‘Observatório da Democracia’ libera acesso aos conteúdos da Agência de Notícias

Nesta terça-feira (7), ocorrerá a transmissão, ao vivo, às 19h30, do debate sobre ‘Políticas públicas e direitos da comunidade LGBT+’. A atividade marca a programação do ‘Dia do Orgulho LGBT’, comemorado em todo o mundo no dia 28 de junho.

Na oportunidade, a equipe de Comunicação do ‘Observatório da Democracia, Direitos Humanos e Políticas Públicas’ apresentará o portal de notícias, criado para difusão de informação e conhecimento sobre direitos humanos. O debate será ao vivo na página do Observatório: facebook.com/observadh

Acesso ao Observatório

Desde o dia 3 de julho está liberado acesso aos conteúdos produzidos e divulgados pela equipe da Agência de Notícias do Observatório. Os internautas podem conferir reportagens especiais, pesquisas e produção científica de pesquisadores da área de direitos humanos, além de conteúdo audiovisual disponível nos canais Observatório TV e Observatório na Rádio.

A Agência de Notícias é apoiada pela Pró-Reitoria de Extensão e Ações Comunitárias (PROEAC/UNIFAP), por meio do Edital nº 11/2019 de seleção de Escritórios Modelos.

O Observatório também está com postagens nas redes sociais, como Facebook, Instagram e Twitter: @Observadh.

De acordo com a coordenação do Projeto, o site tem por objetivo a divulgação de conhecimento e informação sobre democracia, participação política, direitos humanos e políticas públicas. A proposta é articular e promover a interação entre professores e pesquisadores que atuam em ações e pesquisas voltadas a

“O site é um espaço aberto à todos que tenham algo a dizer, a refletir e informar sobre a agenda complexa e abrangente na área de direitos humanos. O convite é para que participem do nosso espaço de opinião e análise, dedicado à manifestação crítica de ideias”, explica o docente da UNIFAP e coordenador do Observatório da Democracia, Direitos Humanos e Políticas Públicas, Prof. Me. Antônio Sardinha.

Sobre o Observatório

O Observatório atua na oferta de atividades em três frentes: no ensino, com a Escola de Formação em Direitos Humanos e Políticas Públicas; na pesquisa, com execução de investigação, reunidas no Grupo de Pesquisas e Estudos Interdisciplinares em Cultura e Políticas Públicas, e na extensão, com ações de formação e assessoria em política pública e direitos humanos.

Atualmente, o Projeto conta com a participação de sete pesquisadores da UNIFAP e colaboradores das áreas de mídia, política, comunicação, sexualidade, sociologia, geografia, história, entre outros.

Acesse: http://www.observatoriodh.com.br/

ASCOM/Unifap

Poesia que não se esgota (Fernando Canto)

A poesia não se esgota no pensamento porque ela é o esforço da linguagem para fazer um mundo mais doce, mais puro em sua essência;

A poesia procura tocar o inacessível e conhecer o incognoscível na medida em que articula e conecta palavras e significados;

Cada imagem representada, projetada pelo sonho, pela imaginação ou pela realidade, é um símbolo que marca o que sabemos da vida e seus desdobramentos, às vezes fugidios.

Mas nem sempre é o poeta o autor dessa representação, pois tudo o que surge tem base social e comunitária, depende da vivência de realidade de quem propõe a linguagem e a criação poética.

Quando isso ocorre estamos diante da autenticidade do texto poético. E todos somos poetas, embora nem sempre saibamos disso. E ainda que nem tentemos sê-lo.

Fernando Canto

Poema de agora: Prelúdio para a Catedral – Luiz Jorge Ferreira

Prelúdio para a Catedral

Encontro com Fernando Canto, parece que foi Ontem esses dez anos.
Aumentamos o grau dos Óculos.
Estou ileso, chamuscado , teso e ‘liso’, porém pareço eterno.
Ele fala.Eu falo.Bebe-se.
O tempo adoece.


Conversamos então sobre a solidão pousada no prato de azeitona, temo que sejamos herdeiros da mesma angústia que fala de canoas.
Digo-lhe que amaremos a mãe de nossos filhos, ele acha que Cuba pode vir a produzir mamão Papaya.
Divagamos sobre o fim de Tróia, e a glória de estarmos embriagados.
Bebo Conhaque e lhe segredo que sempre amei Helena.
Ele refere-se as Sereias como Sardinhas.
Diz que Deus é brasileiro, acho que tudo começou com um Símio.
Conhece uma Marcha Turca que termina em palmas, canta e eu aplaudo ritmicamente.

Belém está afônica.
Ele imita Sancho, eu imito o Capitão Gancho e Brizola.
Um Padre passa para a Igreja, atiro nele um caroço de azeitona.
Fernando vê-me menino, eu o vejo imberbe, fazendo poemas para as meninas do Colégio.
Digo-lhe que amaremos os netos de nossos filhos.
Ele acha que postumamente.

Os poetas Fernando Canto e Luiz Jorge Ferreira, em algum lugar do passado.

Rimos a ‘bandeiras despregadas’.
Mais ou menos de pé, cantamos o hino, despidos como nascemos.
O dono do bar, nos xinga.
É Domingo, saímos do bar, para a Missa.

Luiz Jorge Ferreira

* Do Livro Thybum – Rumo Editorial – 2004 (Primeira Edição) – São Paulo.

Como foi que eu perdi você? – Crônica de Evandro Luiz

Foto: Nathalia Rodrigues

Crônica de Evandro Luiz

Paulo Fontenelle era de Guarapuava, no Paraná, que até os dias de hoje mostra através de construções espalhadas pela cidade a forte presença espanhola na região no século XDC ( século 19). Ele tinha 34 anos, era casado com a chilena Maria das Dores e pai de dois meninos: André, de seis anos de idade, e Pedro, de três. Os dois se conheceram nas Cataratas de Foz de Iguaçu. Foi paixão a primeira vista. Em menos de seis meses eles estavam casados.

Ele trabalhava em uma fábrica de automóveis no setor de reposição de peças e ela dava aula de espanhol em uma escola privada. Não levavam uma vida difícil, mas também não chegavam a fazer parte da classe média. No fim do mês, não sobrava muito, mas dava o suficiente para o lazer das crianças e até mesmo do casal. Não abriam mão do costume de levar os filhos ao parque, fazer um churrasco de costela de cordeiro e tomar um bom vinho nos fins de semana.

A demissão de 50 trabalhadores, férias coletivas para outros 50, e a redução na jornada de trabalho acendeu a luz de alerta do casal. Na casa de Paulo e Maria, o clima já não era tão bom como antes.

As notícias negativas e a violência na cidade crescia muito e ocupava um longo espaço na mídia local e isso de uma forma ou de outra contaminava a relação entre os dois. A instabilidade econômica do país, levava o casal a desconfiar que o pior ainda estava por vir.

Como milhares de brasileiros, eles se perguntavam: Mas como podia isso acontecer em um país rico, que tinha o povo mais hospitaleiro do mundo, solidário e que não desistia nunca de seus ideais, de sua vocação em ser a maior liderança da América do Sul? Como um país que, além de ter o melhor futebol do mundo, tem ainda o carnaval, a maior festa popular do país.

Nenhum outro lugar no mundo tem tantos feriados como aqui. Não tem terremotos, tsunami, vulcões em erupções. E de repente, o que o casal mais temia, aconteceu: Paulo Fontnelle foi demitido da empresa depois de dez anos de casa.

Paulo não quis perder tempo e saiu em busca de um outro trabalho. Mas as respostas eram sempre as mesmas: não havia vaga. Foi aí então que Paulo Fontenelle tomou a decisão de procurar trabalho em cidades vizinhas.

Maria não disse nada, apenas chorou na janela que dava pro quintal da casa e viu a araucária, árvore símbolo do estado do Paraná, sem nenhum fruto de pinhão. Antes de sumir na esquina, Paulo olhou pra trás e acenou para a mulher e os filhos. Foram 15 dias de busca, mas sem conseguir nada. Cabisbaixo, pensando como iria sustentar a família sentiu um vento enrolar em sua perna uma folha de jornal.

E lá esta a na manchete. “A última fronteira agrícola no norte do país será ocupada por paranaenses”. Paulo pegou o ônibus e voltou para Guarapuava. Ao dobrar a esquina, viu a casa toda fechada. Sentiu um aperto no coração e quando abriu a porta não havia nada mais que um silêncio dilacerante. Foi até a sala e encontrou um envelope debaixo de um vaso já com flores murchas. Maria tinha voltado para Santiago. Enquanto lia, as lágrimas derramavam sobre o peito dolorido pela ausência da família.

Na saída do comboio de caminhões, via no horizonte a incerteza de uma nova jornada, em um lugar distante onde teria que lutar por um pedaço de terra. Chegou sentindo o calor de 40 graus, viu as terras e teve a sensação era ali a sua nova morada: na terra do meio.

Poema de agora: Atirando pedras por sobre os Ombros – Luiz Jorge Ferreira

 

Atirando pedras por sobre os Ombros

Eu vou me associar a você.
Sentados de costas para a terceira rua invernamos.
Rascunho com um pouco de saliva, desenhos a esmo.
A cara de um anjo careca tocando gaita.
Uma baleia azul vestida em um Suéter…Made in Pernambucana…voltada para Oeste.
Assobio mais da metade de uma Música de dois compassos que termina em Lá.
18:-45 .


Cruzo dois dedos polegares de unhas roídas, e os mordo até que sangrem.
Posso mergulhar meus dedos entre os teus cabelos úmidos de laquê.
Próximo escrever em Braile o décimo primeiro mandamento.
Aquele que diz:-NãoCreia.

Nada disso me importa quando caminho por ruas tortas com meus sapatos puídos de passos.
Eu amo os passos, os pés, e os sapatos.
Amo, os nós,os cós,e o Cal.


Amo o sal, e a brisa que enxuga o suor, e que penteia em mim os enfins espalhados pelas lembranças.
Ami a criança que fui e abandonei no Alpendre onde o Sol dormia a sesta na sexta-feira 13.
Adiante de mim o tempo como um imoral, mostrava-se despido.

Eu saí de mim, e passei a segui-lo.
Ele em um ritmo cada vez mais acentuado.
Hoje sei que fiz errado em arranhar a lua, e cuspir nas estrelas.
Enquanto eu corria entre os outros, que corriam entre outros, não havia lado que terminasse.
Os Corvos voavam as cegas e as penas que caiam, eu as pregava no corpo para ensaiar um vôo.
Por fim repleto de cicatrizes, tatuagens, garras, e tropeços.


Vejo-me as voltas com o retorno.
Hoje! Sozinho. Aqui estou.Como um Boto Cor de Rosa.
Menino e Avô.

Luiz Jorge Ferreira

*Do livro de Poemas “Nunca mais vou sair de mim sem levar as Asas” – Rumo Editorial – São Paulo.

Prevenção à Covid-19: MP-AP realiza testes rápidos em membros, servidores e colaboradores das Promotorias de Justiça da capital e interior

O Ministério Público do Amapá (MP-AP), por meio do Programa Saúde Ocupacional e Qualidade de Vida, encerrou o cronograma de testagens de membros, servidores, trabalhadores terceirizados e estagiários das unidades do interior para o novo coronavírus. Com profissionais do Serviço Social da Indústria (SESI/AP), contratados para a ação, a equipe do MP percorreu todos os municípios do Estado, onde foram aplicados 172 testes rápidos (IgG e IgM) para a Covid-19, somando-se a mais 30 testes já realizados na capital, Macapá.

Dentro da programação também foi finalizada a imunização para o H1N1. Todas são medidas necessárias para o retorno gradual do trabalho presencial, previsto para o dia 20 de julho. A atividade atende, ainda, orientações do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para segurança na retomada dos serviços presencias dos MPs estaduais, sob a coordenação da PGJ do MP.

Desde o início da pandemia, o órgão ministerial vem tomando todas as providências para cuidar da saúde de seus profissionais, além do público que acessa os seus serviços. Até o momento, já foram executadas diversas ações preventivas, seguindo as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), Ministério da Saúde (MS) e Secretaria Estadual de Saúde (SESA), por meio da Vigilância em Saúde.

Nesse sentido, o MP-AP também elaborou um Plano de Retomada Gradual das Atividades Institucionais (nº 001/2020), com um extenso protocolo de ações a serem executadas nesse período, entre elas, a higienização das unidades, vacinação e testagem em massa. Assim, no dia 23 de junho, uma comitiva de membros e servidores do MP-AP esteve na sede do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Amapá (SESI/AP) avaliando a metodologia das testagens rápidas (IgG e IgM) oferecidas pela entidade. Em seguida, no dia 25, a atividade chegou às promotorias de Justiça de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, seguindo logo depois para as unidades de Porto Grande, Tartarugalzinho, Oiapoque, Santana, Mazagão, Ferreira Gomes, Amapá e Calçoene.

A atividade é executada pelo assessor técnico e gerente do Programa de Saúde, José Villas Boas, e pela assessora técnica do MP, Carla Pena, acompanhados dos técnicos de saúde do SESI. “Ficamos muito satisfeitos pelos resultados obtidos, seguindo a orientação da PGJ para verificar a saúde dos trabalhadores do MP, garantindo a biossegurança coletiva por meio da testagem em massa. Na próxima semana passaremos a fazer as testagens na Promotorias da capital”, informou José Villas Boas.

Ainda de acordo com o gerente, com os testes foi possível detectar as pessoas que tinham contraído a Covid-19, possibilitando o imediato afastamento do trabalho presencial, para garantir a segurança das equipes do MP, bem como das pessoas que são atendidas diariamente pela instituição. A ação tem dado maior tranquilidade para a continuidade dos trabalhos.

Palestras virtuais

Além da testagem e vacinação, o Programa de Saúde do MP-AP vem promovendo seminários virtuais com profissionais de saúde do SESI, onde foram repassadas orientações às equipes com relação a, principalmente, cuidados com a saúde e mudança de hábitos – medidas que deverão ser tomadas a partir das novas rotinas estabelecidas em período de pandemia do novo coronavírus.

Até o momento, as palestras por videoconferência trataram sobre a adoção de hábitos saudáveis, ginástica laboral, cuidados com a saúde mental durante o isolamento social e nutrição para combater a ansiedade em tempos de pandemia. Os ministrantes são profissionais das áreas de enfermagem, educação física, psicologia e nutrição do SESI. O psicólogo do MP-AP, Ricardo Barbosa, também tem acompanhado a programação. Neste sábado (4), acontece a palestra “Cuidado no retorno das atividades presenciais”, com a enfermeira Luana Correa, no horário de 10h às 11h. Encerrando a programação mais dois seminários virtuais ocorrerão nos dias 16 e 17 de julho.

Serviço:

Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Amapá
Gerente de Comunicação – Tanha Silva
Núcleo de Imprensa
Coordenação: Gilvana Santos
Texto: Elton Tavares
Contato: [email protected]

Música de agora: Refazenda – Gilberto Gil

Refazenda – Gilberto Gil

Abacateiro acataremos teu ato
Nós também somos do mato como o pato e o leão
Aguardaremos brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração
Abacateiro teu recolhimento é justamente
O significado da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão
Abacateiro sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo
Cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também
Abacateiro serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário da leveza pelo ar
Abacateiro saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar
Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba

Randolfe destina R$ 1,2 milhão para programa de renda mínima em Santana

O senador Randolfe Rodrigues (REDE) destinou R$ 1.220.000,00 para o “Projeto Alimenta Santana”, lançado nesta quarta-feira, 1 de julho, pelo Município.

Os recursos foram obtidos via emenda parlamentar, junto ao Ministério da Cidadania, em ação especial de combate à pandemia da covid-19, e a previsão é que seja disponibilizado na conta da prefeitura em 10 dias.

A iniciativa é destinada para garantir segurança alimentar a pessoas em situação de vulnerabilidade social, causada pela pandemia do coronavírus.

Segundo a Prefeitura de Santana, durante 3 meses, as famílias beneficiárias receberão créditos em um cartão de compras que poderá ser usado para aquisição de itens como alimentos e gás de cozinha em estabelecimentos comerciais credenciados, preferencialmente no bairro dos assistidos.

O valor da recarga mensal será ainda definido em decreto municipal, após avaliação financeira da gestão.

Municípios

Randolfe também destinou recursos de emenda para assistência social durante a pandemia para mais 5 municípios: Oiapoque (R$ 300 mil), Serra do Navio (R$ 100 mil), Amapá (R$ 100 mil), Laranjal do Jari (R$ 100 mil) e Mazagão (R$ 100 mil). Tais recursos também aguardam liberação do governo federal.

A capital do estado, Macapá, tem destinado para o mesmo fim, através de emenda da bancada federal, R$ 10 milhões.

“Diante da mais profunda crise sanitária dos últimos tempos, a economia também foi afetada, sobretudo a vida financeira das pessoas mais humildes. Precisamos agir com pressa para que esses recursos cheguem o mais rápido possível à mesa. As famílias de Santana e de outras cidades do Amapá têm pressa”, declarou o senador Randoĺfe Rodrigues.

Assessoria de comunicação do senador Randolfe Rodrigues

Decreto determinando uso obrigatório de máscara de proteção em estabelecimentos públicos e privados é prorrogado por mais 15 dias pela Prefeitura de Macapá

O prefeito de Macapá, Clécio Luís, assinou nesta terça-feira, 30 de junho, o Decreto nº 2.051/2020, que, dentre outras providências, determina o uso obrigatório de máscara de proteção pela população em geral e que utiliza os estabelecimentos públicos e privados, mesmo com restrições. A medida se estende também aos usuários do transporte coletivo público municipal, bem como transportes de passageiros por aplicativo, táxi e mototáxis.

O Decreto Municipal assegura a cada estabelecimento a responsabilidade de exigir o uso obrigatório da máscara, sendo proibida a entrada de pessoas nesses estabelecimentos sem o uso do equipamento de proteção, seguindo a orientação do Ministério da Saúde. As máscaras poderão ser descartáveis ou confeccionadas de maneira artesanal, como as que vêm sendo distribuídas pela Prefeitura de Macapá à população de baixa renda.

 

Clécio aconselha que a melhor forma de prevenção ainda é ficando em casa. “A população, todos nós devemos utilizar sim a máscara. A prefeitura entregou cerca de 75 mil para as pessoas que têm menos condições de adquirir o equipamento de proteção, que, inclusive, pode ser lavável, podendo ser utilizado quantas vezes forem necessárias”, adiantou o prefeito.

Secretaria de Comunicação de Macapá
Kelly Pantoja
Assessora de comunicação

Antigamente era assim…(crônica de @rebeccabraga)

Crônica de Rebecca Braga

Há uns cinco anos, o telefone fixo lá de casa (residência dos meus pais) parou de funcionar. Meu irmão ligou na operadora e disseram que o problema era na fiação, depois disseram que só resolveriam pela matriz e que precisava criar um protocolo de atendimento, enfim, um monte daquelas desculpas que estamos acostumados a ouvir dessas cretinas operadoras de telefonia.

Como tomado por uma iluminação, meu irmão resolveu num dia qualquer, ligar para o nosso número. Vale dizer que essa linha está conosco há pelo menos 20 anos. Damos como contato no trabalho, na escola das crianças, naquela loja do crediário, como referências para os amigos, enfim. Ela nos é muito útil.

Acontece que a operadora havia vendido a linha, com o mesmo número de telefone pra outra pessoa. Meu irmão, já com aquela pose que todo advogado tem (ele é formado há pouco tempo) ameaçou processar e usou uns termos lá que eu não sei do que se trata, e enfim, umas duas semanas depois, resolveram o problema.

Nesse ínterim, desde que o telefone parou de funcionar, levando também a internet, já que se tratava de um serviço combo, até a operadora resolver o problema, eu senti falta do velho telefone fixo, pouquíssimo encontrado hoje nos lares brasileiros.

Quando precisava ligar pro rádio táxi, ou pra pizzaria, ou pro disque lanche, ou pra água, pro gás. E foi isso que me fez lembrar de quando não existiam celulares ainda.

No dia 31 de dezembro, um amigo que fazia aniversário escreveu numa rede social que é de um tempo em que ele sabia o número do telefone das pessoas que eram importantes pra ele, e que com o celular, essa virou uma tarefa impossível.

Eu também sou dessa época. Sabia o telefone da casa das minhas avós, dos meus tios, mesmo os que moravam em outras cidades, dos meus amigos de escola, dos colegas de farra. E hoje, vez por outra eu preciso olhar na minha agenda pra ver o número que tenho num chip de operadora que uso menos. Me sinto totalmente dependente do meu celular, e não sei dizer se isso é ruim. Pra não perder o fio da meada:

Eu lembro que quando eu era criança, os telefonemas eram todos para meus pais. Quando eu me tornei adolescente, as coisas mudaram. Os primeiros namoricos, as conversas intermináveis com as amigas de escola que eu via todo dia mas sempre tinha assunto pra conversar mais, os amigos de farra que ligavam pra marcar a hora e o lugar pra gente se encontrar pra viver as aventuras da noite, os amigos que moravam em outra cidade.

Ah, sobre esses, é importante dizer, sou do tempo que a gente esperava dar meia noite pra pagar um pulso só, e com isso, passar horas da madrugada matando a saudade e falando besteira.

O meu primeiro namorado, eu tinha 14 anos, me ligava todos os dias, no mesmo horário.

A maior parte do tempo a gente ficava calado, ou porque não sabia muito o que falar, ou porque tinha gente por perto e a gente não podia ficar falando aquelas bobagens pueris que a gente diz quando se apaixona pela primeira vez. Até bem pouco tempo atrás, o telefone dele era o mesmo, e ainda que nós tenhamos passado anos sem se ver, quando nos reencontramos e eu precisei falar com ele, não hesitei, liguei e do outro lado da linha ele atendeu. Foi como se um soco de nostalgia tivesse sido dado nos meus ouvidos e reacendido memórias guardadas há muito, junto com alguma saudade e um pouquinho de mágoa.

Certa vez, um amigo extrapolou na conta do telefone ligando pra os celulares dos amigos. A mãe o questionou, ele se saiu e ela armou uma cruzada contra a operadora por cobrar ligações que nunca foram feitas por eles. A operadora ligou pra os números que apareciam na conta mas, ainda que ninguém tivesse combinado nada, todo mundo disse não saber de quem se tratavam aquelas pessoas. Acho que essa conta nunca foi paga.

Uma amiga minha me ligou um dia pra me contar que um colega de turma dela estava apaixonado por mim. Eu pedi o número dele, ela me deu, eu liguei pra ele e do outro lado da linha o menino ficou em êxtase. Começamos a namorar alguns dias depois.

Claro que qualquer situação dessas podia acontecer pelo celular, mas eu sou como dizem, “das antigas”. E antigamente acontecia assim. Pelo menos comigo.

Rebecca Braga, ainda gitinha, ao telefone

Até hoje eu sei o telefone de alguns amigos meus e eu sinto falta daquela época em que alguém atendia em casa e gritava:

-Becca, telefone pra ti!

Às vezes eu sabia quem estava do outro lado, às vezes não. Tem alguma coisa diferente nisso… Pode parecer bobo, mas tem.

Em tempos de smartphones, quem tem telefone fixo, tem uma referência pra abrir um crediário lá no comércio, eu tenho lembranças de um tempo em que não era tão fácil achar as pessoas, mas a gente dava um jeito.

Poema de agora: Tom perfeito – Sabrina Zahara

Tom perfeito

Lá está,
Tudo indica que não sabe nada
Vou aí te mostrar
Cola no meu quadril
No meu tom vem dançar
Arrebenta a sandália.

Sei lá,
De certo, o ponteiro do tempo dispara
Deixa a chuva molhar
Manda nudes da alma
Link que acompanha
Cola na minha calma

Vida!
O tom desse som
É Que não tá certinho?
Vem aqui me mostrar
Faço desse seu jeito
Dois pra lá, dois pra pra cá
E Caio noutro enredo
Todo compasso que você cantar


Eu quero dançar samba…
Mas, Tem ordem nesse caos
Nós não temos segredo
Dois pra lá, três pra cá
Pra toda música que eu cantar
Você é O Tom perfeito.

Sabrina Zahara

Coronavírus: das ruas para o Aluguel Social, empregos e encontros com a família

Da dura realidade para um cenário inverso, que promete proteção e dias melhores. Essa é a expectativa das pessoas em situação de rua que estão recebendo assistência da Prefeitura de Macapá durante a pandemia. Alguns já começaram a trocar as histórias sobre fome e frio para as de esperança e sonhos.

Não há dúvida de que este é um caminho desafiador para se estar vivo. Mas também é um momento em que nossos recursos coletivos nunca foram maiores e mais capazes. Aqueles que estavam “invisíveis” aos olhos da sociedade, os sem “nome” (por falta de documentos) ganharam identidade. Quem não dava e nem recebia amor voltou para casa. E quem um dia sonhou com um “cantinho”, hoje tem seu lar.

Em meio a pandemia, a Prefeitura de Macapá decidiu, por meio de decretos, impor medidas de proteção para diminuir os riscos de contágio do vírus na capital amapaense, assim os atendimentos da rede socioassistencial foram adaptados a esta realidade. A partir destas orientações, o Centro POP Amizade suspendeu seus atendimentos especializados e acompanhamentos, oferecendo apenas os serviços básicos: higiene, café da manhã e almoço.

No dia 27 de março, foi liberado o espaço (Hotel Holiday) para o alojamento temporário para a população em situação de rua, sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Assistência Social. Nada mais gratificante que, em meio ao caos, onde medo, morte e tristeza andam de mãos dadas, uma risada seja arrancada de quem pouco sorri. A condição de viver nas ruas se deve a diversos fatores, que, na maioria das vezes, acabam em fracasso, e voltar atrás já não é possível. São pessoas que acumulam histórias de fome, frio, abandono, desprezo, vícios, desemprego, rejeição e violência. Usam qualquer espaço que sirva de abrigo.

Quando falamos sobre pessoas, sabemos que há particularidades na condição de várias delas e cada uma pode ter tido um motivo particular para viver nas ruas; mas há também questões em comum entre essas pessoas, que são repetidamente vistas em muitos casos.

Nova oportunidade

“Antes de chegar em Macapá, passei por várias cidades do Brasil. Eu estava há 25 anos no Pará, vim em busca de uma vida melhor, um emprego, mas quando consegui me instalar na cidade veio a pandemia. Sem dinheiro e pouco conhecimento, acabei nas ruas, fiquei desacreditado, infeliz e sem perspectivas, “briguei” com o frio, fome, violência e, principalmente, contra o Coronavírus”, relatou o goiano Dulciney Augusto da Silva, 42 anos, que atualmente vive no alojamento temporário para a população em situação de rua, assistido pela Prefeitura de Macapá.

“Ganhei uma nova oportunidade quando me trouxeram para cá e vou agarrá-la. Por meio da prefeitura, estou retirando meus documentos pessoais, os quais havia perdido na noite. Estão fazendo meu cadastro para ser inserido no programa de aluguel social. Finalizo minha história com uma única palavra: Gratidão”, disse Augusto da Silva.

Uma nova chance

A história do maranhense Gilberto Lima Costa, 34 anos, também tomou rumos bem diferentes depois que ele foi resgatado das ruas e passou a viver no abrigo. “Eu dizia que o dinheiro era meu, que bebia quando eu queria e parava quando eu queria, mas a realidade não foi essa. Eu não tinha noção das coisas, oportunidades passavam e eu não enxergava por conta da bebida e problemas no casamento”, disse sobre sua vida de antes. “Cheguei aqui doente e, com fome, me deram de comer, vestir e também cuidaram da minha saúde. No momento, estou tirando meus documentos e pretendo ir em busca de emprego em minha área, que é de designer gráfico, e pretendo me restabelecer com a ajuda da prefeitura”, pontuou Gilberto.

O reencontro

Uma história com final feliz também para o artista de rua Diego Herman, que voltou ao seu país de origem (Argentina) por intermédio da Secretaria Municipal de Assistência Social, que providenciou documentos provisórios necessários para sua ida. “No abrigo matei minha fome, recebi assistência à saúde, mas também ganhei respeito, carinho e tratamento digno”, falou, demonstrando sentimento de gratidão a todos que o ajudaram.

Esta semana, ele enviou um vídeo agradecendo a todos por tudo que fizeram por ele, e disse: “Estou feliz, estou bem, estou no aconchego de minha família e dando continuidade aos protocolos de prevenção ao Coronavírus, que me foram passados aí. Me mantenho em quarentena”, finalizou o argentino.

Página virada

Antônio Jaime de Souza Gemaque, 51 anos, tinha um lar, mas a dependência química e alcoólica tirou dele a família, amigos e emprego. “Eu tinha uma família, uma vida razoável, mas perdi tudo, e quando tentei voltar foi tarde demais. Passei a viver nas ruas, sem se importar com nada, fui levando os dias, até que vim parar aqui”, relatou.

Questionado sobre os planos para o futuro, Jaime, que trabalha como vendedor ambulante, disse que pretende voltar às atividades e construir um novo capítulo de sua história. Quero esquecer os dias de fome, frio, medo, angústia e incertezas. Será uma página virada em minha história. Hoje, tenho meus documentos pessoais e assim serei inserido no aluguel social. Saindo daqui posso ir para um lugar certo para morar, com segurança”, declarou, sorridente.

“Com expressão cansada, marcada pelas rasteiras da vida e vítimas da exclusão, essas pessoas hoje têm novas perspectivas, outros sonhos e, principalmente, esperança”, comentou Flábio Sena, coordenador do alojamento temporário.

“Foram três meses de convivência. Cada um deles tem sua história, seus limites e, claro, seus sonhos, que há tempos estavam adormecidos. Aqui, eles encontraram incentivo, assistência. Puderam voltar a ter uma vida digna e, ao sair, poderão andar com as próprias pernas. Nesse período que estivemos juntos, temos saldo positivo, os novos caminhos que cada um seguirá daqui para frente, buscando realizar seus desejos com independência”, concluiu Flábio, satisfeito com o saldo do trabalho em equipe.

Alojamento temporário

O alojamento temporário para a população em situação de rua de Macapá está em funcionamento desde 27 de março, na Avenida Henrique Galúcio, nº 1623, bairro Santa Rita (Hotel Holiday), e teve contrato encerrado dia 25 de junho. A partir desse encerramento, será feito o acompanhamento por meio do Centro POP Amizade, que estará com prédio novo sendo oferecido café da manhã, almoço e janta, e a moradia ficará pelo aluguel social, que já está sendo direcionado para cada um que tem as documentações necessárias.

Serviços oferecidos pelo alojamento temporário

Durante a permanência no alojamento temporário, as mais de 100 pessoas em situação de rua que passaram pelo alojamento foram assistidas por inúmeros projetos e programadas pela Prefeitura de Macapá, como o fornecimento de café da manhã, almoço, lanche da tarde e janta, serviços de quarto e roupa lavada, acompanhamento e assistência aos usuários que se encontravam doentes, vacinas e entrega de medicamentos necessários.

Também receberam kits de higiene e máscaras protetoras. Houve a entrega de roupas e calçados. Quem precisou teve auxílio do corpo técnico com assistentes sociais, psicólogo, terapeuta ocupacional, sociólogo e administrador.

Lazer

Os assistidos também tiveram momentos de lazer e entretenimento por meio do “Cine Alojamento Temporário”, uma atividade terapêutica por meio de apresentações de filmes no próprio abrigo com telão de projeção e som de cinema. Aqueles que não tinham documentos, haviam perdido contato com familiares, receberam ajuda dos técnicos para a busca de informações em Macapá em todo estado do Amapá em outros estados da federação e até fora do Brasil.

Secretaria de Comunicação de Macapá
Mônica Silva
Assessora de comunicação
Fotos: Max Renê

ERA UMA VEZ – Crônica de Evandro Luiz

Foto: Maurício Paiva.

Crônica de Evandro Luiz

A cidade era tão pequena e distante dos grandes centros que passava despercebida do resto do país. A população, na maioria agricultores, estava profundamente enraizada com a terra. “daqui só saio para o cemitério’’ dizia Joaquim da Paixão, negro de um metro e oitenta, exímio batedor da caixa de marabaixo, forte como um búfalo, rápido que nem cobra sorrateira e liso que nem giju.

Veleiro no Rio Amazonas – Foto: Manoel Raimundo Fonseca

Com toda essa performance, ganhou fama e prestigio, mas também adversários. as marcas no corpo revelavam uma vida agitada. ainda assim, repetia sempre: “daqui não saio nunca, só morto”. O rio em frente da cidade parecia ser um obstáculo intransponível para quem tinha o desejo de sair do isolamento, tamanho a sua magnitude.

Foto: blog Amapá, minha terra amada.

Além do medo de ter que viajar em barcos que pareciam ser grandes gaiolas, por um período de três dias para se chegar a cidade mais próxima. Viajar de avião era impossível para quem vivia da agricultura de sub existência. então só lhes restavam viver com intensidade o que lhes foram destinados.

Folia Religiosa de São Sebastião, em Mazagão Novo, no Amapá (Foto: Iran Lima/Associação Amapaense de Folclore)

Líderes da comunidade cumpriam religiosamente o calendário dos santos preferidos e de datas importantes. Tradicionalmente se reuniam e faziam a festa do senhor em frente à igreja. Com a chegada de padres italianos os ânimos ficaram acirrados.

Foto: Márcia do Carmo

Os padres não queriam aqueles rituais envolvendo o senhor em frente do templo. Eles espalharam que os festeiros seriam amaldiçoados caso não mudassem a festa da santíssima trindade para outro lugar.

Foto: Chico Terra

Houve resistência foi aí então que a igreja usou do seu quinhão celestial contra os simples mortais. em reunião secreta entre os padres e governo, foi decidido que o centro da cidade seria urbanizada. assim os moradores que viviam em terras, fruto da herança de seus antepassados, estavam entre a desobediência e a cruz. Ainda assim, alguns tentaram ficar. Mas o medo de serem amaldiçoados e banidos do cristianismo falou mais forte.

Foto: Maurício Paiva.

Para enfraquecer o movimento veio o segundo golpe: as lideranças foram divididas e distribuas para lugares diferentes e longe do centro. contudo, o balé das senhoras com roupas coloridas persistiam. e mesmo com as dificuldades, a força e a vontade dos festeiros em preservar os costumes dos antepassados eram fortes. mMs com a fragmentação do movimento, reacende um sentimento incubado nas lideranças. O da disputa pela hegemonia do calendário profano da festa do senhor.

Foto: Maurício Paiva.

A festa da criação da cidade é realizada com toda estrutura governamental e participam do evento os grupos folclóricos em uma tentativa de agradar a todos. Porém, a disputa ficava mais evidente era na corrida de cavalo que os ânimos ficavam acirrados e justamente onde João da Paixão se destacava. Ganhando praticamente todas as provas. Um fazendeiro de São Paulo ficou tão admirado, que não pensou duas vezes: vou levar esse vaqueiro.

A notícia se espalhou rápido. No embarque para são paulo, João tremia que nem vara verde. Pela primeira vez ia entrar em um avião o que estava totalmente fora de seu controle, foram seis horas de muita agonia.

Dois meses depois da sua chegada veio o primeiro rodeio. João da Paixão nunca tinha visto tanta gente reunida. a prova consistia em derrubar um boi em pleno movimento. Prova fácil para o vaqueiro do norte que conquistava cada vez mais admiradores. Na realidade, João se preparava para o grande final que reunia os melhores peões do país. No dia da competição, o vaqueiro do norte entrou na arena sob gritos da multidão.

Foto: Maurício Paiva.

Para trás ficava em definitivo o batedor da caixa de marabaixo.

EDESSA MEDITABUNDO – Conto porreta de Fernando Canto

Conto de Fernando Canto

Solidão.

Há semanas trabalhava intensa e duramente na pesquisa. Tese de doutorado. Haveria de entregá-la no prazo.

A mulher lhe escrevera, mandara encomendas pelo correio nem sabia quando. Não abria e-mail, nem ligava para as redes sociais. Talvez algumas cartas estivessem na portaria. Não. O porteiro lhe teria entregue.

Abriu a lata de atum e o esquentou na frigideira suja, usada mil vezes. O frigir despertou-lhe para alguma coisa. Correu aos livros, consultou-os e escreveu algo num papel sobre a mesa desarrumada que só ele podia entender. Comeu parte da massa compacta com xarope de guaraná diluído em água e, logo após, como se comemorasse, deu um arroto de arrebentar suas próprias entranhas e foi deitar-se nas almofadas espalhadas pelo pequeno apartamento. Ali, há tempos, guardava imemoriais fragmentos de experimentos trazidos do laboratório de sua universidade de origem. Já obtivera bons resultados, estabelecera uma metodologia um tanto quanto complicada para o cruzamento de variáveis. Só ele entendia.

Por ser um voraz usuário do computador vinha comprovando velhas hipóteses até então refutadas pelos seus colegas pesquisadores de todo o país. Uma vitória ali outra acolá, um insigth acordado, uma sacação num sonho. Tudo lhe fascinava. Era um apaixonado pela ciência. Quase nunca dormia porque se ocupava fazendo anotações, lendo e escrevendo como um louco no teclado do seu micro. Mas vencia o tempo a caminho da glória. Ou no mínimo de um salário melhor. Quem sabe obteria mais prestígio dentro da comunidade científica. Era brilhante. Seus colegas haveriam de admirá-lo e de respeitá-lo mais e mais. Com certeza sua tese seria aprovada com louvor pelos sisudos e exigentes doutores da banca examinadora.

Não fumava mais. Pudera. O corpo franzino não aguentaria nem mais um trago. Estava proibido de fumar, beber álcool ou ingerir qualquer droga, mesmo calmantes, analgésicos e vitaminas sem consentimento médico. Seu médico lhe fora enfático: – Ou larga ou não acaba a tese este ano. Deixou o cigarro, mas abusava de tudo. Não se alimentava bem, só comia enlatados, pão dormido, macarrão, quando lhe dava vontade ou quando se lembrava que seres humanos também comem. Adorava porcaria. Daí a dor que sempre sentia no estômago, um sofrimento a mais que o deixava louco de se enrolar pelo chão atrás de algum remédio porventura perdido na bagunça daquele minúsculo apartamento, mas tão cheio de bagulho.

Nessas horas de dor, a lembrança da infância. Brotava a insegurança. Cadê mamãe? Um misto de ternura e desespero. Cadê minha mulher? A solidão doía, a lembrança doía. Ele se recorda, tentando lenificar a dor. Seria entomologista. Ah, seria. Da sua paixão por insetos nasceria um cientista respeitável. Dos seus estudos resultariam proveitos econômicos tão grandes que a História não lhe olvidaria. A Nação lhe seria eternamente grata. Da função dos insetos na natureza tiraria o que de melhor fosse para o desenvolvimento da ciência e, claro, para beneficiar todos os seres humanos. Um idealista. Modesto. Virtuoso. Não precisaria ficar rico com suas descobertas e patentes. Bastaria que lhe financiassem ousados projetos de pesquisas, se possível dentro do país. Por isso estudou Biologia, curso inexpressível numa universidade pública de pequena importância. Por isso, pensava, com seu nome a tiraria do marasmo científico.

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Atrás de tanta vontade. Porém, um trauma. Ainda estudante – monitor concursado de entomologia – coletava insetos na floresta quando inofensivos percevejos saltaram de um arbusto para sua roupa. Eram insetos coloridos, de uma espécie jamais vista por ele. E pelo que lembrava, nunca a vira catalogada nas enciclopédias de seus professores. – Uma espécie não identificada ainda, pensou, eufórico. E no embaraço da emoção explodindo tentou capturá-los. Eles saltavam para outros arbustos deixando no ar um cheiro tão peculiar que o candidato a cientista hesitou na empreitada da captura. Mas prosseguiu. E ao agitar desastrosamente a folhagem, o odor dos percevejos se espalhou pelo ambiente de tal forma que o ar parecia se solidificar como um enorme bloco de concreto sobre seu corpo, a lhe prender e a lhe impedir de se mover. Na luta desesperada viu escorrer pelas mãos o que seria sua primeira conquista profissional. – Já pensou? Um inseto com o meu nome?

Encontraram-no em uma posição ridícula, estático com uma estátua equestre, no meio do mato. Os olhos arregalados, um fóssil conservado em bloco de gelo. Do jeito que estava, duro, foi levado ao primeiro posto médico pela equipe de alunos que monitorava.

Do acontecimento inopinado adveio-lhe alcunhas abomináveis e um recolhimento de muitos dias. Quase perdia o semestre. Quando conseguiu superar o fato, superou-se a si mesmo. Antigas veleidades viraram obsessão: haveria de ser entomólogo, ainda que lhe chamassem de Múmia de Barata em alusão à Metamorfose de Kafka, e de Edessa Meditabundo, uma espécie de percevejos fedorentos. E que rissem ao cruzarem com ele nos corredores do campus.

Débora, uma caloura, foi a única que o compreendeu. Jamais tocava na história inacreditável. Acabou casando com ele logo após terminar a graduação. Mas ficava lá, em sua cidade, cuidando do filho, morando na casa do sogro. Fez um mestrado medíocre na mesma universidade e nela tornou-se professor depois de um concurso muito disputado.

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Doía a solidão. Doía, doía.

Ás favas a solidão, as lembranças, a dor. Rompe, de repente, com o pensamento. A decisão é tomada. Vai descer ou acaba pirando. Antes, porém, olha para o PC e o notebook sobre mesinhas, olha as paredes do cubículo… Desenhos, mapas, quadros, tabelas, referências, classificações. Tudo ali, pregado com durex.

Pediculos humanus humanus / Ischioleneho wollastoni / Coleoptera. / Pyridae, Lampyridae / Periplaneta americana / Coleopteros / Homoptera / Cicadidae / Paraponera clavata / Tineola bisselliélla / Fulgora spp. Schistocerca americana / Apis mellisfera / Soolenopsis beminata / deptera. Culicidae / megalopsy lanata / Sinoeca cianea…

E, atrás da porta de entrada, em letras garrafais:

EDESSA MEDITABUNDO

(Percevejo-filho-duma-vagabunda-
Não-é-o-mesmo-que-vejo)
Vou a fundo
Vou a fundo
Para te encontrar
Viro o mundo
Ou não me chamo

EDMUNDO

Ele come, por fim, o resto do atum, bebe mais guaraná, relê seu poema com orgulho, apaga a luz e sai.

No hall do edifício tudo é silêncio. O porteiro dorme sem roncar.

O doutorando agora hesita em abrir a porta que dá para a rua porque lá fora também é só silêncio. E sua solidão novamente toma conta do corpo, fragmenta a alma e corta recônditas memórias, intuindo um assalto do futuro. Há pouca luz no ambiente. O porteiro dorme, a cidade dorme. A cidade está morta. Raios de luz projetam as sombras de um pé de ficus belga do jardim no teto e nas paredes dos edifícios vizinhos. O pé de ficus belga parece fazer um movimento humano nas colunas que sustentam o prédio. Mas é só impressão. Fruto do cansaço, ele pensa. Anda em voltas pelo jardim e então resolve subir. É madrugada, o dia está para nascer. Não vale a pena sair pelas ruas de seu bairro a essa hora.

Na passagem encosta no pé de ficus belga. Ele não percebe, mas sua camisa está cheia de bichinhos coloridos. Entra no elevador, aperta o número 19 e solta devagar, deixando um cheiro podre pairando por todo o condomínio.


Edessa meditabundo abre a janela. Respira com dificuldade porque o ar lhe solidifica o corpo aos poucos. Filigranas de luz empurram cumulusnimbus espessas e amedrontadoras no dia que já nasce apertado.

Lá embaixo o gás carbônico flutua sobre o asfalto.

Desta vez o percevejo não hesita: – Que doa a solidão!

Com esforço estende as asas membranosas. Dá um arroto de despertar a cidade e salta em busca de alimento.