2020: Temos o que comemorar? – Crônica de Silvio Neto

Imagem: placevale73.tumblr.com

Crônica de Silvio Neto

O ano de 2020 foi um ano bissexto, quer dizer, a cada quatro anos, temos um dia a mais no calendário, mais precisamente o dia 29 de fevereiro. Mas, calma! Geralmente é só isso que se repete a cada ano bissexto.

Segundo o horóscopo chinês, 2020 foi o ano do Rato, começando a 25 de janeiro. Na mitologia chinesa, o rato representa a criatividade; a solução de problemas; a imaginação; o trabalho hiperativo e respeitado por sua capacidade em resolver situações difíceis; a intuição, com a capacidade de adquirir e preservar coisas e valores… E, curiosamente, nunca precisamos tanto destas qualidades nos últimos cem anos, para conseguirmos superar como pudemos, este ano de 2020.

O sol entrou em Aquário a 20 de janeiro inaugurando, segundo alguns uma Nova Era que vinha sendo esperada desde os anos de 1960, quando, na letra de uma das músicas daquele inesquecível musical da Broadway, Hair, a Lua estaria na Sétima Casa e Júpiter, alinhado com Marte, guiaria os planetas à Paz e o Amor comandaria as estrelas… Tudo muito lindo, mas infelizmente… muito fantasioso.

O fato é que tivemos um ano bem difícil! Em janeiro, chegamos muito perto de uma 3ª Guerra Mundial, com ataques entre bases do Irã e dos Estados Unidos no Oriente Médio. Cerca de 500 milhões de animais completamente indefesos morreram numa série de incêndios na Austrália. O Reino Unido saiu, formalmente, da União Europeia e, em menos de uma semana, um tal de novo coronavírus infectou mais de dez mil pessoas e matou mais de 200. Em 30 de janeiro a Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou um “surto de doença respiratória de novo coronavírus em estado de Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional.

Em fevereiro, o novo coronavírus chegou ao Brasil, com um primeiro caso na cidade de São Paulo.

No dia 11 de março, a OMS declara como “pandemia a doença do surto de novo coronavírus no mundo”. As reações são imediatas no incrível mundo globalizado: Os mercados de ações globais sofrem seu maior declínio em um único dia desde a segunda-feira negra de 1987. Era o primeiro sinal de desespero. Eventos como as Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA de 2022; Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA; Campeonato Europeu de Futebol de 2020 e Copa América de 2020; Festival Eurovisão da Canção 2020 e até os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 são cancelados.

Em abril, no dia 10, o Brasil chegou às primeiras 1.000 (mil) mortes por COVID-19. Mostrando que isso não era só “uma gripezinha”, como insistia em dizer o presidente daqui… Enquanto isso, nos Estados Unidos, os casos confirmados de COVID-19 chegaram a 1 milhão, também mostrando que não era algo “inofensivo e passageiro” como insistia em dizer o presidente de lá…

Em maio, com 330 mil infecções, o Brasil superou a Rússia e se tornou o segundo país com mais casos confirmados de COVID-19 no mundo. E o presidente insistindo em minimizar a situação. Como se não bastasse, mais animais silvestres morrem, desta vez, no Pantanal Matogrossense.

Em junho, com mais de 41 mil mortes, o Brasil superou o Reino Unido e se torna o segundo país com mais mortes de COVID-19 no mundo. Mas o presidente e seu exército de fanáticos continuam negando a gravidade da situação. Já era 1 milhão de casos confirmados de COVID-19.

Em agosto, o número mundial de mortes causadas pela COVID-19 já ultrapassava a marca de 700 000 e o presidente da Rússia declarou que o país já havia aprovado a primeira vacina do mundo contra a doença. Mas até hoje não sabemos se era verdade ou só um porre de vodka do Putin…

Em setembro, o número mundial de mortes causadas pela COVID-19 ultrapassa a marca de 1 milhão.

Em outubro, o Brasil atingiu 5 milhões de casos confirmados de COVID-19 e superou as 150 mil mortes causadas pela doença. Como se não bastasse tanta tragédia ao longo do ano, ataques terroristas voltam a abalar a França pela selvageria – vítimas foram decapitadas na rua, em plena luz do dia.

Em novembro, finalmente, apesar de mais dias terríveis, sem luz, sem água, sem comida e sem dinheiro aqui no Amapá, começam a aparecer as boas notícias. Primeiro, Donald Trump perde as eleições nos Estados Unidos, não conseguindo se reeleger, apesar de até hoje estar esperneando e fazendo beicinho.

Os fascistas apoiados por Bolsonaro levam uma surra nas urnas e quase nenhum dos vermes consegue se eleger para prefeito, vereador ou síndico de condomínio… Até que no dia 2 de dezembro o Reino Unido aprovou a vacina BNT162b2 da Pfizer, sendo o primeiro país do mundo a aprovar uma vacina contra a COVID-19.

Ainda em dezembro, no dia 21, Júpiter não se alinhou com Marte, como diria a música, mas com Saturno, num evento que só acontece aproximadamente a cada 400 anos. Os astrônomos disseram que se tratava do mesmo fenômeno astronômico descrito na Bíblia como a Estrela de Belém, que teria guiado os Reis Magos até a manjedoura onde acabara de nascer Jesus, o Cristo, cerca de 2020 anos atrás.

Talvez este evento sirva para lembrar – pelo menos aqueles que se importam com a magia da vida neste planeta – que, por mais que o ano tenha sido difícil, sempre há uma esperança. E a luz sempre acaba rompendo a escuridão, por mais assombrosa que ela seja.

Ao longo do ano, muita coisa boa também aconteceu, tanto individualmente como coletivamente. Nos primeiros meses, o isolamento social forçado pela pandemia ajudou a fazer com que a natureza voltasse a respirar um pouco e regenerasse seus recursos. Foram registrados altos índices de melhoria nas condições do ar e de muitos mananciais de água. Muitos gestos de amor ao próximo de anônimos se fizeram perceber por várias partes do mundo. Muitas pessoas reavaliaram suas vidas, seu valores, suas prioridades. Outras encontraram um sentido na vida em ajudar alguém. Pudemos perceber, pela primeira vez em anos – talvez em séculos – o quanto estávamos já isolados de nós mesmos e das coisas e pessoas que realmente importam nas nossas vidas e tivemos a chance de nos reaproximarmos de nós mesmos, de convivermos com nós mesmos, até de perdoarmos a nós mesmos…

(Ilustração: Manuel Granja)

Óbvio que para muitos o egoismo continua prevalecendo. São aqueles que negam tudo o que aconteceu e ainda está acontecendo. São aqueles que se recusam a usar uma simples máscara. São aqueles que se recusam a tomar uma vacina que vai, se não acabar, pelo menos controlar mais um pouco o avanço desse vírus e desse caos. São aqueles que acreditam que o planeta é uma tábula rasa, que só o dinheiro salva e que comunista come criancinhas – quando na verdade, muito padre de reputação ilibada é quem está sendo preso por “comer” criancinhas a redor do mundo…

Ainda assim, acredito piamente que 2020 é um ano que tem muito o que comemorar. E mais! Que jamais deverá ser esquecido!

Perdemos e continuamos a perder muita gente querida. É triste. Mas eu aprendi que as coisas são como são. Simplesmente é assim. E temos que conviver com isso. Vamos sofrer? Vamos. E muito! Mas não tem nada errado em sofrer. As lições mais importantes da vida são aquelas que nos chegam geralmente pelo sofrimento e pela dor. Mas isso não é desculpa para querer deixar de viver. Muito pelo contrário.

O que precisamos fazer é mudar nossa atitude perante a vida e aproveitar e celebrar cada minuto que temos como se fosse o último, seja por causa de pandemia, de guerra, de ataques terroristas, ou simplesmente pelas agruras do nosso cotidiano.

*Silvio Neto é jornalista e pilota o blog “A Vida é Foda” (aliás, recomendo, saquem lá).

Prefeitura de Macapá realiza Live de Lançamento dos livros da Coleção Letras de Ápacam

A Prefeitura de Macapá, por meio da Fundação Municipal de Cultura, realizou nesta segunda-feira, 28, uma Live de lançamento dos livros do projeto literário “Letras de Ápacam”, idealizado e coordenado pelo poeta Joãozinho Gomes e pelo sociólogo João Milhomem. O projeto tem o objetivo de editar e reeditar as obras dos poetas-pioneiros, da chamada primeira e segunda geração, classificados como poetas modernos do Amapá.

“É um momento de felicidade, onde relembramos obras de grandes escritores amapaenses, resgatando assim um pouco da nossa história. Parabenizo os coordenadores do projeto pela iniciativa, desejando muito sucesso, pois nossa Macapá merece. Hoje, nosso acervo literário ganha muito com essa linda coleção. Fico imensamente grato em poder fazer parte dessa realização por meio da Prefeitura de Macapá”, disse o prefeito Clécio Luís.

Entre os poetas que tiveram suas obras reeditadas estão Isnard Lima, com a obra Seiva da Energia Radiante; Alcy Araújo, com Autogeografia e Ave-Ternura; Manoel Bispo, com Obras Reunidas; Ivo Torres, com Love and Love e Cantigas do Meu Retiro e Sermão de Mágoas e trovas do poeta Arthur Nery Marinho. Entre os escritores homenageados apenas dois estão vivos, o escritor Manoel Bispo e Ivo Torres, que também prefaciou a obra juntamente com o escritor e sociólogo Fernando Canto. Desse modo, a prefeitura entrega à comunidade literária e a toda comunidade amapaense mais um valioso documento literário da sua história.

“Estou muito feliz com esse trabalho. É muito gratificante ver a valorização de uma obra minha e de dois grandes amigos que já partiram, mas deixaram um grande legado para a literatura amapaense. Tenho orgulho de fazer parte disso e sendo o único poeta vivo entre os autores, desfrutando em vida deste momento”, relatou o escritor Manoel Bispo.

Na ocasião, Alcilene Cavalcante, filha do saudoso escritor Alcy Araújo, aproveitou para agradecer e falar do sentimento de ver o projeto sendo realizado. “Desde o primeiro dia em que tomamos conhecimento sobre o projeto, ficamos muito emocionados, e mais ainda quando vimos a execução que foi feita com tanta perfeição. Só temos a agradecer por manter essa obra viva, sempre relembrando o grande legado que o nosso pai Alcy Araújo deixou para a literatura amapaense”, disse.

No evento, estiveram presentes os escritores José Pastana, Fernando Canto, Paulo de Tarso, Joãozinho Gomes e João Milhomem.

Secretaria de Comunicação de Macapá
Kelly Pantoja
Assessora de comunicação
Fotos: Cleito Souza

APIB apela ao STF pela proteção urgente de povos isolados de evangélicos

Foto: APIB

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (@apiboficial) encaminhou ontem (29) uma solicitação de urgência para que o Supremo Tribunal Federal (STF) tome medidas para proteger os povos indígenas isolados da atuação de missionários evangélicos. O pedido busca fazer com que o STF determine a inconstitucionalidade de um trecho da Lei 14.021/20 que permite a permanência de missões de cunho religioso em territórios onde há comunidades de indígenas isolados

O apelo da Apib acontece após o presidente do STF, Luiz Fux, recusar a análise da inconstitucionalidade de parte da lei por não considerar o assunto urgente e nesse sentido pede que a decisão seja reconsiderada.

A Lei 14.021/20 cria mecanismos de proteção aos povos indígenas durante a pandemia, mas durante seu processo de aprovação um trecho da lei foi modificado e prejudica os povos indígenas isolados beneficiando missões evangélicas.

“As missões de cunho religioso que já estejam nas comunidades indígenas deverão ser avaliadas pela equipe de saúde responsável e poderão permanecer mediante aval do médico responsável”, esse é o trecho da lei que o apelo da Apib ao STF solicita que seja considerado inconstitucional.

A APIB pede urgência no caso, pois a lei perderá efeito no dia 31 de dezembro e, depois dessa data, não haverá mais razão para analisar a inconstitucionalidade do trecho questionado. Sem a análise, os missionários que já estão em terras indígenas poderão permanecer nas regiões, impactando na cultura dos povos originários e oferecendo riscos à cultura, saúde e vida desses povos.

Veja o pedido na íntegra AQUI.

Ascom APIB

Quando a gente se guiava pelas estrelas – Crônica de @alcinea

 

Crônica de Alcinéa Cavalcante

“Olha! Olha!” Exclamava o menino apontando para o céu: “Lá vai, lá vai”. E todos olhavam e viam e falavam sobre o objeto que passava saltitante entre nuvens e estrelas. Não. Não era um disco voador. Era simplesmente um satélite, provavelmente desses que ficam fotografando a Amazônia.

Diversão da meninada naquele tempo, quando a noite caía, era sentar na frente da casa e olhar o céu, caçar satélites e estrelas cadentes, procurar São Jorge na Lua e identificar constelações. O telescópio era um canudo de cartolina.

Ah, tempo bom, quando a gente sabia se guiar pelas estrelas e sonhava ser astronauta para visitar outros mundos, brincar em outros planetas e, depois, voltar à Terra com as mãos transbordantes de estrelas.

Trazer também uns fiapos de nuvem para fazer algodão doce, pois que a vida, meu irmão, era uma doçura e plena de encantamento naquela rua sem asfalto, sem bangalôs, sem muros e sem televisão.

 

Clínica de Direitos Humanos da UNIFAP anuncia o lançamento de seu primeiro trabalho técnico

Foi lançado a produção técnica da Clínica de Direitos Humanos (CDH) que reúne em uma coletânea os casos julgados, medidas provisórias e opiniões consultivas no âmbito da Corte IDH, voltadas para a garantia e proteção das mulheres e também dos povos e comunidades tradicionais. Em complemento, apresenta ao final, um conjunto normativo internacional direcionado aos temas. A opção pelas temáticas desta Coletânea é justificada pelo contexto de violações no Brasil, e mais especialmente na região amazônica e amapaense. A produção do material é uma forma de consolidar e divulgar, num documento único, a base de sustentação jurisprudencial formada pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos, de modo a incentivar o uso em petições, pareceres, decisões e estudos.

Este é o primeiro trabalho técnico da Clínica de Direitos Humanos da UNIFAP e teve como coordenadora a Profa. Dra. Linara Oeiras Assunção com orientação das professoras doutoras Daize Fernanda Wagner e Helena Cristina Guimarães Queiroz Simões e organização da CDH/ UNIFAP.

Conheça aqui a Coletânea de Jurisprudência da Corte IDH: https://www2.unifap.br/direito/files/2020/12/Colet%c3%a2nea-de-Jurisprud%c3%aancia-da-Corte-IDH.pdf

Ascom Unifap

Prefácio do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias” – Por Fernando Canto

Foto: Flávio Cavalcante.

Por Fernando Canto

Após a súbita subida dimensional do nosso inesquecível amigo Tãgaha Soares, o Elton Tavares me elegeu para escrever o prefácio do seu primeiro livro de crônicas e contos. Haja responsa.

Já se passaram dois anos, e eu aqui tentando alinhavar umas palavras que coubessem no seu texto carregado de frases insólitas, no conjunto do seu fazer insistente em dar forma e existência a uma produção intelectual que traz a lume no seu famoso site “De Rocha”.

Tagaha Luz, o primeiro incentivador para o livro, que morreu em 2016.

Ao leitor inabitual fica a advertência: você vai encontrar palavras inexistentes, mas deverá compreender o intuito, pois o autor é chegado a um neologismo onde realmente nenhuma palavra cabe, e a gírias atuais, modernas, que pessoas da geração dele se comunicam com libações ao redor de uma cerveja do polo sul. Fica também a informação de que palavras como: ”infetéticos”, “migué”, “tals”, “óquei”, “brodagem”, “caralístico” “paideguice”, “sequelado” e “rabugem” trazem sempre uma boa dosagem de ironia e lirismo, porque, como ele mesmo diz: “Nunca fui convencional”. E sempre que pode reafirma recorrentemente: “É isso!”

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Nestas crônicas Elton Tavares se exime de toda a responsabilidade textual que venha possibilitar relação com a sua trampagem (O cara é jornalista, brother!). Disso ele se esquiva e mergulha fundo com independência e caráter. E navega por trilhas que abre diuturnamente como o seu peso e coragem, até encontrar outros rumos temáticos. São saborosas observações do cotidiano expressas de forma, diria novamente, inusitadas, dinâmicas e expostas ao sol do equador com seus cabelos-letras-acentos ao vento do Amazonas. Se elas têm sabor, têm cheiro & pele, têm espuma & malte. Têm, sobretudo, a ausência do conservantismo prosaico e das platitudes tão comuns dos que escrevem suas observações cotidianas sem o compromisso com a escritura, ao invés de tê-la como um deleite da vida humana. Por isso elas são irretocáveis no conteúdo e irreverentes, também no endereçamento aos hipócritas.

Elton Tavares e Fernando Canto, no traço de Ronaldo Rony, que ilustrou o livro.

Creio que as crônicas aqui escritas – muitas delas circunscritas ao Amapá – carregam gestos excruciantes que nos levam a refletir sobre a noção de espaço, pois às vezes temos a intenção de ser espaço. E, por carregarmos muitos vazios dentro de nós, antes e depois do almoço, a intenção é o próprio espaço que esperamos preencher com algo de bom que ficou da nossa vida por um tempo. As crônicas tavarianas me dão esta louca impressão de saciedade, mas depois a fome de ler volta com os cascos, que só pode ser saciada na companhia de uma cerveja bem gelada.

*O livro foi lançado no último dia 18 de setembro. Ah, A obra tá linda e está à venda na Public Livraria ao preço de R$ 30,00 ou comigo, Elton Tavares (96-99147-4038).

E hoje em dia, como é que se diz “Eu te amo” ?

Ilustração: Milton Keneddy (encontrada na página: http://miltonkennedy.blogspot.com/2010/03/aries-com-ascendente-em-peixes.html)

Sempre que escuto a velha Legião Urbana, entro em um portal do tempo/espaço e a cabeça viaja para um montão de memórias afetivas e pessoas, situações e etc. Música é fogo, nos transporta para antigos lugares e reflexões distintas.

Certa vez, há mais de uma década, em meio às canções (e entre as paixões, como diria Milton), que foram trilha sonora da longínqua adolescência, li um recado da Lorena Queiroz, minha prima “Loloca”, que morava em Brasília (DF) na época e hoje em dia está em Florianópolis (SC). Nele, ela disse: “Aí primo…quando leio estas coisas, até me aperta o coração, também te amo e morro de saudades. Beijo!.” (eu havia deixado na página dela do extinto Orkut duas palavras: te amo).

Vou explicar. Sou um cara cascudo, brabo, encrenqueiro, irônico e genioso, mas também sou amoroso com minha família e amigos. É uma sequência de “eu te amo para cá”, “eu te amo para lá” e assim vai. Isso acontece todos os dias, seja ao acordar e dar um beijo na minha mãe, ao telefone com o meu irmão (que mora em Belém), quando vou à casa da minha avó e digo “eu te amo” a ela e minha tia. Foi assim com várias outras pessoas que amo. Sim, amo uma porrada de gente, graças a Deus!

Não tenho vergonha de dizer “eu te amo”, principalmente quando sinto muita vontade. Sabem por que? Em 1996, meu avô faleceu em um acidente automobilístico. Eu estava em Belém, de férias. Retornei à Macapá e meu saudoso pai estava arrasado. Quando perguntei como ele estava, Zé penha (meu velho) foi categórico:

“Ta foda!”, e um “tá foda” descreve muito bem aquela situação. O que me marcou foi quando ele disse: “Nunca disse ao meu pai que eu o amava e eu nunca mais deixarei de fazer isso”.

Ilustração: Milton Keneddy (encontrada na página: http://miltonkennedy.blogspot.com/2010/03/aries-com-ascendente-em-peixes.html)

Aquilo foi um toque, desde então, não parei de declarar meu amor aos meus. Acredito que precisamos sempre dizer que amamos as pessoas que realmente amamos, seja um parente direto ou alguém que vale muito para você. Muitos lerão isso aqui e vão achar que é frescura ou algo assim, mas parafraseando o velho Renato (duas vezes): “O mundo anda tão complicado. E hoje em dia, como é que se diz: “Eu te amo.”?

Se você é um cara daqueles antigões, que acha isso uma grande besteira, tente bicho, verás como é legal. Afinal, esquisito é não expressar nada, isso sim é bobagem. Então fica a dica, digam “eu te amo” para seus pais, filhos, irmãos, parentes, cônjuges e amigos, se isso for “de rocha”, claro.

Natal da Solidariedade: feirantes do Novo Horizonte recebem orquestra e comemoram iniciativa

Natal e Ano Novo são duas importantes datas de celebração e que nos remetem a reavaliar esse ano que passou, renovar as energias, celebrar os bons acontecimentos e traçar novos objetivos para o novo ano que vem chegando.

Com isso, para muitas famílias, esse período também significa envolvimento em planejamentos e organizações de festas, que, em período de pandemia, devem seguir todos os protocolos de segurança, como evitar aglomerações.

O Natal da Solidariedade, projeto desenvolvido por servidores do Governo do Estado, tem levado alegria com muita música tocadas por estudantes da rede estadual, integrantes da banda de fanfarra e servidores da Secretaria de Estado da Educação (Seed), que organizaram visitas às feiras da capital.

Na manhã do último domingo (27), foi a vez da Feira do bairro Novo Horizonte, zona norte de Macapá, receber a orquestra. Para a feirante Diana Barbosa, de 38 anos, a fé a tem garantido acreditar em dias melhores que parecem terem chegado com a iniciativa dos jovens.

“O povo parece estar sem esperança devido a tudo o que aconteceu, mas nós sabemos que Deus não nos abandonou. Então, ter esse grupo de jovens fazendo isso por nós, trazendo um pouco de alegria, é muito bom. São poucos que decidem fazer algo pelo próximo. Aqui, passamos dia e noite trabalhando e nunca nos é oferecido coisas como essa”, contou Diana.

Trabalhando com venda de lanches, Francisca Silva, de 55 anos, diz que os feirantes nunca receberam uma banda que dedicasse canções para eles.

“Eu agradeço a iniciativa. Seria ainda melhor se houvesse uma escola de música no bairro para incentivar outros jovens a participarem desse tipo de ação. Porque, é tão maravilho ser lembrada que eu peço que venham mais vezes aqui.”, sugeriu a feirante.

Confira o cronograma das próximas ações:

Data: 29 de dezembro

Local: Feira do Perpétuo Socorro e Feira do Pescado

Hora: 8h00

Local: Feira do Jardim I

Hora: 15h00

Fonte: Diário do Amapá

Secult anuncia lista final do edital de Fomento Pimpolho Sanches e lista final corrigida do edital “Siney Sabóia”

A Secretaria de Estado da Cultura (Secult) do Amapá anunciou, no último sábado (26), a lista final dos selecionados para edital de Fomento Pimpolho Sanches (confira os link da lista no final da matéria).

Além do edital Pimpolho Sanches, a Secult divulgou hoje a lista correta de classificados para o edital Siney Sabóia – Prêmio de Cultura Afro-Amapaense. Análise de recursos e reformulou a listagem.

Os documentos, assim como vários outros, está previsto no Inciso III da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, voltados para diversas áreas do setor cultural, como apresentações de espetáculos, contações de histórias, demonstrações técnicas, exibições de obras de cinema/audiovisual, oficinas, debates, palestras, shows e outras, envolvendo categorias artísticas e étnicas.

A medida, de forma integral, visa fomentar quase 700 iniciativas artísticas e culturais, com um investimento de mais de R$ 10 milhões na cultura amapaense. A execução dos editais é coordenada pela Secult.

A Secult informou que o edital tem o objetivo de fomentar a cadeia produtiva cultural no estado e assim garantir a geração de renda para o setor, que foi diretamente afetado pela pandemia do novo coronavírus.

A avaliação contou com curadores externos, que pontuaram: trajetória profissional comprovada, qualidade artística, relevância e caráter inovador da proposta, bem como o diálogo com a diversidade cultural do Amapá.

Link com a lista de classificados no Edital Pimpolho Sanches: https://cutt.ly/Hh81Uh9

Link com a lista de classificados no Edital Siney Sabóia – Prêmio de Cultura Afro-Amapaense: https://bityli.com/0kTJh

Resumo de atividade

A Secult também informou uma série de atividades realizadas em dezembro, relacionadas ao avanço dos editais.

No dia 1ª de dezembro foi divulgada a relação dos aptos a receberem o auxílio emergencial da cultura, também referente à Lei Aldir Blanc.

No dia 2, o órgão divulgou a relação preliminar das atrações que apresentaram suas propostas para avaliação no edital 004/2020, para compor a programação da Semana da Consciência Negra que terá edição online, disponível no site da Secult (www.secult.ap.gov.br).

No dia 3 de dezembro, a Secult iniciou o pagamento do auxílio emergencial da Lei Aldir Blanc, no valor de R$ 600 para cada artista contemplado. As cinco parcelas neste valor são efetuadas de uma única vez. Têm direito a esse auxílio, artistas maiores de 18 anos, que não receberam outro tipo de auxílio do Governo Federal, que não recebem benefício previdenciário, ou assistencial, que não tenham emprego formal ou ativo e se estiverem fora dos parâmetros de renda mensal.

No dia 9 de dezembro, foi informada a lista final dos grupos que tiveram propostas aprovadas e se apresentarão na Semana da Consciência Negra em forma de live.

São 28 atrações aprovadas na categoria Música Popular com Temática Negra, seis atrações aprovadas na categoria Dança com Temática Negra e 109 atrações aprovadas na categoria Cultura Popular, Tradicional e Identitária.

No mesmo dia também foi anunciada a lista a lista preliminar dos editais “Rato Batera” e “Seu Portuga” – ambos disponibilizados através da Lei Aldir Blanc.

No dia 15 de dezembro foi a vez do órgão liberar a lista final dos aprovados os editais “Rato Batera” e “Seu Portuga”.

Ja no último dia 23, foram lançados os resultados das listas finais dos editais, Sandro Corrêa, Ângelo de Jesus e Fernando Forte Karipuna.

Réveillon na orla de Macapá terá shows virtuais e soltura de balões no lugar dos fogos

Fortaleza de São José de Macapá será iluminada para a soltura de balões — Foto: Lorena Kubota/G1

Por John Pacheco

Sem aglomeração, o abraço desejando felicidades, mas com muita fé e otimismo, sem esquecer dos desafios a serem superados. Sem festa, mas com celebração, o tradicional Réveillon da Beira Rio, na orla de Macapá, será virtual, com um culto ecumênico seguido de shows musicais na passagem de 31 de dezembro para 1º de janeiro de 2021.

A medida foi tomada para evitar qualquer aglomeração, sob o risco de contaminação pelo novo coronavírus. Com artistas locais e representantes das religiões católica, evangélica e de matriz africana, a programação vai acontecer, sem a presença de público, na Fortaleza de São José e será transmitida pela internet.

A organização da programação terá no local apenas a equipe necessária para o evento, organizado pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e a Associação de Músicos e Compositores do Amapá (Amcap).

À meia-noite de 1º de janeiro, a mais que tradicional queima de fogos será substituída pelo silêncio. Ao invés das luzes, serão soltos balões, cada um homenageando os mortos pela Covid-19 no estado, que até esta quinta-feira (24), somam 891.

A programação, de 21h30 às 1h, poderá ser acompanhada de qualquer lugar no Facebook e canal do YouTube da Secult. A música fica por conta de artistas, como Enrico Di Miceli, Osmar Júnior e Paulinho Bastos.

“Vamos fazer dentro da Fortaleza, na parte interna. Teremos inicialmente o culto ecumênico e à meia-noite vamos soltar os balões brancos. Vamos fazer uma iluminação forte para que as pessoas tenham a visibilidade dos balões quando soltarmos”, explicou o secretário de estado da Cultura, Evandro Milhomen.

A organização reforça que os macapaenses evitem circular no entorno da Fortaleza, pois não haverá nenhuma programação no local para o público, somente a on-line. Milhomen reforça também que as pessoas não façam grandes concentrações.

“Uma coisa tranquila, serena, para termos esse momento de reflexão, de tudo o que está acontecendo e com a paz de que poderemos entrar num ano novo melhor”, completou.

Banda Negro de Nós será uma das atrações a se apresentarem na primeira hora de 2021 — Foto: Divulgação/Sesc

Confira a programação do Réveillon Virtual Religioso:

Culto ecumênico

21h40 – apresentador
21h45 – pastor
22h10 – padre
22h35 – cultos afros
Programação musical

23h – Francisco Alves
23h10 – Paulinho Bastos
23h20 – Jorginho do Cavaco
23h30 – Enrico Di Miceli
23h40 – Joãozinho Gomes
23h50 – Osmar Júnior
0h – Soltura dos balões e celebração do Ano Novo
0h10 – Brenda Melo
0h20 – Afro Brasil
0h30 – Adenor Monteiro
0h40 – Rambolde Campos
0h50 – Negro de Nós
1h05 – encerramento da transmissão

Fonte: G1 Amapá

Feliz Natal, familiares, amigos e leitores do site De Rocha!

Como já disse aqui, por várias vezes, não sou lá muito religioso. O Natal é uma festa cristã. Particularmente, prefiro as profanas, como o carnaval. Porém, numa época dessas, em que todos estão extremamente legais, desejam tudo de melhor para todos e o velho blá, blá, blá, vale a pena festejar o aniversário de Jesus Cristo, pois o cara fez uma presença e tanto para a humanidade.

Brincadeiras a parte, desejo que o espírito de Natal ilumine a minha família e amigos, além dos familiares de todos que gosto (o natal não me torna hipócrita, pois não desejo o mal dos desafetos, mas também dar votos de fim de ano é uma mentira cínica). E também para os cidadãos que praticam o bem aos desamparados.

Agradeço a Deus pela minha saúde e a saúde dos que me são caros. Pela minha família, por trabalhar na área que escolhi e ser recompensado por isso, pelos verdadeiros amigos (que sei bem quem são) e pela ótima vida que tenho. Gratidão ainda por não participar de nenhum amigo secreto esse ano. É, não tenho pedidos, mas somente agradecimentos neste natal, afinal, este ano foi tenebroso, mas sobrevivemos.

Que Deus (ou seja lá qual o nome do manda chuva do Universo) abençoe a todos que amo. Enfim, que ELE continue a nos proteger, guiar e iluminar.

Que nesta data não falte música boa, comida gostosa, abraços, risadas e principalmente pessoas queridas, mas que também seja de reflexão sobre a mensagem de Cristo.

Desejo a vocês, queridos leitores deste site, amigos, familiares e críticos, AMOR, ESPERANÇA, RENOVAÇÃO, PAZ, UNIÃO, FRATERNIDADE, SOLIDARIEDADE e FÉ. Feliz Natal para todos. Obrigado pela atenção.

“Bendita seja a data que une todo mundo em uma conspiração de amor” – (Hamilton Wright Mabi).

Elton Tavares

O Velho das Latas – Crônica de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Aquelas barbas espessas no rosto do homem, brancas, brancas, se esvoaçavam com o vento da Beira-rio. Eram barbas longas que chamavam a atenção de qualquer um, mas que logo, logo, provocavam uma sensação de desprezo pela figura. As pessoas nas mesas ao meu redor comentavam sobre ela e após constatarem que era um mendigo se desinteressavam.

Que era um velho o dono das barbas parecia óbvio. Jamais vira aquela pessoa na praça e creio que ninguém a conhecia também. Era um ser estranho. Não fossem as barbas longas diria que era um ancião indígena há muito tempo expulso da vida selvagem e degradado na cidade. Talvez tivesse vindo lá do sul do Pará ou do Maranhão, onde se vê tanto índio mendigando, bêbados, pelas rodoviárias.

Acompanhei seus gestos. De vez em quando ele apanhava uma lata de alumínio do chão, ajeitava-a e pisava nela com força, até achatá-la. Depois a punha num saco que carregava às costas e ia e vinha embalando seu cansaço. Calculei que ele se aproximara dos quiosques no finzinho da tarde quando os frequentadores dos bares surgiam para suas confabulações habituais. Certa hora ele se aproximou de uma mesa onde estava um casal bebendo cervejas em lata. Muitas delas já haviam sido consumidas e, amontoadas, tomavam a forma de pirâmide. Ele chegou devagar e pediu as latas vazias com os olhos. O rapaz o encarou e jogou uma lata no chão. O velho abaixou-se para pegá-la, mas o rapaz o empurrou sobre umas cadeiras de plástico, rindo de um jeito antipático e covarde. A moça que acompanhava o valentão repreendeu-lhe nervosamente, pagou a conta e foi embora na frente. Tentei ajudar o velho a se levantar, mas ele se desvencilhou de mim, atravessou a pista e sumiu.

A lua minguante surgiu como um imenso olho de cachorro dentro de uma nuvem negra e a maré subia, subia, arrebentando o muro de arrimo, o último anteparo de uma enchente ameaçadora. O vento intenso parecia orquestrar o bailado das águas, vigoroso e circular, provocando frio. Eu não duvidei que naquele momento e naquele pedacinho da cidade a natureza estava conspirando contra mim. Havia muitas luzes em toda parte, e eu estava ali ensimesmado, viajando em desilusões e lembranças amargas, esperando um tempo novo para mim. Sentia-me como uma roupa lavada e posta para secar no varal em dias de inesperados chuviscos.

De repente tomei um susto ao erguer os olhos. O velho surgiu na minha frente me encarando como se eu lhe devesse alguma coisa. Tinha o olhar severo e desafiador. Intrigado, pedi que sentasse e resolvi lhe encarar do mesmo jeito. Seu semblante foi mudando devagar até que sorriu. Então pude ver que seus dentes eram de uma brancura inquietante, mas ele tentava mesmo era falar com os olhos, numa comunicação inusitada que surpreendentemente eu compreendia. E foi “falando, falando em silêncio”. Pelos seus olhos dizia dos fenômenos das marés e dos ventos como um mestre em Geografia; falou do céu e das constelações como um velho astrônomo egípcio; dos homens como um santo e do coração como um deus que abre todas as portas para o amor. Enquanto “falava”, percebi que manuseava uma lata de alumínio com movimentos suaves, assim como quem modela uma peça de argila. E após tantas viagens imaginadas, que quase fizeram esquecer minha tristeza, o estranho homem se despediu e foi caminhando com sua sabedoria em direção à fortaleza de Macapá.

Ilustração de Fernando Canto.

Ficou em mim uma momentânea sensação de felicidade e a boca seca de vento e vinho. Mas logo voltaria aquele estado de amargura, de ter o coração fechado e um gosto de desamor e de abandono. Meus olhos apenas contemplavam o infinito. Foi então que ouvi o espocar de fogos de artifício e caí na realidade. Sobre a mesa estava uma chave retorcida feita de lata. Olhei ao redor, as mesas vazias. Um casal de garçons me acenava sorridente. Pensei no velho das latas, apertei a chave com força e uma sensação de paz abriu em meu coração para nunca mais se fechar para o amor. Olhei novamente em volta. O relógio do trapiche marcava meia-noite. Era natal e as luzes piscavam como meus olhos cheios de marés lançantes.

Resenha do livro “As alegrias da maternidade” – Buchi Emecheta (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

Certa vez ouvi minha avó dizer: ” Uma mãe cuida de dez filhos, mas dez filhos não bastam para cuidar de uma mãe”. Eu não entendia muito bem o que ela queria dizer com aquilo. Só depois de tomar conhecimento sobre a quantidade de idosos esquecidos em asilos, é que fui entender quanta razão vovó tinha. Seria essa uma das alegrias da maternidade?

A trama se inicia na década de 20 em Ibuza, Nigéria. Em uma tribo igbo, Nwokocha Agbani, um grande líder africano se apaixona por Ona, sua amante. Vindo desta relação, Nnu Ego. Vale ressaltar que a poligamia fazia parte dos costumes e Agbani tinha outras esposas. Quando Nnu Ego entra na adolescência, seu pai cuida de negociar seu casamento. A jovem esposa vai embora morar com a família de seu marido. Seu pai recebe seis barris de vinho de palma como agradecimento por sua filha ser uma virgem intacta. Ocorre que, por melhor esposa que a moça fosse, de nada valeria se ela não pudesse gerar um filho, e de preferência, homem. Assim, o casamento de Nnu Ego se desfaz sob todas as humilhações que uma mulher infértil poderia sofrer dentro dos costumes de seu povo. Agbani, protegendo o futuro da filha mais amada e não menos submissa, negocia um segundo casamento para Nnu Ego. O noivo era Nnaife Owulum, um homem rechonchudo que trabalhava em Lagos, Nigéria. Apesar das muitas diferenças entre os dois, Nnu Ego preza pelos costumes e a obediência ao pai; então, aceita seu marido, pois ele lhe ajudaria a mostrar a todos que não seria uma fracassada; aquele homem ao qual ela inicialmente não nutria atração ou afeto, lhe daria um filho. E logo isso acontece.

Em Lagos a vida era muito diferente de Ibuza. Sendo protetorado britânico, a influência do homem branco está presente. Eles empregavam os pretos que chegavam de lugares como Ibuza, e Nnaife Owulum trabalhava para os brancos. O que lhe fazia ser um pouco diferente de seu povo em alguns aspectos, mas conservando os costumes que lhe eram convenientes.

O tema central do livro é a saga da mãe Nnu Ego que, moldada pela idéia de que os filhos lhe trariam realização pessoal, prestígio perante a comunidade e segurança na velhice, passa pelas piores provações a que uma mãe poderia ser infringida, ainda mais dentro cenário histórico em que se passa o livro. Fome, privações e doenças. Uma mãe se virando sozinha para criar os filhos. Sempre sendo cobrada pelas tristezas e nunca premiada pelas alegrias. Pois quando um filho dava orgulho era mérito do pai. Mas quando errava era culpa da criação dada pela mãe. Uma eterna vida de cobranças, submissão e sofrimento. Não bastasse a condição difícil que ser mulher a colocava, ainda existiam as cobranças em cima da maternidade, que deixava sua vida cada vez mais difícil. Mas, apesar de todas as dificuldades, Nnu Ego consegue e, como todas as mães, sofre pelos filhos. Estes que são flechas lançadas ao mundo.

Confesso que esta leitura me causou um impacto muito grande. Nada que eu, e minhas irmãs de gênero não saibamos. Mas poucas vezes vi a verdade sendo colocada de maneira tão arrebatadora como Buchi Emecheta fez nesta obra que, além de mostrar uma atmosfera já difícil para qualquer ser humano, a condição da mulher é algo que é duplicadamente pior. E eleve à décima potência as dificuldades da vida de uma mãe pobre e sozinha. Não tão longe também as cobranças que ainda temos na sociedade pela procriação. Os que ainda acreditam que a mulher tem que ter um filho para sentir-se completa. Como se outras realizações fossem efêmeras mediante à alegria da reprodução. E, acreditem, é perfeitamente humano você não querer tê-los. Uma mãe é um ser sacrificado, ela nunca mais dorme como antes de seus nascimentos. Ela nunca mais ficará sem seu nome ser proferido por mais de 15 minutos. Vão sempre preferir adoecer a ver um filho doente. Pois estas são as mães, seres de corações calejados que possuem o amor que sempre salvará o mundo.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de Literatura e devoradora compulsiva de livros.

Hoje rola Auto de Natal “O Boi e o Burro a Caminho de Belém”, no instagram do Movimento Cultural Desclassificáveis

Nesta quarta-feira (23), a partir das 19h, o Movimento Cultural Desclassificáveis apresentará, o Auto de Natal “O Boi e o Burro a Caminho de Belém”. O espetáculo natalino será transmitido em live nas redes sociais Instagram, no perfil do grupo teatral @desclassificaveis e Facebook (https://m.facebook.com/desclassificaveis.movimento?locale2=pt_BR)

Sobre o Auto de Natal

O Auto de Natal “O Boi E O Burro a Caminho de Belém” encenado pelo MOVIMENTO CULTURAL DESCLASSIFICÁVEIS propõe a livre adaptação da obra da autora carioca Maria Clara Machado, apresentada de forma itinerante em diversos locais do estado do Amapá, por vários anos consecutivos. O espetáculo retrata o tradicional nascimento do menino Jesus a partir da narrativa do Boi e do Burro, animais do presépio natalino e, todas as implicações deste grande acontecimento para a humanidade; empregando uma linguagem lúdica e irreverente, a partir da ótica destes personagens e, de elementos simbólicos que pontuam a cena.

FICHA TÉCNICA

ELENCO:

ANDREIA LOPES
GEOVANA MORAES
HAYAM CHANDRA
JOÃO MARCOS OEIRAS
JUBSON BLADA
LEANDRO MORAES
LUCIANO MELO
NETO PASTANA
RENILDA NAVEGANTE
RICARDO SANTOS
SOL SIMIT
TONI SYLO

TEXTO: MARIA CLARA MACHADO

ENCENAÇÃO: MOVIMENTO CULTURAL DESCLASSIFICÁVEIS (LIVRE ADAPTAÇÃO)
CENOGRAFIA: TONI SYLO
FIGURINO: DESCLASSIFICÁVEIS
SONOPLASTIA: MARCUS VINÍCIUS
ILUMINAÇÃO: DESCLASSIFICÁVEIS
PRODUÇÃO EXECUTIVA: DESCLASSIFICÁVEIS
DIREÇÃO: PAULO ALFAIA
REGISTRO ÁUDIO VISUAL: LUCAS SOUZA
PARCERIA: TEATRO MARCO ZERO

*Contribuição do amigo Marcelo Sá.