Calma, gente! Tô em transição! – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Selfie de Telma Miranda que causou questionamento por parte de algumas pessoas.

Crônica de Telma Miranda

Postei uma foto nas minhas redes sociais onde meu cabelo está solto e espalhado na cama, e as raízes brancas ENORMES geraram muitos questionamentos. Pessoas querendo saber o motivo de eu “estar assim”, se ainda vou pintar, se estou bem, etc. Vamos então, por partes, explorar a pauta.

Tenho 44 anos completados em dezembro, logo, na época de aparecerem os cabelos brancos que a tantas mulheres apavora pelo aspecto de “desleixo” que emite e tanta gente acha lindo em homens.

Meus cabelos são grisalhos desde que tenho cabelos. Nasci com um sinal na cabeça enorme na parte de trás e ao redor dele os cabelos sempre cresceram brancos. Antes dos meus 30 anos eu já estava uma grisalha completa e fazia uso de tintura sem amônia, por ser alérgica.

Toda vez que chegava na casa da minha avó Amélia, no Trem, quando eu retocava as raizes , ela logo falava: “Menina, essa química ainda vai te matar!”, e eu, sempre com uma resposta na ponta da língua, devolvia: “Pode até matar, vó, mas estarei belíssima no caixão!”, cruzando os braços no peito e ela apenas sacudia a cabeça como se soubesse o que aconteceria num futuro próximo.

Meus avós maternos tinham os cabelos bem branquinhos, quase prateados. Meu vô Miranda usava sempre cortado ao estilo militar, bem curtinho, e a vó Amélia com seus cabelos brancos e longos até a cintura, usando-os trançados ao costurar, externava a pouca vaidade que tinha ao soltá-los e penteá-los sempre com muito cuidado.

E cá eu, grisalha e com uma alergia cada vez mais agressiva com o passar dos anos, que não é à amônia, mas ao pigmento, ou seja, qualquer substância que eu use que contenha cor vai causar reação, cada vez que retocava minhas raízes ultimamente, quando ficava com meu couro cabeludo em ferida aberta por mais de uma semana, acompanhado das glândulas do meu pescoço inflamadas, que impediam de mexer a cabeça e também causavam muita dor, junto com as orelhas, olhos, boca e pele inchados, lembrava de quem?!?! DA VOVÓ FALANDO QUE A TINTA IA ME MATAR! E gargalhava sozinha e pensava que ela não ia desistir enquanto eu não parasse de pintar meu cabelo.

Mas como eu vou parar? Vão me chamar de relaxada, vai me envelhecer, vou ficar feia, ser julgada, medida, sofrer bullying, preconceito. Pensei nisso? NÃO!!! Somente um dia decidi que não queria mais sofrer esse processo de adoecimento que o retoque de raiz me trazia. Simplesmente parei. E assim tem sido. Parei e tô deixando meus cabelos crescerem. Já cortei duas vezes desde que parei de pintar. Hoje eles alcançam minha cintura. E eu lembro da velha Amélia falando e abro um sorriso.

Meu sorriso se deve ao fato de que em momento algum, por todas as perguntas e comentários que meus cabelos causam, sejam na minha frente ou não, eu pensei em desistir, mesmo que não seja fácil. Não é fácil você ouvir da sua mãe que conhece uma tinta vegana que pode não te fazer mal, da sua amiga que você fica mais bonita de cabelo pintado, ver os olhares que principalmente outras mulheres lançam que praticamente dão pra ler a legenda de julgamento e diminuição.

Eu não preciso agradar ninguém se eu estiver feliz e para isso não invadir espaços alheios. Eu me aceito, com a idade que tenho e as marcas que ela traz, pois junto com cada marca vem experiência, aprendizado, melhoria. O pneuzinho cada vez mais difícil de sair, a celulite, a estria, os cabelos brancos, as rugas, a flacidez: tudo isso faz parte do processo. Claro que podemos retardar muita coisa com os avanços estéticos. Os 50 hoje são os 30 de ontem.

Mas independente do investimento na prevenção ou cuidado, o tempo passará para todos nós. Uns mais belos por dentro que por fora, outros o oposto. Haverão os belos por dentro e por fora e os que pouco terão o que oferecer. Não importa. Cada um que siga o caminho que escolheu e que isso seja respeitado. Respeitar as escolhas do outro é muito importante para que as pessoas possam fazer o que gostariam de fato, pois nem todo mundo nasceu com aquela tecla “F” ligada ininterruptamente como eu.

Sou uma jovem senhora de um metro e meio, agora grisalha, que toma shake todos os dias, brigando com a balança, que pratica esporte, mas depois do COVID ficou mais tola, que não ultrapassa limites ou faz loucuras para ficar linda, perfeita e admirada. Pelo contrário.

Sou imperfeita. E nessa minha consciência de imperfeição, tem dias em que acordo linda, diva, irretocável, a mulher mais gostosa das galáxias e em outros (poucos, confesso!), nem quero me olhar no espelho ou me arrumar por estar me achando um lixo, mas a grande maioria dos dias me sinto bem e feliz, ou seja, coluna do meio. Feliz por ser exatamente quem eu sou, e vou continuar sendo independente da cor que meus cabelos estiverem.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

Hoje é o Dia do Jornalista – Meu texto em homenagem ao nobre ofício. Viva nós!

Hoje é o Dia do Jornalista. A data que celebra os profissionais da mídia foi criada pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) como uma homenagem a Giovanni Battista Libero Badaró, médico e jornalista que chegou ao Brasil em 1826. Ele lutou pelo fim da monarquia portuguesa, denunciou abusos do Império na época de D. Pedro I e era apoiador da independência do país.

Em novembro de 1830, foi assassinado por inimigos políticos, em São Paulo. Historiadores acreditam que a morte foi encomendada pelo imperador, que, em 7 de abril de 1831, abdicou do trono, o que fez D. Pedro II, seu filho, assumir com apenas 14 anos de idade.

Foi só em 1931, cem anos depois do acontecimento, que surgiu a homenagem e o dia 7 de abril passou a ser o Dia do Jornalista. Também em 7 de abril de 1908 que a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), com a missão de garantir os direitos dos jornalistas.

O conceito da profissão diz: “Jornalismo é a atividade profissional que consiste em lidar com notícias, dados factuais e divulgação de informações. Também se define o Jornalismo como a prática de coletar, redigir, editar e publicar informações sobre eventos atuais”.

Foto: Chico Terra

Quem me conhece sabe, sempre trabalho com responsabilidade. Passei por algumas redações da imprensa aberta, mas sou assessor de comunicação há 14 anos, atividade que me faz muito feliz. Já tive o prazer de trabalhar com muita gente boa e aprendi com eles. Também trampei com alguns canalhas, que são ótimos exemplos de como não proceder.

Certa vez, li a seguinte frase: “no fundo, jornalistas se acham. No raso, têm certeza”. É engraçado, mas alguns agem assim mesmo, é uma tal de autopromoção sem fim. Sempre digo: jornalista não é artista.

Ah, para ser um bom jornalista, além de ler e ter bom relacionamento com os colegas, é preciso ser competente. É a única maneira de você não se tornar um puxa-saco, pois será respeitado pelo trabalho e postura.

E como disse minha amiga manauara Juçara (jornalista): “não podemos dizer sempre o que pensamos por conta da obrigação de ser neutro, apesar das inúmeras ‘artimanhas’, com ética sempre, para dar uma indireta”. Tá, ainda aprenderei essa parte de não dizer o que penso diretamente.

Outra coisa, gosto de tomar uma cerveja e jogar conversa fora com colegas, ô raça para ter assunto bacana. Graças a Deus, fiz muitos amigos nessa loucura das pautas.

“Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultos. Critico-as. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica, às vezes é estúpida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado” – Paulo Francis.

Claro que já sofri com ameaças de processos por desafiar poderosos com denúncias pertinentes, mas o jornalista que ainda não passou por isso, vai passar. Ou pelo menos deveria. Sobre os ameaçadores, não deu em nada. A verdade sempre vence!

“Quem não tem dinheiro, conta história”. Esse é o bordão do personagem “Paulinho Gógó” e se aplica a maioria de nós, jornalistas. Operários da informação que cortamos um dobrado, mas amamos essa doideira. Sou grato por trabalhar com o que amo fazer e ser pago pra isso. Além de ter o respeito dos que me são caros.

Nestes tempos de bolsonarismo, quando jornalistas são tidos por muito com inimigos, é preciso redobrar a luta contra a tirania do presidente louco que eles elegeram. Ah, uma coisa; ou você é jornalista ou bolsominion. As duas coisas, meu colega, não dá não.

Sem mais, parabéns a todos vocês nas redações de jornais e revistas, estúdios de rádio e TV, mídias eletrônicas e assessorias de comunicação, que trampam nessa profissão fascinante e que é um dos pilares da democracia. Afinal, esse ofício é como rapadura: doce, mas não é mole não. Obrigado a todos que, de uma forma ou de outra, já deram uma força. Valeu demais!

Jornalistas, oh raça!‘ Viva nós’!

Elton Tavares

Dia do Jornalista – Por Dulcivânia Freitas – @DulcivaniaF

A querida jornalista Dulcivânia Freitas, em uma redação de jornal em 1996 – Belém (PA) – Foto: arquivo pessoal da Dulci.

Por Dulcivânia Freitas

Já que hoje é Dia do Jornalista, #tbt de uma redação raiz de jornal em 1996, em Belém . Essa é do tempo que não tinha Google, e a gente fazia apuração in loco, e só ficava no computador pra escrever mesmo, e no sábado a noite tínhamos síncope se não encontrássemos o jornal do domingo em alguma esquina da cidade. E bote escrever viu, eram páginas e páginas, e numa ligeireza que nem sei como era capaz. Só os entendedores entenderão. Acho que por isso me dei bem nas provas discursivas do concurso da Embrapa. E na redação raiz produzíamos tudo do nosso quengo mesmo, tendo como base a apuração de outrora, claro.

Do tempo que eu pensava que assessoria era um setor só pra agendar entrevista, nem imaginava que jornalista não tinha folga no feriado, me espantei com a jornada especial, e ainda pensava que jornal era somente um meio de informação. Sabe nada inocente.

Hoje vamos de SEO, hiperlink, multimídia, postagem quase em tempo real nas redes pessoais e corporativas (de certo mesmo jornalista agora é notícia também), mas uma coisa jamais muda: ser jornalista é saber hierarquizar, saber apurar e possuir uma compreensão aguçada do contexto. Em tempos de salários cada vez mais aviltantes na média, ataques (com nuances de fascismo) às atividades voltadas ao pensamento, reflexão e criação, mais do que nunca é importante ter noção da importância do jornalismo profissional.

Infelizmente não temos Conselho, sindicatos sempre com pouca representatividade e poder de mobilização, mesmo assim parabéns a esta categoria que ainda, no geral, precisa enxergar-se como classe trabalhadora e provedora de um insumo fundamental à democracia: a circulação de ideias e pensamentos plurais.

Meus parabéns e saudação aos colegas de ontem e de hoje. E deixo as boas-vindas aos meus primos da nova geração, que se enveredam agora pela melhor profissão do mundo, nas palavras do admirável Gabriel García Márquez. beijos!

Das boas surpresas que o fluir traz – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Não lutar contra a própria natureza e a dos outros é o melhor que podemos fazer. Não significa que devemos estacionar na zona de conforto. Jamais! Isso nem saudável é, mas fazer cobranças exacerbadas, querer ir além e além e além, competir consigo mesmo e ser seu próprio algoz não nos torna nem melhores e nem super-heróis, então o segredo é, em primeiro lugar, conhecer a si mesmo.

Quando nós nos conhecemos de verdade, sabemos nossos potenciais, limites, fraquezas, e assim podemos estabelecer metas factíveis e caminhar (ou correr!) até elas, e até mesmo nos superar a cada dia.

Quando mais nova, 84 anos atrás, eu achava que deveria fazer tudo logo, avocava responsabilidades alheias, achava que poderia dar conta de tudo e quando não dava me sentia o retrato do fracasso, a personificação da incompetência, uma total incapaz. Não que isso tenha mudado muito, pois continuo workaholic confessa, mas aprendi com o tempo a pegar mais leve comigo mesma e a me perdoar.

Ao contrário de querer morrer como antes, hoje eu paro, penso em toda cadeia de acontecimentos, verifico o que dependia de mim e o que não dependia, mas principalmente, o que a situação está querendo me ensinar. Claro que esse processo não foi do dia pra noite e sofri muito até aprender que não preciso dar conta de tudo, não sou infalível, que preciso saber esperar o tempo das pessoas e dos processos.

Essa forma de pensar me ajuda diariamente a levar uma vida mais leve. Continuo a maria-das-listas, anoto tudo, avalio minha produtividade, desempenho, mas mesmo que a minha linda cabeça não pare um minuto sequer e não esvazie, sigo me impondo momentos meus, de ócio, pra pensar e falar bobagem, relaxar e me permitir exercer o egoísmo.

O mais engraçado disso tudo é que agora, anciã e em processo de transformar as experiências em sabedoria para futuramente achar minha caverna e com meu cajado oferecer conselhos, consigo enxergar nitidamente que as coisas acontecem como tem que acontecer, que as pessoas são como são e que cabe unicamente a mim extrair o melhor das minhas vivências, e exercendo este “aceite” diário o viver flui e acredite, me surpreende todos os dias. Tente!

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

“Ninguém sabe o que mudo quer” – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Mesmo que não existam pessoas mudas e sim surdas, cresci ouvindo uma frase que acho que falo nem que seja “de eu para mim” todos os dias: NINGUÉM SABE O QUE MUDO QUER. E assim procuro expressar, ora de forma discreta e prudente como um elefante numa loja de cristais, ora dando a deixa sutilmente para que seja captada, dependendo do destino, sigo tentando não deixar rastros de mal entendidos. Se existirem diferenças, sejam de opinião ou de qualquer outra natureza, tento esclarecê-las no momento em que nascem. Mesmo assim, sempre haverão interpretações diferentes.

A grande maioria (mesmo!) dos desentendimentos ocorrem por problema de interpretação ou falta de comunicação e quando isso acontece, o que grande parte das pessoas faz? Exatamente! Fica tentando adivinhar o que o outro está pensando. E aí começa o problema.

Um dia você chega no trabalho num dia não tão bom, tá com aquela cara de terçado, cumprimenta as pessoas do ambiente em voz baixa e aí alguém não escuta o cumprimento e fala pro colega: “Você viu? Nem falou comigo! Que será que eu fiz pra pessoa não gostar de mim?”. Aí essa mesma pessoa fica matutando isso e transforma cada atitude sua em indireta para ela e quando você percebe tem um “inimigo” no trabalho que nem sabe como isso começou. E dá um puta trabalho esclarecer/recuperar isso.

A mesma coisa acontece em qualquer grau de relacionamento, seja romântico ou fraterno. Pequenos eventos mal interpretados ou “adivinhados” se transformam em grandes conflitos que poderiam ter sido evitados se na primeira dúvida sobre a mensagem recebida nós perguntássemos se é aquilo mesmo. Gente: O ÓBVIO PRECISA SER DITO! Nem sempre o que é óbvio pra mim, é pro outro e vice-versa. Mesmo que possa ser chato, melhor chato que ter um prejuízo emocional incalculável de pôr a perder boas relações por imaginação fértil ou interpretação errada. Já vi amizades lindas acabarem por motivos banais e quando se escuta os dois lados da história percebemos que tudo poderia ter sido resolvido numa boa conversa. FALE! PERGUNTE! ESCLAREÇA! Todos só têm a ganhar.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

Desconfortáveis encontros casuais – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Encontro um velho conhecido.

Ele: “cara, você tá muito gordo!”. Eu, (em pensamento, digo eu sei caralho, vai tomar no cu!): Ah, cara, sabe comé, sem exercícios físicos, sem tempo pra muita coisa, muita cerveja e porcarias gordurosas (que amo).

Sem nenhum assunto, fico em silêncio.

Ele: virei médico e você?

Eu: sou jornalista.

Ele: ah, legal (com um ar de desdém que vi ao encontrar outros velhos conhecidos advogados, administradores, contadores, ou alguma outra profissão mais rentável).

Aí um de nós subitamente diz que está atrasado e marca uma gelada qualquer dia com nossas respectivas esposas ou namoradas e vamos embora. Com certeza, passaremos mais 10 anos sem nos falarmos, graças a Deus.

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Nunca fui…(uma crônica megalomaníaca de Elton Tavares) – Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”.

Ilustração de Ronaldo Rony

Crônica megalomaníaca de Elton Tavares

Nunca fui sonhador de só esperar algo acontecer. Sou de fazer acontecer. Não sou e nunca serei um anjo. Não procuro confusão, mas não corro dela, nunca!

Nunca fui de pedir autorização pra nada, nem pra família, nem para amigos. No máximo para chefes, mas só na vida profissional.

Nunca fui estudioso, mas me dei melhor que muitos “super safos” que conheci no colégio. Nunca fui prego, talvez um pouco besta na adolescência.

Nunca fui safado, cagueta ou traíra, mesmo que alguns se esforcem em me pintar com essas cores.

Nunca fui metido a merda, boçal ou elitista, só não gosto de música ruim, pessoas idiotas (sejam elas pobres ou ricas) e reuniões com falsa brodagem.

Nunca fui “pegador”, nem quis. É verdade que tive vários relacionamentos, mas cada um a seu tempo. Nunca fui puxa-saco ou efusivo, somente defendi os trampos por onde passei, com o devido respeito para com colegas e superiores.

Nunca fui exemplo. Também nunca quis ser. Nunca fui sonso, falso ou hipócrita, quem me conhece sabe.

Nunca fui calmo, tranquilo ou sereno. Só que também nunca fui covarde, injusto ou traiçoeiro.

Nunca fui só mais um. Sempre marquei presença e, muitas vezes, fiz a diferença. A verdade é que nunca fui convencional, daqueles que fazem sentido. E quer saber, gosto e me orgulho disso. E quem convive comigo sabe disso.

Elton Tavares

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Estamos cheios de vida. Então, bora viver! – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Estamos cheios de saudades difíceis de matar, memórias tristes e felizes, milhões de possibilidades, bagagem de vivências passadas, conhecimento adquirido na caminhada e muita vontade de driblar adversidades. Temos poucas certezas, sem grandes promessas, mas o trato de evitar o tempestuoso e cólera.

Inevitavelmente, sofremos de arroubos de entusiasmo, preguiça e euforia digna de uma análise Freudiana. Sim, é muita liga! Estamos cheios de afeto, contradições, neuroses e poucas explicações. Estamos cheios da boa maluquice, de corações abertos. Estamos a desatar amarras e atentos para não pirarmos, pois estamos cheios deste tipo de loucura. Estamos cheios de luz e felicidade.

Estamos a descartar polêmicas ou manifestações exaltadas, daremos uma bicuda nas controvérsias, pois vamos desengarrafar sonhos. É, estamos cheio de vida. Então, bora viver!

Para você que leu, que a Força esteja contigo!

Elton Tavares

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Nossos tempos são uma onda louca! – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Na minha adolescência, poucos anos atrás (acreditem!), se alguém chegasse e me contasse o que vem acontecendo de forma geral no mundo, eu, que mesmo jovem, sempre procurei me informar e fui bastante crítica, iria achar que tudo se tratava de um delírio, que alguém com bastante criatividade estava querendo me pregar uma peça ou que o emissor da informação não estava com seu juízo equilibrado.

Mas cá eu, 44 anos, passei e passo por uma pandemia com tantas perdas, variantes virais, toque de recolher para evitar aglomeração pois o inimigo é invisível, uso de máscaras, álcool em gel, realização de shows em lives transmitidas na internet e tantas outras adequações que tivemos que nos adaptar.

Na minha época de escola, o telefone era fixo ou orelhão que fazia ligação com ficha telefônica e em seguida o cartãozinho. A ida a banca de jornais e revistas era um acontecimento, de onde eu saía com meus almanaques, álbum de figurinhas e gibis e a mamãe com revistas e jornais, que era o que nos mantinha informados, além, claro, da televisão e rádio.

Se me falassem naquela época que existiria internet, redes sociais, a velocidade com que se difundem informações, sejam elas verdadeiras ou não, através de telefones que são câmeras fotográficas, computadores e funcionam também como telefones (pasmem!), imediatamente eu iria achar que a essa altura do campeonato os carros voariam como naves espaciais dos desenhos animados.

O problema é que os carros não voam ainda, a desigualdade social só cresce, onde pequenas fatias possuem muito e a maioria do bolo não tem nada, mas e daí? Importa o engajamento, seguidores, produzir “conteúdo” por muitas vezes tão sem conteúdo que me recuso a denominar assim em alguns casos.

E a China uma grande potência capitalista! Rússia e a ameaça de terceira guerra mundial, ataques a civis: velhos, mulheres e crianças morrendo primeiro. A Telma adolescente iria gritar bem alto: “Que mentira!”. Mas não é. A dinâmica, velocidade e variedade dos acontecimentos por muitas vezes nos deixam atônitos.

Claro que existem muitas conquistas, avanços tecnológicos, descobertas, coisas boas. Mas ainda temos muitos desafios. Mesmo assim pra jovem Telma, é como se o mundo fosse outro, totalmente mudado, mesmo que com velhas misérias, mas quando a Telma de hoje pára pra refletir nessa linha louca de tempo, descobertas, mudanças, transformações dela, do mundo, cultura, hábitos, ela só consegue pensar: “Que onda louca tudo isso!”, mas o que importa é que ela chegou até aqui e continua seguindo, surpreendentemente otimista e orgulhosa de todos os passos dados nessa extensa caminhada.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

Há 24 anos, morreu o genial Tim Maia #TimMaia

Hoje completou 24 anos que Sebastião Rodrigues Maia, o talentoso músico, cantor e compositor, produtor musical e pai do Soul nacional, Tim Maia, subiu. Em 15 de março de 1998, a voz rouca e poderosa do artista calou-se. Ele tinha 55 anos de idade e a causa da morte foi um colapso do organismo causado por infecção generalizada, decorrente das doses cavalares de drogas e álcool que ele consumiu ao longo da vida.

Tim foi uma força da natureza, descrita no livro “Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia”, do jornalista e amigo do cantor, Nelson Motta. Li a obra há oito anos e fiquei fascinado. A publicação serviu de base para o filme exibido nos cinemas brasileiros em 2014.

@amarildocharges

Ah, o Tim Maia era louco? Sim, era. Um genial doido varrido. Viveu do jeito que quis e nunca se preocupou em ser exemplo. Sou fã de gente assim. Canções como “Azul da Cor do Mar” e “Primavera”, entre tantas outras músicas maravilhosas, são a prova do que foi o cantor e compositor.

A obra de Tim fala de alegria e amor. O artista não seguiu as regras, foi debochado, esquentado, brigão, malandro, egoísta, porra louca (como não rolar uma identificação?), entre outros tantos rótulos que nada são perto do tamanho do talento e do que o cara representou para a música brasileira.

Elton Tavares

Sobre a saudade e o tempo – Crônica de Elton Tavares (com ilustração de Ronaldo Rony)

Ilustração de Ronaldo Rony

Crônica de Elton Tavares

Já falei muitas vezes aqui sobre o tempo. Na verdade, penso isso sempre, quase o tempo todo. Quanto tempo tenho? Quanto tempo temos? Faz quanto tempo? Será que vai dar tempo?

A verdade é que o tempo passa rápido demais. O grande lance é o que você faz com ele. Muita gente lamenta que em outros tempos não era assim ou assado. Outros buscam fazer a diferença há muito tempo. Ainda existem aqueles que lamentam os acontecimentos em suas vidas e querem mudar o passado o tempo todo.

Dizem que o tempo é remédio e o senhor da razão. Concordo. Faz tempo que escrevo aqui minhas memórias, devaneios, “achismos”, atualidades e coisas de outros tempos.

O tempo transforma, ensina, caleja. Como diz Gilberto Gil: “Tempo Rei! Oh Tempo Rei!”

Enquanto o misterioso tempo acelera, traz alegrias e leva tristezas, dou tempo ao tempo, mas trabalho para melhorar o tempo todo. Afinal, sempre é tempo de sonhar.

Outra verdade (as verdades ditas aqui são só minhas) é que lembro mais dos bons tempos. Pois os tempos difíceis, superados com muito trampo, foram só aprendizado. O que marcou mesmo foi o tempo bom com pessoas queridas.

Há muito tempo, só quero saber do que pode dar certo, por não ter mais tempo a perder.

Pois é tempo livre de ser.

Há tempos, não somos mais tão jovens.

Mas não foi tempo perdido.

E como sinto falta de algumas coisas de outros tempos, uso as palavras de Mario Quintana: “A saudade é o que faz as coisas pararem no Tempo”.

Que o recorte do tempo que começa hoje, chamado de semana, seja bom para todos nós. Se cuidem e saúde!!

Dois anos de pandemia: a gente perde o chão quando falta saúde – Crônica de Elton Tavares

 


2020 não foi fácil pra ninguém. 2021 não foi diferente. 2022 amenizou, mas a pandemia, mesmo enfraquecida, persiste. Durante dois anos, cada um de nós perdeu um amigo, parente ou conhecido que gostava. Realmente a gente perde o chão quando falta saúde. Hoje, 14 de março, completou dois anos que estamos travando uma guerra desleal contra esse vírus.Continuo grato a Deus por não ter morrido de Covid-19. Mas lamento as perdas, sobretudo do meu núcleo de amor, minha avó, que amanhã (15), completa um ano de saudades.

Foram dois anos fazendo esforços. A maioria dos irresponsáveis não quis fazer e não faz. Dois anos de negação, torpeza e omissão criminosa do mito satânico e seus asseclas que plantam um jardim de lápides. Só lamento pelas estúpidas atitudes daqueles tempos tão difíceis. Pagamos a penitência de ter colocado esses caras no poder, mas a esperança não morre sem ar.

Só de lembrar, fico triste e puto com aqueles irresponsáveis. É como diz o adágio popular: “a ignorância faz devotos”. A população assistiu a tudo numa calma quase hipnótica. Mas quem não acordou com a triste realidade, a gente surrou com fatos.

Eram telefonemas doloridos, mensagens assustadoras, posts terríveis sobre partidas nas redes sociais. As mortes somaram milhares de vítimas. Isso só no Brasil. Destes, mais de mil no Amapá. Parece uma cruel realidade paralela. Uma distopia, um purgatório e, às vezes, um inferno contínuo, quando contamos nossos mortos.

Nas melancólicas escuras e silenciosas horas da noite, resmunguei, orei, me indignei e chorei incontáveis vezes. Na maioria daqueles dias e noites, doses cavalares de álcool ajudaram a flutuar na tormenta.

Apesar da pandemia retroceder e a vacinação avançar, graças a Deus, seguimos obstinadamente lutando por nossas vidas. Continuo cauteloso e com cuidados, mesmo os mandatários afirmarem que nem de máscaras precisamos mais. Porém, ainda uso.

Enfim, foram dois anos de um pesadelo,  pois a verdade é que a gente perde o chão quando falta a saúde de quem amamos. Pense nisso e cuide bem dos seus amores!

Elton Tavares

E hoje é 8 de Março, Dia Internacional da Mulher! – – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Todo homem, por mais que não queira, possui uma mulher na vida, pois parafraseando a terapeuta Efi Nyaki, “Metade do mundo são mulheres. A outra metade, os filhos delas.⁠”, viemos todos delas, de seus úteros, onde fomos gerados, alimentadora e protegidos até o momento de vir ao mundo.

Todos os dias, mulheres precisam provar que são competentes, que estão à altura, que podem, que fazem, que são, geralmente cumprindo jornadas duplas, triplas, respondendo como profissional, esposa, mãe, filha, dentre tantas atribuições.

Quando chegam em altas posições, dificilmente seus próprios méritos são exaltados, gerando o burburinho de que algum homem a colocou lá, seja qual for o tipo de vinculação. Reconhecer a competência, beleza ou qualquer outra qualidade de uma mulher é algo raro de se ver de forma voluntária até de outra mulher, pela cultura que as faz rivais e não parceiras. Mas aos poucos a prática da sororidade vem ganhando espaço e saindo do discurso, ainda que de forma tímida.

Mulheres foram criadas para dar conta de tudo, e ainda serem bonitas, cheirosas e bem resolvidas, e se falhar a autocobrança é rígida. Aí surgem ou se fortalecem a depressão, ansiedade, autoestima abalada, fragilidades escondidas muitas vezes não tratadas, por isso o dia da mulher nos serve para homenagear, acarinhar, valorizar, exaltar, mas principalmente refletir com respeito e empatia sobre nossa contribuição em todo este cenário: somos empatas ou julgadores?

Reflexões à parte, abrace, beije, presenteie hoje e todos os dias, mas acima de tudo, respeite, contribua, estimule, elogie e ampare A MULHER ou AS MULHERES DA SUA VIDA.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

O dia que o Godão morreu – Crônica legal de Cíntia Souza republicada – (@hccintia)

Ilustração de Ronaldo Rony

Crônica de Cíntia Souza

O nó na garganta deixou meu corpo mole. Acordei em luto. A tristeza é algo que nos enfraquece de dentro para fora, sem nos dar chance de reagir. “Foi de repente”, “Eu falei com ele ontem”, “Disseram que foi o coração…mas também, mano!”, “É, a boemia cobra o preço”.

Meu amigo morreu. Meu parceiro morreu e a gente nunca viajou junto, digo, ao menos não para outros lugares. Por isso, não quero ficar com as lembranças, muito menos pirar com aquela lista de tudo o que não fizemos ou me punir por não saber aproveitar melhor o nosso tempo. Só a ideia me irrita. Está certo! Tenho problemas com a morte. Invejo kardecistas. Eles são tão serenos na hora da passagem. Eu acho que eles fingem.

Godão, Godão, se você estivesse aqui com certeza iria tirar um barato. O povo chorando, contando histórias, rindo, contando histórias e chorando. Interessante, todos têm algo para contar. E agora, como eu vou saber qual parte dessa biografia é real? Vai virar lenda, hein.

Além dos amados, da família firme e forte, será que você imaginaria que fulano viria até aqui? Beltrano também veio! Vixi, foram muitos encontros e desencontros. Eu queria que você pudesse ver isso. Tenho certeza que já imaginou o próprio funeral. Afinal, quem nunca?

Não faz muito tempo, talvez dois ou três meses, você postou algo sobre a sua rotina no trabalho e eu comentei citando a letra de uma música que a gente curte: “Eu desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também. E que você diga a ele, pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem”. E você emendou: “Eu te desejo muitos amigos, mas que em um você possa confiar”.

A gente nunca foi do tipo que compartilha frases de Caio Fernando Abreu no Facebook (Hahaha). A gente vivia na vera…e como vivia. Éramos Carpe Diem total! Não sei se pelo fato de sermos jornalistas, mas fazíamos questão de registrar tudo. Tinha quem nos considerasse exibicionistas. Comédia! É injustiça tirar a vida daqueles que tentam aproveitá-la ao máximo. É isso o que revolta! E nós sabíamos aproveitar a vida como poucos.

Não sei por que conjuguei o verbo no passado. Afinal tudo isso foi apenas um sonho. Acordei fraca, com sede e com aquela aflição entranhada na alma. Passei a manhã pensando se aquele sonho teria algum sentindo, um significado especifico. Não encontrei nada até agora.

Durante a manhã falei com você pelo Messenger e fiz você prometer que não vai morrer. Você jurou.

Em setembro de 2020, no lançamento do meu livro, na última vez que a Cíntia (aí na foto comigo) me deu moral.

O fato é que as pessoas morrem. Para quê, né?! Mas acontece. E sempre foi assim desde o começo. Dizem que teve um cara que foi e voltou, rasgou o véu, desceu a mansão dos mortos, mas depois ninguém nunca mais o viu. Há quem espere seu retorno.

Diante de tudo penso se há uma solução para encararmos a morte com naturalidade, simplesmente como a fase final e derradeira desse ciclo chamado vida, ou outro meio para anestesiar a dor da partida. Mas não sei se queria ver alguém retornar do lado de lá… Creio na cruz!

Cíntia Souza, jornalista, sócia proprietária da Crível comunicação e amiga minha. Texto republicado.