Poema de agora: O primeiro amor na Amazônia – Pat Andrade

Ilustração de Ronaldo Rony

O PRIMEIRO AMOR NA AMAZÔNIA

quero te contar
que Eliana chorou
quando viu o barco
enfeitado de luz
cortar o rio
deixando o porto

a quilha cortando
laços e promessas

cheia de espanto descobriu
que a maré faz dançar
a lua e as estrelas
enquanto embala a saudade
pendurada no punho da rede

seu coração batia oco
no casco do barco
quase despedaçando
a cada onda mais forte

na beira do rio
(agora distante) ficaram
seus olhares mais longos
e seus gestos mais doces
para o moço pescador

durante a viagem
aprendeu com as águas
como dói renunciar
ao primeiro amor

Pat Andrade

Poema de agora: Eu quero é ver – Naldo Maranhão

EU QUERO É VER

Tudo que eu quero
É estar lá
Quando a embarcação naufragar.
Ser seu bote salva vidas.
Lhe socorrer, amparar
Respiração boca a boca
Lhe trazer de volta a vida.
Transcender o amor Platônico.
Quero-te carne osso e mundanismo.
Transitar meu verbo em teu Corpo é meu ofício.
Tantas curvas e abismos
Me lançar de cabeça
E sem aviso…


Quero chegar contigo ao Êxtase.
Deixar que soem os gritos.
Entrar e sair das cavernas e Orifícios.
Ver a luz, muito além das Brechas, teu sorriso.

Meu amor vamos voar
Além desse horizonte
Que se vê.
Caminhar sobre o arco-íris
Do prazer
Uma nova aurora, amanhecer
Viver a vida e não morrer.

Naldo Maranhão

Poema de agora: Mística Gitana – Ana Anspach e Eliete Miranda

Mística Gitana

Correm em minha veias a energia cigana e ancestral,
Pulsa o misticismo das fases lunares
E me eternizo em cura vital.
Exorcizo a maldade de quem não entende meu bailado
E ao entrar na Tsara
Adornada de joias e fitas
Expresso meus sentimentos.
Cuido do corpo e da mente.
Giro graciosa, na roda sagrada.
O fogo alimenta minha alma, rogo sabedoria.
Punhal cortando o vento,
Sou toda força
Pernas em riste.
Minhas armas são poderosas,
Envolventes e preciosas.
O vinho na taça,
A chave nas mãos.
Sagaz como a coruja
Em noite de magia.
Lá fora a lua cheia
Clareia a praia e
As espumas na areia
Levam a má sorte para suas profundezas
Como as moedas afundam em represas.
Segura e abençoada,
Feliz e próspera
Rodo minha saia bordada,
Prevendo sorte e fortuna.
Trevo nos seios
E rosa vermelha nos cabelos.
A brisa afaga com amor o meu rosto,
Presságio do poder feminino.
Que o universo e o destino
Afastem para sempre
O temor e o desgosto.

Ana Anspach
Eliete Miranda

Os Prisioneiros do Lar e a Era das LIVES – Crônica de Elton Tavares (Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”)

Em conversa rápida com o velho amigo Werlen Leão, ele fez um comentário engraçado sobre estes tempos em que vivemos confinados (sim, pois ficar em casa é a única forma de seguir vivo), pois rememorou a antiga banda amapaense “Prisioneiros do Lar”. O extinto grupo da década de 80/90, formado por Jony, Guri, Jessi e Black (o “Black Sabbá”, de Sebastião, um dos amigos doidões porretas que fizemos nessa jornada), era Rock n’ Roll demais!

Pois bem, somos todos “Prisioneiros do Lar” nestes 2020 e 2021 tristes e sombrios.

O que a vida reservou pra gente, hein?

Estamos em um aprendizado que mistura amor e dor enquanto os dias se arrastam, cheios de perdas e notícias tristes. A nossa única válvula de escape é a arte. Talvez, depois que tudo isso passar e VAI PASSAR, eu escreva sobre esse período sofrido. O título será: “Depois do Fim do Mundo – Uma crônica para sobreviventes”.

Sobre a arte, estamos vivendo a era das lives. E falando em conversas com velhos amigos, tive um excelente papo com a Clícia Vieira Di Miceli sobre isso. Ela comentava comigo, no dia seguinte do show do seu marido, Enrico Di Miceli (foi muito Phoda), sobre o encontro e reencontro dos amigos nessas apresentações musicais on-line.

Clícia, que é uma competente produtora cultural, fez uma boa contextualização. Segundo ela, quando a pandemia passar, os artistas farão grandes shows para vendas (assim como já ocorre no Youtube com filmes e outras plataformas virtuais). Por exemplo, a apresentação que custará centavos, será assistida por um grupo de amigos. Isso cobrirá custos da cadeia produtiva artística. Ou seja, uma evolução no mercado da música.

Sim. É gente aplaudindo o artista, “chegado” que não falava com outro há tempos, referências a saudades, entre outros papos porretas – como se todos estivessem em um grande bar no mundo virtual. Pura alegria cibernética!

“Estamos curtindo a ressaca de felicidade, entre trancos e barrancos, com toda a beleza do visual da live e da competência do Enrico. Aqueles atropelos que ocorreram também fazem parte do processo”, comentou a Clicia sobre pequenas “falhas” que ocorrem em todas as lives. Afinal, é uma nova modalidade de show musical.

Tem live de todo jeito e de todo tipo. Algumas são solidárias, com causas nobres, como arrecadação de alimentos ou grana para entidades assistenciais às vítimas da pandemia. Outras são, de fato, uma possibilidade para o artista levantar recursos para cobrir suas despesas, já que a classe musical precisa de público também para se prover. E, ainda, existem aquelas que só rolam pelo simples fato do músico querer tocar e alegrar nossas noites. O que também é um motivo e tanto.

Durante essas lives, sejam de artistas locais, nacionais ou gringos, interagimos, além dos comentários no próprio perfil onde o show é transmitido, também nas redes sociais e em grupos de WhatsApp.

Nestes momentos de farra virtual, esquecemos nossas tristezas, dividimos alegrias, rimos, choramos e temos breves momentos de leveza. Hora numa paulada Rock and Roll, noutras numa roda de samba, marabaixo, MPB, MPA ou intervenções poéticas. As lives proporcionam os melhores momentos nestes tempos de solidão, dureza e prisão domiciliar.

Entre sons, emoções, lembranças e “goles”, temos um pouco de prazer virtual acompanhado de desatinos porretas. Assim, a internet e os artistas nos trazem o afeto que está tão em falta no nosso cotidiano. Decerto, a live é uma forma de estarmos juntos. Essas apresentações possibilitam a empatia.

Apesar do melancólico e inimaginável período que a Covid-19 nos impôs, as lives preenchem as vidas de nós, os ‘prisioneiros do lar’ de 2020 e 2021. E trazem a felicidade aos pedaços, como partículas de alegria cibernética. Sim, a farra, por hora, é virtual. E isso ilumina esses dias cinzentos e noites obscuras.

Elton Tavares

“A arte existe para que a verdade não nos destrua” — Friedrich Nietzsche.

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Hoje é o Dia Mundial do Compositor – Meu texto em homenagem

Com meu amigo compositor, Zé Miguel.

Hoje é o Dia Mundial do Compositor. Música é primordial, ela tem o poder de nos emocionar. Tenho uma inveja branca de quem toca, compõe ou canta.

Com meu amigo compositor, Helder Brandão.

Já disse o genial escritor Friedrich Nietzsche: “Sem a música, a vida seria um erro”.

Com Patrick, meu amigo compositor roquista.

O Dia Mundial do Compositor foi instituído no México em comemoração à fundação da Sociedade de Autores e Compositores do México (SACM), em 1945. No entanto, a data somente foi oficialmente celebrada no mundo a partir de 1983.

Meu amigo compositor, Val Milhomem.

O conceito diz que: “compositor é um profissional que escreve música. Normalmente o termo se refere a alguém que utiliza um sistema de notação musical que permita a sua execução por outros músicos. Em culturas ou gêneros musicais que não utilizem um sistema de notação, o termo compositor pode-se referir ao criador original da música.

Meu amigo compositor, Naldo Maranhão.

Nesse caso, a transmissão para outros intérpretes é feita por memorização e repetição. Em geral, o compositor é o autor da música e, como tal, é o detentor dos direitos autorais. Atualmente as composições musicais são defendidas pela legislação de direitos autorais.

Minha amiga compositora, Rebecca Braga

Existem editoras especializadas em música e o compositor ou detentor dos direitos da composição recebem royalties sempre que uma nova gravação comercial ou execução pública é realizada”.

Meu amigo compositor, Enrico Di Miceli.

É. Pessoas que escrevem e compõem as trilhas sonoras de nossas vidas, principalmente os meus heróis da música local, nacional e gringa, além dos compositores meus amigos como: Fernando Canto, Ricardo Pereira, Val Milhomem, Zé Miguel, Lula Jerônimo (em memória), João Amorim, Heluana Quintas, Jj Noones, Lara Utzig e Ana Martel.

Meu amigo compositor, Fernando Canto.

E, ainda, Wendril Rodrigues, Rebecca Braga, Ruan Patrick, Raoni Holanda, Naldo Maranhão, Joãozinho Gomes, Enrico Di Miceli, Cléverson Baia, Roni Moraes, Geison Castro, Fineias Nelluty, Marcão Franco, Osmar Junior, Helder Brandão, Jean Carmo, Zezinho, entre tantos outros compositores talentosos do Amapá.

Meu amigo compositor, Osmar Júnior

Vocês são foda! Meus parabéns pelo Dia do Compositor. Desejo ainda mais sucesso a todos!

Com Wedson e Geison, os irmãos Castro, músicos e compositores.

Elton Tavares

Lançamento do livro “Amazônia – Novos Caminhos nas Relações entre Homem e Mulher”

A Paulinas Livraria e a Escola de Fé e Política Pe. Luis Carlini da Diocese de Macapá, com apoio do Grupo Cepres e a Universidade Federal do Amapá promovem no dia 15 de janeiro, o lançamento do livro “Amazônia – Novos caminhos nas relações entre homem e mulher”, de autoria do Padre Ricardo Castro, da Arquidiocese de Manaus – AM.

A Obra é resultado de sua pesquisa de doutorado realizado na PUC- Rio de Janeiro – RJ, foi premiada pela Sociedade dos Teólogos da América Latina (SOTER). É um livro sobre a igreja na Amazônia.

A cerimônia de lançamento será às 9h, na Biblioteca Pública Profª Elcy Lacerda (Rua São José, 38), e contará com a presença do autor e de convidados que debaterão o tema.

Inscrição gratuita através do link: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd-UblAg2Pw-eYrkF-96lI44fR2GhIo4saUoXBX7jDDsEaANA/viewform

Poema de agora: Ventos de verão- Cláudia Almeida (Flor d’Maria)


Ventos de verão

Ouço as lembranças trazidas pelos ventos de verão,
As folhas do Norte pelo chão,
A vastidão do céu em minhas mãos,
Linhas, papagaios, rabiolas, cangulas, e o cerol na palma da minha mão,
Alvaticeee…!!!!!
Ventania, correria, varas e empurrões,
Sai pra lá, moleque, a rabiola é minha, vai encarar?
Ouço as lembranças trazidas pelos ventos de verão,
Pés descalços, sem camisa, sem nada para me preocupar.
Quem me dera ser criança para poder brincar.

Cláudia Almeida (Flor d’Maria)

 

Aniversário de Macapá: encerra nesta sexta o período de inscrição de artistas gospel

O Instituto Municipal de Turismo (MacapaTur) encerra nesta sexta-feira (14) a inscrição para credenciamento de artistas gospel para apresentações na programação do aniversário de Macapá, conforme o edital 001 de 2021.

Os interessados têm até às 23h59 do dia 14, para realizar a inscrição.

SE INSCREVA AQUI

A prefeitura disponibilizou nas suas redes sociais um passo a passo para auxiliar no processo de inscrição.

Viviane Monteiro
Instituto Municipal de Turismo

1° Virada Cultural: Prefeitura de Macapá lança edital para credenciamento de artistas

Inscrições acontecem entre os dias 17 e 22 de janeiro de forma presencial e gratuita.

Com objetivo de fomentar a cultura local, a Prefeitura de Macapá, por meio da Fundação Municipal de Cultura (Fumcult), lançou nesta quinta-feira (13) o edital 001 de 2022, que busca credenciar artistas macapaenses para a 1° Virada Cultural, acontecerá em comemoração aos 264 anos da capital amapaense.

Com o edital, os artistas e grupos artísticos podem pleitear a participação na programação do aniversário da cidade – no dia 4 de fevereiro. Os eventos pensados acontecerão em vários pontos da cidade com atividades culturais e de lazer.

Inscrições

As inscrições acontecerão de forma presencial e gratuita, a partir das 9h da segunda-feira (17), e seguem até o dia 22 de janeiro, na Fundação Municipal de Cultura, situada na Rua Eliezer Levy, 1610, Centro.

Para mais detalhes entre em contato no e-mail [email protected] ou ACESSE AQUI.

Naiara Milhomem
Fundação Municipal de Cultura

Turnê Águas Claras

Unindo o teatro e a música, o ator/cantor Amapaense Ton Rodrigues (AP) comemora 7 anos de parceria com o Violonista sete cordas Carioca Pedro Messina (RJ).

Nesse projeto os artistas trazem um repertório recheado de canções que lembram das  suas trajetórias artísticas. Além das músicas autorais  o show conta com homenagens  à  grandes compositores da música  Brasileira, como Aline Castro, Bia Falcão, Dorival Caymmi, Roque Ferreira,  João Nogueira, Paulo César Pinheiro e Teçá Anambé, além de  exaltar a força das composições Amazônicas e  os mestres do Carimbó (PA) e as matriarcas  do Marabaixo (AP).

A turnê ” Águas Claras ” vai acontecer em Macapá ( AP) , Belém (PA) e  na cidade do  Codó (MA) e Rio de Janeiro. Dia 15 de Janeiro  foi a  oportunidade que o artista teve para saudar sua ancestralidade em Macapá, voltando aos palcos em 2022 ao lado de Pedro Messina.

As águas que lavam,curam e renovam, também  se misturam com as ventanias dos tambores tocados pelo macapaense Mário Neilton, Maracas e com  encantos melódicos do violão sete cordas.

Convidamos você para pensarmos juntos com muito respeito e amor em nossas trajetórias. Já que chegamos até aqui, é tempo para refletir , agradecer pela vida, girar e se banhar nas águas, puras, escuras, barrentas, cristalinas desse Brasil.

E para unir a força da música, dança e da poesia teremos as participações de Daniela Uchôa,  Bárbara Primavera e Pepe Sastre.

PRODUÇÃO:

Macapá: Andreia Lopes/Quarta de Arte da Pleta, Hayam Chandra, Nathanael Zahlouth e Tony Silo.
Belém: Andrey Alves e Bruna Suelen
Maranhão: Ylmarana Guajajara.
FIGURINOS:
Wangleys
Foto Divulgação: Márcio Freitas.

Serviço:

Show Águas Claras
Macapá
Local SANKOFA (Av Beira Rio)
Data 15/01/2022
Hora 21h
Contato: 96981501689

Poesia de agora: Entre o Humano e o Divino – Lara Utzig (@cantigadeninar)

Entre o Humano e o Divino

Ciente da minha condição humana,
Não temo, pois não há razão para medo:
Desde muito cedo,
Aprendi a respeitar Deus.
E, sabendo que o amor é divino,
Nutro em mim sentimento infinito
Que, de dentro pra fora, cresce.
Meu peito se expande de leste a oeste
E, por amar com a fé de quem faz uma prece,
Sigo doando abraços que não se medem:
Assim, fico mais perto do céu.

Lara Utzig

‘Negro de Nós’ lança EP comemorativo aos 23 anos da banda com seis faixas e pegada dançante (Sucesso sempre, @Silcantora!)

Grupo amapaense Negro de Nós — Foto: Negro de Nós/Divulgação

Por Rita Torrinha

A banda amapaense Negro de Nós completa nesta segunda-feira (10) 23 anos de trajetória e junto com a data lança o novo EP com seis faixas dançantes, bem ao estilo do grupo.

Os ritmos caribenhos zouk, reggaeton e cacicó, e os tambores ancestrais amapaenses do marabaixo e do batuque estão entre os temperos que compõem as canções do “Negro de (todos) Nós, Parte 1”, já disponível nas plataformas digitais.

Este álbum marca a volta da banda aos estúdios de gravação, após oito anos do último lançamento, o DVD. “Negro de (todos) nós” é a primeira parte de um álbum que terá um total de 12 músicas.

O trabalho iniciou em 2017, ainda com a participação de Fábio Mont’Alverne e do Walber Silva (in memorian), ambos fundadores da banda, junto com Silmara Lobato e Odilon Taronga. Silmara e Taronga deram continuidade ao sonho que se materializou.

Show da banda Negro de Nós — Foto: Negro de Nós/Divulgação

“Esses 23 anos de história é dia de conquista, mas também de lembranças eternas de nossos companheiros. Eles fazem parte deste momento e estão com a gente. Eles eram alegria pura e é isso que vamos continuar oferecendo ao nosso publico”, expressa Silmara Lobato, vocalista.

São 2 regravações e 4 inéditas. A música de trabalho é “Quero Você”, uma versão do cancioneiro caribenho “Jamais voir ça”, cuja letra foi adaptada por Carlos Santos, nos anos 80.

Do Amapá, a dançante “Passa, Tchonga!”, composição de João Amorim e Paulinho Bastos, ganha nova roupagem na voz forte de Silmara.

Entre as inéditas, destaque para “Festa de Quilombo”, um batuque com participação do cantor Adelson Preto, filho do quilombo do Curiaú. A música retrata um domingo festivo com personagens tradicionais daquela região, que fica localizada na Zona Norte de Macapá.

Banda Negro de Nós — Foto: Negro de Nós/Divulgação

O EP foi gravado nos estúdios Zarolho Records e Tarumã e a finalização foi viabilizada através de recursos da Lei Aldir Blanc.

Onde escutar?
deezer.com/br/album/272735972
open.spotify.com/album/6JsMhoIr35AaelWoYbUjxD
music.apple.com/us/album/1595864802
music.youtube.com/channel/UC2xZf2N8CIPPNvLxcmhU4Pw
listen.tidal.com/album/205450399
tratore.com.br/smartlink/negrodenos

Fonte: G1 Amapá.

Poesia de agora: Eco (Lara Utzig) – (@cantigadeninar)

Eco

Respirar o ar da solidão
Nem sempre é um peso intranquilo,
Um penar para o coração,
Prestes a cometer algum vacilo.

Nas quatro paredes do quarto,
O eco é meu amigo.
De minha presença nunca me farto;
Apenas um bom livro comigo.

O barulho lá fora é alto.
Buzinas, ruídos das bocas falando…
O céu adquire tons de azul cobalto
E na janela observo as pessoas passando.

Ouço meus tantos pensamentos,
Tento organizá-los de forma sistematizada.
Somente não possuo muito talento
Quando o quesito é ser amada.

Estar só é um privilégio
Em tempos que todos mascaram.
Num bar, vozes vazias recheadas de tédio
Refletem almas que se decepcionaram.

Viver só é um estado de espírito
Em tempos que todos disfarçam tal condição.
Na rua, o poeta culpa seu eu-lírico,
Enquanto, na parada, aguardo a próxima condução.

Terminei o livro e gostei do enredo.
Busco um novo alvo na vasta estante.
Do som do silêncio não tenho medo:
De mim mesma, sou ótima acompanhante.

Lara Utzig

A ARCA DE NÃO É (Crônica legal de Ronaldo Rodrigues)

Depois do temporal fiquei olhando aquele mar sem fim que a chuvarada tinha plantado.

Eu tinha ficado só no mundo, depois do dilúvio.

Minha preguiça não me permitiu concluir o grande barco que a voz tinha dito para eu construir.

Era um sonho louco que eu tinha toda vez que chovia muito.

Uma voz me dizia para eu construir um barco imenso, onde coubessem muitas espécies de animais.

Uma dessas chuvas poderia demorar muito a passar, alagar e afogar todos os que não estivessem no barco.

Até comecei.

Pedi a um amigo construtor de barcos para desenhar um esquema que eu pudesse executar.

Ele esboçou uma arquitetura naval impressionante, bem mais avançada que as loucuras de Da Vinci e sem aquelas frescuras que Niemeyer adorava inventar.

Julio Verne não teria conseguido imaginar algo tão engenhoso.

Desenhou um barco que, se estivéssemos num filme, poderíamos batizá-lo de Titanic, tal sua imponência e capacidade de navegação.

Eu fiquei de comprar o material e construir o bruto do barco, do jeito que a voz mandou.

Mas dava uma preguiça danada pensar naquilo, aliada ao fato de que a inflação crescia e o dinheiro diminuía.

Sei que se tivesse me empenhado teria conseguido juntar a grana.

E não estaria agora só, no meio do mar.

Vou dormir e tentar sonhar com a voz. Quem sabe ela me diz o que fazer.

Ronaldo Rodrigues