Sinto que estamos sós e acompanhados, Somos a multidão de solitários, Desfigurando nossos calendários… Fode-se o tempo em coitos apressados. Não mais amamos nem somos amados, O amor é caro e cobra seus salários À virgem puta, ao velho dos armários, Aos pervertidos nos sinais fechados. O egocentrismo é a face carrancuda De nosso autoamor e ódio também. Não vislumbramos o que esteja além De nossa ponta de nariz aguda. Ninguém estenderá sua mão de ajuda… É cada um por si, e Deus por ninguém.
No Marabaixo da Favela recebi tua carta escrita num pedacinho do céu. Quando a manhã chegar dourando o dia pego emprestado um raio de sol com ele te escrevo a resposta numa pétala de flor e te mando enfeitadinha com um laço de amor.
penso que agora me encanto mais com o céu olho ainda mais para as árvores e flores sinto cada vez mais a intensa noite e consigo ver melhor o brilho das estrelas
absorvo luzes e tons capto cores e matizes e começo a perceber que desvendar Van Gogh é cortar a própria orelha
“Semente de Sangue” é o nome do primeiro romance do escritor Gabriel Yared, que está em produção pela Editora Corvus. O livro entrou em campanha de pré-venda desde o dia 4 de junho. A obra tem como protagonismo o LGBT+ e negro, que trata do colonialismo e da escravidão como fonte de cicatrizes que perduram até hoje na sociedade.
Sinopse:
Depois da morte do pai,de quem não têm boas lembranças, Carlos e Adriana estão de volta à sua cidade natal para o velório. O que deveria ser a última despedida do passado infeliz em Mazagão Velho, torna-se uma perigosa aproximação de fantasmas há muito esquecidos.
Enquanto Carlos confronta decisões que impactarão diretamente o futuro da fazenda e das famílias que dependem dela, sente o passado e a culpa o consumirem por um crime que não cometeu. Thiago, seu filho, está determinado a descobrir a origem sombria das tragédias que acompanham a família. E, à medida que se aproxima a tradicional festividade de São Tiago, Madeleine, filha de Adriana, se vê cada vez mais consumida por forças plantadas com uma injustiça de séculos sob aquelas terras.
As sombras sussurram ao redor dos Guimarães, chamando-os para perto do antigo poço.
Sobre o autor
Gabriel Yared é macapaense e nasceu em maio de 2000. Amante do terror e da fantasia, escreve desde os nove anos. Teve contos selecionados para antologias de ficção científica, terror, horror e romance, gêneros nos quais sempre busca expressar sua origem nortista e suas vivências como LGBT+.
Lançamento
O livro está em campanha de pré-venda até o dia 24/06 no Catarse através do link https://catarse.me/sementedesangue. Os envios aos apoiadores devem ocorrer em agosto deste ano.
A consciência minha de que te amo Não te faz consciente de ser amada, O que sinto não te alcança, estás cansada, E não ouves minha voz quando te chamo. O delírio ardente da febre que inflamo Já não te faz delirar, estás gelada. Chegamos ao fim do tudo, enfim, do nada; E te fazes surda aos versos que declamo. O futuro que te dei não é presente, Todo o tempo é corrosivo, e eu me perdi Na casa assombrada que fiz para ti. É aqui onde sinto teu vulto diariamente, Eu vejo teu corpo, mas estás ausente, Fugiste de mim sem precisares ir.
Hoje eu larguei a bengala de lado. Depois da queda não quero adquirir o vício do apoio para que ele vire permanente.
Assim como o jogador pendura as chuteiras, eu vou guardar a bengala para o esforço necessário da velhice se um dia dela vier a precisar.
Hoje eu larguei o meu terceiro pé, mais que um enigma esfíngico. Largo meu entendimento seguro pelas estradas que ando, sob o desespero mortal de um ser monstruoso que se jogou do precipício quando eu me dispus a enfrentar meu destino e, vejam, o meu passado, viajando por águas de diversas cores e volumes, de sabores e profundezas.
Larguei, sim, um objeto de angústia e lassidão e o pendurei num cabide atrás da porta, como um cigano que tem teto e não se vale mais das noites estreladas para sonhar e amar.
A bengala deixará de me apoiar para que eu, já calcinado pelo tempo, ache no fulcro da terra e no calor da vida a solidariedade e o amor pulsante da humanidade. Assim, esse instrumento que nasceu da madeira torneada, e que me deu segurança no caminho também me tornou digno de olhar para trás.
Com isso deixarei diluir em mim antigos sentimentos calcificados no coração e anzolarei em gestos bruscos, de ruptura, os mais diversos símbolos que a própria academia não conseguiu interpretar no empirismo de seus laboratórios e dos seus paradigmas positivistas.
É um objeto muito útil a bengala. Sua curva da extremidade recebe a mão para sustentar o apoio do andar do pé deficiente pelos caminhos sinuosos e empedrados da cidade.
Ah, um olhar seguro não cabe mais nos olhos. Até a baixa luminosidade do anoitecer e o intenso brilho do nascer do sol remetem ao uso extremo do objeto que deixei de lado.
Mas hoje eu aposentei minha bengala. Dela não mais quero dependência ou vício. Por onde andei com ela cavei no chão pequenos buracos nos quais semeei sementes de perdão, após cansadas viagens.
Depois, por cima desses rios de minha terra, eu a inverti definitivamente em minha vida para transformá-la em âncora.
*Crônica de 2017, após o amigo Fernando Canto se recuperar de um acidente e finalmente parar de usar sua bengala.
Quando me perguntam se ainda te amo Não sei muito bem o que dizer. Acho o questionamento incômodo, mas não reclamo, Estou começando a construir o que responder.
Existem duas pessoas que são uma só: Uma é quem tu te tornaste. A outra, é com quem me relacionei e agora é pó, Graças às mudanças que realizaste.
Essa pessoa de um cotidiano não tão remoto É de quem eu guardo o máximo de carinho possível, Que de vez em quando recordo por alguma foto, Antes de ter ficado tão irreconhecível.
Amo-te, pois, por nossa história, Dos dias de chuva em que dançavas de camisola, Pelas vezes que cravaste em minha memória Um sentimento pleno que hoje é esmola.
Amo-te, sim, pela bela lembrança Das tardes de sol em que ensaiavas piano, Pelas vezes em que pus no dedo tua aliança (Um eterno e frustrado plano).
Amo-te, dessa forma, pela recordação bonita Das noites abafadas no quarto escuro Em que, à meia luz, te vi despida Nas sombras em relance de um corpo quase maduro.
Amo, portanto, os cafés da manhã Que tomávamos junto a meus pais. Quando, por diferenças milimétricas, me chamavas de anã E me abraçavas trazendo um oceano de paz.
Amo-te por teres me apresentado um novo conceito E me inspirado para tantos contos, Crônicas, poemas, e até um soneto Perdido em meio a vários desencontros.
Amo-te, enfim, para sempre, – Mas a pessoa por quem me apaixonei e abriu minhas portas de aço -. E quem sabe um dia, de repente, Eu consiga outra vez enxergar algum traço.
Amo, assim, o passado De uma outrora saudosa. No presente, duas estranhas e um coração quebrado Sendo remendado de maneira forçosa.
Amo infinitamente o pretérito De algo que já acabou: Quando te vejo, sussurro sem mérito: Now you’re just somebody that I used to know.
Hoje entrei no quarto da minha filha de onze anos e ela, enquanto dobrava umas roupas, assistia na TV um clipe do A-ha. Eu sempre soube que ela é uma menina um pouco estranha (e quem não somos?), mas saber de mais esta preferência dela me fez adicionar mais uma característica a reformulação diária em saber quem elas são, por isso trabalho no que serão. Mas será que realmente eu saberei algum dia, acertadamente, quem ela, você ou eu realmente somos?
Quem me conhece sabe, minha cabeça anda meio surtada nestes tempos pandêmicos, o que me faz ir nos lugares mais sombrios e divertidos, por isso cheguei no escritor italiano e ganhador do prêmio Nobel de literatura, Luigi Pirandello, mais exatamente na obra Um, nenhum e cem mil. O personagem Moscarda, enquanto olhava sua imagem no espelho, é informado por sua mulher que seu nariz era torto e ele nunca teria percebido.
A partir daquele momento ele percebe que as pessoas tinham uma imagem dele que era dissociada da imagem que lhe refletia o espelho. Experimente pedir para alguém fazer um avatar seu, pontuando suas qualidades e defeitos nele, e por fim, seja sincero em sua avaliação quanto a assertividade dele. O fato é que nós somos alguém para nossa mãe, alguém para um amigo no trabalho, outra pessoa para determinado amigo e, a despeito de qualquer coisa, um filho da puta pra alguém. Sim, ninguém nunca escapa disso. Mas será que cada uma destas pessoas que você é representado, em cada um, corresponde a quem você realmente é?
Vivemos em uma sociedade que é regida por costumes sociais que mudam, se alteram e se reformulam o tempo inteiro. Acredito que seja por este necessário eterno ciclo de mudanças que fica mais difícil ser livre para ser quem somos, ou melhor, para mostrar quem nos tornamos. Que vai desde um modismo á um conservador que tem dificuldades de viver com as mudanças, bem como aqueles que tem vergonha de dizer que mudaram de ideia. Aquilo que chamamos de julgamento. E é este o ponto, nos tornamos mais um todos os dias. Pirandello, através de Moscarda, diz na mesma obra que, os acontecimentos do passado são as piores e mais injustas das prisões. Pois ficamos eternamente presos á eles. Você pode não ser mais àquela pessoa que cometeu determinado ato no passado, mas para alguém, você sempre será conhecido por algo que não mais te pertence, seja pra bem ou para mal. A personalidade que temos é algo muito mais pessoal e que temos a necessidade de ponderar ou até mesmo polir, pelos costumes que já mencionei anteriormente. Menino não chora, veste azul. Essas coisas. Ou você não fumar na frente da sua mãe. Não minta, sabemos que é bem mais que respeito. Até porque esse respeito também é proveniente do que nos foi ensinado onde vivemos.
Ter a consciência de saber quem somos para nós e para o mundo, será sempre difícil pela própria volatilidade das coisas. Zygmunt Bauman, disse que você tem que passar a vida redefinindo a sua identidade, porque o estilo de vida que é considerado bom por um, não é nada para o outro. E que as coisas atraentes mudam tantas vezes nas nossas vidas. Quem será você na semana que vem?
Mas mesmo assim, nos temos uma identidade que apresenta pistas algumas vezes, nós temos a tendência de nos aproximarmos de pessoas que, a princípio, se assemelham á nós. Pessoas que se juntam por que reconhecem umas nas outras um pouco do que são, ou do que querem ser. Sabe aquela máxima: “um tatu cheira o outro”. Pois é, a gente tem necessidade de ajuntamento com quem nos identificamos, mas mesmo assim, quantas pessoas diferentes tem aí na tua roda de amigos? E quantos tem a mesma imagem um do outro? E isso nunca deveria ser problema para ninguém porque sabemos que somos diferentes. E a gente sempre vai ter um guardado para uma novidade que vai surgir.
No filme Eu, eu mesmo e Irene, Hank Evans, a segunda personalidade e total oposto de Charlie, toma seu corpo e reage violentamente aos abusos que as pessoas cometiam costumeiramente contra Charlie. Na minha opinião nada técnica e só para fins de achismo mesmo e interpretação lúdica, todos nós carregamos um Hank dentro de nós, não falo de um louco, mas de outros que vão surgindo conforme o rumo que as coisas tomam para cada um.
Ainda dentro deste contexto lembrei de um episódio de uma animação, Hora de aventura. O personagem Rei gelado, quando ainda era Simon, estava em um apocalipse zumbi. Portava uma coroa que o transformava em Rei gelado e lhe dava poderes. Ele protegia Marceline ainda criança. Mas a cada vez que ele colocava a coroa, a personalidade de Rei gelado tomava um pouco mais o corpo de Simon, até Simon sumir. Ele fez isso pelo amor a Marceline, o que foi lindo, mas ele se perdeu dele mesmo. Acabou por se tornar um vilão. E o triste é que ele não se lembra quem ele foi.
É didático revisitar quem fomos, nos ajuda a rever ações, opiniões e até saldar algumas dividas consigo mesmo. Assim como é importante ter a consciência que cada um é muito mais do que se vê. Mas o mais importante, para mim, é ser fiel a quem vamos nos tornando a cada dia e sempre estar de braços abertos para o próximo que virá depois de uma música que se descobre, ou de um livro que nos apresentou mais uma parte de nós. Somos metamorfoses ambulantes, agora toca Raul.
O poeta amapaense Thiago Soeiro vai lançar em uma “live” poética a primeira obra impressa dele, hoje (11), às 20h30. “Salva-Vidas” é um livro que reúne 36 poemas escritos desde 2013, que falam principalmente sobre o mar.
Integrante do grupo lítero-musical Poetas Azuis, Thiago Soeiro busca usar a poesia para “salvar” o leitor afogado na dor, na saudade, no amor ou em problemas pessoais.
Na obra de leitura leve, o autor conversa com a poesia cotidiana e expõe a relação afetiva que tem com o mar, de água salgada e doce também. Para o poeta, o livro é a concretização de um sonho. “’Salva-vidas’ fala muito de mim como poeta e como pessoa, e carrega muitos sentimentos bonitos construídos nestes anos que me dedico à literatura”, descreveu.
A obra também terá conteúdo digital. Um áudio book será disponibilizado nas principais plataformas de áudio, a partir do dia 18 de junho. Serão 14 poemas interpretados pelo próprio Thiago Soeiro.
A “live” de lançamento da obra será pelo instagram @duastelasproducoesap e terá como convidados os poetas Aline Monteiro, Carla Nobre, Pedro Stkls, e ainda Joãozinho Gomes, Aquila Emanuelle e Janete Lacerda.
“Salva-vidas” foi publicado através da Lei Aldir Blanc, por meio do edital Carlos Lima “Seu Portuga”, da Secretaria de Estado da Cultura do Amapá (Secult), com realização de Duas Telas Produções.
O livro pode ser adquirido pelo valor de R$ 25, com o próprio autor, através do número (96) 98140-4994 ou pelo Instagram @tgsoeiro.
Sobre o autor
De sangue e vivência nortista, Thiago Soeiro nasceu em Belém (PA) em 1989 e mora em Macapá (AP) desde 2008. Ele é jornalista e poeta que busca popularizar a literatura através dos poemas escritos e falados. Os primeiros escritos começaram a ser publicados em 2009, através do blog Amor Cafona, onde manteve atualizado quase que diariamente até 2012, com cartas e poemas de amor.
Da web para os palcos, em 2011, Soeiro passou a atuar como “dizedor de poesia”, ao fundar o grupo lítero-musical Poetas Azuis. Com a poesia falada, ele já se apresentou em feiras e festas literárias no Amapá, Pará, Alagoas, Bahia e Rio de Janeiro.
Já teve oportunidade de integrar a exposição “Poesia Agora”, do Museu da Língua Portuguesa em 2015. Além disso, em 2020 lançou o projeto “Livro dos Ipês” que contou com áudio book, e-book e ainda tradução em vídeo para a Língua Brasileira de Sinais.
Serviço:
Lançamento do livro ‘Salva-vidas’, do poeta Thiago Soeiro
Data: 11 de junho de 2021 (sexta-feira)
Horário: 20h30
Instagram: @duastelasproducoesap
quando eu te madrugava, mesmo as noites sem lua não pareciam assim tão escuras … já não te amanheço, e os dias têm sido cada vez mais cinzentos … agora, quando entardece, logo, logo, anoiteço…