Poema de agora: Ritual – Pat Andrade

RITUAL

chegou da viagem
cheirando a patchouli

tirou do seio a flor e a navalha
botou nos lábios a canção antiga
e se entregou a um solitário ritual

revirava a saia dançando
a catarse em cada gesto
vibrava música dentro dela

lá fora a vida devora
não silencia não para
não perdoa quem chora

o cansaço dos dias
engolia a grama do quintal

perguntou aos céus
se existia a sorte

colocou estrelas nos olhos
e ensaiou mais uma vez
sua estranha dança de morte

Pat Andrade

Poema de agora – Adeus sem festa: pela partida de Paulo Diniz – Júlio Miragaia – @julio_miragaia

Adeus sem festa: pela partida de Paulo Diniz

Ainda ontem pela praia
Choveram pingos
Distraídos
E sorrisos
Pelo chão.

Ainda ontem pela praia
A festa acabou,
José se perdeu,
Silêncio
No teu violão.

Ainda ontem,
Pelo arco-íris
Na sua moringa,
Me distraí acostumado
À vida de casado.

Ainda ontem
Havia chopes de amor
E namorados começando
A beleza dum verão.

Júlio Miragaia

Algo a dizer (pedaço de uma possível autobiografia) – Texto de Ronaldo Rodrigues – Ilustração de Ronaldo Rony

Nasci em janeiro de 1966 e lá se vão 56 anos e alguns quebrados (quebrados por conta da vida instável em alguns pontos do caminho). A cidade de Curuçá, no Pará, foi o lugar que me recebeu no mundo (não sei se a contragosto, espero que não).

Minha família rumou para a capital Belém quando eu, o último dos seis filhos da dona Darlinda e do seu Rodrigo, tinha seis anos de idade e muita memória já, pois lembro perfeitamente da infância vivida até então, entre as árvores de um imenso quintal e uma casa sempre alegre.

Em Belém, a vida seguiu amena, entre jogos de futebol (esporte no qual jamais me destaquei, assim como em todos os outros), as brigas de moleque (em que eu sempre era o que apanhava) e o encanto pela literatura, que na minha casa era farta e variada.

Lembro de alguns livros que se perderam no tempo e nas mudanças de casa e não vi mais depois de adulto. Li alguns livros fortes para uma criança, como O Exorcista (William Peter Blatty) e Os Miseráveis (Victor Hugo), sem escapar, ainda bem, de O Menino do Dedo Verde (Maurice Druon), O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry) e O Meu Pé de Laranja Lima (José Mauro de Vasconcelos). Malba Tahan me encantou com suas Lendas do Deserto. Sim, e muito Monteiro Lobato, que atualmente leva fama de racista. Li as histórias bíblicas. Até hoje as aventuras daquela galera do Antigo Testamento me fascinam, assim como os deuses e heróis da Mitologia Grega.

Tinha também a literatura, digamos, mais popular do começo dos anos 1970. Livros de bolso com histórias de faroeste e espionagem. Li também fotonovelas, Almanaque do Biotônico Fontoura e, claro, histórias em quadrinhos de todos os gêneros: Zorro, Luluzinha, Mônica, Brotoeja, Gasparzinho, Bolota, Recruta Zero, Tio Patinhas, Conde Drácula, Tex, Fantasma, Mandrake, Gato Félix, Homem-Aranha, Tarzan, Batman… Devorava as páginas dominicais dos jornais que traziam tiras do Brucutu, Capitão César, Pinduca, Dick Tracy, Snoopy… Mais pra cá no tempo, Conan e Ken Parker ocuparam papéis importantes. Os quadrinhos foram definitivos para mim, como escritor e como o cartunista que vim a ser, mas essa é outra história*. Por falar nisso, foi num gibi do Mickey que a descoberta das letras se fez. Quando consegui ler frases inteiras, o universo da leitura se abriu e me arrebatou, causando um alumbramento que vivo até hoje.

Depois de começar a ler, bateu a vontade de também experimentar essa forma de expressão. Passei a observar a estrutura dos textos, o conteúdo, os voos da imaginação dos escritores e logo estava arriscando meus primeiros poemas, tentando textos mais longos em prosa e caprichando nas redações escolares, que foram bons laboratórios.

Em 1995, participei de um concurso promovido pela Universidade Federal do Pará e tive um conto publicado pela primeira vez (As que se chamam Flávia…) na coletânea que reunia alguns escritores já experientes e outros iniciantes.

Hoje, morando em Macapá/AP desde 1997, mantenho uma produção de contos e crônicas com alguma frequência, outras vezes nem tanto quanto gostaria. Publico com mais fôlego no Blog De Rocha!, cujo editor, Elton Tavares, é um dos responsáveis por eu me manter ativo na arte de escrevinhar. Sempre que vem o bloqueio criativo, a entressafra, ele me instiga, me cutuca com uma mensagem tipo: “E aí, mano? Nada?”. Eu sempre aceito a provocação e acabo entregando um texto.

Num país que pouco lê, ser escritor é como a voz que clama no deserto, mas creio que é uma missão que nos escolhe, antes que possamos escolhê-la. Como observadores do mundo, vamos desbravando os mundos e os vários personagens que entre nós transitam e só a alguns é dado reconhecê-los e reinventá-los.

Mas, como escreveu o poeta da minha vida, Carlos Drummond de Andrade, “lutar com palavras é a luta mais vã, entanto lutamos mal rompe a manhã”, eu sigo lutando e creio que, em certos (ou incertos) momentos, consigo sentir o sabor de uma efêmera vitória.

*A outra história – Escrevi acima que sou também cartunista e, como tal, assino Ronaldo Rony, usando o nome Ronaldo Rodrigues apenas para a atividade de escritor (coisa de artista ou mero capricho, não sei. Alguns acham que é só frescura). Como cartunista, já tenho três livros publicados: Ícaro, Liberdade Ainda que Nunca! (história em quadrinhos – Belém, 1990); A Chave da Porta da Poesia (literatura infantil para crianças de todas as idades, em parceria com a poeta paraense Roseli Sousa – Belém/Macapá, 2005); e Papo Casal (cartuns sobre relações amorosas que chamo de fugas emocionais – Macapá, 2008). Também já ilustrei vários livros, como Lugar da Chuva (Lulih Rojanski); Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias e Papos de Rocha e Outras Crônicas no Meio do Mundo, ambos de Elton Tavares; o CD Pelos Cantos de Belém, de Sergio Salles, entre vários outros trabalhos gráficos.

De forma artesanal, via impressão xerográfica, já lancei vários fanzines e mantenho, com certa regularidade, a produção da revista Capitão Açaí, um super-herói amazônico que é meu mais famoso personagem. Para concluir, ressalto o trabalho em conjunto das duas personas que me habitam. Ronaldo Rodrigues e Ronaldo Rony já assinaram participações no jornal Folha do Amapá e na revista Vanguarda Cultural, além do jornal satírico vert!gem.

Texto de Ronaldo Rodrigues – Ilustração de Ronaldo Rony
Junho/2022

Livro que trata da legislação sobre autismo é lançado no auditório do Ministério Público

Na próxima segunda-feira (20), o Ministério Público do Estado do Amapá (MP-AP) e a Associação Santanense de Pais e Amigos dos Autistas (Assande) realizam o lançamento do livro “Leis e Direitos de Pessoas com Transtorno do Espectro Autista: a Experiência do Amapá”, de autoria dos professores Renivaldo Costa e Joab Moraes.

O lançamento da obra acontece das 9h às 12h, no auditório da Procuradoria-Geral de Justiça, no Complexo do Araxá, em Macapá.

O evento é voltado aos operadores do Direito (juízes, advogados, membros do Ministério Público) e representantes de instituições que atendem pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Durante o evento haverá distribuição da obra e sessão de autógrafo com os organizadores do livro.

A obra é uma coletânea de leis que envolvem a garantia de direitos inerentes às pessoas com TEA, e foi organizada a partir da necessidade de disseminar informações entre um grupo muito específico: os operadores do Direito.

Os organizadores do livro perceberam a dificuldade que muitos advogados tinham em defender causas de portadores de Transtorno do Espectro Autista. Isso acontecia, na maioria das vezes, não pelo desconhecimento das leis sobre o tema, mas pela não familiarização com determinados conceitos, nomenclaturas e tratamentos e abordagens de vanguarda.

O livro pretende contribuir para o pleno exercício da cidadania dos portadores de TEA, bem como auxiliar os operadores do Direito em sua missão.

Serviço:

Evento: Lançamento do livro Leis e Direitos de Pessoas com Transtorno do Espectro Autista
Data: 20 de junho de 2022 (próxima segunda-feira)
Local: Auditório da Procuradoria-Geral de Justiça (Complexo do Araxá, em Macapá)
Hora: das 9h às 12 h
Contato com os autores: Renivaldo Costa (96) 98121 1566, Joab Moraes (96) 98140 3445.

Assessoria de comunicação

“Querem cafezes”? disse a olavista (Deuses me livrem!) – Por Jorge Herberth

Por Jorge Herberth

A “borra” sujou o teu Café com espinha de peixe e ‘falsa filosofia’. Por isso que só frequento bares e não “cafezes”, como disse a gentil e linda moça ao servi-lo a políticos e comitiva em uma comunidade bem ali, ela que já foi transformada em uma das centenas de personagens do escritor Fernando Canto. O escritor teve duas obras censuradas pela ignorância, por uma ilustre desconhecida, e seu séquito, em Macapá, em uma banca de ‘cafezes’.

À toa! Fernando Canto é bem maior que ela e os ‘cafezes’ servidos por lá. Imagina-se que um lugar desses, ou café cultural como escrito na placa, seja realmente um lugar de cultura. No sentido mais amplo, incluindo democracia e liberdade para todos os títulos e escritores de verdade e de qualidade. Até podem oferecer títulos de ‘cafezes’. Faz parte do negócio, dizem os tolos. E quando carrega uma identificação cheia de ancestralidade espera-se, mais ainda, que seja responsável e respeitoso com a cultura que tenta expressar, já que não é com todos os escritores do Amapá. E nem com o código de postura, pois cercou a calçada. Alô prefeitura!

Pois bem. Não foi respeito que tiveram com o escritor Fernando Canto, maior que tudo isso e bem maior e melhor que todos eles, os ‘cafezes’. O falso “pajé” deveria ser outra coisa como um vendedor da cultura, porque não é como os verdadeiros pajés e os xamãs da rica e linda história do Amapá. O “pajé” dos ‘cafezes’ vacilou feio com Fernando Canto, escritor mais que representativo da Amazônia e do Amapá, onde fincou pés e raízes, onde tem a cabeça única e exclusivamente voltada para a cultura de nosso estado.

Poucos estudam e conhecem a gente do Amapá e sua cultura, como o escritor, sociólogo e doutor Fernando Canto. O resultado desse trabalho e pensamento são seus mais de 16 livros (Desde os poemas em Os periquitos comem manga na avenida; Fedeu, Morreu; Água benta e o diabo; Equino Cio; Adoradores do sol; Contos Insanos; O Bálsamo; entre outros de poemas e contos). Além de jornalismo e artigos científicos.

“Fortaleza de São José de Macapá: vertentes discursivas e as cartas dos construtores”, seu trabalho resultado de pesquisa para tese, a obra mais extensa, densa e importante do ponto de vista histórico, antropológico e sociológico sobre esse patrimônio do povo do Amapá, candidata a monumento da humanidade, é destaque entre obras grandiosas do Brasil. Está publicada na biblioteca do Senado Federal.

Sobre os dois de seus belos livros de contos, Mama Guga, lançado inclusive em feira internacional onde milhares de jovens circularam e consomem, e O Centauro e as amazonas, foram “dispensados” pelo tal “cafezes” sob justificativa de “não recomendável para os jovens”. E descobrimos mais ainda como justificativa, ouvida dento do local: “não eram moralmente grandiosos” (sic….. pois o são e muito!). Moralmente pra quem? Aos que pregam mentiras baseadas em farsas filosóficas, como os olavistas, oportunistas, os das fakes e do falso moralismo de um mundo (de farsa religiosa) para ovelhas? Ou como a censura pregada na ditadura, que torturou e matou inocentes? O café borrado chegou atrasado e frio. À toa! Fernando Canto é maior e melhor ‘que vocês tudinho junto’, diria meu amigo Muleira, o Luiz Façanha.

Porque Fernando Canto, desde o início de sua carreira como um dos melhores e maiores compositores do Amapá, vencedor de festivais e fundador do Grupo Pilão ao lado do Bi Trindade e Juvenal Canto, seu irmão, passou pela censura dos milicianos e militares, foi torturado psicologicamente e preso mais de dez (10) vezes, quando inclusive um coronel dos crimes da ditadura obrigou que um parente dele lhe servisse ‘cafezes’, lá no quartel. Um torturador! Mas felizmente, para nossa grande alegria, está conosco e com a literatura da Amazônia brasileira como um dos melhores. E foi com luta, trabalho e enfrentamento. Mesmo com esse fato do ódio e outros sentimentos escrotos, atitudes e política medíocres como as desse momento contra a cultura e os artistas, Fernando Canto é e sempre será bem maior que todos os ‘cafezes’ da censura, passados em coador furado, com espinha de peixe ou bala. Nunca mais atravessarão nossas gargantas e nem a liberdade da cultura e nem da obra do Fernando Canto.

Vale lembrar que essa obra, e seu autor, circulam livremente pelo Brasil. Fernando Canto é um autor debatido por jovens em escolas por todo o estado, seus textos são utilizados em provas de vestibulares e concursos, debatidos nas universidades e faculdades do Amapá, onde milhares de jovens estão. Pena que além dos ‘cafezes’, também assistimos entristecidos a falta de solidariedade de muitos escritores, jornalistas e advogados do Amapá, que nas igrejas, cultos e academia arrotam cultura e vaidade por uns escritos quaisquer. À toa! Porque Fernando Canto é um escritor de encantarias e amuletos, de histórias de gente de verdade, transformadas em literatura da melhor qualidade.

Elton Tavares (editor deste site) em pé, com Jorge Herberth (camisa vermelha) e Fernando Canto.

Ave, meu amigo! Com uma boa dose de cachaça pura, transparente e honesta. Salve o escritor Fernando Canto!

*Jorge Herberth – Jornalista

Poema de agora: Vou… – Luiz Jorge Ferreira

Vou…

Andei para Andrômeda
Não imagino porquê andei…
Talvez fugindo do Sol para exterminar minha sombra que um pouco engordou.
Fingi que fui Deus por milionésimos de segundos.
Acordei…levantei aos sobressaltos e derrubei o teu sapato tendo relações com a minha meia.
Os óculos a tudo viam….dependurados entre o espelho do quarto, e o terceiro peixe amarelo no Aquário.

Fingi fugir…embrulhei meus sonhos com um Ededron colorido , cheio de figuras de Duendes nús.

Recolhi o Sol , e em seu lugar plantei um vaso de Acácias magras…recém vindas de uma paixão com o Paticholin…

Olhei mais uma vez a mochila, dentro…chovia…
Fora a vida encardida, exausta do passar dos anos, assoava o nariz, e gemia.

Cantei o terceiro Cântico.
De uma Ária infame, em que as asas somem.

De mim apanho a mochila, arrumo a carcaça na qual dependuro o corpo, já torto, e sigo.

A alma abandono, sentada na calçada, defronte a uma rua sem saída, onde ela escolheu passar os últimos dias.
Aguarda pacientemente que sobrevoe um avião da Panair.

Luiz Jorge Ferreira

Poema de agora: Cromossomo – Ricardo Iraguany

Cromossomo

Somos o sol
O sal, a saliva,
O pólen, a semente,
O ciclo, o sêmen
Somos a pasta,
A massa, a mirra, a era
O muco, a molécula
Somos a saliva, o sal
O cio, o frio, a erva
Somos o reflexo, o eco,
O pó, o pus, a apneia
Somos a poeira,
A morte, a vida,
O sumo o caule,
O cromossomo

Ricardo Iraguany

Poema de agora: Olhar de menino – (Pat Andrade para Artur Andrigues)

Pat Andrade e Artur Andrigues – Foto: arquivo da poeta

Olhar de menino
(para Artur Andrigues)

durante a viagem
vou lendo teus olhos
que devoram paisagens

olham bem fundo
no oco do mundo
e mais além

entre árvores e igarapés
teus olhos meninos
atravessam rios e pontes
como a flecha certeira
que a retina retém

Pat Andrade

Em defesa de “Mama Guga” e de vários outros escritos daqui – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Surpreso com a notícia que as obras “Mama Guga” e “O centauro e as Amazonas” teriam sido retirados de prateleiras de uma certa livraria da cidade, com a alegação que eram, pasmem, “não recomendável para leitura de jovens”. Em primeiro lugar eu ri, depois pensei com meus botões:

“Nossa nossos jovens amapaenses tão ricos culturalmente, com extensa e ampla programação cultural voltada para seu deleite e conhecimento, para que os mesmos se tornem cidadãos exemplares e continuem a espalhar conhecimento por gerações e assim mostrar a todos o nosso riquíssimo conhecimento intelectual”, nem preciso dizer que contem sarcasmo.

Mama Guga” é uma obra genial de autoria do grande Fernando Canto, digo grande por que uma figura dessas circulando por aqui é realmente um privilegio, Canto é um ser que inspira e transpira conhecimento, seja como excepcional sociólogo ou como artista que consegue transitar como poucos pela musica, literatura e pintura. O cara é realmente um exemplo que sem mais firulas não posso deixar de dizer que se estivesse no sul ou sudeste deste imenso país já teria seu reconhecimento. Sem exageros o cara pode ser comparado ao João Ubaldo e o imenso Darcy , os dois Ribeiros.

Fernando Canto, o maior escritor vivo do Amapá.

Na já citada obra, na qual eu me refiro neste texto o autor consegue com destreza impar reunir vários textos e contos com temática amazônica e que nada de pornográfico ou chulo que assustaria os nossos mais puros e incautos leitores jovens.

Quando soube do ocorrido, me lembrei dos saudosos “Catecismos” do Zéfiro ou as “Piadas do Costinha”, porra. Até pensei essa alegação sim foi a mais pura sacanagem.

O grande cabedal de obras do autor falam por si só, “O Balsamo”, “Quando o Pau Quebrar”, “Equino Cio” , “Os Tempos Insanos” e “Adoradores do Sol”, cito esses que já li e posso falar, uma leitura franca, que envolve o leitor por ser fácil e prazerosa para quem se aventura em escritos.

Gostaria de saber as graduações literárias de quem do alto de sua expertise ou salto alto conseguiu proferir tal desculpa esfarrapada para que os livros fossem devolvidos, será que apenas J.K. Rowling e George R.R. Martin estão autorizados a chegar nas cabeceiras e mentes dos nossos jovens .

No mais espero mais espaços para que a produção local possa ser apreciada, onde autores como o próprio Fernando Canto assim como o Júlio Miraguaia, Mary Paz e o Elton Tavares dentre os muitos outros possam ser apreciados e respeitados. Onde o conhecimento local chegue a os jovens e a cultura local seja repassada.

Espero que a programação cultural voltada para o publico jovem seja mais que a praça, boate e show do Gustavo Lima e que pessoas mais conceituadas se entreguem ao mercado literário local para que afirmações descabidas, preconceituosas e por que não burras sejam parte do passado.

Em tempo a internet já esta ai para desvirtuar os nossos jovens não joguem a culpa nos livros.

Como diria Paulo Freire “ A leitura é um ato de amor”.

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia. Ainda não leu “O centauro e as Amazonas”.

A fonte da velhice – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

– Como? Cinquenta e seis anos? Nem parece!
Ele ouvia sempre isso quando o assunto idade vinha à baila.
– Tem cara de 42, por aí.
Quando tinha 15 anos, achavam que ele tinha 9. Aos dois anos de idade:
– Nossa! Parece recém-nascido!
Era barrado constantemente em festas. Nem mostrando a carteira de identidade se livrava do estigma:
– Você não pode entrar! Essa carteira deve ser falsa! Vá embora já, senão vão te prender! Falsificação de documento é crime!
Quando tinha 25 anos quis namorar uma menina de 18. Ela foi categórica:
– Não namoro com garotos de 14 anos. Não insista!
Aquilo já estava se tornando paranoico. Aos 56 anos, sem rugas, sem um fio de cabelo branco e com muita disposição, ninguém poderia supor que ele já ultrapassou a marca de meio século. Nem a barba, que deixava crescer de vez em quando, conseguia conferir à sua aparência um pouco mais de idade.
Foi então que, ao contrário de Ponce de León, navegador espanhol que partiu pelo mundo à procura da Fonte da Juventude, ele começou uma jornada a fim de encontrar um meio de aparentar a idade madura que tinha, o que ele achava que poderia atrair mais respeito para a sua pessoa.
Eis que, passados alguns meses longe dos amigos, ele apareceu com um visual bem diferente do que o havia marcado até então, com muitas rugas ao redor dos olhos, na testa e nas mãos, e os cabelos completamente brancos. E foi logo explicando, diante dos olhares de espanto:
– Algumas vezes, na história e na literatura, pessoas reais ou personagens da ficção fizeram pacto para manter eternamente a juventude. Eu fiz um pacto ao contrário, para me tornar mais velho, ou, pelo menos, que minha aparência faça jus à idade que tenho. Procurei um cirurgião plástico. A princípio, ele estranhou alguém no mundo recorrendo a um cirurgião plástico com a intenção de envelhecer. A maioria, na verdade a totalidade das pessoas, quer rejuvenescer. Ele relutou em fazer a cirurgia e eu mostrei todos os argumentos e o principal deles era:
– Doutor! Eu estou de saco cheio de ouvir as pessoas falando que pareço ter menos idade do que realmente tenho!
Ele falou isso com as mãos agarradas ao colarinho do médico, que foi convencido a fazer a cirurgia graças a um bem-vindo reforço de capital, alguns reais acima do valor que ele costumava cobrar.
Foi então que o nosso personagem concebeu mais um mito em torno da questão do passar inexorável do tempo. Ele criou a Fonte da Velhice, uma fonte da qual ninguém quer chegar perto, mas todo mundo se encaminha para ela e há de encontrá-la um dia.

Conselho da Editora da Unifap aprova editais de publicação de e-books

No dia 07 de junho de 2022, ocorreu por videoconferência a reunião dos integrantes do Conselho Editorial da Editora da Universidade Federal do Amapá (Unifap), formado por docentes vinculados aos cursos da Instituição. Na oportunidade, foi debatido sobre a aprovação da Política Editorial da Editora da Unifap. A reunião foi presidida pelo Diretor da Editora, Prof. Dr. Madson Ralide Fonseca Gomes. A Editora da Unifap continuará atuando para a publicação de livros digitais, livros impressos e revistas científicas.

Relativo aos livros digitais, a Editora da Unifap poderá realizar a atividade de editoração, diagramação e publicação de livros digitais e também poderá receber o material previamente diagramado pelos proponentes. Os atuais e-books publicados pela Editora estão disponíveis no endereço eletrônico https://www2.unifap.br/editora/e-books/, de livre acesso e download para os usuários, são obras que tratam sobre assuntos diversos, principalmente sobre a Amazônia e o Estado do Amapá.

Também foram aprovados dois editais de chamada de publicação de e-books, sendo um voltado para docentes dos cursos de graduação e o outro para docentes vinculados aos cursos de mestrado e doutorado da Instituição, em um total de mais de 50 obras a serem publicadas. O Plano de Atividades de 2022 da Editora da Unifap também prevê, a partir do 2º semestre, a publicação de mais dois outros editais, sendo um voltado especificamente para os campi de Oiapoque, Mazagão e do Jari e o quarto edital para contemplar produções literárias de discentes.

Texto e foto: Maria do Carmo Lima Marques e Fernando Castro Amoras (Editora da Unifap)

Escritoras amapaenses se reúnem para foto histórica

Foto: Jhon Produções

Escritoras do Amapá ouviram o chamado de Giovana Madalosso, autora de “Tudo Pode Ser Roubado” e “Suíte Tóquio” e reuniram-se na manhã do último domingo (12), para um registro histórico ao lado da Fortaleza de São José de Macapá, tendo ao fundo a imensidão do Rio Amazonas.

Aproximadamente 30 mulheres escritoras trouxeram seus livros e suas experiências que foram trocadas ao som da caixa de marabaixo que ecoou entre as árvores e a brisa do rio, marcando o momento de união e força feminina na literatura.

Giovana Madalosso, conta que a ideia do registro com as escritoras do país foi inspirada numa fotografia de 1958, intitulada “Um grande dia no Harlem’, com grandes jazzistas daquela época. Então, pensou em fazer o mesmo com as escritoras, marcando esse momento histórico, quando há um recorde de mulheres publicando no Brasil.

Foto: Jhon Produções

Inicialmente, o registro seria somente com as escritoras de São Paulo, mas a ideia ganhou vida própria e se espalhou alcançando escritoras de todo o país, inclusive brasileiras que vivem no exterior.

Giovana Madalosso é escritora e colunista da plataforma de mudanças climáticas Fervura.

No Amapá, a escritora Rute Xavier foi a responsável pela organização do encontro para a foto.

Saiba mais no site da revista quatro cinco um: www.quatrocincoum.com.br

e no Instagram:

@gmadalosso
@nataliatimerman
@paulaccarvalho_

Mary Paes
Assessoria de imprensa
(96)98138-5712

A Simples Beleza – Crônica de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Crônica de Lorena Queiroz

Sim, caros amigos leitores, afetos e desafetos ( se bem que nem tenho tempo mais para tê-los) estou bêbada. Acabo de chegar em casa após um dia inteiro na companhia de meu mais sincero amigo alucinógeno. Olhei para meu PC e senti vontade de vomitar em vocês o que se passou entre meus devaneios do dia. Vocês já sabem, essa cabeça aqui anda por lugares inesperados, quase sempre e, abastecida de álcool, vai a lugares que só os fortes ou os loucos tem coragem de entrar. Então vamos lá para mais uma efeméride da vez.

Hoje, enquanto eu estava em uma feliz e apropriada bebedeira, recebi um vídeo feito por minha filha adolescente. Ela fez uma junção de várias fotos minhas com a famosa música do nosso saudoso poetinha. O trecho que ela usou foi : “ Ah, se ela soubesse que quando ela passa, o mundo inteirinho se enche de graça e fica mais lindo por causa do amor”. Ela escreveu caridosamente no vídeo: “ A mulher mais linda do mundo: Minha mãe”. Quando eu vi o vídeo, meu coração (de mãe, pois o outro desconfio que levaram quando me tiraram a vesícula) esquentou e derreteu no exato momento. Eu nunca me achei uma mulher bonita e, quem me conhece sabe, nunca achei que a beleza fosse um atributo que sustente por muito tempo.

Admirar pessoas sempre foi meu maior tesão. Não serei hipócrita ao ponto de não admitir que tal atributo não te abra o apetite, mas sustenta por pouco tempo. Meu foco sempre foram os fodedores de mente. Nós, mulheres, não somos tão visuais como os homens são desde a tenra idade, inclusive, uns dias atrás, após fazer um ensaio fotográfico, recebi elogios de uns amigos de minha filha, nada mais do que esperado vindo de pequenos punheteiros adolescentes cheios de hormônios. Homens exercendo suas características desde miúdos. Mas, no momento que eu li e maturei o agrado de minha filha, me veio na mente o conto de nosso velho safado, A mulher mais bonita da cidade. Conto que você encontra no livro Crônicas de um amor louco, de Bukowski. Cass, a mulher mais bonita da cidade, se punia pela beleza que tinha. Preferia os feios e desvalidos, e ela , dentro da visão do autor, era aquele tipo de pessoa que valia à pena estar perto. Percebem toda a metafísica da coisa? O que seria o conceito de beleza? Segundo nosso amigo dicionário, Beleza é um substantivo feminino que expressa a qualidade do que é belo ou agradável. E sendo tão subjetivo tal conceito, visto que o que é belo para mim pode simplesmente te amargar os olhos, dá para concluir que o belo, por concreto, não existe. Ao menos não dentro de um senso comum.

Então, após uma boa bebedeira e com meus sentidos alterados, fico com a visão da minha filha e, talvez com a minha. Crendo que o belo está nas coisas que te fazem vibrar, que te fazem crer que ainda há algo que nessa vida te vire o pescoço, aquilo que te dá um sorriso malandro no canto da boca, ou simplesmente refazer passos na memória pelo simples prazer da lembrança. Ou melhor, dentro da visão Socrática, sendo esse atributo não associado à aparência, mas o quão proveitoso é, pois, como dizia Sócrates : “”A beleza é uma tirania de curta duração”. Agora vou beber água, passar meu renew e dormir.

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora contista e cronista. E, ainda, mãe de duas meninas lindas, prima/irmã amada deste editor.

Leitura Não-Recomendável para jovens – Texto de Fernando Canto

Texto de Fernando Canto

“Na realidade, todo leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo. A obra não passa de uma espécie de instrumento óptico oferecido ao leitor a fim de lhe ser possível discernir o que, sem ela, não teria certamente visto em si mesmo. O conhecimento, por seu foro íntimo, do que diz o livro, é a prova da verdade deste, e vice-versa, ao menos até certo ponto, a diferença entre os dois textos devendo ser frequentemente imputada não a quem escreveu, mas a quem leu” (Marcel Proust, “Em Busca do Tempo Perdido”, v. 7: O tempo redescoberto).

Meus livros Mama Guga e O Centauro e as Amazonas, ambos publicados pela Editora Paka-Tatu, de Belém, em 2017 e 2021, respectivamente, foram considerados como leitura “não-recomendável” para os jovens que frequentam a livraria e café Pajé, em Macapá. A proprietária me chamou e me entregou os livros não vendidos.

A princípio, não liguei, pois, com a minha idade, já ando calejado das coisas que passei na vida e não quero brigar ou procurar direitos onde não tenho. Mas cheguei a contar o fato numa live de um importante canal de literatura amazônica, de Belém-PA (Bate-Papo Literário com Paulo Maués Corrêa, no YouTube) e para alguns amigos. Todos lamentaram o ocorrido e ficaram indignados.

O interessante é que deixei meus livros lá por não termos muitos lugares para mostrar nossos trabalhos impressos, visto que outro café teve sua livraria fechara há poucas semanas em um supermercado na zona sul da cidade. Mesmo assim, já havia lançado a primeira impressão – de luxo – de O Centauro e as Amazonas no ano passado, com sucesso nas vendas.

Não tenho ideia do que levou a empresária a me devolver os livros, mas creio que nenhuma atitude que diz respeito à divulgação de obra tenha apenas o fundamento sexual implícito nos contos que os moralistas, normalmente religiosos, tendem a ser contra. Perguntei a mim mesmo: como eu escreveria algo a ser considerado “não-recomendável para jovens” se estes sabem tantas coisas oriundas mais das redes sociais do que do convívio social familiar e educacional desde a adolescência? Ora, a clientela do lugar não é formada só de jovens e, pelo que vi, os livros ali expostos se diversificam entre “clássicos” e “ingênuos”. Mas quem disse que as interpretações desses clássicos e ingênuos não vão além do mero texto escrito?

Desde que me entendo como leitor, e tendo uma constelação de bons autores não só para meu deleite como também para complementar meus estudos acadêmicos indispensáveis para a interpretação/construção de teorias e conceitos, tive que me tornar escritor, leitor obsessivo e crítico mordaz. Viajei, por exemplo, desde os versos lascivos de Safo e de Juvenal da antiguidade clássica, de Davi e seus Salmos bíblicos, assim como “Os Cânticos”, de Salomão, e de outras passagens da magnífica Bíblia, como a do anjo que chega em Sodoma, e seus habitantes o querem para praticar sodomia. E o que dizer de Adão e Eva e da simbologia da maçã e da serpente ou ainda das filhas de Jó, que embriagam o próprio pai para procriarem? Ora, de Dom Quixote de la Mancha aos parlapatões da idade Média, com seus cantos satíricos e contos fesceninos; dos contos de fada dos irmãos Grimm ao Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry, de Sade a Bocage, de Bukowski a Hilda Hilst. Muitos deles são explícitos e convivem harmonicamente na minha biblioteca e em muitos lugares frequentados pelos jovens com os clássicos da antropologia de Malinowki e o existencialismo de Sartre e Simone de Beauvoir. Sem contar as descrições da vida sensual indígena brasileira em tantos que experimentaram estudá-la, como Darcy Ribeiro, Manuela Carneiro da Cunha, Claude Lévi-Strauss e Nunes Pereira. Descrevo esses autores apenas pelo lado mais picante (erótico) da literatura universal, pois os clássicos da sociologia política que estudei na faculdade se espalharam para mudar o mundo, notadamente em muitos países que atravessavam seus cruciais momentos históricos, após guerras e revoluções. E muitos destes eu li por obrigação profissional.

Fernando Canto, o maior escritor vivo do Amapá.

Muita gente me conhece e sabe das minhas posições políticas e ideológicas. Desde o início da minha carreira como compositor, há mais de 50 anos, no tempo da ditadura militar, comecei a ser censurado pelas minhas músicas submetidas aos festivais de Macapá. Era um tempo infértil e insidioso para uma juventude robotizada pela propaganda que não quis que habitasse nas minhas aspirações. Fui preso e detido muitas vezes como uma espécie de “rebelde sem causa”, marcado pela violência psicológica e física de amigos que também ousaram falar contra a imposição da força que limitava toda liberdade de expressão. Mas um dia tudo muda.

E tanto mudou que hoje a juventude é a porta-voz da mediocridade aspergida sobre ela pelas artes impostas pela mídia capitalista. Valores invertidos, aqueles que não avançam, permitem a música brasileira bailar sobre os jovens com temáticas mais explícitas de melodias, ritmos e letras do funk e do sertanejo sexual grosseiro da atualidade do que o conteúdo dos meus livros, claro, onde conto histórias para quem folheia suas páginas em silêncio. Disso eu tenho certeza!

O professor Paulo Nunes, um estudioso da Literatura Amazônica, narra, em recente e fundamentado artigo sobre as violências coloniais da Amazônia, que a nossa literatura “vista de fora é estranha, estúrdia e de ‘difícil entendimento’, por isso é exótica (ex-ótica, fora de meu olhar, fora de mim, portanto), dentre outras adjetivações”. Só que eu acho que o colonizador está ainda muito próximo de nós, com seus preconceitos e raivas. Paulo Nunes fala que a Amazônia ainda é uma ilustre desconhecida e está fora dos cânones literários brasileiros. Ele diz que somos invisibilizados e desprestigiados pelos críticos e pela literatura nacional. Somos mesmo.

Não quero crer que o que aconteceu com meus livros foi uma situação isolada. Vejo nas livrarias locais que a exposição dos livros produzidos por autores locais está, na verdade, sempre escondida e nunca merece lugar de destaque nessas lojas; podem reparar.

Mas não é só isso. O fato é que meu nome não está ligado ao sistema de poder que privilegia apenas o valor da produção, mas não seus produtores. A censura ideológica-sexual-política traduz bem a invisibilização dita pelo professor Paulo Nunes. O texto não sugere, mas não deixo de acreditar que estamos em nosso quarto, em nossa floresta, dormindo com o inimigo, com os ratos desvalorizadores e roedores da nossa cultura e da nossa arte em todos os segmentos, assim como se a qualidade não fosse um foco, um objetivo constante dos que lidam com a arte. Continuam alimentando o velho complexo do vira-lata de que só é bom o que vem de fora. E no Amapá é um pouco pior que isso. É como se nada aqui prestasse, como se não bastasse a antipolítica de incentivo à produção cultural.

Mas, como se sabe que tudo muda, talvez as obras “não recomendáveis para a juventude” mudem de foco, pois um autor pode ser, sim, desprezado pelos próprios livreiros, já que sua obra não é recomendável. Significa, então, que não se pode confiar nessa obra, que não se pode indicar, avisar ou fazer ver, não merece distinção ou privilégio, pois ela perverte, ou seja, pode corromper, desmoralizar ou depravar os “ingênuos” leitores enquanto os livreiros ignorantes vendem os livros de Anaïs Nin, Florbela Espanca, de Drummond, de Guimarães Rosa e de Bandeira, que ousaram romper com o parnaso e a mesmice ao falar do corpo como o conjunto inerente à alma, com seus defeitos, estéticas e arte. Hoje ninguém vê mais luxúria ou violação em seus contos e poemas. Hoje pré-adolescentes também se divertem com os mangás japoneses e jogos eletrônicos eivados de ilustrações e animações sensuais. Mas isso é permitido e até estimulado; minha literatura não.

A ficção que produzo tem origem na irrealidade cotidiana da Amazônia. Talvez por isso o preconceito seja maior, pois releio o concreto e transformo em fantástico; absorvo o mito e mudo a leitura construindo a diversidade, a alteridade e a empatia do escritor e sua imaginação, ao querer dar valor ao que me cerca diariamente. Ainda que há anos eu não participe de concursos literários, por questão pessoal, admito que já fui premiado em alguns deles, importantes no processo de consolidação da minha carreira e agradeço a lembrança do meu nome e meus trabalhos em muitos vestibulares e concursos. Sei que não foi por essa causa por que me tornei um “escritor pervertido” aos olhos da livreira. O que está em jogo é, certamente, o momento político, a ideologia arraigada dos retrógrados e o falso moralismo que conduz a arte e a ciência ao pélago de fogo de uma Inquisição contemporânea, monstruosa como o Leviatã e silenciosa como a serpente do Paraíso.

Escritor Fernando Canto – Foto: Márcia do Carmo

O fato de a expressão “não-recomendar” ser o mesmo que “não-lembrar” deixo apenas a reflexão de que é assim, pelo esquecimento e pelo esvaziamento dos corações, que desconstruímos nossa memória, nossa identidade e o nosso destino. Por isso é preciso lutar por novos espaços e eventos que dignifiquem a literatura aqui produzida. Basta de falsidade!

(*) Fernando Canto é escritor, compositor e doutor em Sociologia.