Meus passos de novo… Não mais Cidade Velha. Não mais Bengui. Não mais Bar do Parque. Não mais Feira do Açaí. Mesmo assim, Do velho cartão postal, Belém acena e me sorri.
entristeci no fim do dia… mas brindei tantas vezes com a noite que ganhei a alegria que precisava pra bailar com a madrugada. me enchi de desejo, fiz amor com o amanhecer e sonhei arco-íris a tarde inteira, à espera de outra noite pra me cortejar…
Nos tempos atuais, lançar um livro, abrir uma exposição, montar uma peça, fazer um filme e realizar tantas outras manifestações artísticas é uma vitória do nosso espírito revolucionário, de resistência ao mundo de trevas que estão tentando instalar.
Pat Andrade lança hoje seu livro “O avesso do verso – Poemas de mim“. Fui convidado para escrever o prefácio e, me sentindo extremamente honrado, fiz o possível para estar à altura da obra. Vamos a ele e, logo mais, compareçam ao lançamento para celebrar com a poeta e seus muitos admiradores a força e a suavidade de sua poesia.
PREFÁCIO
O estilo é estilete algumas vezes e, outras vezes, pluma. Ronaldo Rodrigues – Escritor
Estender palavras no varal da página em branco: desafio e resignação. Sabe lá a que sortilégio os poetas estão sujeitos. Talvez apenas a vontade de dizer algo, algo que não quer e não pode calar. A palavra pode se diluir no tráfego intenso das cidades humanas, mas, de repente, pode muito bem se esgueirar pela parede do labirinto e ganhar a liberdade. E resgatar um olhar em direção ao nascer do sol para emoldurá-lo, arrebatá-lo ou invertê-lo, trazendo novos significados ou reafirmando seu revolucionário encanto.
Pat Andrade não abriu mão de se aventurar pela escorregadia e íngreme selva das palavras. Nem se omitiu ao contato da tempestade para trazer de lá a aurora. Nas palavras da poeta, o cotidiano se reveste de dimensões épicas, feitas de retalhos de gestos prosaicos e olhares sutis.
Com o radar fincado no presente, sua poesia olha para o passado vivo e traz de lá o futuro. Quando lança seus livros alternativos, rebeldes, outsiders, dá as mãos à poesia marginal dos anos 1970 (a geração mimeógrafo) e desenvolve um diálogo com as estrelas do infinito, envolvida em engajamento, deleite, relaxamento e compromisso. Ah, sim! Sem esquecer a ironia e a suavidade.
Tudo o que cabe no coração, na mente e no espaço sideral de uma lauda vem à tona e se (re)afirma inquieto, corajoso, urgente e necessário. Os seres que poesificam a vida pedem passagem, com o verso diverso, controverso e divertido de Pat Andrade nos conduzindo. Brindemos! Mais uma taça de ambrosia, no templo deste tempo. Taça de curare e cura, onde a gente se embriaga e transborda.
Fiquem com a poeta, aceitem o convite. O Avesso do Verso – Poemas de mim. Pra vocês.
Nesta quarta-feira (22), a partir das 17h, será lançado o livro “O avesso do verso, poemas de mim” em uma livraria de Macapá. A publicação, de autoria da escritora Pat Andrade, reúne poemas diversos, que falam de amor, arte, sociedade e cotidiano.
Sobre o livro
O livro traz poemas cuidadosamente selecionados para contemplar o subtítulo “poemas de mim”. Calmarias e tempestades permeiam suas páginas. Amores e desencantos se apresentam de maneira intimista. Alegrias, tristezas e resiliência se desenham entre os versos. É fácil identificar-se com a poesia nele contida.
A poeta arriscou-se um pouco mais e ilustrou alguns de seus poemas, colocando no traço a mesma delicadeza de sua pena.
O escritor, cartunista e publicitário Ronaldo Rodrigues fez o prefácio. A OCA Produções é a agência responsável pelo projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc.
O avesso do verso vem pra festejar e brindar a vida da escritora na poesia.
Sobre a autora
Pat Andrade é uma escritora / artista plástica / produtora cultural da Amazônia, que vive em Macapá, no Meio do Mundo.
Há pelo menos 14 anos, divulga seus poemas em livrinhos que ela mesma produz. São mais de 30 publicações – das quais seis são virtuais, produzidas em tempos de maior reclusão na pandemia. Também tem poemas publicados em várias coletâneas e em revistas digitais.
Colaboradora assídua do Site De Rocha! e membro do coletivo Urucum, Pat se considera uma militante da Literatura: quando possível, visita escolas, universidades e participa de eventos literários e culturais, os mais diversos. A poesia é sua arma / escudo / refúgio / conforto / sustento.
Serviço:
Lançamento do Livro “O avesso do verso, poemas de mim”, da escritora Pat Andrade
Dia: 22 de dezembro de 2021 (quarta-feira)
Local: Livraria Public, no Villa Nova Shopping – 1º piso, Av. Presidente Vargas, 341 – Centro de Macapá.
Hora: 17h
Projeto apoiado pela SECULT/AP, através do EDITAL nº 003/2020-SECULT – CARLOS LIMA “SEU PORTUGA”. Seleção de Projetos Artísticos e Culturais, com recursos provenientes da Lei Aldir Blanc – Lei Federal nº 14.017 de 29 de junho de 2020.
Entrada franca
TODOS OS PROTOCOLOS DE SEGURANÇA DEVEM SER SEGUIDOS: USO DE MÁSCARA, DISTANCIAMENTO SOCIAL E HIGIENIZAÇÃO COM ÁLCOOL
tua beleza pinta na retina o sabor do amor tão forte é a dor de se carregar sua alma no pote d’água
existe uma longínqua caminhada até a aprovação o mundo precisa de voz e uma linda canção
mas para ouvir canções é preciso ter coração de escutar encurtar as distâncias entre o sentir e o olhar é preciso compreender as auroras e colecionar luares
eu os trago desenhados na palma da mão esquerda deixo a direita livre pra tocar suavemente a flor da tua alma
Já tem um tempo que eu vendo meus livrinhos empapuçados de poesia. Uns são ilustrados por mim mesma, com desenhos autorais ou colagens; outros têm ilustrações retiradas da internet. Também já fiz livros e cartões manuscritos – uma loucura, porque essa façanha me ajudou a desenvolver uma doença degenerativa e sem cura: a síndrome do túnel do carpo, que eu não vou descrever aqui porque não tenho paciência e nem palavras para tanto. Basta que saibam que me causa dores terríveis do lado interno do antebraço e por vezes paralisa o movimento do meu dedo médio, o que dificulta muito o uso da pena, que me é tão caro. Mas deixemos isso de lado e passemos ao que interessa – ou não.
Nas minhas incursões pelas ruas da cidade, rumo aos cafés, bares, restaurantes e afins, onde tento – renitente – vender poesia, encontro muita gente conhecida e muitos perguntam como estão as coisas, como vai a vida e outras amenidades. Deixei de responder com a verdade, pois considero uma crueldade com quem está desfrutando a vida de modo tão aprazível – bebendo, tomando um café com delícias, comendo uma chapa mista etc – dizer como vai a vida. Imagine você se eu dissesse “não vai nada bem, pois temos centenas de milhares de pessoas morrendo de fome ou catando lixo pra sobreviver” ou “não vai bem, porque centenas de mulheres tem sido assassinadas, estupradas, violentadas física e psicologicamente” e “não vai bem, porque crianças são molestadas todos os dias por gente da própria família”. Eu também poderia dizer que a vida não anda tão boa por causa do desemprego que afeta milhões de famílias Brasil afora ou por causa da pandemia, que ceifou milhares de vidas; por causa da destruição da Amazônia e suas populações nativas. Posso responder que não acho que a vida vai bem quando se descobre que pessoas que julgávamos amigas são na verdade um monte de víboras sedentas de poder.
Enfim… São muitas as razões pra achar que a vida não vai bem, mesmo. Mas não tenho coragem; não tenho esse direito; penso nos olhares perplexos que virão ao encontro do meu, e nos comentários tipo “como assim? tu estás exagerando” entre outras frases feitas que sairão de pronto dos meus interlocutores.
Então, aos que não enxergam nada, aos que se recusam a enxergar ou aos que não se importam, sigo contando a mentirinha diária e inocente – que todos acreditam piamente – de que a vida vai muito bem, obrigada.
A discussão sobre a importância que a arte exerce em momentos de crise cresceu significativamente durante o período de isolamento social. Apesar disso, pouco se fala sobre a escassez de espaços que os artistas possuem para expor seus trabalhos. Alguns tiveram que se adaptar a esse novo período e adequar suas produções ao contexto atual em que vivemos — e a internet é o meio que a classe encontrou para fazer essa divulgação artística.
Essa também foi a maneira que Patrícia Andrade Vieira, ou somente Pat Andrade, encontrou para difundir seus poemas com o restante da comunidade. Pat é artista plástica e escritora. Aos 50 anos de idade, Andrade se autodenomina como uma artista sobrevivente, que encontrou nas redes sociais uma maneira de compartilhar as suas poesias autorais.
Escritora desde os 15 anos, a artista já coleciona mais de 30 livrinhos lançados, com poesias que falam sobre sentimentos e fatos do cotidiano. Seu primeiro trabalho foi realizado em 2001, em uma intervenção cultural do Grupo Urucum, do qual faz parte até hoje — algumas caixinhas de fósforo recheadas de poesia.
Segundo Pat, a literatura passou a ser importante em sua vida ainda na adolescência: “Aos 15 anos ganhei um diário com poemas do Vinícius de Morais, e ali passei a registrar minhas primeiras linhas poéticas. Era uma coisa de adolescente; muitas coisas eu descartei por achar tolas; outras vieram comigo, para a poesia que trago em mim. Hoje a poesia me move, me ampara, me guia, me dá voz para falar do que me oprime, daquilo que me angustia, daquilo que me faz feliz”, comenta.
Sobre o processo de escrita, a escritora conta que nunca escolhe um tema para escrever. “Creio que a poesia escolhe o momento de se apresentar a mim. E pode vir a qualquer hora, em qualquer lugar”, relata.
O período de quarentena também refletiu na escrita da artista, que teve de trocar as ruas da cidade pelo mundo virtual e passou a compartilhar pequenos livros de poesia em suas redes sociais. “O início do isolamento foi terrível. Minha poesia colhe inspiração no cotidiano e nele se derrama; quando esse cotidiano se viu limitado, me assustei um pouco e minha poesia se recolheu também. Mas, por ser uma força viva e pulsante em mim, acabou funcionando também como válvula de escape”, conta Pat.
Segundo a artista, o seu maior incentivo é saber que suas poesias são apreciadas e consumidas como produto cultural. Isso a inspira a continuar escrevendo e compartilhando seu trabalho. “As pessoas compram meus livrinhos há pelo menos 14 anos. Esse é um grande incentivo para seguir escrevendo. Conheci um rapaz que tatuou um poema meu na própria pele. Isso é um incentivo e tanto”, conta Pat.
Pat compartilha seu trabalho no facebook e possui livros publicados em formato pdf. Além disso, sua obra já foi alvo de estudos, sendo discutida e estudada em algumas instituições públicas e privadas. Seu último lançamento, Sobre Vivência, é o seu sexto livro publicado durante a pandemia e aborda temas do cotidiano, marca registrada da escritora.
Confira alguns poemas escritos pela artista:
MUITAS EM MIM
minha linha do horizonte me divide, me recorta, me retalha. não em duas, mas em várias… além dela, sou menina, sou mulher; sou Anna Karenina, sou a Virgem de Nazaré. sou Matinta, sou Iara; sou floresta e sou mata. sou Maria Bonita e Madre Teresa; sou tempestade e correnteza.
(Pat Andrade)
LUTA
a vida é uma guerra é preciso lutar por tudo pelo sim pelo não luto pelo amor pelo vinho e pelo pão luto sem trégua e se for preciso quebro uma ou outra regra
(Pat Andrade)
FÊNIX
sou fênix em cada amanhecer uso restos de cinzas para pichar poemas num muro imaginário transformo em tinta a fuligem que adeja no ar apago as falsas cores do pseudo-mundo esfrego minhas verdades na cara de quem apenas me suporta e continuo a arder pelas madrugadas
a cidade que mora em mim reside entre a igreja e o teatro se reflete nas águas do lago caminha pela serrano e corre pela independência até o meio do mundo
essa cidade embriaga-se de rio e renasce na floresta toma açaí do grosso come camarão no bafo mata a sede com água de poço
é essa cidade que ama as mulheres do igarapé dança marabaixo e batuque no largo dos inocentes e dorme tranquila nos braços de São José