O breve relato sobre a Little Big, a saudosa banda de skatistas de Macapá – Crônica de Elton Tavares

As lembranças do Facebook me trouxeram uma foto da saudosa banda Little Big. Na postagem, os componentes do grupo e brothers das antigas contavam causos e marcavam um reencontro. Aí bateu a nostalgia e resolvi republicar este texto. Saquem:

A primeira formação da Little Big foi com Antônio Malária, no vocal, Ronaldo Macarrão, no contrabaixo, Tibúrcio, na guitarra, e Paulo Neive, na bateria. Todos skatistas.

A banda quase acabou com a saída de Tibúrcio. Patrick Oliveira (hoje líder da stereovitrola) assumiu este posto de forma brilhante. Houve um rodízio na cozinha da Little. A bateria contou com participações do Zico, Ricardo Kokada e Kookimoto, mas quem emplacou mesmo foi o Mário (não lembro o sobrenome do Mário e nem sei por onde ele anda, mas o cara tocava muito).

Eles tocaram juntos da segunda metade dos anos 90 até meados de 2002. Era a banda que mais agitava o rock and roll em Macapá.

A Little foi a banda de garagem mais duradoura e badalada daquela época (certeza de casa cheia onde os caras tocavam). No repertório, tinha punk, indie, hardcore e manguebeat. Chegaram a desenvolver um som próprio, com composições do Antônio Malária, um flerte com o batuque e marabaixo, misturados ao rock.

A banda ganhou força com a percussão de Guiga e Marlon Bulhosa. Inspirados, chegaram ao topo do underground amapaense com as canções autorais “Baseados em si”, “São Jose”, “Beira mar” e “Lamento do Rio”. Quem viveu aqueles dias loucaços lembra bem do refrão: “Eu sou do Norte, por isso camarada, não vem forte”.

 

A banda embalou festas marcantes do nosso rock, teve seus anos de sucesso pelas quadras de escolas, praças, pista de skate, bares (principalmente o Mosaico) e residências de Macapá. Quando os caras executavam “Killing In The Name“, do Rage Against The Machine, a casa vinha abaixo. Era PHODA!

Era rock em estado bruto, sem muitos recursos tecnológicos ou pedaleiras sofisticadas. Os caras agitavam qualquer festa. Quem foi ao Mosaico, African Bar, Expofeiras, Bar Lokau, festas no Trem Desportivo Clube e Sede dos Escoteiros, sabe do que falo.

Vários fatores deram fim à Little Big, como desentendimentos internos e intervenção familiar. Eles não estouraram como banda autoral porque não tiraram os pés da garagem.

Em 2012, os caras se reuniram e tocaram em uma festa, mas eu perdi a oportunidade de vê-los, pois estava indo para Laranjal do Jari a trabalho. A Little Big agitou as noites quentes de Macapá e embalou os piseiros de uma geração. Uma banda que faz parte da memória afetiva de muitos amapaenses roqueiros e já quarentões. E foi assim.

De um tempo que fomos para sermos o que somos” – Fernando Canto.

Elton Tavares

Sobre a saudosa Drop’s Heroína (primeira banda de Rock formada somente por mulheres do Amapá) – Crônica de Elton Tavares – *Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”

 

 

Ilustração de Ronaldo Rony

 

Crônica de Elton Tavares

A Drop’s Heroína surgiu do desejo das, então adolescentes, Rebecca Braga (vocal) e Aline Castro (guitarra). A proposta foi a de formar uma banda diferente, com uma agressividade teenage. Logo depois se juntaram à Lenilda (bateria) Cristiane no contrabaixo e Sabrina (guitarra base). Depois, a formação mudou várias vezes. Entraram Suellen no teclado e a última formação contou com Débora nos vocais e Dauci no baixo. A banda lutou contra o preconceito, já que era formada apenas por mulheres, algo nada convencional no Amapá, na década de 90.

A banda foi pioneira no feminismo do rock amapaense. Suas apresentações eram sempre porretas, dignas de um público fiel que seguia a Drop’s aonde quer que as heroínas fossem tocar.

A Drop’s não resistiu à saída da vocalista Rebecca Braga, tentou seguir em frente com uma substituta, mas a coisa não vingou. Apesar disto, a banda inspirou outras meninas e escreveu uma página importante do nosso rock. Ao primeiro grupo roquenrou formado por mulheres de Macapá, nossas saudosas palmas.

Em 2012, no extinto bar Biroska, rolou a festa “Noventinha”, com shows das bandas Little Big (eles não tocaram, mas isso é outra história), Drop’s Heroína e Os Franzinos – todas da mesma época. Infelizmente não fui, pois estava no município de Laranjal do Jari, a trabalho. Uma pena.

Enfim, essa foi uma história vivida por muitos que viveram o rock amapaense há mais de duas décadas. Aqueles anos ficaram guardados na memória e no coração de todos.

É, vez ou outra “mascamos o chiclete Ploc da nostalgia”, como diz Xico Sá.

Falando em citações, existe uma que define a amizade que os integrantes das Little e Drop’s têm até hoje: “bandas são mais que ajuntamentos de músicos, são reuniões de alma” – Jimmy Page.

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Hoje é o Dia do Goleiro – meu saudoso pai foi/é o meu goleiro preferido

No Brasil, em 26 de abril é comemorado como o Dia do Goleiro. A data foi criada há quase 40 anos para fazer uma homenagem para aqueles atletas que por muitas vezes não tem o reconhecimento devido do seu trabalho. A ideia foi do tenente Raul Carlesso e do capitão Reginaldo Pontes Bielinski, que eram professores da Escola de Educação Física do Exército do Rio de Janeiro, e começou a ser comemorada a partir da metade dos anos 70, segundo relata Paulo Guilherme, jornalista que escreveu o livro “Goleiros – Heróis e anti-heróis da camisa 1”.

Como eu já disse aqui, por diversas vezes, amo futebol. Goleiro é posição maldita do esporte bretão (chamado assim por ter sido inventado na Grã-Bretanha). Meu saudoso e maravilhoso pai, José Penha Tavares, era goleiro. Posso afirmar, sem paixão (talvez com um pouquinho dela), que ele foi muito bom.

Papai agarrou pelos times amapaenses (quando o futebol aqui era amador) do São José e Ypiranga Clube. Também foi amigo de um monte de conhecidos boleiros locais. Infelizmente, meu amigo Leonai Garcia (que também já virou saudade), esqueceu-se dele no seu livro “Bola da Seringa”.

Quando moleque, acompanhei papai em centenas de peladas. Torcia e sofria quando ele levava gols, principalmente quando falhava. Aprendi a admirar goleiros com ele. Lembro bem de expressões como: “Olha essa ponte!”, “Que defesa, catou legal!” ou algo assim, bons tempos aqueles.

Bem que tentei jogar em todas as posições, inclusive o gol (sempre era o último a ser escolhido), mas nunca consegui me destacar pela bola, mesmo antes de engordar. Não sei se as crianças de hoje ainda escolhem o pior dos meninos (ou meninas) para agarrar, aquilo é bullying (risos). Digo isso com conhecimento de causa.

Quando me refiro ao goleiro como “posição maldita”, falo de uma série de injustiças que vi goleiros sofrerem ao longo dos meus 44 anos, mas uma é mais marcante: a crucificação do arqueiro Barbosa, da seleção de 1950. Há alguns anos, assisti a um documentário sobre a derrota para o Uruguai na final daquele mundial. Aquele homem foi estigmatizado até o fim de sua vida.

Em 2010, durante uma entrevista, Zico (não preciso dizer quem é, né?) declarou que o Barbosa, no fim da vida, disse a ele: “desculpe, mas gostei de ver você perder aquele pênalti em 1986, pelo menos me esqueceram um pouquinho”. Imaginem como o velho goleiro sofria pela falha de 1950? É a maldição do goleiro.

Vi grandes goleiros jogarem. Raçudos e classudos, voadores, pegadores de pênaltis. Foram tantos que é difícil enumerar, mas lembro bem do Buffon, Gilmar, Taffarel, Raul, Dida, entre tantos outros arqueiros que nos encantaram com a segurança debaixo da trave. Mas para mim, meu pai foi o melhor de todos eles.

Este texto é uma homenagem aos goleiros profissionais e peladeiros, que se machucam em saltos destemidos, levam chutes meteóricos, além de divididas violentas. Em especial ao meu pai, meu goleiro preferido para sempre. Amo-te, Zé Penha. Um beijo pra ti, aí nas estrelas!

Elton Tavares

A rock girl do Liverpool – Crônica de Marco Antônio P. Costa

Crônica de Marco P. Antônio Costa

Cheguei mais cedo e o Seu Nelson ainda estava arrumando as meses. Naquela noite iriam tocar a Stereo e a Banda Base. Em pouco tempo a moçada começou a chegar. Patrickinho, Marinho e os demais chegaram e os ajudei a carregar qualquer coisa por ali. Com pouco chegaram Cabelo, Tássio e Careca.

A entrada era um real e a cerva barata. Peguei uma e fiquei ali no canto, perto do banheiro. O olhar de estudante de sociologia-fofoqueiro fazia-me analisar as tribos que chegavam. Tinham os rockeiros mais velhos, gente bacana que fala com menos pressa e iam lá pra curtir um som.

Editor deste site no velho Liver

Tinham os malucos, que de vez em quando saíam pra dar uma volta de carro. Tinha a galerinha libertária, uma moçada com roupas mais diferentes e papos interessantes, tipo o Fausto. Tinha a galera da universidade, a galera do DCE que, aliás, era a minha galera. Ah, dava playba e patyzinha estilo rock girl. Eu curtia. Ainda tinha a galera que não entrava e ficava ali pela frente do Podium. Coisas de Macapá. Aqui tem gente que não vai para os lugares, vai pra ficar na frente deles. HAHAHAHAHHAHAH. Muita onda.

Todo mundo se juntava ali e a forma circular, como que num teatro de arena, parecia sempre ajudar as meia luzes amarelas para que grandes histórias acontecessem. Amigo, acredite, se você gostasse de rock em Macapá no início dos anos 2000, era no Liverpool que você estaria.

Selado que a primeira música da Banda Base era Pain Lies on the Riverside, da Live. O set variava pra cima, mas tinha sempre a hora de Black, a maior rocker sofrência da história. Nunca ocorreu, mas na minha cabeça Cabelo and Company fechavam tocando Atomic, só pra nos levar aos ares escoceses de Mark Renton e Sick Boy.

Acho que foi mais ou menos por aí que a vi. De cabelos curtos, ela dançava o rock dando pulinhos engraçados e mexendo a cabeça com um cigarro na mão direita. As vezes fechava os olhos quando sentia o sim e cantava. Ela era incrivelmente linda.

Daí que, acreditem ou não, she look at me! Mais que isso: ela pediu pra me conhecer através de um amigo. Fui, mas bem nervoso. Ela era um pouco mais velha e, sem dúvidas, mais interessante e inteligente. Convenhamos, eu sabia não passar de um mediano.

Mas ela falava tão bem que falou por nós dois. Eu ria e ela via que eu estava nervoso. Numa hora, igualzinho acontece no Chaves, ela falou que era legal estar me conhecendo. Como o som estava alto, eu perguntei meio perto “como está sendo me conhecer? Hã? Aí mais perto ainda: COMO ESTÁ SENDO ME CONHECER? Na hora exata em que a banda parou de tocar e todos olharam. Ela sorriu tão feliz e sincera, olhou pra trás até se voltar pra mim e dizer: INCRÍVEL! Nos beijamos!

Aí o rock que já era bom, flutuou. Cantamos Last Nite e The modern age a plenos pulmões, mas não mais do que lugar do caralho.

Liverpamos a noite inteira, com novos e velhos amigos. Com beijos, muitos beijos e cheiros e vontades e sacanagens faladas ou apenas pensadas nas orelhas e pescoços.

A rock girl foi uma intensa paixão, daquelas que duram as semanas que podem existir e, se pensarmos bem, ainda continua existindo entre as mesas do seu Nelson, com a nossa galera lá no bom e velho Liverpool.

E como diria Antônio Callado, em “Bar Don Juan”:

“Quando o processo histórico se interrompe… quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para se abrir um bar”.

Fotos: Blog De Rocha.

Hoje é o Dia Internacional do Livro #diainternacionaldolivro

Hoje, 23 de abril, é o Dia Internacional do Livro. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no ano de 1995, em Paris (FRA), durante o XXVIII Congresso Geral. O objetivo é encorajar as pessoas – especialmente os jovens – a descobrirem os prazeres da leitura, disseminar a cultura e fazer com que o maior número de pessoas conheçam a contribuição dos autores de livros através dos séculos. Hoje também é celebrado o Dia dos Direitos de Autor.

Origem do Dia Internacional do Livro

A Unesco escolheu a data do Dia Internacional do Livro, por ser o dia da morte de três grandes escritores da história: William Shakespeare, Miguel de Cervantes, e Inca Garcilaso de la Vega. Essa é também a data de nascimento ou morte de outros autores famosos, como Maurice Druon, Haldor K.Laxness, Vladimir Nabokov, Josep Pla e Manuel Mejía Vallejo.

Uma tradição catalã ligada aos livros já existia no dia 23 de abril, e parece ter influenciado a escolha da Unesco, pois tradicionalmente, no dia de São Jorge (23 de abril), é costume dar uma rosa para quem comprar um livro. Trocar flores por livros já se tornou costume em outros países também.

Há alguns anos, quando perguntavam qual a minha profissão, dizia que era jornalista, assessor de comunicação e editor de um site. Mas que, um dia, gostaria de ser escritor. Então me tornei escritor. Tenho dois livros impressos publicados, “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias” e “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”. Também participo de duas antologias on-line e já penso em uma terceira obra.

É a velha máxima: “ler para ser”. Pois sei que é fundamental para fertilizar as ideias, principalmente na minha profissão. Que tal começar ou terminar um livro hoje?

Elton Tavares
Fonte: Calendar Brasil

A Santa Inquisição do Fofão – Crônica de Elton Tavares (Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Lembro-me bem, no início dos anos 90, do pânico em Macapá causado por um boato “satânico”. Espalhou-se que teria uma adaga ou punhal dentro do boneco do personagem Fofão, por conta de um suposto pacto demoníaco com o “Coisa Ruim”, feito pelo criador do personagem.

Iniciou-se uma caça, sem precedentes, aos brinquedos. Uma espécie de “Santa Inquisição”. De certa forma, parte da população embarcou na nova lenda “modinha” e os fofões foram trucidados por conta de um mero boato.

Meu irmão e eu vitimamos alguns fofões que pertenciam às nossas primas (prima sempre tinha Fofão, boneca da Xuxa ou Barbie). Na época, muitos diziam que ouviram do vizinho do “fulano”, que uma pessoa tinha sido assassinada por um dos então apavorantes bochechudos de brinquedo.

O Fofão tinha uma cara enrugada, era tosco, usava uma roupa parecida com a do Chucky (o Brinquedo Assassino), e dentro ainda tinha uma haste (punhal) de plástico, que era usado para manter o seu pescoço em pé.

Realmente os fatos estavam contra ele.

Houve até queima dos portadores do mal, em praça pública. Sim! Naquela praça que ficava em frente ao cemitério São José, que hoje abriga a Catedral, homônima ao espaço reservado aos que já passaram desta para melhor.

Na verdade, comprovou-se que o fato não passou de um golpe de marketing, pois muita gente comprou só para conferir e, em seguida, destruir o brinquedo. Coisas como o lance das músicas da Xuxa que, como se falou na mesma época, se tocadas ao contrário, continham mensagens do diabo.

Hilário!

Foi muito divertido, confesso. Ateei fogo em vários fofões, e foi muito melhor do que a época junina. A maioria dos moleques adorou e grande parte das meninas chorou a partida daquele tão querido brinquedo.

Concordo com o dramaturgo inglês, William Shakespeare, quando disse: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que explica a nossa vã filosofia”, mas não neste caso. Porém, o episódio do Fofão foi uma histeria generalizada entre a molecada e virou mais uma piada verídica da nossa linda juventude, uma espécie de Santa Inquisição dos brinquedos.

Elton Tavares

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Há exatos 48 anos, a banda Ramones lançava “Ramones”, seu disco de estreia – Por Marcelo Guido – @Guidohardcore

Há 48 anos, os Ramones lançavam “Ramones”, seu disco de estreia. Um dos mais importantes da história do punk e do rock em geral, o álbum de “Blitzkrieg Bop” e outros clássicos foi gravado em sete dias, com orçamento de 6,4 mil dólares. Por conta da data, republico aqui a crônica rocker do jornalista Marcelo Guido, maios fã da banda que conheço:

Discos que formaram meu caráter (parte 11) – Ramones – Ramones (1976)

Por Marcelo Guido

E ai amiguinhos, como vão vocês? Espero que bem.

Bom sem muitas delongas, vamos ao que interessa, de forma crua, visceral e como pede a rapidez e a simplicidade dos três acordes lhes apresento: RAMONES, disco homônimo da grande banda de New York, percursora do punk que foi gravado em 1976.

Na corrida desde 1974, fazendo shows pelo underground nova-yorkino, mas precisamente no histórico “pub” CBGB, não demoraria muito para os Ramones começarem a chamar atenção da indústria fonográfica. Os caras assinam em 1975 com a obscura Syre Records e já em 76 nos brindam com o primeiro registro do punk rock.

Com 29 minutos de duração e um orçamento pífio algo em torno de U$ 6.400 (naquela época as grandes bandas gastavam milhões de dólares nas produções de seus álbuns), é um dos discos mais influentes da história do rock em todos os tempos.

Dado como uma incerteza comercial por não ter feito sucesso nenhum nos EUA, o disco tem como principal particularidade mostrar, que o rock é cru, e não erudito. O rock estava chato, com muitos solos intermináveis de guitarra, o caminho poderia ser tenebroso, é como costumo dizer, “Progressivo falhou, graças ao Ramones, em seu nefasto objetivo de acabar com o rock”. Graças a esse Lp (saudosismo por minha conta) os caras foram parar em Londres. E bandas como The Clash e Sex Pistons chegaram à conclusão que não estavam sozinhas e puderam dar a cara tapa.

Uma simplicidade básica caracteriza o disco do começo ao fim, coisa difícil em uma época onde histórias de dragões solos intermináveis de guitarra (oh, coisinha chata) e epopeias épicas eram uma constante no cenário (Chupa Led Zeppelin). Os caras simplesmente desmontaram tudo e deixaram somente oque realmente interessava. Ou seja, atitude e bom som. Apesar da curta duração das musicas, a lembrança tocante que nos faz lembrar o rock dos anos 50 dão certo ar polido e saudosista e por que não uma dose de “doçura” nas melodias. As letras falam de coisas banais, que poderiam acontecer comigo ou com qualquer um de vocês, por isso é tão mágico, que chega ate a ser comum.

Dissecando a bolacha:

O calhamaço ferrenho é agressivo começa com Joey berrando na sensacional “Blitzkrieg Bop”, que fala dos ataques nazistas na segunda grande guerra, nos apresenta ao velho e bom “Hey ho, lest go” grito de chamada para batalha, vai para insanidade juvenil de “Beat On The Brat”, quem nunca quis bater em um moleque com um taco?

Chega em “Judy is Punk”, história de amor deveras bizarra, de um punk e uma anã, trava tudo e um relaxada em “I Wanna Be Your Boyfriend”, baladinha de amor, o cara só queria uma namorada, nos leva a “Chain Saw”, o que o tédio e uma serra elétrica não podem produzir no Texas? Fala sobre o prazer de cheirar cola (ops) em “Now I Wanna Snif Some Glue”, avisa que existe algo obscuro em porões na singela “I Don`t Wanna Go Down To The Basement”.

Segue com Babacas e mais babacas em “Loudmouth”, esculhambando com CIA (temida central de inteligência americana) em “Havana Affair”. “ Listen to My Heart”, nos apresenta ao velho e bom 1,2,3,4… (Dee Dee, berrando), “53rd And 3rd”, biográfica, fala dos tempos que Dee Dee Ramone teve que se virar como michê nas ruas de Nova York, “Let`s Dance”, um clássico de David Bowie nas voz de Joey. Joey grita oque não quer em “I Don`t Wanna Walk Around With You”, e chega ao final com “Today Your Love, Tomorrow The Word”, como podemos dizer, uma coisa de cada vez.

Com todo esse universo, juvenil e caseiro, os caras abriram as portas para muita gente. Confesso que o Punk Rock me atrai nisso, na simplicidade. Bom para os que se atrevem a entender de rock, tem que passar por isso.

Os magrelos de Nova York tem que ter um espaço relativo em sua estante ou em seu computador (tempos modernos esses).

Com capa em preto e branco, simplicidade a risca, conteúdo altamente inflamável, “Ramones” (1976) é o documento oficial do punk.

E aprendam, sem querer ser repetitivo: “Toda vez que o Rock ficar chato, vai recorrer ao punk para se salvar”. RAMONES FOREVER!

Marcelo Guido é punk, pai da Lanna e Bento, jornalista e radialista.

Em encontro histórico, governador Clécio Luís ouve demandas de caciques do Amapá e Norte do Pará

Em diálogo histórico com lideranças indígenas no Palácio do Setentrião, o governador Clécio Luís e equipe de Governo do Amapá ouviram na sexta-feira, 19, demandas apresentadas por caciques e cacicas de etnias do Amapá e do Norte do Pará. A escuta fez parte do “Abril de Resistência Indígena”.

Além de apresentarem as solicitações, as lideranças entregaram ao governador ofícios com as demandas das terras indígenas, que tratam principalmente sobre a educação, saúde, manutenção de ramais, cultura e crise fitossanitária da mandioca.

“Foram dias produtivos, além de ouvi-los, recebemos cartas com as demandas de melhorias na educação à saúde, firmamos compromissos e, respeitando o protocolo de consultas, vamos definir as ações efetivas para resolver as demandas de cada povo”, evidenciou Clécio Luís.

As lideranças falaram das demandas na presença do governador e também dos secretários de Estado, que cuidarão das políticas que vão proporcionar melhorias para os povos.

Participam da programação em Macapá cerca de 90 caciques da região do Oiapoque, Pedra Branca do Amapari e do Norte do Pará, que representam aproximadamente 11 mil indígenas.

“O Brasil era todo indígena há 500 anos, tudo floresta. Mas nossos ancestrais e nós resistimos. Temos leis e conselhos consultivos, que precisam ser escutados, e lembrados pelo governador. Lembrem-se: homem pequeno quando luta é coletivamente. Agradeço pela escuta”, celebrou Calbi Amazonas, cacique da Região Wajãpi.

Educação indígena

Uma das principais demandas foi em relação à infraestrutura dos prédios da rede pública de ensino, assim como contratação de professores indígenas e formação continuada. O Governo do Estado fez o diagnóstico das estruturas de 54 escolas indígenas no Amapá, identificando todas as necessidades de intervenção.

Em um 1 ano e 3 meses, duas escolas foram reformadas pelo Estado em territórios indígenas, uma na TI Wajãpi, no município de Pedra Branca do Amapari, e outra na TI Uaçá, em Oiapoque. Uma ordem de serviço será assinada pelo governador para reforma de outra escola na Aldeia do Manga, também em Oiapoque.

“Hoje estamos correndo atrás de investimentos para a educação nas nossas aldeias, porque sei e falo da importância de estudar para ocuparmos espaços e termos conquistas. Confio que o governador vai ajudar a melhorar a educação do nosso povo”, defendeu o professor Henrique Batista, cacique do povo Palikur, em Oiapoque.

No 27º Fórum dos Governadores da Amazônia Legal, no Acre, o governador Clécio Luís destacou a criação da câmara da setorial voltada aos Povos Indígenas e da Floresta, que foi aprovada pelos conselhos e estarão na programação da próxima edição do encontro, que acontecerá no estado de Rondônia.

Os caciques ressaltaram ainda a importância do respeito aos conselhos consultivos e o fortalecimento da Secretaria dos Povos Indígenas. No ano passado, o governador criou a Secretaria Colegiada dos Povos Indígenas, com representação das regiões indígenas Waiãpi, Oiapoque e Parque do Tumucumaque.

Texto: Fabiana Figueiredo
Foto: Max Renê/GEA
Secretaria de Estado da Comunicação

Hoje é o Dia da Resistência dos Povos Indígenas – Meu texto sobre os verdadeiros e discriminados donos do Brasil

Que nosso país é uma mistureba de raças, todos estamos cansados de saber. Hoje (19) é o Dia da Resistência dos Povos Indígenas, uma das raças mais presentes na miscigenação nacional e principalmente da população da Amazônia.

A data foi criada em 1943, pelo então presidente Getúlio Vargas e relembra o dia, em 1940, no qual várias lideranças indígenas do continente resolveram participar do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México. Durante este evento foi instituído o Instituto Indigenista Interamericano, também sediado no México, que tem como função zelar pelos direitos dos indígenas na América.

O Brasil não aderiu imediatamente à entidade, mas após a intervenção do Marechal Rondon apresentou sua adesão e instituiu a homenagem no dia 19 de abril. A data tem como função relatar os direitos indígenas e faz com que o povo brasileiro saiba da importância que eles têm na nossa história.

A palavra ‘indígena’ diz muito mais a nosso respeito do que a palavra ‘índio’. Indígena quer dizer originário, aquele que está ali antes dos outros” Daniel Munduruku, Dr. em educação (USP) e Pós-doutor em linguística (Universidade S. Carlos-SP).

É verdade que, mesmo nos dias de hoje, ainda existe muito preconceito contra indígenas, que são os verdadeiros donos do Brasil.

Quando eu era mais novo e ignorante, tinha preconceito com indígenas. Fui emprenhado pelos ouvidos, pois desde moleque ouvia que eles eram preguiçosos. Como dizia o sábio Renato Russo: gente que “fala demais por não ter nada a dizer”.

Graças a Deus, com um pouco de leitura, deixando de lado tais pontos de vista idiotas, me toquei. Hoje vejo os indígenas com outros olhos e respeito seu modo de vida e peculiaridades. Afinal, eles lutam pela conservação de sua identidade e isso é nobreza.

Eu no trampo na aldeia indígena Aramirã, da etnia Waiãpi- 2011- Foto: Vinícius Alfaia.

A influência indígena na Cultura nortista é forte demais. Conhecimentos acumulados através dos séculos. São remédios caseiros, como a Andiroba, nosso poderoso anti-inflamatório e mais uma porrada de ervas benéficas para o tratamento de doenças.

Sem falar nas comidas típicas como maniçoba, tacacá, farinha de mandioca, açaí entre tantos outros elementos que compõem nossos costumes e tradições.

Eu no trampo na aldeia indígena Aramirã, da etnia Waiãpi- 2011- Foto: Adryany Magalhães.

Então, queridos leitores que possuem algum tipo de sentimento escroto em relação aos indígenas, como racismos e preconceitos, é melhor aprenderem a respeitar a raça e valorizar sua Cultura, pois ela é fortíssima em nossas tradições, costumes e culinária. E no final das contas, somos todos índios. Pensem nisso!

Parabéns aos povos indígenas, eles merecem nosso respeito e como merecem.

Elton Tavares

Cultura: a falta danada que o Projeto Botequim faz nas terças-feiras de Macapá – Republicado por motivos de terça-feira

Foto: Amapá da Minha Terra

Hoje é terça-feira e, por mais de 20 anos, nas terças, o macapaense tinha uma opção cultural: o Projeto Botequim. Realizado de 1994 a 2016 pelo Serviço Social do Comercio (SESC–AP), durante mais de duas décadas, o Botequim fez a alegria dos amantes da música na capital amapaense.

Dos anos 90 até a primeira metade da década seguinte, o projeto rolou no Sesc Araxá e, posteriormente, migrou para o Sesc Centro. Há uns dois anos, nós – notívagos de Macapá que adoramos boas canções, arte e cultura – ficamos órfãos dessa opção, extinta pela atual administração do Sesc.

Conversei com músicos, frequentadores e servidores do Sesc e eles disseram que o Projeto não dava prejuízo e nem lucro. Então por qual motivo o Serviço “SOCIAL” do Comércio acaba com um bem tão importante para o comerciário – e para a sociedade como um todo – como o Projeto Botequim? Perguntei a eles e responderam:

“O Sesc promove exposições, festivais, saraus sobre tema populares às nossas múltiplas culturas, realidades e sociedades. Na área musical realiza eventos para levar ao público instrumentos e ritmos que traduzem um universo rico e genuíno. No Estado do Amapá, gerou o Projeto Botequim, que ofertou por mais de 20 anos oportunidades aos artistas locais um palco para expor sua arte e a população à oportunidade gratuita de apreciação da melhor produção cultural musical tucuju.

Em 2017, infelizmente, o Botequim ainda não teve continuidade, visto que aguarda aprovação do Departamento Nacional com o custeio e apoio financeiro para subsidiar o referido projeto. O Regional Sesc Amapá continua com o compromisso na difusão da cultura, principalmente na modalidade de música, através dos demais projetos: Sesc Canta, Sonora Brasil, Sesc Partituras, Aldeia de Artes Sesc, Amazônia das Artes e Saraus para as todas as tribos (Em 2019 idem!).

O regional Sesc Amapá, principal agente a querer o retorno do projeto, segue trabalhando para voltar a celebrar a cultura amapaense por meio de tão bonito e importante projeto” (Isso em 2017).

Bom, é verdade que o Sesc segue no trabalho cultural descrito aí em cima (e que divulgo sempre neste site), mas será que precisava mesmo extinguir o Projeto Botequim? Será que um espaço tão importante para jovens talentos amapaenses, com uma nova programação realizada semanalmente, precisava deixar de acontecer? Tinha que cortar na carne logo essa iniciativa essencial para a inclusão de novos músicos, que agora não possuem um evento tão necessário. Ali sempre foi sucesso de público e crítica. Sim, pois o Botequim vivia lotado.

Era sempre assim, das 20h à meia-noite das terças-feiras, sabíamos para onde ir. A gente amava o Projeto!

E assim como o Botequim, as boas práticas de Macapá parecem ter um prazo de validade. Os bares com o modelo violão e voz já são escassos nestes tempos.

Espero realmente que o Sesc volte com o Projeto Botequim nas terças-feiras e que o órgão volte a ser um agente de democratização do acesso à cultura semanal. Não se trata somente de entretenimento e diversão com educação, mas a promoção de cultura com qualidade como sempre foi e não deveria ter acabado.

Eu sempre divulgava e ia ao Sesc nas noites de terça desde 1994. Fica a nossa crítica e apelo para que o Projeto Botequim seja retomado o quanto antes. E fim de papo.

Elton Tavares

*Texto de 2017. Republicado por hoje ser terça-feira.

Rádio Difusora de Macapá volta as grandes transmissões esportivas fora do estado – Por Marcelo Guido – @Guidohardcore

Por Marcelo Guido

Os dois grandes times adversários de Belém do Pará Paysandu e Remo se encontraram mais uma vez no tapete verde do glorioso estádio Mangueirão e mais de 60 mil pessoas que estiveram presentes no local viram o Bicolor conquistar seu 50º troféu de campeão paraense, festa completa para uma gigante torcida que lotou o campo esportivo, na colossal praça de esporte.

Outro fato marcante foi à volta da Radio Difusora de Macapá a cobertura de eventos esportivos fora do estado, como foi a de Paysandu e Remo. Em mais de 70 anos de história, o veículo se fez pressente em muitos eventos esportivos Brasil e mundo afora. Por razões administrativas, o conceito de estar de corpo presente em estádios e ginásios fora do Amapá ficou de lado, mas foi retomado através da nova diretoria da Difusora, que prioriza a informação e o também o jornalismo esportivo.

A voz marcante de Humberto Moreira, conhecido como “camisa 10”, voltou a ressoar forte e a contar mais histórias do futebol e do esporte, a serviço das ondas da 630 AM, há mais de 4 décadas o narrador falou da alegria de estar presente no estádio e contar a emoção para os ouvintes.

“Olha, é uma coisa muito gratificante porque durante esse período que eu passei aqui na Rádio Difusora de Macapá anteriormente, pela Rádio Nacional também, que é uma extensão da Rádio Difusora, nós fizemos jogos dentro e fora do país, com os grandes efeitos. E agora voltando, isso é uma coisa que nos enche de alegria, de emoção. Porque sem dúvida alguma é uma coisa que faz com que a nossa carreira de radialista ela cresça e ela continue muito viva, não é? Então é uma coisa que nos gratifica, que nos enche de alegria voltar a fazer grandes eventos esportivos através da emissora mais tradicional aqui do estado Amapá”, contou Moreira.

Com uma nova roupagem e um novo compromisso, a Rádio Difusora assegura o compromisso de estar com sua equipe na transmissão e cobertura de futuros eventos esportivos, reconstruindo uma marca que já foi alcançada e reconhecida por todo Brasil com compromisso , e respeito com o ouvinte, que é maior responsável pela existência da emissora.

Após uma longa pausa de seis anos, a radio que se notabilizou pelas grandes coberturas nacionais e internacionais e voltou a atuar em um grande evento esportivo além das fronteiras estaduais, na cobertura Paysandu e Remo, no último domingo ( 15).

*Marcelo Guido é jornalista e comentarista esportivo da Rádio Difusora de Macapá

A CASA DO EZEQUIAS – Por do Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

A metade dos anos 80 trazia a grande expectativa de mudanças no caminho político do Brasil. Após a anistia de 1979 restava ainda o término do Governo Figueiredo e a transição democrática que se estabeleceria com a eleição de Tancredo e a posse de Sarney.

No Amapá tudo isso era motivo de conversa e os jornais emitiam opiniões bem diversificadas sobre o destino de nossa terra, causando certo frisson entre os leitores. E com a possibilidade de transformação em estado o antigo Território Federal cedeu espaço a centenas de aproveitadores políticos que para cá vieram em busca de uma vaga no parlamento. Foi nesse contexto que ressurgiu o Amapá Estado, fundado por Haroldo Franco, Silas e Ezequias Assis.

Governador Henning – Foto blog Repiquete no Meio do Mundo

Esse jornal havia sido editado pela primeira vez durante o governo de Henning, que segundo eles, quando leu o primeiro número o amassou e jogou fora dizendo que a pretensão dos jornalistas não passava de um engano,de uma utopia. Foi, também, nesse contexto que posteriormente foi lançado o jornal Fronteira, onde trabalhei com uma coluna informativa, ao lado de grandes expressões do jornalismo local como Alcy Araújo, Luís Melo, Jorge Herberth e Wilson Sena, por sinal o primeiro presidente da Associação dos Jornalistas do Amapá. Antes disso o Silas fechou o Amapá Estado e foi se estabelecer em Belém com um jornal maior.

Humberto Moreira – Foto: Blog Porta Retrato

Mas os grandes assuntos da pauta semanal do Fronteira eram discutidos na casa do Ezequias. Todos os sábados ele nos recebia com aquele jeito brincalhão, mostrando um exemplar que o Ricardo, seu filho, pegava no aeroporto (Naquela época era impresso em Belém.) e não economizava o orgulho de ver editado mais um número. E o que era para ser apenas informação virava celebração, pois nunca faltava uma boa dose do melhor uísque, uma carne de caça que o Baleia fornecia para o dono da casa desde que ele fora chefe de Gabinete da Secretaria de Obras e a viola do Nonato Leal, às vezes em duo com a do Sebastião Mont’Alverne. Ao lado disso, apreciadores da boa música, como o Alcy, se deleitavam ouvindo o Humberto Moreira interpretar Taiguara. Artistas e intelectuais chegavam como se estivessem ligados a uma rede invisível e automática, num tempo em que não havia celulares. Aimorezinho era um espetáculo tocando bossa nova com a sua escaleta e o inesquecível bandolim do Amilar parecia pousar em uma partitura mágica vinda das Brenhas de Mazagão. Ritmos se fundiam numa democracia musical crescente que só acabaria quase no início da noite com o sorriso sempre aberto da ilustre e querida amiga Nazaré Trindade. Antes, porém, Ezequias, Nonato e Sebastião faziam um coral com a música “Saci Pererê” de autoria dos três. Depois cantavam “Tauaparanaçu”, de Nonato, e arrematavam com “Rio Amazonas”, de autor desconhecido. A audiência não poupava elogios ao trio e se despedia de mais uma seresta tropical que a todos encantava.

Ezequias Assis, Jorge Herberth e Fernando Canto. Professor Munhoz ao fundo – Foto encontrada no blog da Sônia Canto.

Tanto Ezequias como Nazaré já se despediram deste mundo. Mas o dom da generosidade que neles havia fica na memória e na eterna gratidão pelo que ensinaram e pelo que foram.

Certa vez, num tempo de vacas magras do jornal, Ezequias me chamou e disse que não podia me pagar naquele mês, mas que iria dar um jeito. Falou que estava querendo “ajeitar” seu carro e que decidira deixar para o outro mês. Foi lá dentro e voltou com quatro pneus novos e 120 dólares e me disse: – Toma. Troca os pneus carecas do teu carro e fica com esse dinheiro pra quebrar o galho. No mês que vem a gente se acerta.

Depois ele me abraçou e pediu ao Ricardo para preparar uns uísques. Ficamos bebendo em silêncio.

*Fotos: 2-Governador Artur de Azevedo Henning (o que amassou o jornal) – encontrada no blog da Alcilene. 3 – Jornalista e cantor Humberto Moreira (blog Porta Retrato).

Memória da cultura amapaense: discurso do professor Antônio Munhoz, no dia da inauguração da Galeria de Arte que leva seu nome, em 2002

Antônio Munhoz Lopes – Foto: site Repiquete no Meio do Mundo

No dia 22 de março de 2002, foi inaugurada no Sesc Araxá, em Macapá (AP), a Galeria de Artes Antônio Munhoz Lopes. Naquela data, o saudoso professor (falecido em 2017) homenageado fez um discurso memorável. Leiam:

“A lei da morte é o silêncio, o esquecimento. E a libertação de tal lei é tornar-se vivona memória dos pósteros. Não almejo tanto. Mas tenho certeza que no futuro alguém lendo esta placa, vai perguntar, com certeza: Quem é? Quem foi? Será uma prova de que não estarei morto completamente, como no verso do poeta (A. Munhoz Lopes)

Dos meu 70 anos de vida, 43 foram vividos, ou estão sendo ainda vividos em Macapá. E desde o início, estive envolvido com a educação e a cultura. E esse envolvimento sempre foi tão grande que, mesmo quando fui delegado da DOPS, diziam que eu dava á polícia local, “um clima de cenáculo literário, pois, segundo uma crônica do Cônego Ápio Campos, no jornal A Província do Pará, “meu escrivão era quase um poeta” e meus auxiliares “aproveitavam as folgas para ler contos e romances” e por incrível que pareça, “os próprios encarcerados eram obrigados a ler, em obediência a portaria baixada, várias páginas de antologia por semana”.

Antônio Munhoz Lopes – Fotos encontradas no blog O Canto da Amazônia

Essa história ficou, por muito tempo, no inconsciente de muitas pessoas, de tal forma que certa vez falando no assunto, disse que tinha sido uma brincadeira do Cônego Ápio e alguém à parte, decepcionado, afirmou: “Ainda prefiro a lenda à verdade”. E não vamos muito longe: no dia 15 de janeiro de 1998, uma carta de Campo Grande, Mato Grosso de Sul, o professor João Antônio Leal Filho me escrevendo dizia: “Lembro-me sim da passagem do Munhoz pela polícia como delegado, um dos melhores que Macapá já teve”. Repetia a história contada pelo Cônego Ápio, com a variante de que, “naquele tempo, todo policial tinha de andar com um romance embaixo do braço. E o mais interessante é que, melancólico e saudosista, o missivista encerra sua carta com uma exclamação: “já não há mais delegados de polícia como antigamente”. Estes fatos mostram que a minha preocupação com a cultura não é de hoje. E também não esqueço as reclamações que sempre fazia, principalmente nas apresentações de exposições de arte e ainda faço quando autoridades estão presentes: de que precisamos de um museu ( o prédio da antiga Intendência está se acabando), uma pinacoteca, uma galeria de arte e um arquivo público para acervos a memória deste pedaço do Brasil.

No antigo Conselho de Cultura chegamos a fazer uma proposta que não foi levada a diante e seria o gérmen da pinacoteca: o levantamento de todas as telas que existem nas repartições públicas, muitas precisando de restauração. Ainda no Conselho de Cultura foi grande o esforço que se fez para a inauguração da Galeria Vicente de Sousa, o pintor nascido no Amapá e que fez da cana-de-açúcar o seu signo por excelência. A galeria foi aberta com uma bela exposição de Manoel Bispo. Mas com a derrocada do Conselho, a galeria desapareceu. Todavia, para mim, o mais importante foram as realizações dos salões de arte, tendo sido o primeiro em setembro de 1963, portanto, há 39 anos, como parte dos festejos comemorativos do 20º aniversário de criação desta unidade federativa. E vale recordar que, em 29 de Setembro de 1963, na Folha do Povo, comentando num artigo denominado “Paleta, Amor e Alma”, a participação de Vicente, no I salão de Artes Plásticas, Isnard Lima dizia: “Vicente, esse moço promete”.

Professor Antônio Munhoz Lopes – Foto: Memorial Amapá

E, de fato, o prognóstico do articulista se cumpriu, pois Vicente foi um nome importante no cenário artístico brasileiro, com a sua fase denominada de canacultura. O II Salão foi aberto no dia 15 de Dezembro de 1966, no térreo do Colégio Amapaense e, no livro de Walmir Ayla sobre Manoel Costa, aparece uma foto do acontecimento. O III Salão foi inaugurado em 13 de Setembro de 1967, com a presença do Governador Ivanhoé Gonçalves Martins. E por este salão recebemos um ofício do Diretor da Divisão de Educação, citando a mostra como “um dos pontos destacados na comemoração do 24º aniversário de instalação do Território Federal do Amapá”. Lembro de que participaram da exposição R. Peixe, Paulo Leite, Fulvio Giuliano, hoje um nome internacional com o seus ícones, morando atualmente em Monza; Carlos Nilson, Manoel Bispo, com dois quadros muito bons: “Retrato de mulher” e “Mulher com flores”; Irenilda Almeida, Donato dos Santos e Paulino do Rosário.

Foto: Sesc AP

Em Setembro de 1983, 16 anos depois, quando éramos diretor do Conservatório Amapaense de Música, hoje Escola de Música Walkíria Lima, realizamos o último salão, que foi uma retrospectiva de 35 quadros de Fulvio Giuliano, ainda como parte dos festejos comemorativos do 40º aniversário do Território, fazendo uma análise da obra do artista italiano, que por muitos anos viveu entre nós.

Por sinal, esta retrospectiva é lembrada num livro que saiu na Itália em 1995 e que tem por título “La Bellezza Salverà il Mondo”. Éramos citados exatamente quando recordamos que o pintor retratava a nossa terra, sem fantasia, mostrando o homem carente de tudo, o homem em sua miséria e solidão, cujos exemplos sofridos mais flagrantes, eram os quadros denominados “Assim Morreu Pracapa” e “Benedito Acabou de Sofrer.” Meus amigos, o tempo foi passando e aqui estamos. Voltando de Belém do jantar dos meus 70 anos, onde consegui juntar meus nove irmãos, Regina Valente e Graça Viana, na abertura da exposição de Flávio Damm, me intimaram: não pode sair de Macapá agora neste mês de março. Não liguei, pois, na verdade, nunca me passou pela cabeça homenagem de tal jaez, o que às vezes remotamente pensava era de que um dia talvez fosse nome de escola, mas quando estivesse morto. Mas nome de galeria de Arte, não, nunca pensei, mesmo porque acho chique demais.

Antônio Munhoz Lopes – Foto: Paulo Tarso Barros

De público e de coração agradeço aos meus amigos do SESC, e é um agradecimento especialíssimo, sobretudo, porque estou vivo. E outro fato que me surpreende é que, muitas vezes, na minha vida de professor, lendo e relendo o poema de Manoel Bandeira, “A Morte Absoluta”, do seu livro “Lira dos Cinquent’anos”, meditei inúmeras vezes nos versos finais do poema, quando o poeta afirma: “Morrer tão completamente / que um dia ao lerem o teu nome num papel / perguntem: “Quem foi?… e ele continua: Morrer mais completamente ainda, sem deixar sequer esse nome”. Agora, posso dizer até com uma ponta de orgulho ou vaidade, que morro, mas não de todo, porque meu nome ficará gravado numa placa com mérito ou sem mérito, não sei mas ficará. E recordo ainda outro poeta, Camões nos Lusíadas, quando fala daqueles “que por obras valorosas / se não da lei da morte libertando”. A lei da morte é o silêncio, o esquecimento. E a libertação de tal lei é tornar-se vivo na memória dos pósteros. Não almejo tanto. Mas tenho certeza que no futuro alguém lendo esta placa, vai perguntar, com certeza: Quem é? Quem foi? Será uma prova de que não estarei morto completamente, como no verso do poeta. E mais uma vez, para os meus amigos do SESC, como para todos os meus amigos aqui presentes, o meu muito obrigado”. 

Professor Antônio Munhoz Lopes
22.03.2002
*Contribuição de Fernando Canto (presidente da Academia Amapaense de Letras).

Macapá recebe peregrinação com relíquias de Santa Teresinha do Menino Jesus

Chega a Macapá na próxima segunda-feira (1/4) a peregrinação com as relíquias de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, padroeira das missões. A peregrinação na capital amapaense acontece de 1 a 4 de abril com momentos celebrativos entre missas, vigílias, passeio ciclístico e exposição do relicário.

Confira a programação completa abaixo, que inclui a missa de acolhida das relíquias presidida pelo bispo diocesano dom Pedro Conti, às 18h, no Pequeno Carmelo de Macapá, no bairro Jesus de Nazaré.

A peregrinação das relíquias de Santa Teresinha começou em 1997, ano do centenário da morte da santa e já percorreu cerca de 70 países. A urna (relicário) que armazena um pedaço de fêmur e do pé da santa francesa percorre o Brasil desde o dia 1 de fevereiro passando por várias casas religiosas carmelitas, comunidades, paróquias e dioceses onde os devotos puderam venerar, orar e realizar seus pedidos diantes do relicário.

Considerada uma das santas mais populares no meio católico, Santa Teresinha além de padroeira de várias comunidades, é padroeira do Pequeno Carmelo da capital amapaense e também de uma paróquia da Diocese de Macapá.

Santa Teresinha nasceu em Alençõn, na França em 1873, e morreu em Lisieux aos 24 anos no ano de 1897. Seus ensinamentos conhecidos como “Pequena Via” nutre a espiritualidade do Carmelo e de muitos devotos nos dias de hoje na Igreja Católica, especialmente os jovens.

Em 1925 foi canonizada pelo papa Pio XI e em 1997 declarada Doutora da Igreja pelo Papa João Paulo II. Sem nunca ter saído do convento desde que entrou aos 15 anos, tornou-se a padroeira das missões e dos missionários católicos.

Em outubro de 2023, por ocasião dos 150 anos de nascimento de Santa Teresinha o Papa Francisco escreveu a Exortação Apostólica “C’est la Confiance” (Só a confiança) sobre a a confiança no amor misericordioso de Deus. A popularidade da santa de Lisieux levou a UNESCO a honrar sua memória incluindo Teresinha na lista de 2022-2023 como personalidade da história com reconhecido legado e influência para os campos da paz, da educação e da ciência.

Relíquias

As relíquias na tradição católica fazem parte da religiosidade popular. Costumam ser objetos de devoção e veneração por reconhecimento da história de vida e de serviço a Deus de santos ou de objetos que estes utilizaram.

As relíquias podem ser de primeira classe, quando constituem partes do corpo dos santos ou santas como ossos, carne, cabelo ou outra parte de seus corpos. Pode ser de segunda classe, quando constituem um objeto que outrora foi utilizado ou que teve um contato direto com o santo venerado como roupas, utensílios, etc.

No caso das relíquias de Santa Teresinha que chegam em Macapá para veneração dos devotos, estão entre as de primeira classe por serem parte constituintes de seu corpo.

*VISITA E PEREGRINAÇÃO DAS RELÍQUIAS DE S. TERESINHA
MACAPÁ – FAZENDINHA*
DIA 01 DE ABRIL – SEGUNDA FEIRA
17h: Chegada e acolhida das Relíquias em frente ao Pequeno Carmelo
18h: Missa de acolhida no Pequeno Carmelo – Dom Pedro José Conti
19:30h: Peregrinação para paróquia S. Terezinha em Fazendinha
Vigília noturna na Paróquia S. Terezinha

DIA 02 DE ABRIL – TERÇA FEIRA
15h: Missa solene na Paróquia S. Teresinha – Pe. Jorge
16:30h: Saída em carreata da paróquia S. Terezinha
18h: Acolhida na Catedral
19h: Missa na Catedral – Pe. Raffael
20:00h: Carreata para Pequeno Carmelo
22h: Vigília noturna no Pequeno Carmelo a partir das

DIA 03 DE ABRIL – QUARTA FEIRA
06h: Missa– Pe. Rosielson e seminário
Visitação durante todo o dia no Pequeno Carmelo
18h: Missa – Pe. Sisto
19h: Pedal com S. Terezinha pela cidade de Macapá
Bênção das rosas e dos ciclistas: ao término do Pedal – Pe. Rosielson
22h: Término da visitação

DIA 04 DE ABRIL – QUINTA FEIRA
08h: Peregrinação para Comunidade S. Terezinha (Marabaixo)
9h: Missa na Comunidade Terezinha
10:30h: Peregrinação para o Santuário de Fátima
12h: Missa no Santuário de Fátima
14h: Retonho ao Pequeno Carmelo
18h: Missa de conclusão da presença das relíquias
20h: Conclusão das visitas

Jefferson Souza
Pastoral da Comunicação
Diocese de Macapá