Ligação – Crônica porreta de Luiz Jorge Ferreira sobre uma conversa com Fernando Canto

Por um motivo qualquer, Fernando liga de Macapá…feliz…Atendo e conversamos sobre amenidades.

– O Joaquim…O velho ‘Bomba d’água’…pai de uma prole de 15 filhos, e 32 netos, fez laqueadura, na mulher…em tempo!…. Comentei.

Ainda mora no Curiaú, sim…confirmou.

Depois comentamos sobre Macapá, ter o privilégio de coabitar com dois hemisférios, e ter o título da única Capital banhada pelo Rio Amazonas…e outras coisas bonitas, deste naipe.

São Paulo, mais precisamente… Osasco…estava nublada

Em Macapá, ele me disse, um sol para cada Macapaense.

Ouvi barulho de copos, e um mastigar barulhento.

Com visitas? – Fernando.

Sim, estamos tomando Whisky com amigos…

Alguns Johnny Walker, com amigos que talvez você conheça.

Antes que ele continuasse…interrompi. Era o preferido de John Wayne.

Sim…confirmou… Eu também, estou saboreando umas Cervejas, lhe informei.

Desculpa…Disse antes que falasse. Mas Ruço o cavalo dele, também gostava misturado ao milho debulhado.

Ainda bem que não é o Silver, do Zorro do faroeste… aquele que vivia com um índio chamado Tonto?…insinuei.

Silver era viciado em alho, segundo soube. Adicionei como informação, sobre outro cavalo de heróis do Faroeste. Ou do Jerônimo, o herói do sertão que gostava de cachaça (risos).

Ri alto…Seu cavalo era viciado em pamonha.

Fernando…riu.

Gritou… Saúde…

E a resposta…veio em inglês, e alguns relinchos…

Ao desligar pareceu-me uma voz com o sotaque texano de Wayne…

Indagar…Quem é o Janota?

Escondi o Telefone…e por mais de uma semana, assustado, evitei chamadas internacionais, e relinchos as proximidades.

Três meses depois ligo…Para a casa de Fernando.

Uma voz rouca me atende…um Alô, carregado de sotaque.

Eu rapidamente indago…Quem fala?

Tigger…

Desligo. Não sei se ainda devo beber algum dia.

* Luiz Jorge Ferreira é amapaense, médico que reside em São Paulo e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames).

**Uma homenagem ao Phera Fernando Canto, que hoje completa 69 anos. 

Contador e advogado Paulo Tavares gira a roda da vida. Feliz aniversário, tio! – @paulorptavares

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Quem gira a roda da vida neste vigésimo sexto dia de maio é o meu tio, Paulo Tavares. Dou muito valor nesse cara, pois além de irmão caçula do meu saudoso pai, é um cara Phoda e um amigo querido da vida toda. E por isso, lhe rendo homenagens.

Filho mais novo da Peró e Juca, Paulo Roberto Penha Tavares é um profissional de sucesso em todas as áreas que ele atua ou atuou. Inteligentão, centrado, organizado e safo. O cara possui uma carreira profissional multifacetada. Sim, o tio possui curso superior em Administração, Contabilidade e Direito, além de uma porrada de pós-graduações e especializações. É um empresário reconhecido dentro e fora do Amapá.

Eu e tio Paulo, na antiga casa dos pais dele, meus avós – Primeira metade dos anos 80.

Ele também desempenha com maestria os papéis de pai da Paula, Jamila e Ana e marido da Dacivone. Além disso, é maratonista e já correu provas aqui no meio do mundo e pelo mundo afora. E, ainda, é um estudioso da doutrina espírita e praticante do espiritismo. Tio Paulo é um vencedor em todos os aspectos e admiro sua paciência e empenho em tudo que se propõe.

Já disse em outro texto sobre o Paulo: quando eu era moleque, uma das coisas legais das férias é que tio Paulo, então universitário em Belém (PA), vinha passar o mês de julho ou janeiro em Macapá. O cara sempre foi divertido, brincava comigo e com o meu irmão. Como sempre gostamos (ele e eu) de boa música, outra boa lembrança, é dele gravar o vinil do A-HA (banda de rock australiana dos anos 80) em um fita cassete TDK 90 minutos, dos dois lados, pra gente escutar, “charlando” na brasília amarela da tia Maria. Bons tempos. Também já falei que eu e Paulo discordamos sobre muita coisa. Mas o amo e sei que é recíproco.

Eu e Bruna, com tio Paulo

Trocando em miúdos, Paulo Tavares é um cara do bem, muito culto, trabalhador, honesto e que lutou muito pra chegar onde chegou, no topo. Trata-se de um cavalheiro. Um homem culto, com visão estratégica e sempre um plano B na manga. E, ainda, um apaixonado por seus afetos e fiel aos seus ideais.

Tio, tu sabes, te amo. Tenho sorte de tua existência orbitar a minha e de ter o mesmo sangue que você. Que tu tenhas sempre saúde pra trabalhar, viajar, amar os seus e que ainda partilhemos vários momentos lindos com nossa família. Todo o amor dessa vida pra ti. Meus parabéns pelo teu dia. Feliz aniversário!

“Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar” – Machado de Assis.

Elton Tavares

*Texto atualizado e republicado por motivo de viagem, mas de coração. 

O pobre soberbo – Crônica/reflexão de Elton Tavares – (do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”)

Sabem, não que eu seja um estudioso da natureza humana, nada disso, escrevo sem propriedade alguma, somente baseado nos meus “achismos” e pontos de vista.

Bom, hoje falarei do “pobre soberbo”. Não, não sou elitista, na verdade, nunca liguei para quem tem grana ou sobrenome. Sempre andei com lisos bacanas e agradáveis desconhecidos, assim como eu. Acredito que gente legal atrai gente legal. Mas enfim, voltemos ao pobre soberbo.

Este tipo de cidadão possui uma renda mensal que está sempre abaixo do orçamento que gostaria de ter, até aí, tudo normal. O pobre soberbo costuma ter bom gosto com roupas, culinária e etecétera e tal. Mas é do tipo que gosta de manter a aparência de bacana, usar vestimentas de marcas famosas, mesmo que isso comprometa suas prioridades (como supermercado, prestações ou algo assim).

O importante para este tipo peculiar de pessoa é manter a capa. Elas costumam frequentar locais “chiques”, sempre conversando sobre futilidades e afins. Ah, os assuntos preferidos do pobre soberbo são carros e pessoas que ocupam cargos públicos. Sim, eles são afiados nessa ladainha sobre coisas e pessoas que nomeiam “importantes”.

O pobre soberbo conhece todo figurão ou seus filhos, por estudar anos a fio suas fisionomias, nas inúteis colunas sociais. Aí ele espera só uma oportunidade para “puxasaquear” o tal fulano e aplicar o seu marketing pessoal, pleiteando algum tipo de status.

Ah, quando um pobre soberbo consegue alcançar algum lugar dentro da sociedade, de acordo com sua percepção, fica pior do que os verdadeiros ricos, nojentão total. Conheci várias pessoas assim. Lembro de um figura, nos anos 90, que disse para mãe que iria se matar, se ela não comprasse um carro para ele. Lembro das meninas da faculdade dizendo: “É um Fulano do carro tal” ou “é o Cicrano, filho do Beltrano”.

Outra característica dos pobres soberbos é dizer o preço das coisas que usa: “Saca este sapato, dei R$ 500 nele”. Essas pessoas são de uma superficialidade incrível.

Estes figuras são cheios de falsas certezas. Basta o mínimo de percepção para arrancar suas máscaras. A maioria só faz figuração na vida. Parafraseando Arnaldo Jabor: “eles assumem a verdade das suas mentiras”.

Dos pobres soberbos, que não são pobres só de posses, mas de espírito, eu só sinto pena e desprezo. Deles, só quero distância.

Elton Tavares

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Dirram – um apelido pela metade – Crônica de Fernando Canto

Hélio Pennafort e Fernando Canto

Certo sábado o Hélio Pennafort chegou com aquele seu jeito de urubu balado no primeiro bar do Abreu e contou uma história de futebol ocorrida no Oiapoque. Hélio era oiapoquense da gema e da casca do ovo de bacurau, acostumado com o bafo do tafiá e a dança do turé.

Foi logo no início da década de 80,quando a França começou a se mostrar para o mundo como potência futebolística, com Michel Platini e tudo. Por isso mesmo os guianenses “tiravam barato” dos brasileiros nos jogos “internacionais” de pelada, ganhando sempre da gente.

Mas ele contou também que isso não durou muito porque lá naquelas densas “brelbas” do Oiapoque fora revelado um atleta para recuperar a fama do nosso futebol e salvar a honra nacional. Em um importante jogo comemorativo ao Sete de Setembro, a “seleção canarinho” do Oiapoque perdia de três a zero para a França no segundo tempo quando o treinador o colocou em campo, faltando quinze minutos para terminar. Era o último recurso. Mesmo ele entrando como reserva havia uma grande expectativa da torcida. O jogador parecia ser a arma secreta do time.

Segundo Hélio o tal atleta era um caboclo todo musculoso, entroncado e baixinho, desses que chamam popularmente de “caboco tureba”. Ele corria por todo o campo e não se cansava. Evitou um gol e correu para o ataque. Driblou dois adversários e fez o primeiro gol. A torcida incentivava chamando o nome do jogador: – Dirram, Dirram!

Logo em seguida veio o segundo gol do baixinho. De cabeça. No meio dos zagueiros crioulos, que tinham fama de grosseiros e rudes. E a torcida gritava: – Dirram, Dirram! Na arquibancada a charanga caprichava na marchinha “se você fosse sincera/ ôôôô, Aurora”.

Aos quarenta minutos ele fez um golaço de bicicleta ao receber a bola de escanteio, para o delírio da torcida que já cantava:- Dirram,Dirram! Mais um, mais um! No Último minuto Dirram tomou a bola do atacante francês e deu-lhe uma bicuda da linha da grande área no canto esquerdo da trave e fez um gol para ficar na história, se alguém tivesse filmado.

A torcida brasileira ao ouvir o apito final do juiz, já gritava alucinada e bêbada, encantada com o talento daquele atleta baixinho, rápido e bom de bola, um verdadeiro herói nacional naquele extremo fronteiriço do Brasil. Ainda ecoavam os delírios quando o atleta foi interpelado pelo técnico guianense. Depois de elogiá-lo perguntou se não era descendente de francês, pois seu sobrenome parecia indicar isso. Como assim, já “antão”? Indagou o atleta. O treinador lhe informou que ele possuía um nome de origem francesa. Ah, disse o brasileiro. É por causa do meu apelido que só chamam pela metade. Como assim, já “entom”? Perguntou o técnico francês. Então o atleta disse humildemente que o seu apelido por inteiro era “Cu de Rã”, mas que só lhe chamavam de Dirram porque gostavam muito dele.

Essa história do Hélio ficou um bom tempo sendo reproduzida no bar. A abertura das piadas do dia era regada a cerveja e churrasco, pois o bar do Abreu há pouco deixara de ser a lanchonete RR (Ronaldo e Rodrigo, quando juntinhos), mas ainda funcionava como açougue. Pedro Silveira a tudo ouvia e morria de rir, enquanto a Maria Bê atualizava o “Taperebá”, nosso jornalzinho mural, e o Mário Gaúcho contava uma mentira cabeluda dos pampas, limpando as mãos nos vultosos bigodes, para depois ganhar rumo no seu carro importado azul.

Hélio Pennafort e Fernando Canto

Vez por outra o bar fazia lançamentos literários, pequenos shows musicais com o Grupo Pilão, Nonato Leal e Sebastião Mont’Alverne e o Hélio passava seus vídeos sobre aspectos paisagísticos do então Território do Amapá, que fazia pelo interior com o piloto Roberval Lavor. Sem grandes opções de lazer e cultura a turma do bar fazia os eventos e se divertia com tudo isso. Na verdade todos éramos boêmios contumazes pela metade, que nem o apelido do Dirram.

*Texto publicado em “A Gazeta”, 10.04.2009.

O último voo do Pavão – Crônica porreta de Fernando Canto sobre a história do homem do marabaixo (que partiu há exatos 14 anos)

Crônica porreta de Fernando Canto

Na segunda-feira, 11 de maio de 2009, o mestre Pavão bateu suas belas asas para nunca mais.

O homem do marabaixo partiu para encontrar-se com seus ancestrais, os mesmos que lhe ensinaram a tocar tão bem a caixa, o tambor que anunciava bons augúrios nas tardes do Laguinho. Com ele Pavão comunicava a seus pares, os agentes populares do sagrado, que a festa do Divino e da Santíssima Trindade já tinha início. E todo um ritual deveria ser obedecido, desde o Domingo da Aleluia, passando pelos preparativos da seleção dos mastros nas matas do Curiaú, até a sua derrubada e escolha dos próximos festeiros no Domingo do Senhor. Com ele se foi um arcabouço cultural de grande valia para a memória do nosso patrimônio imaterial.

Foi-se também a sabedoria dos que fazem acontecer as manifestações mais legítimas do povo. E restou apenas o espanto dos que ficaram. Doente, não mais participava ativamente dos eventos do marabaixo como nos velhos tempos, mas sempre dava um jeito de ir em sua cadeira de rodas aos mais importantes, para ouvir o rufar das caixas e ver as saias da negras velhas rodarem sob o ritmo intenso oriundo de além-mar.

Mestre Pavão – Foto: Chico Terra

Pavão levava muito a sério o que fazia no marabaixo. Até brigava por ele. Seu amor pelo folclore certamente foi herdado do avô Julião Ramos, o grande líder negro, que na época da implantação do Território Federal do Amapá disseminou o ritmo e a dança para todo o Brasil. No domingo, véspera da sua morte, sua filha Ana perguntou-lhe se ia ao marabaixo do Dia das Mães na casa da Naíra – uma das festeiras desse ano no bairro do Laguinho. Ele disse que não ia porque estava indisposto, mas mandou todo o pessoal de sua casa para lá, pedindo que não deixassem a ”cultura morrer”. Mal sabiam todos de sua casa que a cultura do marabaixo, nele impregnada, estava morrendo um pouquinho com ele.]

Justo que consideramos a memória como o deciframento do que somos à luz do que não somos mais, a morte é o abismo que tudo leva e engole inclusive o segredo da identidade, aquilo que nos pertence social e culturalmente. Posto isto, quantas conversas não foram abruptamente cortadas numa gravação para um trabalho de conclusão de curso dessas tantas faculdades da capital? Assim sendo, o que restou de seus depoimentos, desse depósito memorial tão importante para que se analise o marabaixo? Ora, sabe lá quantos pesquisadores egoístas guardam suas fitas encarunchadas e vídeos empoeirados que nunca vão se abrir para ninguém?

Mestre Pavão a todos respondia com a maior paciência, paciência esta que aprendeu a ter com a doença intratável que lhe fez perder uma perna. Mestre Pavão dava a todos o seu conhecimento vívido e vivido intensamente em setenta e dois anos de repetição ritualística que a sua memória avivava e exprimia no vai-e-vem dos olhos.

Aqui peço licença poética ao escritor moçambicano Mia Couto que escreveu o “Último Voo do Flamingo”, para parafraseá-lo, dizendo que o nosso pavão alçou seu último voo na tarde amena de maio. Um voo curto, é certo, porque pavões não voam quase nada, mas são aves do paraíso por excelência. Sua luxuriante plumagem em profusão de dourados, verdes e azuis à luz do sol reflete uma miríade de cores, onde o vermelho e o branco parecem estar presentes como se preparando para um desfile da Universidade de Samba Boêmios do Laguinho, a escola do coração do mestre. Convém lembrar aqui que o simbolismo do pavão carrega as qualidades de incorruptibilidade, imortalidade, beleza e glória, que por sua vez se baseia em outro aspecto além destes: a ave é predadora natural da serpente, e em certas partes do mundo, mesmo seu aspecto maravilhoso é creditado ao fato da ave transmutar espontaneamente os venenos que absorve do réptil. Este simbolismo de triunfo sobre a morte e capacidade de regeneração, liga ainda o animal ao elemento.

Fogo, sim, do marabaixo quente, do “Caldeirão do Pavão” com seu caldo revitalizador do carnaval que tanto o mestre amava e por isso se enfeitava nos áureos tempos dos desfiles da FAB. Vai em paz, Pavão, tua plumagem tem cem olhos para vigiar o que deixaste entre nós.

(*) Publicado No livro “Adoradores do Sol”, de Fernando Canto. Scortecci, São paulo, 2010. Minha homenagem a um dos mais importantes divulgadores do Marabaixo.

**Fotos encontradas nos sites do Chico Terra; Rostan Martins; Memorial Amapá (Neca Machado); Tribuna Amapaense e Federação Folclórica do Amapá e jornalista Mariléia Maciel.

***Sobre a história do homem do marabaixo (que partiu há exatos 14 anos)

Escritora, poeta e agente cultural, Pat Andrade, gira a roda da vida. Feliz aniversário, querida amiga!

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Quem gira a roda da vida neste décimo primeiro dia de maio é Patrícia Andrade. Uma mulher admirável e um ser humano sensacional, além de querida amiga minha há mais de duas décadas. E por isso lhe rendo homenagens.

A “Pat” é uma poeta brilhante e autora do livro “O avesso do verso, poemas de mim”, lançado em dezembro de 2021. Uma artista ímpar, versátil, com um coração bondoso, atitude e espírito de luz. Há uma ‘aura’ de poesia que chega junto com a Pat, por onde anda. Além de bela, é talentosa, livre pensadora e, como poucas pessoas que conheço, deu uma guinada em sua jornada. Para melhor, claro. Hoje em dia é um exemplo de superação na vida.

Pat Andrade, há mais de 20 anos, nos saraus de Macapá

Conheci Patrícia Andrade há 24 anos, quando ela desembarcou aqui, no meio do mundo, vinda de Belém (PA), em 1999. Safa, descolada e sem estar ideologicamente presa a nada, Pat se tornou rapidamente “chegada” de todos nós, os malucos da cidade. Logo virou broda de intelectuais, militantes culturais e, é claro, poetas e escritores. A menina sempre se distinguiu por ser inteligente e despudoradamente franca. Aliás, poesia é uma arte que essa linda domina. Patrícia é senhora do ofício de poetizar.

Cheia de papos legais e dona de vasta cultura geral, Patinha é uma mulher cheia de poesia, histórias hilárias, outras nem tanto, e uma trajetória bacana no cenário cultural de Macapá. Além de poeta, trata-se de uma multi-artista, pois ela também se garante nas artes plásticas, escritora/cronista, discotequeira (Vinil-DJ) e produtora de vídeo e ativista cultural. Pat, inclusive, foi uma das fundadoras do movimento do vinil na Floriano e em outros locais desta cidade cortada pela Linha do Equador. Também é figura presente em saraus ou qualquer manifestação cultural e de defesa de direitos da sociedade.

Pat com o filho Artur (esquerda) e com o marido, Marcelo Abreu (direita).

O tempo passou, eu virei um velho gordo e a poupança Bamerindus levou o farelo. A Pat namorou, casou, se tornou mãe do querido Artur, trampou e pirou. Tudo com intensidade e paixão, essas coisas legais que gente como ela faz e acho muito firme, pois sou assim também.

Patrícia é a poeta que mais contribuiu com este site, onde assina a sessão “Caleidoscópio de Pat Andrade”. Além colaboradora talentosa, é uma broda para papos bacanas e desabafos. Uma pessoa que sei que, se precisar, posso contar.

Professor Carlos Haussler, o cartunista Ronaldo Rony, eu e a poeta Pat Andrade, no lançamento do livro “O avesso do verso, poemas de mim”, de autoria da aniversariante, em dezembro de 2021.

Outra coisa porreta sobre Andrade é que ela se reinventou, começou a cuidar da saúde física e mental. Essa virada de chave é algo lindo de constatar. Hoje, casada com o também poeta Marcelo Abreu, a amiga vive feliz, com seu esposo e filho. Como diria Raulzito, ela não quer mais andar na contramão. Sempre vejo a querida postar em suas redes sociais fotos de atividades físicas, entre outras coisas bacanas e penso: será que um dia eu conseguirei? Enfim, se ela tá feliz, eu tô feliz.

Pat também cursa Letras na Universidade Estadual do Amapá (Ueap), mas poderia dar aula, de tanta sintonia que tem com as palavras e com a língua portuguesa. A obra poética de Patrícia Andrade é resultante de uma mistura de vivências, amores, dores, tudo em tom de confissão.

Eu e Pat, no Luau na Samaúma, em 2018.

A poesia de Pat Andrade é um passeio emocional entre as esquinas da arte e da vida, quando sentam para conversar. Há o ritmo do Equador e uma ternura própria, em suas linhas. Além de tudo dito e escrito, a Patrícia é uma pessoa que sei que posso contar. Amigos assim são bem raros. Ela é Phoda! E eu a amo como uma irmã.

Patrícia, minha querida, que teu novo ciclo seja ainda mais produtivo, saudável, rentável e que tudo que couber no seu conceito de felicidade se realize. E que tua vida seja longa, por pelo menos mais uns 100 maios. Parabéns pelo teu dia e feliz aniversário.

Elton Tavares

*Texto republicado, mas de coração.

Pétalas de chuva – Crônica de Márcia Corrêa – @marciamazonia

Pétalas de chuva – Crônica de Márcia Corrêa

Era assim a madrugada com ausência da chuva, silenciosa, desatenta, acabrunhada. É a chuva que lhe dá sentido, eleva sua valsa de rumores para a condição de hino dos amantes, dos amores, dos rubores e pecados inocentes. Sem a chuva, a madrugada é oca. Sem a pele do inverno, desidrata a lágrima da Amazônia.

Então, é em si uma trégua para que a gente de todo lugar sinta o calor do abandono com tanta força, que a solidão de ser vida se faça grito na sofreguidão. Ainda que o abandono não seja de verdade, enquanto o que houver por dentro de cada um for mistério, transformação.

Só a chuva é capaz de explicar a infinitude, a incompletude das horas, necessário caminho mais sólido que o fim da madrugada. Porque ela, a madrugada, solfeja ao vento enquanto se dissolve imperceptível, haurindo delicadamente o esplendor do dia.

Então não há fim, muito menos começo. Mas, haverá sempre o recomeço para mostrar que o amor é a estrada sagrada e sem aflição. O amor é o lago das pétalas de chuva respingadas com a sutileza da perfeição. É o que é, desde que o arremedo da paixão se cure na sabedoria.

*Publicado originalmente no Blog Papel de Seda, em 24 de janeiro de 2013.
**Márcia Corrêa é jornalista, servidora pública e ativista cultural.

Cicuta-beer – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Acordo bêbado.

Ato ao pescoço minha corda-gravata rosa de bolinhas azuis e vou encarar meu sórdido e rentável emprego: espantalho das plantações de eletrodomésticos de Madame Nero.

Nas horas vagas, vou alimentar a coleção particular de Madame Nero, seus bichinhos de estimação: quinhentos e vinte e oito rinocerontes prateados que se alimentam exclusivamente de algodão doce.

Volto para casa cansado, mas cantarolando.

Vejo muitas pessoas na Praça Transcendental.

Entre mendigos e bêbados, encontro Morfeu dormindo num banco de mármore, abraçando uma garrafa quase vazia de cicuta-beer. Está coberto por vários jornais futuros que deixam ler, em manchetes imensas, a abolição dos ponteiros e dos relógios, dos arquivos e dos escritórios e anunciam A Grande Libertação do Dia.

Respiro aliviado a fumaça do rush e ciscos voadores invadem meus olhos. Mas nada mais tem importância. A vitória da Fraternidade Cósmica está garantida e seremos todos felizes.

Jogo meus tênis e tédio e temores na lata de lixo, me misturo aos bêbados e mendigos e passo a esperar o grande show dos Incendiários das Nuvens.

Ronaldo Rodrigues

Hoje é o Dia Nacional da Matemática – minha crônica de calendário de hoje

Hoje, 6 de maio, é o Dia Nacional da Matemática e dos matemáticos. Lei aprovada pelo Congresso Brasileiro em 2004, a data é celebrada por conta do nascimento de Malba Tahan, pseudônimo do professor de matemática Júlio César de Mello, em 1895.

Ele é o autor de um dos maiores sucessos literários do assunto no nosso país, inclusive o romance “O Homem que Calculava”, já traduzido para 12 idiomas.

Segundo o conceito: “A matemática é a ciência do raciocínio lógico e abstrato. A matemática estuda quantidades, medidas, espaços, estruturas e variações. Um trabalho matemático consiste em procurar por padrões, formular conjecturas e, por meio de deduções rigorosas a partir de axiomas e definições, estabelecer novos resultados.

A matemática vem sendo construída ao longo de muitos anos. Resultados e teorias milenares se mantêm válidos e úteis e, ainda assim, a matemática continua a desenvolver-se permanentemente”. Enfim, ninguém vive sem a Matemática, os números e tals.

Mas, além de encher linguiça para a sessão “datas curiosas” deste site, este post é pra contar uma coisa: odeio matemática. Sempre odiei. Aliás, fui reprovado algumas vezes e nas outras passei raspando – isso na recuperação.

É. Foi um longo Ensino Médio – que, na época, chamávamos de Segundo Grau. Sem falar nas dificuldades de molequinho. Me achava o burro dos burros. Nem as aulas particulares com o professor Edésio (gostava muito daquele coroa) e Gurjão (outro amigo que não vejo há tempos) fizeram com que este jornalista aprendesse a fazer contas direitinho.

Além de gostar de escrever, a Matemática Financeira foi um incentivo e tanto para eu largar o curso de Administração e Marketing. Graças a Deus, tudo deu certo. Afinal, a vida não é, como a Matemática, uma ciência exata. Nós é que sabemos o que soma e o que nos subtrai.

Portanto, querido leitorado, que deixemos de estar divididos e subtraídos de solidariedade, respeito, entre outros sentimentos. Que somemos uns com os outros a empatia. Que se multiplique o amor e a esperança, para que sigamos a dividir alegrias.

Elton Tavares

Frases, contos e histórias do Cleomar (Primeira Edição de 2023)

Tenho dito aqui – desde 2018 – que meu amigo Cleomar Almeida é cômico no Facebook (e na vida). Ele, que é um competente engenheiro, é também a pavulagem, gentebonisse, presepada e boçalidade em pessoa, como poucos que conheço. Um maluco divertido, inteligente, gaiato, espirituoso e de bem com a vida. Dono de célebres frases como “ajeitando, todo mundo se dá bem” e do “ei!” mais conhecido dos botecos da cidade, além de inventor do “PRI” (Plano de Recuperação da Imagem), quando você tá queimado. Quem conhece, sabe.

Assim como as anteriores, segue a Primeira Edição de 2023, cheia de disparos virtuais do nosso pávulo e hilário amigo sobre situações vividas (e inventadas) pela cara

Falta água

Tem um pessoal lá na repartição que normalmente já anda de kool sujo, imagina agora, com essa falta de água.

Vida real e teledramaturgia

E se a vida real fosse que nem as novelas da Globo? Um monte de gente ruim, sacaneando um monte de abestados, tu ias ser da turma dos ruins ou dos abestados?

Dia do Trabalhador

Sobre o Dia do Trabalhador:

Não adianta dizer que vai embora pra Santa Catarina pq aqui não tem oportunidade e continuar acordando meio dia, com aquela preguiça monstra que te acompanha a vida toda.

Capivara

Se soltarem essa capivara aqui perto de casa, do jeito que ela tá gordinha, ela não dura três minutos.

Remédio & Novela

Glória Perez tomou o mesmo remédio que o Bozo tomou quando ela escreveu essa novela, tava doidona!

Histórias da Vida

Das histórias da vida:
Lembro de um dia que na correria demorei pra ir buscar o Leonardo na escola, chegando lá, atrasado, estressado e cansado resolvi descontar no moreno.
– Ei Leonardo, quando tu crescer, tu vais começar a pagar todo esse dinheiro que eu tô gastando contigo!
Leonardo, com uns seis anos de idade concordou sem pestanejar mas fez um breve questionamento:
– Ei papai, quanto é que o senhor tá pagando pra vovó? Só pra eu saber!
Até hoje não respondi.

Emprego

Queria ter um emprego igual ao do Vitor Pereira, ex-técnico do Flamengo, onde eu ganhasse milhões pra fazer merda, de fazer merda eu entendo, ia dar certinho

Kilão

Dia desses, na fila do churrasco do “Kilão”, o cidadão logo a minha frente chega no churrasqueiro e diz: “Chefia, aquela carne beeeem assadinha que quem gosta de sangue é o vampiro”. O distinto assador revira os espetos oferecendo os mais diversos e suculentos cortes e nada agrada ao filho do Cramulhão, até que este avista um pedaço semidesidratado, já tipo galho de árvore esturricado, que faz brilhar os olhos do dito cujo. Escolhida a carne os pedidos continuam: “Chefia, agora aquela toscana de frango especial que eu não sou judeu, mas também não como nada de porco”, isso tudo dito em alto som, como se alguém quisesse saber dos gostos daquela raridade. Solicitação logo atendida pelo funcionário que educadamente aproveitou e ofereceu um vinagrete de cebola e alho ao hematófobo que de pronto responde com um ar bonachão: “Se eu comer um troço desse não vou poder beijar ninguém hoje por conta do bafo”.

Adiantei-me um passo e resolvi olhar na cara do Brad Pitt e foi fácil perceber que ele podia sim, comer aquele vinagrete de alho todo, inclusive a semana toda se quisesse. Cara feiaço, chato pra car4lho, não seria de forma nenhuma o bafo de cebola a sua dificuldade pra conseguir beijar alguém, fdc!

Águas de Março

Que as águas de março levem os filhos de puta que com elas vieram. Acreditem, não foram poucos.

Colheita

Queria me lembrar quando foi que eu plantei tanta filhadaputisse pra essa colheita toda, fdc!

Convivência

Eu faço uma falta enorme, mas minha ausência também é motivo de muito alívio, quem já conviveu comigo sabe, eu sou o cão!

Gênese

Suponho que quando da Gênese , Deus deu uma cota de bichos pra o capeta criar, destes surgiram o cupim de asa, as moscas, os carapanãs, as baratas, as formigas e os motoqueiros que cortam a descarga da moto.

ETs

Outro dia conversando com um amigo sobre os mistérios do universo, ETs e outras besteiras ele me disse:
– Negão, não vão ser os ETs que vão exterminar a gente, vão ser os carapanãs, eles vão comer a gente vivo.
Acho que já é chegado o juízo final, aqui em casa, tem uma base de 5 mil pra cada morador.

Homofobico

Hoje fui apresentar uma nova instalação, um novo espaço pra acomodar o pessoal da repartição e do nada alguém diz: Essa sala não vai dar certo, não tem janelas, fulano é homofóbico, ele não consegue ficar em locais fechados. Aí realmente complica!

Ressaca

E eu, que acordei numa ressaca violentíssima, com uma sede infernal, fui na geladeira e vi uma jarra cheia, achei que era suco, dei uma golada, quase morro, era caipirinha, fdc!

Hoje é o Dia Mundial de Star Wars – Que a Força esteja conosco! #MayThe4thBeWithYou

Hoje, 4 de maio, é o Dia mundial de Star Wars! A data foi escolhida devido a um trocadilho com a célebre expressão “May the Force be with you”. May (maio) the Fourth (dia 4) be with you.

A primeira alusão ao termo “May the 4th” aconteceu em maio de 1979 quando o partido conservador parabenizou a eleição de Margaret Thatcher como a primeira mulher ministra da Inglaterra, com um anúncio no jornal The London Evening News que dizia: “May the Fourth Be with You, Maggie. Congratulations.”

Durante uma entrevista em 2005, para o canal N24 de notícias da TV alemã, pediram ao criador de Star Wars, George Lucas, que ele falasse a famosa frase “Que a Força esteja com você.”

O intérprete simultaneamente interpretou a frase em alemão como Am 4. Mai sind wir bei Ihnen (“We shall be with you on May 4”, em português, “Vamos estar com você em 4 de maio”). Isso foi captado pela TV Total e foi ao ar em 18 de maio de 2005. [Wikipédia]

Em 2011, a primeira celebração organizada do Dia de Star Wars aconteceu em Toronto, Ontário, Canadá no Cinema Subterrâneo de Toronto.

As festividades incluíram um Game Show de Trivia sobre a Trilogia Original; um concurso de fantasias com os júri composto por celebridades; e a exibição em tela grande dos melhores filmes, mash-ups, paródias, e remixes da web. A segunda edição anual aconteceu na sexta-feira, 4 maio de 2012.

De fato, é uma data em que a Força está presente nos fãs de Star Wars. Neste dia costuma-se rever os filmes, falar as frases mais famosas dos personagens, ou cantarolar Imperial March.

Coisas simples, mas que fazem o 4 de maio uma data memorável para todos os fãs, pois são mais de 40 anos de fascínio pela série de filmes fantásticos. Eu sempre fui fascinado pelo fictício universo dessa saga. E que a Força esteja conosco!

Elton Tavares

Resenha porreta do livro “A visita cruel do tempo”, de Jennifer Egan – (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

A VISITA CRUEL DO TEMPO – Por Lorena Queiroz

Antes de começar a falar sobre essa obra, quero contar a história de como ela chegou até minhas mãos. Ganhei esse livro de presente de um amigo muito amado, mas com quem eu já me vi aos socos verbais. A gente já se odiou e voltou a se amar em segundos, pois é isso que o tempo faz com as relações. Gostei tanto do livro que resolvi comprar um exemplar para presentear outra pessoa. Escrevi a dedicatória em um movimento quase intuitivo, não lembro exatamente, mas era algo como; “Dance e abrace em meio ao caos”. Acredito que se eu fosse o tempo, seria o conselho que eu daria a qualquer pessoa. Pois não isso que ele espera da gente?

Dito isso, vamos ao livro.

A visita cruel do tempo é uma obra escrita em 2010 pela autora estadunidense Jennifer Egan. Vencedor do prêmio Pulitzer e descrito pela revista Time como o novo clássico da ficção norte-americana.

O romance conta as estórias de um grupo de pessoas que estão ligadas não apenas pelo fio do destino, mas acima de tudo conectadas pela música. A música é um fator muito importante dentro da trama, pois as ligações mais profundas e inesperadas se dão por esse amor. O mundo do Rock´n´roll e a indústria musical são ambientes perfeitos para que as personagens desenvolvam suas percepções sobre si e sobre o mundo que as cerca. Temas como juventude, escolhas, erros e acertos são discutidos entre um passado nebuloso e desilusões futuras. As relações entre pais e filhos e como cada decisão reflete na vida de cada um.

A narrativa não tem linearidade temporal e tampouco é feita por um narrador apenas. A trama se desenvolve em capítulos narrados por personagens diferentes que apresentam suas estórias e a cada capítulo o leitor conhece mais um pouco sobre cada um deles. Com o avançar da leitura as estórias se entrelaçam e passamos a encontrar personagens que já temos alguma intimidade, pois ela já narrou o capítulo anterior. E essa estrutura escolhida pela autora faz com que você crie uma conexão ainda maior com cada personagem, estória, amores e dissabores que o leitor encontrará não apenas no decorrer da leitura, mas também em seu próprio livro de memórias. Assim, passamos a conhecer Bennie Salazar, um executivo bem-sucedido da indústria musical, mas que na juventude já tivera uma banda fracassada e o coração destruído. Bennie que quando jovem conheceu Rhea, Jocelyn, Alice, Marty, Scotty e Lou, este último que era rico e bem mais velho que os demais do grupo quando os conhece. Bennie então se casa com Stephanie e tem como assistente a cleptomaníaca Sasha. Todas as estórias são soltas e, como já dito, não lineares, mas que se entrelaçam e seus fragmentos formam uma outra trama ao fim. inclusive alguns personagens aparecem e tem os desfechos de suas vidas em um parágrafo, mas isso não os torna menos importantes na dentro da estória, pois estão entrelaçados nas vidas de outras personagens e, assim, o tempo vai cumprindo seu papel e tecendo destinos.

O livro em inglês recebeu o nome de A visit from the Goon Squad. A expressão Goon Squad é utilizada para denominar grupos contratados com intuito de promover intimidações e violência contra outros grupos que eram ligados às greves por busca de direitos nos EUA. Algo sugerido pela autora como se o avançar do tempo viesse com igual violência e perversidade incontrolável.

Alguns leitores podem julgar que Bennie é o protagonista do livro, mas na minha opinião, a personagem principal dessa estória é o tempo. De como ele avança com certa violência, onde você vê aquele seu amigo tocando baixo em uma garagem e lembra que hoje ele tem uma lapide. A memória do ângulo de visão que você tinha de seus pais na infância e a angulação que a idade adulta te trouxe do espelho, as linhas de expressão e os cabelos brancos. Ou como aquela pessoa alegre e com o entusiasmo dos imprudentes e que termina seus dias acorrentado a uma cama de hospital. Todas as transformações incontroláveis que o tempo traz. Tudo acontecendo no exato momento em que nada é percebido. John Lennon certa vez disse que a vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos. E é isso, somos tão idiotas, uma legião de imbecis soberbos que não percebem que, em cada música e cheiro que trazem uma lembrança, a vida está tentando nos dizer que ele passa, o tempo. E ainda assim continuamos a insistir em protelar ações, sentimentos, erros. E isso tudo por medo e orgulho do não.

Esse é um livro sobre continuar. Continuar apesar de tudo e de todos. Continuar a despeito de todas as mudanças, as desejadas e não desejadas. Coisas esperadas e inesperadas. Erros e acertos, e como essas decisões reverberam no destino. Mas acima de tudo é sobre como existir e viver dentro do minguar de seu próprio tempo. A legião disse um dia; ‘’Somos tão jovens”

* Lorena Queiroz é advogada, escritora, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além de prima/irmã amada deste editor.

A primeira vez do tricolor Braga no Mangeirão – Por Rebecca Braga – @rebeccabraga

Por Rebecca Braga

Era terça-feira e eu e o velho Braga, inexperientes nas aventuras futebolísticas, saímos de casa por volta das seis da tarde para ir até o estádio Mangueirão, reformado e moderno, para acompanhar o jogo Paysandu X Fluminense pela Copa do Brasil.

O caminho, que leva não mais de 40 minutos em dias de trânsito normal, levou quase 1 hora e meia mas, ainda assim, chegamos antes do jogo começar.

Enquanto caminhávamos até o portão que dava acesso ao setor de cadeiras A1, destinado à torcida do Fluminense, sentia essa tensão dentro de mim. Medo da violência (inclusive policial), preocupação com o bem estar do meu pai, e também excitação.

Era a minha primeira vez num estádio e eu, que sou Flamenguista e sempre sonhei em ver o Mengão no Maracanã, estava indo a um jogo do Flu contra o meu rival paraense Paysandu. Sim, também sou Remista. Ambas paixões eu divido com meu tio Fabio Lucio.

Eu já ouvi muitas críticas a respeito da minha torcida ao Flamengo, seja por ele ser um time carioca, seja por questões políticas. Sobre a última meu pai, sabiamente, me disse uma vez: “Não se pode confundir o time e seus torcedores com sua diretoria”. Assumi isso pra mim desde então.

Certo é que também não se explica o amor pelo time do coração. Ele simplesmente acontece, te arrebata, te tira lágrimas, gritos e gargalhadas.

Mas eu mesma não levo futebol à sério. Se alguém me perguntar a escalação ou o técnico do Flamengo em 1997, eu não faço a mínima ideia e, honestamente, não me importa. Vez ou outra eu vou saber qual a colocação do time na tabela, o resultado do último jogo ou talvez a última contratação. Mas o que me importa mesmo é vê-lo jogar. “Seja na terra, seja no mar…”

Meu pai, ao contrário, vê todos os jogos. É conhecido por torcer de maneira bastante entusiasmada, com gritos e palavrões.

No estádio ele chegou tímido e dando passos calculados, mas feliz igual uma criança. Percebemos que o lugar onde íamos ficar era bem perto do campo, logo atrás do gol do Paysandu. Se o Fluminense marcasse no primeiro tempo, a gente veria de pertinho.

O gramado verde, a onda azul celeste nas arquibancadas, o amontoado singelo de camisas grená, as luzes… Era tudo muito impressionante e eu sou do tipo que acha tudo isso divino maravilhoso.

Os times entrando ao som de vaias e aplausos, as crianças de mãos dadas com os jogadores, os letreiros luminosos de propaganda e o placar gigantesco me faziam crer que estávamos mesmo vendo dois times incríveis entrando em campo: o melhor e o desafiante da casa.

Acontece que no estádio tudo é diferente. Não tem a narração gritando Rrrrrrrrrs infinitos e soltando comentários como “é ele, Kennedy, o presidente”.

Toda a emoção você administra acompanhando a bola com os olhos e se deixando levar pelo grito da torcida. Dentro do meu peito eu sentia a pulsação dos bumbos e surdos que soavam ininterruptamente na torcida do Papão. É o tipo de coisa que quase te coloca em transe.

Papai distraiu a frustração de ter esquecido o radinho de pilha que usaria para ouvir o jogo com os meus comentários de “ele chutou pra fora”, “escanteio, pai, é o Ganso que vai bater”, “a juíza deu falta pro Paysandu”. E assim eu consegui contar um pouquinho do que estava acontecendo em campo pra ele que quase não enxerga.

1 gol. 2 gols. Mudamos de lugar pra acompanhar o time no ataque e, faltando 15 minutos pro jogo acabar, decidimos deixar o estádio pra tentar uma saída mais tranquila. Quando chegávamos ao portão o barulho da torcida anunciava o terceiro gol do Fluminense. Que sorte a nossa, hein?

Os gritos de “e-li-mi-na-do” da torcida tricolor nos arrancou risos, e o silêncio na torcida do Paysandu dava um pequeno vislumbre da tristeza de quem, até o fim, acreditou. Valeu, Papão.

Eu que não sou muito crente pensei: “Obrigada ao Deus do futebol por esse dia”. E lembrei-me de Galeano no seu primoroso Futebol ao sol e à sombra:

“E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre – sem me importar com o clube ou o país que o oferece.”

Nem sempre nos garantimos – Crônica de Elton Tavares – *Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”

Ilustração: Ronaldo Rony

Crônica de Elton Tavares

Em 2012, fui convidado por uma amiga para falar sobre o lance de ser editor de site. Era uma palestra ou algo parecido. Expliquei-lhe que minhas atribuições e horários não permitiriam que eu aceitasse seu convite, mas adorei. Afinal, é um reconhecimento. Ano passado, outro convite sobre o tema e para outra instituição de Ensino Superior.

Logo, lembrei que, há tempos, disse à uma jornalista: “nem sempre conseguimos ser brilhantes”. Acredito mesmo nisso (pior é quem nunca é). Como falar em público de uma atividade que não sei se domino bem? Como ensinar sem saber? Aliás, sou péssimo nesse papo de falar em público.

Conheço muita gente que escreve bem pra caramba. Inclusive pessoas que não são jornalistas, blogueiros, professores, advogados ou seja lá qual a área de atuação que exija (no mínimo) uma redação “marrômeno”. Aliás, sou fã dos textos de várias figuras amapaenses. Eles usam o hemisfério esquerdo do cérebro e conseguem redigir as coisas de forma diferente, irreverente ou não, mas sempre inteligente.

Voltando ao convite, como falar das minhas opiniões, meus “achismos”, minhas conclusões (às vezes errôneas e precipitadas) e minhas imposições, sobretudo musicais? Esse negócio é sério. Muito sério. Pois são as minhas verdades e pontos de vista.

No “De Rocha” falo de coisas sérias, divulgo cultura, publico poesias, músicas, fotografias, ajudo na cena artística, entre outras “paideguices”. Mas, se der na telha, escrevo ou publico doidices e até coloco palavrões nos escritos.

“Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos”, dizia o saudoso Millôr Fernandes.

Sou fã dos blogs e sites que possuem conteúdos jornalísticos e culturais. Existem páginas com muita qualidade. Mas detesto aqueles que são meramente repetidores de textos de terceiros. Se você se propõe a ter uma página na internet, escreva!

Ser editor de um site é ter sacada, emitir opinião, dar a cara a tapas, ter responsabilidade para não difamar e jamais se achar o dono da verdade. Adoro o fato de minha página eletrônica ter caído nas graças de muitos leitores.

Escrevo, quase sempre, de improviso.

Mas há períodos de entressafra das ideias, em que fico sem inspiração diante do computador. São os e-mails com releases culturais ou informativos, além dos meus colaboradores, que me salvam. Quem dera fosse só querer e baixasse o espírito de Rui Barbosa e eu começasse a redigir como um gênio.

Seria firmeza!

Trocando em miúdos, aqui discutimos o sexo dos anjos, falamos de coisas sérias, de jornalismo, diversão e arte. Mas também perdemos tempo com bobagens. Por que não? Sempre brinco e digo que sou um jornalista de bastidores, pois apurar e escrever é tranquilo. Já falar em público, rádio ou TV, é difícil. Aceito a limitação e gosto de como trabalho.

Sei que tem muita gente preparada para falar sobre blogs, jornalismo e o mundo midiático. Eu não. Acredito que é preciso humildade para assumir quando não nos garantimos sobre alguns temas. Afinal, nem sempre nos garantimos ou somos brilhantes. Pelos menos não como algumas pessoas acham que somos.

É isso. Bom resto de quarta-feira para todos nós!

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em 2021.