Oportunidade para escritoras: aberto edital para a antologia “Mulheres Livres – Senhoras de si”

Escritoras do Amapá, do Brasil e estrangeiras que escrevam em Língua Portuguesa podem se inscrever para o edital da antologia “Mulheres Livres – Senhoras de si”.

O prazo vai até o dia 15 de março de 2021 para participar da obra literária. As inscrições iniciaram no último dia 10, pelo site: www.sfeditorial.com.br.

A participação nesta antologia é exclusivamente feminina e a proposta é amplificar narrativas e experiências de sucesso da mulher na sociedade, em seus mais diversos âmbitos.

A coletânea é idealizada pela escritora amapaense organizadora da obra. A parceria na organização se deu a convite da SF Acompanhamento Editorial, do Rio de Janeiro, através do editor Carlos Ferreira.

A socióloga, estudante de psicologia e também escritora, Amanda Moura, filha de Leacide, reforçou o time. As duas organizarão a obra, que é voltada para questões de gênero.

As autoras podem participar do Edital com textos sobre desigualdade, machismo, conquistas femininas em âmbitos profissionais, sociais, entre outros temas relacionados.

Neste prisma, as escritoras terão a oportunidade de fazer relatos escritos sobre mulheres fortes e inspiradoras , com destaque na sociedade, mercado de trabalho e/ou que venceram desafios, sejam eles profissionais ou domésticos na luta contra o patriarcado.

Edital

De acordo com Leacide Moura, o edital está disponível no site www.sfeditorial.com.br ou direto no link https://editorasf.wixsite.com/mulhereslivres.

Ao acessar os links da chamada para a obra, é preciso preencher o espaço destinado ao e-mail e ao número do celular, e então o edital estará disponível para download.

“Convidamos as escritoras amapaenses a compor essa nova antologia. Precisamos, nós autoras, documentar casos de sucesso, histórias reais sobre mulheres fantásticas. Além de reforçar os direitos femininos, as narrativas sobre histórias fictícias ou de próprias vivências ou experiências de outras pessoas contadas pelas autoras, a obra reforçará a arte literária tucuju“, comentou a escritora Leacide Moura.

Elton Tavares, com informações de Leacide Moura.

Associação Gira Mundo realiza lives de espetáculos teatrais e shows

A Associação Gira Mundo irá promove no período de 25 a 28 de Fevereiro, uma série de lives que visam fomentar a cadeia cultural no estado.

As lives fazem parte dos projetos que foram aprovados pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult) por meio, do edital Nº 002/ 2020. Os shows e espetáculos serão transmitidos pela página da Gira Mundo no Facebook e Youtube.

A Associação Gira Mundo é organização sem fins lucrativos dedicada a trabalhar com projetos e ações de arte, cultura, educação e cidadania, com o objetivo de promover o bem-estar social e a descentralização de programas nessas áreas para as periferias da Amazônia, do Brasil e do mundo.

Programação

Espetáculo Teatral Lugar da Chuva
Dia 25/02/2021
Hora: 21h

Realização: Frêmito Teatro (AP) e Agrupamento Cynétiko (SP)
Atores: Raphael Brito e Wellington Dias
Direção e Produção: Otávio Oscar
Dramaturgia: Ave Terrena
Direção de Arte: Daniele Desierrê
Videoartista: Luciana Ramin

O espetáculo LUGAR DA CHUVA é uma viagem afetiva e poética pela Amazônia amapaense, fruto de uma residência artística na cidade de Macapá e seus arredores. A dramaturgia cartográfica, que organiza o texto por ilhas, navega por diversos locais na foz do Rio Amazonas, reinventando cenicamente as sensações e reflexões que atravessam os corpos durante o seu percurso entre a cidade e a floresta, entre o mato e concreto, entre o rio e a rua.

Catraia System
Dia 26/02/ 2021
Hora: 21h

Performance | Show | DJ Set | Festa – inspirado nas festas de aparelhagem do Norte do Brasil, navegamos pelos ritmos que habitam o percurso do Rio Amazonas, atracando nas cidades de Macapá, Belém, Parintins e Manaus. Nas ondas sonoras, o balanço de gêneros como: brega, tecnobrega, carimbó, marabaixo, toada, guitarrada, zouk love, beiradão, cumbia e lambada.

Durante a performance festiva, os artistas do Frêmito Teatro – Otávio Oscar, Raphael Brito e Wellington Dias – botam o público pra ferver, festejar e dançar os ritmos amazônicos, interagindo com a plateia e levantando a bandeira da alegria como antídoto para o tédio, a tristeza e o preconceito.

A ideia do projeto é ser uma ação afirmativa e festiva em prol da identidade e do orgulho de ser amazônico, esse povo que é invisível ao resto do mundo, mas que guarda grandes riquezas e potências.

Além disso, como artistas LGBTs, nosso estado de performance durante o fervo do CATRAIA SYSTEM é de caráter libertário, nos assumindo como legítimas ‘pocs’ amazônicas e reafirmando nosso orgulho, nossa sensualidade, nossa sexualidade e a beleza de nossos corpos, traços e personalidades.

A ambientação cenográfica e os figurinos do CATRAIA SYSTEM foram criados pela artista plástica e figurinista Daniele Desierrê, inspirados na estética amazônica a partir das diversas influências naturais, urbanas, rurais e caboclas, com aquele toque de glamour e lacração típicos da cultura pop/LGBT.

Show Jhimmy Feiches
Dia 27/02/ 2021
Hora: 20h
Artista: Jhimmy Feiches
Dançarinas: Will e Augusto
Participação de Luiza Brito

O show consiste em uma apresentação performática, acompanhado dos dançarinos Will e Augusto, com um repertório de músicas autorais e a interação com a música pop e dançante, proporcionando um momento alegre, contagiante, e de alto ao público virtual.

Show de Márcia Fonseca
Dia 28/ 02/ 2021
Hora: 20h

Apresentar o show da artista MÁRCIA FONSECA, com repertório de samba, cantando Alcione, Adoniram Barbosa, Cartola, Beth Carvalho, Paulinho da Viola e outros, proporcionando um momento alegre, contagiante, e de alto ao público virtual.

Adryany Magalhães/ Assessoria de Comunicação Gira Mundo
Contato: 99144-5442

Resenha do livro “Menina Má”, de Willian March – (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

Este livro é um clássico do suspense escrito por Willian March e publicado pela primeira vez em 1954. Muito bem recebido pela crítica e elogiado por Ernest Hemingway que, inclusive, escreveu para March, enaltecendo sua obra. Ocorre que Willian March faleceu um mês após a publicação do livro que inspirou uma série de filmes e personagens como Damien de A profecia, Chucky o boneco assassino, Anabelle, entre outros.

O livro conta a estória de Rhoda Penmark, uma menina de oito anos que, aparentemente, é a criança perfeita. Rhoda é aplicada nos estudos, organizada, educada, simpática e adorada pelos adultos, pois Rhoda sabia – como uma espécie de instinto – como tratar e agradar as pessoas. Ao contrário da relação que a menina tinha com os adultos, Rhoda não possui amigos de sua idade, as crianças não brincam com Rhoda.

A mãe de Rhoda, Christine Penmark, tem como tarefa a criação e os cuidados com a menina, já que seu pai, Kenneth, ficava meses fora de casa viajando a trabalho.

A trama se desenrola a partir de um concurso de caligrafia em que Rhoda se dedicava incansavelmente com a finalidade de ganhar a medalha de vencedor. Ocorre que o prêmio é dado para um menino de sua escola. Durante um piquenique ocorre um “acidente”. O episódio desperta as desconfianças da mãe da menina que, após recapitular algumas situações igualmente estranhas e trágicas no passado de Rhoda, inicia sua investigação sobre o caráter da filha.

A mulher então começa a se auto indagar sobre o comportamento da criança, pois percebe a falta de compreensão da filha no que tange os sentimentos. Rhoda apenas tinha coisas que lhe interessavam e sabia muito bem calcular de que forma agir para consegui-las, inclusive na relação com a mãe, que ela tratava diariamente com indiferença, mas sabia como agradar quando queria retirar algo: “Mamãe, o que você me dá se eu te der uma cesta de beijinhos ?” .

O livro se mostra sob a ótica de três personagens, Christine Penmark, a amiga Sra Breedlove e Leroy, um detestável zelador que nutre uma estranha atração por Rhoda, onde seu odioso cortejo consiste em irritar a menina. Dentro das três visões, o leitor nunca sabe o que se passa realmente na mente de Rhoda Penmark.

A obra não aborda só Rhoda como protagonista, a mãe de Rhoda, Christine, na minha humilde opinião, é a verdadeira protagonista do livro. Seu sofrimento materno, suas indagações e, posteriormente, suas investigações acerca do próprio passado, revelam fatos e sentimentos que, para ela, poderiam ser a origem do mal que a filha carrega.

É uma leitura interessante, pois aborda temas incomuns para a década de 50, que vai desde o homossexualismo à maldade criminosa proveniente de crianças.

Muito já se discutiu sobre a origem da psicopatia. Não tenho conhecimento técnico e científico para falar sobre o assunto, pois até os estudiosos do tema, ainda não têm uma opinião pacificada sobre como e quando a patologia se manifesta, mas ela existe nas mais diversas idades e parafraseando o príncipe palhaço: “A loucura é como a gravidade, só precisa de um empurrãozinho”.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de Literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site.

 

Tecendo a memória – Sobre o livro “Tecituras de Helena”, da autora Helena Bermerguy – Por @luizadejobim

Aos 80 anos, Helena Bemerguy reconta sua infância em livro bordado – Foto: Arquivo Helena Bemerguy.

Por Luíza Nobre

Faltando 15 minutos para o horário marcado para o início das fotos, eu ainda procurava no quarteirão o “excelentíssimo jardim” indicado no convite. Noto movimento e portas abertas em uma casa com muros de vidro onde funciona um escritório de advocacia e desço ali. Ainda molhadas, as plantas pareciam cabisbaixas por conta da chuva que tinha acabado de cair. Olho para o chão e vejo uma paleta de tinta gigante, na qual se encaixam vasos de flores. Tive a certeza de que estava no jardim certo.

O final do corredor estreito abria para um quintal aconchegante e coberto, onde se distribuíam cadeiras para os convidados se acomodarem. Uma lona comprida com ilustração de estante de livros prevenia que as cadeiras fossem molhadas. Os guarda-chuvas abertos, no entanto, em nada protegiam da água, mas cumpriam seus papéis decorativos pendurados no teto.

À direita, uma mesa com doces e chocolate quente foi disposta ao lado dos bordados emoldurados da autora, organizados em uma escada com flores. Os bastidores formavam um varal de bordados que balançava com o vento ou com a curiosidade de quem queria ver de perto as obras. Uma boneca de pano escorava-se na garrafa quente e ao fundo dela, via-se um baú aberto repleto de exemplares do livro.

Procurei um lugar para me sentar e montar a câmera, enquanto observava dona Helena, que socializava em uma rodinha de senhoras. Percebi que não via Helena há uns 15 anos, desde a época dos os aniversários de Maíra, sua neta e também minha amiga. Sorri e me apresentei como a moça que faria as fotos do lançamento. Ela sorriu de volta e perguntou meu nome, enquanto sentava em uma poltrona vermelha que combinava com o vestido azul e o tênis moderninho cheio de brilhos e amarrações, para fazer os primeiros registros.

Já com um volume considerável de pessoas, Amélia, a filha caçula da anfitriã, pediu licença para iniciar a apresentação do “Tecituras de Helena”. Ela, a Helena a quem o título do livro se refere, comentava o processo de criação junto dos desenhos de Bárbara Damas, que foram adaptados em linhas de costura e depois impressos em papel.

Abria-se o momento de perguntas e eu, que até então estava com os olhos na câmera tentando me camuflar atrás do móbile de sapatos, levantei a mão. “Queria saber como foi o processo de ressignificação das suas memórias”, ela me olha e diz “Olha, minha filha, acho que ainda está sendo. Quer dizer, eu sento e bordo, tendo motivo ou não. Esse livro eu fiz para deixar de herança para os meus netos, junto das muitas histórias que eu quero contar no livro e fora dele”, assenti com a cabeça e um “muito obrigada” e voltei para o meu lugar de espectadora.

Mais tarde, enquanto ela autografava os livros e eu registrava tudo bem de frente para a mesa, tentando não enquadrar o copo que ela escondeu atrás das flores, dona Helena me olha e pergunta se minha dúvida foi sanada. “Profunda a sua pergunta, menina, eu preciso pensar melhor sobre ela”. E eu, uma jornalista que nutria imensa curiosidade para além das histórias contadas, pedi timidamente para entrevistá-la no dia seguinte. Tempo suficiente para que ela processasse o que perguntei.

Na minha época

Nascida em Belém, capital do estado do Pará, no ano de 1937, Helena Aben Athar Bermerguy teve uma infância movimentada, mas sempre tranquila. Irmã mais velha entre os seis filhos, era ela quem comandava as brincadeiras e, quando necessário, ajudava a mãe em casa. “Eu vivi o século XX, minha infância não teve internet e televisão, precisávamos ser criativos”, comenta olhando para o meu celular que fazia papel de gravador no momento.

Das tecnologias da época que a menina gostava, o rádio era a predileta. Conta que passava tardes sentadas na mesa do pai ouvindo as canções e novelas, e só aprendia músicas se copiasse a letra. Um apreço que foi da palavra falada para a palavra escrita e a fez criar afinidade com as narrativas textuais.

“Na minha época, a menina que não tinha diário não estava por dentro da moda, e tinha que manter ele bem escondido. Eu escondia debaixo do colchão para a mãe não ver. Tive uma adolescência inteira, logo que entrei no ginásio”. Ela dividia com o caderno os sentimentos do dia e os sonhos juvenis. Mas engana-se quem pensa que confidenciar segredos fosse um ato movido pela timidez. Helena gostava mesmo de ter um motivo para contar histórias.

Ainda no início do livro a escritora descreve Belém como uma cidade única, e para ela, o melhor lugar. As comidas, os sabores, os igarapés e as mangueiras que subia para apanhar fruta da janela de casa. Pontualmente fala do pai, que ia à feira e trazia o paneiro carregado de frutas, depois reunia todos os filhos em volta da mesa para que provassem e aprendessem os sabores de cada uma.

”Como disse, meus primeiros pontos foram praticados nos enxovais dos meus irmãos mais novos”, dona Helena fazia dos bordados mais uma de suas brincadeiras em uma rotina em que boa parte do tempo era dentro de casa. De família tradicional judaica, ela sempre foi uma moça reservada pelas questões religiosas, mas o suficiente para não deixar de se destacar.

“É que no meu tempo as coisas eram mais diferentes, a juventude era outra”. E percebo que ela repete essa frase muitas vezes enquanto fala. Mas sem saudosismo. Sem o desejo de retornar ao passado. Fala com apreço às memórias afetivas que ainda são vivas na lembrança, e agora eternizadas em um livro que eu tenho em minhas mãos.

Vou te contar

Os bordados que antes eram passatempo ganharam outro significado na vida da jovem. Aos 17 anos, Helena foi “deportada” para Macapá, para que se afastasse de um namorado cristão. “Eu vim morar aqui muito cedo e sentia muita saudade dos meus pais, então comecei a bordar minhas histórias e alinhavar algumas coisas no meu texto”.

Na expectativa de seguir vivendo um amor impossível, o rapaz veio atrás dela na nova cidade, e lhe propôs um casamento onde ela não precisaria se preocupar em trabalhar e como diz Vinícius de Moraes: ser só perdão. Tudo o que ela não esperava da vida. “Eu sempre sonhei com minha independência financeira, porque eu acho que a mulher tem que ser dona da vida dela”, e preferiu seguir a vida sozinha e focada nos novos interesses.

Mas como diz a expressão popular: casamento e mortalha no céu se talha. E fugindo ou não da orientação do pai, o destino amoroso dela foi com um judeu. “Eu era a única judia em Macapá e só havia um judeu aqui, que era noivo na época. Quando me conheceu, desmanchou o noivado e nos juntamos, casamos e tivemos quatro filhos.” E mesmo trabalhando fora e tendo autonomia, Helena dedicou-se à construção de uma família sólida.

Mair Naftali Bemerguy e Helena Aben-Athar formaram juntos uma das famílias tradicionais de Macapá quando a mesma ainda estava em processo de deixar de ser território do Pará e se tornar uma cidade. “A família é como uma célula, minha filha, quando ela é boa na sua base, aqui embaixo, ela tende a seguir próspera”. Apesar de ter se casado cedo, ela se tornou viúva ainda jovem, quando completou 52 anos.

“Depois dos meus sessenta anos, quando comecei uma nova fase na minha vida, época em que meus filhos foram morar em Brasília, passei a fazer muitos cursos de crochê, frivolité, macramê e outros. Foi nesse movimento entre armarinhos que comecei a pensar na possibilidade de bordar minha história”, diz ela sobre a descoberta dos livros bordados. Por algum motivo, lembrei-me do poema “O Menino Que Guardava Água na Peneira” de Manoel de Barros que fala da infância e pergunto se ela conhece, recitando o primeiro verso para facilitar a lembrança. Ela balança a cabeça positivamente e diz que foi o primeiro livro bordado que leu e a inspirou. Ri da coincidência e tira da mala cópias dos desenhos originais que Bárbara Damas fez para o Tecituras de Helena.

O desejo de dar continuidade a um trabalho que se propôs a fazer na construção da família não lhe permitiu criar interesse em buscar outro casamento, e assim, o foco de sua vida voltou-se para a educação dos filhos. “A Bossa Nova passou em minha vida e não vi”. E nesse momento eu, que a ouvia sentada no chão aos pés da poltrona onde ela deitava esticando as pernas e permaneço observando os olhos dela.

Os olhos de Helena são de um acinzentado límpido, mas sem suavidade. Um olhar que não têm nada de tranquilo e que me atravessaram como a agulha atravessa o tecido para abrir uma nova casa em um ponto corrido. Penetram e constrangem, mas não um constrangimento ruim, e sim de quem se perde na transparente da expressividade deles. E penso que o maior baú de histórias dela talvez esteja guardado no olhar.

Livro Tecituras de Helena.

Das memórias que não soube tornar possíveis

“O meu neto de quinze anos sempre diz: vovó você foi professora, hoje você não é mais. E realmente, o ensino mudou muito, a maneira de ensinar. Confesso que pelo pouco que vejo meus netos estudarem, percebo uma evolução na forma de estudar, tem a internet, a leitura dinâmica”. Aposentada como professora de ciências e matemática, Helena não acredita que existam outros caminhos para o sucesso que não sejam construídos através da educação.

E entender a educação como fator modificador a faz se aproximar da realidade dos netos. Viver e se adaptar ao tempo presente sem grandes esforços e dialogar com diferentes gerações. “Eu sou um ser político, gosto de acompanhar o movimento do mundo. E sempre pugnou pelo social, não admito preconceito racial, de gênero… sou a favor das cotas, políticas públicas para as minorias”. E me mostra em seu celular os contatos do WhatsApp dos netos, com quem ela fala diariamente.

Quando lhe perguntei sobre a rotina, recebi um “eu faço qualquer coisa diariamente” como resposta e achei graça da objetividade dela. Mas compreendi que, para uma senhora de 80 anos com uma mente pensante e inquieta “qualquer coisa” sempre há de ser algo construtivo e interessante. Hoje ela nutre o desejo de ensinar a arte do bordado para quem tiver disposto a aprender e até me oferece uma vaga na possível primeira turma.

Decidir bordar a própria história, literalmente, foi uma forma que ela encontrou de dividir com os filhos os momentos que não teve a oportunidade de contar. Criar memórias a partir das memórias narradas, mesmo que tardiamente e agora, com mais uma geração para ouvir e carregar junto toda essa bagagem. Unir a família em uma única tessitura atemporal.

E deitada em uma poltrona rosa, uma espécie de divã, eu presenciei o que para mim tinha sido uma das maiores manifestações não governamentais do que seja a

memória. Tão espontaneamente que preenchia o espaço e tudo era motivo de um gancho ou explicação para existir naquele cômodo, na casa do filho de Helena. Tão pueril como o próprio livro. E com um convite final para um bolo no pátio, e mais conversa. Enquanto ela se adianta passos à frente, eu abro o prefácio do livro e releio “Quando terminei este livro fiquei pensando se meu pai ao lê-lo não diria: Abu, Helena, Abu*!”

*Abu significa “mentira” em hebraico.

Fonte: Café com Notícias.
* Luíza Nobre é jornalista, fotógrafa e produtora do programa de rádio Café com Notícia na 90,9FM, além de pesquisadora na área de memória e narrativa. Artista e curadora de memes.

Amapaense João Amorim expressa melancolia do carnaval pandêmico no clipe de “Deusa”, seu terceiro single

Assim como tantos artistas mundo afora, o amapaense João Amorim (35) teve sua carreira duramente impactada pela pandemia da Covid-19. Expoente da cena musical que já deu ao Brasil nomes como Patrícia Bastos (indicada ao Grammy latino em 2017), o cantor e compositor tucuju se preparava para embarcar numa turnê por nove estados da Amazônia.

Ele planejava as filmagens do clipe de “Deusa”, seu terceiro single que fará parte do disco Festa Temporã, quando viu todos os seus planos e projetos profissionais interrompidos por tempo indeterminado. Além da angústia infligida pela pandemia e pelo isolamento, João vivenciou junto com milhares de amapaenses o apagão que deixou o estado sem luz e abastecimento de água por mais de um mês. “No apagão eu tive que esquecer que eu era artista. Eu era o pai de duas crianças de cinco anos que tinha que correr atrás de água e comida para manter a nossa casa”, conta ele.

O lançamento da Lei Aldir Blanc, no ano passado, possibilitou a retomada do trabalho para artistas em todo o país. No caso de João, foi a oportunidade para retomar o sonho de lançar “Deusa”, que chega ao Youtube na última quarta-feira de cinzas (17). A escolha da data não foi por acaso. O clipe, assim como a música composta em parceria com Danilo José, traduz a nostalgia de um carnaval no mundo sem pandemia.

A caprichada produção foi rodada no galpão da escola Maracatu da Favela, entre as alegorias do desfile de 2020, que serão destruídas nos próximos meses para dar lugar aos adereços do próximo carnaval. A atriz e bailarina Mariana Andrade interpreta a “Deusa” que inspira a canção.

VISUAL ARROJADO

A qualidade técnica e o visual arrojado trazem a marca do audiovisual amapaense, que já desponta entre as novas cenas emergentes do cinema brasileiro contemporâneo. Principal nome do cinema local, Célio Cavalcante Filho assina a direção geral e a direção de fotografia do clipe. “Criar esse mundo com a sua própria luz e realidade alternativa desse ano de não carnaval só foi possível graças a parceria com várias produtoras e profissionais incríveis da nossa cidade. A partir do momento em que se dispõe a se criar um mundo fictício, nesse caso, de um realismo fantástico, você tem que ter subsídios de linguagem que segurem a imersão do espectador, envolvido com a música e as imagens desse mundo louco da cabeça desse homem enfeitiçado, apaixonado, obcecado por essa Deusa”, explica o diretor.

Célio também é diretor de “Amanda”, primeiro longa-metragem comercial feito no Amapá, que tem previsão de lançamento para 2022. “Sinto até vontade de chorar quando penso nessa retomada. É uma coisa que eu tinha sonhado para o ano passado. Ficamos um ano na geladeira. Agora estamos saindo da geladeira com muito talento dessa equipe, com muita força, com muita alegria, todo mundo feliz em participar”, celebra João.

SERVIÇO:

Lançamento do clipe “Deusa”, de João Amorim
Disponível no Youtube a partir de 17 de fevereiro
Mais informações: [email protected] | (96) 98139-4322
www.joaoamorimartista.com.br

Foto: Dyego Bucchiery

SOBRE JOÃO AMORIM

João Amorim, cantor e compositor amapaense, desenvolve uma carreira autoral desde 2013, quando lançou seu primeiro álbum, “Nômade”. Sua música mais difundida é o single “Passa, Tchonga!” (João Amorim/ Paulinho Bastos), de 2018. Em 2020 lançou Festa Temporã, single composto com dois grandes nomes da música amazônica, Zé Miguel e Manoel Cordeiro. A canção dará título a um álbum de composições e arranjos regionais urbanos, que o músico lançará em 2021. Há cinco anos João realiza todos os domingos o projeto Roda de Bandaia, com repertório 100% tucuju, com muito Marabaixo, Bandaia e Zouk. Já subiu no pódio de festivais regionais e nacionais com suas músicas autorais, entre eles o FLIC, em Santa Catarina, onde alcançou o segundo lugar nacional com a música “Índia Waiãpi”. “Deusa” dá continuidade à sua missão de divulgar os ritmos latino-amazônicos por todo o planeta.

Foto: Dyego Bucchiery

SOBRE O DIRETOR

Célio Cavalcante Filho é diretor e roteirista amapaense, com formação em direção pelo The Mel Hoppenheim School of Cinema, Faculty of Fine Arts, Concordia University (2002), e assistente de direção, na McGill University (2003). Dirigiu e roteirizou a série “Brasileiros S/A” (Cinebrasil.TV), e a série “Mad Scientists – Cientistas que ninguém quis ouvir” (EBC), ambos contemplados pelas Chamadas Públicas do BRDE/FSA. Co-dirigiu o curta-metragem “Juliana Contra o Jambeiro do Diabo Pelo Coração de João Batista”, exibido no Festival de Cannes (2012), e “Ribeirinhos no Asfalto”, vencedor do Festival de Gramado nas categorias Melhor Atriz e Melhor Direção de Arte. Está em preparação de “Amanda”, sua estreia no longa-metragem.

Foto: Dyego Bucchiery

FICHA TÉCNICA
Argumento: João Amorim
Interpretando a Deusa: Mariana Andrade
Direção e Direção de Fotografia: Célio Cavalcante Filho
Operador de Câmera: Nildo Costa Preto
Assistente de Câmera: Naldo Sousa Costa
Eletricista: Marivaldo Rocha
Maquinista: Damião Muniz
Assistente de Elétrica e Maquinaria: João Victor Muniz
Direção de Arte: Jami Gurjão e Moka Negreiros
Assistente de Arte: André Pinheiro
Maquiagem e Figurino: Lobotomy
Produção de Set: Vevel Silva
Direção de Produção: Rosana Oda
Assistente de Produção de Arte: Leandro Nascimento
Montagem e Color: Célio Cavalcante Filho
Finalização e Efeitos: Richard Monteiro
Still e Making Of: Dyego Bucchiery
Motorista: Cesar Farias
Seguranças: Eliezer Tavares e Gerson Brandão
Pirofagia: Abismomento, Guilherme Del Castillo e Lobotomy
Coreografia Pole Dance: Dani Amaral

Composição: João Amorim e Danilo José
Voz: João Amorim
Baixo e Bateria: Hian Moreira
Piano e Teclados: Robson Costa
Violão: Fabinho Costa
Trombone: Geová Boner
Trompete: Jonathan Soares
Masterização: Alécio Costa
Produção: João Amorim e Hian Moreira
Gravado no Hian Moreira Home Studio

Produção Executiva: Miroma Produções
Produção: Duas Telas Produções
Produtora e Projetista Cultural: Susanne Farias
Diretor de Arte: Renato Carvalho
Produtor e Diretor Cultural: Josimar Barros

Foto: Dyego Bucchiery

AGRADECIMENTOS
André Uchoa
Beatriz Soutelo
Damião Muniz
Eduardo Spíndola
Elson de Oliveira da Gama
Jackson Brito de Oliveira
Jones Barsou e Ana Caroline (Casa Circo)
Nagib Richene
Paulo Madeira
Toninho Duarte

Foto: Dyego Bucchiery

PARCERIAS
AMAZÔNIA FILMES
AMORA FILMES
ANDARALUNA
FilaDELfia
IMPACTO COMUNICAÇÃO
NAGIB COMUNICAÇÃO
SET FILMES

A música “Deusa” foi produzida e será distribuída em todas as plataformas digitais com o patrocínio do Prêmio Edital 004 Fumcult/PMM Lei Aldir Blanc. O videoclipe musical de “Deusa” foi produzido com o patrocínio do Edital de Fomento Lei Aldir Blanc 003/Secult.

João Amorim
[email protected]
www.joaoamorimartista.com.br
(96) 98139-4322

Rafhael Barbosa
(82) 9904-7770
[email protected]

Obra “Depois vá ver o mar” de Bruno Muniz tem poemas que podem ser destacados

Foto: Reprodução

Por Pérola Pedrosa

O autor e poeta amapaense Bruno Muniz está lançando sua nova obra de prosa e poesia, “Depois vá ver o mar”. Com 240 páginas, os poemas são destacáveis, acompanham envelopes e marcador, e as ilustrações são em aquarela.

Devido à pandemia, não houve coquetel de lançamento e as vendas estão ocorrendo por delivery (entrega em casa), pelo valor de R$40,00 reais. Os pedidos devem ser feitos nas mensagens da rede social do autor.

Bruno Muniz e sua nova obra literária. Foto: Acervo Pessoal/Bruno Muniz

Bruno Muniz é escritor, poeta, compositor e músico integrante do grupo Beatos Cabanos. Ele se declara apaixonado por grandes poetas da Língua Portuguesa e já tem outros trabalhos literários como “Cem versos putos sobre mim” (Ed. Kelps, 2016) e “Depois vá ver o mar” (2020).

Bruno diz que foi inspirando quando ainda era criança e se apaixonou por poesia. “A experiência de ler Olavo Bilac aos nove anos de idade me impactou e quis conhecer outros poetas. Aos 12, me apaixonei por Fernando Pessoa. Li a obra completa dele várias vezes e ainda é meu preferido. Outra referência é o francês Arthur Rimbaud”, conta.

*O livro “Depois vá ver o mar”, custa R$ 40,00, e só pode ser adquirido diretamente com o autor, através do Instagram ou Facebook @poetabrunomuniz

Fonte: Café com Notícias. 

O trajeto da A Banda através do tempo e antigos pontos de referência (minha crônica saudosista)

Foto: Maksuel MArtins

Durante mais de 20 anos, sai na Banda pelas ruas de Macapá. Eu e meus amigos esperamos a terça-feira gorda o ano todo, pois a marcha louca e feliz sempre foi um dos dias mais felizes. Como disse minha amiga Rejane: “o coração batuca na esperança de ver a Banda voltar a passar”. Republico essa crônica por motivos de saudades: 

A Banda, maior bloco de sujos do Norte do Brasil, tem o mesmo trajeto nestes 56 anos de existência (caso a passeata alegre fosse às ruas hoje, mas sabemos que não irá por conta da pandemia), mas o que ficou pelo caminho do tempo nestas mesmas ruas de Macapá? Fiz uma espécie de resgate (um tanto desordenado) de vários locais que povoam a memória afetiva do macapaense. Deixa suas lembranças agirem e vamos lá:

O ponto de partida do bloco, o mais popular dos festejos de Momo no Amapá, é na esquina da lanchonete Gato Azul e a loja Clark. Os foliões seguirão pela frente da loja A Pernambucana, dobrarão na esquina do Banco Bamerindus (pois “o tempo passa, o tempo voa…); Farmácia São Benedito; Moderninha e da Banca do Dorimar. As pessoas se trombam ao redor dos trios e carros de som. Todos molhados de suor, ou chuva.

A folia desce a Rua Cândido Mendes e o trajeto passa em frente também da Irmãos Zagury – Concessionária da Ford; Farmácia Modelo; do Banap; lojas São Paulo Saldo; Esplanada; Cruzeiro; Hotel Mercúrio; Casa Estrela; Casa Marcelo; Setalar; Tecidos do povo; Tecidos do Sul; A Acreditar; Casa Estrela; Beirute na America, ponte do Canal; Banco Econômico e Farmácia Serrano. Pelo caminho, muitos se juntarão a multidão.

Os foliões passarão em frente a Fortaleza de São José de Macapá, dobrarão na esquina da Yamada, subindo pela lateral da Feira do Caranguejo, em frente a boate Freedom e subirão a ladeira até o supermercado Romana, na esquina, a curva do Santa Maria. Sempre com os ritmos levantam nosso astral.

A marcha alegre seguirá pela Feliciano Coelho, onde a maioria já estará possuído pela cerveja, passará pelo Urca Bar; Leão das Peças; Cine Veneza e Farmatrem. A Banda chegará à Esquina do Barrigudo, na Leopoldo Machado. Continuará a passar em frente a Acredilar, lanchonete Chaparral, Casa Nabil, Hotel Glória e Baby Doll. Na brincadeira terá folião de toda idade, a maioria na maior curtição, sempre driblando os poucos que querem confusão.

A Banda é sempre cheia de colombinas faceiras, pierrôs malucos, palhaços embriagados, piratas sorridentes, enfermeiras enxeridas, bailarinas cambaleantes, diabos bonzinhos, anjos não tão angelicais, etc. O importante é alegria de quem vive a emoção de estar lá ou somente ver a banda passar.

A Banda dobrará na Avenida Fab, no canto do CCA (o couro continuará comendo); passa pela Prefeitura de Macapá; Palácio do Governo; Esporte Club Macapá; Praça da Bandeira; lanchonete Táxi Lanches; Bar do Abreu e novamente a Cândido Mendes até a Praça do Barão, onde as bandas Placa Luminosa e Brind’s farão um som até mais tarde.

Nunca saberemos quantos fantasmas carnavalescos seguem conosco na Banda, mas se assim for, que sigam pela luz e brilho do encanto deste sublime momento (entre o ontem e o hoje).

*Hoje seria dia de cair na folia na marcha alegre ou ver a Banda passar. Mesmo a gente com saudades da passeata louca e feliz, o importante é prevenir, combater a Covid-19 e ter esperança para que, em 2022, nos encontramos na Banda. É isso!

Elton Tavares

Prefeitura de Macapá retoma produção de Cartilha sobre a história do Ciclo do Marabaixo

A Prefeitura de Macapá, por meio do Instituto Municipal de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial (Improir), anunciou a retomada na produção da cartilha institucional que conta a história do Ciclo do Marabaixo. O anúncio foi feito na sexta-feira (12) pela diretora-presidente do Improir, Maria Carolina Monteiro, durante reunião com representantes do segmento.

‘’A cartilha será um instrumento de implementação da lei n° 10.639/2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, incluindo o ensino de História e Cultura Afro-brasileira. Estamos montando o material em parceria com os representantes das famílias que realizam o Ciclo do Marabaixo e pretendemos colocar disponível nas escolas municipais de 1° ao 5° ano’’, ressaltou Maria Carolina.

Cartilha

O projeto vai documentar essa autêntica manifestação cultural e religiosa afro-amapaense, reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil. Desta forma, contará com informações didáticas das famílias tradicionais que iniciaram o Ciclo.

Dona Marinete Costa, de 59 anos, é integrante da Associação Cultural Berço das Tradições Amapaenses (ACBTA), localizada no Santa Rita, bairro conhecido nos ladrões de marabaixo como Favela, comentou a importância da cartilha para as famílias tradicionais.

‘’A cartilha serve para desmistificamos que o Marabaixo não é apenas dança e bebedeira. É a identidade cultural do nosso Amapá’’, destacou Marinete.

A reunião realizada no Improir contou com a presença de representantes dos seis grupos que promovem o Ciclo do Marabaixo em Macapá: Grupo Folclórico Zeca e Bibi Costa (Azebic), Associação Folclórica Marabaixo do Pavão (Afomapa), Associação Cultural Raimundo Ladislau, União Folclórica Campina Grande (USCG), Associação Cultural Berço das Tradições Amapaenses (ACBTA) e Associação Cultural Raízes da Favela – Dica Congó.

Marabaixo

O Marabaixo é uma manifestação cultural afro-amapaense que homenageia o Divino Espírito Santo e Santíssima Trindade, através de missas, ladainhas, ladrões e dança. A comemoração religiosa é realizada durante 61 dias, iniciando no Domingo de Ramos (Páscoa) e finalizando no Domingo do Senhor (Corpus-Christi).

Atualmente, o Marabaixo é considerado Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil. No Amapá, comemora-se no dia 16 de Junho, o Dia Estadual do Marabaixo, implementado pela lei n° 0049/10.

Aline Paiva
Instituto Municipal de Políticas Públicas de Promoção da Igualmente Racial

O Carnaval cinza do tempo da pandemia (minha crônica sobre a falta que faz a maior festa cultural brasileira)

Anteontem (12), o calendário registrou o começo do período do Carnaval, a maior festa popular do Brasil. Mas, infelizmente, ainda vivemos tempos difíceis de pandemia e, por isso, o país não viverá a tradicional “Festa da Carne” (“carnis valles”).

Amo Carnaval, particularmente o de rua, sinto saudade do desfile das escolas de samba e dos blocos Bora lá só tu, A Banda e do Formigueiro (nunca tive fôlego pra chegar até o Pavão e, nos últimos anos, nem no Formigueiro fui mais).

Em razão da grave crise de saúde, é impossível ter carnaval. É realmente um caso de vida ou morte. O momento exige seriedade e respeito pela vida – a nossa e a dos outros. A gente entende, obedece e aplica. Fica em casa, com o coração cinza, e a alma de folião e o coração de brincante sentem falta do colorido.

Carnaval é paixão, só entende quem sente. Há aqueles que acham tudo uma grande besteira, paciência. Mas é inegável o valor da maior festa cultural brasileira.

O Carnaval é uma festa democrática, a alegria do povo. Pena que não teremos, mais uma vez, a rivalidade do Piratão, o Rei do Carnaval, contra os Boêmios do Laguinho, Maracatu da Favela ou Piratas Estilizados. Sem falar do dó de não termos a marcha louca da terça-feira gorda, a nossa tão amada Banda, o maior bloco de sujos do Norte.

Ontem seria noite de eu desfilar pela minha amada escola de samba, a Piratas da Batucada, como fiz desde 1992. Não tenho ziriguidum, não toco surdo de repique, tamborim ou bumbo, tudo pra não atravessar o samba. Também não sou pierrô e nem palhaço, mas sim Rei Momo, mas ainda dá pra andar todo o percurso de A Banda (risos) e cantando a velha marchinha do remador: “Se a canoa não virar, olê, olê, olá, eu chego lá”.

Foto: Maksuel Martins

Sim, sempre fui um folião de raça.

E nem me venham com o lance de ser “pão e circo”, isso é argumento furado de quem não entende que essa é a maior festa popular do Brasil.Cheio de memória, arte, homenagens, é muito mais que uma disputa de agremiações em uma grande passeata festiva. O Carnaval é inspiração, vibração, talento, organização, imaginação, arte, luz, cores, alegria, magia e amor. Fala de nossos costumes, história e tradições. Um contagiante evento de luz, cor e muita alegria. Sem falar na importância que possui para a economia.

A Covid-19 não permitirá nada disso. Hoje, arlequins e colombinas choram. Sem carnaval, a dispersão chega, antes do desfile, que nunca virá. Infelizmente, todos nós, amantes da festa, acabamos saindo em uma grande e unificada ala de palhaços tristes. Não ter a festa, é sofrer de desamor.A gente entende o perigo e a importância de não ter. Mas o coração da gente não.

O que resta é esperar a cor que virá depois do cinza. E ela virá (se Deus quiser). Afinal, a festa da carne é isso: ludicidade, beleza e esperança.

Elton Tavares

Nota de Esclarecimento da Secult

A Secretaria de Estado da Cultura do Amapá (Secult/AP) vem à público informar que, por Recomendação do Ministério Público do Amapá (MP-AP), por meio da Promotoria de Defesa da Saúde (PJDS), as lives do carnaval não serão realizadas durante a quadra carnavalesca, mas serão prorrogadas para outro momento. A medida é preventiva e foi tomada após a constatação do aumento de casos da Covid-19, em Macapá, comprovado pelo número de internações nos hospitais da cidade.

A decisão foi tomada em reunião, realizada na manhã desta quinta-feira (11), no Ministério Público do Estado do Amapá, conduzida pela titular da Promotoria de Justiça da Defesa da Saúde Pública da Comarca de Macapá, com a presença dos secretários de Estado da Cultura, da Justiça e Segurança Pública, comandante da Polícia Militar e também com representantes de agremiações carnavalescas, quando ficou determinada a suspensão da realização de eventos festivos, shows, festa carnavalescas e congêneres, conforme a Recomendação. Link de acesso https://cutt.ly/LkDs7G2

A Secult reafirma o seu compromisso com os segmentos artísticos e culturais. A Secretaria de Estado da Cultura fica à disposição para quaisquer esclarecimentos no que for necessário.

Disponibilizamos os endereços eletrônicos para maiores esclarecimentos: [email protected], ou acesse www.secult.ap.gov.br

Secretaria de Estado da Cultura do Amapá

Borboletas são almas – Crônica porreta de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Há certas épocas do ano que os céus de Macapá se enchem de borboletas amarelas. São nuvens flutuantes que parecem seguir em direção ao sudeste da cidade, atravessando o rio. Milhões delas são vistas diariamente por todos os lugares da região buscando o seu rumo, pulsando a uma dança arrítmica e farfalhando as asas para suplantar os obstáculos que se antepõem na sua louca viagem em busca de calor. Sabe lá quanto tempo não ficaram em estado de larva, encerradas em seus casulos antes de serem belas ninfas a se transformam em insetos alados. Quanto tempo será que a natureza não lhes condenou à escuridão para que num só evento as libertasse abruptamente em suas novas formas? Os pitagóricos diziam que a borboleta era o símbolo da imortalidade, pois, proveniente de Deus e de sua natureza, não se atém estritamente ao invólucro carnal e não está sujeita à morte.

Curiosamente a língua grega usa uma só palavra – psyché – para designar tanto a alma humana como a borboleta. Muitas culturas de antigas civilizações a usaram como representação simbólica de suas crenças e religiões. É possível que a analogia da lagarta em seu estado de crisálida com o homem morto tenha nascido no Egito, pois os defuntos mumificados, enrolados em bandagens de betume e substâncias balsâmicas se assemelhavam a ela no se estojo de seda. O corpo humano não era mais do que o invólucro da alma, que escapa pela porta da morte, assim como a ninfa rompe a extremidade de seu casulo e desenrola suas asas, tornando-se borboleta. Os primeiros cristãos também interpretavam esses fenômenos da mesma forma, e se fechavam para meditar no interior de celas de pedras de onde só saíam quando a alma estivesse pronta para empreender seu grande vôo. Até hoje os ascetas do Himalaia se retiram para cavernas inacessíveis e durante anos só comem o estritamente necessário à sobrevivência para se tornarem gurus, comparando-se a si mesmos às grandes borboletas dos rios Ganges e Indo. Na mitologia japonesa os insetos são associados às flores e conseqüentemente à iluminação búdica.

A palavra borboleta (belbellita) é uma designação comum a insetos lepidópteros diurnos. Existem espécies noturnas como as mariposas, aquelas que voam ao redor da luz. Cristãos da Idade Média interpretavam a chama como a fêmea tomada de luxúria, atraente e falsa, que queima a mariposa, essência da vida. Essa idéia tem sua origem no mito bíblico da Queda, com Eva e o pecado original. A natureza e o sexo passam a ser corruptos, sendo a mulher a representação máxima do sexo e o próprio ser corruptor. Entretanto, o sufismo interpreta poeticamente o fenômeno ao dizer que a mariposa estaria tomada de amor divino pela chama, lançando-se ao fogo místico sem temer o aniquilamento de sua própria vida. A Mariposa esfinge que na nossa região é conhecida por “bruxa” traz superstições como a que ao entrar em uma casa significa prenúncio de morte de um dos moradores.

Esta semana as borboletas amarelas se despediram da paisagem macapaense. Uma ou outra ainda ficam perdidas solitariamente, mas antenadas à procura da luz, num tempo em que o sol se abre em solstício após deitar sobre a linha do equador e deixar sua aura de força sobre nossas cabeças. Da prisão do casulo ao vôo libertário em busca do fogo divino lá vão elas, iluminadas, celebrando a vida em sua essência cheia de energia, enquanto o sol começa um breve afastamento para descansar dos homens e de suas almas-borboletas.

Texto que deu origem a música “Panapanâ, a migração das borboleta”s, com melodia de Osmar Jr:

Cineasta seleciona atores para filme sobre a corrida do ouro no Amapá

Cineasta Rodrigo Aquiles – Foto: Diário do Amapá

Por Cleber Barbosa

Em busca de novos talentos para o cinema, o publicitário, designer, escritor e cineasta Rodrigo Santos, o conhecido “Aquiles”, confirmou na última sexta-feira (05), em entrevista ao programa Café com Notícia, na rádio Diário FM (90,9), estar em busca de dois novos atores para o curta-metragem de ficção “Tu Oro” que começa a ser rodado esse ano.

A produção vem sendo trabalhada desde janeiro de 2020, participando de editais de subvenção tanto estaduais como nacionais, tendo sido aprovado pela Associação Nacional do Audiovisual Negro, que agora presta toda a consultoria para a roteirização, criação do elenco e a pesquisa de campo, que envolve busca por documentos, textos e o assessoramento de um profissional de história – outro objeto de seleção pela produção.

O nome do curta-metragem é uma alusão à corrida pelo ouro que sempre esteve presente na trajetória do Amapá, isso há séculos. “Acaba sendo também uma excelente oportunidade para se mergulhar na história do nosso estado, pois a trama se passa num período histórico do século XIX, numa disputa entre dois homens, então a gente vai sair de um micro cosmo para um macro cosmo”, disse Aquiles.

De acordo com o produtor, a busca agora além das pesquisas para a contextualização do roteiro, é identificar dois atores – um negro e outro branco. “Mas o ator branco terá que falar um francês básico, pois o filme aborda também a questão do contestado entre Brasil e França pela disputa do garimpo no município de Calçoene”, aponta.

Aquiles acredita que a pandemia ainda irá prejudicar bastante o cronograma e o calendário inicial previsto, mas que até o mês de maio a trama começa a ser rodada. Para interessados em alguma etapa da seleção, a produção disponibiliza um contato de WhatsApp, o número (96) 98122-1285.

Fonte: Diário do Amapá

Movimento Costa Norte recebe homenagem do Conselho de Cultura do Amapá

Foto: Cleito Souza

Por Renivaldo Costa

O Conselho Estadual de Política cultural do Amapá (CEPEC) fará, neste sábado (6), a entrega de comendas pelos serviços prestados à cultura e à sociedade amapaense através da música ao MOVIMENTO COSTA NORTE.

A homenagem é fruto de um requerimento apresentado pelo conselheiro Edenildo Gonçalves Teixeira aprovado pela plenária do CEPC. “O movimento Costa Norte é um marco da música amapaense e precisa ser reconhecido e valorizado como tal”, explica o conselheiro.

O presidente Cleverson Baia convida a todos os artistas e a sociedade em geral para acompanhar através do Facebook e YouTube, a partir das 20h, a entrega de comendas ao movimento Costa Norte. Confirmaram presença: Zé Miguel, Osmar Jr, Val Milhomem e Amadeu Cavalcante.

Exposição fotográfica abre as comemorações do aniversário da cidade, no Amapá Garden Shopping

Nos dia 31 de janeiro a 7 de fevereiro, o Amapá Garden Shopping apresenta a exposição “I’ã: Fotofragmentos de uma Amazônia Amapaense”, obra do artista plástico e fotógrafo, Paulo Rocha, ativista cultural. A exposição apresenta um processo criativo que reúne documentação e arte, e utiliza-se da linguagem fotográfica como reveladora das singularidades do cotidiano amazônico, a partir de conceitos fundamentais da cosmologia Wajãpi, falantes nativos da língua Tupi que habitam o território transfronteiriço do Amapá-Guiana Francesa.

O fotógrafo explica que para os Wajãpi – aquilo que compreendemos como “imagem” – estaria para além do registro fotográfico, trata-se de alma, memória e experiência, sintetizadas no termo I’Ã, uma componente de cada indivíduo, que pode ser compreendida como “princípio vital” e identificada em qualquer ser por intermédio da pulsação e da palavra. Ser capaz, através de um click, captar o instante em que, de certo modo, todas as coisas se compõem antes de se dissolverem na desordem do mundo é o grande desafio da fotografia contemporânea, que o artista traz para si.

A exposição já foi apresentada em espaços culturais do Amapá e de Minas Gerais. O conjunto da obra evidencia a cidade de Macapá, a diversidade natural, cultural e o cotidiano amazônico-amapaense.

“É um olhar poético e diferenciado que valoriza as pessoas e narra detalhes do cotidiano muitas vezes esquecidos pelas nossas retinas cansadas pelo excesso de imagens na era da informação, mas que se deixam capturar em fotofragmentos por uma lente curiosa, lúdica e experimental”, diz Paulo.

Nesta edição especial para as comemorações do aniversário de 263 anos da cidade de Macapá, a exposição incluiu uma sessão especial que circulou no projeto Batuque, Preces e Louvores do Quilombo do Curiaú realizado pela Companhia Ói Nóiz Akí no Ceará, Recife e Rio de Janeiro através do Programa Caixa Cultural 2019.

Serviço:

Exposição “I’ã: Fotofragmentos de uma Amazônia Amapaense”

Data: 31/01 a 07/02
Hora: Seg a sábado das 10h as 22h, e aos domingos 12h as 22h
Local: Loja 144, Amapá Garden Shopping
Endereço: Rodovia JK, 2141, Universidade
Contato: Paulo Rocha (96) -98412-4600
Informações: Márcia Fonseca (96) 98406-1389.

Márcia Fonseca – Assessoria de comunicação