Sou razoavelmente bom em escrever textos de parabéns, mas não obituários. Difícil demais falar da passagem de amigos. Na noite de ontem (16), o competente advogado, pai apaixonado de dois moleques lindões, marido dedicado, contrabaixista (membro fundador da banda The Malk), maçon, flamenguista, amante de rock’n’roll, um dos maiores fãs de Cure e Smiths que conheço e brother das antigas da galera, Nilson Montoril Júnior, partiu para as estrelas.
Nilson tinha vencido a Covid-19, após muitos dias de batalha, mas sofreu um infarto e partiu. Eu não era seu amigo de infância, como muitos queridos em comum e nem nunca fui de andar com o Montoril.
Gostava do cara, mas nem sempre foi assim. Na verdade, no final dos anos 90, tínhamos uma antipatia recíproca, natural de gordos boçais e metidos a besta (risos). Adroaldo e Adriano, amigos dele e meus também, sabiam.
Certa vez, perguntei ao Adroaldo: “Qual o motivo de vocês andarem com um cara genioso, brigão, safo, porém arrogante?”. O “Astro” disse: “Ele é amigo. Você precisa conhecê-lo melhor”. Realmente, o Nilson, ou “Maisena”, era um cara porreta. E todos os defeitos que eu enxergava nele eram também meus, do mesmo jeitinho. Claro que era rixa abestada, vencida pela convivência e amigos em comum. Sua lista de feitos nobres em prol dos amigos é extensa.
Depois, o Montoril virou brother. Mesmo assim, discordávamos quase sempre. Aprendi a gostar dele. E acredito que ele de mim. Em 2004, ele e outros amigos fundaram a The Malk, a melhor banda cover de rock anos 80 e 90 que tivemos no Amapá. A gente ia aonde os caras tocavam. Bons tempos aqueles. Ele era uma espécie de Paul McCartney do grupo: meio rabugento, mas essencial para a organização de shows, ensaios e, consequentemente, sucessos que fizeram na época.
Lembro dele tocando em aniversários de amigos, no Liverpool, em boates. A gente sempre tava lá. Lembro quando ele se uniu ao Evandro e abriram o escritório de advocacia. Sempre torci pelo sucesso deles. Lembro dele brigando com o Adriano por ter esquecido algum instrumento ou com alguém da banda por um erro, após dias de ensaio. Ele sempre queria fazer o melhor. Tenho lembranças dele me convidando para entrar na Ordem Maçônica ou para um CarnaRock, convites que sempre recusei. O Nilson sabia dos meus motivos, mas não desistia de tentar me incluir.
Nos encontramos no show do Morrissey, em Brasília (DF), em 2015. Após um bom tempo, foi legal conversar com o cara de novo. Já no ano passado, a The Malk se reuniu e fez um Tributo ao The Cure. Quando cheguei no Bar do Vila, local da apresentação, Nilson disse:”porra, pensava que tu não vinha”. Como eu poderia deixar de ir? A música sempre nos uniu.
Cheguei a conversar com o brother no dia 8 de novembro. Nunca imaginaria que seria o último papo. A verdade é que o Montoril tinha personalidade, não queria e nem tentava ser legalzão e mesmo assim e era “considerado”. Sim, a gente gostava dele. Era um cara muito inteligente, profissional, responsável e absurdamente louco por sua família e amigos.
Minhas sinceras condolências ao professor Nilson, pai dele (amigo de meu avô e de minha família), sua mãe, irmã Débora, sua esposa Aneliza, aos seus filhos Lucas e Gustavo, estendo aos demais familiares e amigos enlutados.
Posso viver muito, mas nunca vou me acostumar com a partida de alguém querido. Quando chega o momento, sempre concordo com o escritor Mario Quintana: “a morte chega pontualmente na hora incerta”. Imagino como estão os seus amigos que eram mais amigos dele do que eu. Se aqui já doeu, alvará neles. Li o post do Marco Leal no Facebook e doeu mais um pouco. É assim mesmo.
A morte do Nilson dói, pois além da partida de um cara bacana, morre parte do passado, de nossas memórias afetivas. O fato é que sentiremos saudades. Hoje é um dia Triste. Até a próxima vez, Montora. Que tu sigas na paz e pela luz.
Elton Tavares