos infernos; se, ao contrário, ele vive no nível espiritual, ela lhe revela os campos de luz.

13154morteDesde que nascemos convivemos com a morte. Há uma permanente tensão por não sabermos nem como nem quando pereceremos. Enquanto isso vamos alimentado os mais diversos símbolos para espantá-la do dia-a-dia ou procurando formas de chegar ao paraíso, onde seremos recompensados pelo que fizemos de bom. Mas também cultuamos forças maléficas e procuramos incessantemente a imortalidade.

Os símbolos da morte estão presentes em todos os lugares e em todos os níveis de existência nessa tensão permanente entre as forças contrárias da vida e da morte. Desde crianças convivemos com ela, através de representações iconográficas de caveiras, túmulos, personagens vestidos com um manto negro e armadosNASCIMENTO-E-MORTE de foice, serpente, cavalo, cachorro ou outros animais psicopompos (condutores das almas dos mortos, na mitologia grega).

Todos nós convivemos com riscos e contamos nossas histórias depois de passadas as tensões; tentamos evitar esse flagelo de muitas formas, principalmente com as novas descobertas da ciência, e pensamos em enganá-la sempre que sentimos sua presença, como nas histórias de cordel.

Michelino_DanteAndHisPoemEntretanto conviver com ela significa conviver com a realidade; denota estar dentro de um mercado amplo e indiferente aos sentimentos, com todas as suas mazelas e artimanhas. Morremos um pouco quando os entes queridos partem e sofremos ao compartilharmos nossas dores com a perda de amigos, de ídolos e de nossas referências pessoais.

O sonho da morte e a realidade da vida – e vice-versa – trazem dentro de cada ato findo um pouco da poesia daquilo que parte, que renasce como um caminho para uma nova aventura da vida. Não a poesia funesta, a tristeza fúnebre, a fantasia gótica, mas o enleio, o espanto, a sombra perdida na floresta que volta para o corpo em forma de alma. Sim aos despojos da pele da serpente, renovada na jovem mulher que o filho não mais reconhece como sua mãe.d129931f2d768acd746443b3d35b8ddf

Ah, a imersão de Dante na Divina Comédia, a descida de Orfeu aos infernos para resgatar a alma de Eurídice, sua bela esposa; Gilgamesh em sua epopéia em busca da imortalidade e a descida de Ishtar, deusa da vida e da fertilidade, ao mundo inferior.

O mito, o sonho da im1005860_443474112415325_1534850575_nortalidade, a explicação na lógica de cada cultura fundem-se na abstração que ora faço enlevado pela imagem de um corpo sem sombra – a alma assombrada, que vi num tempo de espanto, de maravilha, e de afugentação. Então: “Vai-te daqui, ó Morte, segue teu caminho especial separado daquele que os deuses costumam trilhar./ A ti que tens olhos e ouves, digo: não toques em nossos descendentes, não magoes nossos heróis”. (“Rig Veda”, X, 18).

A morte e a desmorte do Bogéa – Crônica porreta de Fernando Canto

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José Arthur Bogéa – Foto encontrada no blog Canto da Amazônia

Por Fernando Canto

Já não é mais tão difícil para mim falar da pessoas que partem desta vida em suas canoas espirituais. A gente vai envelhecendo e os amigos e parentes que amamos se vão a nossa revelia, em busca de novos portos para prestar contas com o Grande Arquiteto. Só eles sabiam realmente o que fizeram nesta vida e o que realizaram nas tardes amareladas de sóis poentes e nas manhãs de chuva que despetalam as rosas, afofam a terra e fertilizam as sementes. Cada qual tinha a responsabilidade de viver com a necessidade de encarar a morte. E vive e versa. Sim, só a eles competia interpretar suas metáforas particulares, suas soberbas criações e finalidades diversificadas.

Ah, a morte, flagelo imensurável e certo que acompanha os viajores execrados de seus próprios corpos; nefasta conclusão de um tempo em que perdura o sonho. – Morte, ó morte, obreira incansável que carrega o relógio da vida sob o manto negro, e o instrumento que ceifa qualquer tentativa de viçar demais. Traz o tempo certo na ossatura à vista e parte em bradantes gargalhadas pelos túneis da incompreensão humana.

Com ela salta o nosso pranto em gotas rutilantes, por tudo o que passamos, por tudo o que lembramos. A morte é memória posterior ao sonho. É a contraluz que indica o caminho revertério. A morte é a ponte inalterada da criação. Todos morrem. Todos morrem-morrem, desmorrem e morrem. E é morrendo que creio na criação, que crio no tempo do viver. E vivo. Eu escrevo com a mão esquerda/ saúdo com a voz do vento/ meu escudo é uma fortaleza/ que embate a foice da morte.

Eu tenho um poço escondido de todos. É uma grande cavidade de esquecimentos, onde jogo minhas mágoas e o nome das pessoas que me fizeram mal. É um poço fundo, fundo. Eu o conheço bem porque já estive lá e a muito custo consegui voltar. Eu tenho ainda uma fogueira permanentemente acesa para queimar minhas mazelas e transformar em pó as ciladas que me armaram e as energias negativas que lançaram em mim nos momentos de fragilidade. Mas eu não tenho um cemitério para enterrar meus inimigos. Eles que cavem suas próprias sepulturas, embora já habitem o abismo do poço escondido.

E que façam seus enterros ao sol do meio-dia, para que descasquem logo. Queiram ou não meus amigos vão permanecer acordados no meu pensar, em um jardim que plantarei num minifúndio especial e muito produtivo. Eles usarão chapéus na labuta diária e à noite comporão elegias e epitáfios por encomenda e serão regiamente remunerados com bons salários. Decerto sonharão com a vida, com os anjos e com o trabalho que terão de completar em outro porto, em outro cosmo, porque já estarão aposentados do trabalho de jardinagem, mas suas poesias correrão como relâmpagos nas noites escuras, onde Pégaso reina voando em direção ao Olimpo. E virarão pedras de mármore assinaladas pela palavra saudade.

Morreu o meu amigo, o Zé Arthur, o professor erudito de literatura e especialmente da literatura amazônica. Assim deu numa pequena nota de jornal, em Belém, sua terra, onde lecionou na Universidade por muitos anos. Morreu. Morreu mesmo, me confirmou o morto Ronaldo Bandeira. O escritor José Arthur Bogéa partiu como quem fica no início do mês numa cidadezinha do Espírito Santo, onde seu espírito, santo como seu texto, vaga pelo céu que lhe descortinou a paisagem para que, enfim, se transformasse em estrela.

Embora tenha saído essa nota de jornal, tenho a impressão que é mais uma das muitas mortes que inventaram desse meu amigo. Eu acho que ele ainda vai mandar notícias, desmorrer de novo. Quem sabe um novo livro sobre a obra de Dalcídio, porque chove nos campos em que plantaste teu trabalho, velho amigo.

*José Arthur Bogéa, paraense, ex-professor da Universidade Federal do Espírito Santo e professor visitante da Rijksuniversiteit te Utrecht (Holanda), jornalista, ator, crítico literário. Um criador. Comprometido com a cultura de sua terra e entusiasta da boa literatura produzida na região amazônica. 

Hoje é o Dia das Bruxas. E como diz o ditado: “eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem”

Hoje é o Dia das Bruxas (Halloween é o nome original na língua inglesa). Trata-se de um evento tradicional e cultural, que ocorre basicamente em países anglo-saxônicos, mas com especial relevância nos Estados Unidos, Canadá, Irlanda e Reino Unido, tendo como base e origem as celebrações dos antigos povos.

A Caça às Bruxas marcou a história mundial e se tornou uma expressão referente à perseguição cultural, ideológica e étnica. Aqueles que pensam ou, por qualquer razão, são diferentes, sofrem discriminação e, muitas vezes, chegam a ser agredidos e mortos.

Quando a mulher rompe com o domínio do homem, ela é vista pela sociedade patriarcal como uma “criatura maligna”, que deseja destruir sua estrutura e tradição. Devido ao ponto de vista masculino que é predominante em várias culturas, as mulheres que não seguiam a conduta esperada eram consideradas bruxas no pior sentido da palavra.

Apesar da palavra “Bruxa” ter sido uma expressão pejorativa, usada para chamar mulheres de velhas e feias, a busca pela juventude eterna é um elemento comum desse arquétipo, refletindo a vaidade associada principalmente às mulheres. Pois, enquanto os homens usam espadas e escudos, as armas femininas são a beleza e sedução, representado pelo Espelho de Afrodite no símbolo do Feminino. Poções do amor e rituais de fertilidade também reforçam essa características das bruxas.

Portanto, feliz Dia das Bruxas, menos para os que são bruxas (de fato) do nosso cotidiano. Ou seja, todos os “puxa-sacos”,  amigos de ocasião, interesseiros e pessoas de duas caras. Feliz Dia das Bruxas aos que não fazem nada além de sacanear os outros. Feliz Dia das Bruxas aos que são fofoqueiros, soberbos, recalcados, invejosos e metidos a merda. Feliz Dia das Bruxas para gente falsa, amarga, que destila veneno por trás de sorrisos, incompetentes costa quente que conta do padrinho que o indicou, caloteiros e enrolões, daqueles que demoram a pagar serviço prestado por várias razões inventadas.

Ou seja, a todos que são Bruxas vorazes do nosso dia-a-dia. E existem tantas bruxas e bruxos especialistas em escrotidão. Nestes casos, eu sou a favor de uma inquisição, nada santa, claro, mas do desprezo. Assim, eles (ou elas) parariam de fazer tantas crueldades para atormentar a vida da gente. Afinal, queimar (o filme de) pessoas de mau caráter é tentador, não?

Agora prestem atenção, nem toda bruxa é má. Não que eu cultue a “Wicca”, uma seita moderna pagã baseada em bruxaria que apareceu na Inglaterra na primeira metade do século XX, mas é que há bruxarias e bruxarias. Nem todas são fadas más.

A verdade é que a maioria de nós é movido por crenças, dogmas e superstições diariamente. E como diz o ditado espanhol: “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay” (eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem).

Elton Tavares

Fonte: Crônicas Fantásticas. 

Nem sempre nos garantimos – Crônica de Elton Tavares – *Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”

Crônica de Elton Tavares

Em 2012, fui convidado por uma amiga para falar sobre o lance de ser editor de site. Era uma palestra ou algo parecido. Expliquei-lhe que minhas atribuições e horários não permitiriam que eu aceitasse seu convite, mas adorei. Afinal, é um reconhecimento. Ano passado, outro convite sobre o tema e para outra instituição de Ensino Superior.

Logo, lembrei que, há tempos, disse à uma jornalista: “nem sempre conseguimos ser brilhantes”. Acredito mesmo nisso (pior é quem nunca é). Como falar em público de uma atividade que não sei se domino bem? Como ensinar sem saber? Aliás, sou péssimo nesse papo de falar em público.

Conheço muita gente que escreve bem pra caramba. Inclusive pessoas que não são jornalistas, blogueiros, professores, advogados ou seja lá qual a área de atuação que exija (no mínimo) uma redação “marrômeno”. Aliás, sou fã dos textos de várias figuras amapaenses. Eles usam o hemisfério esquerdo do cérebro e conseguem redigir as coisas de forma diferente, irreverente ou não, mas sempre inteligente.

Voltando ao convite, como falar das minhas opiniões, meus “achismos”, minhas conclusões (às vezes errôneas e precipitadas) e minhas imposições, sobretudo musicais? Esse negócio é sério. Muito sério. Pois são as minhas verdades e pontos de vista.

No “De Rocha” falo de coisas sérias, divulgo cultura, publico poesias, músicas, fotografias, ajudo na cena artística, entre outras “paideguices”. Mas, se der na telha, escrevo ou publico doidices e até coloco palavrões nos escritos.

“Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos”, dizia o saudoso Millôr Fernandes.

Sou fã dos blogs e sites que possuem conteúdos jornalísticos e culturais. Existem páginas com muita qualidade. Mas detesto aqueles que são meramente repetidores de textos de terceiros. Se você se propõe a ter uma página na internet, escreva!

Ser editor de um site é ter sacada, emitir opinião, dar a cara a tapas, ter responsabilidade para não difamar e jamais se achar o dono da verdade. Adoro o fato de minha página eletrônica ter caído nas graças de muitos leitores.

Escrevo, quase sempre, de improviso.

Mas há períodos de entressafra das ideias, em que fico sem inspiração diante do computador. São os e-mails com releases culturais ou informativos, além dos meus colaboradores, que me salvam. Quem dera fosse só querer e baixasse o espírito de Rui Barbosa e eu começasse a redigir como um gênio.

Seria firmeza!

Trocando em miúdos, aqui discutimos o sexo dos anjos, falamos de coisas sérias, de jornalismo, diversão e arte. Mas também perdemos tempo com bobagens. Por que não? Sempre brinco e digo que sou um jornalista de bastidores, pois apurar e escrever é tranquilo. Já falar em público, rádio ou TV, é difícil. Aceito a limitação e gosto de como trabalho.

Sei que tem muita gente preparada para falar sobre blogs, jornalismo e o mundo midiático. Eu não. Acredito que é preciso humildade para assumir quando não nos garantimos sobre alguns temas. Afinal, nem sempre nos garantimos ou somos brilhantes. Pelos menos não como algumas pessoas acham que somos.

Republiquei essa crônica hoje por conta de um evento amanhã, o Folia Literária, que participarei e terei que falar em público. Tô aqui repassando o material e morto de nervoso e ansioso (risos). Queria que minha apresentação de amanhã fosse como esse vídeo acima (mais risos). É isso. Bom resto de sábado para todos nós!

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em 2021.

 

“Os patos”, de Rui Barbosa e o Zeca Baleiro

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Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:

“- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.”

E o ladrão, confuso, diz:

“- Dotô, eu levo ou deixo os pato?

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Zeca Baleiro, faz essa mesma citação em sua música “Vô Imbolá”, mas num contexto diferente que pode-se aplicar muito bem ao nosso dia-a-dia, principalmente aos bucéfalos anácronos:

“- Como é por ignorância transito, mas se fosse unicamente para menoscabar de minha alta prosopopéia, dar-te-ia um soco no alto da sinagoga que por-te-ia mais raso do que solo pátrio!”

Não lembro onde achei isso, pois faz anos, mas é genial, não?

Fonte: Aititia.

Os 28 anos do álbum “Mellon Collie And The Infinite Sadness”, do Smashing Pumpkins #TheSmashingPumpkins

Parece que foi ontem, mas já faz 28 anos que a banda de rock alternativo norte-americana The Smashing Pumpkins lançou o magnífico álbum “Mellon Collie and the Infinite Sadness” (em 23 de outubro de 1995 pela Virgin Records).

Este é o terceiro disco da carreira do grupo liderado por Billy Corgan (o careca antipático do rock sabe fazer canções que tocam a alma e o coração). É o álbum mais famoso da banda e emplacou hits como “Bullet with Butterfly Wings”, “Tonight Tonight”, “1979” e outros.

Mellon Collie foi o álbum que definiu a cara do rock na época. Um clássico instantâneo que provou que a música alternativa poderia ser complexa e ambiciosa.

Billy Corgan se encontrava no auge da sua megalomania criativa e lapidou todas as músicas com muita astúcia; desde sua introdução instrumental até a última música, o disco é arrebatador.

Ele contém muitas canções sensacionais, como a beleza da instrumental Mellon Collie And The Infinite Sadness, a visceralidade de “Zero” e “Bullet with Butterfly Wings”, a saudade dramática de “Thirty-Three”, a inocência de “1979” e a aula de vivência em “Tonight, Tonight”. Isso para citar somente as que gostamos mais.

O disco recebeu, com a canção “Bullet with Butterfly Wings”, o Grammy de 1997. A obra foi eleita como 29º maior álbum de todos os tempos, em 1998, pela Revista Q. Em 2003, a revista Rolling Stones o colocou como um dos 500 melhores discos de todos os tempos, no 487ª lugar.

A Revista Time elegeu Mellon Collie and the Infinite Sadness o melhor álbum de 1995. Não à toa, ele está na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame.

O disco é eclético dentro do rock, já que possui desde canções bem melodiosas até rock pesado com guitarras sujas e gritos de FUCK YOUUU!. É realmente um álbum memorável, com um apelo artístico fantástico (sem falar naquele encarte sensacional).

Em 1995, Kurt Cobain já tinha ido para as estrelas e tudo que surgia de genial era mais uma esperança. No final, sabemos que o Rock nunca morre. Ele adoece, mas sempre volta com tudo.

Até hoje as músicas de Mellon Collie emocionam e transportam no tempo quem tem mais de 40 anos. Sim, nostálgico. Agora é só escutar Tonight, Tonight, onde o velho Corgan canta “acredite em mim” ou 1979 e viajar no tempo.

Elton Tavares e André Mont’Alverne

Prefácio do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias” – Por Fernando Canto

Tagaha Luz, o primeiro incentivador para o livro, que morreu em 2016.

Por Fernando Canto

Após a súbita subida dimensional do nosso inesquecível amigo Tãgaha Soares, o Elton Tavares me elegeu para escrever o prefácio do seu primeiro livro de crônicas e contos. Haja responsa.

Já se passaram dois anos, e eu aqui tentando alinhavar umas palavras que coubessem no seu texto carregado de frases insólitas, no conjunto do seu fazer insistente em dar forma e existência a uma produção intelectual que traz a lume no seu famoso site “De Rocha”.

Ao leitor inabitual fica a advertência: você vai encontrar palavras inexistentes, mas deverá compreender o intuito, pois o autor é chegado a um neologismo onde realmente nenhuma palavra cabe, e a gírias atuais, modernas, que pessoas da geração dele se comunicam com libações ao redor de uma cerveja do polo sul. Fica também a informação de que palavras como: ”infetéticos”, “migué”, “tals”, “óquei”, “brodagem”, “caralístico” “paideguice”, “sequelado” e “rabugem” trazem sempre uma boa dosagem de ironia e lirismo, porque, como ele mesmo diz: “Nunca fui convencional”. E sempre que pode reafirma recorrentemente: “É isso!”

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Nestas crônicas Elton Tavares se exime de toda a responsabilidade textual que venha possibilitar relação com a sua trampagem (O cara é jornalista, brother!). Disso ele se esquiva e mergulha fundo com independência e caráter. E navega por trilhas que abre diuturnamente como o seu peso e coragem, até encontrar outros rumos temáticos. São saborosas observações do cotidiano expressas de forma, diria novamente, inusitadas, dinâmicas e expostas ao sol do equador com seus cabelos-letras-acentos ao vento do Amazonas. Se elas têm sabor, têm cheiro & pele, têm espuma & malte. Têm, sobretudo, a ausência do conservantismo prosaico e das platitudes tão comuns dos que escrevem suas observações cotidianas sem o compromisso com a escritura, ao invés de tê-la como um deleite da vida humana. Por isso elas são irretocáveis no conteúdo e irreverentes, também no endereçamento aos hipócritas.

Elton Tavares e Fernando Canto, no traço de Ronaldo Rony, que ilustrou o livro.

Creio que as crônicas aqui escritas – muitas delas circunscritas ao Amapá – carregam gestos excruciantes que nos levam a refletir sobre a noção de espaço, pois às vezes temos a intenção de ser espaço. E, por carregarmos muitos vazios dentro de nós, antes e depois do almoço, a intenção é o próprio espaço que esperamos preencher com algo de bom que ficou da nossa vida por um tempo. As crônicas tavarianas me dão esta louca impressão de saciedade, mas depois a fome de ler volta com os cascos, que só pode ser saciada na companhia de uma cerveja bem gelada.

Foto: Flávio Cavalcante.

*O livro foi lançado em setembro de 2020.

Joãozinho Gomes gira a roda da vida. Feliz aniversário, amigo poeta!

Gosto de parabenizar amigos em seus natalícios, pois declarações públicas de amor, amizade e carinho são importantes pra mim. Além disso, o Amapá precisa preservar, reconhecer e homenagear seus grandes nomes em todas as áreas de atuação. Esse texto, além de ser uma felicitação, é um momento de reconhecimento, pois Joãozinho Gomes gira a roda da vida pela 66ª vez neste vigésimo dia de outubro. Não à toda, na mesma data em que é celebrado o Dia Nacional do Poeta, pois o cara é brilhante em poetizar a vida.

Escritor, compositor e um dos maiores poetas da Amazônia, Joãozinho Gomes tem seu talento reconhecido e respeitado em todo o Brasil. Sempre o admirei, mas tive a honra de bater papo várias vezes com esse nobre artista. Durante essa trajetória, compôs, cantou e gravou com o Grupo Senzalas (com Zé Miguel e Amadeu Cavalcante), Val Milhomem, Patrícia Bastos e Enrico Di Miceli. Isso para citar só alguns.

Joãozinho Gomes é natural de Belém e mudou-se para o Amapá em 1991. Aqui, botou pra quebrar e juntamente com outros renomados monstros criativos e talentosos, revolucionou a cena musical amapaense. Se tornou um artista premiado na música e na literatura. É um cara que orgulha esse estado no meio do mundo, nosso lugar no planeta.

Em 24 de dezembro de 1991 às 22:30m eu pisei em solo amapaense e meus pés incontrolavelmente enraizaram-se neste solo de modo tão profundo à serem hoje raízes impossíveis de serem arrancadas, extraídas, removidas. Não custei a entender as aspirações telúricas deste chão sagrado que de maneira paterna e acolhedora abrigara os meus pés em seu ventre de mata e rio com a intenção de que eu a ele pertencesse de forma efetiva, afetiva, perenal. Vi com clareza à linha do horizonte a grafia das águas e das folhas textualizando a minha vida dali para diante, li os meus desígnios e, compreendi a lírica missão entregue à minha arte. Queria este solo gentil, generoso e belo, que eu me juntasse aos seus filhos-pássaros e os ajudasse no ofício de cantarem a sua história rica, única, bela. Era tempo de criar”, relatou o poeta há alguns anos, quando recebeu o título de Cidadão Amapaense.

Joãozinho é um gênio sem pavulagem. Um cara de bom trato, fala mansa, conversa firmeza e um homem do bem. Com uma contribuição incalculável para a Cultura do Amapá, ele é um ícone poético tucuju, nortista e nacional. Ao mestre da Poesia, minha homenagem e agradecimento pelo conjunto da obra.

Joãozinho Gomes, amigo, que seu novo ciclo seja ainda mais produtivo, harmonioso e rentável. Que tua vida seja longa, por pelo menos mais 66 quentes outubros amazônicos. Que tenhas sempre saúde e ainda mais sucesso junto aos seus amores. Parabéns pelo teu dia e feliz aniversário!

Elton Tavares

Resenha do filme “Meu Nome é Gal” – Por Elton Tavares #GalCosta #MeuNomeÉGalOFilme

Filme ‘Meu nome é Gal’ — Foto: Divulgação

Amo Música Popular Brasileira (MPB) e Cinema. Quando essas duas coisas estão juntas então, é muito porreta! “Meu Nome é Gal”, filme lançado em todo o país na última quinta-feira (12), conta a história da icônica cantora Gal Costa, que morreu em novembro de 2022, aos 77 anos. A cinebiografia é linda, emocionante e prende quem a assiste do início ao fim, de uma forma muito paid’égua!

Dirigido por Dandara Ferreira e Lô Politi, a película remonta a trajetória de Maria da Graça Costa Penna Burgos, a “Gracinha para os íntimos (interpretada por Sophie Charlotte), que deixa a Bahia aos 20 anos e vai para o Rio de Janeiro, em 1966, para se tornar uma das maiores artistas da MPB.

O longa-metragem conta, claro, com Caetano Veloso (Rodrigo Lellis), Gilberto Gil (Dan Ferreira), Maria Bethânia (a codiretora do filme, Dandara Ferreira) e a atriz Dedé Gadelha (Camila Márdila). O filme passa pelos relacionamentos amorosos de Gal, sua forma porreta dela se relacionar com a mãe, Mariah (Chica Carelli), entre outros, e criação do movimento Tropicália, no início da ditadura no país.

Aliás, os anos de chumbo e todos os absurdos da época da Ditadura, são o centro da narrativa em muitos momentos do filme, como não poderia deixar de ser.

Sophie Charlotte como Gal Costa numa cena de ‘Meu nome é Gal’ — Foto: Stella Carvalho/Divulgação

Claro que existem erros no longa, como de dublagem, mais ênfase em Gil e Caetano em muitos momentos do que na própria Gal. E, para muitos, que a cinebiografia não faz jus à grandeza da cantora. Bom, difícil é sintetizar uma carreira/vida tão “divina e maravilhosa” em 87 minutos de longa-metragem. Já vi isso acontecer em outras histórias contadas no cinema. Mas para mim, o filme é PHoda!

O filme vai da timidez e inocência de Gracinha à grandeza, talento, maturidade e importância de Gal Costa, à “a voz mais linda do universo”, segundo Maria Bethânia no próprio filme. Ah, imagens de Gal (a verdadeira) cantando são tão emocionantes que lembrei da frase: “Gal Costa sempre me trata com choques elétricos!” – Tom Zé, em 1970.

Dan Ferreira e Rodrigo Lellis interpretam Gilberto Gil e Caetano Veloso no filme ‘Meu nome é Gal’ — Foto: Stella Carvalho/Divulgação

Com 87 minutos de projeção, que passa num piscar de olhos, Meu Nome é Gal consegue ser forte, delicado, sensível e emocionante. A reconstituição dramática, política e musical é firme. Sem falar no figurino. Tudo joia!

Sempre fui um fã declarado de Gal. Ela foi a grande cantora do Brasil e expoente da musicalidade nacional. Quando a escuto, sinto saudades do tempo em que ia todo sábado para casa da minha avó, tomar cervejas com meu falecido pai e meus tios. Nostálgico!

Eu e minha namorada, Bruna Cereja, tivemos aquele suor nos olhos e saímos do cinema impactados. Porreta demais. Recomendamos!

Ficha técnica:

Filme: Meu nome é Gal.
Duração: 87 minutos.
Direção: Dandara Ferreira, Lô Politi
Roteiro Maíra Bühler, Lô Politi
Elenco: Sophie Charlotte, Rodrigo Lellis), Dan Ferreira), Dandara Ferreira, Camila Márdila e Chica Carelli.

Elton Tavares – jornalista, escritor e fã de Gal Costa.