Iara – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

A madrugada toda foi de chuva. As ruas ficaram alagadas. Quase toda a cidade ficou paralisada, esperando as águas baixarem. Eu acordei cedo, como todas as manhãs, para ir ao trabalho, mas tive que esperar até 10 horas para poder sair. Quando abri a porta, vi um peixe enorme estirado no pátio. Revirando aquele peixe, vi que ele ainda estava vivo, se debatendo levemente. Examinando melhor, constatei que não se tratava de um peixe. Era uma sereia.

Levei a sereia para dentro, agasalhei-a, esquentei uma sopa e dei para ela que, muito debilitada, talvez pelo esforço de nadar entre a maresia que o temporal tinha provocado, sorveu bem devagar.

Ela foi, aos poucos, recobrando a consciência e perguntou onde se encontrava. Eu disse que ela estava numa cidade à beira de um grande rio, que ficou maior ainda por causa da chuva forte. Falei que eu precisava ir ao trabalho e que ela poderia ficar em casa, descansando. Na volta, nós pensaríamos numa maneira de devolvê-la ao rio.

Quando voltei, encontrei a sereia no sofá da sala, assistindo a uma novela na TV. Ela tinha varrido, espanado e arrumado a casa toda, que estava brilhando, muito diferente de quando eu saí. Ela disse que aquilo era um agradecimento pela forma como eu a tinha tratado.

E a sereia foi ficando, ficando. Depois de três dias, já dormíamos juntos, ela tomava conta da casa, fazia comida, tudo com muito esmero. Até que senti ameaçada a minha resolução de eterna solteirice. A convenci a voltar para a sua casa, fosse lá onde fosse, imagino que nos recônditos do imenso rio.

Ela compreendeu, se despediu, muito educadamente, e partiu. Mas, sempre que o temporal e a saudade vêm mais forte, ela me faz uma visita.

Arquiteta Silvana Sena gira a roda da vida. Feliz aniversário, prima querida!

Silvana, eu e Bruna

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Neste décimo sexto dia de fevereiro, minha muito querida prima, Silvana Sena, gira a roda da vida e lhe rendo homenagens.

Silvana é arquiteta, empresária, fazendeira, já trampou com decoração de festas, entre outras coisas (ela é virada pra trabalhar). Remista convicta, festeira, eterna motorista da rodada e viajante do mundo, essa mulher é minha amiga desde que me entendo por gente. É uma querida com quem dividi muitos momentos porretas de nossas vidas e alimentam minha memória afetiva.

Mas o melhor papel que Silvaninha realiza é de mãe do talentoso Felipe, esposa do caralísticamente gente fina, Adriano e filha dedicada da tia Sanzinha. Ah, ela conta com a ajuda essencial da nossa amiga Cila para essas funções. Todas essas pessoas são do meu coração.

Com Silvaninha, minha prima linda e querida.

Já disse e repito: Silvana é uma daquelas pessoas que posso passar meses sem ver, mas sei que posso contar com ela. Coisas de amor de primo, meio irmão. A gente sempre se deu bem demais. Tenho certeza que nosso amor e “consideramento” é recíproco. Sim, somos amigos a vida toda e isso é raro. Também já disse que ela fica chateada por minha ausência em festejos e reuniões em sua casa, mas ela sabe que o gordo aqui é estranho.

Também volto a dizer que Silvana zerou o jogo da vida. Ela tem uma bela família e é feliz. Além disso, tira onda com o tempo, pois segue tão linda quando quando tinha 20 e poucos anos. Além disso, é sempre gentil, sorridente, bem humorada, prestativa e, sobretudo, uma pessoa do bem. Ah, é é politizada do jeito certo, pois assim como eu, ela é contra o nosso perverso mandatário nacional (sim, é preciso dizer isso sempre que temos oportunidade).

Com Silvana e Adriano, vivi muita coisa bacana e inesquecível aqui em Macapá e em Belém (anos 90). Meu saudoso pai os tinha como irmãos. Eu da mesma forma.

Silvaninha, tenho orgulho de ser seu primo e amigo. Tenho sorte de tua existência orbitar a minha e de ter o mesmo sangue que você. Tu sabes, você está sempre aqui dentro deste meu coração transloucado. Que teu novo ciclo seja ainda mais iluminado, produtivo e que tudo que caiba no teu querer se concretize. Que teu novo ciclo seja ainda mais porreta. Que tu tenhas sempre saúde pra trabalhar, viajar, amar os seus e que ainda partilhemos vários momentos lindos com nossa família. Todo o amor dessa vida pra ti. Meus parabéns pelo teu dia. Feliz aniversário!

Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar” – Machado de Assis.

Elton Tavares

Hoje é Dia do Repórter (meus parabéns aos colegas)

Hoje é o Dia do Repórter, celebrado no Brasil em todo 16 de fevereiro. A data homenageia o profissional que faz de tudo para elaborar matérias com ética, celeridade e responsabilidade. Essas qualidades são tão essenciais a esse cargo exercido por profissionais da comunicação que têm a função de investigação, pesquisa, entrevista e produção das notícias, sejam para a TV, impressos, rádio ou internet.

Trata-se de uma emocionante profissão; sempre em busca da melhor fala, de novidades ou de novos dados, repórteres estão sempre na investigação de algo para reportar.

Todo repórter é jornalista, mas nem todo jornalista é repórter. Este peculiar tipo de comunicador cobre a pauta de sua editoria. Existem os que atuam em política, esportes, educação, cidades, mundo, economia, cultura, entre outros, além dos repórteres fotográficos.

E quando o repórter é foca? Nossa, coitados dos novatos, pois as gafes são inevitáveis.

O bom repórter apura (ouve os dois lados) e noticia o fato ou ação. Essa coleta de dados nem sempre é fácil; na verdade, dependendo do assunto, é bastante trabalhosa. Mais que uma profissão, é uma missão!

Não atuo como profissional da imprensa aberta e sim como assessor de comunicação. Dentro dessa nobre atividade, respeito quem faz assessoria sem bajulação e tento apurar os fatos da melhor forma, o que também me faz um repórter.

Aliás, este site atende à necessidade que sinto de não escrever somente textos institucionais, mas também escritos que fogem a qualquer regra, com todos os neologismos e achismos que me dão na telha.

Já tive boas experiências com webjornalismo e impressos, mas acredito que TV e rádio são trampos para os jedis – por conta da correria (que é foda, mas vicia) – pois, além de talento, é preciso muito improviso. Admiro os colegas (muitos deles amigos) que viram bicho atrás de matérias diferentes, complexas ou polêmicas.

Enfim, nossas homenagens e parabéns aos repórteres – estes brilhantes profissionais que reportam e nos trazem as notícias do dia-a-dia.  Aos sérios e responsáveis, meus parabéns!

Elton Tavares

Em dias de chuva… – Crônica de Elton Tavares – Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Choveu muito ontem e hoje, em Macapá. Acho que vai chover novamente. Hoje o sol está entocado, iluminando somente o suficiente. Amo dias chuvosos! Em dias de chuva dá vontade de ficar na cama até mais tarde. Ou o dia todo, né não? Claro que desde que não seja demais e alague ruas, pois a gente fica feliz com prejuízos e sofrimento alheio.

Dia bonito pra mim é dia chuvoso. Noite idem. Gosto por não suar e bebo cerveja sem problema, pois o frio me agrada profundamente. Em dias de chuva dou valor até no trânsito (deve ser por não dirigir).

Em dias de chuva, como hoje, lembro quando morávamos em pequena casa de madeira, cheia de goteiras. As poucas panelas eram espalhadas pela casa, para armazenar a água do pinga-pinga. É, no dia cinzento de hoje vejo como melhoramos de vida, pois temos que desligar o ar-condicionado e fazer o esforço para levantar da cama.

Ilustração de Ronaldo Rony

Quando era moleque, em dias de chuva, jogávamos futebol debaixo de temporal e dávamos muito valor naquela parada. Também lembro do meu velho e saudoso pai, que nos ensinava a ensaboar os vidros do carro para que não embaçassem. É, a chuva me traz mil memórias, a maioria muito boas.

Gosto do som da chuva, do barulho dos pingos no telhado. Os dias chuvosos me trazem uma paz imensa. A chuva anuncia: finalmente o inverno chegou.

Ah, não gosto de usar guarda-chuva, gosto do respingo, do frescor, de me molhar. Aliás, nunca gostei de “chove não molha” e sempre avisei: “pode tirar o cavalo da chuva”.

É isso!

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em 2020.

Depois do Carnaval a gente recomeça (Crônica sensacional de Fernando Canto) – @fernando__canto

Fernando Canto, no desfile da sua Boêmios do Laguinho, no Carnaval 2023. Foto: Márcia do Carmo

Por Fernando Canto

Não tenho nenhuma dúvida que quem gosta do carnaval é hedonista, e nesse caso guarda a obrigação para depois do prazer. O carnaval é o tempo em que se tira o uso da carne, no seu sentido literal do latim carnelevamen, mas que é tempo também em que se promove a licenciosidade, a crítica, o erotismo e a voluptuosidade.

Deixar as coisas para depois desse grande acontecimento na vida do brasileiro é prática normal. Tudo se resolve depois do carnaval. O tratamento daquela gastrite, a construção da calçada, o pagamento da luz e do cartão de crédito e até o abastecimento da geladeira. – Ora, ainda tem muita coisa pra se aproveitar na despensa. Pensa o guerreiro fantasiado. – Depois a gente resolve isso, fica frio, diz o chefe da repartição. O Governo abre o orçamento bem pertinho do carnaval, mas só depois é que as ações deslancham e se encaixam, após a imprescindível curtição da ressaca. Às vezes até adianta o pagamento dos funcionários públicos para que estes possam ser felizes e não se esquecerem jamais o quanto os governantes são legais. Depois que acaba o dinheiro do salário, o folião não tem o menor pudor de pedir fiado no mercantil da esquina, no boteco da praça e até no ambulante que conheceu um dia desses no ensaio da escola de samba. Pagará depois, se assim o dono da birita ou da comida aprovar.

O depois do carnaval pode ser espichado para muito longe, depende do valor do fiado, dos interesses do chefe da repartição ou do Governo, que sempre aproveita essa época para encaminhar projetos ao Legislativo, sem alarde, porque o povo nem vai saber. O povo não está nem aí, quer curtir o carnaval. E só. Se souber, diz: – Depois a gente pensa no assunto e tenta resolver.

Soube pelo jornal que o Governo e a Prefeitura vão mudar o secretariado logo que termine a quadra momesca, porque se mexer muito agora pode ter prejuízos políticos. Desde pequenos damos ouvidos a expressões idiomáticas como “Não se deixa para depois o que se pode fazer hoje” e “Deus ajuda quem cedo madruga”, que ensejam a necessidade do trabalho bem feito, com tempo e disposição ou aquela que trata do mau trabalho, daquilo feito com má vontade, onde o tempo também é elemento necessário: “o preguiçoso trabalha duas vezes”. Ideólogos dizem que elas são frases carregadas do espírito capitalista que desde o início da colonização tentou mudar o rumo da vida brasileira a dizendo que o índio era indolente.

Que besteira, dizem uns, por que iria querer trabalhar feito um cão para ganhar dinheiro se a natureza dava tudo a ele? O peixe, as caças, as frutas da floresta, a água… Talvez por isso tenha sido escravizado em algumas regiões. Mal sabiam, porém, os portugueses, que eles mesmos iriam introduzir o carnaval do Brasil e com isso deixar a festa rolar. Assim abandonaram a grosseria do entrudo para depois, em 1852, trazerem a novidade do Zé Pereira, que era “um conjunto de bombos e tambores capitaneados pelo sapateiro português José Nogueira de Azevedo Paredes”, segundo o musicólogo Edigar de Alencar. Por ser ruidoso e contagiante logo se alastrou pelo Rio de Janeiro e depois por todo o país.

Para muitos de nós, brasileiros, as resoluções que tomamos no ano novo só iniciam mesmo depois dessa festa, quando pensamos em criar vergonha e caminhar para perder uns quilinhos, quando decidimos sobre o que precisamos e queremos há tempos, para depois realizarmos algumas ações hipocritazinhas como se nada tivesse acontecido no carnaval, embora sempre haja a conivência de alguém. Eu poderia ir bem mais longe com estas elucubrações, porém hoje é dia de desfile e a minha escola me chama.

Fernando Canto, no bloco A Banda 2020- Foto: Alcinéa Cavalcante

Não posso deixar esse desfile tão esperado por um ano para nele faltar, assim vão falar mal de mim até depois do carnaval. Talvez nem venha a concluir este artigo, por causa da agitação que precede um acontecimento importante como este, onde minha agremiação é uma das favoritas para ser a campeã. Também não posso de jeito nenhum deixar de assumir minha responsabilidade que é escrever este artigo. Mas hoje é sábado e posso concluí-lo mais tarde. Ou talvez depois das 12h00 da quarta-feira de Cinzas quando me recolho, como milhões de outros brasileiros, a uma quase santa meditação.

É que vem o tempo da Quaresma e depois da Semana Santa, no Domingo da Páscoa, rompendo a Aleluia, inicia o ciclo do Marabaixo.

*Publicado em 2008. Jornal do Dia

A Banda Paralela no universo do folião amapaense – Crônica de Elton Tavares

Foto: Elton Tavares

Crônica de Elton Tavares

Na última terça (13), o tradicional desfile do bloco “A Banda” foi adiada em Macapá, por conta de chuvas intensas que atingiram a cidade desde a madrugada e por boa parte do dia. A Prefeitura de Macapá decretou situação de emergência no município e muita gente ficou desabrigada ou prejudicada de alguma forma por conta da tempestade.

Em decisão conjunta com órgãos de governo e do município, a coordenação do maior bloco de sujos do norte reagendou o desfile da Banda, para o dia 3 de março de 2024.

Foto: Elton Tavares

Como A Banda é do Povo e o poder público está na assistência das pessoas e segurança da população, muita gente foi para as ruas na terça-feira gorda sim. Eu estava entre as centenas de pessoas que fizeram uma espécie de bloco paralelo, na contramão da ordem do Gabinete da Tristeza de São Pedro, que arriou toda aquela chuvarada desnecessária aqui no meio do mundo.

Mesmo com o adiamento do evento decretado, centenas de foliões estiveram presentes na Rua Cândido Mendes. Eu entre eles. Pois a fome e sede de Carnaval, foi saciada no churrasco de alguns amigos, que tinham se reunido para ver A Banda passar, “cantando coisas de amor”.

Foto: Elton Tavares

Sim, uma porrada de gente fantasiada ou com abadás aproveitaram a bateria da Império da Zona Norte e caixas de som que embalavam o festejo na casa em que os caras se confraternizavam e lá se esbaldaram.

A justificativa, embora nobre em sua essência, não foi atendida pelos amantes do Carnaval. Claro que ninguém ficou feliz com o problema das pessoas atingidas com as chuvas torrenciais, mas o Estado, Prefeitura e demais autoridades cuidaram da situação.

Foto: Elton Tavares

Afinal, era a semana mais esperada do ano, um período de liberdade e celebração onde as tradições se sobrepõem até mesmo às preocupações mais pragmáticas. Ir contra isso era como tentar segurar o ímpeto das ondas com as mãos nuas.

“A Banda paralela” não deixou a desejar em nada a irreverência e alegria contagiante de seus foliões sujos de purpurina. Os tambores continuaram a ecoar pelas ruas, os carros de som improvisados surgiram em cada esquina e as manifestações da quadra momesca encontraram espaços para florescer na Rua Cândido Mendes, em frente ao Teatro das Bacabeiras e no Mercado Central de Macapá.

Tradição foi difícil ir contra. Uma boa parte da população ganhou as ruas e curtiu cada batucada, cada carro de som e cada manifestação da quadra momesca que rolou. Afinal, a chuva não apagou o fogo sagrado do Carnaval. Para mim, foi a expressão mais genuína da alma de um povo que encontra na festa uma forma de reinventar e de afirmar sua identidade cultural diante de qualquer tempestade que possa surgir.

Eu e Kledson Mamed, o Jesus que operou o milagre da Banda Paralela

“...A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira…” – A Felicidade – (Vinícius de Moraes).

Hoje é o Dia da Amizade (crônica de agradecimento aos meus incríveis amigos) #diadaamizade

Hoje (14), sei lá porque, é o “Dia da Amizade”. Sempre escrevo aqui sobre datas curiosas e sua origem, mas mesmo sem saber o motivo, vos digo: todo dia é dia da amizade. Quem consegue conquistar minha amizade sabe que é algo que cultivo, se for recíproco, claro.

Segundo pesquisa, “o Dia Internacional da Amizade”, inicialmente foi adotado em Buenos Aires na Argentina, através de um decreto. A data aos poucos passou a ser comemorada em diversas partes do mundo, e atualmente, quase todos os países acabam festejando esta data especial“.

Bom, os amigos são a família que escolhi, o meu povo, os meus amados (e às vezes odiados). Afinal, as brigas fazem parte da coisa. Por causa dos amigos, já me meti em brigas, fofocas, me endividei, bati e apanhei. Não me arrependo de nada, eles fizeram por mim também. É na hora que o bicho pega que vemos quem é quem. Ah, uma verdade absoluta sobre mim é: NUNCA SACANEIO OS MEUS AMIGOS.

Li em algum lugar que “Amigo é aquele que o coração escolhe”. Em outro, que “não fazemos amigos, os reconhecemos”. Em outros casos, uso a frase de Paulo Sant’Ana: “tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos”. É, gosto demais de uma galera que considero pra caralho! Uma coisa é certa, a amizade é um bem precioso. E como é!

Tenho amigos de infância, amigos doidos varridos, amigos velhos, amigos jovens, tenho amigos pra caralho (só assim pra vencer uma porrada de inimigos que possuo). Difícil é nomear todos, mas lhes rendo homenagens aqui neste site sempre que trocam de idade. Sobretudo, enfatizo a minha família (mamãe, irmão, namorada, alguns tios e alguns primos), eles sempre foram e sempre serão os meus melhores amigos.

Sempre que precisei muito dos meus verdadeiros amigos, fui atendido ou socorrido. Afinal, sempre brinco (e falo sério) quando digo que tenho mais inimigos que o Batman. Sou grato à todos. Ah, que fique registrado: amo vocês, comparsas.

Por tudo isso, hoje agradeço a Deus pelos meus verdadeiros amigos (que são muitos, de todas as classes sociais, ideologias políticas, héteros, gays, raças e crenças). Vocês que fazem parte da minha vida e a tornam muito mais feliz e feliz pra cacete! Sei que me aturar não é fácil.

A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro” – Platão.

Elton Tavares

Kledson Mamed gira a roda da vida. Feliz aniversário, amigo!! – @mamedmcp

Eu e Mamed, durante uma cobertura jornalística em 2023

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Também costumo dizer que o jornalismo me deu grandes amigos. Alguns inimigos também, mas faz parte. Neste décimo dia de fevereiro, Kledson Mamed gira a roda da vida e deixo aqui registrado que dou muito valor nesse cara, que chega aos 45 anos (tens durado, Lelis).

Kledson é meu colega de trabalho na Secretaria de Comunicação do Tribunal de Justiça do Amapá. Não lembro ao certo a época que conheci o Mamed, mas de certo faz mais de uma década. Em um ano de trampo juntos, o cara que era somente um conhecido, se tornou um amigo querido.

Mamed e amigos da Secom TJAP

Kledson é talentoso editor de imagens, bom fotógrafo e repórter cinematográfico. Um excelente profissional e um cara trabalhador. Também é fervoroso flamenguista, pirata da batucada, sócio remido do Bar Cajueirinho, apreciador de música amapaense e rock and roll e amigo fiel aos seus brothers.

Kledson é aquele tipo de pessoa que está sempre pronto para ajudar, para dar um conselho sincero ou até mesmo uma bronca quando necessário. Mamed é uma figura com autenticidade, gente boa demais, batalhador e parceiro.

Com o Mamed, em uma das nossas divertidas reuniões etílicas

Esse mano tem nome e cara de árabe, bruto, é sincero e às vezes até sem noção, mas com grande coração, bom humor, sacadas hilárias e totalmente sem limites. Ah, ele também é filho, pai e irmão dedicado e amoroso, do seu jeito, à bruta.

Em resumo, o aniversariante é um doido varrido porreta pra caralho. Mamed, mano velho, “tu saaaabes…” Que teu novo ciclo seja ainda mais feliz, produtivo, iluminado e paid’égua. Que tenhas sempre saúde e grana. Que tudo que couber no teu conceito de sucesso se realize. Que a Força sempre esteja contigo. Parabéns pelo teu dia e feliz aniversário!

Elton Tavares

É Carnaval, é a doce ilusão, é promessa de vida no meu coração – (Crônica de Elton Tavares sobre a maior festa cultural brasileira)

Essa semana começa mais um Carnaval, a maior festa popular do Brasil. Amo a quadra carnavalesca, particularmente os festejos de rua. A “festa da carne” é paixão e amor, só entende quem sente. Para aqueles que acham tudo uma grande besteira, azar o de vocês, pois não sabem curtir a maior festa cultural brasileira.

Macapá já teve bons carnavais de clube. Na época, os foliões compravam temporadas (as mesas eram “bancas”) carnavalescas, bons tempos. Cresci no meio de gente alegre: meus pais, tios e os amigos deles. Todos “pulavam” nos bailes carnavalescos mais disputados da cidade. Eram realizados no Trem Desportivo Clube ou no extinto Círculo Militar (esse mais elitizado). Ainda adolescente participei de muitas dessas festas memoráveis.

Eu, Rei Momo

Esse ano, desfilarei mais uma vez pela minha amada Piratas da Batucada, como faço desde 1990. O lance é curtir o Carnaval, a emoção e a alegria que ele proporciona. Afinal, “todo mundo bebe, mas ninguém dorme no ponto”. Mentira, muitos passam sim, mas a gente gosta assim mesmo.

Não tenho ziriguidum, não toco surdo de repique, tamborim ou bumbo, tudo pra não atravessar o samba. Também não sou pierrô e nem palhaço, mas já fui Rei Momo e serei sempre pirata da batucada.

Eu, no Piratas da Batucada, em 2015 (como faço desde 1990) – Foto: Abinoan Santiago

Sim, sempre fui um folião fervoroso, pois não nasci em fevereiro, mas o Carnaval tá no meu coração. E nem me venham com o lance de ser “pão e circo”, pois isso é argumento furado de quem não entende que essa é a maior festa popular do Brasil. Cheio de memória, arte, homenagens, é muito mais que uma disputa de agremiações em uma grande passeata festiva. Ou “um bando de bêbados nas ruas”, como dizem os desavisados (ou burros mesmo).

O Carnaval é inspiração, vibração, talento, organização, imaginação, arte, luz, cores, alegria, magia e amor. Fala de nossos costumes, história e tradições. Um contagiante evento de luz, cor e muita alegria. Sem falar na importância que possui para a economia, pois faz o dinheiro circular e beneficia toda a cadeia produtiva, comércio formal e informal.

No ensaio aberto do Piratas da Batucada, com a Bruna Cereja, minha namorada – Fevereiro de 2024

Tô louco desfilar na minha amada escola de samba Piratas da Batucada e andar todo o percurso d’A Banda, a louca marcha alegre. Sim, também estarei no Piratão e naquela multidão de máscaras coloridas. Vamos botar pra quebrar nas ruas de Macapá. Como diz a velha marchinha do remador: “Se a canoa não virar, olê, olê, olá, eu chego lá”.

Enfim, o Carnaval é festa que contempla as tradições e a história afro-cultural brasileira e nos dá a falsa sensação de liberdade, música, suor e alegria. Como diz o samba: “É Carnaval, é a doce ilusão, é promessa de vida no meu coração”. O que resta é esperar a cor que virá depois do cinza. E ela virá (se Deus quiser). Afinal, a festa da carne é isso: ludicidade, beleza e esperança. Tenham todos um ótimo Carnaval!

Elton Tavares – jornalista, escritor e folião. 

Fantasia real – Crônica de carnaval do Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

No Carnaval, saí fantasiado de mim, de eu, de eu mesmo. Ninguém me reconheceu. Andei pelos lugares que frequento, pelo Caos, pelo Formigueiro, pelo Bar do Nego, pelo Underground. Nessa ordem. Eu estava com minha fantasia intitulada “Eu, Eu, Demasiadamente Eu, Absolutamente Eu” e ninguém sacou quem era aquela pessoa ali fantasiada. Quase cheguei ao ponto de gritar para aquela multidão de foliões:
– Ei! Sou eu que estou aqui!

Só não fiz isso porque achei que, mesmo assim, não se levantaria um cristão sequer a me apontar o dedo pra fazer a revelação que eu precisava, gritando no mesmo tom do meu grito:
– Olha só! Descobri quem está por trás dessa fantasia! É ele!

Acompanhei a Banda, na esperança quase desesperada de que alguém me descobrisse, e nada. Quando, finalmente, rasguei a fantasia, me desnudando totalmente, mesmo assim não ouvi o que tanto desejava há tantos Carnavais. Que alguém, se descobrindo, me descobrisse:
– Sou eu! É ele!

Ao fim do Carnaval, que se estendeu pra muito além do calendário, desisti da ideia de que me revelassem. Voltei pra casa, já quase em cinzas, e um cachorro de rua chegou a mim, retornando também de sua quadra carnavalesca. Tirando a fantasia de cachorro e ainda permanecendo cachorro, ele rosnou de uma forma que não sei se foi de raiva, carinho, surpresa ou alerta. Ou todas as respostas anteriores. Esse rosnado eu traduzi assim:
– Ei! Eu sei quem tu és!

Ele se calou, contrariando a minha vontade de que aquele cachorro fizesse um comentário mais longo, mais abrangente. Ficamos em silêncio e o nosso segredo se sagrou, sangrou, se cristalizou. Quem sabe se, no próximo Carnaval, a gente se revela…

Alegria é lei – Crônica de carnaval do Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Noite de Carnaval, uma das Mil e Uma Noites de Carnaval, e eu diante da televisão. Em retiro espiritual? Nem tanto. Estava olhando as bundas rebolativas maravilhosas, reais e artificiais, que desfilavam nos sambódromos e passarelas deste carnavalesco Brasil.

Meu programa de folião se resumia a isso. Mas, depois que a exuberância bundística cansasse meu tarado, porém inofensivo, olhar, eu iria me entregar ao resto do programa: um bom livro e uma xícara de chá, embaixo do meu solitário edredom. O Rei Momo dominava o resto do Brasil e só eu me encontrava enclausurado nesta ilha que é o meu quarto. Que maravilha!

Mas ei que a campainha tocou. Quem estaria a estas horas longe da esbórnia cívica nacional? Abri a porta e me deparei com um pierrô, uma colombina, um arlequim, um pirata do Caribe, um sheik e cinco Fridas Khalo, que este ano estiveram em alta, disparadas na preferência de muitas pessoas. E tinha também um delegado de polícia. O delegado era delegado mesmo, não uma fantasia. E foi ele quem falou pelo grupo:

– Boa noite, cavalheiro! Viemos informar que o senhor está infringindo vários artigos do Código Civil. Onde já se viu uma coisa dessas?

– Mas o que foi que eu fiz?

– A questão não é o que o senhor fez e, sim, o que o senhor não fez!

– E o que foi que eu não fiz?

– O senhor, em pleno período de Carnaval, neste país, que é, nada mais nada menos, que o País do Carnaval, está recolhido aos seus aposentos. Os seus vizinhos, aqui representados por estes cidadãos, que prezam as tradições do lugar em que vivem, exigem que o senhor troque esse pijama por uma fantasia qualquer, o seu chá por uma bebida alcoólica e o seu livro por um adereço de mão. E venha para a rua pular, cantar, festejar a alegria e a liberdade de um país que decreta feriado nacional, universal e intergalático para que seus filhos possam se jogar, sem temor, nos braços da felicidade.

O grupo de foliões aplaudiu o delegado, que estufou o peito em resposta, muito satisfeito de seu discurso. Eu protestei:

– Já que o senhor falou em liberdade, será que uma pessoa não é livre para escolher se quer participar das festas? Assim como as pessoas que aqui estão têm o direito de dançar, eu tenho o direito de não dançar, de ficar no meu canto sossegado e….

O delegado, que procurava algo para me incriminar, me interrompeu:

– Aí é que está, cidadão! O senhor está sossegado no seu canto. Os seus vizinhos afirmam que o seu silêncio está atrapalhando o barulho que eles estão fazendo com tanta dedicação!

Aí foi que eu me confundi mesmo! Já sem força, nem raciocínio, para protestar contra aquele absurdo, me limitei a perguntar, já procurando minha carteira para uma providencial propina:

– E o que devo fazer para reparar esse dano?

– O senhor escolhe: pagar uma multa altíssima, ser recolhido ao xadrez ou cair na folia com seus semelhantes.

Escolhi a última opção. Vocês viram um folião todo desajeitado por aí? Era eu.

No trabalho, a gente finge ser normal – Crônica de Elton Tavares sobre encontro com velhos amigos, em ambiente profissional

Com Werlen, Cris e Anderson, em 2023, na última vez que eu tinha encontrado com os três juntos pessoalmente.

Sempre digo que aprendi a ter amigos longevos, pois sou sortudo por ter bons companheiros há muito tempo. Hoje encontrei velhos e queridos deste grupo de pessoas. A controada foi com o advogado Anderson Favacho e os assessores jurídicos Werlen Leão e Cris Lozich. Apesar dos três serem Doutores operadores do Direito, são irreverentes e divertidos. É sempre bacana revê-los, mesmo de forma rápidola.

Cris e Werlen, que, aliás, são casados e estão juntos desde a época que os conheci, lá por 1998, sempre foram tranquilos, mas festeiros e parceiros de momentos memoráveis. Já o Anderson, da malucada e porralouquice dos anos 90, assim como eu, e era chamado de “Gordo Loco”. Imaginem as merdas que já fiz com esse brother (risos).

Conheço essa galera há mais de 30 anos.

É como se durante aquele breve encontro, o tempo se dobrasse, e por alguns instantes, os quarentões vissem uns nos outros, os jovens embriagados pela bebida barata, música e saudosa euforia da juventude.

Muitas das histórias com meus velhos amigos são recheadas de momentos sensacionais e memoráveis. Porém, alguns episódios são totalmente impublicáveis e hilários. Como diz o escritor Fernando Canto: “de um tempo que fomos para sermos o que somos”. É isso mesmo.

Ah, a ironia é a “normalidade careta cotidiana”, nada peculiar, dessa nossa turma no trampo. Chega a ser engraçado. Quatro pessoas que o Rock and Roll fluí em suas veias, mas vestidos como cândidos profissionais, com vestimenta meio social, com postura convencional. Aliás, que é o certo, pois todos somos responsáveis com o que paga nossas divertidas vidas.

Dos quatro, sou o único que não tem filhos. Mas meus outros três velhos amigos sabem igualmente navegar entre os mundos dos normais e o nosso universo Rock and Roll.

Encontro porreta hoje com Cris, Werlen e Anderson. Velhos amigos!!

Mesmo assim, na conversa, soltamos pérolas da boa malandragem e boemia. Sem sair da ética, claro. Conversamos, rimos, prometemos um encontro etílico para logo que possível e seguimos.

Em resumo, Werlen, Cris e Anderson são pais, filhos e amigos amorosos. Uma galera gente boa demais. Com eles, mantenho uma relação de amizade e respeito, mesmo a gente com pouco contato. Mas os encontros são sempre bons. Amizade é um bem precioso, fato. E no trabalho, a gente finge ser normal. É isso!

Elton Tavares

Meus parabéns, Macapá! (homenagem à minha cidade e seus 266 anos) #Macapa266Anos

Foto: Richard Ribeiro

Hoje nossa cidade completa 266 anos, repleta de belas histórias e alguns fatos tristes. Macapá, cheia de riqueza natural e tantas curiosidades, a cidade do “Meio do Mundo”. A única capital brasileira cortada pela linha do Equador e às margens do rio Amazonas. São aproximadamente 500 mil habitantes distribuídos em 59 bairros.

Minha família é pioneira na cidade. Aqui nasci e me criei. É onde trabalho e vivo bem, graças a Deus. Aqui escrevo, literalmente (como vocês têm acompanhado), minha história. Sou grato por todas as oportunidades que me foram dadas nesta terra abençoada.

O nome Macapá é de origem tupi, como uma variação de “macapaba” e quer dizer lugar de muitas bacabas, uma palmeira nativa da região, a bacabeira. Antes de ter o nome de Macapá, o primeiro nome concedido oficialmente às terras da cidade foi Adelantado de Nueva Andaluzia, em 1544, por Carlos V de Espanha, numa concessão a Francisco de Orellana, navegador espanhol que esteve na região.

Foto: Governo do Amapá

Macapá tem gente que amo, gente que me respeita, que me tem apreço. Este é o meu lugar, minha terra amada. Gosto de viajar, mas amo sempre voltar pra cá. Minha cidade alimenta minha produção jornalística/contista/cronista. Há mais de uma década, escrevo sobre lugares, pessoas e fatos dessa cidade maravilhosa. Tento mostrar o lado bom de nossa cidade. Sua Cultura em todas as vertentes. E vos digo: apenas comecei!

Sei que a capital do Amapá possui muitos problemas sociais, políticos, estruturais, mas graças a Deus, as coisas mudam para melhor. Somos um povo acolhedor, as pessoas que vieram de outros lugares sabem disso, por mais que muitos digam que não estão felizes por isto ou aquilo, mas quase ninguém vai embora.

Torço para que muitos se orgulhem, como eu, de ser macapaense. O som do batuque do meu coração toca a caixa de Marabaixo em minha alma. Amo ser da “esquina do rio mais belo com linha do equador”. Estamos no meio do planeta e este é o nosso lugar no mundo.

“Oh, São José da Beira-Mar proteger meu Macapá”. Parabéns, jovem cidade, pelos teus 266 anos. Viva Macapá!

Fale de sua aldeia e estará falando do mundo” – Leon Tolstói.

Elton Tavares

 

 

Cidade Lançante – Crônica de Fernando Canto – @fernando__canto #Macapa266Anos

Foto: Floriano Lima

Por Fernando Canto

Esta baía é uma grande gamela de líquidas contorções, ondas que bailam sob a música do vento.

Esta baía não guarda mais o sangue inglês do comandante Roger Frey que pereceu sob a espada implacável do capitão Ayres Chichorro a 14 de julho de 1632, um dia claro, aliás, de verão amazônico, quando o sol derretia naus e o piche dos tombadilhos. Nem o sol, nem o vento, nem o oceano lá adiante cogitavam que naquela mesma data, dali a 157 anos o povo francês tomaria a Bastilha.

Na margem esquerda deste rio imensurável uma floresta úmida abrigava uns seres esquisitos, cabeludos e cheios de penas coloridas que os portugueses conheciam por Tucuju, Tikuju, Tecoju ou Tecoyen. Segundo ensina a mestra Dominique esse era um povo de origem Aruaque, ocupante da Costa Sul do Amapá que se tornou aliado dos holandeses, dos franceses e dos irlandeses. Por isso foi atacado impiedosamente por uma expedição do desbravador Pedro Teixeira no ano da graça de 1624. Sua história, no contexto da nossa, dá conta que após a façanha do capitão português esse povo procurou abrigo no Cabo do Norte, mas foi reduzido pelos jesuítas a uma missão no baixo Araguari e pelos capuchinhos no baixo Jari. É provável que um pequeno grupo tenha sobrevivido ao sul do município de Mazagão até o início do século XIX. Desse pequenino grupo restaram apenas as cinzas do tempo e um soluço quase imperceptível que morre a cada segundo na agonia de todos os silêncios.

Foto: Max Renê

Esta baía guarda estranhos segredos: uns são contados em língua morta, quando o hálito da madrugada sopra depois que a lua assim determina. Esses são de difícil entendimento. Os outros pairam nos escaninhos dos tabocais ou na boca das pirararas. Dificilmente serão contados.

O estuário deste rio dadivoso acelera a corrente de 2,5 quilômetros por hora para jogar no oceano cerca de 220 mil metros cúbicos de água por segundo. O inacreditável é que apenas o desaguar de 24 horas daria para abastecer de água potável uma cidade superpovoada como São Paulo por quase 30 anos. Números são números, diria o matemático. Nessa foz está a redenção de nossa terra, diz o sonhador sem perder sua utopia. Do barro e dos detritos aluviais se faz a vida. E ela está ali dentro das águas à espera da sustentação das mãos trabalhadoras.

Foto: Juvenal Canto

Esta baía não se faz só de águas e barcos deslizando ao sabor das ondas. Ela abriga uma pequena joia nascida sobre a várzea dos aturiás, velada há dois séculos por uma fortaleza plantada em cima de falésias.

Macapá, velho pomar das macabas, carrega dentro de si a similitude de um éden tropical das narrativas dos antigos viajantes, até por ser banhada por tantos líquidos e cheiros advindos diariamente pela chuva refrescante e pela espuma das lançantes marés.

Foto: Floriano Lima

Macaba, Maca-paba:gordura, óleo, seiva do fruto da palmeira, vida e princípio desta terra, posto que a sombra traz a ternura e contrasta com o benefício da luz que se espraia por glebas de esperança.

Antiga terra da maleita e da febre terçã. Terra do “já teve” já não és. Mas alguns homens ainda jogam em teu traçado xadrez e, silenciosos, manipulam segredos e conspiram contra ti, a degradar-te e degredando teus verdadeiros sonhos e tua vocação para o abrigar da vida que se espera. Mesmo assim a felicidade bem insiste em se hospedar em ti.

Foto: Juvenal Canto

Embora batizada com nome de santo – especialíssimo no panteão católico – teus habitantes não ficam isentos dos perigos: pés se torcem ou se fraturam todos os dias nos buracos das ruas outrora bem cuidadas.

Agora eu fico aqui me perguntando: por que quando te fundaram ergueram um pelourinho? – “Símbolo das franquias municipais”, dirão os doutos e sisudos professores. Ora, quantos homens não castigaram seus escravos até à morte após a partida do governador Francisco, porque estes aproveitaram para fugir durante a solenidade.

Foto: Manoel Raimundo Fonseca

Um tralhoto viu e contou ao Mucuim que diz-que o Ouvidor-Geral e Corregedor Paschoal de Abranches Madeira Fernando tomou um porre de excelente vinho do Porto ofertado a ele nesse dia pelo plenipotenciário capitão-general Mendonça Furtado, que daqui zarpou para o rio Negro para demarcar as fronteiras do reino, a mando de Pombal. Foi um dia de festa aquele 04 de fevereiro de 1758, porque nasceu naquele instante a vila de São José de Macapá.

E ela cresceu e se fez linda e amada, pois os caruanas das águas vez por outra rondam em espirais por aí, passeando em livros abertos, nos teclados dos computadores, pelas portas e pelos filtros dos aparelhos de ar condicionado, nos protegendo das agruras naturais e das decisões de homens isentos do compromisso de te amar.

Parabéns, Macapá!

* Texto escrito em 2001.