O Resgate – Crônica de Fernando Canto

 

Alguns verão em ti uma caricatura
E sedentos da carne voltam sempre o rosto
À anônima elegância da humana ossatura.
(Charles Baudelaire – Dança Macabra)

 

Quem és tu, mulher da noite úmida, azulada de semáforos clandestinos, arquetípica e idolatrada por todos os bêbados bisonhos de risos ortodônticos. Teu lugar é a resposta para os meus anseios ecológicos que ora jazem na pedra do IML, inertes e sem pronúncias de palavras, assim, clivadas no porradal de um dia de depressão e raiva que eu deslembro.

Teus pés outrora um ponto de apoio ficaram presos na grade da janela quando os rotwaillers te encurralaram no jardim que abriste após quebrares a tramela da cancela oculta, que só tu sabias depois de mim.

Nenhuma entrada é tão fácil de acessar no meu jardim se a vigilância for um policial dopado de angústia e solidão, penetrado de sóis artificiais na madrugada. E teimas, tu, mulher de ranço impregnado nas tuas veias, em lacerar meu coração outrora transplantado e agora retalhado a faca e costurado com a singela singer do subúrbio, em tempo de equinócio, com a linha do equador.

Ora, eu que cheirei as “Fleurs du Mal” e vi a destruição dos meus tentames literários ao constatar ainda hoje que “sans cesse à mês côtes s’agite le Démon”. Meus olhos eram os de Charles, que viera um dia de Mitilene e Lesbos, após poético colóquio com Terpandro, Arião e Safo.

Ora, eu que fiz libações de vinho – um Charles Heidsieck Blanc, safra 1995 – e gestuei peripécias fesceninas no caneco dos generais (ainda que trague as marcas do peito lacerado, esfolado da tortura), hoje sou um enigma esfíngico/ paranoico à mercê dos binóculos, um eremita cadavérico que se transforma em relógio e vaga na escuridão que , ainda bem, já se dissipa no jardim onde estão os cães e a tua sombra na cancela. Fiz tudo por ti, eu juro. Eu juro. Não sou mais vigilante de mim mesmo. Refuto o ardor do Santo Graal e me embebedo de antigas memórias contemplando o inútil renascer de tua ternura, algo que me deves e não naturalizas em mim devido a tua fobia do Hades, ainda que me queiras Cérbero.

Ora, teu coração está cheio de peste, catorras pretas e joaninhas coloridas. Teu coração parece estar traspassado à espada, à ambição do ouro e a um avião de sexo, onde chupas testículos de chumbo e gozas com a penetração das asas de um serafim.

Quem és tu, mulher bendita, que regurgitas pelos poros sonhos inefáveis, que arrota preces e ofereces sexo em troca do amor fugaz – pérola trincada no mar do teu remorso?

Ora, um insight veio e eu me lembrei de que o amor tem a consistência do mercúrio, que é chuva em terra plena quando eu me separo ouro de ti. Eu avanço ao pólen, ao orvalho sobre tuas ramagens. Eu tenho pressa, eu vou, eu vou, eu vou. Eu vou dourado de manhãs jogando a sombra longa nos significados das lamas gulosas que deixei nas velhas trilhas. Resgatado pelas rutilantes luzes do equador eu vou. Eu vou, cônscio, amalgamado de poesia. Eu vou, eu-lírico e sem rastros.

Algo me espera.

Eu me visto, então, de branco e prata; amarro meus cadarços e vou. E só, sou líquido, sou água do Amazonas, sou vinho de bacaba, sou – às vezes – um açaí do grosso, farinha de estrelas na imensa nebulosa que avisto, pois é noite.

Eu me preparo, desamordaçado e belo como nunca, para embarcar na nave que o Cósmico enviou e que pousou dentro de mim.

Jornalista José Menezes gira a roda da vida. Feliz aniversário, brother!

Com o aniversariante do dia.

Sempre digo que o jornalismo me trouxe muitos amigos. Alguns inimigos também, mas isso faz parte. Também costumo dizer que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Neste vigésimo terceiro dia de março, gira a roda da vida o amigo José Menezes. O “Zé Menê” ou “JoZeca”, é um desses grandes caras que essa profissão me fez ter consideramento e por isso lhe rendo homenagens.

JoZeca é meu colega de trabalho na Secretaria de Comunicação do Tribunal de Justiça do Amapá. Ele e o também velha guarda e igualmente brother, Ricardo Medeiros, formam uma dupla imbatível na apresentação da Judicirádio, rádio web do TJAP.

Eu, Berna, Zoseca e Mamed – Trampo e amizade.

Profissional rodado, ele foi repórter, redator e apresentador de vários telejornais locais, em diversas emissoras. Também atuou em jornais impressos e assessorias de imprensa. Em 2011, trabalhei com o Zé Menê na Comunicação do Governo do Amapá.

Menezes é talentoso e experiente profissional (com décadas de carreira), mas também um pai e avô amoroso e dedicado. Ah, e amigo dos amigos, pois é um cara prestativo e uma figuraça, de tão engraçado e espirituoso.

José Menezes e Ricardo Medeiros, a melhor dupla de apresentadores do Amapá.

Em resumo, José é um amigo batalhador, trabalhador, inteligente e mestre em tirar sarro de tudo, de todos e até dele mesmo. A gente sempre ri com o cara e do cara (até quando a nossa irmã de vida e chefona, Berna, tira o nosso couro de tanto trampo).

Ah, ele é um excelente imitador. É cômico demais quando o sacana começa a “arremedar” falas e trejeitos de amigos ou figuras públicas. A gente se diverte com o “Latrel”.

Ao longo de mais de uma década após nos conhecermos, construímos uma amizade bacana, com muito respeito e parceria. Reforço que tenho respeito e muito consideramento pelo Jozeca, pois é um mano demais paidégua!

Jozeca, tenhas acima de tudo, SAÚDE, pra gente voltar a molhar a palavra. Que teu novo ciclo seja ainda mais feliz, produtivo e iluminado. Que sigas pisando firme e de cabeça erguida em busca dos teus objetivos, sempre com esse sorrisão e alto astral contagiante, além de paciência invejável, senso de solidariedade e coragem. Que tudo que couber no teu conceito de sucesso se realize. Que a Força sempre esteja contigo. E que tua vida seja longa, repleta de momentos porretas. Você merece. Parabéns pelo seu dia. Feliz aniversário!

Elton Tavares

É, eu gosto! – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bençãos e Canalhices Diárias”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Eu gosto de fotografar, de beber com os amigos e de ser jornalista (talvez, um dia, um bom). Gosto de estar com minha família, do meu trabalho e de Rock And Roll. Eu gosto de café, mas só durante o trabalho, enquanto escrevo. Gosto de sorvete de tapioca, de cerveja gelada e da comida que minha mãe faz. Também gosto de comer besteira (o que me engorda e depois dá um arrependimentozinho).

Gosto de sorrisos e de gente educada. Eu gosto de gente engraçada. Gosto de bater papo com os amigos sobre música, política e rir das loucuras que a religião (todas elas) promove. Eu gosto de chuva e de frio. Gosto de futebol. Gosto dos golaços e da vibração da torcida.

Gosto de ir ao cinema, de ler livros e de jogar videogame. Gosto de rever amigos, mas somente os de verdade e de gente maluca. E gosto de Macapá, minha cidade.

Eu gosto de ser estranho, desconfiado, briguento e muitas vezes intransigente.

Sim, confesso que gosto.

Gosto de viajar, de pirar e alegrar. Gosto de dizer o que sinto. Às vezes, também gosto de provocar. Mesmo que tudo isso seja um estranho gostar.

Gosto de encontros casuais, de trilhas sonoras e de dar parabéns. Gosto de ver o Flamengo ganhar, meu irmão chegar e ver quem amo sorrir. Também gosto de Samba e do Carnaval. Gosto de ouvir o velho Chico Buarque cantar – ah, como eu gosto!

Eu gosto de explicar, empolgar, apostar, sonhar, amar, de fazer valer e de botar pra quebrar. Ah, eu gosto de tanta coisa legal e outras nem tão legais. Difícil de enumerar.

Eu gosto de ler textos bem escritos, de gols de fora da área, de riffs de guitarra bem tocados, de humor negro e do respeito dos que me cercam.

Gosto de me trancar no quarto e pensar sobre a vida. Gosto quando escrevo algo que alguém gosta. Gosto mais ainda quando dizem que gostaram.

Eu gosto também de escrever algo meio sem sentido para a maioria como este texto. Eu gosto mesmo é de ser feliz de verdade, não somente pensar em ser assim. Gosto de acreditar. Como aqui exemplifico, gosto de devanear, de exprimir, de demonstrar e extravasar.

Pois é, são coisas que gosto de gostar. É isso.

Ilustração de Ronaldo Rony

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Jornalista e engenheiro, Elder de Abreu, gira a roda da vida. Feliz aniversário, brother!

Sempre digo que o jornalismo me trouxe muitos amigos. Alguns inimigos também, mas isso faz parte. Também costumo dizer gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Neste vigésimo segundo dia de março, gira a roda da vida o amigo Elder de Abreu. Um desses grandes caras que essa profissão me fez ter consideramento e por isso lhe rendo homenagens.

Elder é jornalista e engenheiro, pai dedicado, irmão da Arica e da Érica, assessor de comunicação, revisor detalhista, amante de futebol e Rock and Roll, flamenguista em tempo integral e grande sacana. Muito mais que um colega de profissão, um brother querido.

Trabalhei com Elder de Abreu em 2010 e voltei a trampar com o cara em 2012. Trata-se excelente repórter, com passagens por várias redações de jornais e vasta experiência em assessoria de imprensa. Um cara que sabe escrever como poucos. Enfim, um ótimo profissional.

Ele possui uma malandragem caricata, apesar do Sal insistir que ele é prego (mas o Sal também gosta muito do Abreu), sacadas diferenciadas e paideguice peculiar. Elder é um cara porreta, inteligente, espirituoso e gente fina, apesar do seu péssimo gosto para compadres (risos). Bom mesmo é quando encontro o sacana pra tomar umas. Dono de um papo sempre da melhor qualidade, o cara alegra rodadas de birita.

O cara também me deu uma moral e foi na noite de autógrafos do meu livro, em 2020, quando a pandemia deu uma trégua. Fiquei feliz por ele ter ido. Muito feliz mesmo!

Em resumo, Elder de Abreu é um homem de bem, um jornalista foda, um cara de caráter e um amigo queridão. Tomar umas cervas com ele é certeza de leveza, diversão e risos. Este texto é somente pra registrar o apreço que tenho por ele.

Abreu (ou “Costa de Jeju”, como Sal o chama), mano velho, que teu novo ciclo seja ainda mais paid’égua. Que sigas com essa garra, sabedoria, coragem e talento em tudo que te propões a fazer. Que a Força esteja contigo. Saúde e sucesso, sempre, amigo. Parabéns pelo teu dia, querido amigo. Feliz aniversário!

Elton Tavares

Meu céu – Crônica de Elton Tavares – Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Pois é. Escrevi uma crônica sobre como seria o meu “Inferno”. Hoje vou falar/escrever um pouco de como seria o meu céu. Não sei se baterei na porta do céu como Bob Dylan. Nem se vou achar o lugar igualzinho ao paraíso, como sugeriu o The Cure, mas estou atrás da “Stairway To Heaven” do Led Zeppelin. Só não vale ter “Tears In Heaven”, do Eric Clapton. Mas vamos lá:

Meu céu é em algum lugar além do arco-íris, bem lá no alto. Bom, lá, ao chegar ao meu recanto celestial, eu falaria logo com ELE, sim, Deus ou seja lá qual for o nome dele (God; Dieu; Gott; Adat; Godt; Alah; Dova; Dios; Toos; Shin; Hakk; Amon; Morgan Freeman ou simplesmente “papai do céu”) e minha hora já estaria marcada.

Ah, não seria qualquer deusinho caça-níqueis (ou dízimos) não. Seria o Deus de Spinoza, que como disse Einstein: “se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”.

Após este importante papo com o manda chuva do paraíso (tá, quem manda chuva mesmo é o seu assessor, São Pedro, mas eu quis dizer mesmo é do chefão celestial), daria um rolé e encontraria todos os meus amores que já viraram saudade. Ah, como seria sensacional esse reencontro!

Bom, meu céu é todo refrigerado e chove. Chove muito, mas nunca inunda as vielas do paraíso e nem desabriga ninguém por lá. Ah, abaixo dele chove canivetes nos filhos da puta (que não são poucos) que encontrei durante a jornada pré-celestial. Óquei, pode soar meio lunático, mas é o meu céu, porra!

No meu céu não tem papo furado, como no capítulo 22, versículo 15, do livro de Apocalipse. Lá entrarão impuros sim ou seria uma baita hipocrisia EU estar neste céu. No meu céu não toca brega, pagode e sertanejo sem parar, afinal, isso é coisa do inferno. Ah, no meu céu não entra corrupto, pastor explorador, padre pedófilo ou escroques de toda ordem, esses tão lá no meu inferno e eu ainda teria o direito de cobri-los de porrada!

No meu céu as pessoas se respeitam, não tentam a todo o momento tirar vantagens do outro. No meu céu, serviços prestados são pagos na hora, chefes são justos e não rola fofoca. Lá não tem puxa-sacos, apadrinhados ou seres infetéticos desse naipe que a gente, infernalmente, convive na terra diariamente.

No meu céu tem churrasco, pizza, sanduba, entre outras comidas deliciosas e que nunca, nunca mesmo, nos engordam (pois é infernal o preconceito fitness). Lá também não sentimos ressaca. No meu céu tem show de rock o tempo todo, com todos os monstros sagrados que já embarcaram no rabo do foguete e a gente curte pela eternidade.

Lá no meu plano celestial não existe a patrulha do politicamente correto, nem gente falsa, invejosa, amarga, e, muito menos, incompetentes. Se tá no céu, se garante, pô!

Não imagino o céu como um grande gramado onde todo mundo usa branco, ou um local anuviado onde anjos tocam trombetas e harpas. Não, o céu, se é que ele existe (pois já que o inferno é aqui, o céu também é) trata-se de um local aprazível para cada visão ímpar de paraíso, de acordo com nossas percepções e escolhas. Bom, chega de ficar com a cabeça nas nuvens. Uma excelente semana para todos nós!

“Eu acho que há muitos céus, um céu para cada um. O meu céu não é igual ao seu. Porque céu é o lugar de reencontro com as coisas que a gente ama e o tempo nos roubou. No céu está guardado tudo aquilo que a memória amou…” – escritor Rubem Alves (que já foi para o céu).

Elton Tavares (que graças à Deus, tem uma sorte dos diabos).

*Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”.

Meu inferno – Crônica de Elton Tavares – Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Acho que se existir inferno, coisa que duvido muito, cada alma pecadora tem um desses locais de pagamento de dívidas de acordo com suas ojerizas. Nada como no clássico da literatura “A Divina Comédia”, o inferno do escritor italiano Dante Alighieri, que escreveu sobre os nove andares até a casa do “Coisa Ruim”.

Quem nunca imaginou como seria o Inferno? Como seríamos castigados por nossos pecados? Volto a dizer, pra mim o inferno é aqui mesmo. Mas vou pontuar algumas coisas que teriam no meu, se ele está mesmo a minha espera.

Bom, meu inferno deve ser quente. Não tô falando das labaredas eternas com o Coisa Ruim me açoitando pela eternidade. Não. Esse é o inferno mitológico e ampliado da imaginação religiosa. Falo de calor mesmo, tipo Macapá de agosto a dezembro, com quase 40° de temperatura (a sensação térmica sempre ultrapassa isso no couro da gente) e sem ar-condicionado.

Neste inferno, todo mundo é fitness, come coisas saudáveis e é politicamente correto. Meu inferno tem gente falsa, invejosa, amarga, que destila veneno por trás de sorrisos. Ah, meu inferno tem incompetentes, puxa-sacos, gente de costa quente que conta do padrinho que o indicou. E pior, neste inferno sou obrigado a conviver com elas diariamente.

No meu inferno tem gente que atrasa, que me deixa esperando por horas. Ah, lá tem caloteiros e enrolões, daqueles que demoram a pagar serviço prestado por várias razões inventadas.

Neste inferno moldado a mim tem parente pedinchão, “amigo” aproveitador, filas e mais filas para tudo. Tem também muita etiqueta e formalidades hipócritas. E também todo tipo de “ajuda” com segundas intenções. De “boas intenções” o inferno tá cheio.

Neste lugar horrendo só vivo para trabalhar, estou sempre sem dinheiro, sem sexo, sem internet e sem cerveja. Nó máximo Kaiser, aquela cerva infernal de ruim. No meu inferno toca brega, pagode e sertanejo sem parar.

Eu sei, leitor, que devo agora estar lhe aborrecendo. Mas perdoe-me, esta alma é chata e sentimental. Às vezes vivemos infernos mesmo no cotidiano, pois vira e mexe essas coisas aí rolam. Por isso dizem que o inferno é aqui. Ou como explicou o filósofo francês Jean-Paul Sartre, na obra “O Ser e o nada”: o inferno são os outros. É por aí mesmo.

Ainda bem que tenho uma sorte dos diabos e Deus é meu brother, pois consegue me livrar dos perigos destes possíveis infernos cotidianos e nunca fará com que tudo isso descrito acima ocorra por toda a eternidade. No máximo, de vez em quando, para que eu pague meus pecadinhos neste plano (risos).

Este seria mais ou menos o MEU inferno. Como seria o seu?

Elton Tavares (que graças à Deus, tem uma sorte dos diabos).

*Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”.

Continuo em frente e com a força de sempre! – Crônica de Elton Tavares – *Do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Ilustração Ronaldo Rony

 

Continuo trabalhando muito, pois adoro minha profissão. Continuo sincero, contudo áspero. Eu continuo diferenciando puxa-sacos de profissionais, apesar de muitos não terem tal discernimento. Eu continuo honesto, apesar das propostas indecorosas. Continuo pobre, contudo sem telhado de vidro ou rabo de palha. Como sempre, não acompanho a moda convencional, mas fico ligado na underground.

Vivo a celebrar minha existência com a família e os amigos. Permaneço bebendo mais que o permitido, mas nunca fui ou sou um bêbado enjoado. Sigo boêmio inveterado, só que muito menos que antigamente. Continuo apaixonado pela boa música, mas extremista com alguns gêneros musicais. Sigo com meu amor pelo Rock and Roll, MPB e Samba. Continuo apaixonado pelo Carnaval, mas só na época mesmo.

Continuo exigente, mas sempre à procura da facilidade. Continuo antipático para alguns e paid’égua para a maioria. Continuo assumindo meus erros e brigando pelos meus direitos, custe o que custar. Continuo sem intenção de agradar a todos, mas acertando mais que errando. Ainda sou Flamengo, mas não brigo mais quando o time perde, até dou risada da encheção de saco dos adversários.

Continuo tirando barato de erros grotescos, mas aguento as consequências quando falho. Continuo escrevendo, mas com a consciência de nem sempre agradar. Continuo a me irritar com a necessidade de tanta gente de aparecer ou ser admirada, mas não sou totalmente desprovido dessa soberba.

Continuo convivendo com figurões e anônimos, sem deslumbre ou desdém, pois é assim que deve ser. Ainda faço mais amigos que inimigos, apesar dessa segunda lista aumentar consideravelmente a cada ano. Permaneço gordo, feio e arrogante, entretanto, respeitoso, justo, bom de papo e sortudo. Sigo “Eu Futebol Clube”, sem falso altruísmo e sempre aviso: se resolver encarar, é bom se garantir.

Continuo insuportavelmente ranzinza, mas incrivelmente querido pelos meus familiares e verdadeiros amigos. Prossigo acreditando nas pessoas, apesar de elas me decepcionarem sistematicamente. Continuo amando, odiando, ignorando, provocando, aplaudindo e vaiando. E sempre fazendo o que precisa ser feito pra manutenção da minha felicidade e do bem das pessoas que amo, mesmo que seja algo egoísta. Resumindo, continuo correndo atrás e com cada vez mais motivos pra permanecer sorrindo.

Elton Tavares

Foto: Flávio Cavalcante

*Do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”. 

A FORTALEZA E A GÊNESE DA OCUPAÇÃO – Crônica/resgate histórico de Fernando Canto

Fortaleza de São José de Macapá – Foto: blog Amapá, minha terra amada.

Crônica de Fernando Canto

Na continuação das nossas observações sobre a Fortaleza de São José de Macapá, temos a considerar que a memória é o deciframento do que somos à luz do que não somos mais (Nora, 1993), ela fixa os sentidos e a identidade, permitindo à sociedade traçar suas origens e reconhecer suas permanências independentemente do tempo. Mas ela também possibilita o reencontro com o sentido de pertencimento e tem a capacidade de viver o hoje, tornando-se princípio e segredo da identidade.

Fortaleza bicentenária – Foto: Floriano Lima

Desta forma, há uma necessidade de se observar o monumento, hoje, sob o olhar de uma memória coletiva, com suas significações que a levaram a ser um ícone da identidade macapaense e não mais exclusivamente como arquitetura militar ou obra de segurança e proteção da região. Faz-se necessário saber como foi construído e modificado o discurso de ocupação da Fortaleza de São José, hoje considerado espaço de preservação. Ela é o único monumento edificado que faz a vinculação com o passado, em que pese a igreja de São José ser mais antiga, mas que sofreu inúmeras descaracterizações. Apesar de ter surgido muito depois da fundação de Macapá ela, a Fortaleza, é a gênese do discurso de ocupação e de formação da cidade. Ao longo de mais de dois séculos o eixo de ocupação e a conotação do discurso artístico e histórico da cidade foi mudando. No presente momento, por exemplo, ela foi eleita uma das maravilhas do Brasil como monumento edificado. Daí sua dinâmica no tempo e no espaço.

Fortaleza de São José de Macapá – Foto aérea de Mateus Brito

A cidade de Macapá, como qualquer cidade de seu porte, por ser um lugar de alternâncias e de condições diversificadas que dão dinamismo ao cotidiano (e onde se situam tempos de transformação e de continuidade) é, também, o lugar das alteridades e transformações da Fortaleza de São José. Isso nos permite e nos possibilita enxergar e decodificar os significados das marcas impressas nesse tempo de quase dois séculos e meio, onde estão presentes inúmeros olhares, rupturas e imbricações.

Fortaleza de São José de Macapá – Foto: Manoel Raimundo Fonseca

A conquista da Amazônia pelos portugueses suscita uma história diversificada e rica de detalhes. As fortificações por eles construídas são marcos dessa luta por expansão de fronteiras. No bojo de tudo está a Fortaleza de São José de Macapá, na qual – repetimos – inúmeros olhares se fixaram e se desvaneceram pela memória quase diluída, pelas deslembranças expurgadas pelo nascimento do novo. Da sua construção até hoje as transformações nela operadas foram significativas (curral, quartel, museu, etc.), mitificadas pela mídia (“lugar bonito”), conflitivas (acordos pecuniários para derrubar os prédios da sua área de entorno, prisão de presos políticos) e espetaculares nas mudanças urbanísticas realizadas ao longo dos anos dentro e fora da sua área original.

Fortaleza de São José de Macapá – Foto: Manoel Raimundo Fonseca

Há nessa idéia um imbricado processo de análise a ser observado, porque a história da Fortaleza de Macapá traz também uma história não-oficial daqueles que foram supostamente vencidos, a história registrada pelos vencedores e suas estratégias de sobrevivência e hegemonia, onde está expressa a relação do homem com a natureza de forma significativa, pelo que experimentaram na construção daquela obra (Bhabha, 2007).

Fortaleza bicentenária – Foto: Max Renê

E essas estratégias são muito bem produzidas no longo período da sua construção. Não apenas do ponto de vista do colonizador militar como pelas astuciosas fugas e “ausências” que os trabalhadores braçais e escravos usavam para minimizar seus sofrimentos (Castro, 1999). Os papéis ocupados pelos colonizadores de manter a construção, a ordem e o controle eram dialeticamente contrapostos nas adjacências da obra da Fortaleza por negros, índios e soldados desertores, que protagonizaram uma “original aventura para conquistar a liberdade. Com suas próprias ações reinventaram significados e construíram visões sobre escravidão e liberdade” (Gomes, 1999).

O “Ferinha” e carência de shows de qualidade em Macapá – Crônica de Elton Tavares

Ilustração de Ronaldo Rony

Macapá é rica em diversidade cultural, onde se mesclam as heranças afrodescendentes, cabocla, indígenas e dos imigrantes em uma identidade única. Só a musicalidade fruto disso tudo já é uma lindeza (quem acompanha este site, sabe que divulgo quase todos os nossos artistas). Imaginem se os empresários do ramo de entretenimento trouxessem artistas e bandas realmente porretas para este lugar no meio do mundo. Acontece sim, mas é raro.

Comecei esse texto/desabafo por conta de hoje rolar na cidade o show do “Moleque, o Ferinha” (ainda bem, não aguento mais aquele comercial na TV), mais um meia boca promovido pelo “Bar da Praia”, assim como os da “Comunidade do Texas”, duas entre muitas produtoras de eventos especializadas em jogar merda sonora (canções feitas somente para o cidadão sem qualquer tipo de acesso à cultura, daqueles que o mercado fabrica e empurra goela abaixo do povo) na capital amapaense e ainda cobrar por isso. Deveríamos ter muito mais acesso a shows de qualidade nestes eventos privados. Afinal, é pago. Então bora pagar por algo que preste.

Enquanto na capital vizinha, Belém do Pará, recebe artistas renomados da música brasileira, Macapá segue presa a um ciclo de repetição, onde os mesmos artistas de sertanejo, aparelhagens, sofrência, entre outros gêneros palhoças, ocupam os palcos locais e que nos deixam aquele gosto amargo de oportunidades perdidas. Sim, já que Titãs, Ira (em 2023), e agora em setembro de 2024, Caetano e Maria Bethânia, podem se apresentar no Estado do outro lado do rio e pra cá não vem nada.

A cultura de massa, impulsionada pelos interesses comerciais e pela busca desenfreada pelo lucro fácil, dá nisso. Os empresários, ávidos por garantir retornos financeiros rápidos, optam por trazer atrações de apelo imediato, mesmo que isso signifique sacrificar a oportunidade de enriquecer a cena musical local com apresentações de mais relevância cultural.

“Cultura não é elitista” ou “Cultura não é somente o que você gosta” dizem alguns defensores dessa merda. Nem vou me dar ao trabalho de explicar essa parte. Quem quiser saber mais sobre toda a questão histórica e social que impede, pode ler aqui: https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2023/07/5107726-artigo-cultura-de-rico-cultura-de-pobre.html

Mas o que digo/escrevo aqui é como bem lembrou a advogada (minha prima/irmã), Lorena Queiroz, quando em uma conversa hoje mesmo, usou a citação da ministra da Cultura, Margareth Menezes: “a cultura é uma ferramenta de emancipação do pobre“. Sim, usem bons artistas, os que fazem pensar e para abrir mentes e iluminá-las como faróis na tempestade.

Em contrapartida, na mesma conversa, a Lorena lembrou algo também escroto:

Essa questão em Macapá é muito complexa. Ao mesmo tempo que as produtoras não acreditam no povo, digo na hora de trazer uma atração como Caetano e Maria Bethânia, quando tem um show de graça, como o do Zeca Baleiro, na virada de ano, a maioria da população preferiu ir para o de aparelhagem. Lamentável, pois talvez a cultura esteja empobrecendo. Talvez a boa música esteja fora de moda e a gente não aceita. Talvez o nosso problema seja velhice“, destacou Lorena Queiroz. Eu ri. Pode ser.

Em resumo, não que não tragam esses shows merdas, mas de vez em quando, tragam um bom. Público tem, afinal, todos pagam. É melhor do que ficarmos reféns somente das tais produtoras e seus shows escrotos. E olhem que nem vou falar do populismo. Isso pra ser gentil.

É uma dissonância gritante entre o que é oferecido e o que realmente se anseia, por boa parte da população. Pois é, meu caro leitor, aqui em Macapá, parece que estamos presos em um loop interminável de “shows ferinhas”, com um mar de melodias superficiais, letras simplórias e batidas previsíveis. Como se o refinamento e a profundidade musical fossem conceitos estranhos a essa terra, feita pelos cantadores e tocadores de fora. Sim, pois os daqui se garantem demais.

O problema reside na falta de equilíbrio e na ausência de variedade. É como se estivéssemos condenados a repetir incessantemente as mesmas apresentações ridículas.

Não é uma questão de elitismo, mas sim de acesso à cultura, à música que nos desafia, que nos faz refletir, que nos emociona. Como um dos maiores divulgadores da arte local, em todas as vertentes, sobretudo a música, posso reclamar sim. E mais, não tenho preconceito musical e sim conceito.

“Obrigado por enriquecer nossas vidas com encantamentos” – Frase do livro de Caetano Veloso, usada pela jornalista e apresentadora do Programa Fantástico, Maju Coutinho, ontem (17), ao encerrar a entrevista com ele (Caetano) e Maria Bethânia. É exatamente isso que nos falta nos shows que chegam ao meio do mundo: encantamento. E fim de papo!

Elton Tavares

Sobre a fofoca e o que os outros vão dizer? Por mim, problema deles!! – Crônica de Elton Tavares

Já faz muito tempo que não ligo sobre o que as pessoas acham, falam ou sentem em relação a mim. A minha família e meus amigos sabem quem sou e me aceitam desse jeito. E é isso que importa. Esse papo veio à tona hoje, quando eu conversava sobre a opinião dos outros com minha namorada.

Meu irmão, Emerson Tavares, não possui Twitter ou Facebook. Ele diz que é só fofoca. Eu já acho as redes sociais bem divertidas, interativas e coisa e tals. Mas, às vezes, o mano está coberto de razão. Por conta da super exposição (estou incluído no grupo de pessoas que adoram postar muitas fotos e comentários), os vampiros sociais sugam nossas forças, tramam e inventam.

Tudo bem que olhamos, curtimos, concordamos ou discordamos uns dos outros no mundo virtual. Mas daí ficar fissurado nos passos de alguém por puro desejo de fofocar. Ou ouvir um comentário sujeira e sair espalhando a rodo, convenhamos, é ridículo!

Os fofoqueiros promovem uma inquisição social, com suas tochas e fogueiras, ávidos por queimar as pessoas que elegeram “bruxas”, por pensar ou agir diferente dos referidos babacas.

Já tem um tempo que tento me manter longe de fofoca. Aprendi, do pior jeito, que é melhor não se meter na vida dos outros. Mesmo que sejam seus amigos ou familiares. E olha que tem gente fofoqueira no meu trabalho, no meu grupo familiar e entre os meus afetos. Mesmo assim, não dou confiança para suas respectivas maldades.

As pessoas não invejam somente uma boa condição financeira, ascensão profissional ou status social. Elas detestam (uma boa parte delas) se você vive nos seus termos, de acordo com suas vontades, seja moralmente ou loucamente. A maioria é amarrada dentro de convenções e sofre por não ser quem gostaria. Desse mal eu não morro.

Ilustração de Ronaldo Rony

Como disse o amigo poeta e escritor Fernando Canto :”olhos adiposos vivem a me espreitar pelos caminhos que construo, jogando energia negativa em minha direção” e abate a maldição da inveja com o trecho da canção Tajá, de sua autoria: “Segura meu segredo, neguim/ De ti não tenho medo, neguim / Comigo-ninguém-pode, tajá/ Comigo-ninguém-pode, tajá (…) Tomo banho de alho/ misturado com sal grosso/ Rezo pros meus guias/ Vou bebendo água de poço/ Água de poço”.

Aí lembrei de outra citação, do também amigo escrito Ronaldo Rodrigues: “todos os meus pecados são públicos! Os que omiti são para consumo dos mais íntimos. Que vejam que sou livre e deixo-os com suas mentalidades medievais. Deixem que pensem, que digam, que falem. Fofoca para quem precisa de fofoca”. Cirúrgico.

Reforço o meu lema de não dar teco na vida alheia. Pois assim, nenhum infeliz (seja um babaca ou uma doida) ter o direito de opinar sobre a minha feliz existência. Afinal, é sempre ridículo, principalmente quando você não possui conhecimento de causa. O problema dos outros é deles e os meus poucos, são meus.

Foi o que disse ao finalizar o tema com minha linda namorada: cada uma tem uma vida. E o que os outros vão dizer sobre a minha ou a sua? Por mim, problema deles!! É isso.

Elton Tavares

A Moça do Tempo – Crônica de Ronaldo Rodrigues (com ilustração de Ronaldo Rony)

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Aos 19 anos, Mariana completou 30.

Sempre à frente de seu tempo, Mariana menstruou aos 70 e perdeu a virgindade aos três.

O tempo era seu passatempo. Seus banhos demoravam duas semanas, mas para comer cinco pizzas e três refrigerantes, dois segundos e meio bastavam.

Mariana se casou com seu avô, este com sete anos. Seu filho mais velho nasceu depois dos trigêmeos, que vieram ao mundo separadamente, em Estocolmo, Kingston e Bruxelas.

Seus netos a conheceram na festa de seu 15º aniversário, quando ela, já completamente senil, ainda não havia nascido.

Sempre que perguntada pelas horas, Mariana respondia que faltavam quinze dias para dois minutos, tempo em que viriam o calor infernal do inverno, as flores no outono, a primavera hostil e o verão glacial.

Mariana começou a escrever suas memórias antes dos 150 anos e as concluiu com apenas dois dias de nascida.

Seus pais começaram a namorar 20 anos antes de se conhecerem.

Depois do mestrado e doutorado, Mariana ingressou na alfabetização, onde aprendeu a ler todos os livros que ainda não haviam sido escritos. Foi quando Mariana pediu um tempo ao tempo……………………………………………………………

Então, todos os relógios do mundo marcaram a mesma hora. Quando seu primeiro ancestral iniciou sua proliferação, bem no começo de toda a existência, o tempo fechou para Mariana. As ampulhetas explodiram e os relógios, com seus ponteiros apontados para ela, gritaram numa só voz:

– Seu tempo acabou! Seu tempo acabou! Seu tempo acabou! Seu tempo acabou! Seu tempo acabou! Seu tempo acabou! Seu tempo acabou! Seu tempo acabou!

Desconfortáveis encontros casuais – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Encontro um velho conhecido.

Ele: “cara, você tá muito gordo!”. Eu, (em pensamento, digo eu sei caralho, vai tomar no cu!): Ah, cara, sabe comé, sem exercícios físicos, sem tempo pra muita coisa, muita cerveja e porcarias gordurosas (que amo).

Sem nenhum assunto, fico em silêncio.

Ele: virei médico e você?

Eu: sou jornalista.

Ele: ah, legal (com um ar de desdém que vi ao encontrar outros velhos conhecidos advogados, administradores, contadores, ou alguma outra profissão mais rentável).

Aí um de nós subitamente diz que está atrasado e marca uma gelada qualquer dia com nossas respectivas esposas ou namoradas e vamos embora. Com certeza, passaremos mais 10 anos sem nos falarmos, graças a Deus.

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Só por que é sábado! – Por @hmoreiraap

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Humberto Moreira

Por Humberto Moreira

Sábado. Outrora dia de perambular pela minha cidade. Visitar alguns lugares mágicos da minha amapalidade. Descer a doca da Fortaleza para ver o colorido das canoas à vela entrando no igarapé. Frutas, cerâmica, peixes, pequenos animais, carregadores e carroceiros num burburinho familiar e o vento que ainda hoje sopra do Amazonas.

No Mercado Central revejo açougueiros a pesar a carne que alimenta a cidade. Fiscais, marreteiros, vendedores, sapateiros e japoneses na faina diária. Gente que entra só pra olhar como eu e gente que veio para comprar. Verdura fresquinho que veio de Fazendinha, garapa com pão doce no Brotinho, mingau de milho, donzela.

A Candido Mendes das Lojas Flor da Síria e Beirute na América. A fila no clipe para pegar o Bossa Nova e o pessoal da pesca que sobe da Baixa da Maria Mucura vindo do Remanso. Macapá se abria pra vida naqueles tempos que não voltam mais. A cidade mudou, mas as lembranças estão encravadas na minha memória. Bom sábado a todos!

* Humberto Moreira é jornalista, radialista, cronista e vocalista dos Cometas, além de amigo que admiro. 

Silvio Neto gira a roda da vida. Feliz aniversário, amigo!

Eu, Elton Tavares e Silvio Neto, em 2010.

Sempre digo que o jornalismo me deu muitos amigos. Sim, trouxe inimigos também, mas pra estes eu não ligo. Também digo/escrevo que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. É o caso do Silvio Neto, que neste décimo quinto dia de março, gira a roda da vida e lhe rendo homenagens.

Silvio é terapeuta, bancário, jornalista (que pilota o blog “A Vida é Foda”), professor universitário, pai de um lindo casal, marido da Lulih Rojanski, membro da Maçonaria, músico, punk do sertão, compositor, intelectual underground, pirata dos bares e melhor intérprete de Raul Seixas que já vi cantar, Silvio Neto. O brother chega aos 47. Mas tá em melhor condições que eu, que tenho a mesma idade (risos).

Com Silvio Neto, em 2014

Ele é um amigo querido. O admiro pela sua inteligência, paideguice e visão diferenciada do mundo. Aliás, quando o bicho pega, ele sempre brinca: “A vida é foda, mas é a vida”. Apesar de mais novo que eu, o cara foi meu professor no curso de jornalismo, onde começou nossa amizade.

Além de velho brother dos tempos de faculdade e dos bares, ele é um apoiador deste escritor/jornalista, pois me deu moral no lançamento do meu primeiro livro (e possui as obras de crônicas que já lancei). Fiquei feliz em vê-lo lá entre as dezenas de amigos naquele momento especial. Agradeço novamente.

Sinto saudades dos bons papos com Silvio, regados a cervejas e boa música, sempre na companhia do Aog Rocha e Alexandre Brito, no Bar do Francês. O aniversariante é um paraibano arretado que escolheu o Amapá para viver. Um figura culto, sorridente e de bom trato, enfim, gente fina!

Eu e Silvio, em 2023

Eu e Silvio Neto quase nunca nos encontramos, temos visões diferentes de uma porrada de coisas, mas nossa relação é de recíproca brodagem e respeito. Quando nos encontramos é sempre uma festa. Se tomarmos umas então, é Rock and Roll!

Silvio, mano velho, que teu novo ciclo seja ainda mais paid’égua. Que sigas com essa garra, sabedoria, coragem e talento em tudo que te propões a fazer. Que a Força esteja contigo. Saúde e sucesso, sempre, amigo. Parabéns pelo teu dia, punk do sertão. Feliz aniversário!

Elton Tavares