Vitório Barreto gira a roda da vida pela 76ª vez . Feliz aniversário, amigo! (que foi melhor “piloto” do GEA)

Tenho alguns companheiros (brothers e brodas) com quem mantenho uma relação de amizade e respeito, mesmo a gente com pouco contato. E, como todos os leitores deste site sabem, gosto de parabenizar os amigos em seus aniversários. Quem gira a roda da vida, pela 76ª vez, neste sétimo dia de maio, é o querido Vitório Barreto e lhe rendo homenagens.

Na época que trabalhei na assessoria de comunicação do Governo do Estado, entre 2010 e 2012, viajei por todas as estradas paras dos 16 municípios do Amapá, além de incontáveis comunidades. Meu motora/piloto preferido sempre foi o Vitorio Barreto. Além de ser um motora que se garante, é um pai dedicado, homem trabalhador e justo, parceiro e, sobretudo um cara do bem.

Vitório é virado e prestativo, pois se precisar é mecânico, desatola veículos, reboca companheiros, faz “galiqueiras” necessárias para chegarmos ao nosso destino. O cara tem o pé pesado, mas era o único cara que me passava a segurança necessária. Foram muitas aventuras, perrengues e alegrias junto a esse coroa maluco.

Entre várias lições que o velho motorista me ensinou foi ficar sempre focado e alerta. Ele dizia que quanto pior a estrada, melhor, pois a piçarra o impedia de se distrair. Quando a demanda na estrada da vida fica pesada, lembro-me do grande amigo e companheiro de viagens. Aí retomo o foco, empenho e atenção.

Em julho de 2010, mais precisamente no dia 7, era Copa do Mundo. A gente acabou uma cobertura em Ferreira Gomes 1h antes da partida entre Brasil e Holanda. O Vitorino me disse: “gordo, tu vais assistir esse jogo na tua casa”. Ele sentou o pé e eu, que vim no banco do carona, na frente com ele, abri o nootbook e botei pra escrever. Na parte de traz da cabine da pick-up estavam os amigos Irineu Ribeiro e Gilmar, repórteres cinematográfico e fotográfico, respectivamente. Cheguei 5 minutos antes de começar o jogo com a matéria pronta, entregue com fotos. Vitório sempre foi PHoda!

Além de competente, experiente e conhecer as estradas do Estado na palma da mão, Vitorino é um cara porreta! Todos nós, jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas ou qualquer outro profissional que viajou ou viaja com o coroa sabe o coroa é muito Phoda. Vitório é um baita cara e ele mora no coração da gente.

O Vitório se aposentou. Que bom que ele vai descansar. Que pena para a nova geração de jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas e demais profissionais da Secom/GEA, pois não viverão essa experiência de trampo maravilhosa, que é pegar a estrada com o velho safado, pois ele sempre foi “impávido que nem Muhammad Ali e tranquilo e infalível como Bruce Lee”.

Meus parabéns, Vitório. Que teu novo ciclo seja ainda mais paid’égua. Que sigas com essa sabedoria e coragem pisando forte em busca de seus objetivos. Que tudo que couber no teu conceito de sucesso se realize. Que a Força sempre esteja contigo. Que tua vida seja ainda mais longa, no mínimo, mais 76 anos na estrada da felicidade. Sinto saudades de rir das suas histórias. Saúde sempre, querido amigo. Feliz aniversário, brother!

Elton Tavares

De Super-Homem a Asterix, minhas HQ favoritas – Crônica porreta de Fernando Canto

Fernando Canto, ainda moleque.

Crônica de Fernando Canto

Quando leio uma revista em quadrinhos hoje é natural que as lembranças povoem repentinamente na minha cabeça, tão importantes o foram como instrumento de aprendizado, num tempo em que não havia grandes obras para serem lidas, a não ser na Biblioteca Pública, um lugar obscuro e quase inacessível para alunos adolescentes como eu que não tinham a orientação dos professores para essa atividade. Na época tudo parecia se resumir no aprendizado de sala de aula.

Lembro que as portas dos cines Macapá e João XXIII ficavam cheias de jovens com revistas debaixo do braço nas tardes e noites de domingo. Estavam ali para trocarem suas revistas já lidas, por outras não lidas, ou preferencialmente por novas. Era uma prática saudável num tempo sem televisão quando a cultura visual estava mais direcionada para o cinema, com seus filmes e seriados, e para os quadrinhos. Era tempo do Território Federal governado por militares. Todos viviam sob uma ditadura severa que se estendia aos seus prepostos: diretores, professores e inspetores das escolas. Os quadrinhos nem sempre eram vistos como instrumentos educativos. Frequentemente os pais eram chamados pelos mestres quando um aluno era flagrado com alguma revista “imprópria”, tipo quadrinhos eróticos. O resultado era uma suspensão na escola e em casa sempre uma repreensão ou surra de galho de cuia no moleque aluado.

Romantismo ou saudosismo, a leitura dos quadrinhos possibilitava viajar com os heróis na luta contra o mal e dava para imaginar que um dia derrotaríamos o inspetor, o professor e o diretor que nos controlavam e eram nossos “inimigos mortais”, nessa ordem.

Batman e Robin, Super-homem, Zorro, Jim das Selvas, Tarzan, Congo Bill, Tex, Búfalo Bill, Príncipe Valente e tantos outros, descortinavam novos horizontes naquela garotada ávida por conhecimento e que esperava dias melhores para as suas vidas. As revistas traziam propaganda de pé de página, anúncios de cursos por correspondência, como o de madureza ginasial (um tipo de curso supletivo), o de detetive profissional, de rádio e eletrônica, etc. É inesquecível o anúncio de um tipo de brilhantina: “Dura lex sed lex, no cabelo só gumex – fixa e dá brilho aos cabelos”.

Mas a gente lia de tudo, inclusive as histórias dos personagens de Walt Disney e de Maurício de Souza, que chegavam recentemente naquele restrito mercado que se resumia nas livrarias Zola, de Francisco (…) e Martins, de (…) Martins, onde também se podia comprar livrinhos de literatura de cordel, como as aventuras de Pedro Malazarte e de Bocage, entre outros.


Anos depois, já na Universidade, pude defrontar com personagens mais sofisticados dos HQ, como os famosos(…) japoneses, os coloridos e novos super-heróis, tais como o Hulk, o Surfista Prateado e o Quarteto Fantástico. Nessa ocasião conheci as aventuras de Asterix, o Gaulês, dos franceses Gosciny e Uderzo. Pirei. Fiz coleção, mandei encadernar e releio sempre. Os personagens dessas histórias são os habitantes de uma aldeia que detém o poder de uma poção mágica usada para derrotar os romanos em situações e aventuras muito loucas.

Há alguns dias ganhei de um filho um presentão: uma edição comemorativa dos 80 anos do velho Uderzo, com histórias desenhadas por famosos artistas das HQ da Europa, nas quais seus personagens encarnam os heróis Asterix e Obelix e sua aldeia irredutível na Gália de 50 anos A.C. Um primor de desenhos de discípulos agradecidos.

Agora só me resta reler o livro comemorativo e esperar que “o céu não caia na minha cabeça”, como dizem os personagens dessas belas e engraçadas histórias.

O discurso discriminador do Marabaixo – Texto/Resgate histórico paid’égua de Fernando Canto – @fernando__canto

Foto: Márcia do Carmo

Por Fernando Canto

Não é de hoje que o Marabaixo é discriminado. Aliás, as manifestações culturais de origem africana sempre foram vistas como ilegais ao longo da história do Brasil. Do samba à religião, seus promotores foram vítimas de denúncias que os boletins de ocorrências policiais e os processos judiciais relatam como vadiagem, prática de falsa medicina, curandeirismo e charlatanismo, entre outras acusações, muitas vezes com prisões e invasões de terreiros.

Essa discriminação ocorreu – e ainda ocorre – em contextos históricos e sociais diferenciados, e veio produzida por instituições que tinham o objetivo de combater o que lhes fosse ameaçador ou que achassem associadas às práticas diabólicas, ao crime e à contravenção.

Foto: Max Renê

No caso do Marabaixo, há anos venho relatando episódios de confronto entre a igreja católica (e seus prepostos eclesiásticos e seculares), e os agentes populares do sagrado, estes que, por serem afrodescendentes, mestiços e principalmente por serem pobres, foram e são discriminados, visto o ranço estereotipado de que são “gente ignorante” e supersticiosa.

Foto: Gabriel Penha

É do século XIX a influência do evolucionismo que tomava como modelo de religião “superior” o monoteísmo cristão e via as religiões de transe como formas “primitivas“ ou “atrasadas” de culto. Para Vagner Gonçalves da Silva (Revista Grandes Religiões nº 6), nesse tempo “religião” opunha-se a “magia” da mesma forma que as igrejas (instituições organizadas de religião) opunham-se às “seitas” (dissidências não institucionalizadas ou organizadas de culto).

É do século XIX também os primeiros escritos sobre o marabaixo. Em um deles um anônimo articulista o ataca, dizendo-se aliviado porque “afinal desaparece o o infernal folguedo, a dança diabola do Mar-Abaixo”.

Foto: Márcia do Carmo

Ele afirma que “será uma felicidade, uma ventura, uma medida salutar aos órgãos acústicos se tal troamento não soar mais…”. Na sua narrativa preconceituosa vai mais além ao dizer que “Graças ao Divino Espírito-Santo, symbolo de nossa santa religião, que só exige a prática de boas ações, não ouviremos os silvos das víboras que dansam ao som medonho dos gritos dos maracajás (…), que é suficiente a provocar doudice a qualquer indivíduo”. Assevera adiante “Que o Mar-Abaixo é indecente, é o foco das misérias, o centro da libertinagem, a causa segura da prostituição”. E finaliza conclamando “Que os paes de famílias, não devem consentir as suas filhas e esposas frequentarem tão inconveniente e assustador espetáculo dessa dansa, oriunda dos Cafres”. (Jornal Pinsonia, 25 de junho de 1898).


Discursos de difamação do Marabaixo como este e a posição em favor de sua extinção ocorreram seguidamente. O próprio padre Júlio Maria de Lombaerd quebrou a coroa de prata do Espírito Santo que estava na igreja de São José e mandou entregar os pedaços aos festeiros. O povo se revoltou e só não invadiu a casa padre para matá-lo graças à intervenção do intendente Teodoro Mendes.

Com a chegada do PIME – Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras – em Macapá (1948) o Marabaixo sofreu um período de queda, mas suportado com tenacidade por Julião Ramos, que não o deixou morrer. Tiraram-lhe inclusive a fita da irmandade do Sagrado Coração de Jesus, da qual era sócio fiel.

Colheita da Murta – Foto: Arquivo pessoal de Fernando Canto

Nesse período os padres diziam que o Marabaixo era macumba, que era coisa ruim, e combatiam seus hábitos e crenças, tidos como hediondos e pecaminosos, do mesmo jeito que seus antecessores o fizeram no tempo da catequização dos índios. Mas o bispo dessa época, D. Aristides Piróvano, considerava Mestre Julião “um amigo” (Ver Canto, Fernando in “A Água Benta e o Diabo”. Fundecap, 1998).

O preconceito dos padres italianos com o Marabaixo tem apoio num lastimável “achismo”. Os participantes são católicos e creem nos santos do catolicismo, tanto que a festa é dedicada ao Divino Espírito Santo e à Santíssima Trindade e não a entidades e voduns como pensam. Nem ao menos há sincretismo nele.


E se assim fosse? Qual o problema? Antes de emitirem um julgamento subjetivo sobre um fato cultural é preciso conhecê-lo. É preciso ter ética. Ora, sabe-se que todos os sistemas religiosos baseiam-se em categorias do pensamento mágico. Uma missa ”comporta uma série de atos simbólicos ou operações mágicas” (Vagner Silva op. cit.). Observem-se as bênçãos, a transubstanciação da hóstia em corpo de Cristo, por exemplo. Um ritual de umbanda comporta a mesma coisa. O Marabaixo tem rituais próprios, ainda que um tanto diferentes. Por isso e apesar do preconceito ainda sobrevive. Valei-nos, Santo Negro Benedito!

(*) Do livro “Adoradores do Sol – Novo Textuário do Meio do Mundo”. Scortecci, São Paulo, 2010.

Hoje é o Dia Mundial de Star Wars – Que a Força esteja conosco! #MayThe4thBeWithYou

Hoje, 4 de maio, é o Dia mundial de Star Wars! A data foi escolhida devido a um trocadilho com a célebre expressão “May the Force be with you”. May (maio) the Fourth (dia 4) be with you.

A primeira alusão ao termo “May the 4th” aconteceu em maio de 1979 quando o partido conservador parabenizou a eleição de Margaret Thatcher como a primeira mulher ministra da Inglaterra, com um anúncio no jornal The London Evening News que dizia: “May the Fourth Be with You, Maggie. Congratulations.”

Durante uma entrevista em 2005, para o canal N24 de notícias da TV alemã, pediram ao criador de Star Wars, George Lucas, que ele falasse a famosa frase “Que a Força esteja com você.”

O intérprete simultaneamente interpretou a frase em alemão como Am 4. Mai sind wir bei Ihnen (“We shall be with you on May 4”, em português, “Vamos estar com você em 4 de maio”). Isso foi captado pela TV Total e foi ao ar em 18 de maio de 2005. [Wikipédia]

Em 2011, a primeira celebração organizada do Dia de Star Wars aconteceu em Toronto, Ontário, Canadá no Cinema Subterrâneo de Toronto.

As festividades incluíram um Game Show de Trivia sobre a Trilogia Original; um concurso de fantasias com os júri composto por celebridades; e a exibição em tela grande dos melhores filmes, mash-ups, paródias, e remixes da web. A segunda edição anual aconteceu na sexta-feira, 4 maio de 2012.

De fato, é uma data em que a Força está presente nos fãs de Star Wars. Neste dia costuma-se rever os filmes, falar as frases mais famosas dos personagens, ou cantarolar Imperial March.

Coisas simples, mas que fazem o 4 de maio uma data memorável para todos os fãs, pois são mais de 40 anos de fascínio pela série de filmes fantásticos. Eu sempre fui fascinado pelo fictício universo dessa saga. E que a Força esteja conosco!

Elton Tavares

NEM LÍNGUA DE CACHORRO AJUNTA – Crônica de Fernando Canto (sobre a força destrutiva da fofoca)

Crônica de Fernando Canto (sobre a força destrutiva da fofoca)

As más línguas, quando querem, destroem qualquer situação, pessoa ou relação aparentemente estável. Já vi coisas se transformarem da noite para o dia em verdade absoluta, bastando para isso uma pequena interrogação irônica ou uma afirmação leviana, por um balançar de cabeça de pessoas consideradas sérias.

Em muitas dessas situações inventadas está escondida a verdadeira intenção do difamador, que lança seus “diabinhos” e deixa que eles corram como rastilho aceso em direção à banana de dinamite. Daí, os pedaços voam e se esmiúçam cada vez mais na cabeça dos ingênuos que se convencem dos fatos e espalham a falsa notícia, para a satisfação do interessado. A estratégia do caluniador conta sempre com o apoio das “rádios cipós” que se ancoram pelos corredores das repartições públicas, pelas esquinas e bares. Elas são fontes secundárias de informações pelo princípio empírico e popular de que “onde há fumaça há fogo”, e, aliás, aproveitada com muita competência por apressados comunicadores locais, nem um pouco interessados em checarem a “notícia” plantada.

Muitas vezes, e sem querer, somos atores nesse processo, que é da natureza humana, uma vez que vivemos em grupo, nos comunicamos por diversos meios e temos interesses comuns e particulares. Temos desejos e conflitos políticos e portamos uma conduta psicológica calcada em personalidades próprias e bem diferentes uma das outras. Talvez por isso nem nos damos conta que ao recebermos uma mensagem, seja de onde e de quem vier, nos tornamos personagens que vão beneficiar ou maltratar alguém ou alguma coisa.

Os políticos, de modo geral, se valem desses expedientes quando querem salvaguardar seus interesses, mormente na hora que os argumentos se esgotam. Já descrevi aqui neste espaço invenções articuladas com o propósito de inverter o jogo das eleições. Lembro que ouvi pessoas sérias afirmarem ter visto o marido de certa candidata a prefeita sangrando no Pronto Socorro, por causa de um tiro dado pelo irmão do candidato que venceria as eleições. Lembro ainda que em outra eleição deu no rádio que o candidato mais velho a prefeito da capital havia falecido. O boato crescera tão rápido logo pela manhã que um batalhão de repórteres saíra à cata do suposto morto. Quando ele se manifestou nas rádios já era tarde. Seus eleitores não queriam “perder o voto” e já haviam votado em outros candidatos. Esses são apenas pequenos episódios que envolvem boatos e fofocas no meio político, onde um criativo mundo se articula diariamente em permanente conflito na busca da estabilidade e poderes.

A calúnia, a difamação e a injúria são crimes previstos em lei. São palavras diferentes para ações legais muito semelhantes que tiram o sono dos “bocudos” quando têm de pagar indenizações na justiça a alguém a quem ofenderam moralmente de forma leviana e irresponsável. São elementos do controle social necessários à estabilidade da sociedade, dada à variabilidade e às diferenças das influências ambientes.

Nosso comportamento é motivado pelas necessidades psicológicas herdadas e pelos anseios sociais adquiridos. Somos induzidos a agir por isso e conforme nossas necessidades, ambições e interesses de ordem pessoal. Daí, também, advém os desvios de conduta, os excessos temperamentais e a ausência de educação e controle que fazem as pessoas disseminarem suas opiniões ofensivas à dignidade de alguém. A Lei serve para controlar e punir esses crimes. Mas, uma vez feito o estrago, difícil é a reparação. Segundo o seu Jurandir, do Bailique: “Depois que o caldo cai no chão nem língua de cachorro ajunta”.

* Crônica de novembro de 2007 e publicada no livro Adoradores do Sol, de 2010.

Publicitária Bruna Cereja gira a roda da vida. Feliz aniversário, amor! – @tiktokcica

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. É 2 de maio de novo e, graças a Deus, Bruna Cereja gira a roda da vida mais uma vez. Tenho a sorte e honra dela ser a minha linda namorada/esposa/companheira de jornada, entre outras tantas coisas porretas que essa mulher é. Sim, ela é o meu amor e por isso, lhe rendo homenagens.

Bruna é, além de publicitária, designer, webdesigner, editora de vídeo, fotógrafa, consultora em Marketing e, para mim e muitos que conhecem seu trabalho, a melhor nessa área. Cereja é super inteligente, competente, talentosa, empenhada, determinada, impetuosa, corajosa, audaciosa, e PHODA em tudo que se propõe a fazer. Ela já foi minha colega de trampo em um passado recente e posso confirmar sua expertise em publicidade com propriedade. A menina é genial.

Conheci a Bruna há 13 anos, quando trabalhamos juntos na comunicação do Governo do Amapá. Depois se tornou amiga. E, depois de tantos desencontros, começamos a namorar em julho de 2022, após mais de uma década de amizade, quando o “Feitiço de Áquila” foi quebrado. Afinal, ”O acaso tem voto decisivo na assembleia dos acontecimentos” (Machado de Assis, em Esaú e Jacó).

“A gente vive junto e a gente se dá bem…”. Isso é verdade. São poucas as vezes que não estamos grudados. Somente no horário de trampo mesmo, pois fora do local onde labuto ou a agência da Bruna (escritório), quando um se move ou outro tá lá colado. O que importa é que estamos felizes. Aprendemos cotidianamente esse lance de dividir a vida. Com ela nada é menos, é sempre mais. Seja amor, admiração ou respeito.

Furamos as previsões dos jogadores de búzios, cartomantes e os Nostradamus (secadores) de plantão da (dú)Vida, que pensavam que a gente não ia durar juntos. Tá certo que às vezes a gente até faz desse namoro um drama novelesco, mas passa logo (risos).

Ah, a passagem do tempo não afetou a minha Cereja. Ela escandaliza na elegância, na chiqueza, no charme e na beleza que lhe é peculiar Bruna segue linda, com seus trinta e alguns maios.

Amo as pequenas coisas, como ir ao supermercado, farmácia, shopping ou qualquer lugar do cotidiano com essa mulher fantástica. Amo quando ela ri (o som é engraçado e gostoso), amo quando ela canta, pois sua voz é firme. Amo quando ela faz caretas legais depois de falar alguma merda engraçada. Amo o lance de ela me mostrar besteiras cômicas na internet. Amo quando ela cuida de mim. E cuido dela também, que fique registrado!

Trata-se de uma filha e sobrinha prestativa, uma boa amiga, uma pessoa que respeita as outras pessoas. Ela exercita boas ações como poucos que conheço. Cereja também é atenciosa com minha mãe, com meu padrasto, com minha tia e com todos que ela nutre afeto. Ah, é a tia perfeita da Maitêzinha, nossa sobrinha que é louca pela Bruna.

Sou a pessoa que mais elogia a Cereja. Seja como profissional ou a linda pessoa que ele é. Também sou o que mais torce pelo sucesso dessa mulher. Por tudo dito e escrito, desejo sempre o melhor para a minha pessoa.

Bruna é a mais completa tradução do que eu sempre quis em uma mulher. E como disse Nelson Motta: “o amor é a primeira coisa. É o começo do resto”. É isso!


Cereja, que teu novo ciclo seja ainda mais feliz, produtivo e iluminado. Que sigas (e que seja comigo, rs) pisando firme e de cabeça erguida em busca dos teus objetivos e que tudo que couber no seu conceito de sucesso se realize. Que a Força sempre esteja contigo. E que tua vida seja longa, repleta de momentos porretas. Amo-te, Bruna. Parabéns pelo seu dia. Feliz aniversário!

Elton Tavares

Belchior e a Música das Esferas – Por Fernando Canto (sete anos sem o poeta)

Musico Belchior em 1977. FOTO DIVULGAÇÃO.

O cantor e compositor Belchior morreu há sete anos (quando soubemos, pois na verdade ele foi para as estrelas no dia 29 de abril de 2017), em Santa Cruz do Rio Grande do Sul, aos 70 anos. Naquela manhã, acordei com a triste notícia de seu desencanto.

Poeta brilhante, artista louco, compositor fantástico, entre tantas outras coisas sensacionais que Belchior foi e é, dificilmente eu conseguiria descrever a importância dele para a música e cultura brasileira. Mas o Fernando conseguiu. Fica aqui nossa homenagem com essa crônica do Canto:

Belchior e a Música das Esferas – Por Fernando Canto

Por Fernando Canto

“Deixando a profundidade de lado” eu sempre fui fã desse cara cearense, que hoje faz 70 anos. Assisti pela primeira vez a um show dele no Projeto Pixinguinha, no Centro de Convenções João de Azevedo Picanço, em 1984. Ele cantou seus sucessos “Como Nossos Pais” e “As Paralelas” ao lado de Zizi Possi, outra cantora que também admiro muito. O que me chamou atenção no seu visual eram as meias coloridas, a cabeleira e o vasto bigode, que parecia ter vindo de uma nave da Tropicália. Aliás, a “roupa colorida” era tida como elemento constituinte da corporalidade do ethos tropicalista.

Passaram-se alguns anos, ainda na mesma década, ele tocou no final de um festival universitário da canção no ginásio de esportes Avertino Ramos. Cantava no palco. Eu estava lá na arquibancada. Um sujeito que estava do meu lado gritava para ele, pedindo atenção. De repente jogou uma lata de cerveja na direção do palco que atingiu o cantor. Antes dos seguranças chegarem para expulsá-lo perguntei-lhe por que fizera aquilo. O cara chorava e dizia: – Eu sou fã dele, queria apenas que ele me ouvisse. Queria que ele tocasse “A Palo Seco” ou “Rapaz Latino Americano” e, mas ele não me ouviu. E gritava: – Desculpa, desculpa. Eu não queria fazer isso…, enquanto era arrastado para fora. Logo a seguir o cantor ilustrava o ambiente reverberador do ginásio com a música solicitada pelo fã compulsivo – quase um psicopata – e cruel:

“Eu sou apenas um rapaz latino-americano/ sem dinheiro no banco/ sem parentes importantes/e vindo do interior/ POR FAVOR NÃO SAQUE A ARMA/ NO SALOON, EU SOU APENAS O CANTOR. / MAS DEPOIS DE CANTAR/ VOCÊ AINDA QUISER ME ATIRAR/ MATE-ME LOGO, À TARDE, ÀS TRÊS/ Que à noite eu tenho um compromisso e não posso faltar/ Por causa de vocês”.

Depois do seu episódico desaparecimento há quase três anos, quando especulações sobre sua vida emergiram de forma negativa, só podemos perguntar “Onde está Wally?”, no meio dessa multidão insensível. Onde está Belchior? O cara que sabia sobre a descoberta pitagórica da Música das Esferas, da harmonia dos planetas no cosmo, tanto que fez questão de usar trecho do poema “Via Láctea” do parnasiano Olavo Bilac (“Ouvir estrelas? Ora direis, Certo”). O cara-cabeça do “Pessoal do Ceará” que compunha com Fagner e revolucionou a MPB.

Sete décadas. Cabalísticamente sete para um cara que tinha “25 (2+5=7) anos de sonho e de sangue/ E de América do Sul”. Que trazia sua identificação nordestina presa ao dorso do seu cavalo que eram as embarcações pesqueiras de velas do Mucuripe, canção dele e de Fagner. Esse mesmo cara que transitava entre o sonho e a realidade de uma forma surpreendente, pois essa trajetória não tem suas âncoras presas ao real, tal como pensamos. Ele que escreveu “Se você vier me perguntar por onde andei/ No tempo que você sonhava”, e sua realidade respondia: “De olhos abertos lhe direi/ Amigo eu me desesperava” (A palo seco); ele que falava num sonho que “viver é melhor que sonhar” e respondia no mesmo verso sua realidade que “Viver é melhor que sonhar” (Como nossos pais). Todo indica um paradoxo, em que o dono do discurso parece estar perturbado e que quer fazer saber que “sons, palavras são navalhas”.

Não sei por onde anda esse rapaz de 70 anos. Queria vê-lo agora aqui, em um palco montado na praia de Iracema, desafiando o tradicional, para me encantar com o seu diferenciado e inédito canto nordestino, mostrando novamente ao Brasil o resultado positivo de seu desafio, que se constituiu em fazer algo mais significante para a beleza da música popular brasileira. E sem o preconceito regional que carregava.

O artista mirava seu próprio devir, pois “era alegre como um rio […] MAS VEIO O TEMPO NEGRO E, À FORÇA, FEZ COMIGO/ O MAL QUE A FORÇA SEMPRE FAZ. / Não sou feliz, mas não sou mudo:/ Hoje eu canto muito mais” (Galos, noites e quintais). A ele me refiro pelo seu percurso de anunciador de um discurso nostálgico, que louvo por dizer assim, coisas que ficaram na memória: “GENTE DE MINHA RUA/ COMO EU ANDEI DISTANTE/ QUANDO EU DESAPARECI/ Ela arranjou um amante/ Minha normalista linda/ Ainda sou estudante/ Da vida que eu quero dar…” (Tudo outra vez).

Não sei por ande anda esse rapaz de 70 anos, “Mas parece que foi ontem/ Minha mocidade/ Com diploma de sofrer/ De outra Universidade…”. Parabéns, Belchior, estou ouvindo mais uma vez a tua música das esferas. Não faria igual ao jovem fã do ginásio de esportes de Macapá. Eu te jogaria flores e não uma lata de cerveja, pois cerveja a gente bebe com prazer só para escutar teu som inesquecível.

*Escrito por Fernando Canto em outubro de 2016, quando o amigo e também poeta, fazia seu Doutorado em Fortaleza (CE).

**Muito obrigado por suas alucinações. Você exercitou bem o lance de “paixão morando na filosofia”, amou e mudou as coisas em muitos de nós, seus fãs. Valeu, Belchior! (Elton Tavares)

A foto do comandante Guerreiro – Crônica de Fernando Canto

Foto: Arquivo pessoal de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Contemplo a foto aérea tirada no ano de 1948 pelo comandante Guerreiro, piloto e instrutor de vôo do Aeroclube de Macapá, e gentilmente cedida pelo também piloto Paulinho Lopes.

Lá embaixo, depois do retilíneo trapiche Eliezer Levy, está a velha fortaleza de São José, encravada sobre a terra bruta, além das falésias de granito que a separam do grandioso rio. Ao lado dela a praia de areia branca, um dos pouquíssimos lugares da cidade privilegiados com a bela paisagem natural do Amazonas, junto ao Araxá, a vacaria e o Aturiá, que também se espraiam no horizonte. Árvores circundam a estrela de cinco pontas concebida por Gallucio e abrigam um lugar ainda sem o círculo militar, construído 20 anos depois.

A cidade parece puxá-la de dentro do rio, procurando trazê-la para mais perto do coração, mas ela resiste: é o próprio coração da cidade a pulsar ofegante em sua pujante trajetória de amor e de proteção a esta terra. A preamar mostra que ela se situa em uma península dividindo a orla em duas pequenas baías e não há dúvida que abarca o sonho territorial de mais de dez mil almas ávidas de progresso e bem estar, contidos nos inflamados discursos janaristas da “Mística do Amapá”. É ela o único vínculo que temos com o passado. É o legado arquitetônico que simboliza o desenvolvimento da cidade, apesar da igreja de São José ser mais antiga. Único elo, enfatizo, posto que gerações anteriores se omitiram da necessidade de preservar nossa memória e nossas referências dentro da cidade. Posto que por muito tempo ela quase era engolida pelo mato e um dia foi até curral de bois num tempo de degredos e segredos revelados pelos entes do rio-mar.

A frente da cidade jaz, ali, gravada na fotografia do comandante Guerreiro e até o rio é uma massa estática sob um trapiche sem embarcações observado pela pedra do Guindaste, antes de ser quebrada e abrigar o santo protetor. O velho Macapá Hotel espera imponente novos rostos que se aproximam à procura de trabalho e exibe orgulhoso o seu recente corpo construído para receber os visitantes. À sua direita o estaleiro emite os barulhos do calafetar os barcos que partirão para suprir novas necessidades. Casas se escondem sob as árvores frutíferas em bairros ainda desabitados e a asa do avião do comandante plana em vôo sobre a cidade que cresceria sob a égide do sol e a energia que brota diariamente entre a água e a luz.

*Crônica escrita em 2009. 

Uma casa coberta de flores – Crônica de Alcinéa Cavalcante – @alcinea

Foto: Alcinéa Cavalcante

Crônica de Alcinéa Cavalcante

Gosto de andar pela cidade prestando atenção na paisagem. Nessas caminhadas encontro de tudo: coisas feias, bonitas, diferentes, únicas, uma flor despetalada na calçada, um jardim, lixo amontoado na frente de alguns prédios, calçadas sujas e outras limpas, casas de ar alegre, outras de ar triste e ainda outras que dão a impressão de que ali mora o mau humor e aquelas onde a gente tem certeza que mora a felicidade.

Na tarde de sábado, andando pelo bairro do Trem, deparei-me com esta casa coberta de flores. Fiquei encantada com tanta beleza. Poderia simplesmente ter parado do outro lado da rua, fotografado pra compartilhar com você e ir embora.

Mas não. Eu não ia perder a oportunidade de conhecer alguém que mora numa casa coberta de flores. “As pessoas que moram aí devem ser lindas, amorosas e de sentimentos belos”, pensei. E como é bom conhecer, ouvir, conversar com gente assim.

Bati palmas. Uma senhora com um largo sorriso me atendeu. Disse-lhe que achei tão linda a casa coberta de flores que queria a permissão para fotografar. Permissão concedida, fotografei.

Dona Floriza – é este o nome dela (e que nome combinaria mais com ela?) – convidou-me para o pátio cercado de plantas e passarinhos. E ali, em confortáveis cadeiras brancas de vime, conversamos sobre flores, frutas, pássaros, amor, natureza e Deus. “Sou feliz e minha casa é protegida, não preciso colocar grades nas janelas e portas porque Deus está aqui para nos proteger. Deus está onde tem flores, onde tem natureza”, disse-me. “Você já prestou atenção que pessoas que cultivam plantas são mais felizes, mais gentis e nunca estão de mau humor?”, perguntou-me.

Sim, dona Floriza. É isso mesmo. Afinal, quem ama o belo tem sentimentos belos. Né não? Trocamos informações sobre espécies de roseiras, falamos de hortas caseiras. Ela me contou dos pássaros que visitam seu jardim, eu contei dos passarinhos que moram no meu quintal.

Não demorou muito já nos sentíamos como velhas amigas que se visitam nas tardes de sábado. Floriza me levou para ver as rosas que cultiva no quintal.

Foto: Alcinéa Cavalcante

Depois, como velhas amigas, sentamos na cozinha (sempre ouvi dizer que só se leva para a cozinha da casa as pessoas mais íntimas) e comemos bolo e tomamos suco. O bolo, delicioso por sinal, ali em cima da mesa me deu a impressão de que tinha sido feito para aguardar uma visita, o suco de soja geladinho servido num copo de vidro tão límpido, delicado e com a borda dourada, foi um dos mais gostosos que já tomei nos últimos tempos.

E ali, na cozinha, comendo bolo e tomando suco, como velhas amigas de infância, conversamos sobre a vida, filhos, trabalho e tantas outras coisas que só grandes amigas conversam.

Saí de lá bem mais feliz de que quando cheguei e com a certeza de que voltarei outras vezes. Até já combinamos um churrasco num sítio que Floriza tem na zona norte com um imenso pomar. “Nós somos desocupadas (aposentadas), podemos qualquer hora estar juntas pra conversar”, diz ela. E depois corrige: “Quer dizer, desocupadas não. Não trabalhamos mais, mas nos ocupamos em fazer o bem, cuidar de plantas, levar alegria para as pessoas e é isso que Deus quer”.

É verdade. Há ocupação mais prazerosa do que essa?

Ao nos despedirmos, ela renova o convite: “Volta sempre pra gente conversar, falar de coisas boas, tomar um café fresquinho…“.

Com toda a convicção eu respondo: “Claro que voltarei, pois amei te conhecer”.

Já na rua, olhei mais uma vez encantada para aquela casa coberta de flores, pedi a Deus que abençoe e proteja sempre Floriza e sua família e agradeci a Ele o privilégio de ganhar naquela tarde de sábado uma “nova velha amiga de infância”.

Minhas ausências involuntárias – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Certa vez, há alguns anos, passei duas semanas sem ir na casa da minha avó paterna. Fico pensando quanto de convívio aquele meio mês me custou. Estas “ausências involuntárias” são muitos ruins. Se você se ausenta ou some por algum motivo que foge ao seu controle é bem triste, principalmente quando quem sente sua falta são as pessoas que você ama.

Eu deveria, por exemplo, me organizar para ir ver mais vezes os meus corações que moram em Belém (PA), periodicamente. Falo da minha sobrinha, irmão e cunhada, além da querida amiga Rita. Mas por pura falta de empenho, trabalho ou planejamento isso não acontece.

Essa rotina frenética nos afasta de muita gente importante, às vezes chego cansado do trabalho, tomo um banho e vou direto para cama. Mas nunca esqueço de quem amo. Às vezes, já tarde da noite, penso: “eu poderia ter ao menos telefonado hoje, mas agora já não dá mais tempo ”.

Um dia, encontrei um amigo do passado e comecei a me perguntar: por que nos afastamos? Não encontrei motivo algum, foi a vida, nossas prioridades e escolhas, mas o cara ainda é “considerado” um amigo querido. Doideira, né?

Graças a Deus (ou seja lá o nome Dele), tem muita gente que gosta de mim, já passei por diversas turmas, tenho velhos e bons amigos. Quando encontro alguns deles, seja em Belém ou Macapá, sempre rola aquele papo: “pô, vamos marcar algo, será muito legal”. E nunca acontece o tal encontro, falamos tudo da boca para fora, involuntariamente.

Meu falecido pai um dia me disse: “temos que dizer para as pessoas que amamos que as amamos hoje, amanhã pode não ser possível”, concordo.

É isso mesmo. Preciso urgentemente visitar pessoas queridas, prestigiar aniversários e ir a festas de gente que gosta de mim. Tudo isso parece simples, mas, por algum motivo, às vezes deixo de lado. Não sei vocês, mas preciso dar um jeito nas minhas ausências involuntárias.

O amor calcula as horas por meses, e os dias por anos; e cada pequena ausência é uma eternidade” – John Dryden.

Pensem nisso!

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Há 11 anos: trampo e pororoca no Araguari, uma aventura no “Rio Encantado”

Há exatos 11 anos, viajamos, eu e a fotógrafa Márcia do Carmo, juntamente com uma equipe de técnicos da Prefeitura Municipal de Macapá (PMM) para as localidades do Igarapé Novo e Bom Amigo. Essas duas comunidades, apesar de fazerem parte do território da capital do Amapá, ficam isoladas, localizadas no Rio Araguari.

A expedição foi denominada “Pororoca Solidária”, pois consistiu em ações sociais da PMM, em parceria com um grupo de surfistas da onda (fenômeno natural) homônima a missão nas referidas localidades. Duas embarcações fazem parte da ação, um barco de madeira de porte mediano e uma balsa, onde os surfistas nos seguem.

O barco, nomeado “Renascer I”, partiu para a foz do baixo Rio Araguari com 13 pessoas, sendo três homens na a tripulação (comandante Celso e os embarcadiços “Farinha” e “Botinho”) e a equipe da PMM (eu, Márcia, Gláucia, Renata, Sandro, Diléia, Adélia, Galma, Roberta e Débora) – pessoal gente boa, com quem dividimos trampo, andanças por quilômetros em pura lama, comida, água, picadas de mosquito, entre outras coisas.

A viagem de ida foi um pouco tensa, por conta de um estranho nevoeiro que surgiu às 4h da manhã . O piloto me disse que nunca tinha visto algo parecido e a visibilidade estava comprometida. Como se já não bastasse, a profundidade, cerca de 23m, não permitiu que o comandante ancorasse o barco, o que nos fez seguir – com velocidade mínima – totalmente cegos, pelo Rio Amazonas (por onde navegamos antes de chegar ao Rio Araguari). Mas correu tudo bem.

Eu e Márcia fizemos fotos lindas. As imagens vão desde a alvorada no Rio Araguari aos guarás (pássaros da região). As noites foram longas, muitos mosquitos. Haja repelente! Foi osso!

Fomos até a comunidade de Igarapé Novo. Andamos cerca de 1,5 km (distância para ir e o mesmo para voltar ao barco) com lama até o joelho até chegar às casas dos ribeirinhos onde distribuímos alimentos e fizemos o recadastramento deles no programa Federal “Bolsa Família”. Além disso, cruzamos com a TV Amapá (Globo local), que também cobriram a ação social da sexta-feira, na comunidade Bom Amigo. O dia foi proveitoso!

Após as missões de trabalho, a ansiedade de ver a Pororoca tomou conta da maioria de nós.

Na manhã de sábado, pela primeira vez na vida, vi e vivi a Pororoca. A grande onda dos rios da Amazônia. Foi muito melhor que eu imaginava. Eu, a fotógrafa Márcia do Carmo e três colegas esperamos a onda na “curva da onça”, local onde a Pororoca arrebentou sobre nós. O fenômeno nos atingiu e logo alagou a enseada onde estávamos. Aliás, ficamos em um local bem de frente para a onda. Foi sensacional!

No domingo, fomos novamente acompanhar a Pororoca, mas agora, de cima da lancha “voadeira”. Ficamos muito perto da grande onda. Pena que eu e Márcia fomos em embarcações diferentes. A que eu estava deu problema no motor e logo mudei para a lancha pilotada pelo prático Riley.

Já a que a Márcia estava, encalhou e foi pega pela onda. Graças a Deus ninguém se machucou. A adrenalina de estar na crista da Pororoca, mesmo em uma lancha, é incrível! As fotos falam mais que palavras.

Nosso retorno à Macapá ocorreu após o almoço de domingo. Todos extasiados pela visão e sacodes da Pororoca. A viagem de volta não foi tão tranquila, pois a maré estava revolta, mas chegamos bem.

A expedição foi uma experiência de vida inexplicável e única, que adorei ter vivenciado. Aprendi muito naqueles oito dias. Tudo bem que nem tudo foi como eu pensava nesta viagem. Mas nossa missão foi cumprida.

Obrigado a todos que viveram esses momentos comigo, pois foi demais paid’égua e inesquecível. Saio dessa odisseia maravilhado com a beleza da região, com a Pororoca e peculiaridades do Araguari que como cantou Amadeu Cavalcante: é um rio encantado! É exatamente isso!

Parafraseando outro poeta, Gonzaguinha (que hoje completa 33 anos de embarque para o além) disse: “o movimento da vida não deixa que a vida seja sempre igual”. É isso! Modéstia à parte, monotonia é algo que não está incluso na minha rotina de jornalista. Já estou com saudades de uma aventura dessas . Boa semana pra todos nós!

Elton Tavares

O breve relato sobre a Little Big, a saudosa banda de skatistas de Macapá – Crônica de Elton Tavares

As lembranças do Facebook me trouxeram uma foto da saudosa banda Little Big. Na postagem, os componentes do grupo e brothers das antigas contavam causos e marcavam um reencontro. Aí bateu a nostalgia e resolvi republicar este texto. Saquem:

A primeira formação da Little Big foi com Antônio Malária, no vocal, Ronaldo Macarrão, no contrabaixo, Tibúrcio, na guitarra, e Paulo Neive, na bateria. Todos skatistas.

A banda quase acabou com a saída de Tibúrcio. Patrick Oliveira (hoje líder da stereovitrola) assumiu este posto de forma brilhante. Houve um rodízio na cozinha da Little. A bateria contou com participações do Zico, Ricardo Kokada e Kookimoto, mas quem emplacou mesmo foi o Mário (não lembro o sobrenome do Mário e nem sei por onde ele anda, mas o cara tocava muito).

Eles tocaram juntos da segunda metade dos anos 90 até meados de 2002. Era a banda que mais agitava o rock and roll em Macapá.

A Little foi a banda de garagem mais duradoura e badalada daquela época (certeza de casa cheia onde os caras tocavam). No repertório, tinha punk, indie, hardcore e manguebeat. Chegaram a desenvolver um som próprio, com composições do Antônio Malária, um flerte com o batuque e marabaixo, misturados ao rock.

A banda ganhou força com a percussão de Guiga e Marlon Bulhosa. Inspirados, chegaram ao topo do underground amapaense com as canções autorais “Baseados em si”, “São Jose”, “Beira mar” e “Lamento do Rio”. Quem viveu aqueles dias loucaços lembra bem do refrão: “Eu sou do Norte, por isso camarada, não vem forte”.

 

A banda embalou festas marcantes do nosso rock, teve seus anos de sucesso pelas quadras de escolas, praças, pista de skate, bares (principalmente o Mosaico) e residências de Macapá. Quando os caras executavam “Killing In The Name“, do Rage Against The Machine, a casa vinha abaixo. Era PHODA!

Era rock em estado bruto, sem muitos recursos tecnológicos ou pedaleiras sofisticadas. Os caras agitavam qualquer festa. Quem foi ao Mosaico, African Bar, Expofeiras, Bar Lokau, festas no Trem Desportivo Clube e Sede dos Escoteiros, sabe do que falo.

Vários fatores deram fim à Little Big, como desentendimentos internos e intervenção familiar. Eles não estouraram como banda autoral porque não tiraram os pés da garagem.

Em 2012, os caras se reuniram e tocaram em uma festa, mas eu perdi a oportunidade de vê-los, pois estava indo para Laranjal do Jari a trabalho. A Little Big agitou as noites quentes de Macapá e embalou os piseiros de uma geração. Uma banda que faz parte da memória afetiva de muitos amapaenses roqueiros e já quarentões. E foi assim.

De um tempo que fomos para sermos o que somos” – Fernando Canto.

Elton Tavares

Sobre a saudosa Drop’s Heroína (primeira banda de Rock formada somente por mulheres do Amapá) – Crônica de Elton Tavares – *Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”

 

 

Ilustração de Ronaldo Rony

 

Crônica de Elton Tavares

A Drop’s Heroína surgiu do desejo das, então adolescentes, Rebecca Braga (vocal) e Aline Castro (guitarra). A proposta foi a de formar uma banda diferente, com uma agressividade teenage. Logo depois se juntaram à Lenilda (bateria) Cristiane no contrabaixo e Sabrina (guitarra base). Depois, a formação mudou várias vezes. Entraram Suellen no teclado e a última formação contou com Débora nos vocais e Dauci no baixo. A banda lutou contra o preconceito, já que era formada apenas por mulheres, algo nada convencional no Amapá, na década de 90.

A banda foi pioneira no feminismo do rock amapaense. Suas apresentações eram sempre porretas, dignas de um público fiel que seguia a Drop’s aonde quer que as heroínas fossem tocar.

A Drop’s não resistiu à saída da vocalista Rebecca Braga, tentou seguir em frente com uma substituta, mas a coisa não vingou. Apesar disto, a banda inspirou outras meninas e escreveu uma página importante do nosso rock. Ao primeiro grupo roquenrou formado por mulheres de Macapá, nossas saudosas palmas.

Em 2012, no extinto bar Biroska, rolou a festa “Noventinha”, com shows das bandas Little Big (eles não tocaram, mas isso é outra história), Drop’s Heroína e Os Franzinos – todas da mesma época. Infelizmente não fui, pois estava no município de Laranjal do Jari, a trabalho. Uma pena.

Enfim, essa foi uma história vivida por muitos que viveram o rock amapaense há mais de duas décadas. Aqueles anos ficaram guardados na memória e no coração de todos.

É, vez ou outra “mascamos o chiclete Ploc da nostalgia”, como diz Xico Sá.

Falando em citações, existe uma que define a amizade que os integrantes das Little e Drop’s têm até hoje: “bandas são mais que ajuntamentos de músicos, são reuniões de alma” – Jimmy Page.

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Hoje é o Dia do Goleiro – meu saudoso pai foi/é o meu goleiro preferido

No Brasil, em 26 de abril é comemorado como o Dia do Goleiro. A data foi criada há quase 40 anos para fazer uma homenagem para aqueles atletas que por muitas vezes não tem o reconhecimento devido do seu trabalho. A ideia foi do tenente Raul Carlesso e do capitão Reginaldo Pontes Bielinski, que eram professores da Escola de Educação Física do Exército do Rio de Janeiro, e começou a ser comemorada a partir da metade dos anos 70, segundo relata Paulo Guilherme, jornalista que escreveu o livro “Goleiros – Heróis e anti-heróis da camisa 1”.

Como eu já disse aqui, por diversas vezes, amo futebol. Goleiro é posição maldita do esporte bretão (chamado assim por ter sido inventado na Grã-Bretanha). Meu saudoso e maravilhoso pai, José Penha Tavares, era goleiro. Posso afirmar, sem paixão (talvez com um pouquinho dela), que ele foi muito bom.

Papai agarrou pelos times amapaenses (quando o futebol aqui era amador) do São José e Ypiranga Clube. Também foi amigo de um monte de conhecidos boleiros locais. Infelizmente, meu amigo Leonai Garcia (que também já virou saudade), esqueceu-se dele no seu livro “Bola da Seringa”.

Quando moleque, acompanhei papai em centenas de peladas. Torcia e sofria quando ele levava gols, principalmente quando falhava. Aprendi a admirar goleiros com ele. Lembro bem de expressões como: “Olha essa ponte!”, “Que defesa, catou legal!” ou algo assim, bons tempos aqueles.

Bem que tentei jogar em todas as posições, inclusive o gol (sempre era o último a ser escolhido), mas nunca consegui me destacar pela bola, mesmo antes de engordar. Não sei se as crianças de hoje ainda escolhem o pior dos meninos (ou meninas) para agarrar, aquilo é bullying (risos). Digo isso com conhecimento de causa.

Quando me refiro ao goleiro como “posição maldita”, falo de uma série de injustiças que vi goleiros sofrerem ao longo dos meus 44 anos, mas uma é mais marcante: a crucificação do arqueiro Barbosa, da seleção de 1950. Há alguns anos, assisti a um documentário sobre a derrota para o Uruguai na final daquele mundial. Aquele homem foi estigmatizado até o fim de sua vida.

Em 2010, durante uma entrevista, Zico (não preciso dizer quem é, né?) declarou que o Barbosa, no fim da vida, disse a ele: “desculpe, mas gostei de ver você perder aquele pênalti em 1986, pelo menos me esqueceram um pouquinho”. Imaginem como o velho goleiro sofria pela falha de 1950? É a maldição do goleiro.

Vi grandes goleiros jogarem. Raçudos e classudos, voadores, pegadores de pênaltis. Foram tantos que é difícil enumerar, mas lembro bem do Buffon, Gilmar, Taffarel, Raul, Dida, entre tantos outros arqueiros que nos encantaram com a segurança debaixo da trave. Mas para mim, meu pai foi o melhor de todos eles.

Este texto é uma homenagem aos goleiros profissionais e peladeiros, que se machucam em saltos destemidos, levam chutes meteóricos, além de divididas violentas. Em especial ao meu pai, meu goleiro preferido para sempre. Amo-te, Zé Penha. Um beijo pra ti, aí nas estrelas!

Elton Tavares