Páginas destacáveis e envelopes são o diferencial do segundo livro do poeta Bruno Muniz

“Depois Vá Ver o Mar”, da editora goiana Kelps, é a segunda obra da carreira do escritor e poeta goiano, Bruno Muniz. As páginas do livro, que contêm cartas em forma de prosa e poesia podem ser destacadas e enviadas, já que dentro do livro também vêm alguns envelopes personalizados e 1 marcador de página.

O livro, lançado recentemente, conta a história de um carteiro, que lê as cartas que deveria entregar, e dependendo do teor de cada uma, decide se conclui seu trabalho. Dessa forma, ele interfere na vida e no futuro das pessoas.

O autor relata que investiu numa fórmula diferenciada, voltada ao romantismo. “Minha expectativa é que o formato, que mistura prosa e poesia, agrade o leitor e provoque emoções. O livro aborda a troca de cartas entre 16 personagens.”

Sobre o autor

Bruno Muniz nasceu em Goiânia, mas mora em Macapá. Há 4 anos lançou sua primeira obra “Cem Versos Putos Sobre Mim”.

Sua relação com a literatura começou aos 9 anos e seus escritores favoritos são Olavo Bilac, Fernando Pessoa, e Arthur Rimbaud, entre outros.

“Quando fixei residência em Macapá organizei junto com o músico e poeta Osmar Júnior e o escritor Marven Junius, o grupo lítero-musical “Beatos Cabanos” e desde então começamos um trabalho de “cantar” poesias.

O autor planeja o lançamento do novo livro em Macapá e Belém. “Quando a população estiver vacinada contra o Covid-19, vou marcar as datas”, informou.

Como adquirir o livro

As vendas estão sendo realizadas pelos perfis do autor no Facebook (Poeta Bruno Muniz), Instagram (@poetabrunomuniz) e pelo Whatsapp (96) 98809-3161.

Ana Anspach
Assessoria de comunicação

Mini Curso Online “Marxismo negro: uma teoria crítica marginal”

No próximo dia 30 de janeiro de 2021, das 10h às 13h, será realizado um mini curso online produzido pela editora Dandara. A palestra virtual, denominada “Marxismo negro: uma teoria crítica marginal”, será proferida pelo sociólogo e professor Doutor, Fábio Nogueira, especialista no tema e transmitida pela pela Plataforma Google Meet.

A taxa para participação é de somente R$50,00 e certificação. Os interessados em participar e aproveitar a oportunidade única de ampliar suas visões de mundo, poderão se inscrever AQUI: https://pag.ae/7WNmNbmw3

Sobre o Mini Curso Online “Marxismo negro: uma teoria crítica marginal”

Como teoria crítica e método de interpretação da realidade, a teoria de Marx e Engels, que inspirou a seus intérpretes e continuadores, a definir as bases do pensamento marxista não teve um desenvolvimento único e constituiu a partir da multiplicidade de contextos, formações econômico-social, embates políticos e da disputa de sentidos desta tradição intelectual. Por certo, o eurocentrisno esteve na base das primeiras interpretações marxistas, o que foi se modificando seja pelo processo de mundialização do capital e pelas próprias respostas que movimentos políticos anti-coloniais, anti-racistas e feministas estabeleceram com esta teoria da ação. Antigas colônias na África e na Ásia se libertaram tendo a frente movimento e intelectuais marxistas trazendo aportes da luta anti-colonial a teoria marxista. Além disso, os movimentos anti-racistas e feministas na América e Caribe também dialogam com o marxismo. Neste processo contraditório, surgiu uma teoria crítica marginal, o que autores como Ramón Grosfogel chama de marxismo negro e que tem, no Brasil, como um dos seus principais expoentes, Clóvis Moura (1925-2003) que publicou, em 1959, o clássico das ciências sociais, Rebeliões da Senzala.

Conceitos atualmente em voga do pensamento marxista como os de sistema-mundo, colonialidade do poder e colonialismos interno foram produzidos por intelectuais e ativistas negros e negras a partir de seus diferentes lugares de práxis e dialogando com as formações histórico-sociais concretas em que estavam inseridos. Como método de interpretação e intervenção na realidade, o marxismo negro é uma teoria crítica marginal (que se pensa a partir das margens e pela negação do centro), pouco conhecida mas que tem aportes significativos para o debate político e no âmbito das ciências humanas até os dias atuais.

Sobre o professor Fábio Nogueira

Doutor em Sociologia (USP) e Professor Adjunto da UNEB (Universidade do Estado da Bahia). Publicou Clóvis Moura: trajetória intelectual, práxis e resistência negra (Eduneb, 2015) e Malês (1835): Negra Utopia (Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, 2019), além de diversos artigos sobre a temática racial no Brasil e no Caribe.

Para mais informações, acessar o site da Editora Dandara: www.dandaraeditora.com.br

*Dica da Alzira Nogueira.

Livro “Poetas da Música Amapaense”

A Música Popular Amazônica existe há décadas, sendo que é uma realidade nos estados da Região Norte do Brasil. Aqui no Amapá é grandemente consumida, está na mídia e nas rádios, sendo os cantores e compositores amapaenses dessa vertente musical, ainda desconhecida para grande parte do Brasil, bastante conhecidos.

Reunimos nesta coletânea vários compositores da Música Popular Amapaense, conhecida como MPA, a fim de que a sua poesia ficasse registrada em livro, pois são poetas da música, o que bem mostra esta antologia. A qualidade de seus versos não poderia ficar esparsa por aí, merecia um lugar só para ser apreciada.

São quinze compositores e seus estilos, cuja grande marca é uma poesia que fala das coisas da Amazônia e, quando não o faz, revela uma face que bem poderia ser confundida com a MPB, não fosse o som que emana dela cheia de tambores, batuque e marabaixo.

Tais poesias se fazem presentes em festivais desde a década de setenta, para depois ganharem LP’s e CD’s na década de oitenta e noventa em diante, até chegarem as atuais plataformas digitais, é claro, musicadas.

É nítido o trabalho de resistência desses compositores às letras meramente midiáticas, sem compromisso com a qualidade literária. Foi essa a visão que levou os organizadores da antologia a fazer essa seleção dos poetas da música amapaense. É um registro não só literário, mas também histórico.

Foi olhando para o futuro que fizemos essa coletânea, para não sermos esquecidos pelas gerações que vierem. Deixamos aqui um pequeno acervo para a posteridade, ou mesmo para o agora.

Anunciamos com muito prazer esses contemporâneos nortistas do Brasil, cantores-poetas de um movimento amazônico que numa espécie de cabanagem lutam pela identidade cultural desse povo.

Suas canções, suas letras em poesia esclarecem um tempo e uma realidade verde e musical nesta região que caminha para o futuro, a qual poderá servir para pesquisa e deleite dos leitores. Eis os poetas da música do Amapá com seus versos que falam por si. Agradecimento ao grande artista da arte digital, Ronaldo Picanço, por ceder a imagem de capa, que tem tudo a ver com a antologia.

E-book (livro digital). Amazon (amazon.com.br). https://www.amazon.com.br. (Mauro Guilherme).

Fonte: O Canto da Amazônia.

Reconhecimento aos artistas do Amapá: ‘Pérola azulada’ é o novo single da cantora amazonense Karine Aguiar

Foto: divulgação

Por Evaldo Ferreira

‘Pérola azulada’, uma alusão ao planeta Terra. Este é o título do single que a cantora amazonense Karine Aguiar acabou de lançar integrando seu primeiro DVD. A letra da música é de autoria dos compositores macapaenses Zé Miguel e Joãozinho Gomes e traz uma mensagem de positivismo, ideal para ser ouvida nos dias atuais.

O single foi lançado há uma semana e tem tido uma ótima resposta nas redes sociais. Ficamos receosos em lançá-lo neste momento em que o Brasil, e especialmente Manaus, vivem um momento tão delicado com a pandemia, pois, não queríamos ser desrespeitosos com nossos amigos e familiares falecidos e internados por covid neste momento. Eu e minha equipe de produção tivemos muitas reuniões e dialogamos à exaustão até que chegamos à conclusão de que deveríamos lançar, pois, a mensagem da música é bastante positiva, traz esperança”, falou Karine, da Itália, onde está morando atualmente.

O DVD teve a direção artística do cineasta Henrique Saunier Michiles e foi filmado em dezembro de 2019, no Teatro Amazonas, com a participação da Orquestra Experimental da Amazonas Filarmônica, do Coral Musikart, e do quarteto Jungle Jazz, que acompanha Karine há uma década, por sinal, o quarteto conseguiu uma sonoridade particular que combina jazz e a música nativa da Amazônia. Os arranjos para orquestra, coro e small jazz ensemble são de autoria do maestro Antonio Giacometti, compositor reconhecido na Itália por diversas premiações de suas peças e pelo seu trabalho como educador musical em universidades e conservatórios do norte da Itália.

O projeto do DVD foi financiado integralmente com recursos do Edital de Conexões Culturais da Manauscult e apoio da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa.

Cantora amazonense Karine Aguiar – Foto: Jornal do Comércio.

Cidadã do mundo

Em menos de dez anos, Karine conseguiu transformar sua carreira artística num empreendimento de sucesso, por isso viaja o mundo realizando shows, sempre acompanhada de músicos de renome internacional.

“Eu e minha equipe somos (literalmente) uma família. Meu marido Ygor Saunier gerencia meu executivo junto com nossos parceiros na Saunier Music Produções. Além disso, também é baterista do meu quarteto Jungle Jazz, onde compartilhamos a direção artística dos meus shows e do meu material fonográfico e audiovisual. Os demais músicos que compõem o quarteto Jungle Jazz (Anderson Farias, piano; Hudson Alves, contrabaixo; e Marcelo Figueiredo, guitarra) estão comigo há uma década em uma sintonia muito fina. Criamos tudo juntos e somos muito amigos também fora dos palcos”, contou.

A Saunier Music Produções ainda trabalha com produtores executivos e diretores musicais em São Paulo, Nova York, Paris e na Itália, por onde a artista circula como uma artista amazonense internacional.

“Gosto de ser uma ‘cidadã do mundo’, mas minha casa é Manaus. Nos últimos quatro anos me dividi entre Manaus, Campinas e São Paulo por conta do meu doutorado em Ecomusicologia, na Unicamp. Minha carreira não me permite residir em tempo integral em Manaus, pois venho trabalhando em muitos projetos internacionais desde 2012, quando gravei meu primeiro disco ‘Arraial do Mundo’, em Nova York. Desde lá, tenho rodado bastante, mas sempre retorno a Manaus, pois minha casa é aí. Atualmente, estou residindo na Itália (província de Firenze, região da Toscana) e ficarei aqui por todo o ano de 2021 para realizar projetos acadêmicos e artísticos”, revelou.

O DVD foi filmado no Teatro Amazonas, com a participação da Orquestra Experimental da Amazonas Filarmônica – Foto: Jornal do Comércio.

O maior projeto

‘Pérola azulada’ é uma amostra de ‘Jungle Jazz: uma sinfonia amazônica’, primeiro DVD de Karine, produzido em colaboração com o maestro italiano Antonio Giacometti. Em sua execução, o DVD teve uma equipe de mais de 120 pessoas trabalhando, dentre produtores executivos, músicos, cantores, mestres de cultura popular, bailarinos, profissionais de audiovisual, maquiadoras, figurinista, iluminadores e engenheiros de áudio, todos profissionais de Manaus, exceto o engenheiro de áudio, Clement Zular, de São Paulo, e o maestro Giacometti, que escreveu todos os arranjos.

É o maior projeto da minha carreira e eu estou realmente orgulhosa desse trabalho, pois reafirmamos que é possível fazer uma produção com padrão de excelência internacional envolvendo tanto os mais jovens quanto os mais experientes profissionais amazonenses”, afirmou.

Recentemente a carreira de Karine se abriu ainda mais para o mercado internacional através de sua participação com a banda italiana Gen Rosso no single ‘A joy reborn’, num concerto de Natal transmitido para mais de 150 países.

Sobre o lançamento de ‘Pérola azulada’, os comentários têm sido os melhores possíveis, como “essa música me fez recuperar a esperança no futuro”, “é uma obra-prima”, “me fez retornar a um tempo de minha inocência infantil”, dentre outros.

“É um vídeo que realmente tem emocionado muita gente. Essa música traz essa proposta de reconexão com a natureza que, penso que é o nosso grande desafio para este século se quisermos continuar a aventura humana na Terra”, concluiu.

Assista aqui ao vídeo de Pérola Azulada na voz de Karine Aguiar:

Fonte: Jornal do Comércio.

O homem curvo – Crônica de Fernando Canto

Desenho de Manoel Bispo

Crônica de Fernando Canto

Meus olhos infantis ainda enxergam o homem sentado na ponta do trapiche; a trouxa ao lado e a calça escura balançando ao vento. Sua silhueta lembra um soldado descansando da campanha e o jeito magro e curvo parece mostrar mais lassidão, assim como um cavalo magro e velho pastando em campo infértil.

Há três dias aquele homem está sentado no mesmo lugar como se estivesse pescando sem linha, sem caniço ou anzol na maré seca de ondas ralas. Isso é motivo de preocupação. Mas a minha preocupação infantil é jogar meu futebol na praia lamacenta da frente da cidade. Não consigo, porém, me concentrar. A bola é chutada para dentro do rio que já vem enchendo. É lateral. Vou pegá-la adiante e vejo o homem mais perto. Ele está lá. Impassível. É uma estátua viva. “Joga a bola G.”, meus amigos gritam. Eu deixo a pelada de praia, me visto, apanho os jornais que me restam para vender e resolvo ir onde o homem está.

Um sol de equinócio racha meus cabelos escorridos e o solado dos meus pés acostumados que são a andar descalços sobre a enorme ponte de madeira. Ando quase 500 metros, encontrando pessoas e vou vendendo jornais. Ainda bem que o vento espanta esse sol abrasador. Barco chega, barco parte, ancora, aporta e descarrega. E o homem lá. Seu modo esquisito de se comportar dá a impressão que compartilha um segredo com as águas ondeantes do rio, pois elas chegam e varam os pilares do ancorandouro associando uma música estranha aos meus ouvidos.

Aproximo hesitante do homem curvo e ele não dá a mínima. Nem diz, como os outros adultos “Sai daí menino, é perigoso ficar na beira do trapiche”. Ofereço-lhe o último exemplar do jornal e ele fala “Não sei ler”. Mas eu respondo “Eu leio pro senhor”. “Não precisa, ele diz, eu sei de tudo o que se passou aí atrás, por isso estou aqui olhando as águas.”

Foto do antigo porto, em frente da capital amapaense (1966) cedida pelo jornalista e estudioso da história do Amapá, Edgar Rodrigues.

Sento ao lado dele e fico horas jogando conversa fora. Parece que agora sei tudo sobre ele e entendo porque ele está ali há tanto tempo sem dormir, sem se alimentar e sem fazer as necessidades fisiológicas. Compreendo sua sede de olhar o rio que vem e que vai, assim como se apresenta o destino no meu entendimento de menino trabalhador. No calor da empatia lhe pergunto tudo. Ele me diz que só não pode dizer o que traz na sua trouxa. Fico aflito, mas ele me conforta, passando as mãos nos meus cabelos.

A manhã passa e um dia inteiro fica no passado. Eu ainda estou ao lado do homem contemplando o rio e os pássaros que flecham com seus voos o céu do poente e da nascente. Não sei quantos dias já se passaram. Sei apenas que num certo momento, na hora em que nascem os raios de sol, ele me fita e diz: “Vou embora. Mas vou deixar minha trouxa aqui neste trapiche. Por favor não abra. Adeus”.

Como se suas pernas fossem de pau, compridas, iguais às dos palhaços do Circo Garcia, ele levanta e segue para dentro do rio até desaparecer no canal.

Foto: Alexandre Brito.

Lembro que chorei muito. Ao chegar em casa a febre inevitável do encantamento me fez delirar por tantos dias que quase fui internado no Hospital Geral. Mas nada como um chá de ervas e outros esforços familiares para eu ficar bom. Até benzeção e banho de cheiro me ajudaram na retirada do quebranto.

Ao olhar, hoje, o rio e as ondas se quebrarem no trapiche, na emoção de pisar no baluarte de Nossa Senhora da Conceição, sobre a Fortaleza de São José de Macapá, não vejo mais a silhueta do homem curvo. Mas tenho a ligeira impressão que ele ainda está lá. Não sumiu no canal. Todavia, creio que se ele não estiver, está a sua trouxa de sarrapilha encostada num pau de amarração dos barcos. E nela, intuo, reside algo bom, tão bom quanto a esperança que precisa ser guardada numa trouxa qualquer, sob pena de homens e crianças perderem o encantamento que mora no barro e emerge sempre do fundo do rio.

*Publicado no livro “Trapiche – Ancoradouro de Sonhos”. Edição comemorativa à reconstrução do Trapiche Eliezer Levy. Org. Márcia Corrêa.

Voluntários realizarão limpeza na praia e trilhas da Ilha de Santana, no Amapá

A primeira ação do grupo terá início neste sábado (16), das 8h às 17h, na Ilha de Santana

Um grupo composto por gestores ambientais, guias de turismo, agentes de viagens, pilotos de barcos, motoristas e pela Associação Amapaense de Folclore e Cultura Popular, vai realizar uma ação de limpeza e manutenção da trilha ecológica das Samaúmas e praia Recanto da Aldeia, localizadas no distrito da Ilha de Santana, neste sábado (16), das 8h às 17h.

O Guia de turismo e coordenador da referida ação, Marcelo de Sá Gomes, explica que a iniciativa, intitulada de “Campanha Trilhas Limpas”, visa reduzir o impacto da poluição nessas áreas, sensibilizar os moradores e incentivar o turismo ecológico, a educação ambiental e patrimonial. A ideia é unir forças com mais parceiros e moradores de diferentes áreas que têm potencial turístico no Estado do Amapá.

“O projeto visa organizar essas trilhas e colocá-las no mapa da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso e Conectividade. Este será um trabalho contínuo, vamos cobrar do Poder Público que limpe e da população para que não suje”, destacou Marcelo.

A Rede de Trilhas é uma ferramenta de uso público a serviço da Conservação e visa conectar por trilhas as Áreas Protegidas do Brasil.

A atividade também contará com o apoio do Sebrae, ABRASEL ABBTUR, Prefeitura de Santana, Mais Ponto Com e Amapá Ecocamping.

Assessoria de comunicação

Programa virtual “Conhecendo o Artista” entrevista Fábio Zanoni, que fala sobre o lançamento oficial do curta metragem “A Quinta Casa”

O programa virtual Conhecendo o Artista, atualmente em uma breve pausa, traz o lançamento oficial do curta metragem “A Quinta Casa”, em uma conversa distraída sobre o projeto. Receberemos Fábio Zanoni, Juliana Fabri, a equipe de produção, elenco e alunos do projeto Ficcionando no Amazonas.

Em outubro de 2020, o projeto Ficcionando no Amazonas trouxe à capital amapaense uma oficina que girou em torno da aprendizagem de técnicas de escrita de roteiro. Com a duração de uma semana, ocorreram uma série de aulas teóricas e práticas a respeito dos procedimentos formais que envolvem a confecção de narrativas cinematográficas. Paralelamente às aulas de roteiro, foram realizadas também oficinas de fotografia, som, montagem e produção.

Patrocinado pelo Banco da Amazônia, o projeto Ficcionado no Amazonas foi idealizado pelo cineasta e professor de Filosofia da Universidade do Estado do Amapá – UEAP, Fábio Zanoni e produzido por Juliana Fabri. As inscrições foram gratuitas, os participantes selecionados receberam, ainda, uma bolsa auxílio no valor de R$100,00. A oficina resultou na produção de um curta metragem chamado “A Quinta Casa”, que contou em sua ficha técnica com artistas e equipe de apoio local e alunos da própria oficina, que tiveram a possibilidade de conhecer o outro lado das produções cinematográficas, à moda do trabalho com produção, figurinos, adereços cênicos, maquiagem, contrarregragem etc.

Sinopse

Em uma pequena comunidade na cidade de Macapá, uma mulher decide ajudar os moradores a superarem seus impasses e dilemas existenciais. Pouco a pouco, vamos descobrindo quais os segredos que se escondem em cada uma das casas. A violência de um homem que se imagina traído pela mulher, a desesperança de continuar vivendo que se abate sobre uma menina adolescente, o desejo de um homem de idade já avançada de pertencer e ser reconhecido pelos signos de poder que caracterizam a vida dos ricos e famosos, ou, ainda, outro homem que passa seus dias ouvindo músicas da época da ditadura militar brasileira, tudo isso vai compondo as “casas” subjetivas que, em alguma medida, todos nós habitamos.

Considerando todos os acontecimentos que Macapá sofreu ao fim do ano passado, o projeto encabeçou, juntamente com o Banco da Amazônia, uma campanha de arrecadação de alimentos, produtos de limpeza e higiene pessoal para ajudar as instituições IJOMA, em Macapá, e a Casa da Hospitalidade, em Santana.

E hoje às 19h, no perfil do Facebook do @ficcionando, haverá uma edição super especial da Live programa Conhecendo o Artista, onde Kassia Modesto recebe a equipe do projeto para falar sobre todo o processo de criação desta obra, que será oficialmente lançada hoje, e que já teve suas inscrições iniciadas em festivais pelo Brasil afora.

Elenco:

Inacio Senna
Debora Bararuá
Kassia Modesto
Hary Silva
Roberto Prata
Nedy Mendes
Ficha técnica:
Roteiro, Direção e Montagem: Fábio Zanoni
Produção: Juliana Fabri
Diretor de fotografia: Dyego Bucchiery
Captação de áudio: João Amorim
Desenho de som: Felipe Rezende
Cor e Finalização: Marcelo Rodrigues

Secult/AP parabeniza os músicos e letristas do Amapá pelo Dia Mundial do Compositor

Neste dia 15 de janeiro é celebrado o Dia Mundial do Compositor. Por conta da data, a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) vem a público parabenizar todos os compositores do Estado, sejam eles músicos arranjadores ou letristas.

O Dia Mundial do Compositor surgiu no México em comemoração à fundação da Sociedade de Autores e Compositores do México (SACM), em 1945. No entanto, a data só passou a ser oficialmente celebrada no mundo, a partir de 1983.

No Amapá, temos incontáveis compositores talentosíssimos, que apesar das adversidades da carreira, nunca desistem desta sublime arte e de alegrar nossas vidas com sua música, fundamental para nossa identidade cultural, lutas e esperança em dia melhores. Hoje, festejamos nossos letristas e músicos. Seguiremos no apoio à valorização desta essencial vertente artística, pois a música aqui produzida nos faz ímpares no Brasil, aqui na Amazônia e no meio do mundo. Parabéns aos fazedores de canções amapaenses e aos que vieram de fora para enriquecer a nossa musicalidade“, pontuou o titular da Secult, Evandro Milhomen.

Estádio Glicério Marques completa 71 anos (minha crônica sobre o “Gigante da Favela”)

Ilustração de Ronaldo Rony

O Estádio Municipal Glicério de Souza Marques completa hoje 71 anos de fundação. O local foi idealizado pelo governador Janary Gentil Nunes e fundado em 15 de janeiro de 1950. A arena teve momentos de glória e ainda hoje é palco de jogos do Campeonato Amapaense, Copão da Amazônia e amistosos. Ali foram disputados grandes clássicos com a participação de craques amapaenses.

Foto: Elton Tavares

O estádio possui as alcunhas de “Gigante da Favela” e “Glicerão”, como o estádio foi apelidado pela crônica esportiva. Lembro-me da minha infância com alegria. Eu e meu irmão fomos agraciados com excelentes pais, que nos proporcionaram tudo de melhor possível (e muitas vezes impossível, mas eles fizeram mesmo assim).

Foto: Blog da Alcinéa

Entre tantas memórias afetivas estão as idas ao Glicerão. Meu pai, o saudoso Zé Penha, também jogou no estádio quando foi goleiro amador dos clubes São José e Ypiranga, no time do coração, o “Clube da Torre”. Eu e o mano dávamos muito trabalho ao pai, sem falar o pede-pede. Era pirulito de tábua (aqueles marrons em forma de cone que são puro açúcar), picolé, pipoca, refri e churrasquinho. Era tão porreta!

Como já disse, quando garotos, meu pai e tio Pedro Aurélio, seu irmão, jogaram no Glicerão. Assim como muitos jovens da geração dele. A qualidade do futebol era tão boa que a galera que não tinha grana até pulava o muro para assistir às partidas. Sem falar que o Glicério já foi palco de vários shows locais e nacionais. Afinal, o velho estádio está no coração de Macapá.

Aliás, lembro daquele muro desde que me entendo por gente, pois a casa da minha amada avó fica lado do Glicério, na Rua Leopoldo Machado.

Naquele tempo rolava a charanga do Antônio Rosa, o Paulo Silva e o Humberto Moreira (lembro bem dos dois, pois sempre falavam com meu velho) faziam a cobertura dos jogos. O José Carlos Araújo exagerava na narração das partidas via rádio (a gente ia pro estádio com radinho na mão). Bons tempos!

É uma pena que o velho estádio não esteja em melhores condições e depois de 71 anos, as arquibancadas ainda sejam de madeira e o campo ruim. Um local que revelou jogadores como Bira, Aldo, Baraquinha, Marcelino, Jardel, Roxo (o primeiro amapaense que fez gol), Zezinho Macapá, Jasso, Miranda, entre tantos outros nomes importantes do futebol regional.

Foto: Elton Tavares

O futebol amapaense encolheu depois do “profissionalismo”, a política entrou em campo e deu no que deu: tanto o Glicerão quanto seu irmão mais novo, o Zerão, vivem vazios. Clubes tradicionais desaparecem das competições.

Para mim, há tempos o futebol amapaense perdeu o encanto, o brilho, a mágica. Nem no rádio escuto as partidas. Bom mesmo era na época em que o Zé Penha nos levava para assistir aos jogos no antigo Estádio Glicério, eu e Merson (meu irmão) assistíamos as partidas, brincávamos e nos divertíamos a valer. Quando lembro de tudo isso, a alegria entra naquele campo, escalada pela nostalgia.

Elton Tavares

Foto: Flávio Cavalcante

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bençãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria,lançado no último dia 18 de setembro. A obra, com 61 crônicas, tá linda e está à venda na Public Livraria ao preço de R$ 30,00 ou comigo. Contato: 96-99147-4038.

Senac Amapá oferta cursos gratuitos para Macapá e Santana

 


O Sistema Fecomércio AP, por meio do Senac Amapá, oferta 12 cursos totalmente gratuitos, divididos em Macapá e Santana, provenientes do Programa Senac de Gratuidade (PSG). As inscrições acontecem na quarta-feira (13) para as vagas em Macapá e na quinta-feira (14), para as vagas destinadas à Santana. Ambas iniciam a partir das 10h, e são realizadas no endereço eletrônico http://send3.ap.senac.br/send3/site/psg. O edital já está disponível no site do Senac Amapá.

Para a unidade de Macapá, o PSG oferta os cursos de Assistente de Logística, Assistente de Recursos Humanos, Administrador de Redes, Porteiro e Vigia no turno da manhã e Instalador e Reparador de Redes de Computadores, Operador de Computador, Organizador de Eventos, Cuidador Infantil e Recepcionista em Serviços de Saúde.

A comunidade de Santana é contemplada com os cursos de Representante Comercial, Assistente De Secretaria Escolar e Recreador.

Os candidatos devem atender aos requisitos do PSG, como ter renda familiar mensal per capita que não ultrapasse dois salários mínimos, ser aluno matriculado ou egresso da educação básica, entre outros.

O resultado do processo seletivo será divulgado na sexta-feira (15), às 14h. Para a classificação, é levado em consideração a hora, os minutos e os segundos da inscrição on-line no curso escolhido pelo candidato.

Serviço:

Ascom Senac Amapá
Andréa Maciel (Coordenadora de Comunicação)
Contatos: (96) 99207-7636 / 991629993

Homenagem do artista plástico Dekko Matos a Fernando Canto

O talentoso e renomado artista plástico Manoel Francisco Pessoa de Matos, popularmente conhecido como Dekko Matos, é conhecido por suas pinceladas e desenhos fantásticos, mas também por performances que sempre são acompanhadas de boa trilha sonora, além de suas participações em diversos eventos culturais.

Desta vez, Dekko Matos, homenageou o músico, compositor, poeta, escritor e sociólogo Fernando Canto, com um fantástico retrato. A obra foi pintada ao som da música “Quando o pau quebrar“, composição do homenageado e icônica canção do Grupo Pilão, pioneiro da música amapaense.

Assista aqui a homenagem porreta:

Sobre Fernando Canto

Fernando Pimentel Canto é compositor, cantor, músico, jornalista, sociólogo, professor Doutor, poeta, contador de histórias, causos e estórias, contista e cronista brilhante, apreciador e incentivador de arte, sociólogo, imortal da Academia Amapaense de Letras, ícone da cultura amapaense, escritor “imparável”, boemista, amante do carnaval, embaixador do Laguinho, mocambo, membro fundador do Grupo Pilão e servidor da Universidade Federal do Amapá.

Ilustração de Ronaldo Rony para meu livro“Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, prefaciado por Fernando Canto.

Com 17 livros publicados (de crônicas, poesia e contos) ; composições suas e outras com grandes nomes da música amapaense; ensaios teatrais, entre outras incontáveis contribuições para a cultura e resgate histórico do Amapá, além de cargos importantes ao longo de sua carreira, Canto é um ardoroso partidário da causa cultural tucuju. Nascido na cidade de Óbidos (PA), ele é o “Cidadão Amapaense” mais amapaense que a maioria dos que aqui nasceram. E por tudo isso e muito mais, toda homenagem a ele ainda é pouco. Valeu, Dekko!

Dekko Matos – Foto: arquivo pessoal do artista.

Sobre Dekko Matos

O artista Dekko Matos é amapaense e nasceu no ano de 1966. com apenas 11 (onze) anos de idade iniciou como desenhista serigráfico em uma empresa local. No período entre os anos de 1996 a 2011, lecionou pintura, desenho e escultura na Escola de Artes Cândido Portinari.

No ano de 1999 criou e coordenou a I Bienal de Arte Natural do Amapá. Entre seus trabalhos de maior destaque estão o Painel Cooperação Transfonteiriça Amapá-Guiana Francesa, localizado na parede externa do teatro das Bacabeiras, o I monumento brasileiro na Guiana Francesa, o mosaico no Meio do Mundo Macapá no Centro de Cultura Franco-Amapaense e o Totem das Etnias no Museu Sacaca.

Como ativista cultural, desempenhou suas funções como diretor no Centro Amilar Brenha, foi Conselheiro de Cultura do Estado do Amapá, diretor do Teatro das Bacabeiras e diretor do Museu de Etnologia do Estado do Amapá.

Hoje em dia, Dekko Matos integra o Grupo Urucum, com outros geniais artistas.

Elton Tavares, com informações da Fumcult

Às vezes, tudo parece um enredo kafkiano – Crônica de Elton Tavares

Ilustração com o rosto do escritor alemão Franz Kafka

Quem me conhece, sabe que sou um tanto “turrão”. Sim, eu não afrouxo facilmente. Não sou santo, muito menos moralista. Mas procuro trabalhar direito e não fazer mal a ninguém. Meu falecido pai sempre dizia: “Não faça mal a ninguém e já estará fazendo o bem”, tento me nortear nessa filosofia.

Fico observando o comportamento canalha de algumas figuras, que procuram sempre o lado ruim da coisa e nunca enxergam fatos positivos no que você faz. São algozes vorazes por grana, que insultam e caluniam. Sufocam a verdade, deturpam fatos e, sistematicamente, tentam desconstruir o trabalho alheio. São verdadeiros mestres em sua escrotidão.

Ah se eu pudesse esculhambar e dizer: “Você já fez isso e aquilo. Não tem moral e nem credibilidade para discorrer sobre o assunto”. Mas prefiro deixar quieto. O pior são os papagaios de pirata, que não passam de meros repetidores destes infetéticos.

Diante de tais espíritos de pouca luz, lembrei-me do escritor alemão Franz Kafka. Um dos maiores da literatura modernista. Em um de seus contos, Kafka diz que existem “bestas-feras”, que detonam tudo, ferram com a sua vida. Mas que mesmo sendo feras, não deixam de ser bestas.

O pior são os encontros, cheios de abraços, sorrisos falsos e cordialidade exagerada. Sobre isso, só peço a eles: sejam decentes!

Elton Tavares

*Texto de 2011, sempre atual.

Resenha do livro “QUARUP” – Antonio Callado. (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

Ainda criança em um bairro do subúrbio paraense, eu ficava intrigada com um documento que se estampava na TV a cada programação. Para mim, era algo que não permanecia sob minha vista tempo bastante para que meus olhos recém-alfabetizados tivessem tempo de ler e entender. Hoje eu sei que tratava-se de censura; mais uma das liberdades suprimidas pelo regime da época. Eu estou na casa dos quarenta e, mesmo assim, lembranças – que para alguns parecem tão efêmeras – voltaram a mim através de Quarup.

O livro se inicia na década de 50 e conta a estória de Nando, um jovem padre pernambucano que sonha em dar continuidade ao trabalho dos jesuítas no Xingu, mas não apenas pela catequização e sim por acreditar na pureza indígena e que deles é proveniente a essência do Brasil. E Nando embarca para o Xingu banhado deste sonho. Mas não antes de se deparar com temores carnais que são da essência do homem, potencializados em Nando pelo sacerdócio.

Chegando ao Xingu, Nando se vê em uma realidade longe da teoria que conhecia e através de Fontoura – um funcionário do SPI (Serviço de proteção ao índio) que conhece e vive com a alma entre eles – reformula e esclarece sua visão a respeito daquele povo, seus costumes, sua nudez desprovida de malícias, a simbologia que carrega o uluri, a tanga que cobre as índias e só por elas podem ser retiradas para que alguma coisa aconteça. O índio não ousa tocá-lo. Se uma índia joga seu uluri pra cima o índio se esquiva, pois só a índia detém o poder de seu manuseio. E muita gente achando que civilizado mesmo é o homem branco.

Existe ainda uma comitiva que embarca para o Xingu; entre eles existem outras personagens que mostram em seus diálogos, variadas visões de mundo. Ainda no Xingu, Nando se depara com os entraves burocráticos e políticos que são ainda mais inviabilizados pela corrupção. Em meio a tudo isso, a influência dos acontecimentos políticos da época, como a morte de Getúlio Vargas, que refletiria diretamente na expedição. Nando ainda tem a difícil tarefa de guardar para si o amor por Francisca, noiva do idealista Levindo.

Ao retornar do Xingu, Nando deixa o sacerdócio e posteriormente a ditadura militar se instala no país. Nando deixa de ser padre, mas o coração de sacerdote continua com ele, mesmo já tendo abandonado a liturgia e conhecendo prazeres do sexo e das drogas, ele preserva em si a caridade e o olhar para a dor do outro. As dores não só dos índios que morriam doentes e de fome, mas dos camponeses explorados, das feias, das prostitutas.

Nando faz uma peregrinação dentro de si mesmo. E cada personagem do livro lhe abre um caminho para vislumbrar, como Lídia, que lhe relata que Otávio, seu noivo, teria criado uma única rixa com Lênin, após ler Clara Zetkin, onde Lênin não teria aceitado a teoria do copo d’água. Outras personagens com graciosidade e força expõem suas personalidades em diálogos que trabalham todas as mudanças que se operam em Nando.

Quarup é um ritual indígena de Mawutzinin, o primeiro homem do mundo na cultura indígena. E seu Quarup é o ritual que leva os mortos para uma outra vida. E assim como os índios se encaminham para uma nova vida, Nando também tem seu Quarup.

Esta é uma obra-prima que saiu das mãos, mente, coração e sangue de Callado. Você se depara com o Brasil de uma forma genuína. Os índios, o Nordeste da década de 50/60, a história política e os horrores nos porões da ditadura. É um livro que desperta uma trilha sonora em sua cabeça. Você pode ouvir Belchior cantando ao fim de cada página. E creio que nada que escrevi fará elogios que bastem a esta obra. Pois é uma obra densa e com personagens que com tristeza deixei de mencionar para evitar spoiller. Ontem à noite, ao fechar a última página do livro e ainda olhando para o número 573, lembrei de a quantas andam nossas mazelas diárias nestas terras onde cantam os sabiás que de nada sabem, e pensei: Que nosso Quarup nos levem a tribos mais gentis.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de Literatura e devoradora compulsiva de livros.

Impeachment– Uma piada constitucionalmente prevista – Por Mariana Distéfano Ribeiro

Por Mariana Distéfano Ribeiro

Passeando pelos stories do Facebook eu vejo muitos comentários sobre a atuação do Presidente Bolsonaro no exercício da função. Me espanta a quantidade de pessoas que é conivente com o comportamento e entende que, por exemplo, é direito dele não querer tomar a vacina, não aceitar usar máscara, ser grosseiro e “mitar” com os jornalistas, fazer apologia à tortura, à ditadura, à homofobia, entre tantas outras tosquices que esse ser humano fez (e ainda faz).

Pois eu digo com toda certeza e convicção que Bolsonaro, na qualidade de Presidente da República Federativa do Brasil, não tem o direito de agir como ele age, de falar o que fala e pregar o que ele prega!

Por que não? Porque ele é o Presidente, oras! É dever dele, obrigação intrínseca e necessária da função que exerce possuir o mínimo de bom senso, de cautela, de educação, de prudência na direção de qualquer país em que impere o estado democrático de direito.

A falta de educação recorrente do dirigente de um país, a imprudência no enfrentamento e no trato de questões e situações delicadas, que possuem um potencial significativo de inflamar ânimos e incentivar radicalistas contumazes a sair da esfera das ofensas verbais e virtuais para as ofensas físicas, especialmente aqueles preconceituosos, tende a causar comoções sociais graves e violentas. Foi exatamente isso que aconteceu na invasão ao prédio do Capitólio, sede do Congresso americano, no dia 06/01/2020, quando o ex-presidente Trump resolveu insistir, mais uma vez, na invenção de que as eleições estadunidenses foram fraudulentas e que, na verdade, ele teria vencido. E Bolsonaro ainda disse que se não tiver voto impresso nas próximas eleições (2022), vai acontecer o mesmo com o Brasil.

Os presidentes Trump e Bolsonaro em encontro em março de 2020, na Flórida.TOM BRENNER / REUTERS

Lá, nos Estados Unidos, o ex-presidente Trump já está indo embora. Mas aqui a gente ainda tem mais 2 anos de desgoverno Bolsonaro.

Certo. A gente concorda que o Bolsonaro está fazendo quase tudo como se fosse uma criança da 5ª série (aliás, ele até fala como uma… uma bem malcriada…). Então, deve ter alguma alternativa pra tirar ele da Presidência.

Pois tem. Essa alternativa é o processo de impeachment por crime de responsabilidade e tem previsão no art. 85 da Constituição Federal , com regulamentação pela Lei nº 1.079 de 10/04/1950 , e também por crime comum (como homicídio) como prevê o art. 86 também da CF.

Trata-se de um processo político, administrativo e não-judicial. Até a última atualização do dia 08/01/2021, haviam 53 pedidos de impeachment contra Bolsonaro.

Acontece que o pedido tem que cumprir alguns requisitos, como indicação de provas e de testemunhas. O que não é muito difícil, dada a ausência de preparo e de discrição do nosso Presidente. A Lei nº 1.079 ainda descreve quais são os casos em que os atos do Presidente serão crime de responsabilidade.

Um dos artigos da Lei diz que é crime de responsabilidade quando Presidente atenta contra o livre exercício dos poderes da União (Legislativo e Judiciário, porque ele mesmo é o Executivo).

Atentar contra é se manifestar contra, injuriar, maldizer, impedir a atuação por meio de algum recurso que é inerente à atuação da Presidência.

Então… lembram daquela manifestação, lá em Brasília, que um monte de gente foi pra frente do Supremo Tribunal Federal (STF) pedir o impeachment (é existe impeachment pra maioria dos cargos políticos e de estado) de um dos Ministros e o fechamento do Poder Judiciário e do Legislativo? Aquela manifestação em que o Bolsonaro foi montado a cavalo?

Lembrou? É, aquilo lá foi crime de responsabilidade.

Esse é um dos exemplos que eu considero mais gritantes e significativos da afronta ao estado democrático de direito que o atual dirigente do Brasil cometeu até hoje.

Muitos outros foram e ainda são cometidos como o incentivo ao uso de armas de fogo, a recusa em cumprir as determinações de medidas sanitárias federais, estaduais e municipais de combate ao coronavírus, as constantes apologias à tortura, à homofobia, à misoginia, à ditadura. Todos esses atos incentivam o extremismo de pessoas preconceituosas e os encorajam a mostrar a cara e manifestar suas opiniões em discursos de ódio.

Ok. Mas então por que o processo não vai pra frente se o Presidente já cometeu tantos crimes de responsabilidade?

Porque é um processo político. O Presidente da Câmara dos Deputados tem que deferir, aceitar e concordar expressamente com o pedido e encaminhar para uma comissão especial de Deputados. Essa comissão é que vai decidir se o processo vai pra frente ou não.

Ainda, depois que o processo passa pela anuência do Presidente da Câmara, o Presidente da República ainda tem prazo para apresentar sua defesa, a Comissão tem um prazo para fazer um parecer que ainda precisa passar pelo crivo de 2/3 dos 514 Deputados Federais, ou seja, 342 Deputados.

Agora, com a popularidade que o Bolsonaro tem até hoje , você acha mesmo que um Deputado vai aceitar um processo de impeachment contra o Presidente? É claro que não vai.

Por isso que o processo de impeachment é um processo tipicamente político. Fosse jurídico, o Presidente da Câmara dos Deputados não teria outra alternativa a não ser a de receber e aceitar todo pedido de impeachment que tivesse todos os requisitos da Lei nº 1.079 comprovadamente elencados no processo.

Fazendo uma analogia bem descompromissada, imagine que chegasse no Poder Judiciário, lá no fórum da sua cidade, numa vara criminal, uma denúncia de alguém que supostamente cometeu um crime qualquer, com todos os requisitos previstos na lei para aceitação da denúncia – inquérito, peça do Ministério Público. Aí o Juiz olha pra denúncia e diz: ah… esse cara aqui é meu amigo, ele é muito conhecido na cidade e todo mundo gosta dele… não vou aceitar essa denúncia não. E simplesmente arquiva o processo ou deixa na gaveta.

Já pensou?! Absurdo, não é?

Pois é… o processo de impeachment é mais ou menos assim. O cara comete o crime previsto em lei, mas é amigo dos reis e todo mundo gosta dele. Mas se ele for impopular, vai cair rapidinho. Seria cômico se não fosse trágico.

É, o processo de impeachment, com o rito previsto na atual legislação, é uma piada constitucionalmente prevista.

Fontes: BBC, El País, Jornal do Brasil, Planalto, Planalto, A Pública e Ibope Inteligência

*Além de feminista com orgulho, Mariana Distéfano Ribeiro é bacharel em Direito, servidora do Ministério Público do Amapá e adora tudo e todos que carreguem consigo o brilho de uma vibe positiva.