História do Amapá: 121 anos da assinatura do Laudo Suíço – (1º de dezembro de 1900)

O município de Amapá foi oficialmente criado em 1901, ano seguinte à assinatura do histórico Laudo Suíço, de 1900, há exatos 121 anos, quando prevaleceu a vontade brasileira em confirmar o Rio Oiapoque, e não o Araguari como queriam os franceses, como fronteira entre o Brasil e a França.

Rio Oiapoque e cidade de Oiapoque (AP), em 2012 – Foto: Elton Tavares

Abaixo o texto do historiador Aloisio Menezes de Cantuária, sobre a assinatura do Laudo Suíço.

O Laudo Suíço foi a sentença dada em favor do Brasil, na disputa entre Brasil e França, por uma área do atual Estado do Amapá (entre os rios Oiapoque e Araguari), na Questão do Amapá ou do Contestado. Essa questão se arrastava desde a época colonial. O Tratado de Utrecht (1713), assinado entre França e Portugal, estabelecia o rio Vicente Pinzón ou Oiapoque como fronteira entre a Guiana Francesa e o Amapá (na época, vinculado ao Estado do Maranhão e Grão-Pará).

A descoberta de ouro na região do rio Calçoene por volta de 1895 reavivou o interesse da França pela região. O governo francês questionou os limites, alegando que o rio Vicente Pinzón não era o Oiapoque, e sim o rio Araguari, mais ao sul. Foi nesse contexto que o paraense Francisco Xavier da Veiga Cabral, o Cabralzinho, tornou- se o “herói do Amapá” ao matar, em Amapá, o tenente Lunier, comandante de um destacamento francês, em Amapá.

Foto: Governo do Amapá

Os conflitos decorrentes da disputa fizeram com os governos brasileiro (herdeiro do império português) e o francês submetessem a questão à arbitragem do governo suíço. No dia 1º de dezembro de 1900 o governo suíço deu ganho de causa ao Brasil.

O defensor do Brasil na questão do Amapá em Berna foi o Barão do Rio Branco.

Lembrando o fato, em Belém a atual av. João Paulo II durante muito tempo era conhecida por 1º de Dezembro (na época, o Amapá era município paraense).

No Amapá, não me lembro de nenhum logradouro homenageando a data, exceto, indiretamente, a Praça Barão do Rio Branco , numa alusão aos esforços desse diplomata do Império que ainda continuou prestando serviços à nascente República”, explicou o historiador ao blog da Alcinéa Cavalcante, onde encontrei esse importante relato sobre a data de hoje.

Praça Barão do Rio Branco, em Macapá, inaugurada em 1950 – Foto: Blog Porta Retrato.

Cronologia sobre o Laudo Suíço:

> 02 de maio de 1895 – O presidente do Triunvirato do Amapá, em resposta à solicitação da população de Cunani, em carta de 25 de abril de 1895, comunica à referida comunidade que providenciou a prisão de Trajano e seus comparsas, através do major Félix Antonio de Souza, do Exército Defensor do Amapá.
> 15 de maio de 1895 – O governador de Caiena, Mr. Charven, encarrega o Capitão Lunier que, ao comando da canhoneira Bengali chega ao Amapá com 80 “gendarmes” da Legião Estrangeira, com a intenção de forçar Cabralzinho a soltar Trajano. A invasão à vila de Amapá, sede do Triunvirato, deixa um saldo de dezenas de mortos e feridos do lado brasileiro, alguns soldados do lado francês, e a morte do capitão Lunier pelos comandados de Cabralzinho. O conflito demorou menos de duas horas, e os franceses fugiram na canhoneira, pois a maré estava baixa e seu navio poderia ficar prejudicado. Ver 26 de maio de 1895.

> 26 de maio de 1895 – O jornal O PAIZ, do Rio, é o primeiro a noticiar o conflito ocorrido no dia 15 de maio de 1895, na versão da imprensa francesa.
> 30 de maio de 1895 – O jornal A Província do Pará relata, pela primeira vez, e com atraso de 15 dias, o conflito ocorrido no Amapá em 15 de maio.
> 31 de maio de 1895 – O governador da Guiana Francesa, Mr. Charvein, envia ao governo francês notícias contraditórias sobre o conflito ocorrido no Amapá, tentando justificar o envio de forças à vila de Amapá em 15 de maio de 1895. A notícia foi publicada no jornal paraense O DEMOCRATA, primeira página.
> 06 de junho de 1895 – O jornal Diário de Notícias narra a preocupação do ministro francês, presidente do Conselho de Ministros da França, em resolver a questão do Amapá de forma pacífica, entre a França e o Brasil.
> 10 de junho de 1895 – Iniciam-se as negociações entre os governos da França e do Brasil, referentes à questão de fronteiras da região contestada.

Eu (Elton Tavares, editor deste site), no obelisco de Oiapoque em 2011 – Foto: Marcelo Lima.

> 11 de junho de 1895 – Jornais franceses como o Le Temps, começam a
produzir artigos referentes à questão do Amapá, dando um cunho de possíveis vitórias para o lado brasileiro.
> 18 de junho de 1895 – O Jornal do Commercio publica nesta data notícias a respeito do governador de Caiena, Mr. Charvein, que manda um telegrama ao ministro da Fazenda, noticiando versões diferentes sobre Cabralzinho.
> 27 de junho de 1895 – O jornal O Democrata, de Belém (Pará), divulga declarações de um engenheiro militar francês sobre a importância estratégica da região contestada do Amapá.
> 25 de setembro de 1895 – O governador Charvein, principal responsável pelo massacre de Lunier ao Amapá em 15 de maio, é demitido e substituído por Mr. Lamothe (Ver 17 de setembro), que recebe autorização para devolver, imediatamente, as bandeiras brasileiras e os prisioneiros encarcerados, para partirem no primeiro navio a sair de Caiena.
> 21 de novembro de 1895 – O cientista Emílio Goeldi, enviado à região contestada do Amapá, faz um relatório ao ministro das Relações Exteriores, sobre a situação da fronteira e as conseqüências do massacre francês ao Amapá.

No obelisco de Oiapoque (AP), em 2016. Foto: Evandro Gavião.

> 10 de abril de 1897 – Brasil e França assinam acordo para decisão da Questão do Amapá.
> 02 de dezembro de 1898 – É instalada na vila de Cunani, a Comissão Mista Franco-Brasileira. Ver 2 e 12 de janeiro de 1899.
> 01 de dezembro de 1900 – O presidente da Suíça (Confederação Helvética), Walter Hauser, expede o Laudo Suíço dando ganho de causa ao Brasil da Questão do Contestado Franco-Brasileiro.

Fonte: Amapá em Destaque; Diário do Amapá e blog da Alcinéa Cavalcante.

 

Maradona:” O Mais Sujo de Todos os Deuses ” – Crônica de Marcelo Guido.

Crônica de Marcelo Guido

Talvez cansados da mesmice , ou querendo criar a indignação sobre o como é possível, ou querendo colocar mais magia neste já tão controverso esporte bretão, os Deuses do Futebol permitiram que um descesse a terra.

Era Maradona, de baixa estatura , brigando com a balança e uma canhota infernal.

Fazia das quatro linhas o seu feudo, onde era senhor e com maestria de quem sabia sempre o que estava fazendo conduzia a bola como poucos, ofensivo o fundo das redes era seu objetivo.

Dribles curtos, passes milimétricos, visão apurada a dez tinha um novo dono.

Surgiu de vermelho, encarnado no Argentino Juniors, ganhou notoriedade no Boca , passou pelo Barcelona e virou lenda no Napoli.

Em 86 o mundo se curvou a ele, com a mão de Deus a melhor resposta sobre as Malvinas, e no mesmo jogo uma pintura onde deixou para trás meio time dos pais do futebol, esse é o Gênio.

Como humano, sucumbiu aos prazeres mundanos, nunca foi exemplo, mas permaneceu adorado por seu povo.

Povo que o mesmo sempre representou em campo e fora dele, as raízes da vida antes miserável permaneciam no homem e intercalada os momentos, Maradona caia como humano mais levantava como um ser Mitológico.

Sua vida poderia ser escrita por Gabo, perante todo realismo fantástico que o mesmo fez, ou uma letra de uma boa cumbia, onde a tristeza e felicidade se encontram em versos melodias.

Ainda vieram o Sevilha, News Old Boys para lhe dar a 10 e entrarem para o panteão honroso de pavilhões defendidos pelo próprio Deus.

Gostaríamos de imaginar que sem os problemas extracampo como seria esse jogador, talvez o maior de todos, talvez mais títulos, mas não seria Maradona. Os erros também faziam parte dele.

Em 94 o golpe final, pela primeira vez preparado , com foco no título a landrolona não o permitiu.

Mas ao retornar ao seu amado Boca deu as últimas alegrias como jogador ao seu público, este que nunca o abandonou, que a 1 ano chorou com a partida repentina.

Maradona foi um exemplo de jogador, um exemplo humano, a verdadeira constatação que o bem e o mal são fases gêmeas da mesma moeda.

Por que amamos Maradona, deixo isso para o grande Eduardo Galeano que certa vez o resumiu assim: “Maradona se tornou uma espécie de Deus sujo, o mais humano dos deuses. Isso talvez explique a veneração universal que conquistou, mais do que qualquer outro jogador. Um Deus sujo que se parece conosco: mulherengo, falador, bêbado, ganancioso, irresponsável, mentiroso, fanfarrão ”.

Enfim, ele encantou Reis, respondeu a guerras, peitou a FIFA, traiu a máfia, ganhou o mundo e pagou um preço alto.

Genial e insolente, a cara do povo e pelo povo se vez lenda , pelas estórias que sempre serão contadas, Maradona, ” El Pibe” sempre estará nos campos inesquecíveis da história do futebol.

Há um ano ele é eterno.

*Marcelo Guido é jornalista, pai do Bento e da Lanna, além de maridão da Bia.

40 anos do soco de Anselmo Vingador – Um texto para flamenguistas

Como bom flamenguista, sempre leio, assisto e ouço tudo sobre o Flamengo. Entre os títulos conquistados pela máquina rubro-negra dos anos 80, comandada por Zico, um fato marcou a Libertadores de 1981, conquistada no dia 23 de novembro daquele ano: um soco. Sim, uma porrada desferida por Anselmo, atacante do Flamengo no zagueiro Mario Soto, do clube chileno Cobreloa.

Vamos por partes. Depois de passar invicto até a final, o Mengão, campeão brasileiro de 1980, decidiu com o torneio com o Cobreloa. No primeiro jogo das finais, realizada no Maraca, o time da casa venceu por 2×1, com dois gols de Zico. Na partida de volta, no Chile, o time do Flamengo apanhou muito dos donos da casa (agressões mesmo), liderados pelo zagueiro Mario Soto (o brabão) e acabaram ganhando o jogo por 1×0.

Nessa partida, o Mengo ficou desfalcado dos jogadores Lico, com um corte na orelha e Adílio, ferido no olho. Ambos abatidos pelo defensor chileno. Li em algum lugar que ele agredia os jogadores brasileiros com uma pedra no punho fechado, se é fato, não sei dizer. Relatam jornais da época que o próprio Pinochet (um dos enviados de Satanás à Terra), nas tribunas, virou-se para um adepto e disse chocado: “Não está exagerando, o nosso Mario Soto?” Imagine como o cara estava “virado no cavalo do cão”…

Então rolou a “negra”, uma terceira partida, em campo neutro, realizado há exatos 40 anos, no Estádio Centenário, em Montevidéu, no Uruguai. O Mengão, que tinha infinitamente mais bola, venceu pelo placar de 2×0, com dois gols do Galinho.

Anselmo dando o soco e hoje em dia.

Mas ainda faltava a forra contra Soto, foi aí que, no finalzinho do jogo, o técnico do Mengo, Paulo César Carpeggiani, chamou Anselmo, um jovem atacante de 22 anos, e disse: “ vai lá e dá um soco na cara do Mario Soto”. Anselmo entrou na partida, se aproximou do zagueiro chileno e, na primeira jogada, deu um pau na cara do chileno, que foi a nocaute. O lance causou um porradal, o jogador do Flamengo foi expulso junto com Mario Soto. A decisão logo acabou e o Flamengo virou campeão da América.

Depois foi só festa. No desembarque do time no Galeão, a delegação se deparou com uma imensa faixa escrito: “Anselmo vingador!” Pronto, Anselmo era tão herói quanto Zico. Mesmo suspenso, o “Vingador” viajou com o time para o Japão, onde o Mengão derrotou o Liverpool e sagrou-se Campeão Mundial Interclube, em 1981.

Mario Soto, do Cobreloa do Chile, após levar um soco de Anselmo, do Flamengo, na finalíssima da Taça Libertadores da América de futebol. Montevidéu, Uruguai. Foto publicada na revista Placar, edição 1206, em 1223/11/2001, página 37.

Li várias reportagens sobre este fato, mas as duas melhores declarações foram:

Este episódio exprime uma contradição insolúvel do futebol e da vida. Todos nós temos discursos humanistas e politicamente corretos em favor do espírito esportivo e do sentimento cristão. Mas quem sofre uma agressão covarde não esquece. Futebol é arte, balé, xadrez, mas é um jogo viril e abrutalhado em que façanhas como a de Anselmo refletem o alto grau de testosterona e de agressividade primitiva que nos leva a correr atrás da bola. Nosso lado civilizado homenageia aqueles que descartam a vingança física e se contentam com dar o troco na bola e no placar. Mas dentro de cada fã do futebol existe um brutamontes-mirim que não resiste à poesia de um murro bem dado” – Jornalista Braulio Tavares – Jornal da Paraíba.

Tenho sobre essa porrada uma tese irrefutável – ali, graças a Anselmo, as ditaduras latino-americanas que assombraram o continente durante a Guerra Fria começaram a desabar. O destino do próprio Pinochet foi selado naquele momento. Não é a toa que, em recente pesquisa publicada na Inglaterra, acadêmicos de renome consideraram que as três quedas mais impactantes da história foram a do Império Romano, a do Muro de Berlim e a de Mario Soto na final da Libertadores.” – Luiz Antonio Simas, professor carioca.

Bom, acredito que em certos momentos, extremos claro, um murro vale mais do que mil palavras (risos). Aquele soco lavou o peito de milhões de rubro-negros. Viva o Mengão e o Anselmo Vingador! Há 40 anos, direto do túnel do tempo…E hoje seremos novamente campeões da América. Mengão sempre!!

Elton Tavares – Jornalista e flamenguista em tempo integral (e bom de porrada, rs).

A chegada do primeiro avião em Macapá – Crônica/resgate histórico paid’égua de Fernando Canto

Imagem encontrada no Blog Canto da Amazônia, de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Não obstante Macapá ser um burgo crescido em função da Fortaleza de São José, por aqui, após 1920, viviam algumas dezenas de habitantes arraigados em sua cultura e vida mansa. Muitos aspectos contados pelo Sr. Martinho Ramos – um dos líderes da festa do Divino Espírito Santo e da Santíssima Trindade, o Marabaixo – caracterizam todo o provincianismo de uma cidade que não imaginava crescer antes de ser escolhida a capital do Amapá, em 1944.

Mas Macapá foi crescendo, observada carinhosamente por muitos que hoje, aposentados, guardam a riqueza da memória e todo um micro-mundo que jamais afugenta o espírito e a naturalidade de gostar daqui. O Sr. Martinho Ramos sabe disso e o seu falar calmo contava, neste depoimento histórico, as transformações e as comparações da velha e da nova Macapá.

Avião Catalina anfíbio – Imagem: Google

“Quando passou por aqui o primeiro avião, eu estava com dois anos de idade, mas pelos meus antepassados eu soube de muitas coisas que se passaram na época (1923), inclusive o Sr. Eufrásio foi quem conseguiu nos dar uma grande música do Marabaixo, que tem o título de ‘A irmã Catita viu o salão/Assim, atracada assim eu não subo não’.

Avião Catalina anfíbio – Imagem encontrada no Facebook do Gilberto Almeida.

“O avião era uma Catalina, anfíbio, descia n’água e em terra. Mas como nós não tínhamos pista de pouso, eles resolveram descer na água. Então, o povo todo correu; aí o Sr. Eufrásio começou a enversar toda a história do avião:

– Corram, corram minha gente. Vamos na praça espiar, o barulho vem de cima e é n’água que vai pousar.

Padre Júlio [Maria Lombaerde] – Imagem encontrada no blog Porta Retrato

Em seguida, todo mundo correu lá pro Torrão, que era o nome de onde está localizado o Novotel. Na ocasião, o velho Eufrásio, observando que os ocupantes do aparelho eram todos alemães, fez:

– À cabeça do alemão, muito sol ele apanhou na taberna do Ventura, um guarda-chuva ele encontrou.

Seguindo, vieram à cidade onde nós tínhamos um padre alemão [na verdade, o padre era de origem belga], o padre Júlio [Maria Lombaerde], que, ao conversar com um dos tripulantes, soube que a gasolina deles havia acabado.

Marabaixo – Foto: Fernando Canto

“Eles estavam perdidos e sem gasolina. Foram recolhidos pelo padre Júlio e aqui ficaram. Logo depois que a maré encheu, eles abriram o avião para visitação pública. As pessoas foram até ao avião, mas não sabiam como entrar. Então um cidadão prontificou-se em auxiliá-las. Quando o cidadão quis atracar na cintura de uma mulher [a irmã Catita] para pô-la no avião, ela disse: “Atracada assim eu não subo não”. O velho Eufrásio viu e tirou o verso que é o estribilho da música (Viu a irmã Catita pelo salão/ Assim, atracada assim eu não subo não)”.

A irmã Catita não ficou aborrecida porque felizmente ela disse aquela expressão sem saber e sem se preocupar se havia um poeta observando tudo para dar a música do marabaixo que deu.

Discos que formaram meu caráter (parte 32) – The Smiths – The Smiths (1984) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Salve nação rocker, estamos voltando para mais uma transmissão singular, de algum lugar perdido neste espaço sideral musical para o mais espetacular disco. Este viajante manteve-se profundamente ébrio para vir das mais longínquas margens do caos orgânico para trazer para vocês:

“The Smiths – 1984”, o primeiro disco da banda independente mais importante de todos os tempos. Palmas pra ele.

Formados na industrial e sombria Manchester em 1982, os Smiths galgaram seu espaço nas rádios pouco a pouco; o encontro fundamental entre as letras melancólicas de Steven Patrick Morrissey, com a melodia marcante de Jonh Maer (mais tarde rebatizado Johnny Marr) foi o caminho encontrado para muitos jovens cercados de sintetizadores e sobreviventes da onda punk e pós-punk que varreu a Inglaterra no começo dos anos 80.

Surrupiada da revista do Elton Tavares, em 1995

O lirismo exacerbado, uma preparação quase que mitológica nos acordes, competência acima de todos os integrantes (Mike Joyce – bateria e Andy Rouke baixo), fazia realmente a diferença para as bandas da época. Estourar seria questão de tempo.

Com som praticamente industrial – como falei logo acima – feito por exemplo pelo New Order (Grande banda – falaremos em breve), com sintetizadores e recursos eletrônicos tocando nas rádios e TVs da Inglaterra, os caras vieram com uma proposta totalmente diferente, som completamente galgado em harmonia, arpejos de guitarra sóbrios e a voz extremamente marcante uma postura singular do frontman, algo que foi novidade e não esperado para uma banda de rock na época.

Capa de caderno de 96 (8ª série) de Marcelo Guido

As letras falando do cotidiano dos jovens ingleses na época, uma recessão braba, desemprego, Manchester estava realmente um lixo. Nada mais inspirador do que a melancolia do dia-a-dia para que o poder da inspiração de quem vive isso na pele aflore e comece ferver para fora. Realmente o clima ajuda e muito.

Mas como uma banda tão trabalhada chegou em minhas mãos?? Eu, na época com 15 anos, mais brutal impossível, porradas e camisas pretas faziam parte do meu cotidiano, nunca, jamais me rebaixaria a escutar algo que não fosse porradaria e ainda o visual play (pra mim da banda) não colaboravam para que eu me interessasse em escutar. Aí entra em ação o Adriano Joacy, o “Bago” e o saudoso Helton “ He – Man”, que em uma tarde etílica me deram uma fita K7 com o primeiro disco da banda. Foda-se! Que presente!

Quem não conhece essas figuras, aí vai uma palhinha dos caras. Adriano Bago para os íntimos era uma espécie de curador. O cara tinha de tudo de som bom na casa dele (ou melhor, no quarto), em um período pré-jurássico, sem youtube e outros caralhos, era legal ter um brother assim. He-Man era outra figura singular no erário amapaense, dono de um humor sagas e de tiradas homéricas o cara tinha por característica sacar bastante de som. E com essas palavras me passaram o presente: “Escuta essa porra, tu tá muito Johnny Lydon”. (referencia clássica ao vocalista do Sex Pistols e do PIL).

Velhos, o que foi aquilo? Não tenho outra expressão pra dizer do que CARALHO! Como pude ficar tanto tempo longe disso.

Vamos deixar de delongas e conversa mole e vamos explorar logo essa ode à boa música.

Descascando a bolacha:

O disco começa com uma introdução bem trabalhada e fantástica para “Reel around the Fountain”, uma belíssima e melancólica canção sobre um término de relacionamento, uma linha marcante como uma carta de despedida para quem se ama. Vamos para “You`ve Got Everting Now”, sem perder a ternura, uma porrada, outra despedida mas onde se tem mais raiva que saudade. Chegamos em “Miserable Lie” , antevendo e muito o grunge, um misto de melancolia e porradaria colocados em doses milimetricamente pensadas e, sem dúvidas, programadas para ser uma canção inesquecível – a letra nos fala de despedida… Fique com os seus, eu ficarei com os meus.

“Pretty Girls Make Graves”: Garotas bonitas fazem túmulos; uma ode a baixa auto-estima. “The Hand That Rocks The Cradle”, uma baladinha para apertar o coração. “Stiil ill”, a dificuldade do dia-dia, “Inglaterra é minha e me deve sustento”, dúvidas recorrentes da juventude. “A mente governa o corpo …” “Hand in Glover”, uma fenomenal introdução de gaita. Amigos uma música sobre o amor perfeito.

“What Difference Does It Make”, a confiança depositada em alguém, que depois por motivos singulares sai de sua vida levando consigo seus maiores segredos. “I Don`t Owe You Anything”, baladinha perfeita para aquele sofrível domingo. “Suffer a Little Children” soturnamente maravilhosa, crianças sofrem. “This Charming Man”, a primeira música que eu realmente gostei dos caras, foi o single do disco e lançada em 1983. Eu sempre quis ser apenas um homem charmoso (risos).

Se você não conhece esta obra prima, por favor vá ao RH e entregue seu distintivo de foda, e não toque mais no assunto.

Medalha de ouro na categoria disco foda, um dos 100 maiores discos britânicos segundo o The Gardian, e a Rolling Stone o coloca entre os 100 maiores álbuns de estreia de todos os tempos.

Um disco foda, de uma banda foda, com dois caras fodas. Talvez nada igual tenha sido feito até hoje. Este disco muda vidas. Vai por mim. De repente, eu empunhava com orgulho uma capa de caderno feita a mão com uma foto do Morrissey, e tu tinha que ser bem escroto para ter essa coragem.

Esperar o quê, de uma banda formada pelo presidente do Fã Clube do The New York Dolls .

Algo tão espetacular, nunca deve ser esquecido; talvez por isso pagamos pau para Marr e Morrissey ate hoje.

Guardadas as devidas proporções, esse encontro foi mais importante que Lennon e McCartney.

*Marcelo Guido é Jornalista, Pai do Bento e da Lanna, Maridão da Bia.

**Este texto é dedicado ao He-Man, saudades eternas caro amigo Adriano Bago, uma das melhores almas que eu conheço.

Poema de agora: Encontro dos tambores – Ricado Iraguany

Encontro dos tambores

Bate um batuque no meu coração
Feito o toque da caixa
Gengibirra que baixa
E levanta as sais rodadas
Pelas negras canções
Zimba, batuque,sairé, marabaixo
Ninguém fica parado
Fica até abismado
Quando o negro tocar
No rufar dos tambores
Vem de kinbanda, umbanda, todos babalorixás
Tambor de mina, menina
E um terço pra rezar
Ao divino espírito santo
E a santíssima trindade

Ricado Iraguany

O Poder do Tambor – (crônica demais paid’égua de Fernando Canto) – @fernando__canto

Foto: blog do Márcio Batista

Crônica de Fernando Canto

Não é de hoje que vejo – e ouço – algumas associações de sincretismo entre o catolicismo e os ritos de origem africanos no Amapá como o Candomblé e o Tambor de Mina.

Nunes Pereira, uma das raras referências etnográficas do folclore amapaense, disse em seu livro “O Sahiré e o Marabaixo” (Fundação Joaquim Nabuco, Recife, 1989, pág. 101/115), que quando esteve no Laguinho e no Curiaú em 1949, observou que os tambores utilizados não exerciam claramente sobre os negros o poder transfigurador que os instrumentos de percussão têm na África ou do tipo usado nos terreiros Mina-Gêge de São Luís do Maranhão. Mesmo assim registrou os mais estranhos e emocionantes movimentos de dançarinos no Marabaixo.

Observou que (aos negros) “Nem lhes faltaram, nas máscaras luzidias de suor, o fulgor das pupilas e nos ritus dos lábios carnudos, a expressão dramática, que a posse do Guia, Santo ou Vodum, lhe transmite, e a expressão sensual, que nasce dos sentidos, açulados pelas libações e pelos contactos dos corpos em festa”… Mais adiante ele viu “saltos elásticos de alguns jovens, tais os dos bailarinos acrobatas, ou negaças fulminantes de capoeiras” que lhe reafirmavam um justo conceito, não de antropólogo, mas “de um viajante fascinado”.

Nunes Pereira ficou mesmo encantado com a dança dos negros e mestiços que aos poucos se avolumava no salão sob o comando do Mestre Julião Ramos. E informa que se “nos lembramos das atitudes místicas dos Voduns Mina-Gêge, erguendo os braços para o alto ou baixando-os para abrir mãos que se diriam afagar a terra, também nos lembramos dos passos do frevo pernambucano e das marchinhas do carnaval carioca”. Sua descrição da dança arremata que “Mestre Julião, de súbito, como se fosse envolvido pela fascinação daquele ritmo e daquelas atitudes, entrou a substituir um dos tocadores das ‘caixas’, arrebatando-lhe o instrumento. E, então, pela expressão de sua voz e pela segurança de seus toques, a dança atingiu o seu Pathos. E nela fomos envolvidos também”.

Dizendo isso, suponho que ele tenha mergulhado na “mucura”, a bebida alcoólica muito utilizada no Marabaixo, pois nenhum antropólogo é de ferro.

Tradição: garoto toca caixa de marabaixo em Mazagão, Amapá – Foto: Julio Maria

Ele ainda tentou atrair as negras velhas para conversas sobre terreiros, sobre Mães de Santo e Vodus, mas elas se esquivaram discretamente, entretanto sem poder negar que tudo isso lhes era familiar.

Certa vez eu presenciei uma incorporação sob os tambores do Marabaixo, porém imediatamente retiraram o “cavalo” (uma mulher) do recinto, não dando chance para perguntas.

Sobre esse assunto fui informado de outro caso, provocado por uma bebida possivelmente alucinógena preparada com cachaça e a casca macerada do caimbé branco, árvore abundante no cerrado das cercanias de Macapá.

No Haiti, sincreticamente São Tiago é associado a Ogum, o deus daomeano, com seu ar feroz, barba hirsuta e espada erguida. Em Cuba Ogum se equipara a São Pedro por levar em suas mãos as chaves do céu que são de ferro e a Santiago dos castelhanos, que, a cavalo, os ajudava na guerra matando mouros. No Brasil durante as cerimônias, os “adosu” por eles possuídos assumem uma expressão feroz e durante as danças empunham uma espada e executam a mímica da guerra e dos combates. Segundo Pierre Verger, a assistência grita, saudando: “Ogum ye”. Seus adeptos, muito numerosos, usam colares de cores azuis-escuras e braceletes de ferro. Na Bahia ele é assimilado a Santo Antônio e no Rio de Janeiro a São Jorge, que é outra personagem, ou figura da Festa de São Tiago de Mazagão Velho

Não é de hoje, repito, que essas coisas estão ligadas ao Marabaixo. Mesmo que se diga que seus principais ritos sejam de origem católica, a ancestralidade comanda o inconsciente coletivo. E o toque do tambor é muito poderoso. Inderê, Olô!

20 de Novembro Dia da Consciência Negra – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Por que precisamos desse dia?

Criada em 2003, a data nos remete ao passado e tem o intuito de fazer uma reflexão da inserção do negro na sociedade brasileira, escolhido o dia 20 de novembro não à toa , já que é a data atribuída à morte de Zumbí dos Palmares, um dos maiores e históricos lideres negros que já habitou nossa pátria.

Mas por que ainda hoje precisamos refletir se somos no papel um país multirracial, se nosso sangue miscigenado encantou o pai da seleção natural Charles Darwin, se nossa sociedade é tropical, abençoada por Deus e bonita por natureza ?

É amigos, quem nos dera não precisar! Vivemos um verdadeiro “apartheid” não oficial. Isso porque a política nefasta, que por muitos anos foi responsável pela segregação na África do Sul, é aplicada em nosso país na pior forma, a forma oculta.

A necessidade de uma data oficial como essa é para lembrarmos que a cada 100 vítimas de assassinatos no Brasil , 71 são negras, que a extrema maioria de nossa massa carcerária nos presídios é negra, que a maioria das famílias que vivem na miséria no Brasil é negra. Por isso a reflexão.

A dívida que se tem com o povo afrodescendente é mil vezes maior , foram 400 anos de escravidão, marca essa que para poder tirar de nossa história, precisaríamos ser redescobertos.

O Brasil foi um dos últimos países a deixar de ser escravista. Por isso a reflexão. Para mostrar para muitos que politica de cotas raciais, instituída no Brasil apenas em 2014, não trata-se de uma esmola, e sim de uma reparação histórica para com o povo negro. Por isso a reflexão.

Pra lembrar a todos que foi só a partir de 2003, mais exatamente no dia 09 de janeiro, com o advento da lei 10.939, que o currículo escolar brasileiro teve que colocar a temática “História da Cultura Afro –Brasileira” para que os alunos pudessem entender o por que do respeito com a cultura Afro.

Só por esses aspectos, o dia da consciência negra já se faz necessário.

Refletir sobre os erros para que nunca mais eles sejam repetidos, para que o jovem negro possa ter orgulho de sua raça, origem e cor. Por mais cabelos naturais e menos alisamentos nas meninas . Que o orgulho negro seja realmente reconhecido.

Precisamos deste dia para saber que ascensão social do negro não é um favor, e sim um direito. Para que as escolas, repartições e universidades sejam sim um espaço de ampla inclusão.

Zumbi vive em cada jovem médico negro, em cada advogado negro em cada ministro negro, em cada professor negro.

Para que intelectuais históricos, como Machado de Assis e Castro Alves possam ser referenciados como realmente foram.

Para que o elevador social que é quase um templo- já diria Jorge Aragão – seja esquecido e realmente fique no passado. Para que Wilson Simonal saia do limbo cultural o qual foi colocado.

Para que máximas como a do grande educador Paulo Freire , reconhecido mundialmente pelos serviços prestados à educação, sejam enterradas de vez: “os negros nascem proibidos de serem inteligentes” .

Para que nossa sociedade seja mais justa e menos hipócrita.

Viva Zumbi, Cartola, Ivone, Jovelina, Mano Brow , Ben Jor, Leci, Serginho Chulapa , D2, Tony Tornado, Tim Maia, Mussum e todos aqueles que um dia lutaram por igualdade, meu máximo respeito.

Um Salve para todos os negros.

*Marcelo Guido é Jornalista, Pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia.

Conheça o significado e a Importância do mês da consciência negra

O Dia da Consciência Negra marca a importância das discussões e ações para combater o racismo e a desigualdade social no país.

Instituído oficialmente pela Lei nº 12.519, de 20 de novembro de 2011, a data em comemoração ao Dia da Consciência Negra faz referência à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares — situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil. Negro e pernambucano, Zumbi nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos. Foi assassinado em 1695, na região de Alagoas. Sua vida, no entanto, foi marcada pela luta contra a escravidão, que terminou oficialmente 190 anos após sua morte — no dia 13 de maio de 1888, com a Lei Áurea.

Zumbi é considerado um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial. Após diversas tentativas de resistência, dados apontam que a morte de Zumbi teria ocorrido em 20 de novembro de 1695, em combate e fuga. E daí teria vindo a escolha do dia 20 de novembro como data de celebração do Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil.

Consciência Negra no Brasil

Em 1971, o professor, escritor, pesquisador e militante negro Oliveira Silveira organizou um grupo de estudo e apreciação da cultura e da literatura negra em Porto Alegre com outras pessoas interessadas no assunto. Foi proposto então a criação de uma data comemorativa que simbolizasse a união e a luta do povo negro. O grupo sofreu certa perseguição, pois, na ocasião de seu nascimento, o Brasil vivia o auge dos chamados anos de chumbo da Ditadura Militar. No entanto, os movimentos sociais que atuavam em defesa da população negra cresciam cada vez mais em nosso país. Em 1978, inclusive, foi criado no Brasil o Movimento Negro Unido (MNU).

O termo “Consciência Negra”é uma referência e uma homenagem à cultura ancestral do povo de origem africana, que fora trazido a força e duramente escravizado por séculos no Brasil. A data escolhida significa o símbolo da luta, da resistência e a consciência de que a negritude não é inferior e que o negro tem seu valor e seu lugar na sociedade, como um misto de conscientização da importância do preto na sociedade, do reconhecimento do valor, da cultura e da luta de pessoas pretas contra o racismo.

“Zumbi dos Palmares” Foto/Imagem: Antônio Parreiras

Importância do mês da consciência negra

Além das questões que envolvem Zumbi e o Quilombo dos Palmares, o Dia da Consciência Negra é uma data significativa, pois traz à luz questões importantes: o racismo e a desigualdade da sociedade brasileira. O racismo está tão impregnado na cultura do brasileiro que até no vocabulário ele se manifesta. Expressões como “da cor do pecado”, “denegrir”, “mulato”, “cabelo ruim” (para se referir ao cabelo crespo), entre outras tantas, mostram claramente o racismo e surgiram do legado dos mais de 300 anos de escravidão no Brasil.

Vale lembrar que racismo é crime inafiançável e imprescritível, previsto na Lei nº. 7.716/89, com penas que podem variar de 1 a 5 anos. Há também a previsão no Código Penal da injúria racial, que consiste em ofender a honra de alguém se valendo de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem, e estabelece a pena de reclusão de um a três anos e multa.

A cultura religiosa originária dos negros africanos também sofre bastante com o preconceito no Brasil. Na década de 1930, as chamadas religiões de matriz africana eram proibidas no Brasi. Atualmente, apesar de a Constituição prever a liberdade religiosa, o que se vê em nosso país é que as religiões de matriz africana são intensamente perseguidas. Um fenômeno recente são as ações de vandalismo cometidas contra terreiros nos quais se praticam os encontros de umbanda e do candomblé.

“CÉSAIRE, Aimé (1913-2008)” Foto/Imagem: Biblioteca rebeldemule.org

Negritude e Literatura

Segundo o IMDSC (Media, Diversity and Social Change Institute), entre os 100 filmes com maior bilheteria em 2016, apenas 29% dos personagens eram negros. Uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) mostrou números alarmantes na literatura brasileira: 93,9% dos autores e 92,1% dos personagens são brancos. Essa porcentagem espanta, até porque 54% da população brasileira é declarada negra. Com um campo das artes dominado por obras produzidas por brancos, torna-se difícil o processo de empoderamento negro, uma vez que os negros acabam não tendo a devida representatividade na indústria cultural.

Apesar disso, podemos encontrar personalidades negras que ajudaram e ainda ajudam a mudar essa realidade, sendo nomes importantes quando se discute sobre identidade negra. Voltando para a história, como forma de trazer a riqueza da cultura africana para povo afrodescendente de países colonizados por europeus, e assim o empoderamento também, o poeta e escritor martinicano Aimé Césaire criou o termo negritude, que ao longo dos anos veio a se tornar uma corrente literária e movimento cultural.

Para marcar esta data, a Rádio e TV UNIFAP, indica obras clássicas e contemporâneas para compreender o porquê do Dia Nacional da Consciência Negra. Confira abaixo:

• Quarto de despejo – Carolina Maria de Jesus

• Clara dos Anjos – Lima Barreto

• Olhos d’água – Conceição Evaristo

• Negritude – Aimé Césaire

Colaboração de texto: Izabele Pereira (Bolsista de Extensão do Escritório Modelo/Rádio e TV UNIFAP, 2021)

Crônicas e Poemas: escritor Carlos Nilson lança, hoje (17), livro “Antologia e iconografia poética” na Biblioteca Pública Elcy Lacerda

O professor, artista plástico, poeta, escritor e imortal membro da Academia Amapaense de Letras (AAL), Carlos Nilson Costa, lançará, HOJE (17), às 19h, na Biblioteca Pública Elcy Lacerda, o seu primeiro livro, intitulado “Antologia e iconografia poética”. A obra contém parte da produção literária do autor. São poemas, contos e crônicas que falam sobre sua vida, seus amores, sua família e as recordações da Macapá de sua juventude.

A data do lançamento, organizado pela família do escritor, será o dia que o autor completa 80 anos de idade.

Carlos Nilson em Veneza (ITA) – 2014 – Foto encontrada no blog da Alcinéa.

Sobre o autor

O professor Carlos Nilson Costa nasceu em Monte Alegre (PA), no dia 17 de novembro de 1941, mas chegou ao Amapá ainda muito jovem e aqui estudou, constituiu a família e realizou seus projetos profissionais e pessoais. Artista plástico, poeta, professor e um admirável ser humano, Carlos Nilson é formado em Matemática e tem especialização em Planejamento. Foi Secretário Municipal de Educação de Macapá, Secretário de Estado da Educação e integrante do Conselho Estadual de Educação, dentre outras atividades que exerceu no serviço público com grande destaque, pela sua competência e dedicação, o que o coloca entre os mais notáveis educadores do nosso Estado.

Na imprensa publicou trabalhos nos jornais “Amapá”, “A Voz católica”, “A Fronteira”, “O Liberal” e “Jornal do Dia” e apresentou programas de música erudita nas rádios Difusora e Educadora.

Participou da antologia “Coletânea Amapaense”, de 1989.

Escritores e imortais da AAL Alcinéa Cavalcante e Carlos Nilson Costa, em frente ao também imortal da Academia, Fernando Canto. Foto: Aloisio Menescal – 2017

Serviço:

Lançamento do livro “Antologia e iconografia poética”, de Carlos Nilson Costa
Data: 17 de novembro de 2021 – Sexta-feira.
Horário: 19h
Local: Biblioteca Elcy Lacerda, que fica na Rua São José, 1800, centro de Macapá.
Entrada: franca.
Mais informações: 96-99177 1910 – (Regina Costa).

Carlos Nilson com meu livro nas mãos. Agradeço a moral. Foto: Carlos Nilson Júnior.

*Carlos Nilson foi amigo de meu falecido pai e também do meu saudoso tio Ita. Ele é pai dos amigos Carlos, Cláudio, Verê e Tainá, além de marido da querida Regina. Nas minhas mais antigas lembranças, recordo do professor, poeta e educador sempre coerente, muitíssimo inteligente e gentil. A ele, meus parabéns pelo conjunto da obra e pelo lançamento do livro  (Elton Tavares).

Elton Tavares, com informações do escritor Paulo Tarso Barros.

Um ano do apagão: Nunca vi uma noite como aquela. Nunca vivemos um período como aquele

Macapá na noite de terça-feira (3/11/2020) – Foto: Aog Rocha

Crônica de Elton Tavares

Eu nunca tinha visto/vivido uma noite como aquela. Parece que todos os raios do planeta caiam somente nesta cidade equatorial, nosso lugar no mundo. A tempestade era digna de um filme apocalíptico, raios e trovões que parecia que o céu estava desabando sobre nossas cabeças, algo surreal. E tudo isso dentro de uma crise pandêmica, pois há exatamente um ano, quando ocorreu o apagão no Amapá, a Covid-19 matava dezenas de pessoas por dia em nosso estado.

Sim, na noite de 3 de novembro de 2020, dos 16 municípios amapaenses 13 deles foram afetados com um apagão de energia elétrica, causado por uma pane em um transformador (o qual a concessionária amapaense não tinha equipamento reserva) que durou mais de 20 dias. Foi uma tragédia. Uma humilhação. Uma catástrofe sem precedentes.

Imagem: Fantástico/G1 Amapá

Teve fome, agonia, tristeza. Teve letargia no socorro que nunca chegava. Teve prejuízo, revolta, resignação. Teve protestos/guerra nas redes sociais e nas ruas. Teve solidariedade, teve descrédito e pouca esperança. Teve medo. Teve pessoas assistindo a tudo sem fazer nada. Uns por egoísmo, outros por conveniência. Teve desespero!

Com o apagão, vivemos as crises sanitária e energética aterrorizantes. O Governo Federal demorou a nos ajudar, mesmo com o esforço mútuo de instituições e parlamentares locais. Foram muitos os heróis conhecidos e anônimos que ajudaram pessoas naqueles dias sombrios com distribuição de milhares de cestas básicas em comunidades e periferias nas cidades tomadas pela escuridão. O esforço dessas pessoas foi crucial para colocar comida na mesa de famílias cuja renda foi ceifada pela pandemia e falta de energia.

Imagem: Fantástico/G1 Amapá

Teve um rodízio de energia desleal. Dividida em dois turnos – de 0h às 6h e 12h às 18h ou de 6h às 12h e 18h às 0h – a retomada parcial do serviço, prevista para durar uma semana, se estendeu por quase um mês e impôs todo tipo de limitações aos amapaenses. Aliás, passamos de todos os limites naquela época tenebrosa.

A interrupção no fornecimento de energia elétrica no Amapá já se estendeu por 22 dias (oscilando entre blecautes, racionamentos e rodízios de energia), sendo que os efeitos danosos deste “apagão” foi uma tristeza difícil de contar em apenas uma crônica. Aquela loucura foi o maior e mais prolongado apagão na história do país.

Sim, foi em novembro de 2020 que o mundo acabou para muitos. Ultrapassamos a linha e o Amapá se viu dentro de um abismo escuro. O que a vida reservou pra gente, hein? O único aprendizado na dor enquanto aqueles dias se arrastaram, cheios de perdas, revolta e notícias tristes, foi sermos solidários. Pelo menos foi o que aprendi.

Um dia, após a Covid-19 ser erradicada de vez, talvez eu escreva um livro com o título: “Depois do Fim do Mundo – Uma crônica para sobreviventes”.

Apesar do melancólico e inimaginável período, seguimos iluminados pelo dom da vida. Espero que não, sinceramente, não tenhamos que viver aquilo nunca mais. Pois é triste lembrar. Uma pena que tenha sido assim!

*Revisão e edição da amiga jornalista Gilvana Santos.

Novo livro de Fernando Canto será lançado nesta sexta-feira (29): “Novas vertentes da Fortaleza de São José de Macapá” – Por Sônia Canto (@soniacanto)

Por Sônia Canto

Mais uma obra de Fernando Canto será apresentada ao público nesta sexta-feira, 29/10. Trata-se do livro “Fortaleza de São José de Macapá: Vertentes Discursivas e as Cartas Dos Construtores”, Edições Senado Federal, v. 293. É a 16ª publicação de diferentes gêneros literários, entre contos, poesia, ensaios, crônicas, dissertação de mestrado e tese de doutorado.

Desde “Os Periquitos Comem Mangas na Avenida” (DIO/AP, 1984), Fernando Canto trabalha sua verve literária no sentido de contribuir para a cultura amapaense. Alcy Araújo, prefaciador do livro ali expressou:

“A poesia de Fernando Canto escoa como um rio. Tem curvas, encontros, remansos, pororocas. Tem mistura de liamba, peixes, danças negreiras e segredos ameríndios que se mesclam com a paisagem urbana, cimentada pelos que chegaram depois com suas máquinas e ferramentas para modificar a geografia há milênios inconclusa, implantada por Deus. Um Deus que se esqueceu ou se cansou no sexto dia. (Alcy Araújo – Prefácio).

Fernando, nesta obra que apresentará ao público, escoará pelo rio não só a poesia que o permeia, mas a necessidade visceral que o acompanha desde a infância, de compreender e compartilhar seus escritos sobre a representatividade da Fortaleza de São José de Macapá para a formação da identidade do povo amapaense.

Escritor Fernando Canto – Foto: divulgação

Esta necessidade e curiosidade o levou a contratar, em 1996 o paleógrafo Luiz Carlos Lima Júnior para coligir o maior número de documentos sobre a construção da Fortaleza.

Sobre a pesquisa, inserta na presente obra, Fernando Canto, generoso, pontua:

“Na época eu tinha a intenção de usá-los como informações para a escritura de um romance histórico. Entretanto, vieram a ser utilizados mais tarde para subsidiar minha dissertação de mestrado (UNIFAP) e minha tese de doutorado (UFC).

Agora os entrego aos pesquisadores para que possam deles fazer uso como referência, já que utilizei menos de 10% do total em meus trabalhos acadêmicos. Com isso estou certo de que terão relevância nas mãos dos historiadores, sociólogos, geógrafos e demais interessados que poderão imergir cientificamente no tempo e no contexto da construção da Fortaleza de São José de Macapá.” (Pag. 205)

Para Fernando, há uma simbologia iminente na própria estrutura física da Fortaleza que vai além dos limites de uma simples construção. Emerge como a gênese da ocupação territorial da cidade e representa no imaginário da população a consolidação do desenvolvimento regional através da cultura, do turismo e da história, com a elevação consequente da autoestima dos cidadãos amapaenses.

Escritor Fernando Canto com seu novo livro nas mãos – Foto: Sônia Canto

Para Fernando, a Fortaleza de São José de Macapá:

“Embora tenha perdido o vínculo com as permanências, que vivem apenas na lembrança dos poetas, escritores, artistas, moradores antigos da área, ribeirinhos e canoeiros, ela (e sua imagem) tem uma representação simbólica muito elevada, porque é referência em todos os planos de desenvolvimento urbano. Neles, é para a fortaleza que todas as setas se dirigem, como se ela fosse o coração da cidade e marca indelével de toda a sua estrutura urbana. Por isso mesmo deve-se pensar o planejamento urbano considerando as diferentes formas de compreender o espaço. Observar sua imagem externa é uma delas.” (Pag. 128)

Por tudo o que foi explanado, esta obra é um marco na literatura amapaense, pois traz em seu bojo, conceitos, contextos e embasamentos para estudos posteriores sobre a Fortaleza que está ali, estática, preservada, de frente para Rio Amazonas, no aguardo de outras mentes que complementem e aprofundem outros aspectos sobre a importância do monumento. Mentes como a do Senador Randolfe Rodrigues, que, sensibilizado com o conteúdo e importância da obra, abraçou o projeto de publicação e assim se reportou na apresentação:

Ao nos resgatar para o universo da memória, lugar de inclusão e reconhecimento de todas as narrativas – Mimesis –, Fernando Canto ilumina caminhos e restitui os sentidos de pertencimento que podem nos fazer, no futuro, uma sociedade mais coesa e mais justa. (Randolfe Rodrigues, Senador pelo Estado do Amapá).

Seguramente são vertentes antigas e contemporâneas – uma contribuição de peso – que correm para um desaguadouro de novas perspectivas para a pesquisa acadêmica do Amapá.

Convido, então, todos para abrilhantar o lançamento desta grande obra de Fernando Canto que acontecerá no dia 29/10, sexta-feira, no Auditório do Museu Sacaca, a partir das 18h, com a presença do senador Randolfe Rodrigues.

*Sônia Canto é produtora cultural.

Fenando Canto lança o livro “Fortaleza de São José de Macapá: vertentes discursivas e as cartas dos construtores”.

Na próxima sexta-feira (29), às 18h, no Museu Sacaca, o escritor amapaense Fernando Canto fará o lançamento do seu mais novo livro “Fortaleza de São José de Macapá: vertentes discursivas e as cartas dos construtores”. O livro foi incentivado pelo senador Randolfe Rodrigues por meio da Editora do Senado.

“A publicação desta obra é fundamental para a manutenção da nossa memória, como professor de história acredito cumprir meu dever, contribuindo o contato do povo amapaense com essa obra ”, disse o parlamentar que possibilitou a existência do livro.

No livro, o escritor traz a Fortaleza de São José de Macapá vista na extensão da paisagem urbana, conta que lá foi o palco das explosões emocionais daqueles que a fizeram. “A Fortaleza ficou quase dois séculos intata, sobrevivendo aos rigores das condições climáticas amazônicas até sofrer radicais transformações e reformas na sua estrutura de pedra e no entorno”, afirma no livro. “Imprimir esse livro e poder dividir com o povo macapaense é sem dúvida um marco na nossa história”, explica o escritor.

Com o apoio do senador Randolfe Rodrigues, por meio da editoria do Senado Federal, também já foram impressas as seguintes obras, contidas e lançadas recentemente no box de livros “Amapá: história, imagens e mitos”:

Os Selos Postais da República do Cunani (Wolfgang Baldus)

Amapá à francesa (Pauliany Barreiros Cardoso)

Mitos e Lendas do Amapá (Joseli Dias)

Um Cais que Abriga Histórias de Vida ( Verônica Xavier)

Histórias de Oiapoque (Sonia Zaghetto)

Escritor Fernando Canto – Foto: divulgação

Sobre o autor

Fernando Canto nasceu em Óbidos (PA), mas é amapaense de coração. Já publicou livros de contos, poesia, crônicas, artigos e outros textos acadêmicos, é jornalista, sociólogo da Universidade Federal do Amapá (Unifap) e doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Também é um dos compositores mais atuantes do estado, sendo membro fundador do Grupo Musical Pilão, que há mais de 40 anos divulga a música da Amazônia.

É vencedor de festivais de música e premiado escritor literário. É autor dos livros “O Bálsamo e outros contos insanos”,  “O Marabaixo através da história”, “Os periquitos comem manga na avenida” e “Adoradores do sol – novo textuário do meio do mundo” e “Mama Guga – Contos da Amazônia”.

Assessoria de comunicação do senador Randolfe Rodrigues

Conselho Universitário da Unifap concede título de Doutor Honoris Causa ao Mestre Sacaca, o Dotô da Floresta

Sacaca – Foto: Divulgação

O Conselho Universitário da Universidade Federal do Amapá (Unifap) aprovou, por unanimidade, a concessão do título de Doutor Honoris Causa, post mortem (após a morte), a Raimundo Souza, o Sacaca.

Doutor Honoris Causa é um título concedido por universidades a pessoas que tenham graduação ou não por se destacarem em alguma área de conhecimento. Em Novembro de 2018, ele foi condecorado pela Divine Academie Française des Arts Lettre et Culture por seus serviços prestados à comunidade científica nacional e internacional.

Estátua de Sacaca no Museu homônimo a ele – Foto: Divulgação

Com seu conhecimento profundo e extenso sobre as plantas medicinais amazônicas e aplicação magistral da fitoterapia nativa, Mestre Sacaca recebe o devido reconhecimento, e seu legado se faz presente em toda comunidade científica e coração amapaense . A cerimônia de outorga que oficializará o título ainda não tem data marcada, mas o processo já está em fase de conclusão.

Doutor da medicina tradicional da Amazônia

Nascido em 21 de agosto de 1926, em Macapá, o futuro Doutor Honoris Causa Mestre Sacaca, homenageado com Lúcio Flávio Pinto, ficou internacionalmente conhecido por usar conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais para tratar males e curar doenças. Em novembro de 2018, foi condecorado pela Divine Academie Française des Arts Lettres et Culture com o título Póstumo e Honorífico, uma das mais altas insígnias da instituição pelos relevantes serviços prestados à Humanidade

Mestre Sacaca — Foto do Blog Porta Retrato do Amapá

Mestre Sacaca também era envolvido com o cenário cultural do Amapá. Ele foi o primeiro rei Momo de Macapá. Além disso, inspirou várias pessoas no estado como cantores e escritores. Para a nossa felicidade, em 2017, o Boi Garantido de Parintins fez uma homenagem a ele como o ‘Caboco Sacaca’, e venceu o Festival de Parintins naquele ano.

A notoriedade do curador também motivou a criação do Museu Mestre Sacaca, na capital do estado amapaense, que abriga mostras sobre o modo de vida de comunidades tradicionais da Amazônia no Amapá e pesquisas sobre a produção de medicamentos fitoterápicos. O conhecimento do Mestre Sacaca veio da convivência com ribeirinhos, de pessoas que vivem na floresta e que vivem do que a floresta dá, como os peixes, os saberes tradicionais e o modo de vida tradicional. São pessoas que usam os rios como um organismo vivo. A mata ao redor do rio é a fonte de soluções.

Estátua do Mestre Sacaca em Macapá (Foto: Governo do Amapá)

Mestre Sacaca popularizou os conhecimentos sobre a medicina da floresta amazônica na década de 1990 como radialista da Rádio Difusora de Macapá no programa “A Hora do Campo”. Ele também publicou três livros sobre o assunto. Ele foi casado com a primeira miss Amapá, Madalena Souza, com quem teve 14 filhos, e morreu em 1999.

O título de Doutor Honoris Causa é concedido por universidades a personalidades que tenham se distinguido pelo saber e pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos.

Fontes: Repiquete no Meio do Mundo

& Amazônia Real