ele não era meu pai mas bem que poderia eu o chamava de Painho e era tratada como filha
meu amor por ele se confunde com noites e madrugadas perdidas se mistura com cerveja e cigarros esquecidos se expressa em poemas e canções nunca ouvidas
meu amor por ele se renova em manhãs e tardes de domingo se alimenta nos almoços e sobremesas servidas e não morre em mim mesmo com sua partida
Em 1960, Harper Lee publicou um clássico da literaturara norte-americana, um homem inocente era condenado não por sua cor mas pela necessidade da manutenção do outro no topo da cadeia das opressões. Em 2002, Fernando Meireles lança o filme Cidade de Deus, aclamado pela crítica internacional, um verdadeiro capítulo da nefasta herança colonialista, o nascimento das favelas cariocas. Uma obra-prima manchada de sangue disse Samuel L. Jackson. Em 2020, um homem negro sem antecedentes criminais é condenado pelo crime de roubo, a prova estava _seguramente_ na cor de sua pele…
O Fernando e o Canto. O Fernando é cultura. O Canto é Sarro. O Fernando é Inteligência. O Canto o Sábio. Dois seres, iguais vivendo em um corpo só. Como caldo temperado. Boemia, Laguinho. Fernando o Branco, o Canto Negro. A alma permanece sem divisórias. Fernando História. O Canto estória. Mesclando sensatez e esbórnia. A perfeição do ser em dois nomes. Sorrisos, poesias, notas e lágrimas. Tal qual o Carnaval. Um peça perfeita a sempre ser lembrada.
Com poemas que falam de amor, vida, morte, solidão, tristeza, entre outros sentimentos, Pat Andrade encanta o seu público com a sutileza do seu trabalho na literatura. Ela fará apresentação nesta quinta-feira (27), a partir das 19h45, no Macapá Verão On-line, por meio das redes sociais da Prefeitura de Macapá. Acompanhe.
Pat Andrade é uma poeta amazônida, nascida em Belém (PA), e mora em Macapá há 21 anos- onde escolheu viver. Aos 49 anos, já publicou dezenas de livros e tornou-se um dos principais nomes na cena literária amapaense.
O trabalho da poeta também chama a atenção pelo aspecto artesanal que ela mesma dá a cada livro. Todos os livros físicos são feitos à mão por ela; desde a concepção, ilustração, diagramação (usando a técnica de colagem), montagem e comercialização. Às vezes manuscritos, outros digitados.
“Todos são artesanais. Em alguns, uso sobras de papel e papelão, recortes de revistas, entre outros materiais. Uma peculiaridade do meu trabalho é que cada pessoa que compra um livro virtual decide quanto vai pagar por ele”, conta.
Depois do livro pronto, ela mesma os vende em bares, restaurantes, escolas, universidades e eventos culturais – a venda ajuda na renda familiar desde 2007.
A autora é colaboradora do site De Rocha!; tem poemas publicados na coletânea Jaçanã – Poética Sobre as Águas e na revista virtual de circulação nacional Literalivre e na Agenda Cultural editada em 2013.
Em 2018, realizou a exposição intitulada Poesia Ilustrada, na Biblioteca Estadual Elcy Lacerda, como parte da programação da Primavera de Museus daquele ano. A mesma exposição foi montada também na Universidade Estadual do Amapá (Ueap), a pedido do Colegiado de Letras da instituição.
Em 2019, compôs a Comissão Avaliadora da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa na Escola Vó Olga – no município de Mazagão – a convite da Comissão organizadora da OLP no Amapá.
Atualmente, Pat é acadêmica do curso de Letras na Ueap e se considera uma militante da literatura. Independente de remuneração, visita instituições de ensino e frequentemente é convidada para rodas de conversa, mesas redondas e debates para contar de sua vivência. Também participa de eventos literários e culturais, os mais diversos, levando poesia aonde ela couber.
Alguns profissionais e estudantes da área de Letras já têm estudos sobre suas obras, (concluídos ou em andamento). Sua poesia também tem sido discutida e estudada (em pequena escala) em instituições públicas de ensino, por iniciativa pessoal de alguns professores e alunos da Universidade Federal do Amapá (Unifap), no curso de Letras do Campus de Santana; em escolas de ensino médio, de Belém e Macapá.
Recentemente, seu trabalho foi incluído no Grupo de pesquisa Poesia Contemporânea de autoria feminina do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste do Brasil, realizado pela Universidade de Rondônia (Unir). Ela também é membro fundadora do grupo Urucum, coletivo de artistas que já realizou várias intervenções urbanas.
Obras
Obras publicadas: fanzines (Poemas, que nada Vol. I e II; Nostalgia; Um quarto de poesia; Olhar 43; Noites sem fim; Sétima esquina; Estilhaços de agosto; Antes da primavera; Para além das flores; Onze poemas; O Próximo poema; Fragmentos, O amor anotado em bilhetes; Quando há poesia; Fantasias poéticas; Subverso; Uma noite me namora; Poesia de brincadeira; Poesia e só; Vidas baratas; Único – poemas escolhidos).
Também possui os seguintes e-books: Uma noite me namora; Em tempos de lonjura – ilustrado e editado pelo iniciante Artur Andrigues; e delírios & subterfúgios – o mais recente, diagramado pela própria Pat.
A poeta não para e já possui obras em fase de produção, são elas: Do Lado de Dentro (livro virtual) e Borboletas de Algodão (projeto classificado em 1° lugar – Categoria B, no Edital Circula Amapá/Secult-AP). Em outubro deste ano, está prevista sua participação em um simpósio de literatura, realizado pela Unir.
Confira alguns poemas de Pat Andrade:
MUITAS EM MIM
minha linha
do horizonte
me divide,
me recorta,
me retalha.
não em duas,
mas em várias…
além dela,
sou menina,
sou mulher;
sou Anna
Karenina,
sou a Virgem
de Nazaré.
Sou Matinta,
sou Iara;
sou floresta
e sou mata.
sou Maria Bonita
e Madre Teresa;
sou tempestade
e correnteza.
Pat Andrade
Troca Injusta
te dei as memórias do tempo; te ofertei os segredos do mundo; te fiz uns poemas de acaso; te mostrei as verdades da vida; te concedi as visões da morte…
em troca, me deste apenas uma caligrafia ruim na carta de despedida…
Em cada marco um conceito de cicatriz Nessas paragens onde apago A vela das almas.
Acredita! Nas segundas ou nas sextas Tenho que despachar encruzilhadas E me serpentear na brisa.
Teimo no onirismo da reconstrução
Ora, eu via dutos Via láctea Via cruzes E avestruzes mastigando o caminho Das estrelas
Quem era eu? O fardo dos guindastes? Um porto que abriga as meretrizes? Quem antes de mim Jazia nas sepulturas das pontes Nas partes açodais do fundo? Eu era, sim, um ranço rebuscado de alfazema E me volatizei com o vai-e-vem das docas
Fui. passei pelos guindastes freuds E fálicos.
Lembro que afaguei sete cidades com minhas mãos fustigadas pelo vento
Naqueles dias de então Em Izapa, em Yucatán Sobre símbolos piramidais do sol Vi deuses-cavaleiros cortando pescoços Era um mês triste, não sei se maio ou maia Era um mês E reluzia um ouro avermelhado
Por um triz, acredita, Não mergulhei num ventre me perguntando se eu era eu ou um ente Que pelo mundo fechou as mãos de medo
Eu ferro via Eu rodo via Eu aero via E via um mar Na face esquerda dos passantes
Hoje, crê em mim, Existe um sonho de Oz Onde o espantalho se move E um ser de lata toca flauta
Pois, nesta tinta virada em pensamento E amargo em minha angústia Ainda creio Que o sonho do gato É pegar o pássaro.
Fernando Canto
*Poema do livro “Um Pouco Além do Arquipélago, Onde Acho Que Deus Mora”.
Exuberante o gato de Porcelana olha Ana esfregar-se exangue no Conto Esplêndido de Lulih Rojanski. O gato que nos olha da estante ilumina a noite com seus dentes de Marfim. The End, sente aqui…vamos cear, nesta noite de breu, estamos todos nus. Nada nos tira daqui, nada nos leva para o passado, a não ser a saudade de Ontem pregado nestas fotografias três por quatro que fixei na parede do quarto, onde a memória balança suspensa na solitária teia de aranha.
Nada mais nos resta a não ser o olhar míope de mamãe diminuído atrás de grossas lentes de grau. Para mim o Mercado de almas, vai abrir as seis horas da manhã. Para os Escoteiros atravessando o rio agitado sobre a ponte, nunca abrirá. Os dromedário continuarão a atravessar o deserto sem reclamar do calor. Um gato lhes olha de cima da Esfinge e finge que o Sol é um floco de neve e se derrete na sua seca língua.
Algumas Poetas agora são Esfinges. Acreditam na doçura do fel. Em Manhattam as pulgas assustadas com o som apático do violino de Paganini, saem do Palco. Em transe os outros Gatos, distantes do Close de Hittchoch, fogem para o Norte. Uma moeda de cem réis. Uma moeda de cem réis. Gritam dos telhados. Sob luas apagadas, devendo muitas contas de luz, para a Enel.
Luiz Jorge Ferreira
*Poema criado após ler e aplaudir, de pé, um belíssimo Conto de Lulih Rojanski. Osasco (SP) – 25.08.2020.