Poesia de agora: Capitu – Lara Utzig (@cantigadeninar)

Capitu

Manhã de uma segunda qualquer,
Com a mochila nas costas,
Ela parou, menina-mulher
Para abraçar uma árvore
Que chora…

Tarde de uma terça divina,
Olhos de cigana oblíqua…
Pedalou, mulher-menina,
Na bicicleta, a estrada passou
Longínqua…

Capitu…
Cadê tu?
Capitu,
Cadê tu?

Noite de sexta que prometia,
Boca que embriaga…
Dançou, inocentemente vadia,
Preguiçosa, esparramou-se
Pela sala…

Madrugada, domingo dormente,
Com sua saia comprida…
Rodopiou, vadiamente inocente
E ao seu lado, senti-me
Preenchida…

Toda semana…
Café na cama.
Toda semana…

A gente se ama…

Lara Utzig

Poema de agora: Escalada – Naldo Maranhão

ESCALADA

Sabe aquela escada?
Desde aquele dia
Começou uma derrocada
Degrau por degrau
se degradando
Dentro de mim
uma comichão
Aflição, espanto e desespero
Desci demais
até só ter a escuridão.
Mas, subitamente,
Ascendeu um candeeiro
E uma outra escada eu vi
No nevoeiro e decidi subir
E a luz se fez forte
E mais presente
E lembrei de Judas
De Cristo, da cruz e Novamente, degrau
Por degrau eu escalei
E sai do calabouço
Aonde aquele beijo soturno
Me levou…
E emergi.

Naldo Maranhão

Bairro do Trem, o MEU SETOR e o carnaval – Crônica de Telma Miranda – @telmamiranda

Crônica de Telma Miranda

Atualmente moro, novamente, no bairro do Trem, meu berço, pois a minha avó, dona Amélia, costureira de mão cheia e conhecedora do poder de cura das plantas, óleos e unguentos, veio pra cá junto com o meu avô, Seu Miranda, quando ainda era tudo mato e a linda orla do Santa Inês ainda era a Vacaria.

Quando paro pra pensar na evolução do meu setor, lembro que a minha mãe, Dona Dalva, sempre atuante em sua função social, me levava uma vez por semana pra Vacaria, onde ela alfabetizava voluntariamente adultos através do método Paulo Freire, e eu, criança, não entendia o tamanho do gesto dela, só queria saber de chegar lá, passando pelas pontes, pra ver a cotia de estimação da família que cedia a casa para o feito da mamãe. Quem olha hoje essa orla tão linda, com seus restaurantes maravilhosos, não imagina como tudo mudou tão rápido, pelo menos pra mim.

Quando olho para meus vizinhos, da mesma geração que eu, lembro de como esperávamos ansiosos várias datas, em especial o carnaval por vários motivos:

Piratas da Batucada, Piratão, dono do meu coração até hoje. Cresci vendo minha família vibrando, torcendo, saindo na escola, participando dos eventos para angariar fundos e dos ensaios, ora na antiga sede dos escoteiros, ora na sede do Trem, e CLARO, xingando e brigando na apuração, pois todos queríamos, mais uma vez campeões, participar do desfile da vitória, sempre com o dia amanhecendo que eu achava lindo. Tenho uma tia maravilhosa que durante muitos anos comprava uma ala inteira pra família sair de tão apaixonada. Somos todos Piratas da Batucada apaixonados até hoje.

Futebol a fantasia na Praça Nossa Senhora da Conceição, onde os Solteiros e Casados viravam Dondocas e Bonecas, fazendo a festa desde um tempo não tão politicamente correto, mas que nas minhas lembranças vem carregado de alegria, cor, graça e pureza, com os jogadores vestidos de mulher e até ao jogar tentado ser delicados e finos. Alguns eram mais arrojados, outros mais simples, mas todos carregavam seu brilho e arrancavam gargalhadas de todos, em especial na narração do jogo, que enchia de mais adereços o que culminava no desfile para escolher a mais bela do jogo, e eu, geralmente sentada nos ombros de algum tio assistia a tudo gargalhando.

Baile Rainha das Rainhas do Carnaval na sede do Trem Desportivo Clube, de onde deriva o nome do bairro, que nas minhas lembranças de infância parecia tão grandioso e imponente, e que ainda resiste na esquina da rua General Rondom com a Av. Feliciano Coelho. Disputadíssimo como todo concurso de misses, com as torcidas organizadas e a tradicional revolta por causa do resultado, sempre acabando em confusão, gritos e xingamentos, mas que sempre se resolvia e a festa prosseguia. Eram outros tempos. Se fosse hoje, acho que terminaria na justiça. Eu nunca fui num, mas no outro dia acompanhava os babados através da mamãe, tias, tios, primos e primas. Eu ia no das crianças, quando se vestir de índio ainda não era apropriação cultural (faz tempo, mas abafa o caso!).

Maksuel Martins

E ver A Banda passar tocando coisas de amor com suas marchinhas tradicionais aqui pelo meu setor era e é uma festa também aguardada, com os vizinhos organizando suas fantasias, blocos, mini trios, encontrar os conhecidos, apreciar a criatividade e graça ao lado da família e amigos e depois ir pra casa feliz, comentando que tal fantasia foi a melhor, mas que o bloquinho tal também estava lindo. Mesmo quando não estava morando aqui no Trem, assistir A Banda com os meus aqui sempre foi preferência.

Bairro do Trem, meu Carnaval, vizinhos que ainda estão aqui e que mesmo não sendo mais as crianças que éramos, sonhamos ainda com o Carnaval que vivenciamos e com os que ainda virão, mesmo estando quarentões e cinquentões, mas como o cinquenta é o novo trinta, tenho fé que ainda veremos não apenas A Banda passar aqui pela Feliciano, mas essa pandemia também. Amém.

* Telma Miranda é advogada, fã de literatura, música e amiga deste editor.

16 restaurantes participam do Circuito Brocados que inicia nesta sexta-feira, 21

Dois anos após a última edição, o Circuito Brocados está de volta. O evento, promovido pelo instablog food O Que Comer Amapá?, inicia nesta sexta-feira, 21, e segue até 31 de janeiro com 16 participantes. Para esse período, cada restaurante criou um combo especial que será vendido pelo preço de R$25,00.

Para chegar a este valor único, todos os restaurantes estão oferecendo um desconto mínimo de 10%.

Cinthya Peixe, idealizadora do evento, ressalta que todos os participantes já foram destaques no perfil O Que Comer Amapá?, no Instagram, com avaliações positivas, e comemora a meta alcançada para esta edição, de oferecer combos variados.

“Conseguimos incluir vários tipos de restaurantes oferecendo de tudo. Temos hambúrgueres, sorvetes, cafés, lanches, comida japonesa, comida típica, pizzas e até refeições. Tudo testado e aprovado por nós do O Que Comer Amapá?”, explicou Peixe.

O Circuito Brocados tem um diferencial em relação as feiras gastronômicas, uma vez que o público terá a oportunidade de visitar os 16 restaurantes ou montar o seu próprio roteiro. O objetivo do evento é fomentar o mercado local, oferecendo novas experiências para o público que terá a oportunidade de provar pratos a um preço acessível e nos tamanhos originais.

Sobre os Brocados

Cinthya Peixe, Luiz Felipe Melo e Rafael Guerra criaram a marca Brocados. Brocados é como são conhecidos, como chamam a comunidade e um gíria nortista pra nomear quem está com fome.

O propósito é divulgar a gastronomia e tudo que envolve este universo de maneira leve, divertida, porém profissional. Sempre com muita informação, memória afetiva, além de novos produtos e dicas sobre casa e cozinha.

A equipe tem um site, que é o Brocados.com.br e também criou alguns produtos. O principal deles é o perfil no instagram @oquecomerap , onde compartilham lugares pra comer, receitas, dicas de produtos pra casa e um pouco da rotina.

Também idealizaram o Circuito Brocados, um festival gastronômico que acontece em duas edições anuais.

PARTICIPANTES E COMBOS PARTICIPANTES

Confraria Café – Croissant de Camarão + Cappuccino Cremoso

De R$36,00 por R$25,00

Segunda a sábado, 15h30 às 20h30. Domingo, 16h às 20h30

Presencial, retirada e delivery

Av. Almirante Barroso,746, Centro.

Dona Dulci Gastronomia – X Salada Dulci (pão, carne artesanal, queijo, maionese, salada de folhas e tomate) + batata + refri

De 36,99 por R$25,00

Terça a sexta, das 19h às 0h.

Sábado e domingo das 12h às 0h.

Presencial e delivery Ifood (taxa grátis até 2km)

BR 210, 1889, Jardim Felicidade.

Duda Lanches – Mega Duda (pão, 3 carnes, bacon, queijo, presunto, calabresa, salada e batata palha) + refrigerante lata + salada de frutas

De R$30,00 por R$25,00

Quarta a segunda, 18h à 1h

Presencial, retirada e delivery

Av. Timbiras, 788, entre Professor Tostes e Manoel Eudóxio.

G Burguer – Dog GFilé (Pão semi-italiano, filé de carne, molho barbecue, alface, 2 fatias de queijo, crispy de cebola, molho artesanal) + batata frita + refri

De R$33,00 por R$25,00

Todos os dias, 19h a 0h

Presencial, retirada e delivery

Av. Décima Quinta, 1646, Marabaixo III.

Homemade Burger – Home Brocado (pão, carne 100g, catupiry original, bacon e cebola caramelizada) + 1 refrigerante lata + chips de batata doce

De R$31,00 por R$25,00

Quarta a segunda, das 18h30h às 23h15

Presencial, retirada e delivery

Rua Eliezer Levy, entre Mendonça Jr e Coaracy Nunes, Centro

Insano Burger – Insano (pão, carne de 180g, muçarela, alface, tomate, cebola roxa e molho da casa) + batata frita + Coca Cola

De R$33,00 por R$25,00

Quarta a segunda-feira, 19h a 0h

Presencial, retirada e delivery

Av. Almirate Barroso, 1250, Santa Rita.

Mcp Burger_ – Cheese salada (pão brioche, burger 160g, queijo prato, alface, tomate, cebola e molho da casa) + batata P + refrigerante lata

De 32,00 por R$25,00

Terça a domingo das 19h às 23h

Presencial e retirada

Av. Padre Júlio, 626, Centro

Restaurante Sabor Perfeito – Trio Tucuju (01 maniçoba, 01 vatapá + 01 tacacá)

de R$30,00 por R$25,00

Segunda a sábado, das 17h às 21h

Presencial e retirada

Av. Procópio Rola, 2472, Campo do Poeirão

Restô Santa Lúcia – Combo Brocados SL 14 Peças (6 hot skin, 2 niguiri salmão, 2 hossomaki salmão, 2 uramaki kani e 2 romeu e julieta)

De R$29,99 por R$25,00

Unidades:

Super Center (Trem) – segunda a sábado, 16h às 21h

Padre Júlio – segunda a domingo, 16h às 21h

Santana – segunda a sábado, 16h às 21h

Royal Hotel e Gastronomia – Catarina (massa semi folhada, quatro queijos ou frango cremoso) + Café Nutella

De R$32,00 por R$25,00

Café da tarde, de terça a sábado das 16h às 19h30h

Presencial

Av. Mendonça Júnior, 1229, Centro

Sinner –  Pepper Joy (pão da casa, smash clássico, queijo prato, pepperoni e molho pesto) + refrigerante

De R$30,00 por R$25,00

Terça a sábado, 18h30 às 23h. Domingo e segunda, 18h às 22h

Presencial, retirada e delivery

Av. Caramuru, 20, Santa Inês.

Sogood Food Master- Pizza artesanal marguerita + suco natural de laranja

De R$44,00 por R$25,00

Presencial

Amapá Garden Shopping

Sushi Locco – Temaki tradicional de salmão + coca 310ml

De 38,50 por R$25,00

De quarta a segunda, 19h às 23h

Presencial e delivery

Rua Leopoldo Machado, 1525, esquina com Presidente Vargas

Temperarte – Filé de frango empanado + suco + pudim

De R$30,00 por R$25,00

Segunda a sábado, 9h às 18h. Domingo, 9h às 15h

Presencial e delivery

Rua Tiradentes, 610, Centro. Entre Presidente Vargas e Mendonça Furtado

Vila Real – cuba de sorvete com 04 bolas

de R$36,00 por R$25,00

Todos os dias, das 13h até 22h

Presencial e retirada

Av. Iracema Carvão Nunes, 92, Centro

Zeli Doces e Salgados – Copo da felicidade salgado 250ml (camadas de frango cremoso, massa de coxinha, catupiry e batata palha) + coca 250ml + brownie na marmita 250ml

De R$27,00 por R$25,00

Segunda a sexta, 10h às 18h30. Sábado, 12h30 às 18h30.

Presencial, retirada e delivery

Av. Raimundo Álvares da Costa, 110 B, Centro.

Sesa garante ao MP-AP que está providenciando a transferência de pacientes com doenças transmissíveis internados no HE

A Promotoria de Defesa da Saúde do Ministério Público do Amapá (MP-AP) retomou, na quinta-feria, 20, por videoconferência, as tratativas com gestores da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), para resolver o problema da superlotação no Hospital de Emergências (HE), com dezenas de pacientes internados em corredores, bem como, a reabertura do Centro de Referência em Doenças de Transmissíveis (CDT), desativado em 2020 para que se tornasse o Centro Covid 1.

Sobre as demandas apresentadas pela Promotoria, o subsecretário de Estado da Saúde, José Everton, assegurou que acompanharia uma equipe médica, para reavaliação dos mais de 40 pacientes internados no HE, com doenças transmissíveis ou respiratórios. Esse levantamento deverá observar os que podem receber alta ou tratamento ambulatorial e os que devem ser imediatamente transferidos para o Hospital de Clínicas Alberto Lima (HCAL), local que esses pacientes ocupam 20 leitos da clínica médica.

De igual modo, essa equipe de profissionais da saúde deve fazer a avaliação de pacientes com eventuais doenças transmissíveis internadas na clínica médica do HCAL e que poderão receber alta e continuar o tratamentos de forma ambulatorial.

O gestor também assumiu o compromisso de que a SESA, no prazo de 40 dias, vai transformar o Ambulatório B do HCAL em um Centro de Doenças Transmissíveis, com 30 leitos, além dos insumos, equipamentos e profissionais necessários ao devido acolhimento e tratamento desses pacientes.

“Estamos atravessando mais um momento crítico para o Sistema Único de Saúde, com muita demanda por atendimentos, em do aumento súbito de pessoas com Covid-19, e o que observamos foi a ausência de medidas preventivas, que pudessem minimizar o impacto em outras áreas. O caso das doenças transmissíveis é gravíssimo, pois, coloca em risco todos os demais pacientes e pessoas que transitam no HE. Esse problema precisa ser resolvido com a máxima urgência e vamos acompanhar, diariamente, as providências do Estado. Esperamos conseguir avançar até a próxima semana, sob pena de outras medidas pertinentes”, manifestou a promotora Fábia Nilci, titular da Saúde.

Foi pactuado que, já na próxima segunda-feira (24), haverá outra reunião para avaliação das ações adotadas. Participaram, ainda, a gerente de serviços técnicos do HE, Erlen Miranda; a diretora do HCAL, Cleidiane Costa, e as assessoras da Promotoria de Justiça da Saúde Elizete Paraguassu e Ana Paula Ramos.

Serviço:

Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Amapá
Gerente de Comunicação – Tanha Silva 
Núcleo de Imprensa
Texto: Ana Girlene
E-mail: [email protected]
Contato: (96) 3198-1616

Desfeitas & Desfeiteiras (Crônica paid’égua de Fernando Canto)

Crônica paid’égua de Fernando Canto

A desfeita era uma injúria, uma ofensa que cavalheiro nenhum levava para casa sem antes não se vingar, depois de ser recusado em seu convite para dançar pela dama escolhida. O injuriado estapeava a dama e, formada a confusão, a festa invariavelmente acabava. Pelo menos era isso que acontecia há alguns anos.

A Desfeiteira provém disso. Era uma dança praticada em quase toda a Amazônia. Os caboclos dançavam em pares ao som de um conjunto pau-e-corda. De repente a música parava e o par que ficasse perto dos instrumentistas tinha de dizer um verso, na realidade uma quadra (ou uma trova ou poesia, rimada ou não), sob pena de pagar uma prenda e ainda ser vaiado. Era uma brincadeira divertida dos lugares onde não havia aparelhagem de som que ainda ocorre em Alter-do-Chão, e ocorria no Bailique e no litoral do Amapá.

O Hélio Pennafort contava a história de um caboclo que se meteu numa Desfeiteira lá no Sucuriju. Só faltava ele dizer o seu “velso”. Não conseguia articular palavra porque estava muito embriagado. Mas o adularam tanto que ele declamou a única sextilha que sabia. E começou; “Na cidade do Irará /No interior do Maranhão/ Existia um velho sacana/ Fdp e garanhão/ Cuja pele do culão/ encobria dez colchão”. Deram-lhe uma sova de remo que ele nunca mais apareceu no lugar.

De outra feita o mesmo Hélio em suas andanças jornalísticas pelo interior me levou junto para Mazagão Velho. Fomos de jipe, da sede do município até lá. O curioso é que ninguém nunca vira o Hélio dirigir em Macapá. Chegando à vila ele chamou o dono do conjunto “Mucajá” para tocar uma festa e o finado Osmundo não se fez de rogado: botou uns três solos de clarinete para animar a moçada do lugar e o “pau comeu”. Foi nessa ocasião que ele inventou a história da moça “que só dançava abenetando”. E que eu, justo eu, a teria convidado para dançar e ela recusara dizendo que só dançava abenetando. Como eu teria insistido ao dizer que sabia dançar abenetando, ela fechou a desfeita dizendo, tímida: “- Mas a Bené num tá!” A Bené era a sua irmã mais velha.

Depois disso visitei Mazagão Velho muitas vezes, pesquisando sua cultura e sua gente. Em uma roda de Marabaixo de rua, exatamente quando se preparavam para derrubar o mastro do Divino Espírito Santo, vi uma desfeita pesada. Quase todos os dançarinos já estavam “mais pra lá do que pra cá”, no dizer deles, tanto era o consumo de gengibirra. Um rapaz queria dançar um “dobrado” que os tambores tocavam na hora. A dança é feita em pares que se agarram pelos braços e giram o corpo para a esquerda e depois para a direita. É a parte mais rápida do Marabaixo. O rapaz, visivelmente tonto, viu uma jovem senhora e disse: – Quero dançar contigo. Ela respondeu: – Comigo não, violão. Então o rapaz, aborrecidíssimo, falou; – Tomara que tu morra amanhã às seis horas da tarde! A vingança foi a praga lançada.

Guardo ainda na memória uma desfeita acontecida na sede do Esporte Clube Macapá. Um rapaz de conceituada e tradicional família, hoje ilustre advogado, era apaixonado por uma moça. Tímido, porém, não tinha coragem de falar em namoro com ela. Os amigos lhe aconselharam a tomar uma dose de uísque para criar coragem e ir até ela.

Mas ele exagerou na dose. Assim mesmo, depois que “Os Mocambos” se preparavam para tocar “Devaneio”, sucesso da época, ele atravessou o salão olhou para ela com um olhar lânguido e disse: – Bora dançar? Ela respondeu na bucha: – Eu não danço com gente bêbada. Ele ficou meio desconcertado e ainda perguntou, meio afirmando: – Quer dizer que transar nem pensar, né?!

Dragão do Mar – Conto de Luiz Jorge Ferreira

Conto de Luiz Jorge Ferreira

A taberna estava azeda com a grande quantidade de marinheiros, bucaneiros, ex_piratas, vendedores de bugigangas e meretrizes aposentadas.

Era um barulho de goles, de tosse, de gargalhadas, de copos de couro lançando dados nas mesas e engasgos mil.

Quem mais gritava era o louro careca, um misto de maritaca e papagaio que engaiolado no alto da escada que ia até o sótão praguejava e xingava.

Aquele se possuísse saliva e pudesse cuspir já o teria feito dezenas de vezes.

Um marroquino vesgo, de bruços tatuado, cutucava-lhe com uma vara de apagar o castiçal de velas dependurado perigosamente próximo a sua gaiola.

Apaguem as velas…apaguem as velas gritava.

Cala o bico Rapunzel.

Cala a boca vesgo.

Rapunzel é a mãe.

Eu sou papagaio papagaio ô ô ô…

Ela chegou vinda do cais, era negra, estava ferida na perna direita e marcada nas costas com uma ferrada de meio palmo escrita Ex Librium.

Os homens afastaram-se para que ela entrasse.

Há alguns meses escapara de um negreiro, como chamavam os navios que transportavam escravos até o porto.

Tinha sido salva por um pescador que seu navio afundara, atingido-lhe o deposito de munição com um tiro desferido por um canhaozinho tosco de fabricação artesanal que ele mesmo fizera e o colocara sobre uma jangada e desde então se tornara um empecilho a chegada destes navios ao Porto.

De tanto combate-los de forma rudimentar e heroica era apelidado de Dragão do Mar.

Este era o dono do papagaio.

Um dia resolvera sozinho não permitir que aportassem estes navios com seus escravos vivos e cadáveres ali na região de Iracema.

Ele afundara o navio que a trazia, a salvara do mar e a trouxera para terra.

Tendo em vista que este carregamento estava adquirido pela Companhia Librium que ia incorporar estes homens e mulheres aos demais escravos, que já trabalhavam na Companhia Librium de construção de ferrovias.

Esta Companhia estava fincando dormentes em Crato.

O contrato da posse de um escravo dava trinta por cento de propriedade a quem lhe salvasse a vida.

Isto ficou acordado contra sua vontade.

Logo, a escrava a qual ele deu liberdade dos seus trinta por cento, estaria por nove meses engajada a frente escrava de trabalho no Sertão de Crato, e por três meses do ano livre.

Estaria por conta dele, e depois deveria ser devolvida apta para voltar ao trabalho, sob pena de em caso de perda da capacidade de trabalhar, ser a Companhia Librium indenizada em alta soma.

O tempo, contando os meses de Janeiro Fevereiro e Março, época das chuvas em que quase paravam os trabalhos na linha férrea, vinha ela para a capital depois de andar léguas e léguas a pé e punha-se a segui-lo.

Quando ele estufava as velas e largava-se ao mar para espreitar e combater as embarcações vindas da África, ela ficava a praia entoando canções africanas.

Quando ele ia a taberna, estava ela lá, entre os homens do mar.

Vendo-o de longe.

Davam-lhe de comer e água para beber.

Ela não falava português.

Ele não falava Nagô.

Isto se repetiu por anos e anos.

Foi assim ate que ele não voltou do mar.

Quando a taberna pegou fogo no Natal, só restaram cinzas e o esqueleto de uma gaiola.

Dizem que avistaram no mar uma jangada com um casal e um papagaio xingando em Nagô.

Outros dizem que é lenda.

Reserva de Patrimônio Natural que cuida de 300 animais silvestres corre risco de fechar

Por Luiza Nobre

Completados dois anos de pandemia da COVID-19 no mundo, a pergunta a ser feita não é mais “se”, mas “quando” acontecerá a próxima epidemia. Com efeitos e características convergentes, a crise climática e o novo coronavírus colocam em cheque a urgência de se repensar a relação do homem com a natureza.

No Brasil, enquanto a população era desencorajada a permanecer em isolamento social e o sistema de saúde colapsava pela superlotação de atendimentos, o Governo Federal, por meio do Ministério de Meio Ambiente, “passava boiada” nas políticas ambientais.

Uma sequência de alterações normativas no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), publicadas entre março e abril do ano passado, permitiram a invasão, a exploração e a comercialização de terras indígenas, além da diminuição no distanciamento entre áreas habitadas e áreas exploradas pelo agronegócio, pulverizadas de agrotóxicos.

Invasão de ecossistemas, altas temperaturas, eventos climáticos extremos levaram ao aumento das doenças transmitidas por vetores e ameaçaram mais uma vez a fauna e flora brasileira. A mais recente delas foi a proposta de Projeto de Lei 5544/2020, de autoria da Deputada Federal Nilson Stainsack, e propõe a liberação da caça esportiva de animais silvestres, permitindo perseguição, captura e abate de animais no Brasil.

“Não tínhamos que estar debatendo isso, tínhamos que estar debatendo como o Brasil vai encarar esse início de pós-pandemia, porque isso é mais urgente. Qualquer tipo de esporte que cause um estresse desnecessário a outro ser deve ser repensado. Se eu dou um tiro em uma onça, ela demora anos para viabilizar uma gestação, e parindo 1 ou 2 indivíduos, e de uma espécie que está em declínio. Mas caça não é esporte”, pontua Yuri Silva, Coord. de projetos no Instituto Mapinguari.

Fechada para visitação desde o início da pandemia, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (Revecom), localizada no município de Santana, vem enfrentando dificuldades financeiras para fazer manutenção, pagamento dos profissionais e alimentação dos animais. Já são mais de 400 dias sem visitação.

De acordo com o diretor Paulo Amorim, o endividamento da reserva chegou por volta de 200 mil. A Reserva teve que vender um carro com valor abaixo do mercado, para poder saldar despesas imediatas; e ainda foram feitas vaquinhas onlines, além de receberem doações de amigos e pessoas que apoiam as causas ambientais.

A situação se agravou, segundo Amorim, no fim da gestão passada da Prefeitura de Santana, a qual tinha um convênio com a Reserva, e ficou devendo o mês de dezembro do ano passado, e não deixaram nada ajustado com a nova gestão.

“Tivemos várias reuniões com as secretarias municipais de Santana, e levou 8 meses até que conseguíssemos garantir um acordo com a Prefeitura, mas ainda precisamos de patrocínio, pois temos logradouros que precisam de manutenção, estão a ponto de desabar, ainda precisamos garantir o pagamento dos funcionários, e alimentação dos animais e os custos de energia, material de cuidados da saúde dos animais, além de combustível e outros”, informa o administrador Amorim.

A reserva conta com 300 animais, vítimas das caças predatórias que acontecem na floresta na região, boa parte são filhotes que perderam a mãe abatida por caçadores. “Aqui no Brasil são abatidos milhões de animais silvestres para consumo, o que faz com que tenhamos tantos animais sob tutela, filhotes são vendidos como pet e matam as mães para consumo da carne”, informa Amorim.

A Revecom está em busca de patrocínio de empresas que possam cooperar ajudando a manter a reserva funcionando e garantindo um lugar para cuidar e proteger os animais silvestres. São necessários cerca de R$35 mil para manutenção mensal, verba que manteria a sustentabilidade dos animais e da estrutura física da reserva. Doações podem ser feitas através do pix CNPJ: 01.477.979/0001-56

Fonte: Diário do Amapá.

Poema de agora: O primeiro amor na Amazônia – Pat Andrade

Ilustração de Ronaldo Rony

O PRIMEIRO AMOR NA AMAZÔNIA

quero te contar
que Eliana chorou
quando viu o barco
enfeitado de luz
cortar o rio
deixando o porto

a quilha cortando
laços e promessas

cheia de espanto descobriu
que a maré faz dançar
a lua e as estrelas
enquanto embala a saudade
pendurada no punho da rede

seu coração batia oco
no casco do barco
quase despedaçando
a cada onda mais forte

na beira do rio
(agora distante) ficaram
seus olhares mais longos
e seus gestos mais doces
para o moço pescador

durante a viagem
aprendeu com as águas
como dói renunciar
ao primeiro amor

Pat Andrade

Ronaldo Rodrigues gira a roda da vida pela 56ª vez. Feliz aniversário, Ronaldo Rony!

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Neste décimo sétimo dia do ano gira a roda da vida pela 56ª vez, os queridos Ronaldo Rodrigues & Ronaldo Rony. Para a nossa sorte, dois malucos que habitam o mesmo avatar e tornam as nossas vidas menos ordinárias. São gênios e baitas caras, que dou muito valor!

Ronaldo é pai do Pedro e do Artur, marido da Maria Lídia, escritor, poeta, roteirista, ilustrador, documentarista, cronista, cineasta, quadrinhista, pai do Capitão Açaí (entre outros tantos personagens), cartunista, remista e torcedor do Grêmio. Um artista brilhante e imparável (como diz o amigo Fernando Canto, no sentido de nunca parar), em todas essas áreas e um cara amado por sua família e amigos, além de ilustre colaborador deste site e brother muito querido deste editor.

Já disse e repito, o figura é um artista ímpar, tanto redigindo, quanto atuando no audiovisual ou desenhando seus cartuns. A genialidade do figura é tão caralhenta quanto sua paideguice, pois o cara é demais porreta.

Paraense de nascimento e já amapaense no coração, Ronaldo é um genial louco varrido. Quando bebia, ele se equilibrava bêbado, mas nunca caía na vala de uma vida ordinária. Original como poucos, Rony é um cara que admiro. Dono de uma mente fantástica e barulhenta, ao mesmo tempo é discreto e modesto.

Ronaldo é um cara tranquilo, sempre inquieto, instigado, inventivo, surpreendente e perspicaz. Crítico ácido e bem-humorado, brinca com tudo. Ri de todos e até dele próprio, de forma inteligente e espirituosa. Sempre com uma crônica bem redigida ou um cartum visceral, o maluco faz a nossa alegria, pois somos fãs do seu trabalho. Gosto muito dele. É um cara honesto, trabalhador e do bem.

Além de tudo já escrito e descrito aí em cima, Ronaldo é um cartunista premiado dentro e fora do Brasil, ele possui quatro livros publicados, é decano do Coletivo Quadrinhos do Amapá e veterano do movimento audiovisual amapaense, entre outras facetas.

Tenho a sorte e a satisfação de receber, vez ou outra, crônicas, contos e poemas seus para publicação neste site.

Em 2019, Ronaldo fez as ilustrações do meu livro, “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, lançado em 2020. Da mesma forma, ele ilustrou a minha obra “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, lançada em 2021. Em ambas as publicações, ele fez um puta trampo. Dizer que Ronaldo é PHoda é redundante. Ter esse cara como parceiro é uma honra pra mim.

Sobre o Ronaldo, a poeta Patrícia Andrade, disse: “ele é incrível, mesmo. Um pai do caralho (como dizia Millor: “qual expressão traduz melhor a ideia de intensidade do que ‘do caralho?”). É um ex-marido exemplar e meu grande amigo”. Ela é mãe do Artur e também colaboradora deste site.

Enfim, Ronaldo, mano velho, “TU SAAAAABES”…Que teu novo ciclo seja ainda mais feliz, produtivo e iluminado. Que sigas pisando firme e de cabeça erguida em busca dos teus objetivos e que tudo que couber no seu conceito de sucesso se realize. Que a Força sempre esteja contigo. E que tua vida seja longa, por pelo menos mais 56 janeiros, repleta de momentos porretas. Parabéns pelo seu dia, manão. Feliz aniversário!

Meus pais me levaram até o alto da colina e me disseram: – Ei, garoto! Esse é o mundo. Vá lá e tente se divertir!” – Ronaldo Rodrigues, que também é Ronaldo Rony.

Elton Tavares

Poema de agora: Eu quero é ver – Naldo Maranhão

EU QUERO É VER

Tudo que eu quero
É estar lá
Quando a embarcação naufragar.
Ser seu bote salva vidas.
Lhe socorrer, amparar
Respiração boca a boca
Lhe trazer de volta a vida.
Transcender o amor Platônico.
Quero-te carne osso e mundanismo.
Transitar meu verbo em teu Corpo é meu ofício.
Tantas curvas e abismos
Me lançar de cabeça
E sem aviso…


Quero chegar contigo ao Êxtase.
Deixar que soem os gritos.
Entrar e sair das cavernas e Orifícios.
Ver a luz, muito além das Brechas, teu sorriso.

Meu amor vamos voar
Além desse horizonte
Que se vê.
Caminhar sobre o arco-íris
Do prazer
Uma nova aurora, amanhecer
Viver a vida e não morrer.

Naldo Maranhão

MP-AP homenageia almirante de Esquadra Alípio Jorge por relevantes serviços prestados ao Amapá

A procuradora-geral de Justiça do Ministério Público do Amapá (MP-AP), em exercício, Clara Banha, recebeu, nesta sexta-feira (14), na Procuradoria-Geral de Justiça – Promotor Haroldo Franco, visita institucional do almirante de Esquadra, Alípio Jorge Rodrigues da Silva, da Marinha do Brasil. O encontro contou também com os procuradores de Justiça do MP-AP, Joel Chagas e Estela Sá.

Na ocasião, a PGJ em exercício entregou, ao almirante, uma Placa de Homenagem como reconhecimento pela contribuição dele à instituição. A comenda faz parte das comemorações dos 30 anos do MP-AP, celebrado em outubro de 2021.

Memória

Em 2015, então comandante do 4° Distrito Naval da Marinha do Brasil, o almirante Alípio Jorge foi fundamental na execução do programa Rios de Cidadania da Marinha do Brasil nas comunidades ribeirinhas do Distrito do Bailique e do município de Mazagão realizadas pelas equipes do MP-AP, Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP) e Prefeituras de Macapá e Mazagão, a bordo do Navio-Auxiliar Pará, da Marinha do Brasil.

Esse trabalho levou serviços para as populações distantes que sofrem com a falta de assistência e passam por dificuldades para acessar os meios legais para reivindicar seus direitos. Além do atendimento do órgão ministerial, o convênio proporcionou serviços da Justiça Itinerante e de saúde, bem como de segurança naval.

Diálogo

Na oportunidade, os membros do MP-AP conversaram com o almirante sobre a importância de estreitar laços com o órgão ministerial e estabelecer o diálogo para parcerias futuras com a Marinha em prol da sociedade amapaense, a partir das atividades realizadas pelos militares e múltiplas possibilidades de ações em conjunto.

O almirante se disse honrado e agradecido pela comenda. Alípio Jorge agradeceu pela Placa de Homenagem e elogiou a PGJ do MP-AP.

Além de ter dirigido o 4° Distrito Naval, o almirante Alípio Jorge é ex-comandante da Escola Superior de Guerra (ESG) e ex-comandante de Operações Navais da Marinha do Brasil.

“Agradeço a homenagem e a oportunidade de ter trabalhado junto ao MP-AP. Em especial à Dra. Ivana Cei, que sempre esteve à frente das ações em que a Marinha trabalhou com o órgão ministerial”, comentou o almirante.

“O almirante Alípio Jorge é um amigo e parceiro do MP-AP, quando esteve à frente do 4º Distrito Naval, período no qual realizamos projetos em conjunto para as comunidades ribeirinhas do Pará e Amapá. Em nome da Dra. Ivana Cei, agradecemos e parabenizamos nosso homenageado pelos relevantes serviços”, manifestou Clara Banha, PGJ em exercício.

Serviço:

Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Amapá
Gerente de Comunicação – Tanha Silva
Núcleo de Imprensa
Texto: Elton Tavares
*Contribuiu o fotógrafo Sal Lima
E-mail: [email protected]
Contato: (96) 3198-1616

Aniversário de Macapá: encerra nesta sexta o período de inscrição de artistas gospel

O Instituto Municipal de Turismo (MacapaTur) encerra nesta sexta-feira (14) a inscrição para credenciamento de artistas gospel para apresentações na programação do aniversário de Macapá, conforme o edital 001 de 2021.

Os interessados têm até às 23h59 do dia 14, para realizar a inscrição.

SE INSCREVA AQUI

A prefeitura disponibilizou nas suas redes sociais um passo a passo para auxiliar no processo de inscrição.

Viviane Monteiro
Instituto Municipal de Turismo

A “Confraria dos Otaros” – Uma crônica barateira de Elton Tavares e Fernando Canto (ilustrada por Ronaldo Rony)

Noite dessas, durante conversa com o Fernando Canto, ele me falou que alguns poetas do Amapá estão (pasmem!) comprando diplomas de instituições literárias gringas ou títulos com padrinhos tipo William Shakespeare (exemplo genérico, pois são vários figurões da arte literária mundial). Pensei: égua-moleque-tu-é-doido! Como diria esse último monstro da Literatura citado: “Há mais coisas entre o céu e a terra tucuju do que pode imaginar nossa vã filosofia”. É ou não uma verdadeira “Confraria dos Otaros”?

Má rapá. É deslumbramento e uma necessidade de se autovenerar. E pior, pelos nomes citados pelo amigo Canto, que para mim é o maior escritor vivo deste nosso lugar no mundo, alguns dos apadrinhados/diplomados pelos vultos literários são falsos intelectuais. Sim. Daqueles que nem falam e nem escrevem direito, mas…

Não entendemos o motivo dessa pavulagem. Sério mesmo. Não que queiramos atravessar vários minutos de discussão ou encher o saco dessas figuras. É que estou admirado mesmo.

A propósito, ancorados em suas inteligências superiores, será que esses intelectuais “otaros” ficam mostrando uns aos outros seus diplomas ou títulos, meio que competindo por quem tem um padrinho ou documento com mais peso histórico/literário e pensam que isso reflete em suas mentes foscas as fazendo brilhar?

Deve ser a tal “Teoria do Medalhão” do Machado de Assis. E ainda vão dizer que nossas críticas são motivadas por inveja. Afinal, todos temos o direito inalienável de sermos considerados inteligentes do jeito que queremos nos iludir. Né, não?

Somos amigos de alguns verdadeiros gênios. Mas eles são humildes. Sem essa boçalidade típica da “Confraria dos Otaros”. É como disse Nelson Rodrigues: “dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro”. Com certeza. Também compra um diploma de sabido ou apadrinhamento de figurão da história, falecido há séculos (risos).

Mas por que “Confraria dos Otaros”? Trata-se de parte de uma frase usada para o mesmo significado (otário), pois antes de ser atributo de pessoas de má fé, ingênuas, carrega o peso da vaidade. E toda vaidade é ilusória, fútil, jactanciosa e frívola, ainda mais no meio artístico em que muitos dos seus protagonistas se acham talentosos e dizem estar além da capacidade comum dos mortais. Muitos desses pavões se danam a produzir gestas sobre si mesmo, mas são verdadeiros valdevinos literários, estando ou não em grupos ou academias, o que, aliás, é o que não falta no Brasil. Para entrar em algumas delas basta comprar o diploma, como o fazem os falsos médicos e enganadores profissionais.

Um diploma ou uma medalha comprada não caracteriza um autor, pelo contrário, o ridiculariza perante os que não se deixam enganar pela fatuidade apresentada, tão típica dos que querem porque querem ser admirados, mesmo que não mereçam.

Não queremos com esta crônica ofender a honra de alguém ou de alguns. Entretanto, o pélago existente entre os “otaros” e os que levam a literatura a sério é maior que a Sofia do Porto de Santana e mais extenso que uma pororoca que havia no Araguari. Esses glabros de letras deviam era se esmerar para produzir uma literatura que nos faça melhor, que nos torne mais felizes e parar com essa onicofagia nervosa e permanente de autobajulação.

Ainda bem que vem uma geração com a literatura pulsante nas veias por aí. Por exemplo: os poetas Gabriel Guimarães in “Ágil Peste Celeste – Poemas Primeiros” (Portugal – Brasil – Angola – Cabo Verde), Chiado Books, 2021; Lara Utzig, in “Efêmera”, publicado pela editora Lura (2020); Rafael Massim, in “Amores, o Meio do Mundo e Outras Contemplações”, Edição do Autor, Macapá, 2020 e Gabriel Yared com o romance “Semente de Sangue”, Editora Corvus, Feira de Santana/BA, 2021. São escritores jovens, assim como muitos outros que estão revelando seu talento pós-pandemia.

Há alguns que ainda não publicaram livros, mas que estão “bombando” nas redes sociais, como é o caso de Jaci Rocha, Lorena Queiroz e outras tão marcantes quanto essa. Se não caírem nas asas da presunção, podem se tornar verdadeiras pedras angulares que sustentarão nossa literatura no futuro, ainda que lidar com a personalidade de artistas seja meio complicado.

Apesar dessas otarices, temos grandes escritores e poetas, homens e mulheres como Manoel Bispo, Alcinéa Cavalcante, Maria Ester, Paulo de Tarso, Ronaldo Rodrigues, Tiago Quingosta, Lulih Rojanski, Pat Andrade, Marven Junius Franklin, entre tantos outros, que não precisam de títulos ou de medalhas adquiridas pela compra, e que já estão inscritas na história da nossa literatura com muito mérito.

É verdade que cada um tem suas próprias escolhas por isso não condeno quem quer que seja, nem posso julgar a relação desses poetas com as instituições das quais fazem parte, pois não as conheço a não ser das postagens jactantes nas redes sociais. Sobre isso creio que o patrono Shakespeare já se antecipou, referindo em “Hamlet, Príncipe da Dinamarca”: to be, or not to be, that is the question.

E, antes que nos chamem de invejosos, digo estas palavras meio chulas oriundas do tupi (te’bi): toba ou não toba, ora vão tomar. A questão não é nossa. Enfim, essa galera deve achar uma bobagem antiquada aquele papo de “ler para ser”. E, sim, resolvemos escrever esse texto só de sacanagem, para rirmos depois. É isso!

Elton Tavares e Fernando Canto

A gente já riu muito de vocês, otaros!

*Uma dica: boa parte da “Confraria dos Otaros” apoiou a rasteira na poeta Pat Andrade.