Poema de agora: Cheiro Azedo (corredores) – Luiz Jorge Ferreira

Cheiro Azedo (corredores)

Aqui comigo tenho o urro dos bois vagabundos na memoria
E com eles eu reencontro os cheiros que eu considerava
enterrados.
À noite eles perambulam nos corredores
Junto com estrelas e sombras na parede.

Estou repleto de mim, tatuado de sol, dentes sujos
De fiapos de frutas e restos de palavras
E ao sul dos quintais minha infância toma banho nua
Sente frio e olha-me assustada com a quantidade de rugas
Olha-me os pés e suas rotas de fugas
Que nunca vão além de um palmo
Eu canto canções antigas
Cuja melodia parece uma praga dita em russo e tusso.

Aqui, quando o sol se afasta espalhando negro
É que chegam os fantasmas dos bois
Com seus urros e babas que mancham
As cortinas, as vaginas e os saltimbancos.

Assanham e arranham
A prenhez da luz e a epilepsia das sombras recortadas na parede
Com eles fogem os cheiros.
Lembra-los dói
Por isso eu expulso gritando hora, dia e ano
Em que nasceram os girassóis pintados por Van Gogh

Eles comem as prateleiras, as dobradiças
E os dentes postiços da Yeye
Sujam o corredor e a fé dos protestantes da terceira rua
Pisam no sorriso da Mona Lisa e mijam.

Minha infância nua os chama para Macapá
Expulso-os aos berros e aos urros,
Cantando uma cantão tão antiga
Que parece estranha e amiga.

Eles deixam um cheiro tão azedo
Que o tempo fica lerdo
Os ossos fraturados estalam, os olhos ficam escuros
E absorvem a luz que foge das pupilas dos fantasmas dos bois.

Solitário, morro e apodreço sozinho
Pelos corredores o cheiro azedo só incomoda
A prenhez dos urubus.

Luiz Jorge Ferreira

Escritora amapaense Raquel Braga lança dois livros na 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo

A escritora amapaense Raquel Braga estará, nos dias 08 e 09 de julho, na 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, lançando seus livros “Divagações” e “Os Estatutos do Homem Pós- pandemia”.

Raquel é poeta, contista e cronista, membro da Associação Literária do Estado do Amapá (Alieap), da Rede de Escritoras Brasileiras (Rebra) e da Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes (Febacla), onde ocupa a Cadeira de número 96, cujo patrono é Oscar Niemeyer.

Divagações é o primeiro livro solo da autora. Já os estatutos do homem pós- pandemia foi publicado em 2020, baseado no poema “Os Estatutos do Homem”, de Thiago de Mello.

“Participar de uma Bienal ao lado de grandes autores é, sem dúvida, um momento de realização para um escritor. Na ocasião, estarei apresentando ao público meus dois trabalhos solo. “Divagações” é um livro pelo qual sou apaixonada, porque o considero uma bela viagem pelo universo feminino, onde tantos sentimentos que habitam a alma da mulher vêm à tona. Em Os Estatutos do Homem Pós- pandemia, o leitor desfruta de uma literatura mais engajada, que retrata a triste realidade vivida pela humanidade diante da pandemia da Covid-19″, explica a autora.

Considerada o maior palco de encontros das melhores editoras, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, este ano, retornou de modo presencial e vem superando a expectativa da organização do evento, que esperava a venda de 600 mil ingressos, mas já ultrapassou 1 milhão de entradas vendidas.

Raquel Braga

Iniciou sua trajetória como escritora em 2013, quando participou da coletânea Poetas na Linha Imaginária. Depois participou das coletâneas Poesia na Boca do Rio (2015), Quinze dedos de prosa (2015), e Poemas, poesias e outras rimas (2017).

No ano de 2021 a autora esteve presente nas antologias: Cronistas na Linha do Equador; Literatura Amapaense – Poemas Escolhidos; 16 Sonetistas do Amapá; 61 Cronistas do Amapá; Pequenos Poemas – 50 Poetas; Pandemia: Conto, Crônica e Poesia; e Memórias de Um Apagão.

Em 2021, fez parte da antologia Esboços da Alma, da Scortecci Editora, e, em 2022, da antologia. A Reinauguração da Vida, idealizada e organizada pela Rebra.

Kelly Pantoja
Assessoria de comunicação

Comentários nas mesas de Bar nestes tempos que antecedem as Eleições 2022

No bar a gente resolve os problemas do mundo todo em algumas horas, regados a muita cerveja e teorias mirabolantes. A filosofia de boteco é ampla, mas nestes tempos de campanha política, o pessoal questiona, critica, engrandece, crê, descrê etc. Sim, não só no boteco, mas nas tocas, nas ruas, nos becos, escritórios, gabinetes etc. Mas bom mesmo é no botequim.

Entre uma conversa e outra sobre todo tipo de candidato, várias opiniões são emitidas nas mesas. Entre os muitos comentários impublicáveis sobre o dia-a-dia destes tempos estão:

“Aquele limpeza!”; “Mais puxa-saco logo”; “Me rouba logo!”; “Tudo mentira, que eu sei!”; “Tá escrevendo e falando merda”; “Depois de velho, se expõe ao ridículo”; “Tá, pra caralho!”; “Logo tu, surucucu”; “Me admira de ti”; “Até tu, rapá?”. “Fulano é traíra” e por aí vai (risos).

Ou como disse a poeta Patrícia Andrade: “isso sem falar nos caras que viram candidatos, mesmo… às vezes amigos da gente, achando que vão mudar o mundo… Chega lá, o mundo acaba mudando os caras. Ô, tristeza!“. Verdade, Pat.

Como sou do grupo sem grupo algum, dou risada e mais escuto do que falo. Realmente, me divirto. Pois convenhamos, esse período é hilário e acho muito porreta ouvir as estratégias, “engenharia política”, planos malucos, alianças inusitadas, probabilidades impensáveis dos cientistas políticos bêbados e profetas embriagados.

Elton Tavares

Estamos cheios de vida. Então, bora viver! – Crônica de Elton Tavares – *Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”

Ilustração de Ronaldo Rony

Estamos cheios de saudades difíceis de matar, memórias tristes e felizes, milhões de possibilidades, bagagem de vivências passadas, conhecimento adquirido ca caminhada e muita vontade de driblar adversidades. Temos poucas certezas, sem grandes promessas, mas o trato de evitar o tempestuoso e cólera.

Inevitavelmente, sofremos de arroubos de entusiasmo, preguiça e euforia digna de uma análise Freudiana. Sim, é muita liga! Estamos cheios de afeto, contradições, neuroses e poucas explicações. Estamos cheios da boa maluquice, de corações abertos. Estamos a desatar amarras e atentos para não pirarmos, pois estamos cheios deste tipo de loucura. Estamos cheios de luz e felicidade.

Estamos a descartar polêmicas ou manifestações exaltadas, daremos uma bicuda nas controvérsias, pois vamos desengarrafar sonhos. É, estamos cheio de vida. Então, bora viver!

Claro que com os cuidados necessários que 2021 nos impõe. Para você que leu, que a Força esteja contigo!

Elton Tavares

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Estatuto do Boêmio do Bar do Abreu – Crônica de Renivaldo Costa – @renivaldo_costa

Caricatura do artista plástico Wagner Ribeiro

Crônica de Renivaldo Costa

Aprendi a ser boêmio com o Fernando Canto. Grande escritor, frequentador inveterado do Bar do Abreu e amante ativo da boa boemia (segundo Houaiss “boêmia” e “boemia”, estão certos, optei pelo segundo por uma questão de pronúncia), ele me fez entender seus fundamentos e princípios mais primitivos.

Quem me conhece um pouco sabe que qualquer hora da noite é uma boa hora pra me chamar pra uma conversa no Bar do Abreu. Sempre que posso, ou seja, quase todo dia, procuro exercer, essa que acredito ser minha verdadeira vocação.

Antigo Bar do Abreu da Avenida Fab – Foto: O Canto da Amazônia

O papo de uma mesa boêmia nunca tem função ou um objetivo claro. Nunca é totalmente concordado e nunca absolutamente negado. Sempre existem espaços pra novos comentários, desde que não sejam definitivos. O verdadeiro papo boêmio pode ser aparentemente banal e repetitivo (aos olhos de um amador).

Qualquer um que entenda muito de um assunto a ponto de esgotá-lo deve ser evitado numa boa mesa, assim como aquele que não se interessa por um assunto que não domina. Tudo interessa a todos sempre, mas nada chega a ser resolvido.

A boemia levada a sério pouco se lembra da boemia imaginada por aí. O combustível principal e verdadeiro de um boêmio de verdade é uma boa conversa. Este é o único requisito para que 8 horas passem como se fossem 5 minutos e ainda pareçam muito pouco.

Uma bebida alcoólica pode ajudar esse papo a funcionar melhor, mas, não se engane, para ser um bom boêmio você tem duas opções : 1 – beber responsavelmente, 2 – não beber. Explico:

Pessoas que não sabem beber, que passam da conta, que ficam bêbadas, de fato, não conversam. Elas falam (sozinhas), gritam, choram, balbuciam, abraçam, expelem fluídos, produzem ruídos, enfim, estragam sua própria noite fazendo qualquer coisa que esteja bem longe de um bom papo.

Segundo o Fernando Canto, um boêmio convicto tem que estar preparado pra enfrentar tantas noites quantas tais for convocado. Mesmo que sejam na seqüência, mesmo que sejam no dia de trabalho.

Diferencio um boêmio de uma fraude qualquer ao escutar uma frase como “hoje eu vou curtir muito a noite”. Essa frase me soa tão absurda como “agora vou curtir essa respirada”. Quem sai “pra curtir a noite”, não pode trabalhar no dia seguinte, vai ficar com ressaca, dor de cabeça, peso na consciência e etc.

Toda noite é digna de uma “curtição” e portanto, pode ser curtida. Triste é aquele que espera a sexta-feira pra isso.

Carnaval do Abreu da Fab, em 2016. Foto: arquivo pessoal de Elton Tavares

Para se aproveitar a noite como um profissional da boemia basta apenas que escureça, e daí por diante, amigo, a vida fica bem mais fácil. Concorda ?

Não.

Ótimo! Então puxe a cadeira, pede um “qualquer coisa” e seja bem-vindo ao Bar do Abreu. Temos muito o que conversar e a noite está apenas começando.

Poema de agora: Crisantos – Ricardo Iraguany

Crisantos

Nessa rua
Que flutua
E é o espelho da lua
Vazante são os caminhos
De ida ou de vinda
No brinde bêbado
Do cair da noite
Navega a solidão
Naufragada no narciso
Do vaso estilhaçado
Espalhando a lamparina
Em chamas


No vazio dos amores
Que renascem
Dos abismos exauridos esmerando as três Marias
Que seguem a nave náutica
No rastro do absinto
Profundo e Fecundo
Do amor que arrasta o peito
Escancarado de crisantos
Cristais do sorriso
Que abrem em lágrimas
Imersas de sentimentos.

Ricardo Iraguany

Poema de agora: Tempo – Luiz Jorge Ferreira

TEMPO

O tempo brincou conosco, quando se foi tão veloz.

Quando se esgueirou por detrás das datas e aniversários.

Quando se fez sono, com uma falsa sensação de paz.

Quando escondeu os amigos, num faz de contas cruel.

Quando incrustou a saudade, dos acontecimentos, num tempo de leva e trás.

O tempo gosta de mudar as faces, rejuvenescer as fotos, e por névoa nos fatos

O tempo é impar, está no nosso lado, mas nos empurra e corre para longe, vai se juntar a uma tal eternidade, que nos não alcançamos, e se por acaso, chegássemos até seu lado, estaríamos sozinhos, solitários e cansados.

O único modo de ter o tempo sob nosso lado todo o tempo

É aprisiona-lo na saudade.

Luís Jorge Ferreira

Eu? Uma grande emocionada! – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Tem uns dias que ando melancólica, mas acredito ser por não dar a pausa do anticoncepcional e não deixar meus hormônios agirem naturalmente. O acúmulo de repente tá fazendo isso. Ou a ausência. O normal seria eles me deixarem louca, mal humorada, mas aí eu os reprimo, eles se organizam e o ataque é feroz!

Só sei que tenho escutado músicas que me tocam a alma e me permitido chorar de soluçar. Assistido filmes que me emocionam. O choro é livre, literalmente. Livre e leve. E me leva a refletir que pela primeira vez na vida (adulta!) estou vazia de dor de amor, porém não menos emocionada. Assumidamente emocionada.

Ao contrário do que muita gente me imagina, sou sensível demais. Tudo me afeta. Sinto compaixão, empatia, vontade de cuidar e agir e por muitas vezes e quando posso o faço, sem alardes, e sigo. Meu desafio diário é justamente esse: domar esse turbilhão de afeto que me move e deixar todos ao meu redor imaginarem que sou a personificação da plenitude, a calma e elegância que tanto dissemino.

Mas a realidade dentro é outra: sou uma mulher apaixonada, visceral, intensa e cheia de afeto. Meus amigos sabem disso, pois conhecem o vulcão que em mim habita. Eu fervo. Minhas explosões são dentro. Respiro fundo e tenho altos papos comigo mesma avaliando os cenários, comportamentos e definindo o próximo passo. Nem sempre funciona. Tem vezes que não me escuto e mergulho na emoção. E me entrego, afogo, me deixo levar e vivo cada minuto inteira para quando chegar o fim, ter valido a pena nadar em lava.

E sim. Por pior que aparentemente algumas experiências tenham sido, sou grata a cada uma delas por ter-me lapidado e melhorado, afinal de contas sou o resultado de todos os meus erros e acertos. Erros que me fizeram feliz por um tempo, acertos que me despedaçaram em determinados momentos, mas segui e sigo, hoje, um dia de cada vez, em paz. Uma paz quase palpável.

Porém, mesmo em paz, esse sentimento ferve, borbulha, respinga quente vez ou outra e me lembra que tá ali e não vê a hora de transbordar. E ele vai transbordar na hora certa e sem tirar essa paz conquistada com tanta luta, amarrando muitas pontas soltas. Restam ainda poucas por amarrar, mas de uma em uma vou vencendo os dias e quando menos esperar, realizo meu sonho de lembrar do amor que terei toda vez que ouvir Coração Selvagem, e vou chorar de soluçar do mesmo jeito que hoje quando acordei. E vai continuar sendo lindo. Calma, elegante e emocionada.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

Minhas ausências involuntárias – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Certa vez, há alguns anos, passei duas semanas sem ir na casa da minha avó paterna. Fico pensando quanto de convívio aquele meio mês me custou. Estas “ausências involuntárias” são muitos ruins. Se você se ausenta ou some por algum motivo que foge ao seu controle é bem triste, principalmente quando quem sente sua falta são as pessoas que você ama.

Eu deveria, por exemplo, me organizar para ir ver mais vezes os meus corações que moram em Belém (PA), periodicamente. Falo da minha sobrinha, irmão e cunhada, além da querida amiga Rita. Mas por pura falta de empenho, trabalho ou planejamento isso não acontece.

Essa rotina frenética nos afasta de muita gente importante, às vezes chego cansado do trabalho, tomo um banho e vou direto para cama. Mas nunca esqueço de quem amo. Às vezes, já tarde da noite, penso: “eu poderia ter ao menos telefonado hoje, mas agora já não dá mais tempo ”.

Um dia, encontrei um amigo do passado e comecei a me perguntar: por que nos afastamos? Não encontrei motivo algum, foi a vida, nossas prioridades e escolhas, mas o cara ainda é “considerado” um amigo querido. Doideira, né?

Graças a Deus (ou seja lá o nome Dele), tem muita gente que gosta de mim, já passei por diversas turmas, tenho velhos e bons amigos. Quando encontro alguns deles, seja em Belém ou Macapá, sempre rola aquele papo: “pô, vamos marcar algo, será muito legal”. E nunca acontece o tal encontro, falamos tudo da boca para fora, involuntariamente.

Meu falecido pai um dia me disse: “temos que dizer para as pessoas que amamos que as amamos hoje, amanhã pode não ser possível”, concordo.

É isso mesmo. Preciso urgentemente visitar pessoas queridas, prestigiar aniversários e ir a festas de gente que gosta de mim. Tudo isso parece simples, mas, por algum motivo, às vezes deixo de lado. Não sei vocês, mas preciso dar um jeito nas minhas ausências involuntárias.

O amor calcula as horas por meses, e os dias por anos; e cada pequena ausência é uma eternidade” – John Dryden.

Pensem nisso!

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Poema de agora: Feitiço – Ana Anspach – @AnaAnspach

Feitiço

I

Nem o fogo me assusta
Ariana que sou
Morri mil vidas
Queimada nas
Fogueiras
Da inquisição

II

Acendo velas
Pros meus santos
Me benzo com ervas
Abraço as árvores
Meu banho é nas águas
Escondida dos homens

III

Nem bruxa
Nem santa
Herege
Sustento minhas ideias
Defendo minha gente
Desconfio do que vem fácil

IV

Tente me queimar
Sobreviverei
Voltarei muitas vezes
Sou de raiz profunda
Medusa da mata

Ana Anspach

Poema de agora: Amanhecer – Marcelo Guido

Foto: Bianca Lobato

Amanhecer

Amanhecer
Inebriante, existente
Latente, soberbo
A esmo.
Desconhecido, desnudo
Despreocupado, inócuo
Futuro.
Criativo, suas mãos
Sua alma
Você faz, destino.
Vitoria, manhã .
Oportunidade, luta.
Glória maior, sol.
Que me venha sempre.
Que me faça viver.

Marcelo Guido

 

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia.

O imortal Gilberto Gil gira a roda da vida pela 80ª vez. Meus parabéns a um dos gênios da MPB! – @gilbertogil #Gil80

Fotos encontrada no site: Discos indispensaveis para ouvir

Sou fã de muitos músicos e compositores, brasileiros e gringos. Um dos maiores letristas, poetas e cancioneiros do Brasil é Gilberto Gil, que hoje completa 80 voltas em torno do sol. Um gênio ícone da Música Popular Brasileira (MPB) e um ativista lutador pelos direitos do cidadão. Sobretudo, um grande expoente da musicalidade nacional.

Fundador de um dos mais importantes movimentos da história do país, a Tropicália, autor e intérprete de vários sucessos como Drão (1982), Aquele abraço (1969), Toda menina baiana (1979), Domingo no parque (1968), Andar com fé (1982), Não chore mais (1979), Vamos fugir (1984), Tempo rei (1984), Refazenda (1975), A paz (1986), entre outras.

Gilberto Gil Foto: Fe Pinheiro/Agência O Globo

Vencedor de prêmios Grammys, Grammy Latino, galardeado pelo governo francês com a Ordem Nacional do Mérito (1997). Em 1999, foi nomeado “Artista pela Paz”, pela UNESCO, além de embaixador da ONU para agricultura e alimentação e ministro da Cultura do Brasil (2003–2008), o baiano tem mais de cinquenta álbuns lançados, recheados de elementos do rock, variedade de ritmos brasileiros, música africana e reggae. E, ainda, imortal da Academia Brasileira de Letras. Ou seja, um cara Phoda!

Como disse meu amigo Anderson Miranda: “o homem que chegou com Expresso 2222 em seu Viramundo de Chiclete com banana de Upa, neguinho, É um luxo só, um Volare de Say a little pray for you, seu Esquadros de Elogil trazendo A paz de Drão no Palco com Back to Bahia pra Andar com fé evocando Bob Marley em Stir It Up, mostrando o Tempo Rei emendando com Aquele abraço e Fico assim sem você pra seguir com Mandela e finalizar o Mita (Festival no qual Anderson assistiu o show do aniversariante )com Toda menina baiana, está comentando hoje 80 voltas do planeta em torno do sol. Viva Gil”.

Gilberto Gil, o ‘imortal’ da Academia Brasileira de Letras (ABL) (Reprodução/Instagram)

Não à toa, outro amigo e cancioneiro, o Enrico Di Miceli, fez uma música e um disco chamado “Todo Música” em homenagem ao aniversariante de hoje.

Gilberto Gil, com suas oito décadas de genialidade, embalou muitos momentos felizes de minha vida. Principalmente em reuniões familiares. Ele também me emocionou muitas vezes em mesas de bar. O tropicalista merece nosso reconhecimento, respeito e gratidão.

Enfim, por tudo que representa este espetacular artista, meus parabéns, votos de saúde e ainda mais longevidade ao monstro da MPB. Feliz aniversário, Gil. Aquele abraço!

Elton Tavares

*Fontes: sites e jornais, além dos meus quase 46 anos de vida com trilha sonora porreta.

Poema de agora: Catando Ontens – Luiz Jorge Ferreira

Catando Ontens

Amo o que belamente se desencompleta
Por isso me curvo e raspo do assoalho vestígios do passado que por ali deixei cair
Encontro a sede que me pede um gole de água
…lhe dou saliva clara dentro de uma consoante
Mais adiante vejo um resto de olhar já sonolento…olhou tanto tempo…meu Deus, tanto tempo, que para enxergar se cega.

Estranho que essa seja a minha casa e tanto e muito eu lhe desconheça…
E essas palavras dependuradas nas gavetas sejam filhas de palavras escritas…escondidas de alguma forma estranha…
Quando eu as extraia das entranhas com unhas longas e ferozes como garras.

Tem tempo que perambulo a cata do passado, penso encontra-lo para um abraço amigo, para dividir o trigo escondido na alma desse pão.
Faz tempo que eu o chamo e ele não responde…ou fiquei surdo ao eco dos meus gritos…
Mas agora que raspo o assoalho retirando lembranças e recordações…
Vejo em minha mãos vestígios de rostos e sorrisos…
E como preciso guardar comigo esses detalhes…


Arranco a pele e os embrulhos…
Quando olho meu reflexo no espelho da sala…
Vejo tudo o que procuro aqui no meu interior, calados, cabisbaixos, com ar triste, com certeza, ocupando o espaço de minha alma.
Que ofereci ao pão, e ele cuspiu.

Luiz Jorge Ferreira