Sem aglomerações, Pedra Branca comemora 28 anos com shows pela internet

Por Seles Nafes

Sem poder fazer eventos públicos por causa da pandemia da covid-19, a cidade de Pedra Branca do Amapari decidiu comemorar seus 28 anos de criação usando a mesma ferramenta que se popularizou entre os artistas, com uma diferença: as lives têm o objetivo de recolher donativos para famílias atingidas economicamente.

As transmissões começaram ontem (30) e continuarão hoje a partir das 19h nos canais da prefeitura de Pedra Branca do Amapari no Facebook e no Instagram.

O primeiro dia de live foi de shows de música gospel com atrações das igrejas Católica, Assembleia de Deus e Quadrangular.

Hoje (1º), no dia do aniversário da cidade, a música fica por conta das bandas Amapari Samba e Ney e Cia; além dos cantores Jefferson Costa e Mauro Cotta.

Durante a transmissão, empresas e famílias de qualquer parte do Amapá poderão doar alimentos pelo telefone: 99911-6991 (WhatsApp).

A 180 km de Macapá e com 16 mil habitantes (fonte: Ibge), a economia de Pedra Branca do Amapari é movida da mineração, serviço público e o turismo.

No ano passado, sem a pandemia, a festa de 27 anos durou dois dias com direito a show nacional com Solange Almeida, Vingadores do Brega e participação do pastor Samuel Mariano, além de atrações locais.

Normalmente, as festa de aniversário da cidade lotavam o setor hoteleiro de Pedra Branca do Amapari e sobrecarregavam distribuidoras e restaurante.

LIVE DO TRABALHADOR – HOJE AS 19H BERCO DO MARABAIXO E CONVIDADOS

Por Val Costa

Os tambores rufariam no tradicional Marabaixo do Trabalhador no Barracão Tia Gertrudes , se não estivéssemos combatendo essa pandemia do COVID 19, que nos obriga a reorganizar nossa vida, nossos hábitos, nossos afazeres, enfim transformou nosso dia a dia menos ativo e mais criterioso, porém para mantermos essa tradição em homenagear todos trabalhadores, mesmo a cultura do Amapá estando em luta pela perda de tantos mestres e mestras da nossa tradição indo morar em outro plano, o Berço do Marabaixo fará a Live do Trabalhador .

Hoje dedicamos essa Live a todos os trabalhadores, homenageando você Wendel Santos , o nosso eterno Maracajá, fazendo a despedida que não podemos fazer a você, que nesse dia dividia sua alegria, seu entusiasmo, sua juventude, seu saber popular trazido de suas raízes, você que amava incondicionalmente nosso Marabaixo, certamente estaria no Barracão como todos os anos, mas Deus te chamou pra fazer a festa junto com os nossos guerreiros, obrigada por tudo que viveste e defendeste em prol da nossa cultura .

Os tambores vão rufar em todo o Brasil para Saldar a todos nós trabalhadores que somos o sustento dos nossos lares, em especial aos trabalhadores da saúde e da segurança pública que se mantém na ativa para cuidar do nosso bem estar e defender nossa tranquilidade .

#FIQUEEMCASA POR ELES E POR NÓS❤

…Minha alucinação é suportar o dia-a-dia…”: nesta quinta-feira (30), rola live/cover de Belchior, com o músico Silvio Neto

“…A minha alucinação é suportar o dia-a-dia, e meu delírio é a experiência com coisas reais…”

Belchior parecia prever o atual momento de distanciamento/isolamento social, nestes tempos difíceis de pandemia. Mas vai passar e até lá, vamos curtindo as lives dos artistas, que nos salvam do tédio e enviam afeto via internet, em forma de música.

Nesta quinta-feira (30), a partir das 19h, rola live/cover de Belchior, com o músico Silvio Neto. O show será transmitido pela página da rede social instagram do cantor e musicista: @silviocabane. A live contará com participações especiais do violonista e intérprete Luciano Araújo e da cantora Maria Rojanski.

Belchior/é foi um compositor, cantor e filósofo, angustiado e contestador de seu tempo e sua geração, buscador da verdade em tudo, inclusive em si mesmo, pintor e poeta brasileiro cuja música ousou falar de transformação, em tempos em que tudo se achava estabelecido.

Silvio Neto é um cancioneiro punk do serão paraibano, que também é jornalista e violonista, disfarçado de bancário. Também o melhor intérprete/estudioso de Raul Seixas que tenho notícias. Além de brother considerado da galera.

Portanto, bora curtir esse som!

Elton Tavares

Belchior e a Música das Esferas – Por Fernando Canto (três anos sem o poeta)

Musico Belchior em 1977.

O cantor e compositor Belchior morreu há três anos (quando soubemos, pois na verdade ele foi para as estrelas no dia 29 de abril de 2017), em Santa Cruz do Rio Grande do Sul, aos 70 anos. Naquela manhã, acordei com a triste notícia de seu desencanto. Sempre fui seu fã, mas há alguns anos, me tornei mais ainda por conta da convivência com uma das pessoas que mais idolatravam o artista. E hoje o “tempo andou mexendo com a gente, sim”.

Poeta brilhante, artista louco, compositor fantástico, entre tantas outras coisas sensacionais que Belchior foi e é, dificilmente eu conseguiria descrever a importância dele para a música e cultura brasileira. Mas o Fernando conseguiu. Fica aqui nossa homenagem com essa crônica do Canto:

Belchior e a Música das Esferas – Por Fernando Canto

Por Fernando Canto

“Deixando a profundidade de lado” eu sempre fui fã desse cara cearense, que hoje faz 70 anos. Assisti pela primeira vez a um show dele no Projeto Pixinguinha, no Centro de Convenções João de Azevedo Picanço, em 1984. Ele cantou seus sucessos “Como Nossos Pais” e “As Paralelas” ao lado de Zizi Possi, outra cantora que também admiro muito. O que me chamou atenção no seu visual eram as meias coloridas, a cabeleira e o vasto bigode, que parecia ter vindo de uma nave da Tropicália. Aliás, a “roupa colorida” era tida como elemento constituinte da corporalidade do ethos tropicalista.

Passaram-se alguns anos, ainda na mesma década, ele tocou no final de um festival universitário da canção no ginásio de esportes Avertino Ramos. Cantava no palco. Eu estava lá na arquibancada. Um sujeito que estava do meu lado gritava para ele, pedindo atenção. De repente jogou uma lata de cerveja na direção do palco que atingiu o cantor. Antes dos seguranças chegarem para expulsá-lo perguntei-lhe por que fizera aquilo. O cara chorava e dizia: – Eu sou fã dele, queria apenas que ele me ouvisse. Queria que ele tocasse “A Palo Seco” ou “Rapaz Latino Americano” e, mas ele não me ouviu. E gritava: – Desculpa, desculpa. Eu não queria fazer isso…, enquanto era arrastado para fora. Logo a seguir o cantor ilustrava o ambiente reverberador do ginásio com a música solicitada pelo fã compulsivo – quase um psicopata – e cruel:

“Eu sou apenas um rapaz latino-americano/ sem dinheiro no banco/ sem parentes importantes/e vindo do interior/ POR FAVOR NÃO SAQUE A ARMA/ NO SALOON, EU SOU APENAS O CANTOR. / MAS DEPOIS DE CANTAR/ VOCÊ AINDA QUISER ME ATIRAR/ MATE-ME LOGO, À TARDE, ÀS TRÊS/ Que à noite eu tenho um compromisso e não posso faltar/ Por causa de vocês”.

Depois do seu episódico desaparecimento há quase três anos, quando especulações sobre sua vida emergiram de forma negativa, só podemos perguntar “Onde está Wally?”, no meio dessa multidão insensível. Onde está Belchior? O cara que sabia sobre a descoberta pitagórica da Música das Esferas, da harmonia dos planetas no cosmo, tanto que fez questão de usar trecho do poema “Via Láctea” do parnasiano Olavo Bilac (“Ouvir estrelas? Ora direis, Certo”). O cara-cabeça do “Pessoal do Ceará” que compunha com Fagner e revolucionou a MPB.

Sete décadas. Cabalísticamente sete para um cara que tinha “25 (2+5=7) anos de sonho e de sangue/ E de América do Sul”. Que trazia sua identificação nordestina presa ao dorso do seu cavalo que eram as embarcações pesqueiras de velas do Mucuripe, canção dele e de Fagner. Esse mesmo cara que transitava entre o sonho e a realidade de uma forma surpreendente, pois essa trajetória não tem suas âncoras presas ao real, tal como pensamos. Ele que escreveu “Se você vier me perguntar por onde andei/ No tempo que você sonhava”, e sua realidade respondia: “De olhos abertos lhe direi/ Amigo eu me desesperava” (A palo seco); ele que falava num sonho que “viver é melhor que sonhar” e respondia no mesmo verso sua realidade que “Viver é melhor que sonhar” (Como nossos pais). Todo indica um paradoxo, em que o dono do discurso parece estar perturbado e que quer fazer saber que “sons, palavras são navalhas”.

Não sei por onde anda esse rapaz de 70 anos. Queria vê-lo agora aqui, em um palco montado na praia de Iracema, desafiando o tradicional, para me encantar com o seu diferenciado e inédito canto nordestino, mostrando novamente ao Brasil o resultado positivo de seu desafio, que se constituiu em fazer algo mais significante para a beleza da música popular brasileira. E sem o preconceito regional que carregava.

O artista mirava seu próprio devir, pois “era alegre como um rio […] MAS VEIO O TEMPO NEGRO E, À FORÇA, FEZ COMIGO/ O MAL QUE A FORÇA SEMPRE FAZ. / Não sou feliz, mas não sou mudo:/ Hoje eu canto muito mais” (Galos, noites e quintais). A ele me refiro pelo seu percurso de anunciador de um discurso nostálgico, que louvo por dizer assim, coisas que ficaram na memória: “GENTE DE MINHA RUA/ COMO EU ANDEI DISTANTE/ QUANDO EU DESAPARECI/ Ela arranjou um amante/ Minha normalista linda/ Ainda sou estudante/ Da vida que eu quero dar…” (Tudo outra vez).

Não sei por ande anda esse rapaz de 70 anos, “Mas parece que foi ontem/ Minha mocidade/ Com diploma de sofrer/ De outra Universidade…”. Parabéns, Belchior, estou ouvindo mais uma vez a tua música das esferas. Não faria igual ao jovem fã do ginásio de esportes de Macapá. Eu te jogaria flores e não uma lata de cerveja, pois cerveja a gente bebe com prazer só para escutar teu som inesquecível.

*Escrito por Fernando Canto em outubro de 2016, quando o amigo e também poeta, fazia seu Doutorado em Fortaleza (CE).

Muito obrigado por suas alucinações. Você exercitou bem o lance de “paixão morando na filosofia”, amou e mudou as coisas em muitos de nós, seus fãs. Valeu, Belchior!

Cantora Brenda Zeni divulga dica para ajudar artistas em momento de pandemia

Recentemente, uma cantora muito conhecida do mundo sertanejo, realizou uma live nas redes sociais e despertou entre os Amapaenses, um grande sentimento de solidariedade.

O resultado foi o recebimento de toneladas de alimentos de empresas da região que em troca, tiveram seus nomes divulgados pela famosa cantora, durante sua apresentação.

As doações foram destinadas para a nossa região, mas muitos se perguntaram a razão pela qual as empresas não se solidarizaram com as apresentações dos artistas locais.

No Amapá temos excelentes cantores e músicos que, devido à pandemia instalada, estão precisando receber este apoio.

Gostaríamos de te convidar a colaborar com nossos artistas, e vamos deixar aqui uma super dica que pode ajudar bastante.

As plataformas de música digitais, em especial o SPOTIFY e o DEEZER remuneram, mesmo que de forma fracionada, os artistas que lá estão. Você pode seguir o artista e também, fazer downloads dos sons deles dentro dessas plataformas. Pronto!

Assim você já está colaborando com eles nesse momento de COVID-19.

Seguir perfis em redes sociais, compartilhar e acompanhar projetos também é sempre recomendado para fortalecer o trabalho de cada um.

Uma das artistas que te convido a seguir, para começar esse movimento social, é a Brenda Zeni – a fruta roqueira amapaense. Ela construiu várias playlists e muitas delas tem vários artistas amapaenses para você conhecer e prestigiar. Vamos lá, siga e ouça novos sons e profissionais.

Link do SPOTIFY da Brenda Zeni:
https://open.spotify.com/artist/1PoT1UWTGkBkzcpedRRJNl?si=MxpDDP8vQTqBfiOy_3W-Yg

Link do Deezer da Brenda Zeni:
http://www.deezer.com/playlist/7473641624

Quem está apoiando artistas independentes também é o cantor Faype, que apresentou sua arte no Amapá durante muitos anos, e hoje mora na Paraíba. Em seu novo projeto, Faype interpreta canções de outros artistas independentes e já planeja lançar um EP recheado destas versões.

Apoie este artista, também.
Siga o Faype nos players de música:
https://open.spotify.com/artist/5dLskbOm6DmtQFpfrU5dt0?si=L6TlvlgXSsmRwPZqHox7Pw

Vamos juntos. Cada um pode fazer um pouco pelo outro. Prestigiem a arte.

Ascom Brenda Zeni

Nota de Pesar da Secult

É com profundo pesar que todos da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) receberam a notícia, na noite desta quarta-feira (29), do falecimento do músico Fábio José de Oliveira Mont’Alverne, de 53 anos, conhecido pelos amigos como “o Ratinho”. Infelizmente, mais uma vítima do novo coronavírus (Covid-19). Um baterista de excepcional talento, com vários anos de carreira que ajudaram a apresentar a música amapaense ao mundo.

Oriundo de uma família tradicional de musicistas e educadores, teve grandes referências em sua vida. Neto da saudosa educadora, Aracy Mont’Alverne, que com sua atuação marcou o ensino do Estado do Amapá, formando filhos, professores e músicos de grande renome, como o pai de Fábio, Sebastião Mont’Alverne, espetacular violonista amapaense.

Foto encontrada na página do Facebook da jornalista Tica Lemos

Fábio trilhou com louvor os caminhos da música. Passou pela Banda Brind’s e tocou com muitos artistas do Amapá.

Em 21 anos como baterista da banda Negro de Nós – grupo que consagrou as raízes amapaenses nos palcos do Brasil – ajudou a consolidar com sua bateria os ritmos caribenhos, alegrando milhares de pessoas por onde tocava. A inspiração do grupo vem da essência da música negra brasileira, afrodescendente e de todas as partes do mundo para suas composições.

Formação da Banda Negro de Nós — Foto: Negro de Nós/Divulgação

Também atuou como membro da diretoria da Associação dos Músicos de Compositores do Amapá (Amcap), junto com os amigos lutando pela qualificação e desenvolvimento da música do Amapá. e instrutor do Banzeiro Brilho de Fogo. Fábio deixa esposa e dois filhos. Sua partida é uma inestimável perda para o Amapá. Que ele faça sua passagem em paz.

Todos nós, da Secult, nos solidarizamos com a dor de seus entes queridos. Pedimos a Deus que conforte o coração de seus familiares e amigos enlutados. Externamos nossas sinceras condolências por sua partida precoce e nossos agradecimentos ao grande artista que ele foi.

Fábio Mont’Alverne.

Nesse momento, em que a população mundial se encontra em alerta, queremos ressaltar a importância da proteção ao Covid-19 ; esse grande músico amapaense foi vítima da doença. É indispensável que mantenhamos as medidas de proteção recomendadas pelos órgãos de saúde. Deste modo, devemos sempre lavar as mãos com água e sabão ou higienizador à base de álcool, além de evitar tocar no rosto.

Para cuidamos de nós e dos outros, devemos usar máscaras, mantendo as distâncias recomendadas e sair de casa só em extrema necessidade. É importantíssimo estarmos atentos, para que não percamos mais pessoas queridas. Sigamos fortes e unidos nessa batalha.

Evandro Milhomen
Secretário de Estado da Cultura

29 anos sem Gonzaguinha

Foto encontrada no site Cultura Brasileira

Hoje (29) é aniversário da morte (estranho estes termos juntos) do cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o “Gonzaguinha”, que morreu em um acidente automobilístico em 29 de abril de 1991, aos 45 anos, em Renascença (PR). Eu tinha 15 anos e lembro bem da notícia de sua morte.

São 29 anos sem o artista carioca, filho do lendário cantor e compositor Luiz Gonzaga (não biológico, mas registrado), o “Rei do Baião”, e Odaléia Guedes dos Santos, cantora do Dancing Brasil. É como dizia o próprio Gonzaguinha: “Venho de Odaléia uma profissional daquelas que furam cartão e de vez em quando sobem no palco; ela cruzou com meu pai e de repente eu vim”.

A mãe morreu de tuberculose aos 22 anos de idade, quando Gonzaguinha tinha somente dois anos, e o pai, por conta dos shows Brasil afora, o deixou com o padrinho Henrique Xavier – o baiano do violão das calçadas de Copacabana, do pires na zona do mangue no morro de São Carlos – e sua esposa, a madrinha Dina. “Foram eles que me criaram e por isso eu toco violão”. (Gonzaguinha)

Do pai, recebia o nome de certidão, dinheiro para pagar os estudos e algumas visitas esporádicas. Imerso no dia-a-dia atribulado da população, Gonzaguinha ia aprendendo a dureza de uma vida marginal, a injustiça diária vivida por uma parcela da sociedade que não tinha acesso a nada.

Gonzaguinha foi um dos melhores compositores de sua geração. Ele iniciou a carreira na década de 1960, no Rio, convivendo com artistas como Ivan Lins e Aldir Blanc. Com ambos fundou o Movimento Artístico Universitário (MAU). Em 1970, começou a participar de festivais.

O seu primeiro LP foi lançado em 1973. No mesmo ano, Gonzaguinha participou do programa Flávio Cavalcanti apresentando a música Comportamento Geral num dos concursos promovidos pelo programa. Na canção, ele alfinetava a atitude complacente e medrosa daqueles que abaixam a cabeça para tudo e para todos: “Você deve lutar pela xepa da feira / e dizer que está recompensado”. O júri do programa destruiu sua música e cobriu Luiz Gonzaga Jr. de ameaças. Um dos jurados o chamou de terrorista; outro sugeriu sua deportação.

Foto encontrada no site Memória da Ditadura

Apesar de toda a perseguição, Gonzaguinha nunca deixou de divulgar seu trabalho: quer seja em discos, onde driblava os censores com canções alegóricas, quer seja em shows onde, além de cantar as músicas que não podiam ser tocadas nas rádios, Gonzaguinha não se continha e exprimia suas opiniões e sua preocupação com os rumos que a nação tomava.

Visceral e talentosíssimo, compôs músicas lindas e doídas, de tão fieis aos amores, dissabores e dores que sentiu. Seus maiores sucessos foram: “Grito de Alerta”, “Explode Coração ou Espere por mim, morena”, “Comportamento Geral (censurada)”, ‘Começaria Tudo Outra Vez”, “Lindo Lago do Amor”, “Redescobrir” (na voz de Elis Regina), “É” e “O Que É, O Que É”, “Recado”, “Eterno Aprendiz”, entre outras.

Em 2017 Gonzaguinha foi tema do carnaval da Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, com o enredo “É! O Moleque desceu o São Carlos, pegou um sonho e partiu com a Estácio!”.

Gonzaguinha casou três vezes e teve quatro filhos. Ele gravou 19 discos e vendeu milhões de cópias. Foi um gênio da MPB e símbolo da indignação com o sistema. Parte de sua história foi retratada no filme “Gonzaga – de pai para filho”.

Gonzaguinha e Gonzagão 1979 – Foto: Amicucci Gallo

O cara foi um símbolo de rebeldia e talento. Este post é uma pequena homenagem ao gênio da poesia. Valeu, Gonzaguinha!

Elton Tavares, com informações dos sites Memória da Ditadura, Musicaria Brasil e Mais Cultura Brasileira!

O carroceiro (relato porreta sobre a antiga Macapá) – Por Floriano Lima

Foto: Floriano Lima

Os mais antigos como eu, lembram o apogeu desses veículos em nossa Macapá. Transportando a madeira, o cimento e até mesmo fazendo “mudança”…ficavam em seus pontos de frete, na feira central, no Buritizal e outros locais. Mas nunca um carroceiro foi tão folclórico como o “Mucura”, que o conheci e conversei pessoalmente com ele.

Era um “galego magro dos olhos claros” com voz rouca e “metido” a galanteador, que sempre que as moças passavam, ele “jogava” todo o seu charme. Até que aconteceu o fato que entrou no imaginário popular. Ele “deu” a sua tradicional “cantada”, sendo que a mesma era casada e participou ao “digníssimo”, que tomando as “dores” da amada partiu ao seu encontro.

Chegando entre os carroceiros perguntou: Quem é o “Mucura” aqui? Ele, pensando que era um “gordo” frete, respondeu: Quantas carradas patrão ? O sujeito respondeu: só duas e desceu o braço no Mucura. Desde esse dia, quando se aproximavam dele, diziam…quantas carradas patrão ? São histórias de uma Macapá que não existe mais…

Floriano Lima

Roteiro de Leitura de “Os Sertões” (Euclides da Cunha) – 3º Capítulo: A Luta em Os Sertões– Por @yurgelcaldas

Por Yurgel Caldas

Dividida em quatro partes (I. Antecedentes; II. Causas próximas da luta. Uauá; III. Preparativos da reação. A guerra das caatingas; e IV. Autonomia duvidosa), “A Luta” encerra a narrativa de Os Sertões. Na prática, trata-se do momento em que o leitor tem acesso aos diários de guerra, desde o primeiro até o último combate da Guerra de Canudos: “Despertou-os o adversário, que imaginavam iam surpreender. Na madrugada de 21 desenhou-se no extremo da várzea o agrupamento dos jagunços…” Chama atenção a visão da política como fanatismo e do fanatismo como ato político: “Seguiam para a batalha rezando, cantando – como se procurassem decisiva prova às suas almas religiosas” […] “Reunidos sempre em volta da bandeira do Divino […] os jagunços enfiavam pelas ruas” […] “Cercam-lhe relações antigas. Todas aquelas árvores são para ele velhas companheiras. Conhece-as todas. Nasceram juntos; cresceram irmãmente; cresceram através das mesmas dificuldades, lutando com as mesmas agruras, sócios dos mesmos dias remansados” […] “A natureza toda protege o sertanejo”.

Também é notável a forma como o homem (antes sertanejo, agora jagunço – o guerreiro do sertão) se articula à terra para obter vantagem nos combates: “[…] as caatingas são um aliado incorruptível do sertanejo em revolta” […] “E o jagunço faz-se o guerreiro-tugue, intangível […] As caatingas não o escondem apenas, amparam-no” […] “É que nada pode assustá-los”. Lembrando que “tugue” é uma religião hindu, cujos membros faziam sacrifícios humanos por estrangulamento; em sentido figurado, significa um ser sanguinário e cruel.

Euclides da Cunha. Caricatura de Raul Pederneiras (1903)

Numa referência ao cangaceiro, Euclides da Cunha menciona o romance O Cabeleira, de Franklin Távora, para explicar o termo “derivado de cangaço”: “O assassino foi à feira debaixo do seu cangaço, dizem os habitantes do sertão”. O “cangaço”, aliás, é um termo de sentido vário, que – a despeito de significar o “engaço” ou “bagaço” (parte que sobra de frutas espremidas, que eram utilizadas como utensílios em casas pobres e como suporte para armas dos “cangaceiros”) pode remeter a um movimento social ocorrido em várias partes do Nordeste brasileiro entre os séculos XIX e XX; um sinônimo de banditismo.

Foto encontrada no site “Imagens Históricas do Brasil”.

Nesse momento, o narrador oscila entre apresentar a guerra do ponto de vista do exército oficial, que combatia a resistência armada sertaneja, e a própria visão do homem metropolitano que, de certa forma, se organiza em torno dos desejos do próprio exército oficial: “Felizmente os expedicionários, em ordem de marcha, tinham prontas as armas para a réplica, que se realizou logo em descargas rolantes e nutridas”. É interessante também como o narrador qualifica os guerrilheiros resistentes de Canudos, ou seja, os cangaceiros: “o sinistro João Abade […] o ardiloso Macambira […] o terrível Pedrão”.

Velha Canudos, estátua de Antônio Conselheiro, ao fundo capela de São Pedro – Foto encontrada no site https://pa4.com.br/home/

Em determinado momento, “quebrou-se o encanto do Conselheiro. Tonto de pavor, o povo ingênuo perdeu, em momentos, as crenças que o haviam empolgado”. Trata-se de um momento importante, mas ainda não decisivo na guerra de Canudos, pois o Conselheiro retomaria a vida espiritual dos sertanejos em sua mão.

Antônio Moreira César – Foto: wikipédia

Vale a pena conferir a descrição que o narrador faz do coronel Antonio Moreira César, o comandante da 7ª Infantaria na primeira expedição a Canudos. Tal descrição lembra muitíssimo a de Antonio Conselheiro, seu antagonista. Diz Euclides sobre Moreira César: “Tinha o temperamento desigual e bizarro de um epiléptico provado, encobrindo a instabilidade nervosa de doente grave em placidez enganadora”.

Old papers in the vintage handbag

Por fim, ocorre uma espécie de retomada de consciência histórica do narrador metropolitano, soldado oficial e ente civilizador do Brasil republicano e moderno, em nome do homem nordestino, de sua terra e de sua luta diária e justa por sobrevivência: “O sertanejo defendia o lar invadido, nada mais”. No final, Os Sertões soam como uma espécie de perturbação da ordem e da unidade nacionais. Na passagem intitulada “Fora da pátria”, o narrador considera as impressões dos novos expedicionários na última incursão do exército oficial em Canudos: “Viam-se em terra estranha. Outros hábitos, Outros quadros. Outra gente. Outra língua mesmo, articulada em gíria original e pinturesca” […] “Tudo aquilo era uma ficção geográfica”.

Os Sertões também podem ser lidos, a partir de seu final, como um elogio à resistência do mais fraco ante um arco de forças muito mais poderoso do que as formações sertanejas/cangaceiras. Assim, Euclides, após a vitória do exército republicano, afirma: “Fechemos este livro. Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até ao esgotamento completo”.

*Contribuição do amigo Yurgel Caldas, que é professor de Literatura da Unifap e do Programa de Pós-graduação em Letras (PPGLET) da mesma instituição.

Remaking de documentário social britânico filmado com apoio do MP-AP é finalizado e disponibilizado ao público

O filme Housing Problems Macapá foi filmado nas áreas de ressaca do bairro Congós com apoio do Ministério Público do Amapá (MP-AP), sob a direção dos professores-doutores Peter Lucas, da The New School University, e Bianca Moro, da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Com produção da procuradora-geral de Justiça, Ivana Cei, a versão tucuju do documentário foi publicado nesta quinta-feira (23), em plataforma do Youtube.

As imagens foram feitas, em 2017, durante dois dias nas áreas alagadas do bairro Congós, com apoio do líder comunitário José Elenildo (Mujoca). O vídeo foi editado e finalizado este ano, com contribuições dos editores Getúlio Barreto e Antônio Batista.

Peter Lucas veio ao Amapá a convite do MP-AP para participar do I Ciclo de Palestras Ambientais, abordando a problemática dos precários conglomerados habitacionais urbanos, a exemplo do que ocorre nas áreas de ressaca em Macapá. Generosamente, ele chegou à cidade de forma voluntária e propôs para a comunidade local fazer parte de seu projeto, iniciado há alguns anos, que consiste em fazer o remaking do filme (de 1935) em diferentes versões ao redor do mundo.

“Foi uma grande honra para os envolvidos receber este convite, além de representar uma enorme oportunidade para chamar a atenção da situação crítica e desesperadora em que vivem os moradores das ressacas”, ressalta Bianca Moro.

Para a PGJ é gratificante poder contribuir com esse registro sobre Macapá. “Este filme é o resultado do encontro de objetivos comuns sobre as questões ambientais urbanas e que resultaram nessa produção que retrata um pouco a realidade de muitos moradores de Macapá e da Amazônia”, manifestou Ivana Cei.

Housing Problems é um filme que foi realizado pela primeira vez em 1935, em Londres. Foi o primeiro trabalho na história dos documentários em que os moradores falaram diretamente para a câmera, relatando os problemas que estavam enfrentando nas favelas de Londres. É um filme famoso na história do cinema, porque revela um momento em que a classe trabalhadora ganha voz nesse assunto.

Ficha Técnica

O acesso à comunidade foi orientado pelo Sr. José Elenildo (Mujoca).

Produzido pela procuradora-geral de Justiça, Ivana Lúcia Franco Cei, em associação com a Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Macapá e o Ministério Público do Amapá.

Dirigido por Peter Lucas e Bianca Moro.

Serviço:

Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Amapá
Gerente de Comunicação – Tanha Silva
Núcleo de Imprensa
Coordenação: Gilvana Santos
Texto: Gilvana Santos
Contato: [email protected]

Roteiro de Leitura de “Os Sertões” (Euclides da Cunha) – 2º Capítulo: O HOMEM– Por @yurgelcaldas

Por Yurgel Caldas

Parte dividida em cinco seções onde o autor do “problema etnológico no Brasil”, considera a gênese do jagunço e do sertanejo, passando especificamente por Antonio Conselheiro até finalizar com a análise de Canudos.

De formação militar positivista, Euclides faz um discurso desfavorável à mestiçagem no Brasil, ao contrário do que faria, em certa medida, Gilberto Freyre. Para o narrador de Os Sertões, “o ramo africano para aqui transplantado” é “filho das paragens adustas e bárbaras” – produto da “ferocidade e da força”. Já o português, herdeiro da “estrutura intelectual do celta”, confere o tom “aristocrático de nossa gens”. Em geral, “o brasileiro […] só pode surgir de um entrelaçamento consideravelmente complexo” – e isso é um problema para o autor-narrador de Os Sertões, pois “não temos unidade de raça […] e não a teremos, talvez, nunca”. Daí ele conclui que “não há um tipo antropológico brasileiro”. O autor nega o extermínio indígena no Norte do Brasil, considerando a extinção do indígena como o resultado “de cruzamentos sucessivos”. O caso do sertanejo é especial para o narrador: trata-se de uma sub-raça que tem em sua composição genealógica pouca ou nenhuma miscigenação – assim, o sertanejo seria forte em função de sua “pureza”, ao contrário de outras sub-raças no Brasil. Assim, “o sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral”. Sobre isso, “a uniformidade […] é impressionadora. O sertanejo do Norte é, inegavelmente, o tipo de uma subcategoria étnica já constituída”. Para Euclides, “a mistura de raças mui diversas é, na maioria dos casos, prejudicial. […] A mestiçagem extremada é um retrocesso […]. O mestiço […] é, quase sempre, um desequilibrado”: um ser nervoso, histérico e incurável; um doente, fraco e decaído. Afinal, “o mestiço é um intruso”.

Euclides da Cunha. Caricatura de Raul Pederneiras (1903)

Através da análise dos efeitos do clima e da composição da natureza (vegetação, p. ex.), Euclides se baseia para concluir que o Norte é inferior em relação ao Sul. Neste, “a terra atrai o homem”; naquele, o repele. Isso se espraia para a concepção de uma cultura superior (Sul) em relação a outra (Norte).

Velha Canudos, estátua de Antônio Conselheiro, ao fundo capela de São Pedro – Foto encontrada no site https://pa4.com.br/home/

Falando sobre Antonio Conselheiro *(de nome Antonio Vicente Mendes Maciel), o narrador aponta, como se fora um herói épico ou romântico (um ser de exceção): “Isolado, ele se perde na turba dos nevróticos vulgares”. Mas também é algum que, assim como entrou para a história, poderia ter entrado para o hospício. Tanto é verdade que Conselheiro é um “doente grave, só lhe pode ser aplicado o conceito de paranoia”. Assim, Conselheiro – de “fisionomia estranha: face morta, rígida como uma máscara, sem olhar e sem risos; pálpebras descidas dentro de órbitas profundas” – “foi um documento raro [e vivo] de atavismo”: infeliz, falso apóstolo, “um gnóstico bronco”, “grande homem pelo avesso”, “um caso notável de degerescência intelectual”, um “anacoreta sombrio [e] monstruoso”; enfim, um ser que se “cristalizou num ambiente propício de erros e superstições comuns”.

Canudos era a “urbs monstruosa, de barro, definia bem a civitas sinistra do erro”. Afinal, “Canudos era o cosmos”, “a Jerusalém de taipa”. E os seguidores de Antonio Conselheiro eram “voluntários da miséria e da dor, eram venturosos na medida das provações sofridas”. Por isso, o narrador recita: “Bem-aventurados os que sofrem…”

*Contribuição do amigo Yurgel Caldas, que é professor de Literatura da Unifap e do Programa de Pós-graduação em Letras (PPGLET) da mesma instituição.

Hoje é o Dia Mundial do Livro

Hoje, 23 de abril, é o Dia Mundial do Livro. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no ano de 1995, em Paris (FRA), durante o XXVIII Congresso Geral. O objetivo é encorajar as pessoas – especialmente os jovens – a descobrirem os prazeres da leitura, disseminar a cultura e fazer com que o maior número de pessoas conheçam a contribuição dos autores de livros através dos séculos. Hoje também é celebrado o Dia dos Direitos de Autor.

Com o escritor, poeta e amigo Fernando Canto, quando o mesmo me presenteou com seu livro “Mama Guga”.

Origem do Dia Mundial do Livro

A Unesco escolheu a data do Dia Mundial do Livro, por ser o dia da morte de três grandes escritores da história: William Shakespeare, Miguel de Cervantes, e Inca Garcilaso de la Vega. Essa é também a data de nascimento ou morte de outros autores famosos, como Maurice Druon, Haldor K.Laxness, Vladimir Nabokov, Josep Pla e Manuel Mejía Vallejo.

Com a escritora, poeta e amiga Alcinéa Cavalcante, quando ela me presenteou com seu livro “Paisagem Antiga”.

Uma tradição catalã ligada aos livros já existia no dia 23 de abril, e parece ter influenciado a escolha da Unesco, pois tradicionalmente, no dia de São Jorge (23 de abril), é costume dar uma rosa para quem comprar um livro. Trocar flores por livros já se tornou costume em outros países também.

Presentes via correio que ganhei do escritor, poeta e amigo Luiz Jorge: seus livros “Thybum”, “Antena de Arame” e “Cão Vadio”

Quando perguntam qual a minha profissão, digo que sou jornalista, assessor de comunicação e editor de um site. Mas que, um dia, gostaria de ser escritor. Bom isso tá muito perto de se realizar (depois conto em outro texto).

Apesar de não ter lido nem metade do que deveria e gostaria, ainda acredito na velha máxima: “ler para ser”. Pois sei que é fundamental para fertilizar as ideias, principalmente na minha profissão. Que tal começar ou terminar um livro hoje?

Elton Tavares
Fonte: Calendar Brasil

“Live Show Meu Canto”, jornalista e músico Aílton Leite apresenta grandes sucessos da MPB na próxima quinta-feira (23)

Nesta quinta-feira, 23, a partir das 20h, o cantor e jornalista Ailton Leite apresentava a Live Show Meu Canto, com grandes sucessos da Musica Popular Brasileira, e será transmitida através da página do artista no facebook (https://www.facebook.com/profile.php?id=100014431669122). A apresentação contará com a participação especial do violonista Claudio Loyolla, o “Bolão”, e do saxofonista Ruan Rebelo.

“A ideia é mostrar um pouco desse projeto musical que devo levar para a noite assim que tudo isso passar. Será um momento muito especial, primeira vez que vamos mostrar esse trabalho através da internet, e a ansiedade, o coração bate acelerado, mas acreditamos que vai dar tudo certo e as pessoas vão poder viajar no tempo com as canções que vamos tocar em aproximadamente uma hora de live”, destacou.

O repertório terá canções de Fagner, Zé Ramalho, Djavan, Alceu Valença, passando por artistas amapaense como Zé Miguel e do paraense Nilson Chaves, clássicos do pop rock nacional, além de homenagens aos grandes ícones da nossa música Moraes Moreira e Tunai que nos deixaram recentemente.

Um pouco sobre Ailton Leite

Ailton Leite, é amapaense, casado, tem 38 anos, e atualmente atua como assessor de Imprensa do Governo do Estado do Amapá. Tem duas grandes paixões na vida: o Flamengo e a música!

Sua história curiosa com a música começou aos 14 anos, quando deu seus primeiros passos cantando em bares e danceterias de Macapá e Santana. As primeiras experiências foram com o brega, bolero e passado. “Acabei descobrindo que não era minha praia, até tentei outras vezes, mas não conseguir me identificar com aquilo. Em 1998, durante a campanha eleitoral, vi um cara tocando violão e cantando MPB em um barzinho na Beira Rio. Ali descobrir o que realmente queria tocar”, frisou

Em 1999, participou do I Festival Jovem da Canção (FEJOCA). Em 2007, participou do projeto De todos os cantos, em homenagem aos 19 anos do município de Santana, interpretando a canção “As dores do prazer”, de Claúdio Loyolla.

Atuando como jornalista desde 2011, já trabalhou em diversos veículos de comunicação do estado, passando pelo impresso, TV e atualmente assessoria de comunicação.

Roteiro de Leitura de “Os Sertões” (Euclides da Cunha) – 1º Capítulo: A Terra – Por @yurgelcaldas

Por Yurgel Caldas

“Canudos é o Cosmos. Euclides, um grego”. Assim começa a apresentação de Ricardo Oiticica para a edição de Os Sertões (1ª edição de 1902) publicada pela editora Record do Rio de Janeiro, em 1998. Nessa apresentação, o referido crítico trata a obra de Euclides da Cunha como uma tragédia clássica, pois o que a narrativa oferece ao público “é do domínio da catarse”, e tem como efeito o terror e a piedade por conta do que oferece o “narrador sincero”.

Se é possível, assim, tratar Os Sertões como uma tragédia e, ainda por cima, “clássica”, não é fácil estabelecer o gênero literário que prevalece nesta obra de Euclides da Cunha (1866-1909). Os Sertões, originalmente, são o produto de uma série de reportagens feitas in loco por Euclides para o jornal O Estado de São Paulo, para cobrir a guerra de Canudos, ocorrida entre os anos de 1896 e 1897. O mesmo livro pode também ser lido como um tratado de antropologia ou sociologia, mas, antes de tudo, serve para explicar o Brasil na transição entre a Monarquia e a República, o arcaico e o moderno, o atraso e o progresso, a barbárie e a civilização, dentre outros pares de oposição que sugerem um mundo maniqueísta e o esforço para acessar a modernidade, cujo modelo é europeu.

Na “Nota Preliminar” a Os Sertões, publicada pelo próprio autor em São Paulo, no ano de 1901, a intenção inicial seria falar sobre “os traços atuais mais expressivos das sub-raças sertanejas do Brasil”. Entretanto, o próprio narrador da obra (nada mais nada menos do que Euclides da Cunha) eleva o sertanejo a uma condição de herói do Brasil esquecido. Tanto é assim que o sertanejo “é, antes de tudo, um forte” e tantos outros epítetos heroicos aplicados ao homem do sertão, que é, no final das contas, o herói dessa tragédia finissecular do Brasil distante demais das capitais e, portanto, da própria modernidade.

Canudos – Foto: Maurício Hora

A Terra

Nas “PRELIMINARES”, o autor descreve o espaço onde se dará a guerra de Canudos. Lá pelas tantas, um parágrafo se inicia da seguinte maneira: “Verifica-se, assim, a tendência para um aplainamento geral” – essa passagem pode ser uma imagem que resgata o desejo de unificação (“aplainamento”) da Nação (“geral”) não mais monarquista, mas agora presidencialista e moderna. Mais adiante: “É a paragem formosíssima dos campos gerais, expandida em chapadões ondulantes – grandes tablados onde campeia a sociedade rude dos vaqueiros”. Aqui já aparecem os que habitam os campos (vaqueiros organizados em sociedades rudes), mas que precisam ser civilizados, posto que são bárbaros. Tratando da cachoeira de Paulo Afonso, o narrador informa: “Ali reina a drenagem caótica das torrentes, imprimindo naquele recanto da Bahia facies excepcional e selvagem”. Podemos entender que aqui a Terra é o Homem; assim, caótico, excepcional e selvagem é também o sertanejo. A região de Juazeiro é uma “paragem sinistra e desolada”. Trata-se de um espaço onde até os “verdadeiros oásis, têm, contudo, não raro, um aspecto lúgubre. Assim, os “mandacarus [apresentam-se] despidos e tristes”, lembrando “monumentos de uma sociedade obscura”.

Euclides da Cunha. Caricatura de Raul Pederneiras (1903)

Um aspecto sempre interessante em se verificar é o tempo, ou como ele é percebido pelo narrador em suas andanças pelos sertões. É uma categoria, assim como na Amazônia estereotipada pela História e pela Literatura, que não evoca o progresso. Para Euclides, mesmo “avançando célere […] o viajante mais rápido tem a sensação da imobilidade”, porque palmilha “um horizonte invariável que se afasta à medida que ele [o viajante] avança”. No povoado da Cansanção, “despontam vivendas pobres; algumas desertas pela retirada dos vaqueiros que a seca espavoriu; em ruínas, outras; agravando todas no aspecto paupérrimo, o traço melancólico das paisagens…”

Guerra de Canudos – Obra que retrata batalha enfrentada em Canudos e que faz parte da exposição em Ribeirão Preto Imagem UOL.

Tratando especificamente do sertão de Canudos, o narrador menciona a seca como “o terror máximo dos rudes patrícios que por ali se agitam”. A seca, “esta fatalidade inexorável”. Em tal espaço e situação, “a luta pela vida […] é mais obscura, é mais original, é mais comovedora”.

*Contribuição do amigo Yurgel Caldas, que é professor de Literatura da Unifap e do Programa de Pós-graduação em Letras (PPGLET) da mesma instituição.