Ayres Britto: “Ou a liberdade de imprensa é completa ou é um arremedo de liberdade”

Do ministro aposentado do Supremo Ayres Britto, relator da ação que derrubou a antiga Lei de Imprensa, editada no regime militar:

“A Constituição não diz ‘é livre’, diz ‘é plena a liberdade de informação jornalística’. Então é um sobredireito. E o pleno é íntegro, é cheio, é compacto, não é pela metade. Então, ou a liberdade de imprensa é completa, cheia, íntegra, ou é um arremedo de liberdade de imprensa. É uma contrafação jurídica”.

Fonte: Espaço Aberto

1984 – O ódio como forma de controle social – Via @giandanton

 


Assim como Farenheith 451, de Ray Bradbury, e Admirável Mundo Novo, de Adous Huxley, 1984 é leitura obrigatória para nossos tempos. Se Robison Crusoe e Gulliver são livros fundamentais para entender o humano, esses três livros são essenciais para entender regimes que tiram dos indivíduos sua humanidade e individualidade.

Não é por acaso que os três foram escritos no século XX, período em que surgiram regimes autoritários de esquerda e de direita.

Embora erre ao imaginar que esses regimes seriam impostos às pessoas (é cada vez mais óbvio que são as próprias pessoas que optam por esses regimes pois eles são mais confortáveis, algo muito bem explorado no livro de Bradbury), Orwell acerta em muitas características desses regimes. Algumas delas:

– A crença em um salvador da pátria, em que alguém que irá salvar a todos, levando-os ao paraíso na terra.
– O grupo se sobrepondo ao indivíduo.
– E o principal deles: o ódio. Não é por acaso que um dos momentos mais importantes do livro são os cinco minutos de ódio. Regimes autoritários são construídos a partir do ódio. O ódio a quem é diferente, o ódio a quem pensa diferente. Um medo que se transforma em ódio, pois as pessoas são convencidas de que há um eterno perigo e a única salvação é o ódio, é a eliminação de quem pensa diferente do líder.

Fonte: Ideias Jeca Tatu

Moedas e Curiosidades – “Notegeld da Amazônia” – Por @SMITHJUDOTEAM

Por José Ricardo Smith

Depois de uma longa e sofrida procura, finalmente encontrei e adicionei na minha coleção as cédulas literárias “Palavras”. A moeda social intitulada “Palavras” foi criada para ser utilizada na compra de obras literárias durante a II Feira do Livro do Amapá (FLAP), que se realizou no período de 26 de outubro a 1° de dezembro de 2013 em Macapá-AP.

Como tema “Leitura e Sustentabilidade”, a II Feira do Livro do Amapá foi uma excelente idéia para cultivar o hábito da leitura nos estudantes e o público em geral, e para isso contou com a seguinte programação: venda de livros, exposições, palestras, mesas de debates e apresentações de artistas em vários pontos da capital amapaense.

A moeda literária “Palavra” homenageia escritores e personalidades do Amapá, com valores e cores específicos nas cédulas.

O maranhense Simão Alves de Souza (1932-2019), conhecido como “Simãozinho Sonhador” ficou famoso por escrever poesias de cordel. Ao todo foram 22 livros escritos pelo ex-malabarista de circo, entre eles o “ABC da Mulher”, obra mais famosa do poeta.

O paraense Antônio Munhoz Lopes (1932-2017), conhecido como “Prof. Munhoz” dedicou quase 60 anos de sua vida à educação, poesia, música e história do Amapá.

O paraense Alcy Araújo Cavalcante (1924-1989), foi um escritor, poeta e jornalista que veio para Macapá em 1953. Alcy sempre esteve envolvido com as atividades culturais e intelectuais no Amapá, principalmente a literatura.

A paraense Zaide Soledade (1934-2015), apaixonada pela educação a professora Zaide foi estudar Pedagogia para aprender e ensinar melhor. Estudou também: Artes Dramáticas, Educação Física, Letras e Artes, entre outros cursos, inclusive na área de saúde.

A paraense Aracy Miranda de Mont’Alverne (1913-2002), conhecida como professora Aracy, teve brilhante atuação como poetisa, declamadora, musicista, escritora e teatróloga no estado do Amapá.

* José Ricardo Smith é professor e numismático.

MAS PERA LÁ, É PAQUERA OU É ASSÉDIO? – Por Mariana Distéfano Ribeiro

Por Mariana Distéfano Ribeiro

Eu escrevo muito sobre feminismo. E escrevo porque falo e estou sempre refletindo sobre as situações da vida que a gente passa e que outras mulheres passam. É assim que acontece, depois que a gente desperta a mente, os ouvidos, os olhos e os sentidos, é que a gente descobre que devia ter reagido a muitas situações que passamos e vimos passar e que nem tudo é brincadeirinha e nem sempre é sem querer.

Mas, depois de escrever e revisar alguns textos sobre feminismo, depois de repensar algumas atitudes e reações minhas, fiquei imaginando se eu poderia ter exagerado em alguma coisa ou de alguma forma. É que detesto incoerência, em qualquer lugar ou qualquer coisa. Ainda mais quando percebo desconexão lógica e argumentativa em alguma coisa que falei ou que escrevi.

Porque, quem nunca riu de uma piadinha de putaria? Quem nunca ouviu um “ê lá em casa” e até curtiu? Aí me perguntei: mas um “ê lá em casa” é assédio ou é uma cantada? Eu posso ser feminista e gostar de ouvir um funk de mexer a raba? Uma cantada chula, é só xaveco ou pode se transformar num assédio?

Aí, mais uma vez, depois de refletir um pouco, a ficha caiu e minhas dúvidas foram sanadas. Então vamos lá, vamos esclarecer esses pontos.

Direto e reto: a diferença entre assédio e cantada está no CONSENTIMENTO. Se você está numa festa de carnaval, por exemplo, e um cara chega em você pedindo um beijo, com uma cantada bem escrota do tipo “ei gostosa, vamo dar uns pega?” e você diz “ah, num tô fazendo nada, bora lá” – isso não é assédio! É uma cantada, é só uma paquera, porque teve o seu consentimento.

Agora, se o cara chega com a mesma cantada e você diz “não amigo, muito obrigada”, e o cara insiste com um “ah coé? Eu vi você beijando vários caras já, vamo dar uns amasso…” e você insiste que não quer, aí o cara insiste que quer e te xinga ou te puxa à força, aí sim é assédio. Aqui não houve o seu consentimento, você demonstrou a sua recusa, disse claramente que não. Entendeu?

Tudo depende do bom senso de cada um e do limite de tolerância que cada um tem. Mas fato é: se alguém te abordar de qualquer forma, desde que não haja violência física, e você demonstrar não gostar da abordagem, deixar claro que não quer, e a pessoa te deixar em paz, não há assédio, nem abuso. Talvez uma ofensa à sua honra, à sua moral, ou aos seus princípios, mas aí já é outra história.

Fato é que, se a pessoa respeitou o seu “não” e parou de fazer o que quer que seja que estivesse fazendo, não estará configurado o assédio.

Mas isso não quer dizer que você precise aturar aquele coleguinha que toda vez que te encontra te abraça como se estivesse se esfregando em você, nem que você precise escutar calada aquela piadinha sexista que te ofende. Nesse caso, deixe claro que você não concorda com aquela abordagem ou com aquele comentário. E não tem que ter medo de falar. Tenha certeza, sempre vai ter alguém falando que você está exagerando. Deixa falar e seja firme.

A figura feminina foi legalmente e culturalmente tão oprimida e por tanto tempo que é meio difícil mesmo quebrar esse paradigma agora. Mas as paqueras e as cantadas saudáveis são muito bem vindas sim, desde que sejam consentidas.

Vovó já dizia “o que um num quer, dois não fazem”. E se o um insistir, é assédio sim.

*Além de feminista com orgulho, Mariana Distéfano Ribeiro é bacharel em Direito, servidora do Ministério Público do Amapá e adora tudo e todos que carreguem consigo o brilho de uma vibe positiva.

SER SOLIDÁRIO – Crônica de Fernando Canto

Por Fernando Canto

Ao sair de casa na manhã de uma quinta-feira, a jornalista Andréia Freitas se viu numa situação inusitada. Na esquina de sua casa um casal de velhos pedia socorro aos passantes porque a senhora passava mal. Ela se prontificou em ajudar, colocou os dois no carro e foi direto para o Hospital de Emergência. No caminho a mulher se debatia e o velho rezava. Desesperada de tentar chegar a tempo e salvar a vida da mulher, Andréia tentou furar sinais, solicitando espaço aos motoristas, mostrando a urgência de ultrapassá-los, tendo os faróis e o pisca – alerta ligados. Contudo, os motoristas não a deixavam passar, o que notadamente contribuía para o atraso de sua missão àquela hora da manhã.

A duras penas chegou ao hospital gritando para que socorressem a senhora, até que alguém veio com uma cadeira de rodas ao invés de uma maca. Como tinha que dar seu expediente no trabalho, voltou mais tarde ao hospital, onde lhe informaram que senhora já havia chegado morta, após fulminante infarto que ela não percebera no trajeto.

Mesmo tentando se controlar do estresse pelo qual passara, a jornalista chegou a passar mal com a notícia, pois esperava ter salvado a mulher. Então um misto de tristeza e impotência lhe abateu.

Esta história verdadeira nos faz pensar na solidariedade de poucos heróis anônimos urbanos, ao mesmo tempo em que olhamos Macapá hoje praticamente assemelhada aos grandes centros, onde a desconfiança e a falta de urbanidade se alastram como produtos do individualismo, da competição e do medo.

Embora pequena, nossa cidade começa a ter características urbanas, não apenas pela violência nas ruas, como gangues, trânsitos e assaltos, mas por essa ausência de olhar o “outro” como olhávamos até há pouco tempo. Éramos talvez uma família pronta para ajudar os mais necessitados e aqueles que vinham de longe em busca de um lugar melhor para viver. Pelo prestígio de cada chefe de família trabalhador se podia conseguir emprego aos que chegavam “com uma mão na frente e outra atrás”. Dávamos esmolas conhecendo a realidade do pedinte e ninguém acreditava em lendas importadas de outros centros urbanos, como as que diziam serem os mendigos pessoas ricas que investiam seu dinheiro – produto da caridade alheia – em compras de casas e carros. Todo mundo conhecia o seu Chico Mocó e a Cega do Morro do Sapo, lá do Laguinho, que nem sempre pediam dinheiro, mas mantimentos para suas famílias, já que eram notórios deficientes físicos e não podiam exercer plenamente atividades rentáveis. Mas isso não era importante. O importante era ficar bem com a sua consciência solidária, certamente avivada pelos preceitos religiosos que faziam as pessoas ficarem mais felizes e cumpridoras de seus deveres espirituais.

Talvez eu esteja sendo um pouco romântico ou mesmo saudosista ao enfocar este tema. Porém, não tenho a menor vergonha de dizer, sim, que fui ajudado por amigos nas horas mais difíceis, que fui solidarizado e defendido em situações de agressões espúrias e infundadas e que sou grato a muitos, anônimos ou não, que me levantaram quando vacilei na caminhada. Embora particularize uma história, vejo que a solidariedade não sumiu totalmente da nossa vida. Observo sucessivas campanhas realizadas por instituições sérias; admiro aquelas que poderão realizar o sonho de muitos (ainda que suscitadas possíveis irregularidades fiscais na Internet), e acompanho atentamente entidades locais que têm satisfação em ajudar aqueles que necessitam.

O medo, a violência e o individualismo geram consequências atrozes, posso reiterar aqui, pois, se de um lado o ser humano torna-se mais egoísta, em função do status quo que alcança na sociedade, de outro se percebe o crescimento da miséria humana, notadamente entre uma juventude que não consegue se desvencilhar das drogas que torna os indivíduos presos a uma anomia irreversível.

As praças dos velhos tempos – Crônica porreta de Fernando Canto

 

Crônica de Fernando Canto

Creio que todos nós nos lembramos de algum logradouro público da cidade como um espaço que marcou determinado momento de nossas vidas. E, claro, nada como um passeio nas praças de Macapá para fazer vir à tona os clipes nos quais fomos felizes protagonistas ou solitários incompreendidos frente às decepções e vicissitudes que a vida traz, inexoravelmente.

Quando Macapá era menor um passeio à praça significava um caminho para a conquista. Depois da missa ou depois da matinê do cinema, um toque na mão da namoradinha, um ousado “tocha” na despedida era “a glória” dos enamorados, era o sonho realizado sob o embalo da canção romântica interpretada por Ronnie Von que tanto sutumblr_mdlmayxg841re4txro1_500_largecesso fez na década de setenta. Alheios aos acontecimentos políticos, nem dávamos conta das transformações que se operavam no país naqueles tempos. O importante era a afirmação como homem e a curtição daquilo que chegava a nós de forma inócua, como os modismos americanos: a calça Lee, os cabelos longos e o som do Credence Revival de do Jonnhy Rivers, que o Agostinho e o Velton esnobavam em danças supostamente de moda para agitar a juventude nos salões dos clubes da cidade. A versão tupiniquim do calhambeque do Roberto Carlos e das roupas e sapatos da novela “Cavalo de PraçadaBandeira-fotos-antigas-de-macapá-433Aço”, também faziam sucesso, mesmo que a ainda não tivesse televisão funcionando em Macapá.

Nessa época todas as atividades cívicas se concentravam na Praça da Bandeira, bem como a do Barão (área em frente aos Correios) era usada para educação física dos alunos dos colégios próximos e a Veiga Cabral (área onde está hoje o Teatro das Bacabeiras) servia para a instalação de circos e arraiais de festas de santos. A da Bandeira fora a Praça da SPraça-Veiga-Cabral-2audade, onde havia três velas enormes em homenagem ao deputado Coaracy Nunes, ao promotor e suplente de deputado Hildemar Maia, e ao piloto Hamilton Silva, mortos em acidente no Macacoary, no final dos anos cinqüenta. A do Barão era a antiga Praça São José, onde ficava o pelourinho na planta desenhada pelo engenheiro João Gaspar de Gronfelds, em 1761. Depois virou Largo de São João e finalmente Barão do Rio Branco, no início do Território Federal do Amapá. A que hoje chamamos Veiga Cabral já foi a Praça de São Sebastião, onde foi fSem títuloundada a Vila de Macapá pelo governador Mendonça Furtado. Situada em frente à Igreja de São José, entre as ruas Formosa (hoje Cândido Mendes) e São José (a única que não mudou de nome desde a fundação de Macapá), já foi palco do Marabaixo, de comícios e de muitos concertos musicais realizados no coreto pelas bandas dos alunos do Padre Julio Lombaerd e do Mestre Oscar.

Vale ressaltar que nessa planta de Gronfelds, só havia então duas praças, e Macapá começava a ser planejada espacialmente por ele, cujas concepções nós estamos usufruindo até hoje. Segundo o urbanista e professor Alberto TostesOs Mocambos (1972), os grandes quarteirões e as ruas largas foram idealizados por Gronfelds porque o nosso clima quente e úmido é de massa equatorial, então toda a força para suprir essa diversidade vinha exatamente do rio Amazonas, daí a sua preocupação, antes mesmo da construção da fortaleza de São José, em planejar ruas largas e imensos quarteirões, em contraste com as ruas estreitas das cidades européias e coloniais. Ao resto, o engenheiro militar idealizou um grande sombreamento a partir do plantio de árvores para fazer a cobertura climática, o que suscita uma visão sustentável de cidade concebida há quase 250 anos.

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“A Praça é do povo”, recitava impetuosamente Castro Alves, é nela que se cruzam diariamente sonhos e textos, interesses e esperas, risos e lágrimas e tudo o mais que os seres humanos deixam escapar pelas janelas da alma. Suas aparências, sem dúvida, como dizem os pára-choques de caminhão, refletem o estado administrativo da cidade: são os espelhos das intenções e dos gestos políticos. Por isso, então, merecem os mais profundos cuidados no corte da grama, na poda de árvores e no conserto dos passeios e bancos, usados freqüentemente poempinando pipa (25)r quem tem pouca mobilidade. Não podem ficar à míngua, tomadas pelo mato, como a que existe na descida em frente à residência governamental, um velho e rasgado cartão postal, destruída por vândalos e esquecida pelo poder público, sob o testemunho triste dos velhos coqueiros balançantes na contraluz da nascente.

*Fotos encontradas nos blogs da Alcinéa, Alcilene e Porta Retrato.

OS SOCIÓLOGOS E O MERCADO DE TRABALHO – Crônica de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Compartilho da preocupação dos alunos dos cursos de Ciências Sociais (Bacharelado e Licenciatura) das faculdades do Estado do Amapá. Suas inquietações não são hoje mais do que intelectuais e acadêmicas, mas de sobrevivência. Os formandos estão na expectativa de concursos públicos, principalmente na área da docência, visto a obrigatoriedade do ensino da Sociologia nas escolas. Porém, muitos sociólogos também tecnicamente bem preparados que se formam em outros estados voltam para cá com o mesmo objetivo, encontrando, todavia um mercado que não se abre facilmente devido à concorrência com profissionais de áreas afins.

Embora o momento seja de crise e recessão, o mercado empregador se movimenta de acordo com as decisões políticas e as intervenções econômicas, podendo crescer ou se retrair. E é nessa hora que surgem as oportunidades de se ampliarem as condições para a absorção do sociólogo em muitos ramos do conhecimento e de atuação de governos e empresas. O profissional da Sociologia aprende a ser criativo na adversidade e pode usar seus conhecimentos teóricos para resolver problemas que se avistam ou que já estão incrustados na realidade. Além do Estado e do Mercado hoje se vê sociólogos trabalhando ativamente no Terceiro Setor, através de gerenciamento de projetos, que é um conjunto de conhecimentos e ferramentas capazes de contribuir para o alcance de objetivos propostos em um esforço temporário, onde os recursos são sempre limitados, onde uma idéia é transformada em plano de trabalho para gestão, comunicação ou captação de recursos entre parceiros envolvidos. As ONGs e OSCIPs, apesar de trazerem o estigma da “picaretagem” têm um grande potencial de mercado de trabalho no Brasil.

Em todas as faculdades o curso de Ciências Sociais dá uma formação generalista, portanto cabe a cada um especializar-se onde quiser, mas que se volte para uma formação mais empreendedorista e em projetos e pesquisa. Não se pode deixar de lado o investimento em idiomas e informática e a atualização na internet. Deve-se tentar entender a realidade como sociólogo e para tanto, quem procura emprego na área, tem que correr atrás de atividades correlatas, como por exemplo, entrevistador, tabulador, assessor e outros. Militantes xiitas de academias estão com os dias contados face os novos tempos.

A Sociologia abrange várias áreas humanas, desde as relações familiares às organizações de grandes empresas, desde o papel da política na sociedade ao comportamento religioso. Interessa a administradores, políticos, empresários, juristas, professores em geral, publicitários, jornalistas, planejadores, sacerdotes e ao homem comum. Entretanto não explica – e nem pretende explicar – tudo o que ocorre na sociedade, pois muitos acontecimentos humanos fogem a seus critérios (Ver revista Sociologia nº 7.)

A profissão de sociólogo foi reconhecida em 11 de dezembro de 1980 após a Lei nº 6.888 (sancionada pelo então presidente João Batista de Oliveira Figueiredo no dia anterior) ser publicada no Diário Oficial da União. A lei assegura aos profissionais, nos termos da legislação complementar, a docência de sociologia e as sociologias especiais nos três níveis de ensino no país. Em 1983 o Ministro do Trabalho Murilo Macedo edita a Portaria nº 3.230 de 15 de dezembro daquele ano, que enquadra a profissão de sociólogo no 31º grupo da Confederação Nacional dos profissionais Liberais –CNPL. Em 1984 a profissão é regulamentada pelo Decreto nº 89.531 de 05 de abril, publicado no Diário Oficial da União no dia 09 de abril. No Amapá um grupo de sociólogos fundou a sua Associação em 1985, tendo como primeiro presidente o sociólogo Nelson Souza. Atualmente está desativada.

27 anos sem Freddie Mercury (o melhor vocalista da história do Rock)

Foi em 1991, no dia 24 de novembro.

Há duas décadas e sete anos, morreu Farrokh Bulsara, o “Freddie Mercury” (nome artístico do cantor). Sim, faz 27 verões que o mundo perdeu o maior vocalista de Rock and Roll da história e um dos maiores cantores de todos os tempos. Eu tinha 15 anos e lembro bem que, na época, sua morte causou repercussão e tristeza em todo o mundo.

Após ficar muito doente, surgiam rumores de que estaria com AIDS, o que se confirmou afinal, através de uma declaração feita por ele mesmo em 23 de novembro, um dia antes de morrer.

O inglês foi vocalista e líder da banda britânica Queen. Também lançou dois discos-solo, aclamados pela crítica e pelo público. Ele foi um dos maiores cantores do Rock and Roll. Além de melhor frontman que já pisou na terra, o cara dominava a plateia com sua performance e vozeirão.

O cara era foda cantando Rock, Pop, Ópera ou o que se propusesse. Não à toa, é um ícone do Rock and Roll e virou um mito na história da música mundial.

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Freddie, como muitos outros seres incríveis que passaram por aqui nesta existência, foi um cara com um talento espantoso. Pessoas assim se eternizam na memória e no coração dos fãs, como eu e outros milhões de apreciadores do Rock and Roll. Sua história foi retrata este ano, no filme Bohemian Rhapsody. aliás, filmaço que rendeu essa resenha CLIQUE AQUI. 

Valeu, Fred!

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Não quero mudar o mundo. O que mais me importa é a felicidade. Quando estou feliz, meu trabalho reflete. No final, os erros e as desculpas são minhas. Gosto de sentir que estou sendo honesto. No que me compete, quero aproveitar a vida, a alegria, a diversão, o máximo que puder nos anos que ainda me restam” – Freddie Mercury.

Elton Tavares

Fernandinho Bedran gira a roda da vida nesta terça-feira (13). Feliz aniversário, irmão!

Gira a roda da vida, nesta terça-feira (13), o marido apaixonado da Elainy Alfaia (outra que é um lindeza de pessoa), libanês da Cidade Velha, Rosa-Cruz, degustador de heinekens tuíras, presidente da Divisão Internacional da Vida Alheia (D.I.V.A.) no Amapá, recordista intergalático de gentebonisse, mestre em paidéguice boêmia, fabricante e sócio-diretor da PimentArte do Brimo, administrador comercial, fã dos quadrinhos (principalmente de Asterix), amante de boa música, locutor e DJ da Rádio Fuleiragem, ilustre morador de Santana e do Amapá há 21 anos, melhor papo de bar que conheço (onde ele é também meu providencial conselheiro), além de querido irmão de vida, Fernando Bedran.

Conheci Bedran há mais ou menos 20 anos, em uma reunião de amigos. Quando entrei na festa, ele arranhava um violão e cantava Sessão das 10, do Raul Seixas. Foi empatia na hora, pois aquele bicho animava o ambiente, como é de seu feitio. De lá pra cá, fortalecemos a amizade e bebemos juntos (às vezes bem e noutras mal acompanhados) uns dois rios amazonas de cerveja.

O Bedran é um cara ímpar. Sério, não é clichê, pois nunca conheci um figura igual a ele. Trata-se de um cara paid’égua à máxima potência multiplicado ao cubo. Além de sábio, dono de vasta cultura geral e extremamente inteligente, ele é um homem de bem. Fernandinho é daqueles que não falam mal de ninguém. A não ser dos filhos da puta, pois estes ele combate em tempo integral, assim como todos deveríamos fazer.

Longe da larga e comprida esteira dos “Maria vai com as outras”, Bedran é um cidadão tenaz, coerente, instigado, de visão crítica e justa, que promove a reflexão nos que lhe cercam. A gente admira o sacana. Paralelo a isso, é um doidão que não cultiva mágoas ou rancores. Só dispara contra pessoas sórdidas ou hipócritas (só uns 2%, pois nos outros 98 o cara é só alegria).

Já disse e repito: Bedran é uma das pessoas que mais gosto de ter por perto, por conta da energia boa e positividade que o figura irradia. Um figura que usa o hemisfério esquerdo do cérebro para o bem dele e de quem o cerca.

Fernando Bedran não é jornalista, poeta ou escritor por pura falta de vontade, pois ele tem talento, senso crítico, ins-piração e conhecimento demais. Certamente seria caralhento em qualquer uma dessas atividades (ou em todas). Só para vocês terem uma ideia, o Fernando Canto escreveu o conto Mama-Guga (que nomeia seu livro de mesmo nome), realismo fantástico de primeira linha, inspirado em papos com o Fernandinho. Avalie!!

Ontem mesmo, ao tratarmos de um assunto escrotaço, Fernandinho disparou: “não sou e jamais pretendo ser curador do Mundo e de seus dramas,mas me reservo (depois de muito ter apanhado) a não contrair karma daquilo que não me é permitido aprofundar”, disse o Bedran. É assim que o brother é, lúcido e sensato. Foi um tiro na conversa, que morreu para dar lugar a um papo melhor.

Meio bruxo, meio alquimista, parece que o maluco veio enviado de outra dimensão para disseminar alegria, disparar sacadas geniais, sarcasmo boêmio, ironia fina e pérolas da boa sacanagem (ao som da sua inconfundível gargalhada). Outra coisa que sempre repito é a frase do meu irmão, Emerson Tavares: “Bedran é melhor para tomar cerveja do que tira-gosto de charque”. E é mesmo!

O saudoso jornalista Tãgaha disse: “gente do bem é outra coisa, passa e deixa rastros”. Bedran é assim.

Por tudo dito e escrito acima, a gente ama esse cara. Falo por mim e pelo nosso grupo de amigos “boçais e fuleiras”, com quem muito me honra dividir poucas tristezas e muitas alegrias nesta vida.

Fernandinho, meu irmão, que tenhas sempre saúde e sucesso. Que Deus siga a iluminar teu caminho no qual sempre segues a luz. Tu és um cara Phoda demais. Te admiro muito. Que tua vida seja longa. Meus parabéns e feliz aniversário!

Elton Tavares

Ninguém se iluda: o dia seguinte deve ser pior. Muito pior.

Os brasileiros, parodiando Euclides da Cunha, são antes de tudo uns fortes.

E otimistas, vale acrescentar.

Nesses grupos de WhatsApp, fontes inesgotáveis de mentiras, baboseiras e fanatismos de todos os lados e de todas as preferências políticas e ideológicas, há debandadas gerais.

“Volto depois das eleições”, avisam os que saem.

O depois, eles acreditam, é a segunda-feira, 29 de outubro, quando terão terminado as eleições e Jair Bolsonaro (PSL) já será o novo presidente da República eleito – a menos, é claro, que o mar vire sertão ou o sertão vire mar.

Esses brasileiros que estão batendo em retirada, repita-se, são uns fortes e otimistas.

Porque prevejo, sinceramente, que o depois das eleições será pior, muito pior, do que esta fase que vivemos.

Porque será a hora em que os vencedores, muito provavelmente, haverão de se considerar empoderados aos extremos e, com esse sentimento, muitos se acharão no direito de ditar suas normas em nome do capitão.

Porque será a hora em que os vencidos, muito provavelmente, encontrarão a oportunidade de, em tudo e por tudo, elevarem o seu nível de vigilância como oposicionistas, o que será bom; mas, se caírem também eles no extremismo, isso será péssimo. Para não dizer trágico.

Nem a propósito, uma nota na Painel, a principal da coluna da Folha de S.Paulo, nesta quarta-feira (24), diz o seguinte:

Integrantes da cúpula das Forças Armadas demonstram preocupação com a possibilidade de o clima de beligerância no país se intensificar após a eleição. Comandantes do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e outros nomes de alta patente militar têm conversado sobre o receio de que grupos radicais, de ambos os lados, pratiquem atos de violência após o segundo turno. Os militares pregam que o próximo presidente faça da conciliação nacional prioridade após a votação no domingo (28).

Entenderam?
Não se iludam, portanto.
Não nos iludamos.
O dia seguinte será pior, muito pior.
Mas tomara que não.

Fonte: Espaço Aberto

VInte e quaTro cARAS – Crônica de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Vinte e quatro ladrões deidéisalheias, vinte e quatro Karaikos sem identidade, vinte e quatro alimárias, vinte e quatro fedegosos, vinte e quatro desativos, vinte e quatro legistijolos, vinte e quatro esbugalhados, vinte e quatro moscamortas, vinte e quatro sanguesugas, vinte e quatro harpias, vinte e quatro térmitas, vinte e quatro algoterríveis, vinte e quatro dãoecomis, vinte e quatro manganeses, vinte e quatro poluídos, vinte e quatro deolhonodinheiro, vinte e quatro aves de rapina, vinte e quatro cabrassafados, vinte e quatro esconjurados, vinte e quatro trajanotraidores, vinte e quatro povoenganadores, vinte e quatro zangarrilhos, vinte e quatro ligeiros, vinte e quatro enviados do Fute e uns três ou quatro separados do veneno.

Vinte e quatro pinguinsebosos, vinte e quatro festativos, vinte e quatro silvériosdosreis, vinte e quatro ferrabrases, vinte e quatro alucinados, vinte e quatro curupiras, vinte e quatro bestas do apocalipse, vinte e quatro pseudoretardados, vinte e quatro vampiros da floresta, vinte e quatro carcinomas metastásicos, vinte e quatro xixilados, vinte e quatro decadentes e uns dois ou três que ainda tem olhos.

Vinte e quatro bobovelhos, vinte e quatro morcegos hematófagos, vinte e quatro reiscaldeira, vinte e quatro bailesdemáscas, vinte e quatro ratosdeesgoto, vinte e quatro judas, vinte e quatro traíras, vinte e quatro solipsos, vinte e quatro surucucus, vinte e quatro lacraus, vinte e quatro pretensos nababos, vinte e quatro pantagruélicos, vinte e quatro onívoros, vinte e quatro lambe-sacos-e bigodes, vinte e quatro pantófagos, vinte e quatro pinóquios, vinte e quatro febres quartãs, vinte e quatro cleptomaníacos, vinte e quatro xerimbados, vinte e quatro blefadores, vinte e quatro assimdeolho, vinte e quatro oxiúros, vinte e quatro cabas-de-igreja, vinte e quatro nanicos anatematizados e um ou dois votovencidos.

A Racionalização de Sentimentos – Por @Cortezolli

Tem amigos que você não consegue identificar quais das qualidades deles mais te agradam, apenas gosta da pessoa e a quer por perto.

Tem também amigos que completam o que falta em você, te apresentam outros pontos de vistas, novas possibilidades.

Quando você se apaixona por alguém, quer que este alguém aprove seus amigos e vice-versa. Já que estes últimos são a família que você escolheu. Então, partindo desse pressuposto, é possível identificar o que falta em si mesmo, o que falta neles que você consegue completar, o que os motivam a alimentar sempre essa amizade e não importa a distância ou qualquer outro artifício… Seu desejo é manter a paz entre as pessoas que ama e ponto.

Aprendi muito com os amigos que tenho… Aprendi também com os inimigos e pessoas que não eram nem uma coisa, nem outra. O que importa é que aprendi… E isso me pertence!

Então, as situações novas ou, não tão novas assim, são expostas e expõem você, te testam e com base no aprendizado… se pode evoluir… Tá o papo parece coisa de gente convertida, só que não é… Rsrs. É outra vibe, é melhor.

Quanto a algumas pessoas, você apenas não quer desistir delas, porque alguém, em algum momento não desistiu de você. A ação se assemelha àquelas voltas que a roda do mundo completa, ou o movimento de translação da terra… Escolha a sua própria teoria e não queira tudo mastigado também.

Enfim… Te ajudou, te reergueu, com uma palavra, um gesto, uma expressão que o sacudiu, não importa como, foi útil. E, você precisa pagar, ajudando quem quer que seja. Sei lá, tudo tem um preço.

Essa viagem meio sem nexo, serviu para dizer que ontem tive vontade de bater em alguém de quem gosto, queria que a pessoa em questão acordasse, parasse de sentir pena de si mesma, ouvisse as barbaridades que disse sobre quem é… Aprendesse a se amar antes de qualquer coisa.

Então, respirei fundo: E não o fiz!

Não é do meu feitio a agressão física, prefiro a psicológica ou a verbal, duram mais… Tá, atirar coisas até rola, mas bater, não.

Eu e Hellen Cortezolli

Lembrei do Eltão na hora… por se tratar de um amigo que nunca desistiu de mim, que nunca me abandonou quando estive no limbo. Que é minha versão masculina na “porralouquice”, mas também por equilibrar muitas vezes minha fúria infundada, com um deboche apropriado.

Amizade não se agradece como o Ewerton França me ensinou… Mas, eu precisava muito compartilhar contigo e com quem tiver capacidade emocional e intelectual para entender, que minha família é importante, que a família que escolhi é tanto, quanto. E que sou grata às conspirações do universo por te ter como meu amigo!

Te amo!

Hellen Cortezolli

Tudo finito, tudo infinito…(lindo texto de Carla Nobre)

Amanheci pensando em Deus e na minha professora de 3ª série. Ela que me ensinou essa coisa complicada de conjunto finito e infinito. Aquele círculo fazendo um cercadinho em três bolas, duas pessoas ou cinco sorvetes. Finito. As estrelas e os números. Infinito. Parecia simples de entender e acho que até consegui um 10. O grande problema a resolver é que a gente vai ligando os conceitos ao longo da vida e a classificação exata dos conjuntos vai se complicando.

Deus entra nessa história quando criou tudo bonitinho no cercado do paraíso. O primeiro homem, a primeira mulher, a nudez, a vida, a maçã, a serpente e até descansou no sétimo dia, achando talvez que seu conjunto tinha ficado perfeito. Aí, penso eu, os dias foram se passando e o conjunto do paraíso com toda a vida e a beleza, ficou um pouco imperfeito para Deus. Penso ainda mais, ele deve ter tido uma boa conversa com a serpente para que ela o ajudasse na empreitada de fazer com que o mundo, seu lindo mundo, se ampliasse para além daquele cercadinho finito.

Eu, parece que vejo a serpente dizendo, – mas Senhor, vou acabar levando a fama da maldade, imagina tirar duas pessoas da vida perfeita… – não tem problema, disse Deus com aquele jeito de pai, – eu te dou o veneno e as cores certas para você espantar essa fama. E aproveito para deixar você com o sangue frio necessário para entender quem adora julgar. E assim foi feito. Deus ajudou a gente a sair do paraíso e a conhecer um pedaço do seu conjunto infinito. É engraçado como as vezes podemos marcar o dia de um nascimento, até mesmo a hora exata, escolher as condições melhores… mas o dia da morte, desde que perdemos o paraíso, vem sendo uma surpresa a mais na bondade de Deus. Nos pega desprevenidos.

Talvez para que possamos perceber que os tais conjuntos finitos e infinitos são realmente complicados. Há sempre grandes perguntas sem respostas quando temos em um cercadinho três bolas, duas pessoas, cinco sorvetes… e o que dizer das três marias da infância? Ou ainda de um simples número ímpar? E em que conjunto colocar ao certo o momento da partida de alguém? De repente todos os possíveis conjuntos finitos desse alguém viram infinitos conjuntos de lembranças espalhados no cosmos… eu amanheci com vontade de reencontrar minha professora e pedir que me tirasse aquele possível 10 que peguei na 3ª série.

Acho uma injustiça não ter aprendido a beleza dos conjuntos finitos. E se pudesse agradecer a Deus por alguma coisa do conjunto infinito que ele nos deu, eu agradeceria o conjunto finito da minha vida. É que assim acho que entendo mais dos conjuntos infinitos que cabem nos conjuntos finitos dos dias que reparti um sorvete com algumas pessoas amadas e daqueles dias que findei a tarde jogando queimada com uma bola velha e alguns amigos de infância… tudo finito, tudo infinito…

Carla Nobre é poetisa, escritora, professora e militante cultural.

O ADVÉRBIO É UM TERMO ACESSÓRIO! (crônica de @Ricobluesman)

Crônica de Ricardo Pereira

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Não tenho medo da dor. Não tenho medo do sofrimento. Já tive. Hoje aprendi a encará-los de outra maneira. Aprendi que tudo tem começo, e, se tem começo, vai ter fim. O problema, de fato, consiste em saber administrar o advérbio de tempo. Administrar a ansiedade, a própria dor e a incomensurável pena que sentimos de nós mesmos.

Isso não vem de hoje. O homem sempre teve dor, sempre sofreu, e fez questão de demonstrar isso falando, cantando, chorando, brigando, gritando, enfim… desabafando todo seu sentimento. Basta ler as cantigas medievais para se dar conta disso. Minha professora de literatura portuguesa, na universidade, disse certa vez uma coisa interessante sobre o tema dessas cantigas: “Observem que os autores dessas obras não cantam doreimages11s que fazem parte apenas do universo do homem medieval, mas do universo do próprio homem, incluindo-se aí as dores do homem contemporâneo”.

Ela sabia o que dizia. As dores são as mesmas, as causas também. O que muda são os atores, o ambiente e… o advérbio de tempo! Fora isso é tudo igual. O homem em sua essência não muda.

Por seu caráter egocêntrico, o homem tende a voltar-se sempre para o próprio umbigo e minimizar a dor alheia. A sua sempre é maior, mais dorida. É compreensível então que a autocomiseração aflore nos momentos em que sofremos. Às vezes ela – a autocomiseração – é justificável. images-26Eu até a entendo, entretanto, não gosto dela. Parece-me uma fraqueza ridícula e uma tentativa de chamar a atenção dos outros para si (principalmente do pivô da dor). Digo isso sem o orgulho besta de quem se diz imune à dor. Eu não lhe sou imune, eu a sinto, mas não a temo. Antes, convivo com ela. Deixo-a ter o seu momento para que ela saiba que eu também terei o meu, quando a abandonarei e novamente iniciarei minha busca. Talvez por novas dores, não sei. Mas tudo na vida é ciclo: há o início, o meio e o fim.

Temor, desconfiança e medo são sentimentos próprios do homem. Não devemos fugir deles, e nem enfrentá-los, mas compreendê-los, aceitá-los. Talvez assim entendamos melhor que ele, o medo, e ela, a dor, não são tão maus assim. São naturais, como diria Alberto Caeiro (muito embora ele não achasse tão natural pensar).

images-43Uma frase – não sei se é mesmo minha, ou se ouvi nalgum lugar, mas que me acompanha desde muito tempo – sintetiza: “Não tenha medo de sentir medo”. Costumo lembrá-la quando inicio um relacionamento. Nessa hora, é engraçado, a maioria das pessoas se questiona: “Será que vai durar?”, “E se eu sofrer?”, “Acho que não vai dar certo!”. Eu não me questiono. Às favas com o advérbio, tanto o temporal quanto o condicional! Minha preocupação maior é em “ler” a pessoa que está comigo, aprender com ela, absorver e ensinar lições. Isso é o que me interessa. Isso é o que me motiva conhecer pessoas, envolver-me com elas. Por fim, parafraseando o “Boca do Inferno” eu digo: – Isso é o que é. O que importa. Quem diz outra coisa é besta!

Ricardo Pereira (professor e líder da banda Manoblues), 30/05/99.