Secult/AP: 1ª Virada Feminista do Coletivo Juremas conta com quase 10 atrações culturais

Em homenagem ao Dia da Mulher (8), a partir de segunda-feira (7) acontece a 1ª Virada Feminista Amapá. O evento será realizado na Escola Estadual Mário Quirino e no Barracão da Tia Gertrudes, ambos locais em Macapá e se estende até a madrugada de terça-feira (8). Começando às 8h, a festividade conta com café da manhã, rodas de conversas e 9 atrações culturais para celebrar a data internacional.

A realização da programação conta com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura do Amapá (Secult/AP), que está trazendo as atrações culturais, e busca evidenciar as lutas das mulheres por seus espaços na vida e na arte. A programação conta com apresentações de música, poesia, oficinas e debates sobre temas que envolvem conquistas e lutas das mulheres por justiça, paz e direitos, ao longo da história.

Para o titular da pasta de Cultura, Evandro Milhomem, o momento é vital para ressaltar a importância da mulher na sociedade amapaense, que rapassa tradição, formações históricas, culturais e sociais fundamentadas em figuras femininas.

“São 24 horas de festividade e cultura. Essas mulheres se unem às suas ancestrais reunindo forças para a luta diária. Elas clamam às tias do Marabaixo: Tia Gertrudes, Tia Natalina, Tia Chiquinha, Tia Biló, Tia Dica Gongó, Tia Sinhá, Tia Vevina, Mãe Luzia, Tia Luci, Mãe Venina, Tia Davina, Tia Gitóca, Tia Guita, Tia Cândida e todas as Orixás femininas, fundamentais para a cultura do nosso estado”, completou.

A celebração também conta com a participação de figuras como a Laura do Marabaixo, Verônica dos Tambores, Piedade Videira, Pagodelas, Mulheres que gingam no meio do mundo, Zimba, Tocadoras do Raízes da Favela, Tocadoras do Berço do Marabaixo, Tocadoras do Curiaúe e Tocadoras do Marabaixo da Juventude.

Atrações culturais:

19h – Coletivo Juremas
19h30 – Julia Medeiros
20h30 – Roni Moraes
21h30 – Brenda Zeni
22h30 – Tonny Silo
23h30 – Elysson Pereira
1h – Sabrina Zahara
2h30 – Mulher e Arte
6h – Rufar Feminista Deusas do Tambor

Serviço:

1ª Virada Feminista do Coletivo Juremas
Datas : 7 e 8 de março de 2022
Horário: 8h
Locais : Escola estadual Mário Quirino da Silva – Rua Claudomiro de Moraes, 1268 – Novo Buritizal e Barracão da Tia Gertrudes – Av.: Duque de Caxias, 1203 – Santa Rita

O porão da velha Marta – Conto de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Conto de Lorena Queiroz

Viúva, rabugenta e peculiarmente religiosa, era assim a velha Marta. Tudo mudou depois que o marido faleceu, ou melhor, se tornou o que era antes de nascer. Era assim que ela pensava nele e em sua morte, algo associado com uma das poucas coisas que lembrava da leitura de Schopenhauer.

Ao se tornar viúva, a nossa Marta não teve mais como se sustentar. Tinha uma única filha, uma ingrata que foi embora com o marido e nunca mais deu notícias. Mas quem nasceu sobrevivente nunca é engolido por naufrágio. Pensou em abrir um pequeno comércio, mas não tinha simpatia para lidar com os clientes. Pensou em ser prostituta, mas lhe faltava vocação e sobrava bexiga baixa.

Então, olhou para seu porão e pensou em abrir um bar e, com bêbado, ela sabia tratar. Viveu com um durante trinta e cinco anos, tinha plena consciência que dono de bar não precisa ser simpático se a cerveja estiver gelada e o tira-gosto com preço camarada e, como não lhe passava pela cabeça pagar impostos, seu preço seria um atrativo.

Assim nasceu o porão da velha Marta, escada de madeira velha, umidade demais e tubulação aparente. Aquelas escadas levavam até o submundo das almas perdidas, como se o próprio Hades tivesse abençoado o lugar em parceria com Dionísio. E se lá era o lado divertido do inferno, Cérbero andava entre aqueles que bebem, um cachorro caolho e de três patas que a velha Marta adotou após encontrar o pobre estropiado em sua porta.

Muitas pessoas desciam aquelas escadas; gente de todo jeito, com um fator em comum, a clandestinidade. E isso a velha Marta adorava. Era a mãe de todos os que foram rejeitados pela normalidade. A velha Marta conhecia os hábitos e as histórias de cada um, e os que iam chegando, a nova leva, como dizia nossa Marta, ela adivinhava algum traço de personalidade pela bebida que pediam; Campari; bicha velha. Martini; hum, puta. Gim; atrás de sexo. Marta também reconhecia vários de seus clientes assistindo o noticiário; o prefeito desportista que adorava a prostituta de cabelos vermelhos. O rapaz que sempre bebia whisky, sozinho no canto mais escuro do porão, e se matou enforcado dentro do próprio quarto. Entre muitos outros. A velha Marta era conselheira e ouvinte de muitos deles, ouvia cada empolgação, desgraça ou ilusão que lhe relatavam. Era impaciente, mas sua vasta experiência de vida lhe propiciara a dar conselhos; se eram bons? Questão de perspectiva. Sempre aconselhava os casados que a viuvez é melhor que a separação. Toda mágoa vai junto com eles para o fundo da terra, é libertador, dizia ela à uma. O que é a vida? É o simples agora, o imediato e nada vale mais a pena do que o agora, disse ela para o outro. E o que seria a morte? Um momento inevitável de solidão, pois você pode viver junto, mas vai morrer sozinho, disse para mais um.

E todos os dias ao nascer do sol, a velha Marta fechava o caixa, alimentava Cérbero e se despedia de cada uma daquelas almas que continuariam; algumas felizes, outras perdidas e muitas mutiladas, mas agora, expostas à luz do sol.

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora contista e cronista. E, ainda, de prima/irmã amada deste editor.

Ressaca de Carnaval: Show reúne bateria da maracatu da Favela e Piratas da Batucada, com banda SaKarolha no domingo

Neste domingo, 06, vai rolar show das campeãs do carnaval, reunindo Piratas da Batucada e Maracatu da Favela, com suas baterias com participação especial da banda Sakarolha, na Arena Show de bola, a partir das 18h.

O show é para relembrar o Carnaval das escolas de samba, com muito samba no pé, com os melhores sambas-enredos das campeãs e finaliza com muito Carnaval com a apresentação da banda Sakarolha, com axé, frevo, marchinhas e outros.

De acordo com o presidente da Piratas da Batucada, Marcelo Zona-Sul, a produção A.M.Z Eventos, realizadora do show, convidou as duas escolas vice e campeã do último desfile, em 2020, para se apresentarem num grande espetáculo exaltando o samba e o Carnaval amapaense.

“Fomos convidados, juntos com a Maracatu da Favela, para fazer um grande show para quem ama e não teve agora no carnaval, o desfile das escolas, e vamos celebrar juntos, as escolas só são rivais na avenida, mas somos sempre parceiras da diversão, vai ter muito samba no pé lá na arena”, destaca Marcelo Zona-Sul.

O evento segundo a organização contará com todas as normas sanitárias, cobrará carteira de vacinação e uso de máscara e terá o quantitativo determinado pelo decreto da Prefeitura de Macapá.

Serviço:

Show das campeãs
Dia: 06-03 (domingo)
Hora: 18h
Local: Arena Show de Bola
Endereço: Av. Profa. Cora de Carvalho, 1939-2169 – Central, Macapá
Ingresso: R$ 30,00 ( primeiro lote)

Assessoria de comunicação

Nosso jeito de falar – Gírias do Amapá – Por @alcinea

Banner do bloco carnavalesco de Macapá “Bora lá Só tu”

Por Alcinéa Cavalcante

O amapaense tem um jeitinho especial de falar. Algumas palavras e expressões podem não ser entendidas por quem nunca andou por essas bandas.
Por isso este blog publica hoje um mini (gito)-dicionário de palavras, expressões e gírias amapaenses.

Porrudo – grande, enorme
Ex: Pesquei ontem um peixe porrudo, porrudão mesmo.

Porrudinho – gordinho
Ex: O nosso senador Davi tá porrudinho

Nem com nojo – de jeito nenhum
Ex: Se o ∑∉ þ∀∇ȳæΨ de repente viesse candidato a prefeito tu votarias nele?
Nele? Nem com nojo

Pegar o beco – fugir, se mandar, sumir
Ex: Depois que perdeu a eleição ele pegou o beco.

Bora lá só tu – Não vou
Ex: Vamos correr na orla hoje à noite?
Bora lá só tu

Não. É pão – Sim. Claro que sim
Ex: Isso que a polícia tá jogando é bomba de gás lacrimogêno? Não. É pão.

Malaco – arruaceiro, ladrão, pivete
Ex: Os malacos aproveitam as manifestações para quebrar e saquear lojas.

Alvará – Imagina!
Ex: Se ele que é diretor de escola de samba não sabe onde vai ser o desfile este ano , alvará eu.

Borimbora – Vamos embora.
Ex: Borimbora que lá vem um toró (chuva)

Chutado – Correndo
Ex: Quando o Bope chegou o Zezinho saiu chutado daqui

Discunjuro! – Credo!
Ex: Sabias que que o Lugar Bonito tá na mais completa escuridão?
Discunjuro!

Não que não –Sim!
Ex: Sério que estão roubando até as plantas dos jardins das rotatórias?
Não que não.

Ontonti – anteontem
Ex: Quando foi a reunião do ex-senador Capi com o prefeito Clécio pra falar de eleições?
Foi ontonti na Prefeitura.

Afudega – afoba, apressa.
Ex:Nem te afudega que show aqui em Macapá só começa com pelo menos duas horas de atraso.

Amassa – aperta, tecla
Ex: Amassa nesse botão pra ligar o som.

Arreda aí – Afasta; dá licença
Ex: Arreda aí que que quero passar; Arreda esse sofá .

Bazuca – goma de mascar, chiclete
Ex: Me dá o troco em bazuca

Carapanã – mosquito
Ex: É nos meses de maio e junho que os carapanãs da dengue fazem a festa em Macapá.

Cabuçu – caipira, matuto
Ex: Aquele vereador é muito cabuçu.

Bombom – bala
Ex: Me dá o troco em bombons

Cruzeta – cabide
Ex: Maria, coloca essa camisa na cruzeta

Embrulhar – cobrir com lençol.
Ex: Embrulha essa criança que está fazendo frio.

Engilhado – enrugado
Ex: Credo! Esse papel tá todo engilhado

Eras! – Eu, hein!

Escangalhar – quebrar, ficar com defeito.
Ex: O meu carro escangalhou.

Filho de pipira – pessoa que vive pedindo.
Ex: Esse menino pede mais que filho de pipira.

Gala seca – idiota, imbecil, otário

Gito, gitinho – pequeno
Ex: Esse sanduíche tá muito gitinho

Lá embaixo – no centro comercial
Ex: Sábado eu vou lá embaixo fazer compras.

Mato – interior.
Ex: Vamos passar o feriadão no mato.

Menta – qualquer balinha que provoca ardor ou frescor, tipo halls

Merendar – lanchar
Ex: Eu merendei um pastel com garapa (garapa é caldo de cana)

Osga – lagartixa

Pão careca – pão francês

Papagaio – pipa. Empinar papagaio: soltar pipa.
Ex: Agora só dá pra empinar papagaio na praça. Na rua tá perigoso

Rapidola – rápido, sem demora.
Ex: Eu leio esse livro rapidola.

Torar – cortar ou quebrar.
Ex: Tora esse pão no meio pra nós

Égua, já leu e aprendeu tudo? Calma, eu não estou te xingando. “Égua” é uma das palavras mais usadas no Pará e no Amapá.
Serve para exprimir uma variedade de sentimentos, como explica o professor e jornalista Ivan Carlo: “Égua – essa é, depois de deveras, a única palavra brasileira que pode ser usada em qualquer situação. Você pode usar égua para expressar dor, tristeza, alegria, admiração, espanto e até mesmo enfado. Se, por exemplo, passar pela sua frente uma morena jeitosa, você pode exclamar deliciado: “Égua!”. E não se preocupe que ela não vai achar que você está chamando-a de eqüina. Se, por outro lado, descer um disco voador no seu quintal, não pense duas vezes. Grite: “Égua!”.
Achou tudo isso pai d’égua (legal, bacana)? Então qualquer dia tem mais.

Fonte: Blog da Alcinéa Cavalcante.

Poema de agora: MUNDO INVENTADO – Pat Andrade

MUNDO INVENTADO

era um desenho em giz de cera
uma estrada de mentira
com um céu bem azulzinho

lá por cima da mangueira
gritava alto uma arara
um gavião voava no horizonte
e o sabiá cantava afinado

era um quintal bem verdinho
com goiaba e manga espada
um pé de abiu um limoeiro
e jaca madurinha

era um mundo inventado
com unicórnio cintilante
ursinho cor-de-rosa
e uma vaquinha azul

nas tardes de sol tinha jardim
com grilo formiga e borboleta
rosas meninas e mil flores douradas
tudo pintadinho nas paredes caiadas

na casa pequenina
enfeitadinha de flor
morava uma menina cega
que pintava tudo de amor

Pat Andrade

Escritora Zenilde Soares lança livros em Macapá

São dois livros, um de poemas e o outro, um romance. Ambos retratam o universo feminino em sua plenitude.

O projeto Quarta de Arte da Pleta realiza em 4 de março, evento de lançamento de dois livros da escritora Zenilde Soares, ambos contemplados pela Lei Federal Aldir Blanc de 2021. Trata-se da obra poética “Memórias do Silêncio” e do seu primeiro livro de romance “Eu, o Outro e os Outros”. O romance tem como pano de fundo o universo feminino, sendo a personagem principal uma maestrina amazônida que mora em Paris. A história aborda temas como relacionamentos amorosos e de amizade, doenças emocionais e o trabalho da maestrina à frente do coral e da orquestra, pertencentes a uma fictícia Universidade da Cidade de Paris.

A autora está em seu quarto livro, tendo participado de várias coletâneas nacionais. Escreve tomada pela sensibilidade poética aflorada pela força da mulher amazônida que ama ser o que é,  explorando a força e a beleza desse universo lírico e acolhedor.

Escritora Zenilde Soares

Zenilde é paraense e escolheu lançar seus livros em Macapá por amor à cidade e ao povo receptivo e intenso,  especialmente as mulheres, que fortalecem a cena literária dando vida e liberdade à poesia do norte. Ela é advogada e tem amor profundo pelas palavras e pela arte da escrita.

lançamento conta com a música e a poesia dos artistas do Coletivo Juremas com apresentações de Carla Nobre, Edu Gomes, Hayam Chandra, Suane Brazão e Fernanda Canora.

Sobre o Quarta de Artes da Pleta

Quarta de arte da Pleta  é um projeto artístico cultural,  que visa reunir e difundir o trabalho autoral de artistas amapaenses.   Surgiu em 2015 do encontro entre Andreia Lopes e  Ton Rodrigues no “Bar do Nego”, o primeiro palco de grandes noites culturais entre artistas, ainda desconhecidos pelo público, e os já consagrados.

Hoje, o Quarta de Artes da Pleta desenvolve diversos eventos e projetos com grandes parceiros como o Estúdio Tattoo Naldo Amaral,  Quilombo Sankofa,  Coletivo Juremas, SESC-AP, SECULT, FUMCULT, Movimento Cultural Desclassificáveis, Barracão da Tia Gertrudes e alguns parceiros de imprensa.  O núcleo forte do “Quarta” vem do grupo intitulado “Os de Sempre” composto pelos artistas. Hayam Chandra, Kassia Modesto, Fernada Canora, Edu Gomes, Negra Áurea, Wendel Cordeiro,  Kazumba Akele, Mary Paes, Pat Andrade, Carla Nobre,  Laura do Marabaixo e Barca do Yraguani.

Serviço:

Lançamento de livros da escritora Zenilde Soares
Data: 4.3.,2022 (sexta-feira) | 18h

Local: Farofa Tropical | Rua São José, 1024 – Centro – Macapá/AP

Mary Paes
Assessoria de Comunicação
(96)98138-5712 | 99179-4950

Poema de agora: Pano de prato Bordado de Si bemois e Si mínimas – Luiz Jorge Ferreira

Belém (PA) – Foto: Joaquim S. Filho

Pano de prato Bordado de Si bemois e Si mínimas

Elis canta Belchior…Canta Ivan Lins
Seu Pôster pregado na
parede pálida da cozinha da República de Estudantes na Av 14 de Março…2415…
Já piscou muitas vezes em minha direção quando entro bêbado de mim.
A vala aberta pela Prefeitura Municipal de Belém…
A porta aberta pelo Joca
A água límpida trazida do horizonte pela paciência do João
O sabor doce da saudade misturada nos sonhos de Valsa que Alípio ganha de sua mamãe.


Não distante as pernas abertas de varias meninas que por ali transitam atrás do amor que veem nas novelas…
….Faz fila …
Amo ver a lua doutro lado se abraçar com força na Mangueira doutro lado da vala e produzir frutos com sal.

Vamos ensaiar um hino para a Copa do Mundo em 1970
Vamos dizer ao povo que Deus é Grande e brasileiro.
Vamos usar os chinelos para demarcar o gol.
Vamos afinar as cordas do violão Giannini…
Sob os apupos do barulho esquisito do caminhão Fordeco do vizinho manco.

Elis Regina na parede da cozinha ganhou a companhia de um poster de Beth Carvalho…
E o tempo no quintal durante a semana
Vê o entre e sai e diz aos gafanhotos e zangões…
Nada será como hoje…
amanhã…

Luiz Jorge Ferreira

“Anastácia Livre”: Linn da Quebrada e Big Brother Brasil

Por Fernanda Fonseca

“Se a gente não discute o amor e ele não sai desse terreno do ‘intocável’ (…) não percebemos porque alguns corpos são mais amados que outros (…) corpos gordos, negros, trans, de pessoas com deficiência, a gente nem pensa nessas pessoas quando pensamos em amor”. Essa fala foi dita em um dos reality shows mais assistidos da América Latina e por uma travesti preta.

Lina, ou mais conhecida pelo público como Linn da Quebrada, entrou na casa mais vigiada do Brasil há 6 semanas e nesse curto período dentro do reality já fez história. Sim o programa ainda tá longe de acabar, mas a presença de Lina é tão marcante que parece que ela já está há anos na minha televisão, conversando com os outros confinados como se estivesse falando comigo e com o Brasil inteiro.

Lina é a segunda pessoa trans a participar do programa. A primeira foi Ariadna, em 2011, que também foi a primeira eliminada da sua edição. Na época, Ariadna foi vítima de constante transfobia, principalmente por parte da mídia que a acusava de “esconder” sua transexualidade. Recentemente, Ariadna desabafou em sua conta do Twitter sobre se sentir acuada com os ataques e ofensas que sofreu nesse período: “Quando alguém falar: Ariadna foi eliminada porque escondeu que era trans… olha o que faziam comigo na época! Apenas uma das milhares de capas de jornais que eu era humilhada…”.

Onze anos depois, Linn da Quebrada entra no BBB22 estampando em sua blusa a figura emblemática de Anastácia, mulher negra escravizada cujo rosto preenche os livros de história até hoje. Mas o que chamou atenção foi que a Anastácia que ilustrava a camisa de Lina estava livre, sem a mordaça que simbolizou por anos o legado cruel da escravidão no Brasil. Coincidentemente, na mesma semana tive que ler um texto para uma aula de comunicação e gênero na faculdade e, novamente, lá estava ele: o rosto de Anastácia, mas dessa vez com o instrumento que a silenciou por anos de sua vida. O livro era Memórias da Plantação, da escritora Grada Kilomba, e entre os vários temas da obra, o capítulo inicial intitulado “A Máscara: Colonialismo, Memória, Trauma e Descolonização” traz esse instrumento – a máscara usada por Anastácia – como “o símbolo das políticas coloniais e de medidas brancas sádicas para silenciar a voz do sujeito negro durante a escravização”:

“Oficialmente, a máscara era usada pelos senhores brancos para evitar que africanas/os escravizadas/os comessem cana-de-açucar ou cacau enquanto trabalhavam nas plantações, mas sua principal função era implementar um senso de mudez e de medo, visto que a boca era um lugar de silenciamento e de tortura. Neste sentido, a máscara representa o colonialismo como um todo. Ela simboliza políticas sádicas de conquista e dominação e seus regimes brutais de silenciamento […].”

“O que poderia o sujeito negro dizer se ela ou ele não tivesse sua boca tapada?” e “O que o sujeito branco teria de ouvir?” são alguns dos questionamentos que guiam a análise da escritora nessa primeira parte do livro. Invocando a figura da máscara de Anastácia, Kilomba reflete sobre esse medo apreensivo de que se o sujeito escravizado falar, o colonizador terá que ouvir. Ou seja, seria forçado a encarar as verdades que o tirariam de sua posição confortável de ser o único permitido a criar uma narrativa.

Durante toda a minha leitura pensava em Lina e em sua presença avassaladora dentro do programa. Quando Grada discorre sobre a importância da fala que obriga os outros a encarar verdades desconfortáveis, essa ideia pode ser estendida para todos os grupos minoritários que sofreram e sofrem com o silenciamento até os dias de hoje. Quando Lina entra em um dos reality shows mais assistidos da América Latina e constantemente reafirma suas vivências enquanto travesti e negra, ela se coloca nesse lugar de sujeito que fala e que merece ser ouvida.

Agora, completado um mês do BBB22, Lina é uma das pessoas que mais se comunica dentro da casa. Desde depoimentos no ao vivo, explicando para todo o Brasil o uso correto dos seus pronomes, até conversas com amigas sobre amor e rejeição, Lina falou e continua falando. E entre erros e acertos, Linn da Quebrada se humaniza quando fala, e acaba humanizando todos a sua volta também.

E agora fica o questionamento: quem são as pessoas que nos acostumamos a ouvir quando o assunto é amor? E amizade? E autoestima?

Chega de monólogos com as mesmas perspectivas de quem, ao longo da história, sempre teve o privilégio de ser ouvido.

*Fernanda Fonseca é amapaense e acadêmica da Jornalismo na UnB.
Fonte: Site EscreviElas.

CARTAZISTA: Um olhar urbano da crise econômica na pandemia (Por Fernando Canto)

Por Fernando Canto

Depois das perguntas de praxe, o delegado encara o preso e pergunta:

– O que é que tu fazes na vida além de vender drogas por aí?
– Sou letrista eu, falou Tinzinho, cheio de empáfia.
– Quer dizer que tu és compositor igual ao Osmar Júnior… o Zé Miguel…?
– Não, só letrista, com muito orgulho.
– Huumm! Ah é, é. Mas onde é que tu publicas teus trabalhos, malandro? Na baixada?
– Não, doutor, lá no centro.
– Como assim? É na banca do Dorimar? Em alguma livraria ou na boca de fumo?
– Não, doutor, é nas esquina.
– Como assim?
– Sou letrista e cartazista eu.
– Diz logo, seu féla. Não me deixa ficar enfezado.
– É que eu tô desempregado. Faço qualquer negócio.
– Para com a mentira. Olha a palmatória….
– É que eu me divido entre vender droga e fazer as letra eu.
– Quer dizer que és universitário, hem? Tu também vende drogas pros intelectuaisinhos da Universidade?
– Não, doutor.
– Me dá essa mão aqui.
– Pelamor, doutor. É com essa que eu faço as letra.
– Que letras, caralho?
– Dos cartaz.
– Que cartazes, filho de uma égua?
– Ai, ai, ai, doutor, não me bata.


– Não vou bater. – Ô Alcinão, dá-lhe um sapeca aiai nesse traficante safado e mentiroso. Olha só a conversa do malandro…
– Por favor, por favor, seu doutor delegado…
– Diz logo, seu corno. – Pra quem é que tu vendes essas porcarias.
– Eu pego com o Papacu lá do PHelp. E com o Cleoinsano da baixada Pará. Pronto. Falei. Não me bata doutor nem mande esse monstro aí me bater também de novo.
– Porra, Alcinão o artista aí te chamou de monstro… Se eu fosse tu não alisava.
– Ai, ai, ai, doutor não deixe ele me bater.
– Tá bom, mas tu vais me dizer que cartazes são esses. É propaganda pra vender drogas? Ou tu és cafetão de alguma putinha de menor?
– Não, seu delegado. Longe de mim ser isso.
– E como é que tu faturas, como ganhas teu l’argent?
– O que é esse tal de larjan, delegado.
– Não enrola, rapá. Olha o Alcinão só te abicorando com a palmatória. – Diz logo, porra!
– Eu escrevo os cartaz de papelão pros meus amigo desempregado que ficam pedindo nas esquina do centro da cidade. Cobro dez real. Pode ver, doutor, a caligrafia é a mesma…

O delegado coça a cabeça, respira fundo e fala:

– Ô Alcinão, libera esse artista filho da mãe. Cada um que me aparece…

Resenha do livro Guerra e paz – Por Bruno Muniz

No livro Guerra e paz, de Tolstói, que conta a história da invasão Napoleônica na Rússia, quando Napoleão invade o país e avança para Moscou, o então General Chefe do Exército russo, Kutuzov, ordena o abandono da cidade sob o olhar incrédulo dos outros membros do Exército. Ninguém conseguiu demover a ideia de Kutuzov. Moscou foi evacuada, o exército russo retrocedeu. O imperador Alexandre, possesso, aceitou contrariado essa retirada.

Ao chegar em Moscou, Napoleão ordenou que chamassem o prefeito da cidade para assinar a rendicão e ficou perplexo ao perceber que não havia ninguém para recebê-lo. O exército Francês, já cansado e faminto, se espalhou por Moscou invadindo e furtando tudo que podia. Napoleão percebendo que perderia a unidade de seu exército ordenou que punissem os franceses que não obedecessem suas ordens. Não adiantou. Com os soldados franceses em debandada, Napoleão não viu outra alternativa que não fosse partir em retirada antes que fosse surpreendido pelos russos.

No livro, Tolstói narra que ao saber que Napoleão saíra em retirada, Kutuzov chorou e agradeceu a Deus. Ordenou que seu exército não perseguisse os franceses pois ele não queria mais nenhum soldado russo morto. Vários membros do exército não aceitaram a ordem e alguns pelotões, de maneira desordenada, foram ao encalço dos franceses que fugiam desesperados. Muitas outras mortes aconteceram, a maioria do lado francês. Dizem que Napoleão quase foi pego, mas conseguiu escapar.

Este livro me marcou muito e quando vejo o presidente da Ucrânia proibindo a saída de homens entre 18 e 60 anos do país e os obrigando a morrer lutando contra um insano, percebo que faltou um estadista com a sabedoria de um Kutuzov para proteger os ucranianos. A própria população russa exigirá o fim da guerra quando o resultados das sanções impostas chegarem nas suas famílias. Espero.

Poesia de agora: RESPIRO – Pat Andrade

RESPIRO

quando preciso ser mais forte
é minha poesia que me dá suporte
quando minha voz se cala
é minha poesia que fala
quando me sinto triste
é minha poesia que subsiste
quando a angústia aumenta
é minha poesia que me sustenta

então não cale minha poesia
não encarcere minha rima
não sufoque minha lira
deixe que ela viva e grite
as dores do mundo
que chore e sofra o meu penar

é minha poesia que me faz respirar

PAT ANDRADE

1ª Virada Feminista do Coletivo Juremas

Nesta segunda-feira (7), acontece em Macapá, a 1ª Virada Feminista organizada pelo Coletivo Juremas.

O evento celebra o mês dedicado äs mulheres, em referência ao Dia Internacional da Mulher (8 de março) e busca evidenciar as lutas das mulheres por seus espaços na vida e na arte.

A programação conta com apresentações de música, poesia, exposição fotográfica, oficinas e debates sobre temas que envolvem conquistas e lutas das mulheres por justiça, paz e direitos, ao longo da história.

Serviço:

1ª Virada Feminista do Coletivo Juremas

Datas :

7 e 8 de março de 2022 (24 horas de evento – Início, 7 de março às 8h)

Locais :
– Escola estadual Mário Quirino da Silva – Rua Claudomiro de Moraes, 1268 – Novo Buritizal, Macapá – AP
– Bunker Desclassificáveis – AV.: Duque de Caxias, 1203 Santa Rita

Entrada livre

Contato:
(96) 98138-5712

Poema de agora: Carnaval da guerra – @julio_miragaia

Foto: Diego Ibarra Sanchez

Carnaval da guerra

O que é a guerra, senão
O carnaval de todas as tristezas,
O meio-dia do nada na mesa,
Um bombardeio de ansiedade e desespero?

O que é a guerra, senão
Alvorada quente e esfumaçante,
Acompanhada pelo peso da voz
Do inimigo esmagado pelo tanque?

Foto: Diego Ibarra Sanchez

O que é a guerra, senão
O antes e o agora cara a cara,
Em solitários açougues humanos,
Cidades inundadas de luto?

O que é a guerra, senão
A despedida como ordem cega
E a ressaca dos escombros sobre corpos
E a ressaca dos escombros sobre almas?

Foto: Diego Ibarra Sanchez

O que é a guerra, senão
O sorriso nos lábios do medo
E o futuro embriagado em febre
No olhar de uma criança estraçalhada?

Júlio Miragaia

Cantora Hanna Paulino gira a roda da vida. Feliz aniversário, querida amiga! – @hanna_paulino

Tenho alguns companheiros (brothers e brodas) com quem mantenho uma relação de amizade e respeito, mesmo a gente com pouco contato. É o caso da cantora Hanna Paulino, que gira a roda da vida neste vigésimo quinto dia de fevereiro e fico feliz pelo seu ano novo particular, pois ele é porreta demais!

Hanna Paulino é mãe da Lohanna, vocalista das bandas Drusa, Voxx Voyage, Hidrah e Vennecy. Uma artista diferenciada e uma estrela da música.

A moça é inteligente, muuuito gente boa, possui alto astral e bom humor invejável, além de bem resolvida. É, a Hanna emana positividade. Ela é uma mulher muito trabalhadora e talentosa. Uma moça jovem, mas muito responsável com seu trabalho e querida por seus amigos.

Com toda certeza, Hanna é a melhor cantora de Rock and Roll do Amapá. A menina é uma verdadeira estrela e tenho o prazer de ser seu amigo, além de fã. Além de cantora PHODA, ela é militante social, cultural, política (politizada do jeito certo) e uma mulher preta com representatividade linda de se ver.

Hanna, que teu novo ciclo seja ainda mais paid’égua. Que sigas com essa sabedoria e coragem. Que tudo que couber no teu conceito de sucesso se realize. Que a Força sempre esteja contigo. Saúde e sucesso sempre. Parabéns pelo teu dia, queridona. Feliz aniversário!

Elton Tavares