Viagem para mudar – Crônica paid’égua de Fernando Canto sobre o ano novo

Crônica de Fernando Canto

Na cachaça do ano novo é muito comum fazermos resoluções e promessas de mudança no comportamento, no trabalho e nas relações sociais. Planejamos novas ações e juramos mudar, custe o que custar. E temos poder para isso. Se quisermos mudar para melhor porque não tentar? O problema é sair da nossa zona de conforto e experimentar algo que pode ser ruim ou bom. No entanto resistimos às mudanças.

Um famoso psiquiatra austríaco, Viktor Franki, disse que a coisa mais importante que a psicologia pode e deve fazer é nos impressionar com nossos próprios poderes, principalmente nosso poder de mudar e crescer. Porém não é sempre que nos esforçamos se estamos no nosso conforto e nem sempre desejamos mergulhar em águas desconhecidas, correr esses riscos…

Assistindo ao mundo em movimento é que podemos perceber que estamos indo junto com ele, em uma viagem sem volta, num trem galáctico, rumo às estrelas do infinito. Daí é possível entender que consciente ou inconscientemente somos empurrados a estados e condições diversos, pois os processos de mudança são inexoráveis e inerentes à dinâmica da vida. E assim também as organizações sociais.

Desta forma, ao pensarmos as mudanças que querermos por necessidade, certamente tomamos consciência dos eventos a nossa volta e seus efeitos em relação às nossas escolhas. E é então que alimentamos nossas expectativas sobre a nossa atuação no passado recente. Nessa expectativa é melhor fazer um sobrevoo sobre nós mesmos e olhar os sinais e sintomas de mudança que precisamos, para que possamos mudar.

Lá fora nossas esperanças ainda não morreram. Há sinais de troca e de mudanças estruturais. Novos sonhos são acalentados diariamente pelas pessoas e muitas delas que exercem ou que exercerão cargos de decisão indubitavelmente terão de fazer surgir, pelo trabalho, mudanças em todos os níveis, que serão acompanhadas pelas pessoas que os escolheram numa dialética constante, praticada cotidianamente, principalmente pela imprensa

Transformar, modificar, revolucionar não é apenas mais uma necessidade dos seres humanos. As organizações aprendem muito rapidamente que suas fronteiras mudam a cada minuto, e por isso se voltam para o enfrentamento de novos desafios e buscam nos seus servidores graus maiores de eficiência que podem evoluir e acompanhar suas novas necessidades com pragmatismo e equilíbrio. No entanto nem sempre os debates, cursos, palestras e ensinamentos sensibilizam os atores sociais, notadamente no serviço público, onde se percebe claramente que a empolgação das pessoas é efêmera, e que elas oferecem mais suas próprias críticas e medos que suas habilidades, conhecimentos e capacidades analíticas. Quase em nada contribuem para a totalidade e missão das instituições pelo conformismo e conforto que estão aninhadas com suas limitações em se adaptarem às novas tecnologias, na tensão infindável da luta diária.

Nem tudo, porém, está perdido. Apesar de sempre haver resistência ao novo, a História está aí para dar seu testemunho de sucesso àqueles que ousaram acreditar em si mesmos e conseguiram mudar o mundo. Para transformar, e para transformar-se é necessário ter suporte emocional e equilíbrio, algo que estabeleça a harmonia e desperte o potencial interior que todos os seres humanos possuem para mudar.

Nesse sentido podemos aprender que falar em mudança não requer se basear em livros de auto-ajuda, nem sequer na espiritualidade. Na viagem do trem rumo às estrelas começamos a nos conscientizar dos impactos que causamos quando decidimos fazer mudanças e o que elas provocam nas dimensões físicas de um órgão ou nos conteúdos culturais das pessoas e nas suas emoções.

(*) Publicado no Jornal do Dia em dezembro de 2008.

10 dias na estrada pelo Norte da América do Sul – Uma expedição musical pela Guiana Francesa e Suriname – Por Clicia Vieira Di Miceli

Pé na estrada! Joãozinho Gomes, Dante Ozzetti, Patricia Bastos, Nilson Chaves e Enrico Di Miceli a caminho do município de Oiapoque

Por Clicia Vieira Di Miceli

Aquilo que seria uma viagem a trabalho para um show na Guiana Francesa se tornou uma incursão cultural com destaque para a original música tocada, cantada e dançada ali no topo da América do Sul – Guiana Francesa e Suriname. Saímos de Macapá dia 2 de agosto, para uma viagem de 10 dias.

Mais que um meio de transporte, a van carregou a nossa disposição e a felicidade de estarmos juntos na estrada.

Percorremos o trecho até o Oiapoque em 8h e foram necessários mais 3h para chegarmos em Caiena, totalizando 11h de viagem por via terrestre da capital do Amapá até a capital da Guiana Francesa.

Uma foto clássica, registro de quem já está perto de chegar na fronteira Brasil – Guiana Francesa

O trajeto entre Caiena e Paramaribo também foram percorridos de maneira intercalada. Fizemos a rota entre as duas capitais em aproximadamente 6 horas, sendo 1h até Kourou, mais 3h até St Laurent du Maroni e quase 2h até a capital do Suriname.

Passamos um pouco mais de uma semana viajando entre um lugar e outro, que pela intensidade e riqueza do que vivemos, nos causou a sensação de estarmos bem mais dias juntos.

A placa marca a entrada no território francês; ao fundo, o ponto de controle de entrada e saída de pessoas e veículos.

Pegamos a estrada em uma van que nos acompanhou até o final do percurso, um carro que não servia somente para nos transportar entre os destinos, mas um importante ponto de apoio e onde longas conversas foram travadas, muitas horas de músicas foram ouvidas e projetos futuros foram desenhados.

Os artistas Dante Ozzetti, Patricia Bastos, Michaëlle Ngo Yamb Negan, Enrico Di Miceli e Nilson Chaves no palco do Complexo Eldorado.

O repertório da playlist foi variado, mas algumas músicas marcaram o roteiro que fizemos e se tornaram trilhas da viagem – uma em especial e que, mesmo discordando do letrista, que diz que “Caiena é tão perto daqui quando penso na estrada…”, sem titubear, a música “De Macapá a Cayenne”, dos compositores Joãozinho Gomes e Zé Miguel foi a escolhida por aclamação popular, sentimental e física a Número 1 da viagem.

Visita da cantora Clara Nugente, que também esteve no show dos artistas brasileiros na noite de 03 de agosto no complexo Eldorado.

No total, éramos sete pessoas: a cantora Patricia Bastos, os compositores Nilson Chaves, Enrico Di Miceli, Joãozinho Gomes, Dante Ozzetti, Clicia Vieira Di Miceli e o motorista, comandante da Nave da constelação de parentes, Jerre Lews, carinhosamente chamado de Velho Lobo.

Na esquerda, Marie-Françoise Pindard, pesquisadora dos ritmos tradicionais crioulos da Guiana Francesa, recebendo o Amazônia Orbita, trabalho instrumental de Dante Ozzetti, resultado de uma pesquisa sobre os ritmos da Amazônia brasileira. Ambos estudiosos dessa musicalidade regional. Na foto do centro, a produtora Andressa Duvigneau, que esteve em vários momentos da viagem e nos acompanhou na visita ao grupo Os Anciãos de Kourou. Na direita, o produtor Lívio de Sá, no dia seguinte ao show, mostrando a cidade de Caiena aos artistas.

Nossa primeira parada programada foi em Oiapoque, onde o Nilson Chaves tinha um show agendado e com muito prazer curtimos a noite da cidade, que, para a maioria, era a primeira visita ao município.

Na catraia do rio Oiapoque

No dia seguinte, antes de seguirmos para Caiena, navegamos de catraia pelo rio Oiapoque, fomos na Grand Roche nas proximidades de Clevelândia do Norte até a cidade de Saint-Georges de L’Oyapock para apresentar a nossa fronteira brasileira com o território francês.

Apresentação da etnia Kali’na. O que marca sua identidade musical é o tambor Sampula, instrumento nos rituais de canto e dança desse grupo.
Enrico Di Miceli, Patricia Bastos e Joãozinho Gomes no Centro Espacial de Kourou, uma das bases de lançamento da Agencia Espacial Européia.
Com as “parentas” na Jornada internacional dos povos autóctones- Caiena/2019.

Atravessamos a ponte sobre o rio Oiapoque às 15h do sábado, dia 03, e aqui vale o registro de que nos beneficiamos do primeiro final de semana da abertura da ponte Binacional, que até a presente data abria na segunda-feira em horário comercial e fechava definitivamente ao meio dia do sábado, reabrindo novamente somente no início da semana seguinte.

Passado o ponto de controle para apresentação dos passaportes e o obrigatório visto de entrada na Guiana Francesa, pegamos a sinuosa estrada que nos leva até Caiena, nosso próximo destino.

Compositor e arranjador Dante Ozzetti participando de um ritual de purificação espiritual, recebendo o cigarro da mão do cacique para a autodefumação.

Quem nos levou à Guiana Francesa foi a música, através de um show que fechamos com o produtor Lívio de Sá para uma apresentação coletiva de Nilson Chaves, Enrico Di Miceli, Patricia Bastos e Dante Ozzetti, através do projeto Ponte Cultural Amapá-Guiana, que aconteceu no Complexo Eldorado, nas imediações da Place des Palmistes, coração da cidade e ponto de muitas manifestações culturais.

O cantor e compositor Nilson Chaves e a cantora Patricia Bastos apreciando a arte urbana de valorização da música tradicional crioula.

O show teve a participação da flautista Michaëlle Ngo Yamb Negan e recebeu uma plateia composta por guianenses, franceses metropolitanos e brasileiros nortistas imensamente saudosos por seus estados, mas ali afagados pelo repertório de canções que retratam nossa vida na Amazônia brasileira, e marcados pelos ritmos do marabaixo, do batuque e do carimbó.

Na esquerda, Joãozinho Gomes, Dante Ozzetti e Enrico Di Miceli, aguardando uma iguaria em um restaurante tipicamente crioulo. Na direita, compositor Enrico Di Miceli na cidade de Caiena, com destaque para a arquitetura crioula, que é marcante nessa coletividade territorial francesa.

Fechamos aquela noite felizes da vida e já querendo concordar com o poeta que diz que “Caiena é tão perto daqui”. Sim, somos separados por quase 800 Km de estrada e ligados por uma ponte Binacional e pelo belo rio Oiapoque.

Dante Ozzetti, Joãozinho Gomes, Patricia Bastos e Enrico Di Miceli acompanhados do tamboreiro Antoine Villageos, que nos apresentou a matriarca de um dos grupos mais tradicionais do Grajé de Kourou, a senhora Rosiette Fauvette. Destaque para os tambores circulares do Grajé, e para o tecido Madras no quadriculado da camisa, no vestido e acessório de cabeça chamado La Chat, isso tudo compõe a identidade visual da tradição crioula da Guiana Francesa.

São 590km até o município de Oiapoque, sendo 111km sem asfalto e mais 190 km até a capital da Guiana Francesa, somados a algumas dificuldades burocráticas que nos distanciam de nossos vizinhos franceses. Mas, ao fazermos esse encontro musical com artistas, pesquisadores e produtores locais, as nossas afinidades regionais foram afloradas e passamos a nos sentir “em casa”, sobretudo quando sonhamos conjuntamente a construção e afirmação de uma identidade amazônida que tem como base os nossos tambores, o nosso DNA indígena, a mistura crioula e um sotaque de línguas latinas que entrecruzam o português e o francês nessa fronteira cortada por rios e por uma costa atlântica que nos interliga ao mar do Caribe e às pequenas e grandes Antilhas, ilhas que permeiam nosso imaginário musical como Martinica, Guadalupe, Cuba, Jamaica e Haiti.

Apresentação de um grupo de Kasékò, formado por 4 tocadores, sendo três tambores Kasékò (barril de vinho) que possuem funções diferentes na execução do ritmo e um tibwa. Da direita para a esquerda: Plonbé – tambor de acompanhamento, emite o som grave,Koupé – tambor para os solos e improvisações, Foulé – tambor de acompanhamento, emite o som médio e o Tibwa – instrumento fundamental para a execução do ritmo Kasékò, funciona como metrônomo e os tambores seguem a sua pulsação

A Guiana Francesa é muito especial: possui uma diversificada cultura pela história de migração que viveu a partir da década de 1960 com a construção do Centro Espacial Guianense – CSG, na cidade de Kourou. A busca por salários pagos em Franco, hoje Euro, o sonho do ouro e a qualidade de vida com padrões europeus estimulou a ida de muita gente para lá e transformou aquele lugar em um caldeirão cultural composto por brasileiros, chineses, haitianos, hmongs, surinameses, dominicanos e outros tantos grupos que transformaram a Guiana Francesa em um território multicultural. Mas com tudo isso, nada é tão forte, belo e instigante quanto a original cultura franco-guianense dividida entre ameríndia, crioula e bushnengé.

Cantora Patricia Bastos e Clicia Vieira Di Miceli com o adereço Kanmiza, aprendendo os passos do Kasékò com a Dra. em Etnomusicologia, Marie-Françpoise Pindard

Um portal que nos desloca de uma parte da União Europeia e da tecnologia espacial para um universo sonoro dos tambores e das maracas, dos dialetos, da culinária, da vestimenta e da arquitetura peculiar, uma Amazônia profunda que vai além dos manjados e estereotipados cartões postais.

A música tribal dos Bushinengé.

Os Ameríndios:

As comunidades indígenas e suas tradições estão na pauta do dia com suas manifestações salvaguardada na Guiana Francesa, através de políticas de valorização dedicadas a celebrar a cultura de seus primeiros povos, a exemplo do evento de que participamos em praça pública – 9° Jornada internacional dos povos autóctones – com a participação dos 6 povos nativos: Kalina, Lokono, Palikur, Teko, Wayãpi e Wayana, alguns desses também presentes em território brasileiro, no estado do Amapá, a exemplo dos Palikur e Wayãpi.

Dante Ozzetti em uma vila Saramká, a caminho de St Laurent du Maroni, com destaque para a arquitetura e a pequena Bushinengé.

Os Crioulos ou mestiços:

A cultura crioula da Guiana Francesa é fruto da mestiçagem e da herança do período da colonização que iniciou no século XVII e tem como base o francês, mas que se misturou com indígenas e africanos. O termo “crioulo” é utilizado para identificar uma língua e um povo, e a partir desse conjunto de identidades se percebe de maneira marcante a arquitetura, juntamente com a culinária, a vestimenta e a música que facilmente é ouvida na capital e nas demais cidades. A música crioula possui 7 ritmos de base (Grajé, Kanmougwé Léròl, Débòt, Béliya, Grajévals e Kasékò) tocados em tambores específicos dessa tradição. O Grajé é tocado no tambor Grajé, o Kanmougwé nos tambores Yongwé, e os demais ritmos nos tambores feitos de barril de vinho, chamados de tambor Kasékò. Já o ritmo Léròl, além dos tambores, utiliza o Chachá, um tipo de maraca da tradição indígena.

Patricia Bastos e os Saramaká.

Os Bushnengé:

Outro marcante traço da tradição franco-guianense é o povo bushnengé (businenge) também chamados de noir-marron. São descendentes de africanos que foram escravizados pelos holandeses colonizadores do Suriname entre os séculos XVII e XVIII. Fugindo da escravidão em direção das matas às margens do Maroni, rio da fronteira do Suriname com a Guiana Francesa, reproduziram seu estilo de vida tribal e foram se adaptando à vida amazônica. Os Bushinengé possuem características específicas e são organizados socialmente com culinária, língua, arquitetura, embarcação, traço iconográfico, vestimenta, dança, ritmos e instrumentos próprios. Embora pareçam uma única etnia, são divididos em 6 grupos: Saramakà, Paramakà, Matawaï, Kwinti, Aluku (Boni) e Djuka.

Momento de estase musical com amigos que conhecemos na noite de St Laurent du Maroni. Todos Bushinengé, a maioria músicos e exímios dançarinos.

Após nossa estada em Caiena e Kourou, seguimos para a terra dos Bushinengué, Saint Laurente du Maroni, última cidade franco-guianense antes de entrarmos no Suriname. Atravessamos o rio Maroni até a cidade de Albina e de lá seguimos de carro para Paramaribo, capital do Suriname, a ex-colônia holandesa que se tornou um país independente em 1975, o último da América do Sul a se descolonizar de um país europeu. É um país muito novo comparado às demais nações do continente e possui uma população composta por índios, descendentes de africanos, indianos, javaneses e brasileiros, que o torna uma nação culturalmente bem diferente quando comparada às particularidades históricas dos demais países da América do Sul que foram colonizados por portugueses ou espanhóis. Essa multiculturalidade se reflete na língua que oficialmente é o holandês, mas possui um dialeto local – o crioulo surinamense ou Sranantongo – popularmente chamado de taki taki.

Enrico Di Miceli, Patricia Bastos e Joãozinho Gomes no Centro Espacial de Kourou, uma das bases de lançamento da Agencia Espacial Européia.

Uma diversidade de traços físicos do povo, na marcante arquitetura dos casarões de herança da colonização holandesa, nos templos hindus, nas mesquitas, nas sinagogas, na diversidade encontrada na música e nas inúmeras possibilidades gastronômicas do país nos revelam uma abundante riqueza cultural, o traço mais forte desse país.

Enrico Di Miceli e um Bushinengé, acertando a nossa travessia para o Suriname que aparece ao fundo, cidade de Albina. Essas embarcações são as pirogues bushinengé, através das quais o vai-e-vem dessa fronteira se desenha; elas transportam a população e os produtos que circulam entre a Guiana Francesa e o Suriname

A partir de Paramaribo, iniciamos o nosso percurso de volta a Macapá. No retorno, paramos em Kourou (Guiana Francesa) para conhecermos a Íle du Salut (Ilhas da Salvação), um arquipélago composto pelas Íle du Diable, Íle Royale e a Íle Saint-Joseph, que abrigou o mais rigoroso complexo penal francês, criado no século XIX e desativado na década de 1940.

Na imagem acima, a ruas de Paramaribo com o colorido dos transportes públicos, nos fazendo lembrar que o caribe tá bem perto da gente. Embaixo, na esquerda, Patricia Bastos, Enrico Di Miceli e Joãozinho Gomes em visita ao Forte Zeelandia, erguido no século XVII em Paramaribo. Hoje funciona como museu e guarda parte da história do pais. E, abaixo, na direita, um registro dos pequenos estudantes que demostram a sociedade multiétinica que é o Suriname: Indianos, javanes e o crioulo surinamense.

Nossa viagem até as ilhas foi em um pequeno barco a motor e durou 30 minutos, o que nos levou ao encontro da memória e das ruínas de um dos episódios mais conhecidos da antiga colônia francesa, que inspirou o livro Pappillon de Henri Charrière, posteriormente adaptado para o cinema e que ainda povoa de forma mítica a nossa imaginação.

Na esquerda, a diversidade religiosa é uma das marcas culturais do Suriname como demostra esse conjunto de imagens de um templo hindu na capital Paramaribo. Na direita, Dante Ozzetti, Enrico Di Miceli, Patricia Bastos e Joãozinho Gomes entrando na Ilha Real.

A única ilha aberta à visitação é a ilha Real, que hoje abriga uma estrutura de hotelaria e restaurantes. O lugar paradisíaco recebe muitos turistas que buscam o contato com a história e as belezas naturais do lugar. A ilha do Diabo e a São José, fechadas à visitação, podem ser observadas do próprio barco ou de vários pontos da ilha Real.

Na esquerda, Clicia Vieira Di Miceli e Patricia Bastos em uma das edificações administrativa da antiga prisão. Na direita, Dante Ozzetti e Enrico Di Miceli visitando as ruinas das celas de detenção

Com um banho de mar nas ilhas de Salut, começamos a nos despedir daqueles dias especiais divididos entre a amizade, a música, a estrada, a comida crioula, a culinária asiática, o vinho francês, a cerveja surinamesa Parbo, as novas aquisições de Cds, os encontros no café da manhã, os planos traçados para o dia, o cansaço superado pela curiosidade de conhecer mais coisas, as mímicas pra ajudar na comunicação quando a língua falhava, a pimenta que nos pegava de surpresa, o bami, o poulet fumé, as pirogues, os sons dos variados tambores, a primeira audições do Todo Música, a audição das faixas mixadas do Timbres e Temperos e aquela emoção coletiva ao ouvirmos a Chiquinha é Chique, as incontáveis piadas e o nosso rico vocabulário de expressões renovadíssimos.

Joãozinho Gomes, da Ilha Real, avistando a Ilha do Diabo.

Viajar pela Guiana Francesa e o Suriname foi especial. Lugares que nos permitem estabelecer a interface da Amazônia com o Caribe e a União Européia.

Sempre motivados pela música, essa foto representa as muitas coisas bacanas que vivemos na Van. Esse sorriso geral é após a primeira audição do CD Todo Música do Enrico Di Miceli, que chegou da fábrica às vésperas da viagem e que rolou muito durante as horas de estrada.

Viajamos quase 3 mil km de estrada no trajeto Macapá/Oiapoque/St Georges/Caiena/ Kourou/Saint Laurent/ Paramaribo, e retornamos “no mesmo pé” até chegarmos ao nosso ponto de partida com a bagagem cheia de coisinhas legais, incluindo ritmos, projetos musicais e a amizade alimentada por um emaranhado de lindos momentos que vivemos.

Patricia Bastos na viagem de volta, cheia de história pra contar e toda trabalhada no Madras

Texto e Fotografia: Clicia Vieira Di Miceli
Clicia é produtora cultural, geógrafa e mestra em Estudos de Fronteira.

*Escrito em agosto e publicado somente em dezembro de 2019 por falta de tempo para revisar o texto e selecionar as fotos.

Poema de agora: PRECE – Ori Fonseca

PRECE

Ó Deus, tira-me a mente
Para que eu te creia
Cega-me os olhos
Para que eu não veja
Corta-me as pernas
Pra que eu não me mova.
Sem isso, Pai,
Continuarei a pensar e duvidar
Continuarei a ver teus filhos abandonados
À miséria, à escravidão, ao terror de tiranos
Continuarei a caminhar em busca da verdade
Longe de tuas linhas tortas.

Senhor, desfaze-me, te peço
Não sou digno de mentir contigo
Não sei contar tuas histórias falsas
Não quero iludir com tua Palavra.

Tua Luz é fria para mim
Tua Luz é cega
Tua Luz não guia
Tua Luz não brilha
Tira-me o ar, Criador
Senhor da minha dúvida
Pai absoluto da minha certeza.

E perdoa-me, te peço
Por muitos que humilham te louvando
Por tantos que ferem em teu nome
Por todos os que matam te clamando
Não sabem eles, teus filhos órfãos, que não sabes nada.

Por fim, deixa-me em paz, ó Pai
Por ti houve fogueiras de gente
Houve guerras sangrentas
Houve gritos de horrores
Houve descaminho, mentira e morte
Houve outros deuses amparados em ti.

Dá-me o sono tranquilo da tua inexistência.

Amém!

Ori Fonseca

Carta ao Editor – por Angela de Carvalho

Querido editor José Xavier Cortez, escrevo esta carta para lhe contar a minha história de dois anos de Pescador de Sonhos.

Saí da gráfica em 17 de novembro de 2017 e hoje, 19 de dezembro de 2019, me dou conta que já tenho dois anos de “vida própria”, circulando pelas mãos de gente de vários cantos, principalmente mãos de crianças.

Minha primeira edição foi de 3.000 exemplares e por ser uma edição especial de “Venda Proibida”, tive o privilégio de esgotar rapidinho, pois todos me queriam e me recebiam com alegria.

Nas margens do Amazonas, foi onde tive meu primeiro contato com “O público”, na Guarderias da Amazônia, lugar de encontro de velejadores. Sentir aquele vento do rio em minhas páginas, foi um verdadeiro “batismo”. Assim foi que segui, sendo distribuído em praças, rodas de contação de histórias e diversos eventos literários. Estive no encontro do Selo Unicef-AP, e por isso ainda em dezembro/2017 embarquei em viagens por todos os municípios do Estado do Amapá. Foi também em 2017, meu primeiro Natal Encantado pelo Projeto Cangapé, para crianças do bairro Aturiá no Araxá.

Cheguei em muitos lares através das mãos de trabalhadores de várias profissões: embaladores de supermercados, garis, domésticas, bibliotecários, e principalmente professores. Em uma Jornada Pedagógica, do município de Macapá, eu era exemplar presente em cada uma das pastas distribuídas aos mil participantes. A roda de leitura em janeiro de 2018, no Raízes do Bolão – Curiaú com os meninos e meninas que festejaram o aniversário da dona Esmeraldina, também foi um dia inesquecível para mim

Emocionante foi o dia em que embarquei nos barcos ancoradas no Canal do Jandiá, ali no antigo Igarapé das Mulheres. E o coração bateu forte, nas ilhas do Arquipélago do Bailique. Delícia maior desse mundo, me sentir abraçado pelas crianças sentadinhas nas montarias – igual a canoa dos meus pequenos pescadores. Eram todo cuidados, para eu não me molhar.. Sim! É de barco que vou para Santarém, em deliciosa viagem, na sacola de presentes @debubuianaleitura, nas festas de final de ano.

Acredite! Em outros municípios do Pará estou no acervo das bibliotecas e de alguns outros estados do Brasil, também. No FNPETI fui distribuído para vários representantes de outros Fóruns , levado pelas mãos de uma representante do Fórum do Estado do Amapá. E na Pan Amazônica de 2018, estive dialogando com outros livros em uma Oficina: “Diálogos de Pescadores de Sonhos com obras literárias para infância”. Minha vaidade lembra que até pelas terras de Andersen – na Dinamarca, circulo nas mão de crianças que lêem minhas ilustrações. Gosto muito disso, pois a ilustração é uma linguagem que dá asas à imaginação das crianças.

No meu primeiro ano de vida – 2018, fui o livro escolhido como tema da Sala de leitura da EEEF Modelo Guanabara, e acabei virando com muito orgulho, nome de Biblioteca!

Neste final de 2019, fui inspiração para os alunos da escola Sesc que, orientados pelas professoras, realizaram uma exposição maravilhosa: vi muitos “Assis” e Jonielsons”, com chapéu de palha e calça de pescador. PorDemaisLindo! De chorar de emoção.

E é com alegria que encerro esta carta relato de meus dois anos de existência, com a notícia de que um grupo de Acadêmicas do Curso de Pedagogia do IESAP, Intituto de Ensino Superior do Amapá, realizaram um trabalho com o título: “A Mulher Amazônica: Do Lugar de Fala a Fala da Obra “Pescadores de sonhos” de Angela de Carvalho(2017): Representações e Contribuições à Educação.

Sinto-me cada dia mais pertencente aos meus leitores e quero cumprir a minha vocação de formar muitos outros mais. Esta é a missão desta que me me escreveu e me deu asas, Ops! Me deu páginas para circular nesse país de crianças que trabalham, quando poderiam estar lendo, brincando, pintando e Fazendo ARTE!

Minha gratidão maior é fazer parte do selo Cortez Editora, por isso escrevi esta carta, que agora envio com um forte abraço ao senhor, querido José Cortez. Agradecido sou também, a todos os que me fazem chegar as mãos de meus queridos leitores.

Assinado: Livro Pescadores de Sonhos, dezembro de 2019

Nostalgia e Luz – Crônica de Natal de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Hoje de manhã me vi subitamente abatido por um ataque de nostalgia.

No meu caminho para o trabalho observei um homem ateando fogo no lixo. Tinha uma vassoura nas mãos e cuidava com atenção para que as chamas não se espalhassem sobre a calçada. Aquele ato, pensei, era um resquício da herança cultural indígena tão presente em nossa vida cotidiana.

De repente me veio a lembrança do tempo que Macapá caminhava lenta, em sua vivência pacata sob o sol do equador, quando vizinhos se respeitavam e eram amigos; quando cada um sabia das necessidades do outro e ninguém hesitava em pedir uma xícara de óleo, um pouquinho de farinha, um teco de colorau, de pó de café ou de pimenta-do-reino, ou quando trocavam gentilmente deliciosos pratos de comida, feita com abundância para a família.

Lembro que às vezes, pela manhã, minha mãe varria as folhas do cutiteiro que sombreava a frente de nossa casa e fazia a sua fogueira no lixo amontoado. Ele também era o alvo dos moleques da baixada que quebravam nossas telhas com as tentativas de apanharem os frutos jogando pedras e paus na árvore. A pequena fogueira fazia pouca fumaça, mas ia se juntando com a fumaça da vizinha e da outra vizinha e da outra vizinha. E ninguém se incomodava porque a fumaça era fugaz, se dispersava com o vento vindo das marés do Amazonas, lá adiante.

À noite trafegava em sua beleza estelar na escuridão. Crianças brincavam de roda à boca da noite e adolescentes gastavam suas energias na brincadeira de “pira” ou de “bandeirinha”, sob a luz da lua ou das lâmpadas pálidas dos postes da CEA. E, quando a luz se apagava, íamos até mesmo ouvir dos mais velhos as histórias de assombração, pregar peças de visagens aos poucos passantes da noite ou observar os satélites que cruzavam os céus do equador entre as estrelas.

Naquele tempo meu pai deixava aberta a porta de casa para que eu e meus irmãos não incomodássemos seu sono, certo de que ninguém ousaria abri-la para roubar. Era um tempo em que bastava a presença de um cãozinho para o possível gatuno se escafeder. E até as criações de galinhas e patos não eram protegidas da ousadia das “mucuras velhas” de plantão, que roubavam os animais para fazer tira-gosto de suas bebedeiras noturnas. Ah! E como eles sabiam fazer isso. Há casos em que roubavam a própria casa.

Os quintais não tinham cerca, tinham caminhos de atalhos, tinham campinhos, leiras de verduras e árvores frutíferas. As ruas eram tão nossas que ao fim da tarde viravam campos de futebol, em jogos que só terminavam ao anoitecer. Cada um respeitava seu cada qual: o dono da bola podia ser ruim no jogo, mas era o dono, e pronto. Ninguém furtava a merenda do colega nem caderno nem brinquedo.

Ainda que eu não queira culpá-la, mas depois que a televisão chegou nada mais foi igual. A molecada ia assistir a programação na casa do seu João de Deus onde havia o único aparelho de TV no bairro. Seu João colocava um vidro azul no vídeo para que as cenas das novelas “Meu Pedacinho de Chão” e “Vejo a Lua no Céu” parecessem mais coloridas. Doce ilusão! E dava o exemplo de patriotismo acompanhando em pé com a mão no peito o Hino Nacional, no fechamento da programação, por volta de meia-noite. O sagrado jantar familiar ficou mais apressado porque a novela ia começar e todos iam para a sala assistir aos folhetins de Janete Clair.

Mas ainda que brote da minha memória, eu não vejo com saudade essas lembranças. A saudade é mais profunda, é mais poética e mais densa que a nostalgia, que é uma palavra originária do grego e significa “regressar”, “voltar para casa”. E nesse regresso emocional, observo que as pessoas quase já não varrem as folhas que caem das árvores na frente de suas casas, nem fazem mais fogueira com medo de denúncias de vizinhos aos órgãos ambientais e por acharem que é um trabalho exclusivo dos garis da Prefeitura. E assim, as fumaças que eram como bandeiras ou cantos de galos se espalhando, já não enfeitam mais as manhãs ensolaradas da minha cidade. A solidariedade dos vizinhos foi substituída pela individualidade de cada morador aprisionado em suas portas e muros gradeados, pelo medo tácito da violência urbana.

As pedras jogadas nas mangueiras e cutiteiros se transformaram em duras palavras atiradas até em quem não tem telhado de vidro. A energia vital dos adolescentes é gasta nas baladas, quando longe dos pais, muitos enveredam pelos caminhos das drogas. As antigas histórias de assombração agora são contadas pelo Rádio e pela TV nos noticiários da violência no trânsito, brigas de gangues e mortes cruéis por motivos fúteis. O olhar real da juventude que acompanhava o curso dos satélites no céu escuro da noite tornou-se um virtual olhar, onde o romantismo de outrora foi trocado pela racionalidade dos programas dos computadores e celulares on line na Internet e pela comunicação ingênua das redes sociais.

Ah, os ladrões… Desde que mundo é mundo temos ladrões, prostitutas e assassinos e os seus trabalhos diferenciados sob a Lei, porque não há sociedade sem crime, ainda que teimemos em construir nossa utopia. Os ladrões de um passado (nem tão longe assim) eram de patos e galinhas, que ao menos não sujavam o nome de nossa terra e nem nos envergonhavam nacionalmente com negociatas políticas e atos de corrupção explícita.

Nem se comparam com muitos da atualidade que usam a pele de cordeiro para, como lobos ferozes, roubar o dinheiro público, enriquecer às custas do povo e trair cinicamente os que neles confiaram pelo voto. Naquele tempo as cercas inexistentes nos quintais davam a todos a liberdade de fazer seus próprios caminhos, de realizar seus atalhos e se apressar para a vida que viçava lá fora, principalmente pelo caminho da educação, pulsante nas escolas públicas, onde os professores eram mais que isso: eram educadores e amigos. Ensinavam também, como no ato do seu João de Deus em frente à TV ouvindo o hino nacional, a respeitar os valores da Pátria, apesar da era de obscurantismo da ditadura militar.

Hoje olhamos para os costumes sociais e familiares em mudança e nos molhamos de nostalgia. Tudo mudou com os avanços tecnológicos, que tanto facilitam a nossa vida. E tudo começou com a televisão, essa invenção incrível, pois quando a luz apagava na hora de um programa ninguém mais conversava. A família ia para o pátio da casa olhar a rua espelhada de chuva, e uns se perguntavam aos outros: será que foi geral? Será que ela vai voltar? Já pensou? Ficar sem TV o resto da noite… Afirmo, pois, com certa tristeza que foi aí que começou a morte do diálogo familiar.

E as ruas? Ora as ruas. Ruas de tempos abençoados que não testemunharam atropelamentos fatídicos, apenas quedas de bicicleta ou boladas na cara de algum passante desatento. Ruas da minha cidade transformada, ruas que hoje absorvem o sangue dos mortos diariamente em cada esquina, ruas não mais tangidas pelos protestos do povo inconformado, ruas esburacadas pela angústia no rosto da juventude sem emprego, ruas que se tornam rios de chuva e trazem doenças inevitáveis, ruas que lêem os passos cansados dos que tem pouca mobilidade física, ruas escuras, ruas das violências noturnas, ruas dos loucos, dos bêbados, das putas, dos travestis e dos moralistas de plantão.

Mas elas são também as ruas dos sonhadores como nós, que tentamos enfeitar a madrugada e trazer a música e o sol no cavalo alado da nostalgia, para iluminar um mundo futuro ausente de dor e de vergonha, mas cheio de luz e de perdão.

Não deixemos, pois, por isso mesmo, a luz ir embora dos nossos corações.

A Convenção – lindo conto de Natal de Fernando Canto

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Conto Natalino de Fernando Canto

O Centro de Convenções daquela moderna cidadezinha no interior da floresta era o palco de um evento religioso bianual da cristandade, de grande importância para nós, teólogos do Novo Olhar.

Após o grande processo de destruição ambiental do planeta ficamos espalhados pela terra sofrendo a ansiedade de vê-la reconstruída e fazendo a nossa parte. Levávamos aos mais necessitados uma nova forma de encarar o mundo e uma nova esperança para evitar os sofrimentos humanos causados pelos incontáveis desastres ecológicos ocorridos até em lugares onde nem se cogitava que eles pudessem acontecer.

Cientistas constataram a grande obviedade que a desgraça ocorrera mesmo devido a ganância dos detentores do capital internacional e o excesso de poder dos países ricos que tiravam a vida de milhões de pessoas pelo mundo afora, sem contar as vítimas de guerras causadas pela intolerância religiosa. Éramos poucos, mas a seriedade de cada um de nós fazia a diferença, aprofundada em detalhes interpretativos dos cânones universais contemporâneos e nos santos ensinamentos de Jesus Cristo.

Todos se esforçavam muito, participando de seminários e congressos pelo país, porque grande parte dos conhecimentos da nossa religião havia desaparecido ou queimado no mundo todo.

Ali, ao lado do grande evento, muitos acontecimentos ocorriam: feiras, espetáculos e exposições, como a de novas descobertas tecnológicas e de máquinas que respondiam perguntas sobre metempsicose e a natureza dos espíritos. Livros curiosos eram lançados e relançados virtualmente em telões, inclusive aqueles considerados sagrados que por séculos vinham intrigando a inteligência dos sábios com seus mistérios herméticos. Tumblr - AliensHavia debates intermináveis que abrangiam desde o pensamento de filósofos gregos sobre relatos de povos extraterrestres a absurdos que a contemporaneidade não conseguiu mudar.

Eu participava pela primeira vez desse encontro, e já dera minha palestra sobre a existência de Papai Noel Redivivo no Novo Mundo Amazônico e meu testemunho sobre isso em outro tema da programação, portanto estava livre de compromissos. Mas os debates continuavam em outros níveis. noelE eu fui guindado meio sem querer – e curioso – a assistir a um deles promovido pelos neoperipatéticos de Rinha, um convento de uma ordem sacra europeia. Chamou-me a atenção o denominado “Aristóteles e o Paraíso”, cujo tema central era sobre a localização geográfica exata do Jardim do Éden. Havia outro, muito singular, chamado “Dançarinos Aristotélicos” no qual se discutia sobre quantos anjos poderiam dançar ao mesmo tempo na ponta de uma agulha. Os grupos de discussão seguiam um sacerdote-mestre sob as sombras das árvores na praça principal da cidade.

Aristóteles gozava de grande popularidade entre os sábios. Sobre ele corria a lenda da sua imensa alegria quando pôs as mãos em uma das penas verde-claras do anjo Gabriel, descoberta dentro de uma arca envolta em tafetá. Um grupo dizia que a partir dessa pena teria o filósofo reconstruído a pessoa do arcanjo. O grupo oposicionista, porém, suspeitava que a pena fosse proveniente da cauda de um periquito de asa branca, o que proporcionou um grande exaustivo debate entre os participantes. Após a discussão chegaram ao consenso de que a pena teria sido arrancada da asa do anjo na ocasião do seu aparecimento à Virgem Maria para anunciar a imaculada conceição. Presumiram que a própria Virgem Maria embrulhara a pena em tafetá, de modo que ela viesse a ser uma das sete maravilhas do mundo teológico. Para eles Aristóteles teria sido contemporâneo de Jesus.

Outro interessante tema de reverência religiosa que vi nesse encontro foi a respeito da unha de um querubim. Entretanto, o que chamou mais a atenção de todo o congresso bianual e que gerou a maior lotação no Centro de Convenções foi a maravilhosa descoberta arqueológica de um ataúde com acabamento em ouro e prata, onde estava ainda intacta, uma das costelas do Verbo feito carne.

Acho que aprendi muito com essa viagem. Os arqueólogos mostraram outras peças de grande valor teológico advindas de descobertas em expedições perigosas. Não era fácil expor seus nomes e conceitos profissionais e terem que viver em um mundo de fanáticos e ateus. Eles sabiam que como cientistas e religiosos ao mesmo tempo teriam dificuldades de mostrar as relíquias à sociedade e serem somente aplaudidos e reconhecidos.

Nesse meio os vulcões da vaidade explodem rápida e facilmente, e sempre há um lado invejoso e descontente. Mas não deixavam de demonstrar certa genialidade e coragem para afirmar suas convicções e prová-las. Foi muito difícil para eles, segundo seus próprios relatos, mas conseguiram encontrar um dos raios da estrela de Belém, que foi quebrado e guardado por um dos três reis magos que foram adorar Jesus em uma manjedoura, assim como a pequena garrafa de vidro, dentro da qual havia notas musicais, que teriam sido entoadas mais tarde pelas abelhas do Templo de Salomão, de acordo com as antigas escrituras não oficiais.

Mas juro pelos santos sacramentos que de tudo o que eu vi na convenção nada me impressionou mais do que as descobertas. Cometi o pecado capital da inveja, pois não consegui parar de imaginar o rei Baltazar em estado de delírio gozoso ao ver a epifania da estrela de Belém, ao adorar o salvador do mundo e a usar sua arte mágica para quebrar um raio e guardá-lo.
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Era tempo de natal e eu tinha que voltar logo para trabalhar nos preparativos da festa para as crianças órfãs da minha vila amazônica ainda em lenta recuperação ambiental. Elas estavam tão ansiosas como eu, ainda que não tivéssemos brinquedos. Contávamos apenas com a esperança e a bondade do Papai Noel. Fui embora com a humildade que cabe a um pobre missionário, saindo da civilização da cidadezinha para minha aldeia de crianças pobres e estropiadas, martelando o cérebro sobre como conseguir presentes para elas quando me deparei com um negro alto, vestido de túnica e turbante. Estava envolto em uma aura radiante.

Entregou-me um objeto dourado e disse: – Imagina e realizarás. E sumiu. Era Baltazar, o mago rei e o verdadeiro Papai Noel Redivivo das minhas pobres crianças que me dera a chave de um tesouro: um pedaço do raio da estrela-guia. Horas depois já refeito da situação olhei para as estrelas. Todas eram pequenas e brilhantes, e delas caiam ao meu redor centenas de brinquedos. Só pude exclamar: – Bendito é aquele que vem em nome do Senhor! Hosana nas Alturas!

MP-AP participa da entrega de armamento e viaturas aos órgãos de Segurança Pública no Amapá

A procuradora de Justiça do Ministério Público do Amapá (MP-AP), Socorro Milhomem Monteiro Moro, representando a procuradora-geral de Justiça do MP-AP, Ivana Lúcia Franco Cei, participou na última sexta-feira (20), ao lado do Teatro das Bacabeiras, da cerimônia de entrega de viaturas e armamentos para as polícias Militar, Civil e Corpo de Bombeiros do Amapá. A medida visa o fortalecimento do Sistema de Defesa Social do Estado.

O setor recebeu reforço de 530 pistolas do tipo .40 e 28 novas viaturas. Os equipamentos integram os investimentos em infraestrutura, logística e Tecnologia da Informação (TI) para o setor, somando mais de R$ 136 milhões, alcançados devido às articulações políticas da bancada amapaense junto ao Governo Federal.

São nove veículos para a Polícia Militar, oito para a Polícia Civil, quatro para o Corpo de Bombeiros e sete para o Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen). Com a entrega, 2019 fecha com 93 novos veículos para a Segurança Pública. Também foram entregues 530 pistolas modelo .40 (por motivo de segurança, as armas não estavam na solenidade). O recurso é de R$ 1.181,900 milhão, provenientes do Fundo Penitenciário.

Penitenciária de Segurança de Macapá

Na ocasião, foi assinada pela Bancada Federal e o governador do Amapá, Waldez Góes, a ordem de serviço para retomada das obras da Penitenciária de Segurança de Macapá.

A medida é executada, graças à união de forças institucionais, por meio da Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública (Sejusp). A obra está orçada em R$ 5.164,966 milhões, sendo R$ 1.826.516,17 de contrapartida do Estado.

O governador Waldez Góes reafirmou o empenho de sua gestão na estruturação e apoio aos órgãos de segurança em favor da população. Por sua vez, o presidente do Senado Federal, senador Davi Alcolumbre, ressaltou que a Bancada Federal do Amapá mantém um bom diálogo com a União e que seguirá, assim como os demais parlamentares, com essas articulações em prol da sociedade amapaense.

Reconhecimento do MP-AP

Segurança publica veículos geralDe acordo com a procuradora de Justiça presente no evento, este aparato é essencial para o combate à violência, criminalidade, manutenção da paz e defesa social. Em nome da PGJ Ivana Cei, Socorro Milhomem Moro elogiou o investimento do Executivo e o apoio da Banca Federal. Ela enfatizou, ainda, a importância da união de forças para reforçar a segurança em favor da população do Amapá.

“O Governo do Amapá e a Bancada Federal estão de parabéns pela articulação e por este investimento de tamanha envergadura à Segurança Pública do Estado. Tanto as viaturas, quanto o armamento, assim como a retomada da obra da Penitenciária de Segurança Máxima de Macapá, são fundamentais para a defesa social da população”, comentou.

“Essa união de forças entre os poderes é essencial, pois fortalece a atuação conjunta no combate à criminalidade. Em nome da nossa PGJ, reforço que o MP-AP e os órgãos de segurança pública seguirão firmes na atuação contra as práticas criminosas em todo o Amapá”, manifestou Socorro Milhomem Moro.

Autoridades presentes

Participaram da solenidade o vice-governador do Amapá, Jaime Nunes; o prefeito de Macapá, Clécio Luís; deputados federais do Amapá; o titular da Sejusp, coronel Carlos Corrêa; o sub-secretário da Sejusp, coronel Neto Mont’Alverne; o delegado-geral da Polícia Civil, Uberlândio Gomes; o comandante da PM/AP, coronel Paulo Matias; secretários de Estado, vereadores, autoridades de todas as esferas policiais no Amapá, autoridades militares, servidores do GEA, imprensa e sociedade civil organizada.

SERVIÇO:

Elton Tavares
Colaboraram os fotógrafos Sal Lima e Netto Lacerda (Sejusp)
Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Amapá
Contato: (96) 3198-1616
E-mail: [email protected]

Agência do Banco do Brasil de Pedra Branca volta fazer operações de saque após formalização de plano de segurança integrado proposto pela Prefeitura

Após criação e formalização do Conselho Municipal de Segurança Pública (Cmsp), composto de representantes das forças de segurança pública do município e do Poder Judiciário, a Prefeitura Municipal de Pedra Branca do Amapari conduziu junto ao órgão os trabalhos que resultaram na elaboração de plano de ação integrada que garantiu a reabertura da Agência do Banco do Brasil no município.

Durante as audiências, foram discutidas medidas de segurança para reabertura da agência que esteve fechada desde a tentativa de arrombamento e furto acontecida em maio deste ano. Tanto o município de Pedra Branca quanto o de Serra do Navio e comunidades de Porto Grande ao longo da Perimetral Norte são atendidos pela agência e estavam sofrendo vários transtornos por conta da paralisação dos atendimentos.

Os representantes do Banco do Brasil apresentaram as exigências da Superintendência Regional que devem ser cumpridas em parceria com o poder público, garantindo a reabertura da agência nesta segunda-feira, 23/12.

O presidente do Conselho Municipal de Segurança de Pedra Branca, Inspetor Anginaldo Almeida, disse que um grande esforço será concentrado para manter o funcionamento da agência. “Um esforço coletivo é o que realizaremos, garantindo a integração entre as Polícias Civil e Militar, Guarda Municipal, Conselho Tutelar, Ministério Público e Tribunal de Justiça. Não podemos continuar sendo prejudicados por conta da ação de criminosos, vamos adotar medidas para garantir o funcionamento da agência que é tão importante para nossa região”, assegurou.

Assessoria de comunicação da Prefeitura de Pedra Branca do Amapari

A nonagenária mais linda do mundo completa 93 anos hoje. Feliz aniversário, vó Peró!

Hoje é sábado. O “dia branco”. Mas não um sábado comum. Neste vigésimo primeiro dia de dezembro, Perolina Penha Tavares completa 93 anos de vida. Sim, a minha avó “Peró”. Para mim, ela é um ser humano de uma beleza ímpar. Aqui neste texto, vou tentar descrever um pouco da nossa estrela de primeira grandeza (dá uma trabalheira escrever sobre alguém tão importante, mas vamos lá).

Natural do Mazagão, mas paraense na carteira de identidade (época de Grão-Pará), vovó é uma das pessoas que pode dizer: “quando cheguei aqui, era tudo mato” sobre Macapá. Ou pelo menos sobre a maior parte da capital amapaense, onde reside desde os anos 50. Peró casou com João Espíndola Tavares, que já virou saudades, e teve cinco filhos. Trabalhou muito ao lado do marido, ambos pioneiros desta cidade no meio do mundo.

A filharada cresceu, cada um fez seu o seu nome. Vovô e Zé Penha (papai) partiram. A Peró pegou todo mundo e manteve juntos e unidos. Vovó é mesmo uma pessoa admirável, quem conhece sabe. A ela devemos a solidez da nossa família.

Além disso, Perolina é cheirosa, educada, elegante e sábia. Vovó é uma mulher serena, coerente, lúcida, sábia, justa, caprichosa, amorosa, discreta e forte. Um exemplo a ser seguido, com toda a certeza.

A “Peró” pintou sua trajetória primeiramente com as cores que pôde e depois com as tintas que quis. E fez um belo trabalho. É redundância falar o quanto a vovó é uma dama e um amor de pessoa. Tudo que ela fez foi de forma digna, humana e coerente. Ela desperta o que existe de melhor dentro de cada um dos seus filhos e netos. A família sempre foi sua grande razão de viver. E é assim até hoje.

Já disse e repito: todas a vezes que perambulo pelo passado, a Peró está lá me dando um conselho, um ralho, preparando alguma comida maravilhosa (ela é a melhor cozinheira deste sistema solar, seguida de perto pela minha mãe, que aprendeu com a vovó) ou qualquer outra memória afetiva.

Sou o mais velho entre seus netos. Às vezes, passo uma semana sem ir vê-la, por conta daquelas ausências involuntárias, mas fico atento. E quando é preciso, estou lá, junto, pra qualquer coisa. Tento dar um pouquinho do amor que recebi ao longo dos meus 43 anos.

Sabem, das poucas coisas que faço direito, uma delas é amá-la. Há tempos não sou mais criança, os cabelos brancos e barba deram uma esbranquiçada, mas o homem que a a Peró ajudou a formar o caráter,  agradece por tudo dito/escrito aí em cima e muito mais que não cabe em somente um texto de aniversário. Quando eu fizer 50, ela fará 100 dezembros. E ainda caminharemos juntos pelo tempo, com o amor de sempre.

No meu mundo, Perolina reina junto com minha mãe. Hoje vamos celebrar a existência da vovó. Estejamos juntos. Te amamos, Peró. Feliz aniversário!

A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família”. – Léon Tolstoi.

Elton Tavares (mas também em nome de José Penha Tavares e Emerson Tavares).

A Companhia Cangapé orgulhosamente apresenta o “Mistério no Picadeiro”.

Vindo diretamente do mundo do faz de conta, o “Circo do Retalho” traz uma noite de muita alegria, magia, brincadeiras e a tão esperada doação do Grande Presente, mas ops, cadê o presente? O elemento fundamental para o espetáculo desapareceu do picadeiro comprometendo o grande espetáculo e todos os convidados tornam-se suspeitos do caso. Uma grande investigação é aberta para descobrir e desmascarar o responsável pelo sumiço do Grande Presente, e nessa busca, muita confusão e trapalhadas sem fim, e claro, muitas risadas para desvendar o grande “Mistério no Picadeiro”.

O espetáculo que já está em seu terceiro ano de existência, foi criado e produzido pela Cia. Cangapé, e neste ano, compõe o circuito das narrativas de Natal que encantam a cidade no mês de dezembro, a proposta cultural nasce à partir das pesquisas do grupo acerca da palhaçaria e versa sobre a narrativa natalina sobre a ótica de uma trupe circense, propondo ao público um outro modo de ver a temática.

Esta iniciativa tem o fomento do Governo do Estado do Amapá através da secretaria de Estado da Cultura (SECULT), e da Prefeitura de Macapá por meio da Fundação Municipal de Cultura (FUMCULT) e é destinada à toda a comunidade do bairro do Araxá e proximidades.

A programação especial garante uma oportunidade para crianças, jovens e a comunidade da periferia de Macapá, que muitas vezes, por estigmas, acabam não tendo acesso às comemorações de fim de ano, sendo assim, uma ação estímulo à fraternidade, à cidadania e à esperança de um novo tempo para essas pessoas desse bairro esquecido por tanto tempo.

Ficha Técnica:

Espetáculo Natalino: Mistério do Picadeiro
Concepção: Cia. Cangapé

Elenco:

Alice Araújo: Palhaça Perualda
Washington Silva: Palhaço Mulambo
Mauro Santos: Palhaço Chimbinha
Emerson Rodrigues: Palhaço Trupico
José Armando: Palhaço Carambola
Lívia Letícia: Palhaça Pipi
Cleber Barsan: sonoplasta e iluminador

Serviço:

Espetáculo Natalino: Mistério do Picadeiro
Data: 22/12/2019 (Domingo)
Local: Espaço Cangapé (Avenida Quarta,470. Bairro do Araxá)
CONTATO: ALICE 96981188923
Fotos: Paulo Rocha

Assessoria de comunicação

Programação cultural no Teatro das Bacabeiras reunirá diversos segmentos em noite de festa

Foto: Alex Silveira

A Secretaria de Estado da Cultura (Secult), em parceria com o Teatro das Bacabeiras e seu Conselho de Pauta, promoverá no dia 20 de dezembro (sexta-feira), o evento intitulado “Cabaré Barcabeiras”. A programação será um encontro de diversos segmentos da cultura amapaense em um show empolgante.

O espetáculo trará atrações de artistas e grupos de música, dança, teatro, literatura, capoeira, artes visuais, artesanato e muito mais. Esse encontro sela o ano de atividades realizadas na principal casa de espetáculos da capital e promete um grande show para o público espectador.

De acordo com o secretário de Estado da Cultura, Evandro Milhomen, o evento será uma oportunidade de encontro entre os artistas amapaenses, que durante o ano de 2019 estiveram empenhados junto com a Secult em promover atrações de excelente qualidade ao público do Estado.

“Reunindo as diferentes vertentes culturais presentes no Amapá, nós proporcionamos à população uma amostra da cadeia produtiva da cultura que, com as nossas atividades dentro da Secretaria, buscamos incentivar cotidianamente. Esse projeto favorece artistas e sociedade, pois integra vários segmentos culturais, assegura a ocupação dos espaços do Teatro das Bacabeiras e incentiva a população a comparecer”, pontuou o gestor.

Serviço:

Local: Teatro das Bacabeiras
Data: 20 de dezembro
Horário: 20h
Mais informações: (96) 99151-2328

HOJE: “Encontro dos Gigantes 2” marca o aniversário de Maracatu da Favela

No dia 20 de dezembro, acontece em Macapá, “O Encontro dos Gigantes 2”. O evento programado para as 22h, marcará os aniversários do Grupo Rota Samba e de Maracatu da Favela que aconteceu no último dia 15.

A programação irá ocorrer na quadra da Maracatu, no bairro Santa Rita e terá como atrações, Rota Samba, Samba do Rei, Quintal do Moreiras, Shory e o sambista vindo diretamente do Rio de Janeiro, Carioquinha.

Além de grandes atrações do samba e pagode Tucuju, o “Encontro dos Gigantes 2” marcará o lançamento oficial do samba de enredo de Maracatu da Favela para o carnaval 2020, além das apresentações de suas novas contratações que estarão desfilando na avenida do samba este ano.

Escolas de Samba amapaense também foram convidadas para o evento e estarão apresentando seus samba de enredo e casais de mestre-salas e porta-bandeiras. Por lá havérá a apresentação de Império do Povo, Império da Zona Norte, Piratas Estilizados, Piratas da Batucada e Boêmios do Laguinho, além de Maracatu da Favela, com seus principais pontos técnicos.

SERVIÇO:

Evento: Encontro dos Gigantes 2
Dia 20 de dezembro de 2019
A partir das 22h
Realização: Maracatu da Favela e Grupo Rota Samba
Local: Quadra de Maracatu da Favela
Avenida Padre Júlio entre Santos Dumont e Marcelo Cândia

Cláudio Rogério
Fotos: Divulgação Maracatu
Contato com a Imprensa: 96-99141-8420

Discos que formaram meu caráter (parte 36) – “Metallica (Black Álbum – 1991)” – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Muito bem moçada, estamos de volta neste obscuro universo dos discos, nesta nave muito louca com este viajante que vos escreve de algum ponto distante da galáxia. Inebriantemente posso dizer a vocês aumentarem o som que hoje é dia de porrada. Com muita honra que eu trago para vocês:

Metallica (Black Álbum) palmas pra ele.

Corria o ano sagrado de 1991, como já disse algumas vezes o ano que todos os deuses da boa música estavam do lado das bandas e providenciaram uma safra imensa de clássicos. 1991 é realmente um marco na história dos bons discos.

E o Metallica foi contagiado por essa nevoa de inspiração e veio com essa bomba (no ótimo sentido) de boas canções.

Já aclamados como uma super banda no universo do Metal e consolidados com uma multidão de fãs no mundo todo, os caras do Metallica já tinham provado a todos que o som pesado era a praia deles, os excelentes “ Kill Em Mall” (1983), “ Ride The Lightning” (1984), “Master Of Puppets” (1986) e “…And Justice For Hall” (1988) não deixavam dúvidas que os caras de San Francisco não brincavam em serviço quando o assunto era bater cabeça.

Mas como continuar arrebentando nas paradas e tendo uma continuação no bem sucedido trabalho sem parecer repetitivo? Talvez com essa dúvida na cabeça os caras voltam ao estúdio para preparar um novo disco. A atenção tinha que ser milimétrica, o metal já começava a ser ameaçado pelo grunge de Seattle e as bandas daqueles caras sofridos com blusa de flanela também já estavam alcançando o mainstrean , o recado era claro, quem não tivesse a coragem de tentar, iria ficar para trás.

Cartas na mesa, opções claras, ficar no mundinho metal e usufruir sabe lá por quanto tempo da confortável posição já conquistada ou partir para novas águas rumo a um desconhecido caminho.

E assim, no dia 12 de agosto de 1991 , os caras surpreenderam os fãs e o mercado da música deixando de lado o Thrash Metal e se colocando de vez no Heavy Metal .

Vamos ao que interessa e dissecar logo esse míssil sonoro:

O disco começa com a sombria “ Enter Sadman”, uma explanação sobre os sonhos ruins. “ Sad But True”, nem todas as verdades são boas. “ Holier Than Thou”, faça sempre uma autocrítica, você não é melhor que ninguém , “ The Unforiven”, até onde podemos culpar alguém que sempre foi sabotado pela vida. “Wherever I May Roan”, opção de ser só, sem compromisso. “Don`t Tread On Me”, para assegurar a paz é preciso estar preparado para guerra. “ Through The Never”, temos fome de estar vivo. “Nothing Else Matters”, nada mais importa, somos o que somos. “Of Wolf and Man”, somos nosso próprio lobo, sempre vagamos. “ The God That Failed”, siga o Deus que falhou. “ My Friend Of Misery” a diversão de um homem é o inferno do outro. “ The Struggle Within”, procure sempre o melhor dentro de você.

Antes de tudo um disco que abre portas, medalha de ouro 18 quilates na categoria “foda”.

Maior sucesso da banda, disco de rock mais vendido de todos os tempos, a banda nunca vendeu menos de 1000 cópias por semana desde o seu lançamento. Todos os 5 singles lançados ficaram entre os 100 mais vendidos da Bilboard.

O que isso quer dizer? Que realmente os caras fizeram bem em se reinventar e quem não tem coragem está fadado à mesmice. Os caras realmente tiraram o pé, mas fizeram um disco ruim? Porra nenhuma.

Confesso que no começo estranhei , mas tive que aceitar e dar o braço a torcer pro trabalho dos caras. Incrivelmente como este álbum me tocou. E sei que muitos começaram a escutar o Metallica depois dele. E se até aquele teu primo esquisito fã de Duran Duran passou a escutar Metallica, paciência.

Foda-se a polícia Headbanger, sim este disco marcou o fim para muitos fãs, mas o começo para milhares. E o Metallica provou ser uma banda autêntica, sem ligar para opinião de ninguém.

Vida Longa ao Heavy Metal.

* Marcelo Guido é Jornalista, Pai da Lanna Guido e do Bento Guido e Maridão da Bia.

Prefeito de Macapá reúne com moradores do arquipélago do Bailique na nova Agência Distrital

O prefeito de Macapá, Clécio Luís, reuniu na última segunda-feira, 16, na Vila Progresso, com lideranças e moradores do arquipélago do Bailique. A reunião aconteceu na nova Agência Distrital e teve como objetivo fazer um levantamento das últimas ações da prefeitura no local, ouvir moradores sobre as necessidades e encaminhar propostas para melhorias.

“Estamos felizes em poder estarmos aqui, conversando com os moradores e realizando atividades no Bailique. Entregamos agora uma Agência Distrital, que irá atender a população em diferentes aspectos. Ela servirá para a realização de reuniões entre lideranças, para receber pessoas em trânsito e para ser um elo fixo entre prefeitura e distrito do Bailique”, pontuou o prefeito Clécio Luís. A nova Agência Distrital é equipada para atender as comunidades e conta com recepção, sala de reuniões, gabinete, cozinha, dormitório, banheiros, depósito e grupo gerador.

Além da entrega do novo espaço, o arquipélago recebeu neste último ano uma série de serviços para melhoria da qualidade de vida da população, como a reforma da voadeira da coleta de lixo das comunidades, um viveiro de mudas com mil mudas de plantas frutíferas, um barco da leitura, a reforma da Escola do Canal do Guimarães na comunidade do Igarapé do Meio, aproximadamente 200 novos pontos de luminárias nas comunidades, reformas elétricas e estruturais na UBS de Vila Progresso, serviços de limpeza e roçagem nas comunidades de Vila Progresso, Macedônia, Jaranduba e Igarapé do Meio, pintura da Escola de Jaranduba e apoio para realização da Cantata Natalina da Escola de Vila Progresso.

Segundo Adail Dias, coordenador municipal das Agências Distritais, a Prefeitura de Macapá tem feito uma série de serviços e reparos na estrutura das comunidades, em especial no que se refere à mobilidade. Em 2019, foram construídos 3 km de passarelas, sendo 750 metros em Jaranduba, 400 em Igarapé Carneiro, 450 em Jaburuzinho, 300 em Maranata, 130 em Vila Macedônia, 150 metros em Igarapé do Meio e 200 em Freguesia; 640 ainda estão em andamento nas comunidades de Franco Grande, Ponta da Esperança e bairro Vieira, na Vila Progresso.

De acordo com o prefeito Clécio, reunir com os moradores é uma forma de ouvir com qualidade as necessidades da localidade. “Temos trabalhado para trazer ao nosso distrito, que é tão longe, a mesma qualidade de vida que propomos na capital. Construímos três mil metros de passarelas, priorizando o acesso a escolas, UBS’s e igrejas. Nossa meta para o próximo ano é construir cinco mil metros de passarela, melhorando e atendendo ainda mais a população”.

Elba Figueiredo, moradora da comunidade de Vila Progresso, agradeceu a presença e apoio da prefeitura, que, segundo ela, é fundamental para o desenvolvimento da região. “Temos uma prefeitura atuante, que lembra sempre da gente e está presente em nossas comunidades. Você consegue ver a presença dos serviços da prefeitura no Bailique”, finalizou.

Jhenni Quaresma
Assessora de comunicação
Fotos: Max Renê