CORNUCÓPIA DE DESEJOS – Conto de Fernando Canto

Conto de Fernando Canto

Por querer expressar meu pensamento sobre as coisas em meu idioma, às vezes arrebato o próprio coração em sofridas angustiosidades e dissentimentos infaláveis. Por isso monologo no granito e lavo em água este contraste, esta antagonia de imprescindível falação que ponho em tua trompa de eustáquio para te martelar suavemente a dentro.

É o caso do amor ensolarado que sinto agora, neste mirífico momento. Um assunto ressoante, uma prosa-cornucópia (onde a abundância reina) a refratar-se sem a culpa do inexpressável parlar.

Não vejo como não ensopar-me de enluação neste conto de candura quase irrevelável, posto que o meu amor possa entender-me ou espumar-se para sempre para o inevitável espanto que a declaração enseja. Paresque um salto com vara numa olimpíada de abismos.

Assim eu declaro: a cobra norato, o boitatá e as luzes do fogo-fátuo se expiram na noite cadente. Oh, teus olhos não! Teus olhos ternuram a medida do dia, solfejam histórias e cantam paisagens inescrutáveis para os sonostortos dos mortais. Eu sou o arauto deste cenário-testamento a castigar retumbantemente o couro dos tambores; eu anuncio a sublime compreensão do “amooor” que ecoa em gargalhadas sobre as ondas do Amazonas, aqui na Beira-rio, sob um céu azul intensificado de lilás quando anoitece.

Eu declaro ainda: a pedra em sua bruta forma tem dentro de si os elementos primordiais que suprem tua sede de amar. Ora, Balance a pedra e sinta o gutigúti da sua oferenda. Lapide-a, pois ela provém da terra, e então perceberá o calor do fogo da paixão libertadora e o ar morno que movimentará o sangue pelas entranhas.

Num átimo, um áugure qualquer (que são muitos e banais) lerá tua sorte: dirá augúrios, claro. Um áuspice (que estão cada vez mais raros) dirá tua sina no raro voo dos louva-deuses. E te auspiciará de boas-novas e de valores inequívocos.

Ora, dizendo isso afirmo que sou aquele que nem sabe discursar suas dores, inda que saiba do futuro, pois habito o limiar do tempo. Eu sou a timidez em prosa e verso, aluno de poesia, mas prenhe de pecados, porque ingiro virtudes nos bares da noite e não sei segredar projetos inexequíveis. Não sei, juro pueril e ludicamente (mas com toda a sinceridade de uma parlenda) pela fé da mucura, torno a jurar pela fé do guará, torno a repetir pela fé do jabuti, que não sei mentir ao sabor do vento dos ventiladores que me sopram fumaça de charutos cubanos.

Descobri que sei de ti mais do sabes da pedra em teu caminho. Sou teu (adi)vinho incontestável, ad-mirador de tua trajetória. Por isso do alto da minha velada arrogância sei que tu também me amas.

Mas é de ti que quero o conteúdo dessa bilha onde Ianejar – aquele herói dos índios waiãpi – e seus pareceiros se abrigaram do fogo ardente e do dilúvio. É por ti que generalizo a farsa da criação sem pesadelos cosmogônicos. Eu me agonizo em mistérios. Eu eternizo o meu olhar nessa paixão. E me enleio como as borboletas que viajam ao paraíso pelo buraco sem-fundo do fim da terra.

Por isso eu sei que te amo.

Por isso vago ainda em fluidos imemoriais sempre presentes, antes do esquecimento das vitórias que juntos comemoramos.

Por isso a ternura há de ser o mais farto elemento da imensa cornucópia de desejos que realizamos juntos.

MEMÓRIA LITERÁRIA – ISNARD BRANDÃO LIMA FILHO – Por Paulo Tarso Barros

Por Paulo Tarso Barros

Recordamos o saudoso amigo Isnard Brandão Lima Filho, amazonense, nascido no dia 1º. de novembro de 1941 e que chegou a Macapá em 1949. Poeta, boêmio, advogado, místico, publicou Rosas para a Madrugada (poemas,1968) e Malabar Azul (crônicas, 1995). Faleceu no dia 11 de julho de 2002, deixando pronta uma coletânea poética intitulada Seiva da Energia Radiante, onde reuniu toda a sua produção poética a partir de 1966 e que este ano foi publicada pela Prefeitura de Macapá. Um livro de memórias ficou inacabado.

Literatura Amapaense: lançado, em E-Book, o livro “Pequenos Poemas – 50 poetas” – Por Pat Andrade

Por Pat Andrade

A literatura amapaense está em festa. A produção literária no estado tem crescido a olhos vistos. Cada vez mais autores têm publicado livros – físicos e digitais.

É no meio desta festa que nasce PEQUENOS POEMAS – 50 POETAS, uma publicação que reúne 50 autores, com poemas curtos de, no máximo, dez linhas cada.

O idealizador desta coletânea é o entusiasta da literatura e também escritor e poeta, Mauro Guilherme, que tomou para si a tarefa de reunir as obras e os respectivos poetas. O resultado dessa empreitada literária foi um livro com 250 poemas, em formato digital.

Pequenos poemas é um e-book – formato bastante difundido nestes tempos de pandemia – e já está disponível na Amazon (amazon.com.br), a maior plataforma de venda de livros do país.
Desde 2013, Mauro Guilherme vem desenvolvendo esse trabalho de organizar e publicar antologias de autores locais, uma iniciativa que contribui de maneira efetiva para a divulgação da produção literária amapaense.

*Pat Andrade está entre os 50 poetas da obra.

Resenha do livro “O Estrangeiro”, de Albert Camus – (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

O estrangeiro é um dos livros da trilogia do absurdo, de Albert Camus. A obra inspirou a música “killing an Arab”, da banda The Cure. O livro conta a estória de Mersault, um homem que vive completamente alheio á importância das coisas ao seu redor. O protagonista é indiferente a tudo, sendo que uma das palavras mais usadas por ele é ” tanto faz”.

No início do livro, Mersault, recebe a notícia do falecimento da mãe. E ele não sabe, sequer, precisar se a mãe morreu ontem ou hoje. Ficando claro o fato de que, pra ele, pouco importa quando o fato se deu, já que a morte é, irremediavelmente, o destino de todos .

Mersault não demonstra apego ou afeto por ninguém, mas ajuda um amigo, a fazer uma emboscada para uma mulher. Pra ele pouco importava se o ato era certo ou errado. O que me fez refletir se os danos causados pela maldade são equivalentes aos causados pela indiferença.

No enterro da mãe, Mersault, age com a sua costumeira mania de não se importar com a perda, aceitando, inclusive, um café que lhe foi oferecido e cochila durante o velório. Isso causa estranheza aos presentes. Mersault é o tipo de pessoa que vai ao cinema e assiste uma comédia no dia do enterro da mãe. Sim, ele faz isso.

Apesar de não demonstrar apego ou apreço por alguma coisa, fica evidente que ele gosta da vida que leva, pois não aceita uma promoção de trabalho que ocasionaria melhoras em seu orçamento, mas que, também implicaria em mudanças.

O ponto principal do livro é o assassinato cometido por ele. Mersault mata um árabe na praia. A vítima havia tido um desentendimento com um amigo de Mersault. O que pode levar a pensar que teria sido uma legítima defesa. Ocorre que, Mersault, desfere cinco tiros no Árabe, e o faz, com o corpo já imóvel. A única explicação dada por Mersault é que o dia estava muito quente. Durante o julgamento de Mersault, não é questionado como o crime foi praticado. Todo o questionamento se dá a cerca do comportamento de Mersault. Como alguém não chora no enterro da mãe?. Como pode, em sociedade, alguém ser tão indiferente ao que se classifica como “normal “?.

A conclusão de toda leitura,na minha opinião, é extremamente pessoal. Até mesmo porque esta obra não tem o compromisso de explicar muita coisa. Fica muito ao encargo do leitor entende-la. Foi um livro que me fez refletir sobre o julgamento de comportamentos, onde o sujeito tem que se adequar ao todo. Mersault é julgado pelo seu comportamento no enterro da mãe. Julgado não por ser um assassino, mas por ser diferente do que está estabelecido em sociedade. O “tanto faz ” de Mersault, que foi tão danoso aos olhos de todos no enterro, é usado pelas pessoas mediante ao assassinato que originou o próprio julgamento, já que o tema central do evento é o comportamento dele no enterro. Pois mais importante que o assassino era o cidadão que se negava a agir com um comportamento estabelecido socialmente. Teria sido absolvido se tivesse um comportamento usual?. Se tivesse feito uso de um choro hipócrita?. Temos Mersault julgado por ser diferente e não por ser um assassino.

É um livro curto, aproximadamente 120 páginas que não carregam firulas ou enfeites. É extremamente conciso,mas que traz uma reflexão enorme a cerca de vários questionamentos filosóficos.

Olhamos ao redor e julgamos pessoas e fatos sob a ótica comum, na perspectiva do que é aceito como normal ou anormal na esfera social. E muita coisa é mascarada e fica submersa no interior de cada um que reflete sobre a própria existência.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de Literatura e devoradora compulsiva de livros.

Literatura e música: Afrologia Tucuju terá participação especial no aniversário do Bioparque da Amazônia

A Afrologia Tucuju é um movimento literário de Macapá. O grupo participará do aniversário de um ano do Bioparque da Amazônia, neste sábado e domingo, com uma programação especial que envolve feira e Sarau Literário, além de música. A Feira Literária consiste na realização de um Corredor Literário, que vai expor e vender livros durante a programação festiva.

“Teremos também lançamento de livro e o sarau, que trará muita poesia, contação de histórias e músicas autorais do Grupo Kazumba Akelê, da Afrologia Tucuju”, adianta a poetisa Maria Áurea dos Santos, que coordena a programação do movimento, juntamente com Graça Sena.

Nega Áurea, como é conhecida e gosta de ser chamada, diz que a participação no aniversário do Bioparque é importante para o movimento mostrar ao público o potencial que a literatura tem no Amapá. “Já está sendo prazeroso poder participar desse evento, pois o parque faz parte da nossa cultura. A Afrologia está muito feliz”, garante.

No sábado, pela manhã, terá a participação das professoras e poetisas Iguaracema Lima Maciel e Leacide Batista Moura. Além disso, haverá a apresentação do grupo musical Kazumba Akelê. À tarde, acontecerá o Sarau Literário com declamação de poesias, com “As pupilas poetisas da professora Daucimary”, que farão referência ao primeiro aniversário do Bioparque da Amazônia.

A poetisa Patrícia Andrade e os Mcs Yanna e Super Chock também participarão do sarau. Em seguida, acontecerá o show do grupo musical Kazumba Akelê, cantando as raízes da nossa terra.

No domingo, pela manhã, a programação segue com a exposição e comercialização de várias obras literárias, declamações de poesias e muita música. À tarde, terá o lançamento do livro “A abelha e o vagalume”, do escritor amapaense Alex Sandro Silva de Oliveira. Em seguida, a poesia de Annie de Carvalho.

A programação continua com um lindo sarau, que trará contação de histórias do grupo “O Curupira”. Também haverá uma performance de Diennyfer Reis, a “Pérola Negra”, candidata do distrito de Mazagão Velho, Diennyfer Reis ao concurso “A Mais Bela Negra do Amapá”, seguida de muita música do grupo Kazumba Akelê.

“A gente tem uma surpresinha para o público. Uma música do nosso grupo Kazumba Akelê específica para o mestre Sacaca, o grande homenageado pelo Bioparque. Vai ser show”, adianta Nega Áurea.

Secretaria de Comunicação de Macapá
Volnei Oliveira
Assessor de comunicação

Mais um dia: Ronaldo Rodrigues se sentindo um pouco Charles Bukowski

Ronaldo Rodrigues & Charles Bukowski

Mais um dia. Acordo com uma puta vontade de mandar tudo à merda. Vontade de abrir a janela e mandar todo mundo se foder. Mas é muito esforço para minha combalida figura. E a humanidade, decididamente, não vale a pena. A humanidade vai continuar aí, venerando dinheiro, trabalhando duro para meia dúzia de filhos da puta. A humanidade vai continuar fedendo pelo longo dos anos. Até acabar a merda da areia da ampulheta. Foi assim por todos esses malditos anos. Será assim pelo terceiro milênio afora. Duvido que haja um quarto milênio para a humanidade purgar.

Mais uma cerveja na companhia desses idiotas que infestam a festa nefasta deste bar. Um bar cheirando a mijo. Mas é preciso ser social (leia-se hipócrita) de vez em quando. Tanto faz morrer de tédio em casa ou na mesa do bar. Posso até fingir que assisto a uma decadente sessão de cinema.

Poesia para todos! Pérolas aos porcos! Os especialistas de coisa nenhuma estão pontificando. É impressionante. Eles conseguem me provar que não basta saber coisas interessantes para se tornar alguém interessante. Todos têm algo a dizer, muito a dizer. Só que suas palavras rebuscadas e, geralmente, equivocadas não têm nada a dizer. Antes que tudo isso me enlouqueça, aperto o gatilho na minha testa e descubro que o outro lado da vida é do mesmo jeito que este. Então era isso? A condenação já tinha começado? Droga!

*Bebedeiras fazem parte da vida de um escritor. Tá, tudo bem! Nem de todo escritor. Eu, que me sinto escritor (às vezes) e beberrão (sempre), curto a embriaguez de ser um escritor beberrão. Muitos sabem que gosto de me sentir Charles Bukowski. Quer dizer: poucos sabem e quase ninguém se importa, mas sempre que leio Bukowski recebo a entidade Bukowski e as únicas coisas que me interessam nesses momentos são uma garrafa de cerveja ou vinho barato, um cigarro mais barato ainda e uma puta bem puta mesmo.

Ronaldo Rodrigues

Antologia “61 Cronistas do Amapá” é lançada em e-book e está disponível para aquisição na internet

A antologia “61 Cronistas do Amapá”, lançada no último dia 14 de outubro, é um livro que reúne seis dezenas (mais um) de escritores de origem (ou coração) desta terra, no meio do mundo. Cada autor com duas crônicas cada. A obra está em formato e-book, disponível para aquisição na internet, no site da Amazon, pelo valor simbólico de R$ 10,00. O livro, com obra de arte de Ronaldo Picanço na capa, reúne 122 crônicas com temas diversos, como regionalismo, realismo fantástico ou relatos de experiências vividas ou fantasiadas.

O e-book “61 Cronistas do Amapá” pode ser adquirido no site da Amazon Livraria Virtual, na plataforma eBooks Kindle: https://www.amazon.com.br/dp/B08L5XSXX4/ref=cm_sw_r_wa_apa_8hNHFbWHVFPAA

A coletânea, idealizada e organizada pelo escritor Mauro Guilherme, conta com renomados autores da literatura amapaense. Além do meu livro, o “Crônicas de Rocha – Sobre Bençãos e Canalhices Diárias”, faço parte, agora, de duas antologias, a lançada essa semana e a “Cronistas na Linha do Equador”, ambas organizadas pelo escritor Mauro Guilherme. Agradeço pela oportunidade!

No prefácio de antologia “61 Crônicas do Amapá”, Mauro Guilherme discorre sobre a obra:

Decidimos mais uma vez convidar escritores amapaenses, a fim de que juntos pudéssemos compor uma nova antologia. Não entendo literatura sem livro, escritor sem obra, nem formação literária sem leitura. Precisamos, nós escritores, publicarmos, caso contrário o livro, que morria na gaveta, morrerá nos computadores.

O nosso empenho, e os de alguns outros que militam na literatura amapaense, tem sido este. Por isso novamente aqui estamos reunidos aos nossos pares, agora em uma antologia de crônicas.

A Crônica no Brasil ganhou alto voos, desde de que José de Alencar e Machado de Assis incursionaram por ela ainda no século XIX, passando por João do Rio no começo do Século XX, fazendo escola com Rubem Braga, o mais festejado dos cronistas pela crítica, passando por Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campo, até chegar em um Luiz Fernando Veríssimo, o mais festejado cronista pelo leitor.

É muito difícil conceituar uma crônica, pois por vezes ela se aproxima da poesia, como no caso de Rubem Braga, e outras vezes se aproxima do conto, como no caso de Luiz Fernando Veríssimo, a ponto de Massaud Moisés, em seu livro A Criação Literária, dizer que em alguns livros de crônicas, como Legião Estrangeira, de Clarice Lispector, e O Homem Nu e A Companheira de Viagem, de Fernando Sabino, conterem também contos.

O que podemos dizer é que nascida e criada nos jornais, a crônica cresceu nos livros, transformando-se em um gênero de alto quilate na literatura brasileira, como mostra a antologia As Cem Melhores Crônicas Brasileiras.

Aqui somos 61 cronistas, escrevendo 122 crônicas. Dentre eles alguns já possuem as suas crônicas registradas em livro, outros nas redes sociais, nos blogs e sites. Temos também a presença de crônicas de quatro escritores que já partiram para o além. Eles já foram, mas não podemos esquecer o seu contributo para a literatura amapaense.

Não posso deixar de registrar, por fim, a ajuda que me foi dada por vários autores, no sentido de que pudéssemos reunir uma gama tão grande de escritores em um mesmo livro, agradecendo-lhes o esforço na concretização da obra“.

Meus parabéns

Parabenizo todos os autores que fazem parte da antologia. Em especial ao Mauro Guilherme, pela organização e empenho na divulgação da cultura e da literatura amapaense.

Valorize a literatura local e adquira o livro “61 Cronistas do Amapá”, pois é um grande encontro de escritores em suas mais diversas narrativas sobre suas histórias de vivências paid’éguas ou escritos fictícios porretas, o que faz da obra uma preciosidade da arte literária tucuju. É isso!

Elton Tavares

Sinto falta! (crônica de Elton Tavares)

Arte: Hellen Cortezolli (sinto falta também de ter esse rosto da foto)

Quem me lê, sabe: sou um incorrigível nostálgico.

Pior (ou melhor, depende do ponto de vista), quando começo a devanear sobre as coisas que me fazem falta, saudades de pessoas, situações e épocas, aí a “emoção se conecta ao pensamento e ao sentimento” (como diria Vinicius de Moraes). É quando discorro sobre grandes e pequenas carências do cotidiano.

Sinto falta do meu pai, a maior falta da minha vida. Do meu irmão que mora em Belém (PA), que me brinda de tempos em tempos com sua presença. Sinto falta de conviver com minha sobrinha linda, de apenas seis anos de vida.

Sinto falta dos velhos amigos, os que me distanciei por conta de pedras em minhas mãos e dos que não tenho contato hoje em dia por conta dos afazeres da vida.

Sinto falta do cotidiano frenético de redações, da velha equipe de trabalho (briguenta e foda nas coberturas de pauta). Sinto falta de poder comer porcaria sem receio de ficar maior do que estou. Sinto falta dos tempos que bebia muito e não tinha ressaca. Sinto falta dos meus velhos vinis, fitas cassetes e CD’s de Rock, pois agora só tenho arquivos em MP3.

Sinto falta de tremer ao entregar um boletim de notas escolares, de chegar na casa da minha avó e sempre ter algo guardado com muito carinho para eu comer. Sinto falta de promover festas de rock e de viajar com frequência.

Sinto falta do tempo que era mais bonito (ou menos feio), mais ingênuo, mais empolgado, menos duro, desconfiado e cético em relação ao mundo (e quase todos que nele vivem).

Sinto falta de passar horas jogando videogame e falando merda. Também sinto falta de uma boa briga. Sim, sinto saudade da infância, da adolescência e dos 20 e poucos anos.

Sinto falta da velha rapaziada, do mau comportamento e das más companhias (risos). Sinto falta de escrever algo realmente bom, pois a correria tira totalmente a minha inspiração. Sinto falta do passado, não todo, somente da parte feliz e de tudo que ficou lá.

Sinto falta mesmo é de não ter ficado mais tempo com ela. Essas ausências e saudades me fazem muita falta. E como fazem!

Disse uma vez o sábio Drummond:  “Sentimos saudade de certos momentos da nossa vida e de certos momentos de pessoas que passaram por ela”. É isso!

Elton Tavares

Resenha do livro “O Diário de Nisha – Veera Hiranandani (por Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

Antes de falar sobre o livro, é importante contextualizar rapidamente sobre a Partição da Índia, que era um protetorado da Inglaterra. Em 1947, os britânicos, ocupados em focar em sua própria reconstrução no pós-guerra, acordaram a divisão do Raj britânico em dois países, Índia e Paquistão. A Índia, de maioria Hindu, enquanto o Paquistão era majoritariamente muçulmano. A partição fez as populações dos dois países migrarem para o país que, em sua maioria, professava a sua fé. Este deslocamento foi desastroso, ocasionando mortes, estupros e crimes dos mais diversos. Várias pessoas deixaram seus lares e todos os seus bens pra trás a fim de sobreviverem a uma atmosfera tomada pela intolerância religiosa.

O evento histórico é narrado no livro sob a ótica de uma menina de 12 anos, Nisha. Ela conta os acontecimentos a sua falecida mãe através das páginas de um diário.

Apesar da história trágica de um povo, o livro carrega uma beleza que, para mim, é até difícil sintetizar. O pai de Nisha é um médico rigoroso que tem uma relação difícil com Amil, o irmão de Nisha. Essa relação se transforma quando o pai se depara com a perda iminente. Apesar de todos os miseráveis dias que aquela família passa durante sua migração, o leitor percebe a cada dia os laços se solidificando, o que me faz pensar o quanto a desgraça compartilhada une pessoas.

Dadi, avó paterna de Nisha, incomodava a protagonista com alguns de seus hábitos. Incômodo este que some com o tempo, através de situações que tornam aquela misofonia menos importante, dando relevância ao que realmente é relevante na vida.

Nisha, que vivia em família Hindu, mas que tinha mãe muçulmana, questiona em sua inocência de menina, os motivos para que haja ódio entre Hindus, Sikhs e muçulmanos. Pois existe Kazi, um cozinheiro muçulmano que trabalha na casa de Nisha e que faz parte de sua família.

Kazi desperta em Nisha o amor pela culinária, fazendo os momentos na cozinha serem as horas em que a menina encontrava a paz.

É um livro lindíssimo, mas com passagens terríveis; apesar da própria protagonista, em alguns momentos, não perceber a gravidade do que está vivenciando, sente-se nesta leitura todo o terror da migração no caminho e dentro dos trens. A alegria por coisas comuns em nossos cotidianos, mas que são preciosidades para outros, ainda mais em tempos de guerra. A ansiedade e a tristeza, que alguns leitores, assim como eu, compartilham enxergando através dos olhos de uma criança. Graças à Jesus, Maomé, Trimúrti ou Guru Nanak, eu sigo tentando acreditar que a bondade ainda é inerente ao ser humano.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de Literatura e devoradora compulsiva de livros.

Poeta representa o estado do Amapá em Festival reconhecido pela Unesco

Foto: Uirandê Gomes

Dois Córregos, cidade do interior de São Paulo, conhecida como a terra da poesia, já prepara a próxima edição de seu Festival de Poesia. Com o tema “Poesia a arte do encontro”, o evento, que acontece no dia 16 de outubro, pretende trazer mais leveza em meio à pandemia do Covid-19. A webinar reunirá artistas locais e de outras regiões do Brasil para saborear a diversidade poética, estimular o encontro com as rimas e permitir que os cidadãos gorjeiem suas criações.

O poeta que representará o Estado do Amapá durante o Festival é reconhecido como um dos mais importantes poetas-letristas do atual cenário litero/musical brasileiro. Joãozinho já conta com mais de mil canções e cerca de cinco livros em sua produção poética/musical.

Durante o Festival, o município leva para as ruas da cidade, literalmente, as criações de artistas já reconhecidos por sua obra e as da própria população. Em sua 13ª edição, pela primeira vez o Festival reunirá renomados artistas dos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal, que participarão do evento por meio de webinares. Ao final do Festival, as poesias serão reunidas para posterior lançado de um livro.

“Acredito que a poesia é um caminho para o resgate dos sonhos, da ternura e da esperança. E que é o caminho para a transformação humana, ao expressar o afeto, a generosidade e a paz”, afirma José Eduardo Mendes Camargo, idealizador e fundador da ONG Usina de Sonhos, responsável pelo Festival e por outras iniciativas ligadas à produção literária com foco em poesia em Dois Córregos.

O evento é aberto e para participar é só acessar as redes: Instagram: @instituto_usina_de_sonhos, Youtube: Instituto Usina de Sonhos e Facebook: Usina de Sonhos.

Sobre a Usina de Sonhos

Fundada em 1995, e idealizada pelo empresário e poeta José Eduardo Mendes Camargo, a Usina de Sonhos visa obter uma transformação positiva do ser humano por meio do desenvolvimento da criança e da comunidade através das mais variadas formas de linguagem, em especial a poética. Desta forma, estimula e contribui para o surgimento de novos talentos, para o despertar do interesse pela leitura, para o desenvolvimento do pensamento crítico e de produções e manifestações culturais.

O projeto, que foi reconhecido pela UNESCO, órgão das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Cultura, está presente em escolas públicas e particulares de Dois Córregos, por meio da adesão a concursos de poesias; nas indústrias, onde funcionários são estimulados a produzir poesias e participar de concursos culturais; na penitenciária feminina, contribuindo com a auto-estima e a solução de conflitos entre as mulheres encarceradas.

A Usina de Sonhos também promove o Festival Internacional de Poesia, realizado anualmente entre os meses de junho e julho no município de Dois Córregos (SP), com o apoio e patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.

Fonte: Diário do Amapá

Minha vida sempre foi um mar de rosas – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Minha vida sempre foi um mar de rosas. Plantado no sertão de minhas noites. Fincado no coração de meus dias. Um mar de rosas que me afoga em suas mulheres. Desertos que atravesso e esqueço após o sono. Só para continuar um outro sonho, quando acordo.

Minha vida um mar de rosas. Rochas róseas, ígneas, indecifráveis. Perdido na infância doce dolorosa. Na tranquilidade das tormentas. Rasgando os versos que como com o pão matinal. Sorvendo a brisa que vem do mar de rosas que minha vida me deu de mão beijada e ainda me cobra o devido crédito.

Contando com o tempo que ainda tenho para melhor viver esse mar de rosas, que chega até a janela da casa que não possuo, no sítio que não habito, no tempo em que não me encontro, e bate e não obtém resposta.

Minha vida um mar de rosas pétreas, um mar de rosas revoltosas revoltadas devotadas, ainda não derrotadas, ainda não ceifadas, mas seladas com o timbre da morte que um dia/uma noite virá transformar esse mar de rosas em tempo nenhum. Minhas cinzas num cofre, meus olhos num horizonte de labirintos, minhas certezas e dúvidas passeando de mãos dadas num jardim completo de chegadas e repleto de despedidas. Minhas pegadas na areia que o vento leva para o espaço tempo talvez quando agora já onde porque como quando sei lá.

Amigos organizam noite de autógrafos do livro “Crônicas De Rocha” na Banca Rios Beer Cervejaria

Para quem não pôde participar do lançamento do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, terá uma nova oportunidade de estar com o autor, jornalista e escritor Elton Tavares, na próxima quarta-feira, dia 14, na noite de autógrafos que um grupo de amigos está organizando, a partir das 19h, na Banca Rios Beer Cervejaria. O músico Patrick Oliveira, da banda stereovitrola, fará participação especial no evento.

A ideia é criar um ambiente agradável para que os interessados em adquirir o livro possam pegar o autógrafo e trocar ideias com autor, tudo de acordo com os protocolos de segurança para prevenção da Covid-19. A cervejaria possui área externa bem apropriada para um bate-papo molhado, com cervejas artesanais produzidas pelo proprietário Igor Maneschy, ao som de uma boa música, enquanto aguardam a vez de ter em mãos a obra recém lançada.

Sobre o livro

“Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias” é um compilado das vivências do autor e de experiências próprias ou de terceiros que há mais de uma década alimentam o site “De Rocha”, que nomeia o livro. As crônicas falam de tudo, trazem muito das tradições nortistas, peculiaridades da cultura e literatura amapaense, absorvida e canalizada para o contexto regional e pessoal do jornalista, com seu jeito muito peculiar de contar a nossa história ou relatar uma situação pessoal inusitada.

Elton Tavares conta que o projeto foi idealizado pelo jornalista Tagaha Luz (em memória), que já partiu para as estrelas, e prefaciado pelo escritor e seu amigo pessoal, Fernando Canto, com ilustrações do cartunista Ronaldo Rony e diagramação do designer Adauto Brito. A obra foi impressa com o apoio do senador Randolfe Rodrigues, revisada pela jornalista Marcelle Nunes, com apoio técnico da bibliotecária Leididaina Silva e da jornalista Gilvana Santos.

É leitura fácil, agradável e que logo faz com que o leitor se identifique com algumas das narrativas contidas no livro. Quem já leu garante que não é fácil parar. Então, não perca essa oportunidade de comprar e se deliciar com uma produção feita com muito carinho e de pura emoção do “Godão”, como carinhosamente é chamado o autor.

A Banca Rios Beer fica localizada na Av. Mendonça Furtado, 1773, no bairro Santa Rita, entre as Ruas Professor Tostes e Manuel Eudóxio.

Sobre a Banca Rios Beer

A Banca Rios Beer é a melhor cervejaria de Macapá. Lá você encontra rótulos como Weiss’s, IPA’s, Pilsen’s, Stout’s, Porter’s, Witbier’s, entre tantos outros disponíveis na carta diversificada da loja. Mas não para por aí: além dos melhores chopps de variados estilos (Tropical Stout, West coast IpA, English bitter, session IPA maracujá e mel, American Pale Pale, blond Ale e a incomparável sour taperebá – carinhosamente apelidada pelos fãs de “taperebrew”) – e mais de 50 rótulos de cervejas nacionais e importadas, a Banca também conta com kits que são ótimas opções para presentear quem se gosta.

Serviço:

Noite de autógrafos do livro “Crônicas De Rocha”, de Elton Tavares.
Atração musical: Patrick Oliveira (da banda stereovitrola).
Local: Banca Rios Beer fica localizada na Av. Mendonça Furtado, 1773, no bairro Santa Rita, entre as Ruas Professor Tostes e Manuel Eudóxio.
Hora: a partir das 19h.
Data: 14 de outubro de 2020 (quarta-feira).

Texto: Gilvana Santos.
Arte: Beatriz Santana.

 

 

 

O poema e a prosa – Crônica de Lulih Rojanski

Crônica de Lulih Rojanski

É muito mais fácil ler um poema do que ler uma crônica. O poema já vem com o apelo visual das poucas palavras, basta colocar os dois lado a lado para que o leitor preguiçoso não tenha dúvidas e escolha rapidamente o poema. O mesmo acontece com o conto: tem enredo, narrador, personagens, tempo e espaço, é muita coisa para quem não compreende a verdadeira magia da literatura. As poucas palavras do poema têm a vantagem do efeito concentrado, em menos de um minuto o leitor pode degustar uma peça de raro prazer. Aí está uma das mais importantes funções da literatura, a fruição, o prazer, o gozo. O poema, quando é bem escrito, ou seja, quando realmente tem poesia, proporciona a fruição imediata. É como colocar um doce sobre a língua úmida. O prazer da prosa é mais lento, vai surgindo na medida em que se vai tomando ciência dos acontecimentos, em que ela vai envolvendo a curiosidade, a afetuosidade, a capacidade de raciocínio e a intuição do leitor. É como comer o mesmo doce em pequenos pedaços.

Confesso que não sei escrever poemas. Escrevo breves versinhos para saciar o gosto dos seguidores de minha fanpage que apreciam as frases existencialistas, espiritualistas. Talvez um dia consiga escrever frases como as do célebre Rubem Alves, um dos maiores cronistas que o Brasil já teve, ganhador do Jabuti com seus livros de crônicas e que jamais se importou de ser conhecido como um frasista. Suas frases se encaixam na categoria espiritualista.

Voltando, não sei escrever belos poemas, mas sei escrever belos contos e crônicas, em linguagem de que jamais abrirei mão, aquela que se utiliza de recursos emocionais, de humor e outros ingredientes que proporcionam prazer, pois me recuso à linguagem seca dos autores que surgem aos punhados nas plataformas digitais e até mesmo nas prateleiras das modernas livrarias, como se fossem tudo o que a literatura tem a dizer nos tempos atuais. “Vão todos para o caralho” diria qualquer personagem de García Márquez, com toda a razão. Mas com tanta coisa que vêm sendo produzida, talvez consigamos resgatar a literatura capaz de proporcionar o verdadeiro encantamento, aquela cuja prosa nasceu no mesmo ventre da poesia e andam as duas se confundindo pelas páginas, inundando a alma e transbordando os olhos dos leitores como um rio que flui às vezes silencioso e manso, às vezes intempestivo.

Não acredito, porém, no valor maior de um gênero sobre o outro. Literatura é literatura. Apenas gostaria que o leitor tivesse, para ler um conto, a mesma disposição que tem para ler um poema. Tenho uma tendência clara a gostar mais da prosa porque só sei escrever em prosa, mas não é por isso que me daria à indelicadeza de desmerecer a poesia. Assim como um poeta não tem o direito de dizer que conto não é literatura. Porque se este poeta estiver certo, a gente precisa imediatamente avisar os vivos e os mortos: Edgar Alan Poe, Franz Kafka, Charles Dickens, Guy de Maupassant, Tolstói, Voltaire, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, Moacyr Scliar, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, etc.

Desconfortáveis encontros casuais – *Texto republicado, pois sempre rola algo assim.

A arte de Ronaldo Rony

Encontro um velho conhecido.

Ele: “cara, você tá muito gordo!”. Eu, (em pensamento, digo eu sei caralho, vai tomar no cu!): Ah, cara, sabe comé, sem exercícios físicos, sem tempo pra muita coisa, muita cerveja e porcarias gordurosas (que amo).

Sem nenhum assunto, fico em silêncio.

Ele: virei médico e você?

Eu: sou jornalista.

Ele: ah, legal (com um ar de desdém que vi ao encontrar outros velhos conhecidos advogados, administradores, contadores, ou alguma outra profissão mais rentável).

Aí um de nós subitamente diz que está atrasado e marca uma gelada qualquer dia com nossas respectivas esposas ou namoradas e vamos embora. Com certeza, passaremos mais 10 anos sem nos falarmos, graças a Deus.

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas de Rocha – Sobre bençãos e canalhices diárias”, de minha autoria.