Festival Solidário “Live Cult Tucuju”: hoje, a partir das 19h, rola live do cantor Amadeu Cavalcante

Hoje (17), a partir das 19h, o Festival Solidário “Live Cult Tucuju” tem sequência com live/apresentação de Amadeu Cavalcante. O show será transmitido pela página do Facebook do artista: https://www.facebook.com/amadeu.cavalcante.54

“Nossa intenção é de ajudar amigos músicos que estão passando por dificuldades neste momento de quarentena… Queria pedir o apoio no compartilhamento de nossa live para que possamos alcançar o maior número de pessoas e, quem sabe, apoiadores através do aplicativo Vakinha”, comentou o músico Fineias Nelluty – idealizador do festival – que abriu o evento no último dia 10 de abril.

O festival já teve apresentação dos cantores e compositores Osmar Júnior, no último sábado e Nivito Guedes, no Domingo de Páscoa. Naldo Maranhão, Brenda Melo e Alan Gomes, e Nani Rodrigues se apresentaram ao longo da semana. Você pode acompanhar, através deste link, o quanto já foi arrecadado e fazer sua doação: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/live-cult-tucuju-em-prol-dos-profissonais-que-vivem-exclusivamente-do-trabalho-musical

Sobre Amadeu Cavalcante

O cantor e compositor Amadeu Cavalcante tem 57 anos, e 39 deles dedicados à música amapaense. Ele iniciou a carreira profissional cantando nos bares da capital, em 1980. Em 1989, lançou o primeiro disco da carreira, à época, um LP chamado ‘Sentinela Nortente’.

Em 1991, Amadeu lançou o segundo disco ‘Estrela do Cabo Norte’, ‘Tarumã’ (1996). No ano seguinte, em 1997, passou a integrar o quarteto Senzalas, junto com os músicos Zé Miguel, Val Milhomem e Joãozinho Gomes, quando lançaram o CD ‘Dança das Senzalas’. Desde então, não parou mais.

Programação completa do Festival:

– Sexta dia 10: Fineias Nelluty e Bia Nelluty
– Sábado dia 11: Osmar Junior
– Domingo dia 12: Nivito Guedes
– Segunda dia 13: Naldo Maranhão
– Terça dia 14: Brenda Melo e Alan Gomes
– Quarta dia 15: Rambolde Campos
– Quinta dia 16: Nani Rodrigues
– Sexta dia 17: Amadeu Cavalcante
– Sábado dia 18: Poetas Azuis
– Domingo dia 19: Val Milhomem
– Segunda dia 20: Joãozinho Gomes
– Terça dia 21: Enrico Di Miceli
– Quarta dia 22: Nonato Santos.

Prestigie nossa cultura!!!

Fale de sua aldeia e estará falando do mundo” – Leon Tolstói.

Elton Tavares

Poema de agora: AS JANELAS – Pat Andrade

AS JANELAS

estou trancafiada…
o teto é muito baixo
e achata os pensamentos

as paredes comprimem
minhas vontades
o corredor estreita
meus desejos
(que nem são tantos)

apenas as janelas da casa
são minhas aliadas.
elas libertam
meus pensamentos
deixam escapar
minha imaginação
(que se espreguiça
com os gatos)
pelos telhados

é pelas janelas
que grito e solto
minha poesia

PAT ANDRADE

Poema de agora: Maru e Anum – @ManoelFabricio1

Maru e Anum

Da metade + 1
Queria da um pulo contigo
Lá no Maruanum

Me embalar, até o punho
Rasgar
Cair no chão
Rir pra ñ chorar

Levantar e ir colher o lírio roxo
Pelos campos l1
Deixando os sentidos pelo caminho

Registro do nome pela oralidade
Feijão cozido na louça de barro
Da um gosto de saudade

Preta índia
Índia preta
Ñ há registro de mulher mais linda
na literatura do planeta

Manoel Fabrício

Poema de agora: CARTA ABERTA DE CIDADÃ – Patrícia Cattani

CARTA ABERTA DE CIDADÃ

Carta aberta ao vento
ao vento e ao relento
pregada na porta
com cola de roca
na porta da igreja
para que a veja
quem quer que seja.

Carta aberta, escrita a mão
mas não papel de pão
Tão pouco papel timbrado
Sim, folhas de caderno espirado
rasgadas sem nenhum cuidado

Carta polêmica,
tomou a cena
Questionada, denunciada
Repudiada e amada
Carta maldita, carta bem quista
virou manchete e noticia

Carta aberta de cidadã autora
Mais chamada de doutora
que só lhe restou o quanto é pública
do mais alto grau da magistratura
lhe rendendo ouvidos á altura

Se errada ou certa, verdades ou mentiras
para julgá-la já tem demais especialistas
Não me meto nessa briga
que mais parece politica

Amante de cartas desde de gitinha
ainda guardo tantas numa caixinha
Mas quanto á carta não esquecida
tenho cá minhas cismas

Enquanto discutem o conteúdo da tal
me pergunto porque folhas de caderno espiral
por quanto se preze a cidadã, carta escrita a mão
tem que ter o seu valor, nem precisa ser de cor

Mas que seja papel de carta
pode até ser sem pauta.
Três partes de dobradura
Dispensa-se até cercadura

nem convêm tinta cheirosa
com aromas de botões de rosa
já que nada de amor foi dito
nem sorrisos nem suspiro

Já que estamos na onda da liberdade
ainda que sem responsabilidade
deixo aqui meu pensamento
quanto a carta do momento

Se o conteúdo
é pra muitos, petulante
Quanto a forma, eu mesmo digo
um tanto quanto DESELEGANTE.

Patrícia Cattani

Poema de agora: PRIMAVERA EM PARIS (de Patrícia Andrade para seu amigo Cruz)

PRIMAVERA EM PARIS

Para meu amigo Cruz

é primavera em Paris
e aqui as aranhas tecem casas inteiras
as flores murcham nos vasos
e os olhares são embaciados

é primavera em Paris
e aqui choramos por noites inteiras
por tantos vasos quebrados
por olhos já fechados

é primavera em Paris
e o artista pinta telas inteiras
com a dor que vem das quebradas
através de seus olhos vidrados

é primavera em Paris
e o coração percorre as fronteiras
pra quebrar a saudade em pedaços
e alegrar seus olhos cansados

PATRÍCIA ANDRADE

Poema de agora: DESPUDORADA LUA!! – Patricia Cattani

DESPUDORADA LUA!!

Desavergonhada lua!
Que vaga na noite escura,
Desfila na passarela orbital,
Oferecendo-se toda nua. Vai amoral!
Romântica e desejada lua universal!
Oh! Desvairada Lua.

Fogosa Lua!
Presente nos ardentes desejos,
Sucumbida de infinitos beijos,
Regalo de todos os amantes,
Pensas até que és um brilhante,
OH! Pretensiosa lua!

Incontestável Lua
Quanto mais gorda, mais bela e nua.
Míngua em arco, esbelta, quase uma atleta.
Seminua se mostra ao poeta.
Oh! Formosa Lua!

Sedutora lua!
Musa de cantores e poetas,
Produto de tantas promessas,
Recitada em versos de poesia,
Musicada nas mais belas rimas,
pelos boêmios nas noites frias.
Provocante e Promíscua Lua!

Apreciável Lua!
Seja mulher, homem velho ou criança,
Lua se mostra sem pedágio ou cobrança.
Sem preconceito, seja amor branco ou preto,
Faz-se bela e admirada no leito.
Adorável lua!

Prometida Lua!
Ao amor rico, ao amor pobre, seja plebeu eu nobre,
Seja de ouro ou de cobre, serás a oferta do dia.
Não chores!
Desfrutável lua!

Descolorida e acinzentada lua!
Sem cor, sem calor, sem pudor.
Descolore amores, sem piedade ou dor,
Oh! Implacável lua!

Investigável lua!
Conquistada sem consentimento,
Nas guerras do mundo imenso,
Neil Armstrong na corrida espacial,
Ou na espada de São Jorge e coisa e tal.
Mística Lua!

Ditadora Lua!
Dita a hora de fecundar a semente.
O instante do rebento nascente.
Norteou civilizações antigas.
Maias, Astecas e Incas.
Oh! Sabedora e conhecedora lua!

Lua das luas de mel.
Que leva os noivos aos céus,
Depois te mancharam o branco véu,
Te esconjuraram como réu,
Deram-te dissabores em fel,
Oh! Difamada e condenada Lua!

Lua das dores do mundo, dos moribundos vagabundos
Lua do jovem soldado aspirante, que já sem esperança e com temor errante,
Na cama de campanha da batalha, na ausência da noiva resguardada
Fez-te lua, a última amada.
Oh! Generosa Lua!

Lua dos acalantos
Da Magia dos encantos, Lua de todos os santos.
Dos descontentamentos e lamentos.
Cortejada pelos poetas loucos em desvarios,
Lua vazia e fria cai em risos,
Pois eles a tem como única amada.
oh! Debochada lua desalmada!

Lua desnuda e crua.
Lua de tantos amores,
Brindada com licores.
Lua de poucas cores,
Na noite se deixa como uma gueixa,
Muda e calada jamais se queixa.
Oh! Submissa lua!

Amável lua!
Faz-se bela, como nunca, mirada da janela ou da rua.
Namorada dos homens, perseguida pelos lobisomens.
Tantos amores em seu roll, mas quem a faz brilhar é o rei sol.
Oh! Misteriosa e eclipsada lua!

Mas és de fato dos amantes.
Sua tarefa mais importante,
Seja culta ou crua,
Oculta, nua ou obscura,
És sem dúvida alguma
A soberana. Lua de tantas luas,
ÉS A MAIS NOBRE DAS PUTAS
OH! DESPUDORADA LUA!!

Patricia Cattani

Poema de agora: O TRAÇO NO VAZIO – Ori Fonseca

Ilustração: foto e desenho em guache sobre espelho de Marília Vieira.

O TRAÇO NO VAZIO

O traço feminino a voejar no espaço
Vagava à minha frente esfumaçado e lindo,
A cor sem cor do traço foi-me consumindo
Até que de mim não restasse um só pedaço.

Aquele corpo sem face, delgado e lasso,
Tão conhecido meu nalgum momento findo,
Era-me estranho agora se reconstruindo
Na confusão do espelho em cacos de embaraço.

Então, eu cerro os olhos, busco no passado
Alguma luz de vida que me dê conselho.
Mas toda a luz é dela, e em cacos ajoelho.

Como Lázaro, volto à vida apavorado
É então que abro meus olhos e, maravilhado,
Eu vejo deslumbrante a vida além do espelho.

Ori Fonseca

Poema de agora: Ilhado – Tiago Quingosta

Ilhado

Calas os japiins e os jurutis,
espalhas as andorinhas,
depenas os papagaios,
sangras as samaúmas,
secas os tajás,
apodreces as mangas e jambos,
matas açaizeiros.

Mudas o curso d´água,
trocas os hemisférios,
esfrias os dias,
expulsas o sol mais cedo.

Furas as caixas,
rasgas as saias,
tornas sórdidas as açucenas,
afugentas os botos,
tiras o brilho das piabas,
afundas batelões.

E continuo aqui,
deitado sobre a palha,
subjugado
fazendo amor,
enquanto o incêndio destrói toda a taba.

Tiago Quingosta

Poema de agora: LOUCA LUCIDEZ – Patricia Cattani

LOUCA LUCIDEZ

Que eu perca a infância, perca o cascão da ferida, lambida,
Perca a brincadeira de roda e a boneca mais querida
Que eu perca o dia já perdido na preguiça
e a madrugada mergulhada na pesquisa.

Que eu perca a janta enrolado na manta
e a longa espera da minha esfomeada pança.
Que eu perca a fome, perca o nome
o talher e o sobrenome

Que eu perca a carteira na cabeceira
perca meu mísero vintém
perca tudo que me convém
perca a expressão de horror, de pavor, torpor
perca a novela e até a hora do “Jô”

Que eu perca a hora, minuto, segundo e terceiro
também o quarto, a cozinha e o banheiro
Que eu perca o alvo, a mira
a régua, a métrica e a rima

Que eu perca o debate, a réplica e a tréplica
perca o vício e a verdade concreta
Que eu perca sua cueca samba-canção- da-américa
perca o passo, compasso da música, da dança,
Que eu perca a salsa, a valsa, o bolero e o baião
Baião de dois, arroz e feijão

Que eu perca a linha, a linha do tempo, a linha da vida impressa na mão
perca a linha da pauta, a aspas e o travessão
Que eu perca o trema, a vírgula, o sujeito e o predicado
perca a oração… a Oração de Santo Olegário

Que eu perca a viagem, a passagem, a bagagem
perca o riso raso, o sorriso largo, e o olhar profundo
Que eu me perca dançando quadrilha no meio do mundo.

Que eu perca o passo, passado, futuro e presente
perca a risada, e o sorriso amarelo contente
Que eu perca a largada já por mim antecipada na topada do percurso
perca a juventude, zelando por meu rebento, como um urso

Que eu perca a carona na ida e na volta,
perca a engrenagem, e a chave de roda,
perca o sapato, e a rabiola
perca minha parafuseta da rebimboca

Que eu perca a visão, audição, que eu perca a ilusão
perca o pudor, a roupa, a voz e a vergonha
Que eu perca o rumo, o prumo e me torne pamonha

perca a vaidade e a idade

Que eu perca a ingenuidade, a malandragem
perca a seriedade e a mediocridade
Que eu perca a coragem do acordar do dia que já não mais existia
perca a vida já inserida na morte tão sentida.

Porém, contudo, entretanto, aliás, todavia…
que nunca me falte… por mais complexa que seja a vida
que nunca me falte
digo mais uma vez
Que nunca me falte…
a minha mais perfeita e LOUCA LUCIDEZ

Patricia Cattani

Poema de agora: ESPANTALHO (Luiz Jorge Ferreira)

ESPANTALHO

Estou nu, mesmo coberto de pele, de pelo, de pó.
Estou azul, mesmo colorido da nódoa do tempo.
O que desboto, empilho em monte de ferrugem, e dor.
O que estilhaço, amarro em feixes de lágrimas, e saudades.
O que mastigo, engulo em noites de insônia.
Estou sem cor, sem cheiro, sem tato,sem olfato, e sem paladar.
Estou no mesmo lugar sempre, embora a vida toda eu vague.
De dentro para fora de mim, de mim para fora do dentro.

Sou um Espantalho.
Mantenho os braços abertos para um abraço eterno, com sol e lua.
Tenho um sorriso calado e um grito amordaçado, enormementes pequenos.

Talvez se eu gritar, eu fale, talvez se eu falar, eu grite.
Eu sou um Espantalho, que amo as coisas ao contrário.
A água, o rio, a chuva, o silêncio, a balbúrdia dos Quero-Queros, a solidão da semente, a doçura da serpente, colorida e traiçoeira.
Eu recebo o pouso, dos insetos, das abelhas, e das folhas secas.
Eu sou uma ratoeira, e eu próprio caio nela.

Estou palha, e estou barro.
Estou indo, e estou parado.
Estou cercado de nada, e até o nada me incomoda.
Até que o nada sou eu, e até que eu sou o nada.

Quando me dispo da palha, do chapéu, e do olhar.
Quando me deixo, e me espalho, e me perco mais de mim.
Aí, eu sou o Espantalho, aí eu sei o que valho.
Mas aí.
É tarde demais.

Luiz Jorge Ferreira

 

* Do Livro O Avesso do Espantalho. Scortecci / 2010/ São Paulo.Brasil.

Poema de agora: A Posteriori – Lara Utzig (@cantigadeninar)

A Posteriori

horas de videochamada
Fortnite e joguinhos de celular
dias de procrastinação
[e fazer-nada
playlists de meditação
webflerte e nude
(“oi bb, to on-line, me ilude”)

quando isso tudo acabar
qual será a primeira coisa real
que você fará?

quando isso tudo tiver fim
qual será o primeiro lugar
que você passeará
além do próprio jardim?

vou sair para pedalar
encomendar um cento de salgado
comer com as minhas amigas
tomar o litrão mais barato
cantar no karaokê
falar mal do governo
comentar a final do BBB
[na beira da calçada
pegar filas
rebolar a raba
e usufruir da vida

quero deitar no teu peito
e abusar do direito
de ir e vir
que eu sequer reconhecia…
talvez até sorrir
e agradecer ao antes
que já era o bastante
porém eu não sabia.

Lara Utzig

Poema de agora: CONTÍNUO – Ori Fonseca

CONTÍNUO

Ela gosta de butterfly
Sabe o que é dragonfly
Mas não conhece firefly
Seu inglês entomológico
Hoje é ilógico
Não sabe para onde vai
Para onde voa
Ela não sabe se perdoa
Ou se executa
Se escuta
Ou caçoa
Mas ela sente muita culpa
E não se desculpa
Quer o céu só pra ela
Todo dela
Como num quarto sem telhado
Como num telhado sem quarto
Tendo o sonho iluminado
Com o lume preso no vidro
Farto
De solidão e gemido.

Ela é meiga e é boba
Por não gostar de ser meiga
Acha toda a gente leiga
Acha toda a gente boba
E rouba
O brilho do espaço
E chupa a luz da ribalta
Quando, bailarina, salta
No precipício da dança
No tropeço do compasso
No giro que nunca cansa.

Ela tem medo
De que seja muito tarde
De que seja muito cedo
Mas também não faz alarde
Morde o dedo
Range os dentes
Em segredo
E se esconde penitente
Debaixo da cama em gozo pra não ver o anjo
No arranjo
Sobre o telhado
Pra não ver a Terra
No armistício forçado
Pra não ter guerra
No sentimento trancado
Pra estancar a mágoa
No soluço estagnado
Como fosse água
Eternamente girando na caixinha –
Moto-contínuo do sonho da menina –
A dizer baixinho com voz fina:
“A vida é minha! A vida é minha!”.

Ori Fonseca

Poema de agora: AS REFERENCIAS PERDIDAS – Patricia Cattani

AS REFERENCIAS PERDIDAS

As referencias perdidas.
Quantas historias deixarão de serem contadas aos netos.
E os segredos entre avos e netos? quantos não serão mais compartilhados?
As experiencias de vida, das vidas que agora se vão, milhares delas, todos os dias, por todo o mundo.
Quantas historias não serão mais ouvidas?
Historias alegres e tristes
De guerras, de amores,
historias de vida, contadas por seus protagonistas
Historias de um cotidiano tão diverso do nosso, mas ao mesmo tempo tão nosso, quanto deles foram.

PHOTOGRAPH: TIM PLATT/GETTY IMAGES

Historias de honras, de dignidades, de felicidades e dificuldades de outrora.
Dos bailes antigos, das charretes, dos bondinhos, dos croches, das profissões que já não mais existem, das telefonistas, das praças…
Os sábios conselhos e experiencias que tanto nos ajudam em nossas escolhas.
Estamos perdendo as caminhadas lentas com eles, nas praças e calçadões, que tanto nos ensinam a ter paciência.
Estamos perdendo os laços com o passado, que nos mostram de onde viemos e o quanto tem deles no nosso presente
Estamos perdendo eles…
Perdemos pais e avôs para as guerras, agora estamos perdendo mães e avós…
Sinto que estamos perdendo a linha do tempo… enquanto a linha do novelo de lã é esquecida na cadeira de balanço que permanece solitária.
teremos um mundo mais jovem e mais perdido, sem referências.


Não estamos perdendo idosos para o covid-19.
Estamos perdendo a sabedoria do mundo, estamos perdendo nossas mais preciosas referências, Estamos perdendo uma parte valiosa de nos.

Patricia Cattani

Poema de agora: Pink Money – (@cantigadeninar)

Pink Money

Queria conseguir ser capaz
de escrever poesia panfletária
antiódio, antídoto
para a desesperança do meu país tão sofrido.
Gostaria de levantar bandeiras
em combate à semente conformista do meu povo cansado
que, à beira do abismo,
toma decisões ainda piores contra o mal já instalado.
Eu entendo o motivo deles.
Eu mesma me encontro exausta.
Entre tanta irracionalidade, com o coração na mão,
o absurdo chega até a parecer possível solução.
Mas estou próxima da mudez.
Me calo como minoria
– ou maioria minorizada –
pois tenho medo de minha própria sensatez
[silenciada
Sou fraca. Lamento.
Também me contento
em rezar, torcer
para que o patético, outrora sequer hipotético,
não ganhe o peso necessário para se fortalecer.
Cabisbaixa, me limito
a resistir sob patrióticos gritos
de brasileiros órfãos como eu.
Por enquanto, continuo apavorada.
De sair na rua e não voltar mais pra casa.
Graças ao – ilógico –
apartheid ideológico
sigo desconfiando da vizinha
[cristã:
“Ela se faz de coitadinha”.
Manchete de amanhã,
estatística em algum link,
só sirvo quando gasto meu money… pink.
Sei da lei do equilíbrio.
Sei que tudo se regula
e que as coisas voltam como bumerangue.
Por isso, leia a bula.
A história cíclica se repete.
Os erros do 8 ou 80
nos cortam como Gillette.
Escolhas feitas por revanche
[comemoradas com confete
mancham nossas mãos de sangue.

Lara Utzig