Há um novo bar restaurante na cidade. Poucas novidades e velhas canalhices – Crônica de Elton Tavares

Crônica de Elton Tavares

Há um novo bar restaurante na cidade. Também a velha mania de parar por qualquer evento diferente, tipo coisa do interior. Mas até aí tudo bem, faz parte da fuga por coisas novas.

Também há muita insatisfação, descrédito e pouca esperança. Também jovens ávidos por uma chance, um emprego e velhos professores aflitos pelo retorno de benefício salarial ou os novos, pela falta de um reajuste justo.

Há crianças se prostituindo e velhos coronéis ainda no poder. Há gente morrendo nos hospitais e alguns ainda dizem que tudo está no seu lugar. Há caos, desordem e desonestidade à rodo. Há má vontade…

Há sonhos engavetados e paixões idiotas. Há muita grana a ser gasta com a massa de manobra por interesses obscuros. Há medo!

Há pessoas assistindo a tudo sem fazer nada. Uns por egoísmo, outros por conveniência. Há ameaças, chantagens, acordos e punições. Há violência. E de toda forma. Corpórea e moral. Há assédio, mas todos chamam de “Lei do mais forte”.

Há casamentos, separações, mortes e nascimentos. Há loucos impetuosos e covardes acomodados. Há muita alienação e burrice colorida. Há canalhas demais!

Há muita beleza natural, muita gente do bem, tanto por fazer e amores (sur)reais. Mas há poucas novidades e velhas canalhices, mas todo mundo só pensa na porra do novo bar restaurante na cidade.

Elton Tavares

Prefeitura repassa R$ 155 mil para realização do 1º Festival Literário de Macapá nesta segunda-feira (15)

Intuito é fortalecer a política do livro, democratizar o acesso e incentivar a leitura | Foto: Arquivo/PMM

A cultura literária na capital recebe investimentos nesta segunda-feira (15), para a realização do 1º Festival Literário de Macapá (Flimac), com o repasse de R$ 155.803,00. O prefeito da capital, Dr. Furlan, faz a entrega do cheque simbólico no Mercado Central. O intuito é fortalecer a política do livro, democratizar o acesso e incentivar a leitura.

O festival será realizado nos dias 18 a 22 de agosto e a programação conta com palestra, contação de histórias, exposições de artes visuais, lançamentos de livros, mesas de debate e saraus em diversas instituições públicas. Além disso, o evento também destaca a atuação de profissionais macapaenses com a entrega do “Troféu Jurema de Literatura”.

O fomento acontece por meio da emenda parlamentar do deputado federal, Camilo Capiberibe, sendo deliberada pela Fundação Municipal de Cultura (Fumcult).

Para o diretor-presidente da Fumcult, Olavo Almeida, o investimento contribui para o desenvolvimento cultural, literário e pedagógico de crianças e adultos.

“Esse investimento será utilizado para financiamento de toda a estrutura e contratação de profissionais para a realização do festival. É um momento importante que marca o compromisso em envolver toda a sociedade em um evento que valoriza todas as formas de expressão para o desenvolvimento da leitura e escrita”, explica.

Anézia Lima
Fundação Municipal de Cultura

Poema de agora: Suspensório colorido – Luiz Jorge Ferreira

Suspensório colorido

…Estamos na sétima década…
Convivemos com Outonos e Invernos cada vez mais ásperos.
Há no outdoor um frase que não nos estimula a nos desfazermos dos chinelos e caminhar para os Arco-íris dependurados um pouco adiante.
O tataravó do nosso gato siamês…nos reconhece.
Estamos debaixo dos lençóis e o frio entrou conosco.
As coceiras são futuros ferimentos…
E os ferimentos são praticamente tatuagens perpétuas.
Mas encontrar os amigos para conversar sobre passado é um bálsamo.

Quem criou a palavra saudade.
Criou a saudade que se fragmenta todo o dia, mas todos os dias ela surge inteira, dentro da xicara de café, em uma fatia de pão, no tamborilhar da chuva na vidraça, em um antigo filme preto e branco…
Nós estamos na sétima década…
Nada nós retrata a eternidade.

Luiz Jorge Ferreira

Aluna do curso de Jornalismo publica livro sobre Walter Benjamin e a aura jornalística

A aluna do curso de Jornalismo da Unifap Tássia Malena publicou um livro pela editora da Universidade. A obra, intitulada AUTENTICIDADE NA ERA DA REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA NO JORNALISMO é resultado do TCC defendido no primeiro semestre de 2022 e conta com prefácio escrito pelo professor Ivan Carlo. Pode ser baixada no link: https://www2.unifap.br/editora/files/2022/08/autenticidade-na-era-da-reprodutividade-tecnica.pdf

Confira o resumo:

Com base na teoria crítica, inspirada em Marx e surgida na Escola de Frankfurt, “Autenticidade na Era da Reprodutibilidade Técnica”, busca discutir, a partir do famoso ensaio “A Obra de Arte na Era da Reprodutibilidade Técnica”, de Walter Benjamin, acerca da autenticidade em meio à reprodução em série tratada por Benjamin, só que agora no âmbito digital.

O escopo da discussão procura compreender e analisar o sentido do autêntico dentro da produção jornalística na web desde a migração do jornal para o meio digital, ainda no início dos anos 2000, até o contexto atual, levando -se em consideração o meio tecnológico, a revisão dos conceitos de autoria no decorrer da história, o entendimento a respeito do que vem o ser o estado de pureza/aura discutido por Benjamin no ensaio escrito por ele e publicado em 1955.

Outros conceitos também são discutidos, como os remixes, de Levy (1998); a convergência dos meios de comunicação, de Jenkins (2009) e Castells (2017); o próprio sentido de autoria analisado por Foucault (2009), bem como temas atuais e necessários para a compreensão e reflexão relacionados à produção, ao compartilhamento e à disseminação de notícias falsas, distorcidas ou fabricadas de caráter essencialmente sensacionalista para a intensificação da desinformação e atemorização da população.

Fonte: Blog do Ivan Carlo.

Poema de agora: Conterrâneo – Luiz Jorge Ferreira

Conterrâneo

O Papa veio a ilharga da cruz.
O Papa acha que Deus é brasileiro.
Tem CIC RG PIS e PASEP,
cuida dos amigos no Presépio, e fala com a Matriz via Internet.
Mora em Madureira, reclama da demora do Busão, e do cheiro podre dos trens.

O Papa acha que Deus é Black, e tem filhos internos na Febem.
Tem um irmão em Bangu, e sobrinhos que surfam no trem, e gosta de Belém aonde seu menino nasceu.
Ele acha ‘ divino’ o bico de guardador de carro no Maracanã em dia de Fla x Flu.
Deus só não conta para ele que tem um terreiro em São João de Mereti, e outrossim…e outrossim…e outrosins.

Luiz Jorge Ferreira

Pesquisadores do Profhistória apresentam livro sobre Ensino de História e Direitos Humanos

O livro “Ensino de História e Educação em Direitos Humanos – sujeitos, agendas e perspectivas de pesquisas” é organizado pelos professores Antonio Sardinha, David Junior de Souza Silva e Raimundo Erundino Santos Diniz, com publicação pela Editora da Universidade Federal do Amapá (EDUNIFAP).

A iniciativa resulta de um trabalho conjunto de docência no âmbito do Programa de Mestrado de Ensino de História (ProfHistória) da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). O diálogo entre docentes do Programa para pensar a oferta da disciplina História e Educação em Direitos Humanos estimulou a necessidade de ampliar o debate, observando aspectos e percepções distintas quando se pensa as práticas e processos de ensino de História na perspectiva dos Direitos Humanos.

Os pesquisadores convidados para colaborar com o livro estão vinculados a universidades brasileiras e instituições que atuam na formação em direitos humanos, com produção científica reconhecida nos temas destacados.

São temas em destaque na obra: comissões da verdade e a história escolar no contexto do direito à memória e verdade; Ensino de História e Direitos Humanos da população LGBT no contexto da ditadura, além da interface do Ensino de História com as questões étnico-raciais, gênero e sexualidade e Ensino de História em territórios rurais e prisionais.

Cabe destacar que o livro contou com comissão ad hoc formada especificamente para avaliação do material publicado. A comissão envolveu pesquisadores vinculados a várias universidades do país, com destaque para instituições da Região Norte.

O livro pode ser acessado pelos links abaixo:
https://www2.unifap.br/editora/files/2022/06/ensino-de-historia-e-educacao-em-direitos-humanos.pdf

www2.unifap.br/editora/e-books

Assessoria Especial da Reitoria – Assesp/Unifap

Texto: Divulgação

Curso de Especialização em Estudos Culturais apresenta publicações inéditas com colaboração de pesquisadores do Brasil e América Latina e Caribenha

O Grupo de Pesquisa Estudos Interdisciplinares em Cultura e Políticas Públicas (CNPq/Unifap), vinculado ao Curso de Especialização em Estudos Culturais e Políticas Públicas, apresenta dois livros inéditos com a colaboração de pesquisadores nacionais e internacionais.

Para o professor Dr Antonio Sardinha, líder do Grupo de Pesquisa Estudos Interdisciplinares em Cultura e Políticas Públicas (CNPq/Unifap), as obras resultam de uma rede de cooperação que envolve pesquisadores do Brasil e do exterior. A proposta é ampliar o diálogo e discutir agendas de pesquisa que se conectam, a partir da Amazônia.

O livro é organizado pelos professores Antonio Carlos Sardinha (Grupo de Pesquisa Estudos Interdisciplinares em Cultura e Políticas Públicas (CNPq/Unifap) Eloina Castro Lara – Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (México)/Universidad Nacional de La Plata (Argentina), Valeria Belmonte – Universidad Nacional del Comahue/Universidad Nacional de La Plata (Argentina) e Verônica Maria Alves Lima – Universidade Federal Fluminense (Brasil)/Universidade de Tübingen (Alemanha).

A obra conta com 21 pesquisadores de 12 instituições de ensino superior de países latino-americanos e caribenhos, entre eles Cuba, Argentina e México.

A proposta da publicação é apresentar, a partir de uma perspectiva latino-americana, abordagens críticas e alternativas em torno dos fenômenos comunicacionais e culturais atravessados por dissidências, resistências e conflitos constituídos na mobilização criativa de saberes.

O acesso ao livro pode ser feito pelos links
https://observatoriodh.com.br/?p=4495
https://www2.unifap.br/editora/e-books/

Livro Política, Deliberação Pública e Organizações Sociais na Contemporaneidade.

O livro é organizado pelos professores Antonio Sardinha (Unifap); Dra Dilneia Dilnéia Rochana Tavares do Couto (Universidade do Estado do Amapá – UEAP) e Dr. Delamar José Volpato Dutra (Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC).

A obra conta com a colaboração de 25 pesquisadores situados em centros de pesquisa de seis instituições de ensino superior das regiões Norte, Nordeste e Sul do Brasil.

Além disso, colaboram com o livro os pesquisadores Cristián Valdés Norambuena, do Chile; Salvador Vidal-Ortiz , da American University, de Washington e Patricio Simonetto, do Institute of the Americas – University College London.

A proposta da publicação é discutir contribuições resultantes de processos de investigação concluídos ou em andamento, capazes de problematizar a ação política e materializadas em sentidos, representações e outras práticas sociais atravessadas pelo campo da cultura e protagonizadas por sujeitos, organizações e movimentos sociais.

O acesso ao livro pode ser feito pelos links
https://observatoriodh.com.br/?p=4449
https://www2.unifap.br/editora/e-books/

Texto: Divulgação
Assessoria Especial da Reitoria – Assesp/Unifap
[email protected]

Poema de agora: Fatalidades – Pat Andrade

Fatalidades

o barco encalha
no lixo flutuante
o peixe no prato
é um resto de ontem

a canoa virou
numa lançante
um corpo boiou
debaixo da ponte

a vida mais ou menos
segue adiante
o olho da lavadeira
vagueia no horizonte

o suor da cidade escorre
na maré vazante
a noite pinta a lua no céu
ilumina o próprio Caronte

Pat Andrade

Amar é o lance! – Crônica de Elton Tavares

Escuto sempre que a vida é simples e somos nós que complicamos. O lance é viver sem frescura, fazer o bem, fazer o certo, cercar-se de gente que realmente importa. O lance é ter vergonha na cara, sem muita conversa ou muito explicar, se fazer feliz.

O lance é ser autêntico, verdadeiro, bom e amoroso. Também respeitado, aguerrido e combativo se preciso. O lance é ser bem humorado, espirituoso e até irônico, se necessário.

O lance é identificar amigos que não só pedem, mas também se dão. O lance é fazer o que gostamos, seja no bar o ou na igreja, tanto faz.

 

O lance é honrar a família, não toda, só os que lhe aquecem no frio e apoiam quando dá merda. O lance é respeitar os colegas, seja de trabalho, de copo e pessoas em geral.

O lance é puxar a fila, trazer novidade, não ser só mais um. O lance é, às vezes, usar palavras duras, mas também elogiar e até pedir desculpas. O lance é, se preciso, assumir e confessar erros, bater e apanhar, mas jamais deixar de amar aos seus e a si mesmo. Esse sim é o grande lance!

Elton Tavares

Meu céu – Crônica de Elton Tavares – Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Ilustração de Ronaldo Rony

Pois é. Escrevi uma crônica sobre como seria o meu “Inferno”. Hoje vou falar/escrever um pouco de como seria o meu céu. Não sei se baterei na porta do céu como Bob Dylan. Nem se vou achar o lugar igualzinho ao paraíso, como sugeriu o The Cure, mas estou atrás da “Stairway To Heaven” do Led Zeppelin. Só não vale ter “Tears In Heaven”, do Eric Clapton. Mas vamos lá:

Meu céu é em algum lugar além do arco-íris, bem lá no alto. Bom, lá, ao chegar ao meu recanto celestial, eu falaria logo com ELE, sim, Deus ou seja lá qual for o nome dele (God; Dieu; Gott; Adat; Godt; Alah; Dova; Dios; Toos; Shin; Hakk; Amon; Morgan Freeman ou simplesmente “papai do céu”) e minha hora já estaria marcada.

Ah, não seria qualquer deusinho caça-níqueis (ou dízimos) não. Seria o Deus de Spinoza, que como disse Einstein: “se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”.

Após este importante papo com o manda chuva do paraíso (tá, quem manda chuva mesmo é o seu assessor, São Pedro, mas eu quis dizer mesmo é do chefão celestial), daria um rolé e encontraria todos os meus amores que já viraram saudade. Ah, como seria sensacional esse reencontro!

Bom, meu céu é todo refrigerado e chove. Chove muito, mas nunca inunda as vielas do paraíso e nem desabriga ninguém por lá. Ah, abaixo dele chove canivetes nos filhos da puta (que não são poucos) que encontrei durante a jornada pré-celestial. Óquei, pode soar meio lunático, mas é o meu céu, porra!

No meu céu não tem papo furado, como no capítulo 22, versículo 15, do livro de Apocalipse. Lá entrarão impuros sim ou seria uma baita hipocrisia EU estar neste céu. No meu céu não toca brega, pagode e sertanejo sem parar, afinal, isso é coisa do inferno. Ah, no meu céu não entra corrupto, pastor explorador, padre pedófilo ou escroques de toda ordem, esses tão lá no meu inferno e eu ainda teria o direito de cobri-los de porrada!

No meu céu as pessoas se respeitam, não tentam a todo o momento tirar vantagens do outro. No meu céu, serviços prestados são pagos na hora, chefes são justos e não rola fofoca. Lá não tem puxa-sacos, apadrinhados ou seres infetéticos desse naipe que a gente, infernalmente, convive na terra diariamente.

No meu céu tem churrasco, pizza, sanduba, entre outras comidas deliciosas e que nunca, nunca mesmo, nos engordam (pois é infernal o preconceito fitness). Lá também não sentimos ressaca. No meu céu tem show de rock o tempo todo, com todos os monstros sagrados que já embarcaram no rabo do foguete e a gente curte pela eternidade.

Lá no meu plano celestial não existe a patrulha do politicamente correto, nem gente falsa, invejosa, amarga, e, muito menos, incompetentes. Se tá no céu, se garante, pô!

Não imagino o céu como um grande gramado onde todo mundo usa branco, ou um local anuviado onde anjos tocam trombetas e harpas. Não, o céu, se é que ele existe (pois já que o inferno é aqui, o céu também é) trata-se de um local aprazível para cada visão ímpar de paraíso, de acordo com nossas percepções e escolhas. Bom, chega de ficar com a cabeça nas nuvens. Uma excelente semana para todos nós!

“Eu acho que há muitos céus, um céu para cada um. O meu céu não é igual ao seu. Porque céu é o lugar de reencontro com as coisas que a gente ama e o tempo nos roubou. No céu está guardado tudo aquilo que a memória amou…” – escritor Rubem Alves (que já foi para o céu).

Elton Tavares (que graças à Deus, tem uma sorte dos diabos).

Foto: Flávio Cavalcante

*Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”.

Meu inferno – Crônica de Elton Tavares – Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Ilustração de Ronaldo Rony

Acho que se existir inferno, coisa que duvido muito, cada alma pecadora tem um desses locais de pagamento de dívidas de acordo com suas ojerizas. Nada como no clássico da literatura “A Divina Comédia”, o inferno do escritor italiano Dante Alighieri, que escreveu sobre os nove andares até a casa do “Coisa Ruim”.

Quem nunca imaginou como seria o Inferno? Como seríamos castigados por nossos pecados? Volto a dizer, pra mim o inferno é aqui mesmo. Mas vou pontuar algumas coisas que teriam no meu, se ele está mesmo a minha espera.

Bom, meu inferno deve ser quente. Não tô falando das labaredas eternas com o Coisa Ruim me açoitando pela eternidade. Não. Esse é o inferno mitológico e ampliado da imaginação religiosa. Falo de calor mesmo, tipo Macapá de agosto a dezembro, com quase 40° de temperatura (a sensação térmica sempre ultrapassa isso no couro da gente) e sem ar-condicionado.

Neste inferno, todo mundo é fitness, come coisas saudáveis e é politicamente correto. Meu inferno tem gente falsa, invejosa, amarga, que destila veneno por trás de sorrisos. Ah, meu inferno tem incompetentes, puxa-sacos, gente de costa quente que conta do padrinho que o indicou. E pior, neste inferno sou obrigado a conviver com elas diariamente.

No meu inferno tem gente que atrasa, que me deixa esperando por horas. Ah, lá tem caloteiros e enrolões, daqueles que demoram a pagar serviço prestado por várias razões inventadas.

Neste inferno moldado a mim tem parente pedinchão, “amigo” aproveitador, filas e mais filas para tudo. Tem também muita etiqueta e formalidades hipócritas. E também todo tipo de “ajuda” com segundas intenções. De “boas intenções” o inferno tá cheio.

Neste lugar horrendo só vivo para trabalhar, estou sempre sem dinheiro, sem sexo, sem internet e sem cerveja. Nó máximo Kaiser, aquela cerva infernal de ruim. No meu inferno toca brega, pagode e sertanejo sem parar.

Eu sei, leitor, que devo agora estar lhe aborrecendo. Mas perdoe-me, esta alma é chata e sentimental. Às vezes vivemos infernos mesmo no cotidiano, pois vira e mexe essas coisas aí rolam. Por isso dizem que o inferno é aqui. Ou como explicou o filósofo francês Jean-Paul Sartre, na obra “O Ser e o nada”: o inferno são os outros. É por aí mesmo.

Ainda bem que tenho uma sorte dos diabos e Deus é meu brother, pois consegue me livrar dos perigos destes possíveis infernos cotidianos e nunca fará com que tudo isso descrito acima ocorra por toda a eternidade. No máximo, de vez em quando, para que eu pague meus pecadinhos neste plano (risos).

Este seria mais ou menos o MEU inferno. Como seria o seu?

Foto: Flávio Cavalcante

Elton Tavares

*Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”.

Poema de agora: Ilusão – Luiz Jorge Ferreira

Ilusão

Ela nunca mais havia penteado os cabelos.
Os cabelos agora estavam todos sujos de azul.
Ela estava prestando mais atenção nas ovelhas.
Que teimavam em retirar mel de um tronco podre florido.

Aí se eu pudesse descrever a cor que o céu tinha lá adiante.
Eu diria que havia sido lilás.
Mas ela não me deixava olhar.
Ela dançava de um lado para o outro, como embriagada pelo odor dos bem me quer.
Ela costumava nessas horas deitar como outrora e rolar entre os capins entrelaçados.
As vezes imitava uma borboleta, e saía batendo as asas rumo ao horizonte.
Outras vezes não, como uma cobra coral, deslizava entre as pedras soltas no quintal, até que amanhecesse novamente.
Eu nada fazia. Eu me satisfazia em embaralhar no alguidar de açaí o passado, o futuro, e o presente.

Quando eu era menino, eu achava que ela era uma bruxa.
Reparando nas suas unhas pintadas.
Mais tarde achei que ela era Mágica, pois desaparecia em si com minhas esperanças, mais depois achei que ela fosse eu.
E assim nos conhecemos.
Em uns dias de Janeiro quando ameaçava a grande seca, e as tardes eram secas, e as noites secas eram, e a língua era seca, e o cuspe foi secando, e as lagrimas também secaram, e o seco em si secou, foi que nos tivemos um filho.
Hoje não sei onde ele anda, pode ser que transporte água no lombo dos burros para Piancó, pode ser que transporte Piancó para as águas no lombo dos burros…
Pode ser mesmo que esteja em Macapá vendendo nozes e avelãs…
Estranhamente vestido de pijama…sentado no Mercado Municipal sob o olhar atônito dos peixes congelados.

Sei que ele se chama Lázaro, e que em um dia de finados ele me enterrou, no outro ano, ele se enterrou.
Despenteando diariamente os cabelos embaraçados pela brisa beira-mar.
Ela é a única que vive.

Luiz Jorge Ferreira

BiblioSesc retoma serviço itinerante nas escolas públicas de Macapá

A unidade móvel BiblioSesc retomou o trabalho itinerante que leva mais de 3 mil títulos literários para locais onde há pouco acesso à leitura. Entre agosto e novembro, quatro escolas públicas de Macapá vão ser atendidas pelo projeto que disponibiliza livros de literatura brasileira, estrangeira, infanto juvenil, didáticos e obras de referências como atlas, enciclopédias e dicionários.

A primeira parada do BiblioSesc foi o Bioparque da Amazônia, onde fica até o dia 29 (sexta-feira) como um espaço de leitura para os visitantes. Após, o caminhão segue para a escola Nancy Nina da Costa, localizada no bairro Zerão. Nessa segunda parada, tanto alunos e docentes quanto a comunidade local poderá realizar empréstimo de livros a partir do cadastro feito no ato da aquisição.

BiblioSesc – o projeto foi idealizado pelo Departamento Nacional do Sesc em 2005 e, em novembro de 2007, o Regional do Amapá recebeu uma unidade móvel. O caminhão do BiblioSesc percorre bairros periféricos e distritos de Macapá com o propósito de democratizar o acesso ao livro e à leitura e o desejo de chegar a locais onde inexiste biblioteca ou sala de leitura. Assim, visa suprir a carência de aproximar o livro das comunidades e escolas, através dos serviços de cadastro, empréstimo, consulta e devolução das publicações. Como resultado, o projeto espera alcançar mais famílias lendo, tendo contato com a leitura e, consequentemente, elevar o nível de conhecimento e entendimento de cada cidadão.

O reconhecimento do bairro que recebe a biblioteca itinerante acontece através de visita in loco da equipe de Cultura do Sesc, fazendo contato, na maioria das vezes, com os presidentes das associações de moradores do bairro e diretores de escolas públicas. Um dos requisitos para a permanência da unidade é que não exista nenhum foco de leitura.

SERVIÇO:

Retomada do projeto itinerante BiblioSesc
LOCAL: Bioparque da Amazônia
DATA: 22 à 29 de julho de 2022

Haynan Iago Araújo – Coordenador de Comunicação e Marketing
Cel/WhatsApp (96) 98115-7855
Jamily Canuto – Assessora de Imprensa
Cel/WhatsApp (96) 98115-7855
E-mail: [email protected]

Não descarte pessoas! Uma hora você pode ser descartado – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Amo meus amigos com todas as minhas forças e como eu li dia desses, não sou anti-social, sou socialmente preguiçosa, e por conta disso os vejo pouquíssimo, mas procuro afagá-los, seja por um bom dia inesperado, uma ligação, um comentário em rede social ou do jeito que a oportunidade oferecer.

Falo isso porque já sofri rupturas bruscas de várias naturezas e não há sensação pior do que se sentir descartável. Quando falo descartável, me refiro, por exemplo, a uma pessoa com quem você tem um relacionamento sair um dia da tua casa dando tchau, amanhã a gente se fala e sumir. Modernamente chamamos de “ghosting”, o famoso “saiu pra comprar cigarros e nunca mais voltou”.

Porém isso também ocorre nas amizades. Não que eu seja uma pessoa carente, porque isso realmente eu não sou. Posso ser tola, mimada, manhosa, entre várias e várias coisas, mas amor não me falta, nunca me faltou e se Deus permitir e meu comportamento ajudar, jamais faltará! Mas fico incomodada, quando alguém com quem eu estava convivendo rotineiramente some.

Fico me perguntando se eu fiz algo para contribuir com essa “saída estratégica seja-lá-pra-que-lado-foi”, se a pessoa está ocupada, se tá precisando de ajuda, penso um monte de coisas. Minha cabeça é um parque de diversões 24h pros meus “Divertidamentes”, os seres que habitam minha cabeça e que são hiperativos e tomam todo tipo de estimulante como água e não me deixam em paz um minuto com pautas aleatórias e diversas, mas isso é outra e ótima história!

Por mais que dure pouco o tempo que gasto me perguntando o que aconteceu, acredito que é de bom tom, se existir afeto e respeito, claro, sempre que precisarmos nos ausentar da vida das pessoas, dar um “oi, vou dar uma sumida porque tô enrolada, mas a gente vai se falando!”. Ressalto que EU penso assim, pois jamais quero causar em alguém sentimentos que me causaram e me fizeram muito mal durante um tempo, mas a terapia me ajudou e entender que isso não é meu e nem sou eu. Enfim. Em tempos líquidos, onde tudo é muito intenso, frenético e fulgaz, cuide da água que te cerca, pois tudo o que se descarta pode não ser biodegradável, e de repente água contaminada, turva e cheia de resíduos não é segura pra mergulhar. E que Deus me livre de ser resíduo em oceanos alheios!

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.