Os 26 anos do álbum “Mellon Collie And The Infinite Sadness”, do Smashing Pumpkins

Parece que foi ontem, mas já faz 26 anos que a banda de rock alternativo norte-americana The Smashing Pumpkins lançou o magnífico álbum “Mellon Collie and the Infinite Sadness” (em 24 de outubro de 1995 pela Virgin Records).

Este é o terceiro disco da carreira do grupo liderado por Billy Corgan (o careca antipático do rock sabe fazer canções que tocam a alma e o coração).

Mellon Collie foi o álbum que definiu a cara do rock há 20 anos. Um clássico instantâneo que provou que a música alternativa poderia ser complexa e ambiciosa.

Billy Corgan se encontrava no auge da sua megalomania criativa e lapidou todas as músicas com muita astúcia; desde sua introdução instrumental até a última música, o disco é arrebatador.

Ele contém muitas canções sensacionais, como a beleza da instrumental Mellon Collie And The Infinite Sadness, a visceralidade de “Zero” e “Bullet with Butterfly Wings”, a saudade dramática de “Thirty-Three”, a inocência de “1979” e a aula de vivência em “Tonight, Tonight”. Isso para citar somente as que gostamos mais.

O disco recebeu, com a canção “Bullet with Butterfly Wings”, o Grammy de 1997. A obra foi eleita como 29º maior álbum de todos os tempos, em 1998, pela Revista Q. Em 2003, a revista Rolling Stones o colocou como um dos 500 melhores discos de todos os tempos, no 487ª lugar.

A Revista Time elegeu Mellon Collie and the Infinite Sadness o melhor álbum de 1995. Não à toa, ele está na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame.

O disco é eclético dentro do rock, já que possui desde canções bem melodiosas até rock pesado com guitarras sujas e gritos de FUCK YOUUU!. É realmente um álbum memorável, com um apelo artístico fantástico (sem falar naquele encarte sensacional).

Em 1995, Kurt Cobain já tinha ido para as estrelas e tudo que surgia de genial era mais uma esperança. No final, sabemos que o Rock nunca morre. Ele adoece, mas sempre volta com tudo.

Até hoje as músicas de Mellon Collie emocionam e transportam no tempo quem tem mais de 40 anos. Sim, nostálgico. Agora é só escutar Tonight, Tonight, onde o velho Corgan canta “acredite em mim” ou 1979 e viajar no tempo.

Elton Tavares e André Mont’Alverne

Randolfe anuncia instalação de memorial às vítimas da covid

Foto: Pedro França/Agência Senado

Na conclusão da audiência desta segunda-feira (18) da CPI da Pandemia, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da Comissão, anunciou a inauguração do memorial às vítimas da covid, a ser instalado temporariamente no espelho d’água do Congresso Nacional.

“É um memorial para que nós nunca esqueçamos. Um memorial que deveria ser responsabilidade do próprio Poder Executivo, mas é o mínimo para ser feito para lembrar. A vida cotidiana também é feita de símbolos”.

Após mais de três horas de audiência pública para ouvir vítimas diretas e indiretas da covid-19, Randolfe Rodrigues, encerrou a reunião da CPI. A comissão se reúne novamente nesta terça-feira (19), às 10h, para ouvir Elton da Silva Chaves, integrante do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

Fonte: Agência Senado

Antônio Brasileiro, o homem misterioso que tocava músicas numa folha de mangueira – Crônica de @alcinea

Crônica de Alcinéa Cavalcante

Uns diziam que ele era louco, outros falavam que era um bêbado. Penso que nem uma coisa nem outra, talvez misterioso, diferente de todos os outros homens que andavam pelas ruas do antigo bairro da Favela. Ah, ele tinha sim mistérios guardados no olhar.

Sempre trajado elegantemente – calça social, sapato bico fino e camisa de mangas – diariamente ele percorria as ruas do bairro tocando maravilhosamente várias músicas, principalmente o hino nacional, numa folha de mangueira, por isso ficou conhecido como “seu Antônio Brasileiro”. Nunca vi ninguém, além dele, usar uma folha de qualquer planta como instrumento musical.

Louco não era, pois um louco jamais conseguiria essa proeza. Bêbado também não, pois caminhava sobre o meio-fio que, se muito, tinha um palmo de largura. Um bêbado não teria equilíbrio para tal.

Educado, mas de poucas palavras, cumprimentava todo mundo com um discreto bom dia, um aceno de mão ou inclinando a cabeça. Não falava de sua vida nem da vida de ninguém. Se alguém começava a lhe fazer perguntas tratava logo de pegar uma folha de mangueira e começar a tocar, assim fugia do interrogatório.

Quando ele aparecia tocando sua folha, as crianças corriam atrás dele e seguiam-no por alguns quarteirões. Ao ouvir o som, os adultos corriam para as janelas. Muita gente dizia que não havia ninguém que tocasse com mais perfeição que ele o Hino Nacional, em qualquer instrumento que fosse.

Antônio Brasileiro nunca contou quando e como ou com quem descobriu que podia tirar os mais belos sons e tocar lindas melodias, soprando uma folha de árvore.

Seu endereço exato ninguém sabia. O certo é que morava na Favela (aqui abro um parêntese para dizer que o bairro da Favela nunca foi uma favela), talvez perto do estádio Glicério Marques, pois era por ali, na rua Leopoldo Machado que se ouvia, pela manhã, os primeiros sons de sua folha, depois descia a avenida Mendonça Furtado e seguia não sei para onde. Horas depois voltava pelo mesmo caminho.

Tinha família? Tinha sobrenome? Ninguém sabia. E se alguém lhe perguntasse não respondia, se punha a tocar. Como já falei, era homem de poucas palavras. Misterioso. E todos queriam desvendar, sem sucesso, os mistérios daquele tocador de folhas, que tinha o olhar sereno e quase nunca sorria.

Tinha profissão? Dizem que foi um cozinheiro de mão cheia do Hospital Geral e que do nada abandonou o emprego e passou a perambular pelas ruas. Por isso que uns dizem que ele era louco e outros que ele perdeu o emprego para o álcool. Mas eu reafirmo: nem louco, nem bêbado. Era o retrato da liberdade, livre de todas as amarras, talvez preso apenas aos seus mistérios que ninguém conseguia decifrar.

Às vezes quando caminho pelos canteiros floridos da avenida Mendonça Furtado ou à sombra das mangueiras da Leopoldo Machado imagino “seu Antônio Brasileiro” aparecendo de repente. Ele arranca uma folha de mangueira, começa a tocar, as pessoas aparecem na janela. Ele passa por mim, me cumprimenta com a cabeça, desce a ladeira e segue rodeado por um bando de moleques não sei para onde.

E eu sorrio. E quem me vê sorrindo assim sozinha nem imagina o por quê.

Antônio Brasileiro deixou seus mistérios impregnados na paisagem da minha Favela.

Fonte: Blog da Alcinéa.

Coisas que aprendi com Russo – Por Marcelo Guido

Foto: perfil oficial de Renato Russo no Instagram

Por Marcelo Guido

Lá se vão 25 anos da partida do cara que semeou o rock, embalou romances e construiu o caráter de muitos, inclusive deste que escreve.

Com russo aprendi que que realmente não temos  mais o tempo que passou, que somos  soldados pedindo esmolas e que somos as sobras da geração coca cola.

Aprendi que o gosto amargo fica realmente na boca, que o céu que já foi azul ficou cinza, e que no  espelho vemos um mundo doente.

Descobri que a tristeza se parece com a cocaína,  que ao fugir de casa queremos colo, perguntei que país é esse e acreditei que o Brasil é o país do futuro.

Perdi mais de 29 amizades , por conta de pedras nas mãos , me senti só,  e convivi bem com isso, pois dizem que a solidão me cai bem.

Foto: perfil oficial de Renato Russo no Instagram

Vi que nas escolas não tem personagens, que o fim do mundo já passou e que realmente o sistema é mau, mas a turma é legal. Realmente viver é foda.

Cansei de ouvir Freud e  Marx em mesa de bar e muitas vezes soube que alimento pra cabeça nunca vai matar fome de ninguém.

Tive filhos e repassei ” On The Road” pra eles, e muitas vezes eu não pertenço a ninguém.

Vi que o amor é bom, não quer o mal, não sente inveja. Que nas tardes queremos descansar , sem ligar pra quem guarda os portões da fábrica.

Não confundo mais a ética com éter,  e quando ele se foi eu só tinha dezesseis, mas o que de tão estranho se tem se bons morrem jovens.

Foto: perfil oficial de Renato Russo no Instagram

E mesmo dizendo que ainda é cedo, mesmo ficando com a saudade e pedindo explicações para o inventor do amor , nós vamos celebrar a estupidez de quem escreveu essas linhas.

Mesmo só aparecendo quando convém aparecer, nós sabemos quem é o inimigo, quem é você.

Salve Renato Russo!

*Marcelo Guido é jornalista, pai da Lanna Guido e do Bento Guido e maridão da Bia.

Roberto Carlos de Santana, meu louco favorito – Crônica de Fernando Canto (republicada por conta do Dia Mundial da Saúde Mental)

Crônica de Fernando Canto

Não sei bem em que jornal eu li sobre um maluco que morava numa praia do Rio de Janeiro, mas quem o deixou comigo foi meu amigo RT na volta de uma viagem à cidade maravilhosa. O texto o descrevia como um homem corpulento, negro e barbudo, que fumava maconha, mas que não incomodava ninguém. Cumprimentava a todos e fazia parte da paisagem urbana de Ipanema. Todo mundo o conhecia no bairro e o autor do artigo falava em uma espécie de reencontro com ele depois de muitos anos que passou fora do Brasil.

Em Macapá conheci algumas dessas pessoas alienadas, praticamente abandonadas por suas famílias. E foi exatamente na minha adolescência, quando era estudante do ginásio. Na saída das aulas os mais velhos instigavam os mais novos a fazerem chacotas com elas e apelidá-las quando passavam em frente ao colégio.

Nunca esqueci a “Onça”, que possivelmente não era louca, mas viciada na cachaça. Quando convidada fazia espetáculos sensuais, levantava a saia rodada e dançava Marabaixo, sem se desvencilhar da garrafa de “Pitú’ equilibrava na cabeça, rebolando, para o delírio da turma, que a aplaudia sem parar, rindo e gritando com aquelas vozes de fedelhos em mudança, quase bivocais.

Ainda posso ver o “Cientista” lá pelas bandas do Mercado Central trajando seu paletó azul claro e um calção sujo e descolorido. A barba rala, as feições indígenas e o olhar sereno. Vez por outra procurava alguma coisa embaixo de uma ficha de refrigerante ou em uma pequena poça d’água, como se tivesse perdido algo muito valioso. À vezes anotava (ou fazia que anotava) alguma coisa em um papel de embrulho, daí as pessoas acharem que eram importantes fórmulas de um cientista, vindas em um “insigth”, um estalo de ideia. Eu o vi também trajando o pijama de interno do Hospital Geral, de onde fugia de uma ala reservada aos doentes mentais.

Quase decrépito, mas imponente, calvo e meio gordinho era o famoso “Pororoca”. Para mim é inesquecível a cena que vi dele descendo a ladeira da Eliezer Levy, no bairro do Trem, no sol quente do meio dia, bem embaixinho da linha do equador, quando os raios do sol pareciam rachar os telhados das casas e estalar a piçarra. Lá vinha ele, rindo à toa, descalço, de cueca branca e um imenso couro de jiboia enrolado no peito. Um figuraço!

Creio que todos os frequentadores do bar Xodó chegaram a conhecer o “Rubilota”, um senhor de aparência forte, que andava invariavelmente sem camisa, que pedia um cigarro e ia embora. Mas de repente surtava e começava a gritar pornofonias das mais cabeludas possíveis. Quando ficava violento era preciso chamar a polícia, mas com um bom reforço, pois ele era durão.

Quem sempre aparecia pela Beira-Rio era o Zé, cearense e empresário de sucesso, mas que enlouqueceu, dizem, de paixão. Ele me conhecia, e sempre que me via nos bares ia me cumprimentar ou pedir um cigarro. Os garçons tentavam expulsá-lo do ambiente porque andava sujo e com o pijama do hospital, de onde fugia igual ao seu colega “Cientista”. Porém eu não deixava que o escorraçassem.

Havia um cara que eu conheci ainda sem problemas psiquiátricos. Ele tocava violão e cantava na Praça Veiga Cabral, ali na parada das kombis que faziam linha para Santana. Estudava, salvo engano, no Colégio Comercial do Amapá. Anos depois eu o encontrei pelo centro da cidade cantando sozinho pela rua as músicas seu ídolo: era o Roberto Carlos de Santana.

O pessoal da sacanagem do Xodó chegava a pagar R$1,00 para ele cantar o “Nego Gato” no ouvido de algum freguês desprevenido. O RC de Santana chegava por trás da vítima (normalmente um amigo que não sabia da onda da turma) e dava um berro que até o Rei da Jovem Guarda se espantaria. Cantava “Eu sou o nego gato de arrepiar…” em alto e bom som e em seguida saía correndo com medo da porrada até a intervenção dos gozadores que morriam de rir.

Esse era o meu maluco predileto. Não sei por onde ele anda, se morreu como a maioria dos aqui citados, se ainda recebe uma grana para cantar o “Nego Gato” ou se ainda canta acreditando que é o Roberto Carlos, lá em Santana. O interessante é que as pessoas sempre têm uma explicação para a causa da desgraça alheia. Dizem que todos eles tiveram desilusões amorosas, que foram vítimas de traições, e por isso surtaram, e assim viveram e assim alguns morreram. Mas com certeza viveram bem, imersos no seu mundo, sem se importarem com que os “normais” pensassem a seu respeito, sem se indignarem com os acontecimentos inescrupulosos dos políticos indignos, estes sim, os deficientes mentais que precisam ser recolhidos definitivamente da sociedade.

*Republicada por hoje ser o Dia Mundial da Saúde Mental.

Hoje é o Dia Mundial da Saúde Mental

O Dia Mundial da Saúde Mental é celebrado hoje, 10 de outubro. Esta data foi criada em 1992 pela Federação Mundial de Saúde Mental (World Federation for Mental Health).

O objetivo da data é chamar a atenção pública para a questão da saúde mental global, e identificá-la como uma causa comum a todos os povos, ultrapassando barreiras nacionais, culturais, políticas ou socioeconômicas. Combater o preconceito e o estigma à volta da saúde psicológica é um outro objetivo do dia. O Brasil lidera rankings de depressão e ansiedade.

Hoje, 10 de outubro, comemora-se o Dia Mundial da Saúde Mental. Mas será que temos o que comemorar?

Por Janisse Carvalho

A questão da loucura sempre foi um tema desafiador para limitada compreensão do homem. Nos séculos XVIII/XIX, com advento das revoluções burguesas, o desenvolvimento do capitalismo na sua maneira mais perversa e sutil e os avanços da ciência moderna criou na cabeça de homens e mulheres a ilusão do saber sobre a loucura. Nesta época, havia uma necessidade quase que neurótica de domínio da razão sobre a “emoção”, ou paixões atribuídas a esse fenômeno. Nasce a psiquiatria e com ela infinitas técnicas de reabilitação que iam desde o confinamento total, a sangrias, banhos, choques elétricos, lobotomias e morte social.

Infelizmente essa ilusão fez com que milhares de pessoas ditas loucas fossem colocadas no lugar da não-existência, de anonimato total. Aprisionadas em grandes hospitais mais conhecidos como manicômios, essas pessoas parasitavam a vida. E o projeto psiquiátrico de cuidar do louco e reinseri-lo na sociedade foi se mostrando falho e incompetente para cumprir tal missão.

Só no final do século XIX inicio do XX que começam a surgir, dentro e fora da própria psiquiatria, experiências que privilegiam a pessoa que sofre. Na década de 1960 surge na Itália a psiquiatria democrática, que recebe este nome por acreditar que é na relação médico-paciente que se encontra a semente de uma grande transformação. Este projeto propunha colocar a doença mental, como era denominada a loucura naquela época, entre parêntese, e olhar a pessoa na sua amplitude, isto é, dar ênfase não mais a doença, mas às potencialidades de cada sujeito.

Este foi outro termo cunhado a partir desta experiência: sujeito. Não mais paciente, aquele que espera, mas sujeito, aquele que atua. Para tanto, o médico (hoje o psicólogo, o assistente social, o enfermeiro, etc) deveria se abster de seu mandato social de principal detentor do saber sobre a loucura e compartilha-lo, democraticamente, com os sujeitos atendidos. Dito de outra maneira, no cuidado em saúde mental, eu e meu cliente estamos em pé de igualdade no que diz respeito ao sofrimento. Eu aprendi a caracteriza-lo, classifica-lo, ele o vive. E quem vive, saber falar muito bem porque sente.

Esta e outras mudanças propôs Franco Basaglia, idealizador desta reforma e que influenciaram a construção da política de saúde mental brasileira. Hoje, nós, militantes do movimento da reforma psiquiátrica recebemos muitas as críticas, que na sua grande maioria se fundamentam na necessidade imediata de pessoas que convivem com o problema dentro de casa. Contudo é mister fazer hoje uma suspensão dessa urgência, para entender que quem sofre com uma pessoa acometida por transtorno mental ou por dependência química dentro de casa por exemplo, e não encontra serviços disponíveis para o atendimento, possui uma necessidade urgente inscrita num contexto historicamente construído, ou seja, o problema precisa encontrar respostas imediatas, porém sua resolução é processual e implica numa série de transformações culturais, econômicas, políticas e sociais.

A solução não é só internar e remediar. A solução deve ser construída. A solução não é tão pouco criar CAPS e diminuir leitos somente. A solução, infelizmente, não está “debaixo do nosso nariz”. Não há soluções prontas para a solução!

Mesmo porquê, se a loucura é hoje para nós um problema, muito se deve ao histórico e epistemológico sobre a ela. E nesse processo, existem muitos outros interesses em jogo do que o simples ato de internar ou não internar.

Falar de democracia num contexto onde até os que se acham sãos não conseguem vivencia-la, parece realmente ser uma missão impossível. Felizmente, a reforma avança, aos trancos e barrancos, mas realmente, temos muito o que se comemorar e muito mais ainda para avançar.

A resposta de Pinel ao desacorrentar os loucos e transformar o sofrimento mental em objeto de estudo, levou a humanidade pagar um preço muito alto em nome de uma cura que nunca veio. Já é tempo de ao invés de tentar controlar, silenciar, banir de nossas vidas as experiências da loucura, buscarmos compreende-la realmente. Essa é utopia que vivo, esse é o horizonte que me faz caminhar!

A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” – Eduardo Galeano.

Janisse Carvalho, psicóloga, ex colaboradora (que continua colaborando) e querida amiga deste jornalista.

 

Prefeitura lança programa que insere o Marabaixo nas escolas municipais

Foto: Max Renê

A Prefeitura de Macapá lança nesta quarta-feira (6), o programa Afroamapaensises nas Escolas, que insere dentro da matriz curricular dos estudantes da rede municipal a cultura e a tradição dos povos tradicionais do Amapá. O lançamento ocorrerá às 18h, no auditório da sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), localizada na Rua Binga Uchoa, 26, Centro.

O programa é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Mobilização e Participação Popular (SMMPP), executada pela Secretaria Municipal de Educação (Semed), em parceria com o Instituto Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Improir).

A iniciativa nasceu a partir da necessidade da implementação pedagógica de ações que tratem das questões étnico-raciais dentro das salas de aula. Nesta fase inicial, quatro escolas municipais receberão o programa, com foco na valorização do Marabaixo, manifestação cultural e religiosa muito presente na história dos povos tradicionais afroamapaenses.

SERVIÇO:

Lançamento do Programa Afroamapaensises nas Escolas
Quarta-feira, 06 de outubro de 2021 – Às 18h
Local: Auditório da sede da OAB em Macapá – Rua Binga Uchoa, 26, Centro

Lázaro Gaya
Contato: (96) 99171-1421
Assessoria de Comunicação

A CPI Já Venceu (matéria legal com os resultados da Comissão Parlamentar de Inquérito) – Por Leonardo Rossato

Por Leonardo Rossato

É recorrente o discurso de que “a CPI da pandemia não vai dar em nada”, de que “a CPI vai acabar em pizza” ou de que “ninguém será preso”. É um discurso derrotista por parte de alguns grupos de esquerda e negacionista por parte do bolsonarismo. Esses últimos, inclusive, tentam de todas as formas desmoralizar a CPI, o que depõe contra o próprio discurso deles de que “a CPI não vai dar em nada”. Quem tenta obstruir os trabalhos tem medo.

É óbvio que seria melhor para o país se os indiciamentos da CPI seguissem adiante e fossem responsáveis pela punição dos envolvidos nos inúmeros crimes cometidos pelo governo federal na gestão da pandemia, e pessoalmente eu tenho esperança de que isso aconteça. Mas, independente de qualquer indiciamento, a CPI já venceu. A CPI já mudou o país, revelando verdades tão doloridas quanto importantes. E teve inúmeros efeitos práticos que ficarão de legado.

1) A CPI fez o Brasil se vacinar

Nessa semana, o Brasil completou cinco meses de CPI. A vacinação começou no Brasil em 18 de janeiro. Em três meses de vacinação, apenas 13,2% da população tinha tomado a primeira dose. Apenas 5,8% das pessoas tinha o esquema vacinal completo. Nesse ritmo, o Brasil levaria um ano e meio até atingir 80% de vacinados com ao menos uma dose, o que aumentaria muito o número de mortes por COVID no país.

Após a instalação da CPI, o ritmo de vacinação se acelerou intensamente, muito por conta das inquirições a personagens como Fabio Wajngarten, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga ainda no começo da CPI, que provaram a morosidade do governo federal na compra de vacinas. Com a aceleração no ritmo da vacinação, chegamos aos cinco meses de CPI com 42,2% da população completamente vacinada e 71,2% da população tendo tomado ao menos uma dose. A CPI fez o governo se mobilizar na compra de vacinas, tendo literalmente salvado vidas.

2) A CPI combateu o negacionismo científico

Natália Pasternak e Cláudio Maierovitch na CPI

Nos últimos anos, o discurso bolsonarista anti ciência nunca foi verdadeiramente confrontado. Embora a pandemia tenha trazido para a arena de discussão bons divulgadores científicos, foi na CPI que eles realmente tiveram espaço de se manifestar para o país todo. Foi a CPI que ajudou a separar, para o grande público, o que é discurso negacionista e o que é ciência feita com método, ciência que traz resultados verdadeiros. Nomes como Pedro Hallal, Cláudio Maierovitch é Natália Pasternak trouxeram argumentos muito bem embasados contra o negacionismo que, até então, se espalhava sem contraponto nos grupos de WhatsApp.

Isso ajudou de forma prática no combate à pandemia. O discurso anti vacina, por exemplo, teve muito menos sucesso que o esperado, apesar do forte investimento de Bolsonaro e seus asseclas. No fim, a ciência ajudou a separar o joio do trigo em temas como vacinação e tratamento precoce.

3) A CPI Impediu Corrupção na Compra de Vacinas

O Brasil ia gastar R$ 1,6 bilhão em vacinas superfaturadas da Índia. Ia gastar mais R$ 6 bilhões nas vacinas da CanSino. Ambos os esquemas tinham algo em comum: eram tocados por empresas intermediadoras pouco confiáveis, comandadas por pessoas próximas ao líder do governo Ricardo Barros. A denúncia do deputado Luís Miranda e do seu irmão, o funcionário público Luís Ricardo Miranda, impediu a concretização da compra da Covaxin, uma vacina pouco confiável que não teve aprovação em muitos locais fora da Índia.

Não fosse a CPI, jamais saberíamos desse esquema e estaríamos tomando uma vacina superfaturada. E, de quebra, o fato de que a denúncia de um funcionário público estável impediu a concretização de um esquema de corrupção serviu para boa parte da sociedade e do próprio Congresso entender o absurdo que é a tentativa em andamento do governo federal de promover uma Reforma Administrativa com o intuito de acabar com a estabilidade do servidor público.

4) A CPI desnudou o macabro nos hospitais da Prevent Senior

O depoimento de Bruna Morato foi o mais importante da CPI. Para além de tudo o que a CPI já havia descoberto, o que foi revelado pela advogada de doze médicos da Prevent Senior chocou o país (o resumo está aqui). O uso de medicamentos sem autorização, o desrespeito aos ditames médicos mais básicos e denúncias gravíssimas envolvendo tratamentos paliativos e desligamento deliberado de oxigênio, com objetivo explícito de criar uma narrativa pró Bolsonaro, trouxeram ares mengelianos a gestão da pandemia no Brasil. É horrivelmente triste sabermos disso, mas também é necessário para enfrentarmos nossos próprios fantasmas, dando alguma dignidade aos milhares de mortos pela pandemia.

Esse choque já trouxe resultados práticos: a Câmara Municipal de São Paulo aprovou uma CPI exclusiva para investigar as ações da Prevent Senior na pandemia, e a Assembleia Legislativa estadual pretende fazer o mesmo. Existem mais detalhes para aparecer nessa investigação, mas as revelações já realizadas mostram que o Brasil terá um longo trabalho de reconciliação com sua História.

5) O Vislumbre de um País Mais Igual

Quando o bolsonarismo começou a ser exposto na CPI, ele mostrou várias de suas características perniciosas: o machismo contra Simone Tebet por parte do Ministro da CGU Wagner Rosário, o desrespeito a vários dos depoentes por parte de Flávio Bolsonaro e de outros senadores governistas, a intimidação aos depoentes quando o assunto do depoimento era sensível para o governo, a dissimulação rotineira e a criação de narrativas falsas frequentemente expostas pela CPI viraram rotina na vida de quem acompanha as sessões.

Não bastasse tudo isso, o empresário Otávio Fakhoury, que financiou esquemas de disparo de fake news e manifestações anti democráticas, bem como sites que espalham notícias falsas, fez ataques homofóbicos a dois Senadores em específico: Fabiano Contarato e Randolfe Rodrigues. O primeiro deles, assumidamente gay, foi convidado pelo Presidente da CPI Omar Aziz a assumir temporariamente a presidência da mesa. E fez um desagravo ao empresário que já nasceu histórico. Não só por acontecer na arena em que aconteceu, mas por representar uma resposta a aquilo que o povo LGBTQA+ sofre todos os dias nas mãos dos bolsonaristas.

6) A Percepção da Política

Nos últimos anos, o brasileiro tem tido uma percepção extremamente negativa da política. A política tem sido vista como sinônimo de corrupção, de desvio de verbas públicas e de escândalos. Essa percepção foi essencial para a eleição de Jair Bolsonaro como presidente em 2018, inclusive.

O trabalho incansável da CPI tem ajudado a mudar essa percepção. Tem mostrado que políticos podem ser bons e podem fazer o bem para o país. Tem trazido novos nomes para a arena política, e por motivos positivos. Vários senadores tem se destacado e sido motivo de orgulho para seus eleitores.

Óbvio que o contrário também é verdadeiro. Senadores governistas ganharam destaque, ainda que sendo ridicularizados. Mas a percepção geral é que ainda existem bons políticos no Senado, por mais que essa legislatura do Senado esteja longe de ser a melhor da História republicana. Isso tem efeitos de larga escala, que serão sentidos nos próximos anos.

Conclusão

Se a CPI acabasse agora, sem nenhum relatório aprovado, já teria prestado um enorme serviço ao Brasil. Mas o relatório será lido e provavelmente aprovado até novembro. É injusto achar que, para “dar em algo”, a CPI precisa de prisões ou de caçadas espetaculares. Infelizmente, o brasileiro ainda está condicionado pelo modelo de inquérito da Lava Jato, que passou quatro anos ininterruptos ocupando os noticiários do país, sempre com uma preocupação midiática além da conta.

A CPI da Pandemia é histórica e precisa ser celebrada. Sem ela, é provável que jamais soubéssemos dos piores crimes cometidos por agentes do governo Bolsonaro. Saber a verdade pode não ter muito efeito hoje. Mas será essencial para reconstruirmos o Brasil quando nos livrarmos desse governo que se reveza diariamente entre o sadismo e a incompetência.

Fonte: Nada Novo no Front.

Cultura: Grupo Pilão celebra 46 anos de criação (meus parabéns aos “Beatles do Laguinho”)

Grupo Pilão – Foto: Gabriel Flores

Criado em 25 de setembro de 1975, o lendário Grupo Pilão, precursor no uso e valorização da cultura regional do Amapá, celebra 46 anos de existência com uma linda trajetória e incalculável contribuição para a música amapaense e amazônica. Em 2020, para comemorar a data, eles lançaram o videoclipe da canção Pedra Negra, com roteiro e direção do jornalista, produtor cultural e ex-integrante da banda, Jorge Herbert. E ainda teve live lindona no dia 4 de setembro do ano passado. Acredito que hoje eles estão reunidos na casa de um dos “Cantos” para comemorar.

Foto: arquivo Grupo Pilão

Sobre os 46 anos da banda – Por Fernando Canto (membro fundador e compositor do Grupo Pilão)

No dia que antecedeu nossa apresentação no IV Festival Amapaense da Canção, fiz uma maratona levando no ombro um pilão de madeira de lei que pesava mais de 30 quilos. Carreguei esse artefato do bairro Jacareacanga ao Morro do Sapo, no Laguinho, depois de pedi-lo emprestado à Dona Tertuliana, mãe dos meus amigos João, Jorge e Dora Lima, que até hoje me cobram a devolução. Ele foi usado como instrumento de percussão na música “Geofobia”, de minha autoria e de Jorge Monteiro, classificada para o dito festival.

Apresentamos a música, eu, meu irmão Juvenal e o Bi Trindade, a essa altura meu amigo do conjunto “Fambers” do Grêmio Jesus de Nazaré. Estava formado, então o Grupo Pilão nesse dia 25 de setembro de 1975. E o Bi seria o primeiro pilonista do mundo. A música foi classificada para a final no dia 25 e a turma do Laguinho foi em peso para torcer por nós.

Fotos: arquivo Grupo Pilão

Entretanto, nada ganhamos. Por ironia fui eu que fiz os arranjos das músicas do Sílvio Leopoldo (que estava em Belém estudando na UFPA) e as duas músicas dele ficaram respectivamente em primeiro e segundo lugar interpretadas pelo Manoel Sobral. Houve protesto manifestado pelo pessoal do Laguinho que gritava em passeata na frente da Rádio Difusora, onde fora realizado o evento.

Diziam que era “masturbação cultural”, roubo, preconceito contra a turma do Laguinho e conservadorismo, por não entenderem que o novo sempre pode ser bom. Carregavam o Pilão e gritavam, sob a liderança do poeta Odilardo Lima. Na edição seguinte, o Jornal do Povo estampou a matéria com a seguinte manchete: “Festival termina com vaias ao júri caduco e alienado”, uma clara simpatia ao grupo.

Fotos: arquivo Grupo Pilão

O tempo passou e cinco anos mais tarde o cantor baiano Raimundo Sodré apresentou no festival da TV Globo a música “A Massa”, usando um pilão como instrumento musical, o que foi considerado inovador pela grande mídia. A música foi um grande sucesso.

O Pilão, que já usava coisas do Marabaixo na época de sua fundação, continuou inovando com projetos que valorizassem a música e a cultura de nossa terra. Fez inúmeros shows, participou de festivais culturais em Caiena e em Kourrou, em Belém, Maceió e Brasília, entre tantos outros lugares, divulgando a música regional e folclórica do Amapá. Gravou três discos (com cerca de 50 músicas) e mapeou a música popular do Estado desde o Marabaixo ao Coatá, das músicas indígenas de trabalho ao Boi-Bumbá, das Folias e Ladainhas ao Batuque e às canções de pássaros.

Fotos: arquivo Grupo Pilão

Realizou projetos nas escolas da capital e do interior onde ninguém ou quase ninguém conhecia nossa cultura, fez ensaios públicos nas praças, tocou nos teatros, na penitenciária, colégios e clubes de serviços, em botecos, ruas e balneários e em todo lugar que era chamado para dar uma “palinha”, sempre ou quase sempre na base do “paga beijo”. Apoiou e participou ativamente de projetos como a Marabaixeta, que resgatou o Marabaixo, agônico àquela época. Enfim, fez o que tinha que ser feito, pois sabíamos que teríamos seguidores confessos como os que estão aí, hoje, realizando o seu trabalho na chamada MPA.

Mesmo lutando com dificuldade, com a falta de apoio em seus projetos, dos quais alguns foram negados para aparecerem depois com outros nomes nas hostes governamentais, tivemos o apoio popular que até hoje dignifica o nome do grupo e o reconhecimento popular de comunidades e da câmara de vereadores.

Agradecemos assim, penhoradamente, a todos que nos honraram com o reconhecimento nesses quarenta anos de disseminação dessa bela cultura e música amazônica, pela nossa terra, nosso mundo identitário.

Foto: arquivo Grupo Pilão

Da minha parte agradeço a todos os que um dia fizeram parte deste grupo, pelo seu importante trabalho que nos sensibilizou pela parceria, tais como Neck, Paulo da Piçarra, Osmar Marinho, Nando, Edson Maciel, Osvaldo Simões, Jorge Herberth, Marilene Azevedo e Déa. E a todos os músicos que sempre nos acompanharam e arranjaram nossas músicas, bem como aos produtores, maquiadores, contrarregras, diretores, costureiros, técnicos de som, de luz e de palco. Agradeço do fundo do coração ao meu amigo Tito Melo pelo tempo que passou conosco e que nos deixou em janeiro deste ano para sempre.

Agradeço em especial ao meu querido irmão de música Bi Trindade, presente todos os instantes no meio de nós, por sua contribuição para o fortalecimento da música popular amapaense como cantor, compositor e tradutor de músicas para o idioma francês.

Aos atuais (e de sempre) meus irmãos Juvenal Canto, grande pesquisador de músicas folclóricas, Eduardo Canto, compositor e percussionista, ao Leonardo Trindade, violonista virtuoso e Orivaldo Azevedo, percussionista e historiador, os mais novos, que estão há quase trinta anos no Grupo, pelo companheirismo que nos uniu todos estes anos em busca da consistência e da identidade da música amapaense.

Foto: Max Renê

Agradeço a todos os que de alguma forma nos ajudaram na divulgação dessa nobre missão, o que seria impossível listá-los: técnicos, produtores, radialistas, jornalistas e fãs, e a alguns governos municipais e estaduais que em algum momento reconheceram a importância do Grupo a para a divulgação da música amapaense, ainda em amadurecimento.

Que venham pelo menos mais 46 anos com a gente sempre unidos pela mesma causa. Obrigadão do Fernando, Juvenal, Orivaldo, Eduardo e Leonardo.

Tenho a honra de ser amigo de alguns desses caras. Pela contribuição incalculável para a música amapaense e cultura geral do Amapá, agradeço e parabenizo os “Beatles do Laguinho” (Elton Tavares).

Proposta apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues: Senado aprovada reconhecimento do general Cabralzinho como Herói da Pátria – @randolfeap

Foto: Agência Senado

A Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) aprovou em decisão final, na quinta-feira (23), o Projeto de Lei do Senado (PLS) 707/2015, que inclui o nome de Francisco Xavier da Veiga Cabral, o general Cabralzinho, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A proposta foi apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e recebeu voto favorável, com duas emendas de redação, do relator, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES).

Ao justificar o projeto, Randolfe destacou a participação de Veiga Cabral na disputa entre Brasil e França por grande parte do território do Amapá, batalha travada no final do século XIX. Segundo afirmou ainda, o homenageado foi um dos líderes do lado brasileiro, “portando-se com resolução e heroísmo na contenda”.

Contarato também avaliou como “justa e relevante” a inscrição do nome de Veiga Cabral no Livro dos Heróis da Pátria: “Cabralzinho soube defender a causa nacional com destemor e bravura, enfrentando forças militarmente superiores para afirmar que aquela terra do Alto Norte era brasileira. Pouco depois, em 1905, vem a falecer relativamente esquecido, com apenas 44 anos”, afirmou.

Foto: Diário do Amapá

Disputa

A disputa pelo território do Amapá envolveu diversos países europeus nos primeiros séculos da colonização da América. Ainda em 1713, Portugal e França firmaram o Tratado de Utrecht, pelo qual se reconhecia no rio Oiapoque – ou Vicente Pinzón – a fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. No entanto, ao longo dos anos, a área ao sul do Oiapoque voltou a ser alvo de reivindicações francesas, apesar da presença amplamente majoritária de brasileiros ali residentes. Assim, a partir de 1841, a região entre os rios Oiapoque e Araguari foi reconhecida como área “contestada”, sob a jurisdição conjunta do Brasil e da França.

O gatilho para o confronto é a descoberta de ouro por dois brasileiros no alto Calçoene, no início de 1894. O fato atrai grande número de aventureiros de vários países. Diante de medidas que restringiam o acesso dos brasileiros às minas, tomadas pelo representante do governo francês na região de Calçoene, eclode uma revolta dos brasileiros, que representavam cerca de 90% da população local.

Os combatentes brasileiros resistem por certo tempo, mas acabam derrotados pelos franceses, que atingem idosos, mulheres e crianças. Na disputa, morrem seis militares franceses e 38 brasileiros, no que se denomina a tragédia da Vila Amapá.

Cabralzinho, é reconhecido por sua conduta de heroica resistência no episódio, chegando a ser aclamado pela população em Belém, no Recife e no Rio de Janeiro, quando recebe, do Presidente da República Prudente de Moraes, o título de “general honorário” do Exército brasileiro.

Foto: Agência Senado

Heróis da Pátria

Os nomes inscritos no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria são de personalidades associadas a um feito heroico nacional. É também chamado de “Livro de Aço”, por ter as laudas de metal, e fica guardado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Como foi votado em decisão final pela CE, o PLS 707/2015 só será examinado pelo Plenário do Senado se houver requerimento nesse sentido de um décimo dos senadores. Caso contrário, será enviado direto à Câmara dos Deputados.

Fonte: Agência Senado

Se vivo, Amilar Brenha teria 105 anos – Por Renivaldo Costa – @renivaldo_costa

Amilar, ao centro da foto, com um instrumentista na atabaque (não reconheci) e Fernando Canto no violão. Foto: arquivo de Renivaldo Costa.

Por Renivaldo Costa

Se ainda estivesse entre nós, ele teria 105 anos. Amilar Arthur Brenha era o que Vinícius de Moraes definiria como um músico que consegue unir ação, sentimento e pensamento.

Nascido na cidade de Pinheiros, no Estado do Maranhão, Amilar Brenha era filho de dona Francisca Costa Ferreira e José Raimundo Brenha. Aos 15 anos de idade, iniciou-se na música, incentivado por dois primos, que lhe ensinaram o primeiro dedilhar do violão.

Buscando sempre um aprimoramento, Amilar deixou Pinheiros e seguiu para a capital maranhense. Lá, além de aprimorar o toque com o violão, aprendeu a tocar banjo, violão elétrico, rabecão, contrabaixo, cavaquinho e bandolim, instrumento com o qual iria se consagrar. Na década de 50, Amilar Brenha ingressa no Circo Tetro Íbis, onde atua como palhaço e ator. Lá também ficou conhecido como mago do violão tenor.

Através desse reconhecimento e convidado pelo então deputado Coaracy Nunes, Amilar desembarca no Território Federal do Amapá, em 1958. Mas foi através do Regional da Rádio Difusora de Macapá que Amilar Brenha expandiu amizades e se tornou conhecido nos mais longínquos recantos desse Estado. A convite do violonista Nonato Leal, ele ingressa no conjunto de Aymoré Batista e passa a receber elogios públicos de autoridades da música como é o caso do mestre Oscar.

Na década de 80, o governo do Território financia a prensagem do disco de Amilar. O músico, como forma de agradecer pelo incentivo do amigo, convida Nonato Leal para gravar junto. Na verdade, numa das faces do disco ficariam músicas de Amilar e noutra, músicas de Nonato. O violonista Nonato, entretanto, abre mão do convite para aquele que seria o seu primeiro disco.

Em 85, Amilar Brenha se muda para Mazagão a trabalho. Sua popularidade cresce a tal ponto que ele é eleito vereador daquele município.Acometido de problemas de saúde, Amilar Arthur Costa Brenha retorna para a capital e vem a falecer em 20 de abri l de 1991. O trabalho do artista, entretanto, continua mais vivo do que nunca. Sua trajetória pelos grupos Os Piriricas e Café com Leite firmou marcos na música regional.

Como Sebastião Mont’Alverne (também já saudoso violonista) o definiu num artigo publicado por ocasião de sua morte: “Era um maranhense de nascimento, amapaense por adoção e mazaganense de coração”.

Assista aqui o Documentário Amilar Brenha/Macapá,Mazagão-Brasil/1985: 

*Texto republicado após o amigo Fernando Canto mandar esse DOC acima. 

Hoje é o Dia do Radialista e do Rádio

Hoje é o Dia do Radialista e do Rádio. A data é celebrada pelo motivo que, em 21 de setembro de 1906, aconteceu a primeira transmissão radiofônica no mundo, pelo canadense Reginald Dennis. O conceito para este tipo de profissional diz que ele é habilitado para trabalhar com diversos nichos dentro de uma produção radiofônica.

Essa modalidade de comunicação não é para qualquer um. O radialista faz locução, apresentação, sonoplastia, produção de programas, direção e outras atividades. É preciso ter talento e responsabilidade, além de boa voz, claro.

O radialista não transmite apenas notícias, mas sim informações repletas de sentimentos humanos, pessoas que se tornam próximas de uma maneira nada convencional.

Conheço e respeito muitos radialistas. Meu falecido amigo, Leonai Garcia, era doido pra me levar para o rádio. Nunca topei. Há uns sete anos, o renomado Humberto Moreira me perguntou se eu não queria fazer uma experiência na área, também agradeci e disse que meu negócio são os bastidores e redações mesmo. Um dia, quem sabe. É que gosto mesmo é de escrever.

Também dizem que o dia correto é 7 de novembro, mas a primeira considero a de hoje mesmo. Também sou grato aos amigos Paulo Silva, Luiz Melo, Elden Carlos, Armstrong Souza, Heraldo Almeida, Cléber Barbosa, Graça Penafort, Salgado Neto, entre tantos outros, pelo apoio ao meu trabalho.

Portanto, parabenizo e agradeço, em nome das minhas queridas amigas Gilvana Santos (que possui uma bela história no rádio amapaense e apresenta o Programa MP + Perto ) e Ana Girlene (MP + Perto e Café com Notícias) a todos os radialistas do Amapá. Sem eles, o nosso trabalho nas assessorias seria inviável. Sobretudo aos amigos, que são muitos. Palmas para vocês!

Elton Tavares

A tacacazeira de olhos ternos e largo sorriso – Por @alcinea

Dona Mangabeira era uma negra de olhar límpido, sorriso largo e dentes tão brancos como os guardanapos de algodão que ela mesma fazia para cobrir as panelas.

Foi uma das primeiras tacacazeiras da cidade. Era do bairro da Favela. Sua banca (naquele tempo não tinha os carrinhos de hoje) era montada na esquina da rua Leopoldo Machado com avenida Almirante Barroso. De longe se sentia o cheiro do tucupi. Esse cheiro dava água na boca atraindo tanta gente para sua banca. O camarão era vermelhinho e o jambu treme-treme.

Aos domingos, a movimentação era bem maior. Era parada obrigatória de quem passava por ali para ir ao estádio Glicério Marques assistir aos clássicos da época.

A todos – autoridade ou peão – Mangabeira atendia com alegria, contava histórias, fazia o tacacá do jeitinho que o freguês pedia.

– Mais goma ou tucupi? Quantas colheres de pimenta? Quer mais jambu?

E o freguês ia dizendo como queria.

De muitos ela sabia o gosto e já nem perguntava.

Contava que meu pai, o poeta e jornalista Alcy Araújo, era o único que tomava tacacá sem goma.

Mangabeira tinha um carinho especial pelas crianças. Para elas servia o tacacá em cuia menor e nada de pimenta.

Às vezes um moleque mais ousado pedia que ela colocasse um pinguinho. E ela, cheia de doçura, respondia: “Meu filho, criança não come pimenta”. E o moleque não insistia. O convencimento, tenho certeza, não era pelas palavras, mas pela doçura com que ela falava.

Além de tacacazeira, Mangabeira era excelente lavadeira. Daquelas que botava a roupa “pra quarar” e engomava usando ferro a carvão. Era também benzedeira, tirava quebranto de criança, fazia banho de cheiro pra curar gripe, catapora e sarampo e chás e garrafadas pra todos os tipos de males.

Mangabeira era uma imagem forte na paisagem do meu bairro e é uma das belas recordações da minha infância.

Alcinéa Cavalcante

Tia Biló, a cultura viva do marabaixo! – Por Cláudio Rogério – @claudiorogerio_

Foto: Aydano Fonseca

Por Cláudio Rogério

A madrugada de hoje, no silêncio dos tambores, anunciou a partida de Tia Biló. Eita, que além das estrelas, nas batidas do marabaixo, neste momento, nossa “Preta Velha” emana ao lado dos baluartes e ancestrais de nossa cultura mãe, seu leve e doce cantar.

Aqui neste chão da Amazônia, onde pisou por 96 ciclos do marabaixo, Benedita Guilherma Ramos, carregou mastros, coroas, fitas, murtas, ladrões, caldos, cantorias, gengibirras e muita fé em devoção à Santíssima e ao Divino, amém!

Nos campos do Laguinho, havia um jardim, onde Tia Biló significou a última açucena de Julião Ramos a desviver, mas como toda flor, deixou nestes campos, pólens de matriz africana para colorir mais e mais os jardins e campos da cultura nossa de cada dia.

Quis sim, Olorum chamá-la na primavera vindoura, para que seu povo aqui da terra Tucuju cantasse ao som dos tambores, “tá caindo flor, tá caindo flor, lá no céu, lá na terra, oh! Lê lê tá caindo flor…”

E Biló da resistência, não se conformou somente com as rodas de marabaixo, viajou além, e foram honrarias, prêmios, homenagens, ensinamentos, palestras e entrevistas. Agendas dignas de uma mestra na arte de fazer cultura popular do marabaixo.

Foto: Gabriel Penha

Seus voos que inspiraram poetas, escritores e compositores chegaram à cena do rock amapaense, onde teve seu nome eternizado em uma banda, a “Tia Biló”.

Nos festejos, as bandeirinhas e fitas azuis e vermelhas sempre deram um toque de magia colorindo sua casa e seu barracão, onde pessoas se enalteciam aos fogos e cantorias, anunciando chegada da manhã. E junto na fé, ali estava Tia Biló, agradecendo e pagando sua promessa, herança deixada pelo pai. Agora transmitida aos seus filhos, netos e todos seus seguidores.

Toda vez que ecoar uma caixa de marabaixo nos quatro cantos do mundo, ali, estará firme Tia Biló, mais viva e mais presente como nunca.

Assim, nos sentiremos protegidos, inspirados e seguros para mantermos sempre erguida e no topo dos mastros da vida, a cultura do marabaixo.

Salve, Tia Biló!