Mamífera alada de olhos de cobre, Desses olhos de cobra venenosa, Língua bifurcada a passear sobre A pele arrepiada do ser que goza, Sendo a plena riqueza do homem pobre.
Mama do mais puto leite que existe A saciar todos os males da sede Que entra no sonho, cai no sangue e insiste Em maltratar e jogar na parede, Sendo a única alegria do homem triste.
As tetas a me olhar de lado a lado Pareciam dizer-me “estás vencido”. Então, olhei nos olhos do passado E vi o colo asado, o peito querido Sendo o terno abrigo do homem cansado.
Mulher da perdição a que me entrego Por que persegues os que não têm sono, Aniquiladora do superego? És berço de acalanto e de abandono, Sendo a límpida visão do homem cego.
Mamífera dos seios de conforto, Desses receios de vulcão ativo, Lava de leite a me servir de porto, Sendo a morte abençoada do ser vivo, Sendo o sopro de vida do homem morto.
Todos os dias Você me surpreende Prende-me e liberta-me Crio asas e voo Com tua chegada Chego em Vênus Veneza, Versalhes Vejo o Louvre E a lua é Liverpool Escuto Help E danço contigo A valsa vienense De mãos dadas Rolamos pela grama Em gramado E o fado nos silencia Ao som de Lisboa Atravessamos o Tejo, o tédio Nas páginas de Camões e Pessoa Nas viagens em volta do meu quarto As três da madrugada ouvindo Torquato Ou lendo Ilíada a odisseia Saio vagando as estrelas Na rota das constelações Mergulhado nas profundezas wajãpi
Pai vai mimi, feliz Por uma tia cristã que se recupera do Avc, por filho, pela vida…que jovializa o passado. Coisa mais bonita… Pela noite. Pelos cães que ladram na rua cada um em um tom. Pelos gatos que miam em desacordo com o silêncio, que acordo quando coço os cabelos, brancos da neve malina do mesmo Time. …que abrigam os pensamentos que só são meus quando não os penso em sua totalidade.
Pai vai mimi, feliz Por filhos, por dogs, pela vida pacifica dos livros na estante… Coisa mais bonita… Estórias…Histórias… homens e mulheres que as criaram os quais não conheci, mas sei o nome, vagam em seus jardins de letras, vogais, virgulas, e consoantes, sobre as quais escondo os pés dentro de um par de meias.
Pela noite Pelos cães que ladram na rua cada um em um tom. Pelos gatos que miam em desacordo com o silêncio que acordo quando coço os cabelos …que abrigam os pensamentos que só são meus quando não os penso em sua totalidade…como letras datilografadas… …passam a ser da cidade que antes de mim já dormiu…
Passam a apostar corrida com a eternidade que se posta toda prosa e não poesia, se estou a pé e quero atravessar a Avenida, parece ter o tempo de uma vida. E se estou no mesmo farol mas dentro do carro indo ao trabalho, leva incríveis 60 segundos que para mim representa o tempo eterno de criar o Universo, e varias reencarnações. Papai vai compor uma canção de gritos, desunidos e uníssonos como os emitidos pelas crianças na ante sala da Vacinação. Na cavidade única das quatros que possuo dentro do coração. Há sempre som, por certo tempo. Pai toca um acorde que não lhe acorda a alma. Com sua mão menos ágil que quando a usava para ritmar frevos, ou desenvolver Baiões… está com o tempo espremido em uma marmita que aposto que a engule bem antes que o trem nesse vai e vem ultrapasse a sombra da lua que sobrevoa os degraus do trilho como se catasse mal me quer bem me quer, folha por folha, uma de sombras opacas, outra verdadeira… Lá ou aqui adiante… Os sonhos entram pela janela embaralham os chinelos, e a gente com eles não podem correr. … Pai vai mimi.
I Ainda que a mão guie O rápido correr do atleta O pé equilibra a perseguição da pelota e seu couro Tal como o ouro em seu brilho Desperta e arrisca o assombro à cobiça No fado de explodir a bola Num voo atômico em direção à rede.
II O atleta – certeiro – atinge o alvo duas vezes Pé e cabeça se harmonizam nesse objetivo E mais vezes, mais os olhos se guiam à rede – incansável, Mistura de inseto, soldado, animal de testa larga Arranca cem vezes o grito da torcida enlouquecida.
III É azul, preto e branco, vermelho O gosto da loucura ecoante De rugidos da selva, de cantares da alvorada E de sangue guerreiro de norte a sul do Brasil: É Bira de Nueva Andaluzia, paraoara, Dos pampas, das alterosas, Do espiritu sancto do gol, das vitórias domingueiras Das tardes ensolaradas, crepúsculos festivos Da tela não-pintada de Michelangelo (Alegoria de Deus que entrega a bola a Adão No leve tocar de dedos) Como um contrato entre as partes no Éden tupiniquim.
IV É Bira, príncipe da arte de chutar no gol Viajante contumaz do oco da bola Onde moram os querubins do futebol
V No contato da chuteira e a bola Centelhas rompem imperceptíveis aos olhos da torcida Mas ali, na trajetória da pelota ensandecida Girando em curva ou reta Corre o chute mágico do atleta uBIRAtan Que trave alguma, vento algum, goleiro algum, É capaz de parar ante o fundo da rede, o seu destino.
VI É certo que o tempo, implacável como o goleador Também abre ruas no rosto em movimento Ventos empoeirados surgem abruptos dos logradouros Como quem logra a vida em ciclos imemoriais.
VII Onde se vê de novo o voo rasante dos quero-queros Sobre verde do gramado? Talvez no espelho da lembrança Porque a fama, efêmera e fugaz Faz da vida o templo da memória, onde se clama O que ficou para trás Onde os cantares se repetem em rituais Para abençoar a glória dos que vencem Em tempos que escrevemos nosso esquecimento.
VII A voz grossa dos que torcem e glorificam Deixam grandes silêncios na alma Cobram-se cobranças, cobram-se castigos A falta, a mão, o pênalti E o gol, que para sempre é objetivo Resta, então, a festa da massa em labaredas Em gritos, confetes e bandeiras (ou o desterro infausto em outros horizontes) VIII Entretanto o pé-de-ouro arrisca Em balés de pés-de-lã/ pés-de-moleque Pés-de-pato sob as gotas de um pé-d’água na neblina Nas estações mais aziagas das paisagens-penitências
E realiza seu trabalho de cerzir o tempo e as camisas coloridas
IX Ora, a inveja é um olhar sinistro Que se movimenta sobre a dádiva Ofertada aos talentosos É um ovo só Saído das entranhas da serpente, Para reduzir a alma que alimenta com seu ranço
X Ora, o futebol não se limita a homens Em seus campos de lama e de gramas aparadas Há um árbitro, há rivais que se trajam de esperança Oponentes opulentos em nervos eriçados Quando a bola cintilante gruda ao pé do craque E ele mergulha nas funduras do seu rio Onde cardumes geram suas eternidades E esperam uma coreografia não ensaiada Para, enfim, soltar a voz contida em milênios de partida
XI Ah, a pira dos deuses parece penetrar em águas abissais De onde irrompe o grito final do campeão
XII Quem não viu não mais verá. Nem ouvirá O clamor dos ribeirinhos do Amazonas, o eco da baía de Guajará O som ferrífero da serra do Curral e o brado dos gaúchos do Guaíba. Quem não viu não sentirá A poesia refletida na potência do olhar, da mira Da luz mágica do Bira e seu bólido de vidro e luz Transformando-se em espelho pela última vez.
XIII E nós aqui tal degredados em nossa própria aldeia Apenas com as imagens do passado e nosso orgulho Fomos os pés, os pés do Bira Quando o chute governava a bola E a noite vigorava um brinde A mais um campeonato ganho na história Pelos pés do nosso ídolo De sonho e de memória.
quando te conheci ouvia Friday I’m In Love [e fazia um frio dilacerante em frente à plataforma de embarque]
quando te conheci andava feito saltimbanco por ruas e luas imaginarias [estava deveras abatido dentro de meu guarda-roupa de sombras]
meus olhos buscavam o tempo que passou[ e já passava das 19h ] sempre imerso em meu castelo de pedra
as verdades eram o que os meus mortos diziam e a claridade[falsa incandescência] me ofuscava quando amanhecia lá pros lados de Saint George
ah! ao te conhecer beirava o suicídio e quando você chegou [vestida de girassóis] as flores renasceram em meu horto de mentira [e agora as horas são sonetos de Pessoa que ouço em transe!]
ah! quando você chegou…Eu renasci vestido de bruma!
Que bom! Desceste à tal Mansão dos Mortos, Onde tua língua azeda e ossos tortos Se juntarão à terra finalmente. Tu não terás um sono sossegado, Revirarás de um lado pra outro lado Antes de acomodar-te eternamente.
Isso porque na câmara de horrores, Inda terás teus múltiplos tremores, Espasmos naturais de teu sumiço. E chegam teus convivas pro festim, Com fome insana que jamais tem fim, Deixando em teu lugar só rebuliço.
Tua boca inchada não dirá palavra, As letras que escaparam de tua lavra Não poderão te socorrer — és mudo. Terás perdido a farsa da eloquência E deixarás, com estranha paciência, Que se torne em nada o que te foi tudo.
O caçador de outrora agora é caça, Ofertas sem vergonha tua carcaça Ao deleite de seres subterrâneos. E logo ostentarás no horror de um fosso Cada vértebra, artelho, cada osso Comungando com diferentes crânios.
A cova de teus olhos será oca, No lugar do lugar que já foi boca, Haverá só um sorriso cretino. No peito onde batia um coração, Só a lama da decomposição Fervilhará com frêmito assassino.
Reduzido a minúscula matéria, Passados anos, nem mesmo a bactéria Que te fez ceia far-te-á lembrança. Agora, nada do humano que tu eras Pode ser sentido nas primaveras Nem na tempestade, nem na bonança.
Teus filhos te acompanham no destino, Determinado no âmago uterino, O mesmo desenhado pra teus pais, De caçar vida e ser caça da morte, Até que o corpo débil não suporte O menor peso, que será demais.
Agora, és só poeira em suspensão, Nem mesmo enches uma palma de mão, És irrisório e imenso ao mesmo tempo. Podes estar nos olhos da menina, Na garra feroz da ave de rapina, No grão de pólen que viaja ao vento.
Então, sem seres tu jamais de novo, És gema interminável de algum ovo A eclodir em revida interminável. E, sim, morrerás milhões de outras vezes Todo santo dia em todos os meses Que a vida te clamar inexorável.
Teus amados choraram tua partida, Mentiram te lembrar por toda a vida E juraram te amar, também mentindo. Dor e felicidade a morte encerra: Se deixaste tristeza sobre a terra, Debaixo dela, és tu muito bem-vindo!
Hoje meu coração despertou a galope. Quase derrubou-me no sofá com a outra metade dos dentes, que teimavam em sorrir. Assustou o gato de porcelana e suas dezesseis aranhas entre suas teias… embaraçou minhas hemácias dentro das veias, se espalhou pelo Wi-Fi rumo a Disneyland.
Hoje a água dentro da torneira do jardim… Desnecessariamente zombou de mim… E se transformou em lagrimas… Os Zangões em seus ternos de Gabardine escuro. Abrigaram-se nas fissuras do muro achando que era festa da Independência.
Desci os degraus de pares a ímpares, com a pressa dos Reis Magos para ver Cristo… até parar na encruzilhada entre a sala e o corredor que sai na cozinha.
Meu coração então resolveu pular um Frevo. Destes Frevos do Moraes Moreira … Destes que a gente inicia a pular com um ano, junto com a Fada do Dente. E se termina de repente… Quando a realidade, nos abraça, já envelhecido. Mas não há de ser nada essas recordações em forma de pequenos pássaros surgindo na janela, com seus ruídos, enquanto eu canto Bee Gees…e danço alegremente ao lado de uns rabiscos desorganizados… Que imagino serem você sorrindo.
Eu queria te amar mais Mais um pouco Diante das verdades aparentes Diante da aparência da verdade Eu queria te amar Na mentira ousada dos enganos Na certeira memória Dos acontecimentos Eu queria te amar Mas como? Se a lavagem lúcida Dos esquecimentos Açoitam-me por desconfortáveis momentos por onde o jogo segue sem seus vencedores. Eu queria te amar mais No caminho da sorte alumbrada Nos olhos intensos que deturpam a paisagem sem fundo Na arte do que a vista penetra como um tiro Em disparos sucessivos de virilidade Eu queria te amar mais. Mas como? Digo a mim mesmo Se o amor se retém no fio da sombra às vezes escondido sob o varal de roupas escuras.
Andei para Andrômeda Não imagino porquê andei… Talvez fugindo do Sol, Talvez mergulhando no mar, para afogar minha sombra que um pouco engordou. Distraído, fingi que fui Deus por milionésimos de segundos… assustado… acordei…em mim. Levantei aos sobressaltos, e derrubei o teu sapato tendo relações com a minha meia. Os óculos a tudo viam….dependurados entre o espelho do quarto, e o terceiro peixe amarelo no Aquário.
Fingi fugir…embrulhei meus sonhos com um Ededron colorido , cheio de figuras de Duendes nus.
Recolhi o Sol , e em seu lugar plantei um vaso de Acácias magras…recém vindas de uma paixão com o Paticholin…
Olhei mais uma vez a mochila, dentro…chovia… Fora a vida encardida, exausta do passar dos anos, assoava o nariz, e gemia.
Cantei o terceiro Cântico. De uma Ária infame, em que as asas somem.
De mim apanho a mochila, arrumo a carcaça na qual dependuro o corpo, já torto, e sigo.
A alma abandono, sentada na calçada, defronte a uma rua sem saída, onde ela escolheu passar os últimos dias. E roendo as unhas aguarda pacientemente que sobrevoe um avião da Panair.
Luiz Jorge Ferreira
*Do livro …Defronte a Boca da Noite ficam os dias de Ontem.
A veia da poesia está rompida, A palavra escorre em busca da morte, O verbo, que outrora caminhou forte, Estanca, coagulando-se sem vida. Porque a palavra escrita não é lida, Talvez o escrever já não importe. Por isso, veia minha, dou-te um corte E ofereço a teu sangue uma saída.
Em meu pulso, todo verso é uma algema Capaz de acorrentar todo o universo, Por isso luto por manter-me emerso. Enfim, sinto fisgar a dor extrema, Então, eu corto os pulsos do poema E deixo sangrar um último verso.
Cristo morre todos os dias Quando se fere uma criança …se aprisiona um pássaro …se envenena os pastos Uma bomba explode sobre a multidão indefesa Subo de joelhos o Himalaia… …arranco as asas e mastigo fel …agarro-me a minhas dores para que elas não partam… Gostaria de ser Nero…para suspender a tortura das criancinhas da Judeia Mas só estou adoentado de tristeza amordaçado de raiva …minhas mãos vivem fechadas ameaçando o infinito …noutra noite toquei fogo nos amaldiçoados …e os que flagrei pulando muros com machados Os fiz serem abortados por volta de 53 Jesus morre todos os dias… Não sei como Deus aguenta…