Secult/AP divulga resultado preliminar do edital “Circula Amapá”

A Secretaria de Cultura do Amapá (Secult/AP) divulgou, na última segunda-feira (27), a lista de habilitados e inabilitados da chamada pública “Circula Amapá”. No total foram analisadas 253 propostas de diversos segmentos culturais, sendo 119 consideradas aptas pela comissão avaliadora formada por técnicos da pasta e profissionais da cultura convocados. Com a publicação, os proponentes indeferidos na seleção terão até o dia 29 de julho para interpor recurso, encaminhando formulário disponível no site da Secult (www.secult.ap.gov.br), para o e-mail [email protected].

Após a fase de recursos, a Secretaria realocará as vagas restantes para os demais segmentos pontuados na análise preliminar, totalizando 137 propostas habilitadas pelo edital. O resultado final dos projetos selecionados está previsto para sair no dia 30 de julho.

Os avaliadores analisaram as propostas considerando critérios técnicos e artísticos, além da coerência no uso dos recursos disponíveis; qualificação do proponente e ficha técnica; interação artística com a diversidade cultural do Amapá; e a contrapartida oferecida para a população e/ou artistas locais. Deste modo, o edital alcançou projetos artístico-culturais dos segmentos de cultura popular (marabaixo, grupos juninos e capoeira), teatro, circo, dança, artes visuais, artesanato, audiovisual, literatura e música.

A iniciativa tem como principal objetivo premiar projetos da cadeia produtiva da cultura e das artes em todo Estado. Os recursos para execução são provenientes de emenda federal articulada pelo senador do Amapá, Davi Alcolumbre, com o intuito de valorizar e fortalecer a cultura amapaense, incentivando a produção local com políticas ampliadas para os projetos que favorecem a circulação de bens, produtos e serviços artísticos e culturais em âmbito local, estadual, nacional e internacional.

De acordo com o titular da Secult, Evandro Milhomen, a iniciativa promoverá a cultura amapaense de forma integral, com os diversos segmentos contemplados com recursos que lhes garantirão movimentar a produção local, oferecendo ao público do Estado acessibilidade aos meios culturais.

“Temos trabalhado muito. Nosso objetivo é, dentro de nossas possibilidades, fomentar a cultura mesmo em tempos de Covid-19. Entendemos que isso é fundamental para ampliarmos as possibilidades de valorização e fortalecimento cultural do Amapá em todas as suas vertentes, bem como gerar renda para a classe artística”, pontuou o secretário Evandro Milhomen.

Confira a lista completa AQUI:

https://editor.amapa.gov.br/arquivos_portais/publicacoes/SECULT_d54689e4188c86fff93e4130b0693e97.pdf

Poesia de agora: Solidário com a solidão, poema de Ronaldo Rodrigues ilustrado por Ronaldo Rony

Solidário com a solidão

chego em casa sozinho
sem pão sem circo sem vinho
pra quebrar o silêncio
só a música ruim do vizinho
e o latido maldito do cão

não sei o que fazer
não tenho onde me esconder
já que na casa não tem porão

me jogo no sofá
da sala de mal-estar
e ligo a televisão
sem dar crédito
ao assédio do tédio

tentando talvez em vão
ser solidário
com a solidão

Poema de Ronaldo Rodrigues ilustrado por Ronaldo Rony

Poema de agora: DELÍRIOS III – Pat Andrade

DELÍRIOS III

jardins surreais
flores de cristal
asas translúcidas
borboletas feitas de sonho

noites insólitas
estrelas de ouro
brilho de lua
caminhos de luz

vidas secretas
amores vadios
delícias adiadas
vontades guardadas

tudo é desejo
tudo é sonho
tudo é delírio

por toda a madrugada

tudo é por nada…

Pat Andrade

Poema de agora: DEIXA – Pat Andrade

DEIXA

deixa que eu
me embriague de poesia
que eu me atire
nos braços da musa

deixa que eu adormeça
esquecido do mundo
que não veja o fracasso
chegando aos tropeços

deixa que eu carregue
o peso da pena
sem a dor do esquecimento
sem a sina da mediocridade

deixa que o poema
me invada, me alimente e me fecunde
sem que eu me farte de empáfia
e me acomode na estante

deixa que o verso viva em mim
e que de mim parta
para inundar outros olhos
para habitar outros corpos
para encontrar novos portos

agora deixa…

PAT ANDRADE

Poema de agora: Explicação – Por @alcinea

Explicação

Vivo do ato de escrever
sobre tragédias
e espetáculos
sobre o candidato vitorioso
e o derrotado
sobre o deputado corrupto
e o governante que finge ser honesto
sobre a exportação da mandioca
e a importação da farinha
sobre a fome
e a riqueza
sobre o real
e o dólar.
Perdoa-me, Anjo,
não sobrou tempo
para escrever
um poema de amor.

(Alcinéa)

 

*Alcinéa é uma das grandes poetas e escritoras do Amapá, além de querida amiga minha. Este poema foi republicado por conta de hoje ser o Dia Nacional do Escritor. 

Poema de agora: Eterno Retorno – Jaci Rocha

Eterno Retorno

Desde que acordei
Já deixei pra trás tanta coisa!
Meu sonho esquecido da noite anterior,
A beleza da lua passada,
E até um belo par de asas…

É que o tempo cria demônios
Redemoinhos e tufões
E leva embora tudo que somos – efemeridade
Para trazer, com o mover do mundo,
Novas partículas de segundo.

Por isso, adeus, adeus!
Mas é sempre até breve…
Pois na curva do arco-íris
O amor (mágica infinita)
Em si, repete.

O vento que fez a curva,
Girou a roda do universo
voltou no dobrar da esquina,
arejou certezas,
e hoje dança com as cortinas…

Jaci Rocha

Poema de agora: Sacrilégio – (@cantigadeninar)

Sacrilégio

Este poema é um pedido de perdão
a todos os outros poemas
que já desperdicei
amassei
apaguei
deletei
& joguei fora.

Em cada inefável aurora
minha culpa se multiplica
pela subtração arbitrária
de textos
liras
sonetos
silenciados pelo ego.

Ao julgar a qualidade
ou a falta dela
diminuo a mim mesma:
cada poema no lixo
equivale a menos um dia de vida na Terra
ou um dia a mais de penúria no inferno?

Lara Utzig

Poema de agora: Dependurados contra o Sol – Luiz Jorge Ferreira

Dependurados contra o Sol

Jesus Cristo estava brincando com os vírus que tinham sobrado do Sarampo.
Quando minha mãe gritou para os Cúrios que sobrevoavam sedentos o Igarapé.
Podem pousar e beber, as águas do Pacoval não ardem.
Na Mongólia os lagartos ouviram a tradução em Libras, e correram em direção às dunas abandonadas na Líbia.
O Mundo é Azul.
A Terra é Azul.
E Eu sou Blue.

Não tenho obrigação de domar Botos, nem me amigar com Mururés.
Minha obrigação é colorir os ventos, fazer trança nas brisas, maquiar as bruxas, e colocar suas sombras de cócoras.
Enquanto Ontem de Anteontem.
Deus ensinava as estrelas a brilhar.
Faço trejeitos sutis para as estátuas de ceras dos Pastores de Ovelhas no Recôncavo Baiano.

Mamãe insiste com o bando de Cúrios …as águas do Pacoval não são tristes, se aproximem delas.

Uma nuvem jovem louca para mudar de cor e provocar trovões e relâmpagos.
Ajoelha-se em torno do menino de cabelos cacheados, que em Aramaico, lhe aconselha que beba d’água morna e sedosa, com que o Pacoval banha os tralhotos.
Minha mãe grita em Esperanto…as águas do Pacoval não ardem.
Em silêncio…eu desenho em Braile na areia sobre restos de escamas de Sereias e Caramujos lilás… Eu sei!

Luiz Jorge Ferreira

* Poema oriundo no dia 23.07.2020, também conhecido como Hoje. Osasco (SP) – Brasil.

Poema de agora: O mundo avesso dos amantes – Augusto Oliveira (declamado em vídeo por Pat Andrade)

O mundo avesso dos amantes

Que mundo era aquele
Onde existiu aquele Improvável beijo?
Não era o dos noticiários noturnos
Menos ainda o dos transeuntes soturnos
Noctâmbulos do cotidiano das ruas
Ou sonâmbulos com olhos taciturnos.

Então, que mundo era aquele
No qual um beijo improvável se permitiu
Mesmo que na contramão
Fora da lei,
Da gravidade,
Da cogitação?

Era o mundo paralelo
De beijos, de romances.
Dos amores vaticinados como impossíveis
Por isso, mais sedutores que o fascínio sedutor dos amantes.
Um mundo facultado,
Talvez por um semideus degredado
Concedendo aos loucos e aos poetas
um mundo avesso ao direito.
Um mundo-outro-mundo
Possível, porque devaneio
Provável, porque desatino
Tangível, porque, às vezes letra
Escrita indelével na outra boca.

Augusto Oliveira – (declamado em vídeo por Pat Andrade)

Poema de agora: CHUVA ESQUISITA – @Alyne_Monteiro (na voz de @manudosertao)

CHUVA ESQUISITA

Uma vez ficou com tanto medo da chuva
que chorou um choro desesperado mesmo
O pavor era de que aquela chuva forte
já na calçada de casa
invadisse sala adentro
e submergisse sofás e a estante velha de livros
e talvez com mais alguns segundos atingisse
o teto e as lâmpadas
Enquanto soluçava trêmula de medo
reparava o vidro de conserva com flores
de plástico afogadas em um líquido cor de rosa
Queria aquela chuva esquisita
fazer com a casa o que a
água cor de rosa fez com as flores?

Aline M. (voz e vídeo áquila e.)

Poema de agora: A CHAMA – Ori Fonseca

 

Ilustração: Burning Man Festival.

A CHAMA

No mundo onde só havia eu mais tu,
O vírus não matava, o amor floria,
Ninguém sabia o que era homofobia,
Um arco-íris no céu de norte a sul.

Tudo era bicho e alma e andava nu,
O ódio não matava, o horror não ria,
Toda palavra emanava poesia,
Um mar azul lambendo a terra azul.

Mas eis que eu sinto um golpe, e, no segundo,
Toda a paisagem desapareceu,
Sinto meu corpo arder… tornar-se breu.

O corte na minha alma é mais profundo,
E agora o que mais quero é aquele mundo,
O mundo onde só havia tu mais eu.

Ori Fonseca