Era esplendor e fúria Era rosa de fogo Como a cor dos seus cabelos Na boca, palavras de ordem Nas mãos, a bandeira No peito, a estrela Lutas e batalhas Que pareciam infindáveis E incansáveis A cansaram E a cronologia das más escolhas Desbotaram um pouco a sua cor O seu semblante mudou A pétala quase murchou O que era doce e o que não era Quase se acabou… Flor-mais-que-humana Mas, quis Deus Em sua misericórdia Que a luz divina pairasse novamente sobre ela Segurando suas mãos Guiando seus passos E seus traços E o brilho dessa luz a regou Até a sua raiz E nas noites de lua cheia Se via o brilho querendo sair E saiu E brilhou E sorriu E reagiu A poesia fluiu E a curou A letra se perpetuou E a alegria nos olhos voltou… É tão bom ver que a flor ainda aflora Ainda nos cinge de beleza Aqui E pelo mundo afora Nos encantando de certezas De que tudo ficou para trás Tudo que um dia foi desespero Hoje é alimento É sustento É poesia Minha poetisa Sua voz se concretiza E se embeleza Como riso novo Da rosa cor do fogo
A poeta amapaense e professora de francês da rede pública de ensino, Aline Monteiro, 34 anos, está em contagem regressiva para o lançamento do seu primeiro livro. O e-book “Os Olhos da Máquina” será lançado ainda este ano e contará com poemas que revelam toda a sensibilidade da poeta com as palavras.
Aline cuida de cada detalhe do livro digital que traz poemas que expressam sentimentos como amor e saudade, traduzidos com a genialidade e sutileza da autora. O livro revela o olhar fotográfico na poesia, ao registrar cenas, gestos, cores, amores e impressões por meio de um poema.
“Como um fotógrafo faz a captura da imagem, um poeta registra as informações sobre a poesia. O livro nasceu do anseio de dar aos meus poemas um lugar, uma casa,” conta Aline.
A poeta sempre teve um encanto especial pelas palavras. Quando criança, absorveu o gosto da leitura que seu pai e sua irmã sempre tiveram, tudo foi um processo muito natural para ela que escreveu seus primeiros poemas aos 10 anos de idade.
ua carreira como poeta começou em 2008, no blog “Outros Carnavais”. No ano seguinte, criou o blog “Viva Voz”. Seus poemas também podem ser apreciados nas coletâneas: Poesia.com- Poesia na Boca da Noite – Poetas Contistas e Cronistas do Meio do Mundo.
Ela participou, ainda, de eventos literários no Amapá e em outros estados, entre eles: Feira do Livro do Amapá- FLAP (2014); Programação da “Maré Literária” (2017); e Feira Literária de Uauá, na Bahia (2019).
“Sou uma pessoa que resiste por meio da palavra. São muitos os escritores que admiro e que de alguma forma ajudaram a construir meu estilo: Manoel de Barros, Eliude Viana, Adélia Prado, Toni Morisson, Elisa Lucinda, Conceição Evaristo, e os Poetas Azuis – Thiago Soeiro e Pedro Stkls, a quem faço um especial agradecimento por ter escrito a apresentação e diagramado meu livro”, agradece.
Confira o poema inédito do livro “Os Olhos da Máquina”:
O QUADRO
Herdei teu desespero por paixões em desalinho amor desmanchado à força mas que aos pedaços ainda pulsa Besteira morrer por quem não sonha a gente mas sofrer nos tira da rota confunde o destino O problema é não sofrer e tentar achar todos os dias o defeito no quadro torto.
Uma linda leoa, felina, malina Quer me conquistar., que me fantasiar, quer me fazer dançar, que me vestir de azul, quer me levar, e estender no sol.
Uma leoa mansa, finge, cantar um Blue, conta de onde eu vim, mente sobre o que fui, planta no meu quintal, sonhos que nem sonhei, cria estranhos sons , de cantos que nem cantei.
Mas eu me escondo atrás dos montes, dentro das palavras, e se ela me achar, que me ache… Sem reação, um capacho, estendido , imóvel , estranhamente…Leão.
Ó mar, de pele e olhos azuis, Recebe a chuva de meu pranto, Que não te pese como cruz Como a mim pesa tanto, tanto. O sal, que em ti tanto reluz, Dos olhos meus transborda e mina Por meus irmãos frágeis e nus Que cantam prece em cada esquina.
Esse abandono só produz Humilhação e desencanto, Que o abandonado se reduz A um nada frio jogado ao canto. E o nada assim se reproduz, Erva insistente que germina Na contramão, em contraluz, No fértil chão de cada esquina.
Ratos, baratas, urubus Fazem festins de horror, enquanto Humanos passam nus e crus E se comungam pelo espanto De ver que a sorte que os conduz É teia tensa, é rede fina, Um labirinto à meia-luz De compra e venda em cada esquina.
O Inferno, em Dante, não traduz, Nem a Tragédia mais Divina Pode expressar os ais e uis Da dor que escorre em cada esquina.
Ela não sabe dizer “meu bem” O amor é algo desfigurado Sem proporções, sem peso, sem nada O amor é farsa da ilusão do tempo O amor é lento Feito a morte. Ligeiro feito a morte.
O amor é traça na parede Que se alimenta do velho que temos em nós. O amor é um travesseiro sem recheio Um tapete com nódulos Um guarda-roupa sem lógica, mas com história. Eu te amo na imperfeição No passo mal dado No sono sem sonhos Na saudade….
E quero que o amor, Não este nem outro meu, Seja a eternidade De te querer bem Como jamais se possa querer Fora do amor. Fora de ti Fora de mim, meu bem!