Calças de Linho Flutuantes e os Nomes dos Blocos- Crônica porreta de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Na constelação de brilho intermitente do carnaval você pode se tornar uma estrela. Basta querer. Quem não se identificar com o samba tem a opção de sair no meio de um bloco carnavalesco, onde os brincantes se esbaldam no frevo rasgado ou ao som das tradicionais marchinhas que trazem temas diversos na competição anual entre eles.

Foto encontrada no site “Cultura do Brasil”

Dada a sugestão está feito o convite. Um pouco tardio, creio, mas feito com o carinho de quem quer ver o carnaval macapaense brilhar mais do que do que brilhou no passado. “Um passado de glórias”, como diz um antigo samba dos Boêmios do Laguinho. Um passado feito de desfiles e batalhas de confetes que encantavam as crianças nos domingos de fevereiro em diversos pontos da cidade e faziam a alegria da juventude.

Foto encontrada no blog Porta Retrato

É inesquecível para mim a figura da porta-bandeira Telma e do mestre-sala Sucuriju rodopiando no asfalto da avenida FAB sob o calor dos holofotes e do aplauso do povo laguinhense. O povo aplaudia e gritava quando o grande passista, o Mestre Falconeri dançava, balançando as largas calças de linho que pareciam fazê-lo flutuar sobre o chão.

Mas o povo delirava mesmo era cantando o samba aprendido às pressas nos últimos dias que antecediam ao desfile, uma prática usual de todas as escolas. Era a partir do samba que se faziam os enredos. Então ele era guardado a sete chaves até próximo do dia do desfile oficial para que as escolas concorrentes não o plagiassem e nem ao enredo. Francisco Lino, o Menestrel, que o diga.

Arquibancada na Praça da Bandeira, na época dos desfiles na Avenida Fab, centro de Macapá – Foto: Márcia do Carmo.

As escolas da década de 60 e parte da de 70 eram parecidas com os blocos de hoje que almejam serem escolas de samba: traziam apenas um carro alegórico e um pequeno contingente de brincantes. A diferença é que a maioria dos instrumentos musicais era fabricada por aqui mesmo. Os próprios brincantes faziam seus querequexés e agogôs, frigideiras e tamborins. Minutos antes de entrarem na passarela acendiam fogueiras para esticar o couro dos tambores a fim de evitar que murchassem devido ao tempo ou a uma chuva inesperada. De acordo com o Pedro Ramos, o maior repiquinista dos Estilizados, o instrumentista tinha que levar uma folha de jornal no bolso para esquentar os tamborins feitos de couro de cobra pelo seu Joaquim Suçuarana. Sambistas e passistas mirins, como o Neck e o Kipilino, se revelavam novos talentos e se tornaram o orgulho de sua escola.

Foto: fanpage da Escola de Samba Piratas Estilizados

Enquanto Luís do Apito (pai do Bababá, atual mestre de Bateria dos Boêmios) organizava a batucada, R. Peixe se preparava para trazer a sua recém-criada Embaixada do Samba, uma dissidência da Piratas da Batucada. Esta, por sua vez, trazia em suas hostes os incansáveis e pouco reconhecidos compositores Jeconias Araújo e Juriel Monteiro. Lá atrás Pelé e Fifita, Neusona e Escurinho aguardavam sua vez de desfilar ao som dos sambas de Izar Leão ou de Nonato Leal e Alcy Araújo, apaixonados que eram pela verde-rosa macapaense.

Fernando Canto, com seus irmãos e amigos, no bloco “Cubalança” – Foto: arquivo pessoal

Nos anos 80 surgiram as escolas de samba de 2º grupo, como a Piratas Estilizados (que foi bloco por muitos anos) a Unidos da Coaracy Nunes, a Quilombo dos Palmares, Emissários da Cegonha e a Solidariedade. Daí, então, o carnaval amapaense teve outra formatação até o advento do sambódromo, que foi o território do Piratão por um longo reinado. De 1997 para cá, o brilho do carnaval foi mais intenso.

Pintura inspirada nos antigos carnavais paulistas – Foto encontrada no site “Cultura do Brasil”

Mas uma coisa marcante, hoje, é o desfile dos blocos. Eles estão em todos os bairros e todo ano se multiplicam levando suas temáticas e irreverências pelas ruas da cidade até se encontrarem no desfile da terça-feira na Banda. Creio que são a cara do nosso carnaval, ainda que queiram embotar-lhe o brilho com falso moralismo, em função dos nomes de dupla conotação que carregam. Ora, o carnaval amapaense é muito brasileiro. É irreverente e feliz. Traz como características a eliminação da repressão e da censura e a liberdade de atitudes críticas e eróticas. Realça o sorriso das crianças e não descarta nem esconde a sensualidade das mulheres tão sensualmente amapaenses, tão lindas e alegres, que optaram por brilhar no carnaval.

‘Uma festa pulsante e do povo’, reforça poeta e escritor sobre Carnaval do Amapá

Das batalhas de confete na Praça do Barão, na década de 1960, aos desfiles das escolas de samba, o carnaval amapaense se mistura no imaginário e na história do Amapá nos últimos 80 anos. A festa também está presente na memória do poeta, escritor, professor e compositor Fernando Canto, que trouxe a folia para sua obra. Este ano, com apoio do Governo do Amapá, o Carnaval 2024 promete alegria e memórias relembradas na Avenida Ivaldo Veras.

Para o poeta e folião, o momento na avenida se traduz como manifestação genuína de um povo que constrói o Carnaval. Fernando Canto explica que a festa é viva e que pode ser aproveitada por qualquer um que queira se juntar a ela.

“O carnaval é pulsante, é uma coisa do povo, é inalienável, aliás, tudo é dele, toda a arte advém do povo, porque ninguém sabe exatamente como as coisas surgem ou momento que se modificam. Essa festa também é um lugar de paixões, de desfilar, de mostrar cada um à sua própria vaidade, mas sempre no sentido da festa, daquilo que é importante para todos nós, sem a pretensão de ter aquela seriedade dos outros tipos desfiles, como procissões ou Sete de Setembro”, reforça Fernando Canto.

Como amante da escrita e do samba, Fernando Canto não teve como escapar da vontade de compor sambas-enredo, emplacando dezenas de letras para diferentes agremiações do estado, como a Boêmios do Laguinho, a escola do coração dele, Piratas Estilizados e Piratas da Batucada.

Foi, curiosamente, a escola Piratas da Batucada, uma das principais rivais do Boêmios, a protagonista de uma divertida história de composição de sambas do poeta. Em 1986, Canto compôs um samba-enredo para ser disputado na agremiação, e conseguiu alcançar o segundo lugar no concurso. Porém, dias depois, um amigo matemático acabou percebendo que a conta das notas estava errada e que o compositor havia sido prejudicado. Após contestar o resultado, o samba dele foi cantado na Avenida FAB naquele ano.

Em 1987, os dirigentes da escola encomendaram um novo samba para o escritor, sobre o enredo “Biroba – o maquinista da alegria”. Ele concordou, mas, com o passar do tempo, acabou esquecendo do pedido. Chegando mais perto do desfile, um dos diretores do Piratão foi até a casa de Fernando pedindo o samba, que acabou tendo que solicitar um tempo a mais para produção da letra.

“Nunca havia escrito um samba-enredo em apenas trinta minutos, mas no final das contas ele foi para o desfile e foi o samba que embalou o primeiro título da história do Piratas da Batucada, em um ano em que foi contada a trajetória de uma figura histórica do bairro do Trem, o Biroba”, conta o escritor.

História no Boêmios do Laguinho

A Boêmios do Laguinho, com 70 anos de existência – mesma idade de Canto –, é a grande paixão do folião, que coleciona sambas e momentos inesquecíveis. A agremiação fica localizada na mesma rua onde o compositor cresceu e foi nela que ele foi eleito Mestre da Nação, título dado às figuras históricas da escola e que é carregado com orgulho.

Além disso, Canto também já foi presidente da escola e uma vez homenageado pela “Nação Negra”, em 2012, juntamente com o compositor Osmar Júnior, com o enredo “Laguinho África minha, cantos e revoadas de dois poetas geniais”. Uma das grandes emoções vividas por ele na avenida, que também ocorreu outras vezes, com a Unidos do Buritizal e Piratas Estilizados.

“Foi uma alegria muito forte, nossa obra foi colocada na avenida, foi cantada pelas pessoas, mas, sobretudo, fica a marca de quem fez alguma coisa para arte, e isso me revigora. Estava ali eu e a obra que eu escrevi, que eu fiz, que eu musiquei, isso nos traz uma felicidade imensa”, disse o escritor.

Carnaval e poesia

Desde o tempo das batalhas de confete às festas das marchinhas de Carnaval que viveu na cidade, lá pelos anos 1960, Fernando Canto aproximou cada vez mais a sua obra da expressão cultural, ora inspirando seus textos, ora seus textos inspirando o próprio Carnaval.

O escritor sempre manteve a irreverência e a fantasia dessa época tão rica, na terra do bloco A Banda e de diversos outros de rua, como pode ser visto no conto “Super-Heróis no Carnaval”, do livro “O Centauro e as Amazonas”, publicado por ele em 2021.

“(…) Eduardo Luís, o Mãos de Tesoura, que acabara de terminar seu relacionamento com a Supermoça, olhava, deprimido, aquela cena enquanto a Mulher Maravilha dançava com o Homem de Areia a marchinha ‘A Jardineira’, mais bêbada que um trem descarrilhado”.

Carnaval 2024

Em dezembro, o Governo do Amapá fez o repasse de R$ 4,5 milhões para o Carnaval 2024. Os eventos carnavalescos fortalecem a cultura, o turismo e a economia, gerando emprego e renda para profissionais como costureiras, estilistas e aderecistas.

O investimento, fruto de articulação do senador Davi Alcolumbre, foi entregue diretamente às 10 agremiações em uma parcela única, por meio da Liga Independente das Escolas de Samba do Amapá (Liesap).

Texto: Luan Rodrigues
Foto: Albenir Sousa/GEA
Secretaria de Estado da Comunicação

Meus parabéns, Macapá! (homenagem à minha cidade e seus 266 anos) #Macapa266Anos

Foto: Richard Ribeiro

Hoje nossa cidade completa 266 anos, repleta de belas histórias e alguns fatos tristes. Macapá, cheia de riqueza natural e tantas curiosidades, a cidade do “Meio do Mundo”. A única capital brasileira cortada pela linha do Equador e às margens do rio Amazonas. São aproximadamente 500 mil habitantes distribuídos em 59 bairros.

Minha família é pioneira na cidade. Aqui nasci e me criei. É onde trabalho e vivo bem, graças a Deus. Aqui escrevo, literalmente (como vocês têm acompanhado), minha história. Sou grato por todas as oportunidades que me foram dadas nesta terra abençoada.

O nome Macapá é de origem tupi, como uma variação de “macapaba” e quer dizer lugar de muitas bacabas, uma palmeira nativa da região, a bacabeira. Antes de ter o nome de Macapá, o primeiro nome concedido oficialmente às terras da cidade foi Adelantado de Nueva Andaluzia, em 1544, por Carlos V de Espanha, numa concessão a Francisco de Orellana, navegador espanhol que esteve na região.

Foto: Governo do Amapá

Macapá tem gente que amo, gente que me respeita, que me tem apreço. Este é o meu lugar, minha terra amada. Gosto de viajar, mas amo sempre voltar pra cá. Minha cidade alimenta minha produção jornalística/contista/cronista. Há mais de uma década, escrevo sobre lugares, pessoas e fatos dessa cidade maravilhosa. Tento mostrar o lado bom de nossa cidade. Sua Cultura em todas as vertentes. E vos digo: apenas comecei!

Sei que a capital do Amapá possui muitos problemas sociais, políticos, estruturais, mas graças a Deus, as coisas mudam para melhor. Somos um povo acolhedor, as pessoas que vieram de outros lugares sabem disso, por mais que muitos digam que não estão felizes por isto ou aquilo, mas quase ninguém vai embora.

Torço para que muitos se orgulhem, como eu, de ser macapaense. O som do batuque do meu coração toca a caixa de Marabaixo em minha alma. Amo ser da “esquina do rio mais belo com linha do equador”. Estamos no meio do planeta e este é o nosso lugar no mundo.

“Oh, São José da Beira-Mar proteger meu Macapá”. Parabéns, jovem cidade, pelos teus 266 anos. Viva Macapá!

Fale de sua aldeia e estará falando do mundo” – Leon Tolstói.

Elton Tavares

 

 

Cidade Lançante – Crônica de Fernando Canto – @fernando__canto #Macapa266Anos

Foto: Floriano Lima

Por Fernando Canto

Esta baía é uma grande gamela de líquidas contorções, ondas que bailam sob a música do vento.

Esta baía não guarda mais o sangue inglês do comandante Roger Frey que pereceu sob a espada implacável do capitão Ayres Chichorro a 14 de julho de 1632, um dia claro, aliás, de verão amazônico, quando o sol derretia naus e o piche dos tombadilhos. Nem o sol, nem o vento, nem o oceano lá adiante cogitavam que naquela mesma data, dali a 157 anos o povo francês tomaria a Bastilha.

Na margem esquerda deste rio imensurável uma floresta úmida abrigava uns seres esquisitos, cabeludos e cheios de penas coloridas que os portugueses conheciam por Tucuju, Tikuju, Tecoju ou Tecoyen. Segundo ensina a mestra Dominique esse era um povo de origem Aruaque, ocupante da Costa Sul do Amapá que se tornou aliado dos holandeses, dos franceses e dos irlandeses. Por isso foi atacado impiedosamente por uma expedição do desbravador Pedro Teixeira no ano da graça de 1624. Sua história, no contexto da nossa, dá conta que após a façanha do capitão português esse povo procurou abrigo no Cabo do Norte, mas foi reduzido pelos jesuítas a uma missão no baixo Araguari e pelos capuchinhos no baixo Jari. É provável que um pequeno grupo tenha sobrevivido ao sul do município de Mazagão até o início do século XIX. Desse pequenino grupo restaram apenas as cinzas do tempo e um soluço quase imperceptível que morre a cada segundo na agonia de todos os silêncios.

Foto: Max Renê

Esta baía guarda estranhos segredos: uns são contados em língua morta, quando o hálito da madrugada sopra depois que a lua assim determina. Esses são de difícil entendimento. Os outros pairam nos escaninhos dos tabocais ou na boca das pirararas. Dificilmente serão contados.

O estuário deste rio dadivoso acelera a corrente de 2,5 quilômetros por hora para jogar no oceano cerca de 220 mil metros cúbicos de água por segundo. O inacreditável é que apenas o desaguar de 24 horas daria para abastecer de água potável uma cidade superpovoada como São Paulo por quase 30 anos. Números são números, diria o matemático. Nessa foz está a redenção de nossa terra, diz o sonhador sem perder sua utopia. Do barro e dos detritos aluviais se faz a vida. E ela está ali dentro das águas à espera da sustentação das mãos trabalhadoras.

Foto: Juvenal Canto

Esta baía não se faz só de águas e barcos deslizando ao sabor das ondas. Ela abriga uma pequena joia nascida sobre a várzea dos aturiás, velada há dois séculos por uma fortaleza plantada em cima de falésias.

Macapá, velho pomar das macabas, carrega dentro de si a similitude de um éden tropical das narrativas dos antigos viajantes, até por ser banhada por tantos líquidos e cheiros advindos diariamente pela chuva refrescante e pela espuma das lançantes marés.

Foto: Floriano Lima

Macaba, Maca-paba:gordura, óleo, seiva do fruto da palmeira, vida e princípio desta terra, posto que a sombra traz a ternura e contrasta com o benefício da luz que se espraia por glebas de esperança.

Antiga terra da maleita e da febre terçã. Terra do “já teve” já não és. Mas alguns homens ainda jogam em teu traçado xadrez e, silenciosos, manipulam segredos e conspiram contra ti, a degradar-te e degredando teus verdadeiros sonhos e tua vocação para o abrigar da vida que se espera. Mesmo assim a felicidade bem insiste em se hospedar em ti.

Foto: Juvenal Canto

Embora batizada com nome de santo – especialíssimo no panteão católico – teus habitantes não ficam isentos dos perigos: pés se torcem ou se fraturam todos os dias nos buracos das ruas outrora bem cuidadas.

Agora eu fico aqui me perguntando: por que quando te fundaram ergueram um pelourinho? – “Símbolo das franquias municipais”, dirão os doutos e sisudos professores. Ora, quantos homens não castigaram seus escravos até à morte após a partida do governador Francisco, porque estes aproveitaram para fugir durante a solenidade.

Foto: Manoel Raimundo Fonseca

Um tralhoto viu e contou ao Mucuim que diz-que o Ouvidor-Geral e Corregedor Paschoal de Abranches Madeira Fernando tomou um porre de excelente vinho do Porto ofertado a ele nesse dia pelo plenipotenciário capitão-general Mendonça Furtado, que daqui zarpou para o rio Negro para demarcar as fronteiras do reino, a mando de Pombal. Foi um dia de festa aquele 04 de fevereiro de 1758, porque nasceu naquele instante a vila de São José de Macapá.

E ela cresceu e se fez linda e amada, pois os caruanas das águas vez por outra rondam em espirais por aí, passeando em livros abertos, nos teclados dos computadores, pelas portas e pelos filtros dos aparelhos de ar condicionado, nos protegendo das agruras naturais e das decisões de homens isentos do compromisso de te amar.

Parabéns, Macapá!

* Texto escrito em 2001.

TOIA DULCE (homenagem à , Primeira Mãe-de-Santo do Amapá) – Crônica de Fernando Canto

Por Fernando Canto

Macapá, a cidade mais fortificada ao norte do Brasil, fora um burgo intransponível para o novo, com suas mazelas de facas que cortavam as águas do Amazonas.

E o novo se escondia entre a liberdade de falar com estranhos deuses e a rebentar com a força das marés os impedimentos e os muros da hegemonia dominante do catolicismo.

Um dia houve a permissão para o estabelecimento da matriz africana sob o sol causticante do equador, e eles, os orixás, vieram tímidos se instalar sob a guarda da pálida lua que nasce bela no continente africano para romper com seu clarão indescritível o estuário do rio.

Foi então que a alma, a intangível alma dos determinados, encarnou a pele ancestral do mundo para transformá-lo em referência de luta e esperança a todos que sabiam, mas não podiam reverenciar suas raízes.

Foi então que Toia Dulce, a princesa da tradição, encarnou definitivamente o novo, quebrando o antes inacessível muro social e religioso, que aos poucos foi desmoronando, mesmo contra as reações dos poderosos.

Foi então que a história protagonizou a mão de Toia Dulce para direcioná-la aos caminhos do bem, do amor e da caridade, em constante luta contra o preconceito e a discriminação sofrida pela família, até o reconhecimento de alguns pela sua prática religiosa, depois tão solicitada.

Essa mesma mão que curava com suas ervas e unguentos a dor dos pobres, das crianças e dos desesperados, fulgurava na sua humildade pelas manhãs macapaenses, nem sempre descansando, mas pensando na melhoria do mundo, no embalo de uma cadeira, no pátio de sua casa no velho bairro da Favela.

Tia Dulce, Mãe Dulce, Toia Dulce, era, sim, a mesma mulher transfigurada de humildade e detentora do orgulho de ser negra, benzedeira e curandeira, e ser humano de aura mística mais esplendorosa.

Toia Dulce se foi rompendo silêncios, quebrando medos e construindo e deixando segredos e novas formas de lutar contra o medo. Deixou palavras aladas, cânticos e amores pelas memórias e pelos corações dos que com ela aprenderam a sonhar e a lutar. Deixou em curso o descascar da fruta e o renovar da pele contra as máscaras invisíveis da vida.

Eu lembro. Eu a vi ali, tantas vezes no dia dois de fevereiro, com seu bailado e seu canto a banhar com água benta os que precisavam mudar suas vidas. Eu vi. Eu lembro. O seu sorriso doce como as águas do Amazonas que levam neste instante nossas oferendas a essa princesa que reinou e nos deixou o tesouro de sons e amores, onde não cabem sombras, apenas luzes para sempre. Saravá!

(*) Homenagem à dona Dulce Moreira, Primeira Mãe-de-Santo do Amapá

NOTA. Toia= Termo feminino derivado de Toi, que significa Pai na tradição Jêje maranhense. No Pará trata-se de um termo anteposto ao nome de uma entidade para indicar sua ascendência nobre.

*Republicado por hoje o Dia de Iemanjá.  

Última apresentação pública: há exatos 55 anos, os Beatles fizeram um show no terraço da gravadora Apple, em Londres

Foto: Tumblr Bealtes

Há exatos 55 anos, no dia 30 de janeiro de 1969, uma tarde de quinta-feira fria, os Beatles realizavam um show no terraço da gravadora Apple, em Londres (ING). Eles tocaram algumas músicas do projeto então chamado “Get Back” até que vizinhos chamaram a polícia. Foi a última aparição pública da banda, encerrada em 1970.

Na realidade eles vinham de um trágico período de gravações e ensaios num estúdio londrino, onde gravavam o filme Let It Be. As sessões foram terríveis, pois além da figura de Yoko Ono (grudada em John Lennon 24 horas), a banda estava brigando muito entre si. Desde o Álbum Branco, os quatro já não se entendiam muito no estúdio.

Foto: Tumblr Bealtes

Quando decidiram que Let it Be deveria ser gravado no novo, porém precário Apple Studios, os Beatles também pensaram que poderiam agir normalmente. As sessões no prédio da Apple ocorreram com mais calma, tanto que a ideia de tocar no telhado do prédio veio do próprio Lennon.

Antes, Paul McCartney tinha planejado realizar um concerto no final das gravações. Locais no mundo inteiro foram vistos para o show, porém a maioria deles não havia como, ou estavam com agendas apertadas. Então amargamente, os Beatles decidiram tocar no telhado do prédio. Até Harrison, avesso a shows, gostou da ideia.

Naquela tarde fria, os primeiros acordes de Get Back foram fundamentais para que os moradores dos prédios vizinhos viessem até a sacada para dar uma olhada naqueles cabeludos tocando rock. Os Beatles tocaram nove músicas e durante 40 minutos, até a Polícia bater na porta da Apple e um nervoso Mal Evans tentando explicar que “Os Beatles” estavam tocando no telhado da Apple.

Segundo o livro “The Beatles – Biografia” de Bob Spitz, a polícia nem sequer pediu para acabar com o show, apenas solicitaram que os Beatles abaixassem o volume dos instrumentos, eu disse abaixassem, porém, como eles eram, não houve acordo e o show teve que acabar antes que eles pudessem terminar o set previsto.

Foto: Tumblr Bealtes

As canções tocadas foram:

1. Get Back (1)
2. Get Back (2)
3. Don’t Let Me Down (1)
4: I’ve Got A Feeling (1)
5: One After 909
6: Dig A Pony
7: I’ve Got A Feeling (2)
8: Don’t Let Me Down (2)
9: Get Back (3)

O show foi adicionado ao filme Let it Be e na realidade é o que vale a pena naquele filme. As sessões de Get Back (Let it Be) foram finalizadas, porém os Beatles não deram importância para as fitas, entregando nas mãos de Glyn Jones e depois nas mãos de Phil Spector, que destruiu tudo que eles fizeram, enfiando orquestrações e um solo de guitarra metálico para Let it Be, na qual George odiou.

Após a intervenção da polícia (que precisou ameaçar os funcionários da gravadora de prisão caso não permitissem o acesso ao prédio), os Beatles tocaram durante mais alguns minutos e encerraram o show com “Get Back”.

Paul chegou a brincar com a situação, improvisando a frase “Você está brincando no telhado de novo e sabe que sua mãe não gosta, ela vai mandar te prender”. John Lennon agradeceu ao público presente (e onipresente), com a frase “Quero agradecer em nome do grupo e de nós todos e espero que tenhamos passado no teste”.

Meu comentário: Não lembro onde achei o texto acima, mas o republico aqui há uns 10 anos. Apesar de amar Led Zeppelin e Pink Floyd e Rolling Stones, para mim, os Beatles foram e sempre serão os maiores. O último show, no terraço, foi reconstituído no filme “Across The Universe”, onde a banda que interpretou os caras de Liverpool executou a canção “All You Need Is Love”. Após 55 anos, todos nós ainda curtimos o som dos besouros e sempre precisaremos de amor.

Assista aqui mais sobre esse momento histórico do Rock:

Elton Tavares, com informações de sites de música, revistas Rolling Stones e Show Bizz, além dos meus mais de 40 anos ao som dos Beatles. 

Baiano e os novos caetanos – Por @giandanton

Por Gian Danton

Baiano e os novos caetanos era um quadro de humor do programa Chico City que satirizava a tropicália. Composta por Chico Anysio (Baiano) e por Arnaud Rodrigues (Paulinho Boca de Profeta), a dupla fez muito sucesso, o que levou ao lançamento do disco Vô bate pra tu, em 1974. O disco era não só uma sátira, mas também uma homenagem a Caetano Veloso e Gilberto Gil, que na época haviam sido exilados pela ditadura militar.

A música de maior sucesso do disco (Vô bate pá tu) fala justamente da delação de artistas no período. Além disso, havia até mesmo crítica ao milagre econômico, como em O urubu tá com raiva do boi.

A parte humorística fica por conta principalmente dos comentários ácidos e non-sense de Chico Anysio, que lembram as falas de Caetano e Gil.

Na música Cidadão da Mata, Chico fecha com o discurso, cheio de humor e de duplo sentido: “Amo, amo a mata! Porque nela não há preços. Amo o verde que me envolve… o verde sincero que me diz que a esperança, não é a ultima que morre. Quem morre por último é o herói. E o herói, é o cabra que não teve tempo de correr…”.

Em O urubu tá com raiva do boi, ele diz: “O norte, a morte, a falta de sorte… Eu tô vivo, tá sabendo? Vivo sem norte, vivo sem sorte, eu vivo… Eu vivo, Paulinho. Aí a gente encontra um cabra na rua e pergunta: ‘Tudo bem?’

E ele diz pá gente: ‘Tudo bem!’ Não é um barato, Paulinho? É um barato…”. Uma fala ao mesmo tempo humorística, profunda e non-sense.

Apesar de ser uma sátira, o disco ficou tão bom que fez enorme sucesso e levou seus autores a uma turnê pelo Brasil. Explica-se: além da humor e das letras engajadas, havia os ótimos arranjos musicais. De certa forma, pode-se dizer que Baiano e os novos caetanos era tão bom que pode ser incluído entre o melhor da tropicália.

Meu comentário: tenho 43 anos e lembro bem disso. Inclusive, minha tia Maria Penha tinha esse disco. Muito porreta!

Ouça aqui o disco completo:

Fonte: Ideias Jeca-Tatu

Museu da Imagem e o Sonho Coletivo – Por Fernando Canto

Imagem encontrada na página do Facebook do MIS-AP (antiga)

Por Fernando Canto

Há muito ouço falar da implantação de um Museu da Imagem e do Som no Amapá. Ideia que todos têm, mas que ninguém se habilita a iniciar. Se já houve nunca chegou a ser organizado de forma que se pudesse ter um acervo significativo, o que é quase improvável. Soube que há alguns anos um atuante deputado propôs um projeto, que foi aprovado pelos seus pares, tendo, porém, estancado na burocracia da administração estadual. Também fui informado de uma tentativa do governo municipal em criar e organizar um MIS em Macapá no início dos anos 90. Na época investiram na formação de um acervo da história da cidade desde que ela foi promovida à capital do antigo Território Federal, em 1944. Começaram por entrevistar antigos habitantes e velhos pioneiros que deram sua contribuição para o desenvolvimento local. Uma equipe de funcionários e cinegrafistas esteve em Belém para completar o processo de informações, colhido através da memória dos velhos servidores públicos. Ali contataram pessoas importantes para a vida do Território e da cidade, como a professora Aracy Mont’Alverne, o professor Theodolino Flexa de Miranda, Belarmino Paraense de Barros e muitos outros. A equipe fez um trabalho exaustivo de entrevistas em vídeos que certamente se constituiria um precioso documento memorial a ser bem aproveitado em exibições museológicas para estudantes e pesquisadores interessados em nossa história recente.

Infelizmente, como a falta de compromisso com o nosso passado é uma realidade desprezível, esse acervo precioso desapareceu. Ninguém sabe onde ele está. A mesma coisa acontece com fotografias, imagens de santos, documentos oficiais, películas, filmes em super-8, negativos fotográficos, discos, livros, revistas e fitas gravadas de depoimentos políticos, registros da cultura popular, discursos históricos de personalidades administrativas, etc.

O Museu da Fortaleza de São José, que já abrigou um acervo preciosíssimo da nossa história foi dilapidado por colecionadores ambiciosos. De lá levaram até os selos e as moedas da República do Cunani, que são relíquias de valor considerável no mercado internacional. Em 1950, a Comissão de Tombamento da Fortaleza, presidida pelo engenheiro Douglas Lobato Lopes, informou que nela existiam 50 canhões de ferro fundido, mas em 1972 havia apenas 20. Hoje não sei quantos restam, se por acaso restarem alguns originais, só para citar como exemplo.

Em 2003 a Prefeitura adquiriu o acervo fotográfico do historiador Coaracy Barbosa, que tem mais de 600 estampas antigas e o Governo do Estado fez o mesmo com o acervo familiar do governador Janary Nunes, que se encontram respectivamente na Coordenadoria Municipal de Cultura e na Biblioteca Pública Eucy Lacerda. Isso representa ponto positivo e responsabilidade com a memória amapaense.

A Prefeitura de Macapá, preocupada com isso, já abriu caminho para a implantação de um MIS municipal, que deverá ser executado durante as comemorações dos 250 anos de fundação de Macapá. Diante disso será necessário adquirir mais acervos particulares e institucionais, pesquisar materiais que devem estar em outros estados e talvez em países distantes, numa saga contínua para que o Museu Municipal da Imagem e do Som não seja apenas um local em que se conservam “artigos do passado”. O museu, na sua conceituação lógica e moderna, deverá ser uma fonte de imaginação e criatividade que nos permitirá sonhar e interagir com o futuro; que nos permitirá conectar no tempo, descortinar idéias e valorizar a cultura humana. Um museu dessa natureza traz a vontade do sonho coletivo.

Exposição fotográfica virtual celebra aniversário de Instalação da Justiça do Amapá

Com 33 anos de história desde a instalação oficial da Justiça do Amapá, ocorrida em 25 de janeiro de 1991, o Poder Judiciário amapaense carrega consigo muitas conquistas e momentos que marcam a trajetória de um povo em busca dos seus direitos. Neste dia, celebramos também a posse dos primeiros desembargadores do Tribunal de Justiça do Amapá. Em homenagem à data, lançamos hoje uma exposição fotográfica virtual sobre o início da instalação da Justiça Estadual. Confira aqui: Exposição fotográfica virtual “33 anos da Instalação da Justiça do Amapá e posse dos primeiros desembargadores do TJAP”

Com o título “33 anos da Instalação da Justiça do Amapá e posse dos primeiros desembargadores do TJAP”, a exposição é realizada virtualmente, em formato de site. Uma forma de o público relembrar memórias e conhecer um pouco mais sobre a história do Judiciário Amapaense.

A iniciativa conta com a curadoria dos servidores da Seção de Memória Institucional do TJAP, o historiador Marcelo Jaques de Oliveira e o museólogo Michel Duarte Ferraz, e com a colaboração da equipe de Secretaria de Comunicação da instituição.

A Mostra convida todos os internautas para uma viagem no tempo, na qual poderão prestigiar como foi o início do processo da Justiça por meio da criação das comarcas, postos avançados e juizados itinerantes. São apresentados registros da sessão solene que instalou a Justiça do Amapá, realizada no Fórum de Macapá, em 25 de janeiro de 1991.

Na ocasião tomaram posse seis desembargadores: Dôglas Evangelista Ramos, Honildo Amaral de Melo Castro, Mário Gurtyev de Queiroz, Gilberto de Paula Pinheiro, Luiz Carlos Gomes dos Santos e Benedito Leal de Mira. A Corte foi complementada em março do mesmo ano, com a nomeação do sétimo desembargador, Marco Antônio da Silva Lemos, também oriundo da magistratura.

Os desembargadores empossados foram os responsáveis não apenas pelos primeiros concursos da magistratura e dos servidores, como pela organização de carreiras e estruturação física do poder judiciário.

Confira aqui: Exposição fotográfica virtual “33 anos da Instalação da Justiça do Amapá e posse dos primeiros desembargadores do TJAP

– Macapá, 25 de janeiro de 2024 –
Assessoria de Comunicação Social
Central de Atendimento ao Público do TJAP: (96) 3312.3800

25 de janeiro, um dia na história: 33 anos da instalação do Judiciário amapaense e posse dos primeiros desembargadores do TJAP

25 de janeiro é um dia marcado na história do Estado, pois nesta data, em 1991, o Poder Judiciário amapaense foi instalado no recém-criado estado do Amapá. Nesta data, foram empossados pelo então governador Anníbal Barcellos (in memorian) os magistrados Dôglas Evangelista Ramos (aposentado), Honildo Amaral de Mello Castro (aposentado), Mário Gurtyev de Queiroz (aposentado), Gilberto de Paula Pinheiro (atual decano da Corte), Luiz Carlos Gomes dos Santos (aposentado) e Benedito Antônio Leal de Mira (in memorian) nos cargos de desembargadores do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP). O desembargador Marco Antônio da Silva Lemos (aposentado), que também compôs a primeira turma, foi empossado posteriormente, em 06 de fevereiro daquele ano.

Há 33 anos, os primeiros desembargadores do Amapá se tornaram os responsáveis por dar andamento ao processo de instalação do Judiciário amapaense e, desde então, a Justiça do Amapá cresceu e se desenvolveu, para hoje ser reconhecida como uma das mais céleres, transparentes e eficientes do país.

“Ficamos responsáveis por construir uma justiça ágil, rápida, que desse suporte aos anseios do povo amapaense e que facilitasse o seu acesso. E assim lá se vão mais de três décadas de dedicação à promoção da cidadania, defesa dos direitos e fortalecimento do Estado Democrático de Direito no Amapá”, detalhou o desembargador Gilberto Pinheiro, decano do TJAP.

Antes da efetiva instalação de seu Tribunal de Justiça, o Judiciário do Amapá tinha circunscrição judiciária e era vinculado ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal. De 1991 até os dias atuais, foram muitos avanços, como investimentos em obras, ampliação e capacitação do quadro de pessoal e modernização tecnológica.

Desde a sua instalação, a Justiça Estadual do Amapá tem desempenhado um papel vital na consolidação e proteção dos direitos dos cidadãos amapaenses. Ao longo desses anos, a instituição tem sido um pilar essencial na busca pela igualdade, equidade e justiça para todos.

A contribuição significativa da Justiça Estadual pode ser vista em diversas áreas, desde o julgamento de casos civis e criminais até a defesa dos direitos individuais e coletivos. Os magistrados, servidores e demais profissionais que compõem a estrutura da Justiça Estadual têm se dedicado incansavelmente à missão de garantir que a aplicação da lei seja efetiva, justa e alinhada aos princípios fundamentais da sociedade amapaense.

O presidente do TJAP, desembargador Adão Carvalho, expressou sua gratidão e reconhecimento aos magistrados, servidores e colaboradores que contribuíram para o sucesso da Justiça Estadual ao longo dos 33 anos. O chefe do Poder Judiciário, que compõe a primeira turma de juízes do Amapá, também empossada em 1991, no mês de outubro, se disse feliz e orgulho pela história da instituição.

“Ao longo desses 33 anos, a Justiça Estadual do Amapá enfrentou e venceu desafios, que resultaram em conquistas notáveis para a sociedade. Entre eles, a modernização de processos, a ampliação do acesso à justiça e a promoção de programas de cidadania, entre tantas outras iniciativas que demonstram o compromisso contínuo da instituição com a melhoria constante de sua prestação jurisdicional. Por conta dessa atuação, somos referência nacional. Temos muito orgulho dessa história e seguiremos empenhados em melhorar sempre o trabalho em prol da população”, destacou o presidente do TJAP, desembargador Adão Carvalho.

Sobre a primeira composição de desembargadores

O desembargador Gilberto Pinheiro, que além de decano do TJAP também é historiador, relembra como foi composta a primeira turma de desembargadores do estado. “A primeira composição foi formada por sete desembargadores, sendo cinco juízes, um promotor e um advogado. Estes foram os fundadores deste Tribunal, nomeados pelo então governador do estado, nosso saudoso comandante Anníbal Barcellos”, destacou.

Na época, o Tribunal de Justiça do Amapá teve como seu primeiro presidente, o desembargador Dôglas Evangelista, que designou os desembargadores Mário Gurtyev e Gilberto Pinheiro para conduzir a instalação das comarcas do interior do estado.

– Macapá, 25 de janeiro de 2024 –

Secretaria de Comunicação Social do TJAP
Texto: Elton Tavares
Arte: Carol Chaves
Central de Atendimento ao Público do TJAP: (96) 3312.3800

Muitas gerações estudaram no Colégio Amapaense, que completa 77 anos hoje

CA, ainda sem a segunda parte de seu prédio. Foto do acervo de Edgar Rodrigues.

Por Edgar Rodrigues

O Colégio Amapaense completa 77 anos hoje. O nosso querido Colosso Cinzento, sediado em Macapá na Avenida Iracema Carvão Nunes nº 419, no bairro Central. Criado pelo governador Janary Gentil Nunes, através do Decreto territorial nº 49, de 25 de janeiro de 1947. Recebeu inicialmente o nome Ginásio Amapaense. Iniciou suas atividades em abril do mesmo ano, de forma condicional, até agosto, quando foi autorizado para funcionar pela Seccional do Ensino Secundário do então Ministério de Educação e Saúde, sediada em Belém (Pará), pela Portaria nº 367/47.

Na época, a matrícula inicial foi restrita à 1ª e 2ª séries ginasiais, tendo como sede o Grupo Escolar Barão do Rio Branco (Grupo Escolar de Macapá) em caráter temporário até a conclusão de seu prédio (primeiro bloco). Em 12.03.1949 é fundado o Grêmio Literário e Cívico Ruy Barbosa, congregando alunos do Ginásio Amapaense. A primeira diretoria ficou constituída de José Raimundo Barata (presidente), Mário Quirino da Silva, Edilson Borges de Oliveira. A posse se deu em 24 de março, em solenidade no Salão Nobre da Escola Profissional Getúlio Vargas (atual Escola Integrada de Macapá, antigo GM).

Em 12 de julho de 1950, o Ministério da Educação e Saúde expediu a Portaria nº 244, concedendo equiparação do Ginásio Amapaense, reconhecendo o ensino ministrado com validade para todo o país. Em 25.01.1952, pelo decreto governamental nº 125/1952, o Ginásio Amapaense passa a se chamar Colégio Amapaense, recebendo alunos do antigo Curso Científico, que passa a receber a nomenclatura de Curso Colegial, correspondente atualmente ao Ensino Médio, funcionando em três turnos.

Foto: Elton Tavares

Em 13 de junho de 1952 passa a funcionar definitivamente em seu prédio próprio, na AV Iracema Carvão Nunes com a Rua General Rondon, com apenas 9 salas de aula.

Assim, o Colosso Cinzento da Avenida FAB, como a Fênix da Mitologia Grega, renasce das cinzas do esquecimento de administrações anteriores, e ressurge colossal e maravilhoso, dando um aspecto paisagístico ainda bastante arrojado, no início do século XXI, formando mentes para desenvolvimento da cidadania e realização profissional

Tenho a honra especial de dizer que fui estudante de lá, e com certeza os professores do CA foram a base de todo o meu conhecimento atual.

Meu comentário:

Assim como o amigo Edgar, estudei no Colégio Amapaense nos anos 90. Lá fiz amigos que me acompanham até hoje e vivi aventuras inesquecíveis. Sinto saudade da velha turma, daqueles dias incríveis da nossa feliz. Viva o CA! – Elton Tavares.

*Edgar Rodrigues é jornalista e estudioso da história do Amapá.

Meus parabéns à Rede Amazônica pelos 49 anos de jornalismo no Amapá

A TV Amapá completa 49 anos de fundação nesta quinta-feira (25). A emissora é afiliada da Rede Globo e a única com programação exibida nos 16 municípios amapaenses. O veículo integra a Rede Amazônica, um conglomerado de TV’s, rádios e portais de internet espalhadas pelo norte brasileiro , exceto no estado do Tocantins e Pará (somente CBN no Pará, veículo que integra o grupo).

A TV Amapá é o veículo de comunicação mais poderoso do Estado. Tive o prazer de trampar lá, por pouco tempo é verdade, mas foi um aprendizado. Em julho de 2008, por falta de espaço físico dentro da Rede Amazônica local, o Portal Amazônia funcionava na redação da TV Amapá. Fui estagiário na TV Amapá e Portal Amazônia. Observei e absorvi o que pude naqueles tempos.


De acordo com o jornalista Humberto Moreira, foi a Copa de 74, na Alemanha, que motivou o então governador do Território Federal do Amapá, Arthur Henning, a comprar os equipamentos de TV para a exibição dos tapes do Brasil naquele Mundial.

“Em campo o time não foi bem e perdeu para a Holanda nas quartas de final. Os jogos eram gravados em Belém (PA), que já recebia imagens por satélite. E um avião do Serviço de Transportes Aéreos do Território trazia a fita para ser exibida aqui com todo mundo sabendo o resultado, pois a Rádio Difusora de Macapá retransmitia as partidas.


Depois da Copa, o governo vendeu os equipamentos ao empresário amazonense Filipe Daou que inaugurou a TV Amapá em janeiro de 75”, contou Humberto. Ela se vão 49 janeiros!

Por lá passaram muitos profissionais feras do mercado local e que atuam fora do Amapá. Lembro bem do dia que cheguei lá e fiz o teste com o Arílson, meu primeiro chefe no jornalismo. Recordo do bom humor do Seles e aprendizado com ambos.

Antiga Redação da TV Amapá (esquerda) e eu fiz no jornalismo da Rede Amazônica, em 2008 (direita).

Também da parceria da Cleidinha, das histórias do Evandro Luiz, dos amigos da técnica, das sacadas do Edson Cardozo, da rabugice engraçada do Renato, da gentebonisse do Max, seriedade do João Clésio (na época) e da gaiatice dos cinegrafistas, enfim, do quanto fui bem tratado por lá. Sobretudo pelo então chefe de jornalismo.

Pela importância da emissora, contribuição para o crescimento do Amapá e talento dos colegas e amigos que trampam por lá (e sempre me dão apoio onde quer que eu trabalhe), parabenizo a TV Amapá e seus colaboradores. Congratulações, parceiros!

Elton Tavares

71 anos do Fórum dos Leões: ‘Abrigo da Justiça e da equanimidade’ nos tempos do Território Federal do Amapá

Neste dia 25 de janeiro, os servidores do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP) Marcelo Jaques (historiador) e Michel Ferraz (museólogo) apresentam o artigo “71 anos do Fórum dos Leões: ‘Abrigo da Justiça e da equanimidade’ nos tempos do Território Federal do Amapá”, publicado na 4ª Edição da Revista Diretriz – Precedentes Qualificados do TJAP. Confira em nosso portal.

No contexto de instalação da estrutura político-administrativa do então Território Federal do Amapá – dada a partir de sua criação, no ano de 1943 – foi construído aquele que é hoje carinhosamente conhecido como Fórum dos Leões.

Edificado em uma área privilegiada da cidade, em frente ao grandioso rio Amazonas, o fórum teve sua obra iniciada em 1945 e foi inaugurado no ano de 1953 com a finalidade de sediar o novo Judiciário territorial da capital amapaense, simbolizando a desvinculação da Justiça do Amapá do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, e sua vinculação direta ao governo Federal, por intermédio do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.

Seu projeto arquitetônico foi delineado por uma equipe de técnicos do Rio de Janeiro responsável por iniciar e acompanhar as obras de edificação das dependências administrativas do novo território. De estilo Historicista, com 735,60m² de área construída, o Fórum apresenta sua estrutura em concreto armado e possui elementos que remetem à antiguidade clássica, como colunas e capitéis que lembram a ordem dórica, detalhes nas portas e janelas, pé direito alto, frontão – com destaque para a imagem da Deusa Justiça – entablamento decorado com brasões, dentre outros.

A construção teve sua primeira etapa concluída em 1948, passando por reformas e ampliações nos anos seguintes (AMAPÁ, 1999, p. 101), recebendo, dentre outras benfeitorias, amplas escadarias e, em seu pátio, duas esculturas de leões produzidas pelo artista português, radicado em Macapá, Antônio Pereira da Costa (FOTO…, 2018), o que embelezou ainda mais sua fachada e lhe rendeu a carinhosa alcunha de “Fórum dos Leões”.

O formato atual veio em 1951, mas, com acima destacado, sua inauguração deu-se somente na festiva noite do dia 25 de janeiro de 1953 com a presença do Ministro da Justiça e dos Negócios Interiores, Francisco Negrão de Lima, do então Governador do Território Federal do Amapá, Janary Gentil Nunes, de autoridades nacionais e regionais, como também da população local.

A saudosa edificação funcionou como casa da justiça por mais de três décadas, até o ano de 1986, data em que foi inaugurado a nova sede da justiça da Comarca de Macapá, Fórum Desembargador Leal de Mira. Ao longo desse período, o edifício – situado na outrora rua Amazonas, n. 26 – abrigou diversos órgãos e instituições, dentre eles o Tribunal do Júri, o Cartório de Registro Civil, o Cartório de Imóveis, o Juizado de Direito, o Cartório do 2º Ofício da Comarca de Macapá, o Tribunal Regional Eleitoral, a Promotoria Pública e a Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Amapá (OAB-AP), tendo um papel crucial no processo de alargamento da prestação judiciária amapaense por abarcar a grande maioria das demandas do Poder Judiciário de então.

No ano de 1989 o prédio foi emprestado a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AP) pelo Governador pro tempore, Gilton Pinto Garcia, para servir de sede da instituição. E em 13 de novembro de 1995 foi definitivamente transferido a Ordem por meio da Lei Ordinária n. 0240, promulgada pelo Governador João Alberto Rodrigues Capiberibe, encerrando de vez o seu ciclo como .

Seja por sua beleza arquitetônico, ou mesmo por seu papel na administração territorial, o Fórum dos Leões se apresenta hoje como um importante patrimônio histórico e cultural do povo amapaense e símbolo maior da Justiça Tucuju. Ao longo do tempo foi incorporado à história, à memória e à paisagem natural e cultural da cidade, guardando uma profunda ligação identitária com seus habitantes. Através dele também se observa o surgimento de uma nova fase da Justiça local, marcada pela autonomia em relação ao estado do Pará, por uma maior estruturação física, e pela ampliação da prestação jurisdicional, gênese de um Judiciário genuinamente amapaense, solidificado com a instalação do Tribunal de Justiça do Amapá, no ano de 1991.

Recordando que, para além dos momentos jurídicos e cívicos, o antigo Fórum também fez parte da vivência social da comunidade. Foi cenário de diversos momentos especiais, local de passeios familiares onde as crianças brincavam admiradas com os leões guardiões, palco de inúmeros enlaces matrimoniais, ponto de encontros sociais e de casais enamorados ao cair da noite. Tudo registrado em fotografias e na memória da sociedade amapaense, confirmando o valor afetivo da edificação que fez e ainda faz parte da dinâmica social do povo amapaense.

Para mais informações, sobre esse e outros assuntos relacionados a história da justiça do Amapá, acesse o Portal da Memória Institucional, disponível em: https://old.tjap.jus.br/portal/apresentacao-portal-memoria.html. Ou entrar em contato com a Coordenadoria de Informação, Documentação e Memória Judiciária – Seção de Memória Institucional, pelo número: (81) 99938-2018.

– Macapá, 25 de janeiro de 2024 –

Secretaria de Comunicação do TJAP
Texto: Marcelo Jaques de Oliveira / Michel Duarte Ferraz
Seção de Memória Institucional
Arte: Carol Chaves
Central de Atendimento ao Público do TJAP: (96) 3312.3800

Mazagão Velho, a cidade que atravessou o oceano, completa 254 anos – Crônica/resgate de Elton Tavares

Mazagão Velho – Foto: Gabriel Penha. Ruínas de uma igreja construída no século XVIII – Foto: Hélida Penafort Mazagão Velho, no frame de vídeo (documentário em produção) cedido pelo amigo Aladim Júnior Antigo cemitério de Mazagão Velho, no frame de vídeo (documentário em produção) cedido pelo amigo Aladim Júnior Prefeitura de Mazagão – Foto: Elton Tavares

Crônica/resgate de Elton Tavares

Mazagão Velho completa 254 anos de fundação hoje (23). A minha família paterna veio do Mazagão, não do Velho, mas do “Novo” (que não tem nada de novo). Bom, vou falar um pouco da cidade e depois da relação do local com o meu povo.

O município de Mazagão tem uma história peculiar, rica em detalhes sobre o Amapá. Mazagão foi fundada porque o comerciante Francisco de Mello pretendia continuar com o comércio clandestino de escravos, mas pressionado pelo governador Ataíde Teive, resolveu cooperar, fornecendo índios para os serviços de construção da Fortaleza de São José, na capital do Amapá, Macapá.

Foto: Gabriel Penha

Em retribuição, foi anistiado e agraciado com o título de capitão e diretor do povoado de Santana; mas, por conta de uma epidemia de febre, que acometeu os silvícolas, foi transferido para a foz do Rio Manacapuru, e, pelo mesmo motivo em 1769, para a foz do Rio Mutuacá.

Em 10 de março de 1769, D. José I, Rei de Portugal (POR), desativou a cidadela de Mazagão, na então colônia do Marrocos (MAR); eram 340 famílias sitiadas pelos mouros. Elas foram transferidas para Belém (PA). Para alojar estes colonos, o governador mandou construir um povoado às margens do Rio Mutuacá. Em 7 de julho de 1770, começaram a ser transferidas 136 famílias para a Nova Mazagão, hoje cidade de Mazagão Velho, como já se denominava o lugar, pois desde o dia 23 de janeiro de 1770, havia sido elevado à categoria de Vila.

Acervo familiar.

Na verdade, meu saudoso avô paterno, João Espíndola Tavares, nasceu na região do alto Maracá, no Sítio Bom Jesus – localidade de difícil acesso. Para chegar ao local, as embarcações precisavam passar por muitas cachoeiras do município de Mazagão. E minha santa vó, Perolina Tavares, bisneta do senador do Grão Pará, Manoel Valente Flexa (que foi manda-chuva em Mazagão, no tempo em que lamparina dava choque), também nasceu naquelas bandas. Ah, meu vô foi prefeito do Mazagão (preso pelo golpe de 1964, a então “revolução”).

Lá eles namoraram, casaram e constituíram família. Meu pai, Zé Penha e meus tios Maria e Pedro, nasceram no Mazagão. Os filhos mais novos do casal, Socorro e Paulo, nasceram em Macapá, onde minha família paterna é uma das pioneiras. Meu avô partiu em 1996 e meu pai depois dele, em 1998. Mas a família Tavares preserva a dignidade, o respeito e a amizade – fundamentais para a vida – aprendidos no Mazagão e trazidos para a capital amapaense.

Eu, com vó e vô. Gratidão! – Mazagão (AP) – 1978

Quando criança, fui ao Mazagão, mas não tenho essas lembranças na cachola dessa época. Retornei ao município em 2009, quando meu avô foi homenageado na Loja Maçônica da cidade, por ter sido um de seus fundadores. Depois, em 2010,  para cobrir a Inauguração da Ponte sobre o rio Vila Nova, na divisa da cidade com a vizinha Santana. Em 2012, para a cobertura do aniversário de fundação da antiga vila e em 2022, quando nos despedimos de nossa matriarca, a vó Peró, ao jogarmos suas cinzas no Rio Mutuacá.

É, minha família paterna veio do Mazagão (na década de 50). De lá trouxe uma nobreza que admiro e muito me orgulho. Não sei explicar a sensação de ir lá, mas a senti todas as vezes. Parece um lugar em que já estive há muito, muito tempo. Quem sabe noutra passagem por aqui. Do que tenho certeza, é que tais raízes nos deram muita cultura, histórias legais e respeito às tradições. Meus parabéns, Mazagão!

Arte: Secom/TJAP

*Este texto, atualizado para hoje, é parte da monografia que escrevi para o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Comunicação. E também é um entre os 60 escritos do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em 2021.

Ainda sobre Mazagão Velho, assistam a reportagem do programa “Repórter da Amazônia | Mazagão”: