Decifre as entrelinhas dos hieróglifos das pirâmides do Egito, do calendário Maia, das Itacoatiaras de Ingá. Leia os símbolos sagrados de Umbanda, as centúrias de Nostradamus e o Tarot de Crowley… Não importa qual seja o mistério, todos serão unânimes em lhe revelar: Existe um cometa errante; uma estrela bailarina que vaga no abismo do espaço sem fim flamejando um rock e um grito! Em sua jornada, ele só passa pelo nosso planeta a cada dez mil anos. É quando ele renasce e encarna como um Moleque Maravilhoso, trazendo ao mundo à sua volta mudanças profundas no seu pensar e no seu comportamento.
Sua derradeira passagem por aqui durou apenas 44 anos. Mas foi suficiente para que um país inteiro de dimensões continentais se tornasse menos careta. Há exatos 74 anos, quando ele chegou por aqui em mais uma de suas passagens, esse intrépido cometa trouxe em seu rastro a bomba atômica, em 1945, fechando um ciclo da Terra conhecido como velho Aeon e trazendo à luz o Novo Aeon materializado em forma de música. Era o dia 28 de junho. Aquele, foi o dia em que a Terra parou. Mas antes disso, ele usou de seus artifícios alquímicos e conseguiu juntar as águas do rio São Francisco e do rio Mississipi, criando a fusão perfeita do rock’n’roll de Elvis Presley com o baião de Luiz Gonzaga e como um novo Macunaíma desvairado gritou em cima do palco do III Festival Internacional da Canção (1971) “Let me sing, let me sing (my rock’n’roll)”!
Seu nome é o contrário do luaR pois ele é um cometa iluminado. Em sua metamorfose ambulante pela Terra, se fez de maluco para revelar sua genialidade; brincou de cowboy para mostrar que preferia ser um fora-da-lei; acumulou riquezas e glórias por um tempo para mostrar que o ouro é para o tolo.
Esse ano, em agosto, já terão se passado 30 anos de sua última visita aqui no nosso planeta. Ainda assim, seu rastro é tão presente, tão vivo, que é como se ele ainda estivesse por aqui, cruzando o nosso céu. E assim como as estrelas que vemos são muitas vezes apenas o reflexo de milhões de anos-luz de corpos celestes que ainda nos impressionam a visão, o cometa Raul Seixas, brilhará na mente e no coração de milhares de fãs por muitos e muitos anos até, quem sabe, sua próxima passagem há dez mil anos…
Meu comentário: grande Raulzito. Um artista sensacional que inspirou e inspira muitos de nós, fãs. Tanto pelo fascínio da linha tênue entre a feliz loucura da autenticidade, quanto pela sinceridade à bruta, sempre poetizada em um rock and roll dos bons. Viva Raul! (Elton Tavares)
A Mostra Tapiri 2019 teve início na última terça-feira (25), com a participação de performances teatrais e apresentações musicais. Hoje a noite é de poesia com com a participação do grupo Tatamirô (AP).
Tatamirô apresenta recital “Palavr(arma)dura”
O Recital “Palavr(arma)dura” tem como foco a linguagem poética em suas múltiplas interações verbivocovisuais*. “Palavr(arma)dura” incorpora outras sonoridades (ruídos, distorções, sobreposição de vozes, poemas autorais e de outros poetas brasileiros e estrangeiros), criando texturas poéticas denominadas poemas sonoros.
A ficha técnica conta com: pesquisa multimídia, vocalização, percussão digital e sintetizadores – Herbert Emanuel; direção, vocalização, percussão digital e sintetizadores – Adriana Abreu; didgeridoo e morchang – Thamires Werneck; iluminação e concepção de figurino – Paulo Rocha; costureira – Ilce Rocha; e sonoplastia – Ezequias Corrêa.
Tatamirô Grupo de Poesia (AP)
É um grupo amapaense de declamação de textos poéticos, sejam eles escritos na forma de verso ou prosa, em suas múltiplas manifestações verbovocovisuais. Criado em 2008, atualmente tem um entreposto coração em São João Del Rei (MG), e nasceu do desejo de dizer poesia às pessoas, de colocar a voz a serviço da poesia, de dizer as coisas do mundo de forma diferente, além de fomentar várias ações e atividades em proveito da leitura, da literatura, principalmente, e das demais artes.
Mostra Tapiri 2019
A programação da Mostra Tapiri 2019 segue até o dia 01/07 . O evento é aberto ao público e não é cobrado entrada, apenas uma contribuição espontânea, como forma de apoiar os artistas, tendo em vista a mobilização dos grupos locais se propôs a apresentam suas produções de forma gratuita. Além das apresentações o Fórum Popular de Mulheres comercializa comidinhas e bebidinhas durante os dias de programação.
pra me receber, quero Waldemar encenando boas-vindas; quero Ruy Barata com asas de miriti; quero a chuva da tarde pra me lavar a alma; quero o tacacá pra me aquecer o coração; quero tua manga mais doce, meu verso mais forte; quero tua Praça mais bela, minha mangueira mais velha; quero tua noite mais louca, minha avenida mais longa; quero teu Largo do Carmo, minha rua mais estreita; quero tua Igreja Matriz, meu Theatro da Paz, quero meu Bar mais antigo, meu garçom mais amigo. quero a minha cidade que tanto bem faz.
e foi assim: um estrondo-estopim é festa? foguete? a rua inteira desembesta a correr.
na frente do campo de futebol na frente de casa no sol de quatro horas da tarde um corpo-massacre em uma poça rasa
absurdo: o barulho? um tiro-certeiro foi ciúme? queima de arquivo? naquele horário não passou carteiro, só a Morte acertando em cheio.
esgoto a céu aberto o povo boquiaberto o homem na vala da indiferença e do desalento cercado de gente que fala sobre a sentença do esquecimento
a polícia chegará logo para fechar a avenida a TV virá fazer filmagens para o jornal do outro dia transeuntes já compartilham imagens pelo Whatsapp.
o homem-fulano o homem-humano o homem-na-sarjeta tinha nome e identidade e agora repousa sob raios ultravioleta
mas o perímetro está ficando intrafegável e preciso trabalhar. é provável que a passagem fique interrompida. abro o portão com desgosto sem sequer olhar o rosto…
cúmplice-selvagem da barbaridade em meio ao zumzum, sigo rumo a uma noite comum na universidade.
Uma estrela despenteada, sentada, sozinha, a beira da calçada, menstrua um punhado de luz de lua nova, sobre duas lembranças de Janeiro. Eu vejo, escondido, detrás de um monte de Julhos. E tento escrever em um vaso cheio de areia. Um texto de Hamlet.
Quando de repente o farol de um carro sujo de lama e confete, espalha um clarão sobre minha face esquerda. Há sobre ela, feito com carvão, um desenho de quebra cabeças, cheio de frases desconexas do Pequeno Príncipe em Birmânes.
Entrelaço dúzias de fiapos de manga que retiro dentes, e com eles adorno a cabeça calva da estrela, que vi no primeiro verso.
Meu coração fica com uma das asas machucadas. E eu abraço ternamente a saudade, e o tempo que lentamente se afastam em direção às ruínas do Teatro.
Eu sou o Teatro, onde fingi, personagens minhas, para uma platéia entre espelhos, sou negro, e fui azul. Fui chão e imitei voar. Asas não as tinha , cuspiu nas costas, e as fiz brotar. Ao rastejar senti vertigens, e nunca fui luz, moldei estrelas, fingi obtê-las da diagonal do esquecimento. Onde a teia entre o passado amigo e futuro inseguro…brincam de amarelinha.
Para cantar escolhi Ode ao Silêncio…todos aplaudiram em Braile… Amei ser o Oitavo. Pulei feliz, até que fecharam as cortinas.
Um cheiro de naftalina,sentou ao meu lado na plateia. O escuro deu- me as mãos, e julho temperamental, curvou os meus joelhos e me mergulhou no sal.
Dezenove de Julho, de Câncer, todo tatuado de meconio caminhei para o Sol.
Oitocentos e quarenta meses…corro coberto de mim, para escapar da chuva que menstrua lembranças tardias.
Oitocentos e quarenta meses…corro adiante de mim…fugindo da chuva…que molha minha sombra, sacode meu passado, nem me condena, nem me absolve, e promete inundar com meu drama lacrimoso … Todas as telas apagadas das TVs desligadas dos Botecos de Vila Madalena.
Luiz Jorge Ferreira
* Do livro de Poemas “Nunca mais vou sair de mim sem levar as Asas” – Rumo Editorial – São Paulo.
andava com ela, pela madrugada, a lua branca e bela, de vermelha à prateada. sempre na calada da noite, se pintava de carmim… seus beijos, como açoite, eram usados contra mim. depois durante o dia, eu a vi, como nunca pensei que veria… me olhou, muda, e saiu, sem dizer se voltaria
minha infância tem cheiro de lancheira de mingau de maisena de boneca velha de caderno novo minha infância tem cheiro de gemada de pão com manteiga e café fresquinho de tapioca e beiju Minha infância tem cheiro de Phebo copaíba e andiroba tem cheiro de mato, tem cheiro de vela tem cheiro de avô. minha infância tem cheiro de arraial de camarão cozido e peixe assado tem cheiro de comida da vovó. minha infância tem cheiro de quando eu crescer de fruta fresca, colhida no pé tem cheiro de roupa quarada com anil minha infância tem cheiro de igarapé de água fria, de bater o queixo e engelhar os dedos minha infância tem cheiro de interior, de quintal molhado de chuva de grama aparadinha, de folha seca de sapoti minha infância tem cheiro de saudade
O professor Carlos Nilson Costa nasceu em Monte Alegre (PA), no dia 17 de novembro de 1941, mas chegou ao Amapá ainda muito jovem e aqui estudou, constituiu a família e realizou seus projetos profissionais e pessoais. Artista plástico, poeta, professor e um admirável ser humano, Carlos Nilson é formado em Matemática e tem especialização em Planejamento. Foi Secretário Municipal de Educação de Macapá, Secretário de Estado da Educação e integrante do Conselho Estadual de Educação, dentre outras atividades que exerceu no serviço público com grande destaque, pela sua competência e dedicação, o que o coloca entre os mais notáveis educadores do nosso Estado.
Na imprensa publicou trabalhos nos jornais “Amapá”, “A Voz católica”, “A Fronteira”, “O Liberal” e “Jornal do Dia” e apresentou programas de música erudita nas rádios Difusora e Educadora.
Participou da antologia “Coletânea Amapaense”, de 1989.
Neste especial, vamos publicar uma seleção de poemas do autor – inclusive fac-símiles de publicações dos anos 60 do jornal Amapá.
O SOM DO SILÊNCIO
Por que buscas na tortura de teu silêncio, o sopro da ventura favorável? Amargo e torturante é o teu calar!
Infiltra-te na imensidão de tua voz E traz à tona a alegria contagiante E companheira De nunca estar só!
CÍRCULO
Daquela festa passada Deixaste apenas o cavalo Da carruagem que viajamos
Da tua fuga galopante, No exílio angustiante que fiquei, Restou o cavalo, que era a égua de nossa glória.
A distância do tempo que partiste Voltou, em circunferência, A encontrar, no ponto de partida, A égua para a tua condução.
Fiquei a esperar a carruagem Que viria buscar a montaria Na fuga causada do amor perdido Na espera fogosa do amor encontrado
TERNURA
Sinto a ternura Feita de carne – o teu corpo O tempero de tua alma leva-me saudade de tua ausência presente
A imaginação do amor constante que desejo é o mesmo amor que sinto em ti Mulher amada
RAZÃO DO AMOR
Muitos cantam a vitória em hinos que sublimam as conquistas ( em verdade, gostamos de cantar nossas glórias nem tanto gloriosas assim )!
Eu canto o teu amor que lampeja na vez que recordo teu ar triste que, cinematograficamente, reflete ternura de uma lembrança viva.
Não sou grato ao teu amor! Nem busco a razão, já que não amo porque quero, mas se quisesse te amaria mesmo assim.
LEMBRANÇA DE MINHA RUA
Lembro como se fosse presente do primeiro dia em que cheguei -tinha sete anos! Fazia escuro O mato crescia em terra estéril e o cemitério era panorama mudo e suas paredes cinzentas tinham o ar melancólico daquele lugar. Macapá terminava ali!
A rua era pequena -Nem pensei que fosse beco! Terminava no campo santo As casas, em perfeito alinhamento -uma longe da outra Davam uma visão de que havia ordem também por lá.
A casa onde fui morar Era toda de barro. Estava caindo aos pedaços. Cada um era uma parte do coração de minha mãe que ruia. O mato crescia (como ele viceja em terra imprópria! ), E brotavam algumas flores silvestres Que faziam o jardim dali.
Rua, saudade de minha infância. Das brincadeiras infantis -de cowboys, Apedrejador de passarinhos… Hoje é avenida sem deixar a forma de beco
Rua da minha felicidade E da minha tristeza, Que no sorrir de minha existência, Quando brotava para a vida Na pós-adolescência, Viste morto meu pai .
Rua triste, de onde não tive namorada. – ela só veio depois que mudou o nome. Rua querida, és saudade perene, Vida em minha existência Tão triste e só, Oferecendo lembranças e saudades Que parece não saem de lá.
PENSAR BAIXINHO
Hoje volto: Triste e pensativo….. -a noite cai E o silêncio vive a solidão. Hoje é noite de ficar sozinho, de pensar baixinho, de pedir aos céus o que não podemos na terra. De fechar os olhos, De chorar calado E esperar a volta, Que sabemos não vem: Noite de ficar sozinho.
ANJO DA GUARDA
Simplesmente dormi! Meu anjo cansou-se de velar por mim -teve sono e entregou-se a Morfeu.
Nos lampejos da vida, com sede de afeto, me precipitei a realizar.
Pobre de meu anjo, Teve que dormir um pouco! Fiquei só! Perdi-me no caminho. Andei errante: fugi demais.
Agora, Tudo é frio. O peito gela O coração treme solitário E irrealizável. Por que dormi, se tinha tanto a completar? -e meu anjo, pobre coitado, Não sei onde o encontrar.
MINUTO ETERNO
Houve um minuto! Os sinos deixaram de anunciar, Mas o tempo chegou. O tempo não passa, ele chega.
Os homens não param, esperando o fim. …..Paira uma enorme expectativa De no momento findo, Haver o começo de novo.
MÃE PRETA
A sombra do mundo E o brilho do bem, Escondem na sombra O belo do amor.
Mãe Preta querida Teu canto é passado Na dor do passado Que teu avo não contou.
Teu filho que dorme O sono do nobre, Não sabe de angústias vividas Não sabe que lágrimas Que o tempo esqueceu, Rolaram baixinho Nos prantos noturnos Dos fundos dos barcos
Teu canto adormece É diferente Traz na tua voz Mensagem antiga Da dor já passada. Não fala de bola, Nem de brinquedos. Só canta ternura Do bem de tua alma
Mãe Preta querida, Canta prá mim. Tuas mãos calejadas, Teu rosto queimado, Teu corpo sofrido, Mãe Preta Só falam de amor.
DESMATERIALIZADO
Deixo cair a carcaça e caminho… Vou seguindo na terra Como se fosse um espectro, Sem resistência do ar
Deixo cair as vestes dos ossos, E nu, o meu esqueleto vai procurar abrigo Em uma tumba de glória, Onde a árvore nasce em forma de espada Ferindo as dores na solidão.
Assim, descaço de carnes, Sem cabelos, Sem rumo determinado, Mas com chegada certa em uma luz, Estendo minhas mãos de falanges E imploro a felicidade -ao menos uma vez. O RIO
Corre, Margeando o leito calmo, A folha caída.
Segue, No caminhar constante Levando lembranças E saudades.
Vai, Misturando às águas, O barro santo De vidas passadas.
E, com a terra sagrada, Diluída na garapa gigante, Desliza a tradição ferida De um povo bravo e forte.
A ROTA DO HOMEM
Acho simples voar -até as aves voam! Num voo curto e material Sem a magnitude Dos homens, Que sobem tanto E se perdem na grandeza De um sorriso tácito Bebido em taça Com o gosto de cru.
MORTE DOS NAMORADOS
Como é triste a morte dos namorados Mas dos que se amam Não dos que se falam Mas dos que se sentem
Noites claras que brilham, Passeios, Encontros. Tudo transformado em noite fria -eternamente fria.
O calor dos beijos Foi trocado pelo frio dos mármores Na visão branca Como o fantasma da saudade. E a mão O beijo O calor: Como estão gelados!
Todo o calor da imensidão da noite Agora é eterna noite das coisa geladas E de muita solidão.
ONTEM, HOJE E ……….AMANHÃ
Enquanto as rosas perfumarem o sereno, O sorriso da criança entreabrir, E nos campos se amarem as borboletas, Acredita, sou feliz.
Após, no pomar, as árvores derem frutos, E os galos entoarem na madrugada, E o seresteiro amar sua namorada. Acredita, eu vivo.
E se ainda as folhas formam copas, E poucas flores ainda existirem, Mesmo assim, vacilante, Acredita, eu existo.
Mas, se as árvores não brotam ramos, E as pétalas caem no chão E somente o arbusto cresce em saudade, Acredita, sou ontem.
EROSÃO
Na areia fina da praia Está o pássaro ferido -caído.
Na pedra lisa do riacho, Está o velho pescador -pescando.
Na brisa lenta do Amazonas Estão as ondas tristes Chegando.
E o pássaro caído, Morto na praia Mudo, deixou de cantar.
E a pedra gasta, Continente ontem, Desfez-se: erosão
E a brisa lenta …muito lenta Parou.
O HORIZONTE
Que busca o homem ao olhar o horizonte Que busca ele, achar em sua melancolia silenciosa, na imensidão das águas e na grandeza do céu?
Ele diante da distância é pequeno! Busca no perder de vista, Seu pensamento disperso. Tenta o encontro da água com o céu E chega ao êxtase Arrancado das entranhas deste horizonte perdido E vem Docemente De coração saciado, Rezar a oração do amor.
AO MEU PAI
Lampeja vibrante A chama indormida Do cintilante clarão da vida
Segue… Ilumina o caminhar De conquistas passadas E das que ainda vão ocorrer
…e é tão grande a sua luz, Que não precisa de séquito. Este é o seu rastro de brilho A clarear o caminho Na ida segura. E a chama revolta Ilumina a saudade -grande e profunda Que ainda arde Com a separação.
ANJO DA GUARDA
Dormi muito! Meu anjo cansou-se de velar por mim -teve insônia
No balburdio da vida, Com sede de afeto, Me precipitei a realizar.
Pobre do meu anjo, Teve que dormir um pouco! Fiquei só. Perdi-me no caminho. Andei errante: -fugi demais.
Agora, Tudo é frio O peito gela O coração treme solitário E omisso.
Por que dormi Se tinha tanto a completar? E meu anjo, pobre coitado, Não sei onde o encontrar.
HOJE OU NUNCA
Não perca tempo, Pois estou a esperar. Vem enquanto és flor Com orvalho Na manhã radiosa.
Vem, Enquanto não murchas, Pois como a flor, O tempo fadiga E mata Não esquece Que estas deixarão De ter perfumes E de ser belas.
E tu, Hoje linda, Perfumada e viva E amanhã Feia e morta.
Longo tempo Te espero Para que não sintas Como a flor A queda para a volta À terra Com renúncia E humilhação.
NOITE SEM ESTRELAS
Despreocupado em dia de meditação a vagar, achei uma noite tosca e sem estrelas com malícia e ríspida.
Num dia sem sol, Quando parava a natureza, Descobri uma noite. Dessas escuras, E propícias para o medo onde nossa oração é ouvida Como eco.
Em um dia comum, Achei uma noite. -a minha, Estranhamente bela E misteriosa, Onde a brisa vinha em forma de afago.
Em infinitos dias Achei uma noite, E nessa noite infinita Achei um amor.
DECLARAÇÃO
De todas as criaturas viventes As fêmeas são mais astutas E a mulher a mais buscada, Procurada e fugidia. Este sublime ser Converge as luzes e mantém o segredo da vida. De tal forma é soberana Que agasalha por nove meses Um ser que quando livre Chora a separação.
Assim, é a mulher a perfeição Buscada no inatingível Sopro do amor.
SIMPLESMENTE
Gosto de teu sorriso Pelas coisas simples Que ele tem
Igualmente aprecio o voo cósmico, Porque acho que é simples; Pois sobe, e leve, Não deixa que a poeira Venha a corrompe-lo E tirar a sua pureza
A beleza e a simplicidade são irmãs -no riso -na carne, -no espírito -e na visão.
Assim, gosto do teu sorriso pelas coisas simples que ele tem.
*Carlos Nilson foi amigo de meu falecido pai e também do meu saudoso tio Ita. Ele é pai dos amigos Carlos, Cláudio, Verê e Tayná, além de marido da querida Regina. Nas minhas mais antigas lembranças, recordo do professor, poeta e educador sempre coerente, muitíssimo inteligente e gentil. A ele, meus parabéns pelo conjunto da obra.
Na minha cabeça, milhares de Universos. Defronte de meu carro parado no estacionamento do Carrefour , tão vazio como o Saara. Apenas um cão magro faz companhia e se preocupa com sua Sarna abundante, suas meia duzias de pulgas magras também, e com uma multidão de formigas de fogo, em fila, que estão assustadas com o Sol refletido no cimento da calçada.
Para descer e sair caminhando terei que chutar uma estrela que ali amanheceu, com certeza se esqueceu de alcançar voo até a Constelação de Cirius. Doem meus dedos, ando digitando demais, usarei mais a voz para falar com o eco, e alojarei pensamentos no espaço incomensurável dos neurônios, para estende-los da década de Cincoenta, até agora neste momento em que leio 12.53, de 19.04.2019.
Entrarei na sétima década…Faunos.Sacis. Fadas. Yaras e Gnomos, nunca os vi. Vejo solitário o estacionamento do Carrefour… Dou por mim , noto a ausência da silhueta heptagonal daquela estrela. Pode ter subido célere como sugada por um buraco negro.
Pode estar no terceiro banco, a direita, da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré em Macapá. Ouvindo Deus calar a fala dos Padres. Pode estar em Viseu, pondo os pés frios na lama toda marcada das patas dos caranguejos. Ou pode estar entre os milhares de Universos que abrigo entre os neurônios do meu cérebro.
Onde estiver perambulando, será bem vinda. Pode ter levado as pulgas, as formigas, o cão, e as sombras. Tudo sumiu em um piscar de olhos. Por Deus, assim que eu sorrir, todos serão bem vindos.
Luiz Jorge Ferreira
* Do livro de Poemas “Nunca mais vou sair de mim sem levar as Asas” – Rumo Editorial – São Paulo.