Poema de agora: O poeta e o amor – Pat Andrade

O poeta e o amor

o poeta quando ama
faz versos em árvores
faz versos-pétalas
faz versos-flores
poemas frágeis

o poeta quando ama
faz versos com asas
faz versos-pássaros
faz versos-nuvens
poemas leves

o poeta quando ama
faz versos improváveis
faz versos-noites
faz versos-dias
poemas suaves

o poeta quando ama
é – todo ele – desamparo
faz amor com versos
faz amor com frases
poemas raros

Pat Andrade

Poema de agora: Seiva de Energia Radiante – Isnard Lima

Foto: Max Renê

Seiva de Energia Radiante

O bairro de Santa Inês,
Santa flor da madrugada,
É princesa de olhos tristes,
Maresia, virgem, estrada

Quando vejo seus cabelos,
Minha Santa, minha flor,
Fico triste de repente
Ou exalo só amor.

Pára o verbo, seca a seiva,
Vibra a noite, flui a cor.
O Bairro de Santa Inês,
É o bairro do meu amor!

Isnard Lima

Poesia de agora: PARA UMAs PESSOAs QUE CONHECI QUE ODEIAm LIVROS E POETAS – Manoel do Vale

PARA UMAs PESSOAs QUE CONHECI QUE ODEIAm LIVROS E POETAS

A palavra silenciou
profundamente o grito dos ignorantes
calou a boca dos cães raivosos

a palavra vestiu-se de poesia
poesia dura como pedra milenar
e atirou-se à cabeça dos farsantes

esses aí cheios de pose e de doces

a palavra
enquanto poema
atirou-se como flecha
ao coração dos infelizes

matando suas tristezas.

Manoel do Vale

Poema de agora: Rosa de fogo – Marcelo Autobahn (para Pat Andrade)

Rosa de fogo

Era esplendor e fúria
Era rosa de fogo
Como a cor dos seus cabelos
Na boca, palavras de ordem
Nas mãos, a bandeira
No peito, a estrela
Lutas e batalhas
Que pareciam infindáveis
E incansáveis
A cansaram
E a cronologia das más escolhas
Desbotaram um pouco a sua cor
O seu semblante mudou
A pétala quase murchou
O que era doce e o que não era
Quase se acabou…
Flor-mais-que-humana
Mas, quis Deus
Em sua misericórdia
Que a luz divina pairasse novamente sobre ela
Segurando suas mãos
Guiando seus passos
E seus traços
E o brilho dessa luz a regou
Até a sua raiz
E nas noites de lua cheia
Se via o brilho querendo sair
E saiu
E brilhou
E sorriu
E reagiu
A poesia fluiu
E a curou
A letra se perpetuou
E a alegria nos olhos voltou…
É tão bom ver que a flor ainda aflora
Ainda nos cinge de beleza
Aqui
E pelo mundo afora
Nos encantando de certezas
De que tudo ficou para trás
Tudo que um dia foi desespero
Hoje é alimento
É sustento
É poesia
Minha poetisa
Sua voz se concretiza
E se embeleza
Como riso novo
Da rosa cor do fogo

Marcelo Autobahn, para Pat Andrade

Aline Monteiro lançará seu primeiro livro de poemas (Sucesso, @Alyne_Monteiro!)

Aline Monteiro – Foto: Pedro Stkls

Por Paula Monteiro

A poeta amapaense e professora de francês da rede pública de ensino, Aline Monteiro, 34 anos, está em contagem regressiva para o lançamento do seu primeiro livro. O e-book “Os Olhos da Máquina” será lançado ainda este ano e contará com poemas que revelam toda a sensibilidade da poeta com as palavras.

Aline cuida de cada detalhe do livro digital que traz poemas que expressam sentimentos como amor e saudade, traduzidos com a genialidade e sutileza da autora. O livro revela o olhar fotográfico na poesia, ao registrar cenas, gestos, cores, amores e impressões por meio de um poema.

“Como um fotógrafo faz a captura da imagem, um poeta registra as informações sobre a poesia. O livro nasceu do anseio de dar aos meus poemas um lugar, uma casa,” conta Aline.

A poeta sempre teve um encanto especial pelas palavras. Quando criança, absorveu o gosto da leitura que seu pai e sua irmã sempre tiveram, tudo foi um processo muito natural para ela que escreveu seus primeiros poemas aos 10 anos de idade.

ua carreira como poeta começou em 2008, no blog “Outros Carnavais”. No ano seguinte, criou o blog “Viva Voz”. Seus poemas também podem ser apreciados nas coletâneas: Poesia.com- Poesia na Boca da Noite – Poetas Contistas e Cronistas do Meio do Mundo.

Ela participou, ainda, de eventos literários no Amapá e em outros estados, entre eles: Feira do Livro do Amapá- FLAP (2014); Programação da “Maré Literária” (2017); e Feira Literária de Uauá, na Bahia (2019).

“Sou uma pessoa que resiste por meio da palavra. São muitos os escritores que admiro e que de alguma forma ajudaram a construir meu estilo: Manoel de Barros, Eliude Viana, Adélia Prado, Toni Morisson, Elisa Lucinda, Conceição Evaristo, e os Poetas Azuis – Thiago Soeiro e Pedro Stkls, a quem faço um especial agradecimento por ter escrito a apresentação e diagramado meu livro”, agradece.

Aline Monteiro – Foto: Manuela Cavada

Confira o poema inédito do livro “Os Olhos da Máquina”:

O QUADRO

Herdei teu desespero
por paixões em desalinho
amor desmanchado à força
mas que aos pedaços
ainda pulsa
Besteira morrer por quem
não sonha a gente
mas sofrer nos tira da rota
confunde o destino
O problema é não sofrer
e tentar achar todos os dias
o defeito no quadro torto.

Fonte: Portal Égua, mano!

Poema de agora: O céu de muitos – Weverton Nelluty

O céu de muitos

O Céu
Pinta a cor
Do Azul
Mais Anil.

O céu é um destemor
O avio esplendor do que olha
Do que sonha
Ou daquele que nada quer.

O céu é tudo
É o imperador sem voz
É o rasgo do Além
O além de Deus.

O céu troveja
Chora
Clareia
Almeja
Voa…

Vislumbra tudo de lá
Leva alguns
Deixando saudade em muitos…

O céu é o único lugar longe
Que trás pra perto,
Trás lembranças
Saudades

De cima
O céu tudo vê
E daqui olhamos sem entender
Que lugar é esse?

Como alguém
Que no coração mora
Pode se furtar
Pra tão longe de nós?

Weverton Nelluty

Poema de agora: ODE UMBILICAL – Ori Fonseca

Ilustração: Maternidade, óleo sobre tela, de Lasar Segall (1931).

ODE UMBILICAL

Maria, minha amada,
Morada minha, berço meu pulsante,
Meu ponto de chegada,
E de partida amante,
Minha primeira rede balançante.

Eu lembro-te menina
Sorrindo para que eu também sorrisse
Mirrando a pele fina
Do seio que me unisse
À vida de prazer, dor e sandice.

Que foi que aconteceu,
Que tudo não passou de um breve dia?
Caí do colo teu
A gritar de agonia:
Não te afastes de mim jamais, Maria.

Ori Fonseca

Poema de agora: Enquanto – Jaci Rocha

Enquanto

Enquanto
O passo vence o espaço
Para a solidão do abraço
Encobrar-se em par

Em quanto
Apenas desfaço
Esqueço e reponho laços
Alheia ao tic tac do relógio…

Enquanto
Descubro quem sou agora
Depois de não acreditar em fadas
Na magia das páginas encantadas

E deixo apenas a vida ser vida…

Em quanto
A vida sopra seu ar
E o tempo muda as folhas de outono de lugar
E volto a respirar e acreditar

Em cada sonho que deixei na estante,

Enquanto volto a tecer as asas
Para o voo de meus sonhos

…Enquanto! Em quando!

Jaci Rocha

Poema de agora: Correndo em Círculos – Luiz Jorge Ferreira

 

Correndo em Círculos

Uma linda leoa, felina, malina
Quer me conquistar., que me fantasiar, quer me fazer dançar, que me vestir de azul, quer me levar, e estender no sol.

Uma leoa mansa, finge, cantar um Blue, conta de onde eu vim, mente sobre o que fui, planta no meu quintal, sonhos que nem sonhei, cria estranhos sons , de cantos que nem cantei.

Mas eu me escondo atrás dos montes, dentro das palavras, e se ela me achar, que me ache…
Sem reação, um capacho, estendido , imóvel , estranhamente…Leão.

Luiz Jorge Ferreira

Poema de agora: ALGUMAS TROVAS – Ori Fonseca

ALGUMAS TROVAS

Vaguei mil vidas no espaço
Para encontrar o meu bem;
Fui amarrar o cadarço,
Perdi a moça e meu trem.

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Meu bem pediu-me obra-prima
Trovando o amor pela noite.
Mas como assim? Com que rima?
Com pernoite, afoite, açoite?

————————————–

Tudo morre sem petróleo,
Diz o rico vagabundo.
Mas que será desse óleo,
Se antes morrer todo mundo?

————————————–

A vida depois da morte
É vantagem pra quem crê;
Se existe, legal, que sorte.
Se não, não há o que perder.

Ori Fonseca

Poema de agora: BEM QUERER – Pat Andrade (para sua mãe, Assunção Andrade)

Patrícia e Assunção. Amor de mãe e filha.

BEM QUERER

quero derramar
poesia no teu cotidiano
declamar meu amor

quero dar cor às palavras
pra alegrar teu canto
e secar teu pranto

quero capturar raios de sol
que te iluminem
os dias cinzentos

quero movimentar os ventos
pra soprar as tuas dores
para onde não te alcancem

quero te oferecer
jardins etéreos
te desenhar mil flores

quero te fazer sorrir
te fazer sonhar
com dias melhores

quero que toda a palavra
nos sirva para fazer o bem
pra ti e pra mim também

Pat Andrade, para sua mãe, Assunção Andrade.

Poema de agora: BALADA DA DIVINA TRAGÉDIA – Ori Fonseca

Ilustração: Jornal da Educadora.

BALADA DA DIVINA TRAGÉDIA

Ó mar, de pele e olhos azuis,
Recebe a chuva de meu pranto,
Que não te pese como cruz
Como a mim pesa tanto, tanto.
O sal, que em ti tanto reluz,
Dos olhos meus transborda e mina
Por meus irmãos frágeis e nus
Que cantam prece em cada esquina.

Esse abandono só produz
Humilhação e desencanto,
Que o abandonado se reduz
A um nada frio jogado ao canto.
E o nada assim se reproduz,
Erva insistente que germina
Na contramão, em contraluz,
No fértil chão de cada esquina.

Ratos, baratas, urubus
Fazem festins de horror, enquanto
Humanos passam nus e crus
E se comungam pelo espanto
De ver que a sorte que os conduz
É teia tensa, é rede fina,
Um labirinto à meia-luz
De compra e venda em cada esquina.

O Inferno, em Dante, não traduz,
Nem a Tragédia mais Divina
Pode expressar os ais e uis
Da dor que escorre em cada esquina.

Ori Fonseca

Poema de agora: DA EXEGESE DO AMOR – Ori Fonseca

DA EXEGESE DO AMOR

Ela não sabe dizer “meu bem”
O amor é algo desfigurado
Sem proporções, sem peso, sem nada
O amor é farsa da ilusão do tempo
O amor é lento
Feito a morte.
Ligeiro feito a morte.

O amor é traça na parede
Que se alimenta do velho que temos em nós.
O amor é um travesseiro sem recheio
Um tapete com nódulos
Um guarda-roupa sem lógica, mas com história.
Eu te amo na imperfeição
No passo mal dado
No sono sem sonhos
Na saudade….

E quero que o amor,
Não este nem outro meu,
Seja a eternidade
De te querer bem
Como jamais se possa querer
Fora do amor.
Fora de ti
Fora de mim, meu bem!

Ori Fonseca