poema para dias difíceis
tenho habitado
subterrâneos
e ainda assim
a lua mais bonita
me acompanha
vivo dias cinzentos
sob céus muito azuis
escancaro mil bocas
de escárnio
com beijos inesquecíveis
ouço canções de amor
mesmo sob as balas
de uma guerra diária
e antiga
garimpo entre os destroços
diminutas razões
pra viver
o sorriso
tímido e quebrado
num portarretrato
a florzinha seca
num livro velho
o poema ruim
rabiscado na camiseta
a folha arrancada aos prantos
do diário adolescente
decido não parar
de sonhar
mesmo que já
não consiga dormir
vou aprendendo
que não preciso
desistir de mim
mesmo que tudo pareça
irremediavelmente ruim
Pat Andrade