Crônicas e Poemas: escritor Carlos Nilson lança, hoje (17), livro “Antologia e iconografia poética” na Biblioteca Pública Elcy Lacerda

O professor, artista plástico, poeta, escritor e imortal membro da Academia Amapaense de Letras (AAL), Carlos Nilson Costa, lançará, HOJE (17), às 19h, na Biblioteca Pública Elcy Lacerda, o seu primeiro livro, intitulado “Antologia e iconografia poética”. A obra contém parte da produção literária do autor. São poemas, contos e crônicas que falam sobre sua vida, seus amores, sua família e as recordações da Macapá de sua juventude.

A data do lançamento, organizado pela família do escritor, será o dia que o autor completa 80 anos de idade.

Carlos Nilson em Veneza (ITA) – 2014 – Foto encontrada no blog da Alcinéa.

Sobre o autor

O professor Carlos Nilson Costa nasceu em Monte Alegre (PA), no dia 17 de novembro de 1941, mas chegou ao Amapá ainda muito jovem e aqui estudou, constituiu a família e realizou seus projetos profissionais e pessoais. Artista plástico, poeta, professor e um admirável ser humano, Carlos Nilson é formado em Matemática e tem especialização em Planejamento. Foi Secretário Municipal de Educação de Macapá, Secretário de Estado da Educação e integrante do Conselho Estadual de Educação, dentre outras atividades que exerceu no serviço público com grande destaque, pela sua competência e dedicação, o que o coloca entre os mais notáveis educadores do nosso Estado.

Na imprensa publicou trabalhos nos jornais “Amapá”, “A Voz católica”, “A Fronteira”, “O Liberal” e “Jornal do Dia” e apresentou programas de música erudita nas rádios Difusora e Educadora.

Participou da antologia “Coletânea Amapaense”, de 1989.

Escritores e imortais da AAL Alcinéa Cavalcante e Carlos Nilson Costa, em frente ao também imortal da Academia, Fernando Canto. Foto: Aloisio Menescal – 2017

Serviço:

Lançamento do livro “Antologia e iconografia poética”, de Carlos Nilson Costa
Data: 17 de novembro de 2021 – Sexta-feira.
Horário: 19h
Local: Biblioteca Elcy Lacerda, que fica na Rua São José, 1800, centro de Macapá.
Entrada: franca.
Mais informações: 96-99177 1910 – (Regina Costa).

Carlos Nilson com meu livro nas mãos. Agradeço a moral. Foto: Carlos Nilson Júnior.

*Carlos Nilson foi amigo de meu falecido pai e também do meu saudoso tio Ita. Ele é pai dos amigos Carlos, Cláudio, Verê e Tainá, além de marido da querida Regina. Nas minhas mais antigas lembranças, recordo do professor, poeta e educador sempre coerente, muitíssimo inteligente e gentil. A ele, meus parabéns pelo conjunto da obra e pelo lançamento do livro  (Elton Tavares).

Elton Tavares, com informações do escritor Paulo Tarso Barros.

Poema de agora: Fica no meu quarto – Carla Nobre

Teto da Capela Sistina, de Michelangelo

FICA NO MEU QUARTO

Amor, o mundo deve acabar hoje
Fica no meu quarto que é lugar seguro
As coisas funcionam assim
Há bilhões de anos
Milhares de estrelas nasceram
Isso não é mistério
É ciência, critério divino, big ben
Não sei ao certo
Mas ficaram espalhados planetas e constelações
Como se o céu fosse um enorme tapete arpoador
Tudo isso é perigoso lá no céu, amor
Vê que ainda hoje
Vênus e marte nascem todo fim de tarde
Numa luta estelar pela lua
Que ora sorri enorme
Ora fica miúda como se fosse chorar
E ora some, com medo de amar
O mundo acaba hoje e ainda não se deu conta
Do amor que a gente faz
Tenho medo que ele se aborreça
E te roube para a eternidade
Essa coisa de explosão do nosso amor
que o mundo nunca terá


Porque você só explode no meu colchão
Isso tudo vai deixar o céu mordido de inveja
Fica no meu quarto, amor da minha vida
Que eu te faço um suco de graviola
Te deixo dormir cedo
mesmo com aquele perfume barato do infraero II
amor, esse negócio de você ser de áries
com ascendente em câncer,
meio do céu em áries de novo e lua em peixes
não vai te impedir de morrer
fica no meu quarto que o mundo acaba hoje
nem tudo que a gente vê no céu é estrela, amor
a gente confunde sentimentos, confunde astros
confunde tudo, quando o coração se parte
fica no meu quarto como se o mundo fosse
apenas esse mau elemento de saturno
uma nebulosa perdida com mais de 4 graus
escuta amor, o mundo está acabando
e eu tenho talento para feitiços medievais
conheço tuas vidas passadas, teus vales abissais
as coisas funcionam assim, amor


o mundo acaba hoje e a gente divide um cigarro caseiro
nesse banzeiro de brigas e beijos
afinal, chegamos ao século XXI, amor
o mundo só quer mesmo descansar
e ser essa enorme imensidão para amar

Carla Nobre

Lançamento do livro “O Centauro e as Amazonas”, do escritor Fernando Canto acontece em Macapá

Foto: Divulgação

O Coletivo Juremas apresenta nesta terça-feira (16), o lançamento do 18º livro do escritor Fernando Canto, intitulado “O Centauro e as Amazonas”, o evento acontece no restaurante Norte das Águas, em Macapá.

A obra reúne uma série de contos ficcionais, cujas histórias, segundo o poeta Enzo Rubio (responsável pela apresentação do livro), resultam da condição imaginária do autor, advinda da vivência amazônica, repleta de irrealidades e paradoxos.

A poeta Carla Nobre, que desenvolve sua pesquisa de mestrado, tendo como base, a prosa de Fernando Canto, salienta a genialidade do autor que passeia por várias vertentes da literatura, “Fernando Canto traz em sua trajetória caminhos para ser inserido em uma tradição, seu trabalho dá voz às populações ribeirinhas e a uma Amazônia mítica e desigual, com história de conflitos e uma ocupação carregada de domínio e lutas, numa construção estética que traz conhecimento acerca da sua região e também condensa vivências e crendices míticas.”

Em “O Centauro e as Amazonas”, o autor se utiliza desse universo mítico e fantástico, para dar vida aos seus personagens, com histórias repletas de metáforas e signos que se fundem ou se confundem com essas “(i)realidades cotidianas” da Amazônia.

Escritor Fernando Canto – Foto: Márcia do Carmo

Fernando Canto é paraense, da cidade de Óbidos e mora em Macapá desde a infância. É escritor e compositor. Um dos fundadores do Grupo Pilão (tradicional grupo de música amapaense). Sociólogo por formação e doutor em sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Enquanto escritor e pesquisador, entre outras coisas, vê a literatura como uma das formas de registro memorial do meio em que vive.

O coletivo Juremas, responsável pela organização de lançamento, é um grupo que congrega música e poesia de mulheres e homens fazedores de cultura e antenados com o futuro, trabalhando temáticas especiais para o diálogo acerca da vida cotidiana, se utilizando da arte em todas as suas vertentes.

Artistas que se apresentarão no lançamento – Foto: Divulgação

A programação conta com a participação de artistas e amigos de Fernando Canto.

As apresentações musicais confirmadas são de Osmar Junior, Amadeu Cavalcante, Fineias Nelluty, Nani Rodrigues, Fernanda Canora, Wendel Cordeiro e Edu Gomes. Declamações e Performances Poéticas serão apresentadas por Coletivo Juremas, Kassia Modesto e Negra Aurea.

Serviço:

Lançamento do livro “O Centauro e as Amazonas” (Fernando Canto)
Data: 16.11.2021 – Terça-feira | Horário: 18h
Local: Restaurante Norte das Águas – Rua Beira Rio, 470/02 – Santa Inês – Macapá/AP
Realização: Coletivo Juremas
Contatos: (96)99179- 4950 | 98140-1689

Mary Paes
Assessoria de comunicação

Poema de agora: Consoantes – Luiz Jorge Ferreira

Consoantes

Fico alegre…feliz nunca mais…
Foram muitos amigos…
Criaturas criadoras a quem eu chamo de Pheras.
Eu olho os seus Quadros…
Eu canto as suas Músicas.
Eu declamo os seus Poemas.
Eu balanço a minha cabeça e meus olhos atônitos dançam um Tango.
Eu escuto o farfalhar do vento nas folhas de um Coqueiro…
E acho triste não ser chuva, coço os pés feitos para andar, que agora pouco saem do lugar, e estranham o futuro por ali abandonado, deixar o amanhã e vir ser apenas hoje.
Ali…onde a sombra dos tempos que passa pela sala, representa asas de mármore.

Estou atado aos dias que amarrei na memória.
As noites que aprisionei nos sonhos.
E o adeus que multipliquei em tantos…
Que agora vendo os amigos nos deixarem estranhamente apaticos a despedidas.
Esfrego em meus lábios punhados de urtigas…
Para inutilizar minha boca, e que ela não volte nunca a pronunciar a palavra…adeus !!!

Luiz Jorge Ferreira

*Osasco (SP) – 11.11.2021

Poesia de agora: “O sonho é o verbo, o pesadelo é a visão” – Poema porreta de Fernando Canto – @fernando__canto

O sonho é o verbo, o pesadelo é a visão

O sonho move/ o pesadelo retém
Palavras prendem/ o texto liberta
O sonho instiga/ o pesadelo ilumina
A voz se solta/ o eco expande

O sonho é o tempo/ o pesadelo o espaço
A palavra lavra/ o texto laça
O sonho enevoa/ o pesadelo escolhe
A palavra planta/ o texto colhe

Quando o pesadelo
É a brasa
E o sonho
É água
A palavra é sonho
E o texto pesadelo
Quando o texto
É o ralo

E a palavra
Corre
O pesadelo acorda
E o sonho morre

Fernando Canto

(*) Os versos deste texto podem ser lidos de trás para frente; cruzados nos substantivos e verbos; alternados; invertidos em direções diversas ou como o leitor quiser. Pode-se até fazer jogral com a plateia para que se criem novos versos, com novas palavras. O importante é ter sonhos, pesadelos, palavras e textos para que se crie uma filosofia sobre o tema (F.C).

Poesia de agora: SOBRE OS DIAS – Pat Andrade

SOBRE OS DIAS

há dias em que preciso traduzir-me
para mim mesma
mas não encontro
quem fale a minha língua

há dias em que o espelho não me vê
e não posso me olhar
de longe não me vejo
e de perto não me suporto

há dias em que o sol não me alcança
e não me aquece
e sou nublada e fria
como uma manhã de inverno

há dias em que me procuro em vão
devo estar perdida
em pensamentos náufragos
em ilhas de solidão

Pat Andrade

DESTEMPO – Conto porreta de Lulih Rojanski

Conto de Lulih Rojanski

Era a primeira vez em muitos anos que eu não via Florentino Ariza* sentado sob a acácia da praça, que eu não pensava em Florentino Ariza. A manhã havia parado de correr às oito horas, cristalizada em um tempo imóvel, no ar inerte, no súbito silêncio do trânsito e dos cachorros que suspenderam a travessia da faixa de pedestres para olhar em direção às nuvens, pressentindo a imobilidade do tempo. O mendigo errante, que naquele dia morava no canteiro, ouviu a tristeza das raízes das papoulas sob a terra há dois meses sem chuva. Uma menina que viera de longe para assistir ao sol dos trópicos, com sua pele morim e sua sombrinha floral, paralisou-se atenta ao céu, espremendo entre as pálpebras o azul juvenil das íris.

Pelo tempo que durou o destempo. Passaram-se minutos que podem ter sido horas, que podem ter sido dias, meses, qualquer medida oficial de tempo, quando a manhã voltou a correr. Mas os relógios nos pulsos, nos bolsos, nos painéis ofuscados pela claridade das oito horas marcavam ainda oito horas. Foi quando os cachorros prosseguiram a travessia, o mendigo moveu o silêncio em direção à menina de sombrinha floral, que por sua vez apressou o passo atrás das borboletas que sobrevoavam as papoulas. Somente Florentino Ariza não voltou a aparecer sob a acácia. Foi necessário o destempo para apagar minha lembrança de Florentino Ariza.

*Personagem de Gabriel García Márquez em “O amor nos tempos do cólera”
**Conto publicado no livro Gatos Pingados

Poesia de agora: Exórdio – Lara Utzig (@cantigadeninar)

Exórdio

a primeira vez que te vi
foi o Big Bang
o fogo, a roda
olhei os dinossauros em fila
e os mamutes com suas trombas
saudavam tua chegada

na primeira vez que sorriste
pangeia se fragmentou
pirâmides eu levantei
e em uma escrita ainda não inventada
já te fazia poemas de amor

na primeira vez que falaste comigo
caiu Constantinopla
Vesúvio eructou
Jesus chorou
[na cruz
e Da Vinci pintou

na primeira vez que me beijaste
estava na arquibancada
das Bacantes
aplaudi Shakespeare
e assisti Méliès
[com Le voyage dans la Lune

e quando me deixaste
fui à câmara de gás
à queda do muro de Berlim
servi no Vietnã
fui ser catequizada pelos jesuítas
colonizada em capitanias

então todas as minhas histórias
foram esquecidas, amada
na primeira vez que me vi
[enfim
não havia descoberto nada

Lara Utzig

Poesia de agora: Sobre o amor que eu quero – Pat Andrade

Sobre o amor que eu quero

cansei do amor não vivido
quero o amor declarado
explícito
chega do amor platônico
quero o amor da carne,
do espírito

nada de amor virtual
quero o amor ao vivo
em tempo real
nunca mais o amor que sofre
quero o amor que se alegra
sem igual

também não quero o amor calado
quero o amor que canta,
apaixonado

quero o amor insano,
o louco amor dos desesperados

o amor maior, você e eu,
de braços dados.

Pat Andrade

Os motivos de eu escrever – Crônica de Elton Tavares

Escrevo ao longo dos últimos 16 anos. Onze deles para o meu site, que já foi um blog, o De Rocha. Sempre tento me ater à verdade. Redigir textos onde dados e fatos me levam. Com exceção de sandices, devaneios e contos, que são escritos mágicos para mim. Pois ficção exercita a criatividade.

Um dia, há alguns anos, me perguntaram: “Elton, porque você perde tempo com esse papo de blog. Porque não faz algo útil com o tempo gasto nessa página de besteiras”. Neste instante, consegui evitar um surto psicótico e palavrões a esmo para o meu questionador.

Aí expliquei para o pateta porque escrevo. Escrevo porque amo a noite, futebol, samba, rock and roll, minha família, meus amigos e amo ser eu (com todos os defeitos e chatices), não necessariamente nesta ordem, claro. No meu caso, leituras alternativas tornam o dia menos tedioso. Principalmente quando tais escritos são sobre cultura em geral.

Gosto de usar um senso de humor cortante nos meus textos para este site, assim como muita nostalgia, sentimentalismo barato (que pra mim é caro), transformar relatos em memória da minha cidade, do meu estado. Vez ou outra, até fazer velhas piadas com novos idiotas, ser um tanto antipático, chato ou adorável encrenqueiro. E sempre amoroso com minhas pessoas do coração. Sim, gosto disso.

Certa vez, li a frase: “escrever não é desistir de falar, é empurrar o silêncio para fora”, do poeta Fabrício Carpinejar. É esse o papo mesmo; escrever é uma válvula de escape, vicia e extravasa.

Escrevo até sobre o que finjo que acredito. Sabe aquelas pequenas porções de ilusão e mentiras sinceras de que o Cazuza falou? Pois é. Às vezes, detritos do cotidiano, grandeza desprezada, coisas bobas que parecem socos na cara – é bem por aí.

Mas gosto muito mais de escrever sobre o amor, sobre atitudes legais, sobre manifestações públicas de afeto e sobre pessoas admiráveis. Falar ou escrever sobre positividade é tão melhor.

Antes redigia um texto ou mais por dia – e com muita facilidade. Agora, a falta de tempo e os períodos de entressafra de inspiração tornam os autorais mais raros. Quem dera fosse só querer e baixasse o espírito de Rui Barbosa, Charles Bukowski, Mário Quintana, Drummond ou do meu amigo Fernando Canto, e eu começasse a redigir como um gênio. Seria firmeza. Acreditem, um dia lançarei um livro de crônicas e contos.

Em tempo, escrevo para não deixar meus pensamentos parados. Queria poder escrever como Carlos Drummond de Andrade, que disse: “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.”

Como não dá, sigo rabiscando minhas certezas, achismos, incertezas, chatices, amor, entre outro tantão de coisas que vivem neste meu universo particular que gosto de expor aqui. E fim de papo.

Elton Tavares

*Crônica do meu livro “Crônicas De Rocha – Sobre bênçãos e canalhices diárias”, que  foi lançado em 2020.

**Republicada por motivos de ser, agora, um escritor premiado (gratidão por isso). 

Poesia de agora: DEUSAS DE MÁRMORE – Marven Junius Franklin

Imagem: Pinterest

DEUSAS DE MÁRMORE

no bar da esquina
a cerveja quente
imita meus versos mornos
— nada, nada mais à frente

(o tempo viaja, corre
feito o voo esdrúxulo
da challenger).

ah, as múltiplas formas me seduzem
— deusas de mármore
me iludem com hinos maviosos

(nada além
— tempo corre, viaja
pela cais de arrimo
de uma cidade de fronteira).

Marven Junius Franklin

Poesia de agora: Décimo Primeiro Mês – Lara Utzig (@cantigadeninar)

Décimo Primeiro Mês

Quanto tempo faz, que já nem lembro?
Quanto tempo falta para demorar?
Ando sem lenço nem documento,
Só um GPS para te encontrar.

Quanto tempo faz? Já foi novembro…
Quanto tempo falta para superar?
E eu decorei cada momento:
Uma pasta de imagens para recordar.

Mas o tempo está a me atropelar.
Quanta vida me resta gastar?

Quanto amor eu dei sem vencimento?
Qual lastro eu tinha para usar?
Acho que cheguei nos 100%
E o meu estoque já vai transbordar.

Quanto amor cabe dentro de um incenso?
Quem sabe, de repente, eu possa queimar.
Talvez ele vire pó, e lento,
Possa enfim, meu peito, sossegar.

Mas o amor está a me afogar.
Quanto ainda consigo respirar?

Pela ampulheta caem cinzas
Em vez de areia para me guiar.
Os ponteiros marcam horas findas
Em vez de uma chance de recomeçar.

Lara Utzig

Resenha porreta do livro “O Estrangeiro”, de Albert Camus – (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

O estrangeiro é um dos livros da trilogia do absurdo, de Albert Camus. A obra inspirou a música “killing an Arab”, da banda The Cure. O livro conta a estória de Mersault, um homem que vive completamente alheio á importância das coisas ao seu redor. O protagonista é indiferente a tudo, sendo que uma das palavras mais usadas por ele é ” tanto faz”.

No início do livro, Mersault, recebe a notícia do falecimento da mãe. E ele não sabe, sequer, precisar se a mãe morreu ontem ou hoje. Ficando claro o fato de que, pra ele, pouco importa quando o fato se deu, já que a morte é, irremediavelmente, o destino de todos .

Mersault não demonstra apego ou afeto por ninguém, mas ajuda um amigo, a fazer uma emboscada para uma mulher. Pra ele pouco importava se o ato era certo ou errado. O que me fez refletir se os danos causados pela maldade são equivalentes aos causados pela indiferença.

No enterro da mãe, Mersault, age com a sua costumeira mania de não se importar com a perda, aceitando, inclusive, um café que lhe foi oferecido e cochila durante o velório. Isso causa estranheza aos presentes. Mersault é o tipo de pessoa que vai ao cinema e assiste uma comédia no dia do enterro da mãe. Sim, ele faz isso.

Apesar de não demonstrar apego ou apreço por alguma coisa, fica evidente que ele gosta da vida que leva, pois não aceita uma promoção de trabalho que ocasionaria melhoras em seu orçamento, mas que, também implicaria em mudanças.

O ponto principal do livro é o assassinato cometido por ele. Mersault mata um árabe na praia. A vítima havia tido um desentendimento com um amigo de Mersault. O que pode levar a pensar que teria sido uma legítima defesa. Ocorre que, Mersault, desfere cinco tiros no Árabe, e o faz, com o corpo já imóvel. A única explicação dada por Mersault é que o dia estava muito quente. Durante o julgamento de Mersault, não é questionado como o crime foi praticado. Todo o questionamento se dá a cerca do comportamento de Mersault. Como alguém não chora no enterro da mãe?. Como pode, em sociedade, alguém ser tão indiferente ao que se classifica como “normal “?.

A conclusão de toda leitura, na minha opinião, é extremamente pessoal. Até mesmo porque esta obra não tem o compromisso de explicar muita coisa. Fica muito ao encargo do leitor entende-la. Foi um livro que me fez refletir sobre o julgamento de comportamentos, onde o sujeito tem que se adequar ao todo. Mersault é julgado pelo seu comportamento no enterro da mãe. Julgado não por ser um assassino, mas por ser diferente do que está estabelecido em sociedade. O “tanto faz ” de Mersault, que foi tão danoso aos olhos de todos no enterro, é usado pelas pessoas mediante ao assassinato que originou o próprio julgamento, já que o tema central do evento é o comportamento dele no enterro. Pois mais importante que o assassino era o cidadão que se negava a agir com um comportamento estabelecido socialmente. Teria sido absolvido se tivesse um comportamento usual?. Se tivesse feito uso de um choro hipócrita?. Temos Mersault julgado por ser diferente e não por ser um assassino.

É um livro curto, aproximadamente 120 páginas que não carregam firulas ou enfeites. É extremamente conciso,mas que traz uma reflexão enorme a cerca de vários questionamentos filosóficos.

Olhamos ao redor e julgamos pessoas e fatos sob a ótica comum, na perspectiva do que é aceito como normal ou anormal na esfera social. E muita coisa é mascarada e fica submersa no interior de cada um que reflete sobre a própria existência.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além de prima/irmã amada deste editor.

Poesia de agora: Loba – Kassia Modesto

Loba

No meio da noite um grito
Um uivo, um suspiro;
Na tela da parede pintada
É ela, doidivana indecente
Seduzente, Entorpecente;
A minha droga guia,
Meu claustro real,
Imperial no auge da minha loucura
A minha cura, incurável.

No meio da noite um grito
Um uivo, um suspiro;
Um decote aberto
Decerto esperto, eu tropeço,
Minha estrela prima, obra primeira,
Te pego faceira, menina dos meus olhos
Sentido de minha boca,
Ouvidos de minha pele;

No meio da noite um grito
Um uivo, um suspiro;

Meu mastro por ela erguido

Perdido em sentidos
Sentido em ti por inteira
Outorga do meu corpo, documento pele a pelo
Pedido de socorro, entregue recebido ao terceiro.
Peito, pele, pelo.

No meio da noite um grito
Um uivo, um suspiro;
Um porta retrato vazio
Seio latejante
Latente
Um beijo frio.
Minha doidivana prima sen(ti)da
No meio da noite, perdida.

Kassia Modesto