Bob Dylan faz 80 anos hoje. Viva o Mr. Tambourine!! #BobDylan80

Bob Dylan (foto: Chris Pizzello/AP)

Hoje, 24 de maio, um dos figuras mais geniais da música mundial completa 80 anos.

Nascido Robert Allen Zimmerman, no estado de Minnesota (EUA), o compositor, cantor, pintor, ator e escritor norte-americano Bob Dylan chega, também é ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2016.

Autodidata, ainda adolescente, aprendeu a tocar piano e guitarra sozinho. Iniciou a fantástica carreira artística em 1959, em grupos de rock e imitando Little Richard. Com canções de protesto, crítica social, românticas e até religiosas, do folk ao rock, Bob Dylan foi ícone da contracultura nos anos 1960, ativista fervoroso, pacifista e ídolo de qualquer um que admira belas músicas e atitude.

Uma curiosidade: Bob tirou seu “Dylan” do poeta galês Dylan Thomas (1914-1953). Ele costuma dizer que: “Bob Zimmerman soava longo e pesado” e “Bob Dylan era menos sincrético”.

Não dá pra calcular a magnitude de Dylan, muito menos explicar sua contribuição e influências para a música. São 59 anos de carreira, 65 discos nessa trajetória; aproximadamente 500 canções escritas; mais de 3.400 shows. Seu trabalho é algo quase paranormal. Centenas de livros já foram escritos sobre ele. Por falar nisso, Bob escreveu sua obra literária, intitulada “Tarântula”, com pouco mais de 20 anos. Sem falar que ele pintou quadros, desenhou e atuou.

Bob Dylan- Foto: site oficial do artista

Difícil explicar um cara desses. Dylan é tido como o maior poeta da história do rock and roll e um dos artistas mais influentes do nosso tempo. Ao longo de sua sensacional história, Bob Influenciou grandes nomes do rock americano e inglês nas décadas de 60 e 70. Em 2004, foi eleito pela renomada revista Rolling Stone o 7º maior cantor de todos os tempos e, pela mesma revista, o 2º melhor artista da música de todos os tempos. Só ficou atrás dos Beatles. Uma de suas principais canções, “Like a Rolling Stone”, foi escolhida como uma das melhores de todos os tempos. Em 2012, Dylan foi condecorado com a Medalha Presidencial da Liberdade pelo presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Como já dito, se tudo aí já não fosse o suficiente para muitas vidas, ele foi o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2016. Tédoidé!

Bob Dylan, autor de “Tarântula” – Foto: site oficial do artista

Desejo uma vida ainda mais longa ao Mr. Tambourine. Que ele nunca encontre outro furacão, que não bata tão cedo na porta do céu e que continue a rolar pedras por pelo menos mais 80 anos. Desta forma, o cara seguirá com sua voz fanhosa, gaita, guitarra e liberdade criativa a nos emocionar.

Muito obrigado e parabéns, Bob Dylan!

O nome verdadeiro de Bob Dylan é Robert Allen Zimmerman(Foto: “Rolling Thunder Revue”/Divulgação)

Fontes: revistas, sites, papos de bar, programas da MTV e muuuita curiosidade sobre a obra do aniversariante.

Elton Tavares

Roberto Carlos de Santana, meu louco favorito – Crônica de Fernando Canto (republicada por conta do Dia Nacional da Luta Antimanicomial)

Crônica de Fernando Canto

Não sei bem em que jornal eu li sobre um maluco que morava numa praia do Rio de Janeiro, mas quem o deixou comigo foi meu amigo RT na volta de uma viagem à cidade maravilhosa. O texto o descrevia como um homem corpulento, negro e barbudo, que fumava maconha, mas que não incomodava ninguém. Cumprimentava a todos e fazia parte da paisagem urbana de Ipanema. Todo mundo o conhecia no bairro e o autor do artigo falava em uma espécie de reencontro com ele depois de muitos anos que passou fora do Brasil.

Em Macapá conheci algumas dessas pessoas alienadas, praticamente abandonadas por suas famílias. E foi exatamente na minha adolescência, quando era estudante do ginásio. Na saída das aulas os mais velhos instigavam os mais novos a fazerem chacotas com elas e apelidá-las quando passavam em frente ao colégio.

Nunca esqueci a “Onça”, que possivelmente não era louca, mas viciada na cachaça. Quando convidada fazia espetáculos sensuais, levantava a saia rodada e dançava Marabaixo, sem se desvencilhar da garrafa de “Pitú’ equilibrava na cabeça, rebolando, para o delírio da turma, que a aplaudia sem parar, rindo e gritando com aquelas vozes de fedelhos em mudança, quase bivocais.

Ainda posso ver o “Cientista” lá pelas bandas do Mercado Central trajando seu paletó azul claro e um calção sujo e descolorido. A barba rala, as feições indígenas e o olhar sereno. Vez por outra procurava alguma coisa embaixo de uma ficha de refrigerante ou em uma pequena poça d’água, como se tivesse perdido algo muito valioso. À vezes anotava (ou fazia que anotava) alguma coisa em um papel de embrulho, daí as pessoas acharem que eram importantes fórmulas de um cientista, vindas em um “insigth”, um estalo de ideia. Eu o vi também trajando o pijama de interno do Hospital Geral, de onde fugia de uma ala reservada aos doentes mentais.

Quase decrépito, mas imponente, calvo e meio gordinho era o famoso “Pororoca”. Para mim é inesquecível a cena que vi dele descendo a ladeira da Eliezer Levy, no bairro do Trem, no sol quente do meio dia, bem embaixinho da linha do equador, quando os raios do sol pareciam rachar os telhados das casas e estalar a piçarra. Lá vinha ele, rindo à toa, descalço, de cueca branca e um imenso couro de jiboia enrolado no peito. Um figuraço!

Creio que todos os frequentadores do bar Xodó chegaram a conhecer o “Rubilota”, um senhor de aparência forte, que andava invariavelmente sem camisa, que pedia um cigarro e ia embora. Mas de repente surtava e começava a gritar pornofonias das mais cabeludas possíveis. Quando ficava violento era preciso chamar a polícia, mas com um bom reforço, pois ele era durão.

Quem sempre aparecia pela Beira-Rio era o Zé, cearense e empresário de sucesso, mas que enlouqueceu, dizem, de paixão. Ele me conhecia, e sempre que me via nos bares ia me cumprimentar ou pedir um cigarro. Os garçons tentavam expulsá-lo do ambiente porque andava sujo e com o pijama do hospital, de onde fugia igual ao seu colega “Cientista”. Porém eu não deixava que o escorraçassem.

Havia um cara que eu conheci ainda sem problemas psiquiátricos. Ele tocava violão e cantava na Praça Veiga Cabral, ali na parada das kombis que faziam linha para Santana. Estudava, salvo engano, no Colégio Comercial do Amapá. Anos depois eu o encontrei pelo centro da cidade cantando sozinho pela rua as músicas seu ídolo: era o Roberto Carlos de Santana.

O pessoal da sacanagem do Xodó chegava a pagar R$1,00 para ele cantar o “Nego Gato” no ouvido de algum freguês desprevenido. O RC de Santana chegava por trás da vítima (normalmente um amigo que não sabia da onda da turma) e dava um berro que até o Rei da Jovem Guarda se espantaria. Cantava “Eu sou o nego gato de arrepiar…” em alto e bom som e em seguida saía correndo com medo da porrada até a intervenção dos gozadores que morriam de rir.

Esse era o meu maluco predileto. Não sei por onde ele anda, se morreu como a maioria dos aqui citados, se ainda recebe uma grana para cantar o “Nego Gato” ou se ainda canta acreditando que é o Roberto Carlos, lá em Santana. O interessante é que as pessoas sempre têm uma explicação para a causa da desgraça alheia. Dizem que todos eles tiveram desilusões amorosas, que foram vítimas de traições, e por isso surtaram, e assim viveram e assim alguns morreram. Mas com certeza viveram bem, imersos no seu mundo, sem se importarem com que os “normais” pensassem a seu respeito, sem se indignarem com os acontecimentos inescrupulosos dos políticos indignos, estes sim, os deficientes mentais que precisam ser recolhidos definitivamente da sociedade.

*Republicada por hoje ser o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.

Tremor de terra assusta moradores do Arquipélago do Marajó – Égua-moleque-tu-é-doido!

Breves, no Marajó: ocorrência foi registrada às 15h42 desta sexta-feira (Igor Mota / O Liberal)

Moradores de municípios do Arquipélago do Marajó relataram que um tremor de terra ocorreu no fim da tarde desta sexta-feira (14). O fenômeno foi confirmado pelo Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), indicando que sua magnitude foi de 4.3 na escala Richter (que vai de zero a dez). O município de Breves, um dos maiores núcleos urbanos no Marajó, com 103 mil habitantes, foi o epicentro.

O site internacional Volcano Discovery, por sua vez, registrou a informação de “Terremoto 5.1 – 34 km a noroeste de Breves, Pará, Brasil, em 14 de maio 15:42 (GMT -3)”. O tremor também foi confirmado pela Rede Sismográfica Brasileira (RSBR).

Epicentro da ocorrência no Marajó ganhou destaque internacional (Volcano Discovery)

‘Prefeitura tremeu por segundos’

À tarde, circulou a informação de que o fenômeno teria sido verificado em Breves, Melgaço, Anajás e Bagre. Uma das pessoas que constataram o tremor de terra em Breves foi o prefeito do município, José Antônio Leão, conhecido como Xarão Leão (MDB).”O tremor ocorreu entre 15h30 e 16h. Eu estava na sede da Prefeitura e verifiquei que tremeu mesmo, por alguns segundos. A Prefeitura fica no bairro centro, e eu ouvi relatos de amigos e pessoas que houve tremor em outras casas. Foi sentido também em uma vila na zona rural de Portel perto de Melgaço”, relatou o gestor municipal.O prefeito ouviu de pessoas que houve tremor em cama e em janelas em casas. Mas não citou danos materiais. “Até o momento não temos noticia de algum dano”, declarou o gestor municipal.

Centro de Sismologia da USP fez o registro do tremor desta tarde (reprodução)

Leão destacou que o tremor de terra “é estranho, incomoda e assusta um pouco”. O prefeito disse que apenas há cerca de dez anos foi observado outro tremor de terra como esse, mas na zona rural de Breves.O professor Reginaldo Lourenço, não percebeu o abalo no momento de sua ocorrência. Ele destacou à redação integrada de O Liberal que se encontrava descansando, em Breves, no momento em que o tremor teria acontecido. No entanto, como disse, “ao acessar as redes sociais e os grupos daqui da cidade, vi várias postagens falando sobre isso”, contou. “Muitos amigos perceberam”, acrescentou.

Rede Sismográfica Brasileira comentou o tremor

Na noite desta sexta-feira, a Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) confirmou o evento em suas redes sociais. A RSBR também disse que o tremor teve a magnitude de 4.3, e o horário local exato para o registro. “As estações da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), operadas pelo Laboratório Sismológico da UFRN e pelo Centro de Sismologia da USP, registraram o evento, que ocorreu às 15h44”.

“Moradores do municípios de Anajás também relataram ter sentido o abalo sísmico de magnitude considerada mediana. Até o momento, não há relatos de danos materiais”, disse ainda a RSBR.Segundo tremor no Pará este ano

Segundo a rede de monitoramento, esse foi o segundo tremor registrado pela RSBR no Pará em 2021. “O primeiro sismo do ano ocorreu em Curionópolis, no dia 7 de abril, e teve magnitude calculada em 3.1”.Segundo diz a RSBR, o chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (OBSIS/UnB), Marcelo Rocha, confirmou que mais de 20 estações captaram o evento. “Essa é uma magnitude considerada moderada para os padrões brasileiros.

Breves tem 103 mil habitantes e é um dos maiores núcleos urbanos da região (Igor Mota)

No momento, não é possível informar nenhum dado adicional sobre as causas deste evento, mas, em geral, os tremores que acontecem no Brasil estão relacionados à reativação de falhas geológicas ou criação de novas falhas, devido aos esforços compressivos ao qual o interior da placa Sul-Americana está submetido”, reproduziu a RSBS em suas redes sociais. A Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) é a organização pública que monitora atividades sísmicas em todo o território nacional – através de quase 100 estações sismográficas pelo Brasil, operadas pelo Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (Obsis/UnB), Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN) e Observatório Nacional (ON).

Fonte: O Liberal.

The Doors: O filme – Resenha

Gostamos de cinema e rock, quando essas duas coisas estão juntas então, nem se fala. Hoje falaremos um pouco do filme “The Doors”, que contou a história da banda, homônima ao longa-metragem. Tudo bem que a película exalta muito mais a figura doideira do Jim Morrison (Val Kilmer) que dos outros componentes do grupo, ou a intelectualidade do vocalista (que lançou alguns livros nos EUA).

O filme é de 1991. Foi dirigido pelo renomado diretor Oliver Stone, que ganhou o MTV Movie Awards 1992 (EUA). Stone arrebentou, escolheu o ator Val Kilmer para o papel do lendário Jim Morrison, retratou os shows com ótimos efeitos e adicionou cenas reais ao filme.

O ator mais cotado para o papel era John Travolta, mas Kilmer enviou a Oliver um vídeo onde canta músicas da banda. Isso e o fato de ser muito parecido com o “Rei Lagarto” (como Morrison era conhecido) fez com que ele ganhasse o papel. E ele foi foda naquele filme, para mim, sua melhor atuação.

Para aqueles que não sabem (que devem ter vindo de Marte), o The Doors foi, na segunda metade dos anos 60 e início de 70, uma banda de rock norte-americana. O grupo era composto por Jim Morrison (voz), Ray Manzarek (teclados), Robby Krieger (guitarra) e John Densmore (bateria). A banda tinha influências de Blues, Jazz, Flamenco e Bossa Nova. Foi uma das maiores da história do rock mundial.

O filme conta a vida anárquica de Jim, todo tipo de loucura, paixão e sexo. Algumas amigas minhas detestaram a postura de Morrison, que faz muitas cagadas com sua namorada Pamela Courson (Meg Ryan), mas isso não é nenhuma peculiaridade dos rockstars (risos). O que queremos dizer aqui é: poucas películas fazem jus ao jargão “sexo, drogas e rock and roll” como esta obra de Stone.

Ouvimos dizer que Val Kilmer teve problemas para sair do personagem, andou meio doido, por ter vivido Jim. A atuação dele foi extraordinária, até Ray Manzarek e John Densmore elogiaram publicamente o desempenho de Kilmer.

O filme tem cada “liga torta” (mas muito bacana), como a influência xamânica de Morrison (que ele absorveu depois de presenciar um acidente de carro na estrada, onde um índio teria morrido e espírito do figura virou um “encosto” no rockstar (risos). O filme retrata até o envolvimento amoroso de Jim e a jornalista Patricia Kennealy.

Jim Morrison morreu em 1971, foi cedo demais, assim como muitos, antes e depois dele. Jim influenciou, definitivamente, uma geração que, posteriormente, influenciou outras. Por exemplo, Iggy Pop que decidiu fundar sua banda (Stooges) depois de ver Jim Morrison. Apesar de não gostar do som e da poesia dos Doors, Iggy admirava a postura sensual e misteriosa de Morrison.

Assim, juntando a vontade de criar uma nova sonoridade para o rock, a preocupação com o visual da banda nas apresentações ao vivo, os Stooges marcaram o início de um movimento que culminaria com o punk rock. Mas essa é outra história.

Voltando ao filme, Ray Manzarek (tecladista do Doors) lançou, anos depois, um livro falando de algumas “potocas” de Oliver Stone no filme e que a película conta “de forma horrível” a história da banda. Mas o diretor fez vários pedidos para que Manzarek trabalhasse como consultor no filme. Entretanto, Robbie Krieger (guitarrista dos Doors) foi o consultor, então tá valendo.

Enfim, este site aconselha a todos que não assistiram a fazê-lo. Os que já assistiram e gostam muito de rock e cinema, o assistem de vez em quando. Abraços na geral!

Ficha técnica:

Gênero: Biografia, Drama.
Direção: Oliver Stone.
Elenco: Billy Idol; Val Kilmer; Meg Ryan; Kyle MacLachlan, Frank Whaley, Kevin Dillon e Kathleen Quinlan.
Duração: 140 minutos.
Ano de produção: 1991.
Classificação indicativa: 18 anos.

Assista ao trailer do filme: 

Elton Tavares e André Mont’Alverne

Sobre os Dias de Lorena – (Fernando Canto, sobre o ensaio “Sobre os Dias”, de Lorena Queiroz) – (@fernando__canto & @LorenaadvLorena)

Por Fernando Canto

Aprendo com Lorena que o chocolate se assemelha a um pêndulo, não o de Foucault ou o de Galileu ou de outro, ainda que imóvel (a massa), em sua forma imanente. Tratar o tempo viajante pelo sopro indispensável dos filósofos, remete a autora a uma ampla reflexão sobre sua própria contemporaneidade, na qual lida com a provocação do saboroso doce em época amarga como a nossa.

Ela atualiza o que todos querem, pois também aprendo com seu belo texto que a pandemia, independentemente dos cuidados e protocolos recomendados, nos reduz a nada, ou, quem sabe, a candidatos ao purgatório, Hades ou Valhalla, quem sabe ao inferno, que dantes não falávamos por pura frescura intelectual.

A mão da autora escolhe o lado do balançar do pêndulo e arrebata o brigadeiro sem hipocrisia. Isso é, a meu ver, quase tudo, emblemático na conduta de cada ser humano hoje e a antítese de um tempo em que somos proibidos de sermos o que somos à sombra de uma memória que aos poucos vai se apagando até virar deslembramento e silenciamento. Nos estamos, pois, mais propensos a receber como castigo levar, como Sísifo, de volta para a montanha a pedra que rola, ao invés de termos nosso fígado devorado por uma águia, como Prometeu acorrentado no Cáucaso.

Diria ainda que a tese de Lorena é pessimista, mas com um paradoxal fundo de esperança, talvez pelo receio de alimentar uma nova cultura civilizatória, com o fogo do Olimpo, em nosso combalido país de desalmados governantes.

Assim, ainda aprendo com Lorena que a finitude dos dias pode ter um caráter terno de quem gravita no silêncio do pensamento para instigar em seus leitores a capacidade vital de reagir pelo fogo da cultura contra os que tentaram nos fazer de reféns, enquanto oscilam os pêndulos, que são a oportunidade de resgatar os nossos chocolates e seguir a vida, mesmo com as notícias nada alvissareiras e fake news. Valeu, Lorena.

*Fernando Canto, sobre o ensaio “Sobre os Dias“, de Lorena Queiroz .

Um pequeno ensaio sobre os dias – Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Por Lorena Queiroz

Ultimamente ando especulando se não estamos vivendo em um grande purgatório, como na série Lost, em que, apesar de toda aquela patacoada, estavam mortos. Desculpem, meus conhecimentos sobre a série só vão até aqui. Mas a seguir, surgiu um outro pensamento que também me incomodou: que realidade distópica é esta que estamos vivendo?

A pandemia nos colocou em uma posição de prisioneiros de circunstâncias, reféns da política, esta que, claro, sempre acabando mais com a gente. Mas, no englobamento de tudo isso, nos colocou como reféns de nós mesmos. Como aprender a viver consigo mesmo dentro de um cenário cadavérico?

Em tempos tão difíceis em que as redes sociais mostram a dor em sua forma mais pessoal. O choro de um irmão, ou o sofrimento de um filho e a perda de uma mãe. Como lidar com questionamentos e sensações sobre nossa própria existência mediante a notória fragilidade da vida? Eu não sou psicóloga, portanto, não espere ler aqui uma resposta para suas perguntas. Eu sou apenas uma pessoa curiosa, cheia de dúvidas e sem a menor pretensão de um dia ser portadora de alguma certeza.

Foi no dia em que recebi a notícia de que duas pessoas queridas haviam morrido. Neste dia eu percebi o roedor, no dia do brigadeiro. Àquilo que me remoía por dentro e eu ainda não tinha tido tempo de processar. Eu estava há algum tempo evitando o açúcar, por questões estéticas mesmo, se saúde fosse minha justificativa, acabaria como diabética e hipócrita.

Quando olhei para o chocolate brilhante na tigela de vidro marrom, o doce ao qual eu vinha evitando, eu comi. Dei uma colherada generosa e desavergonhada. No princípio achei que estivesse com vontade, mas, conforme eu avançava na minha gula, eu percebia que não comia por vontade e sim por protesto. Eu estava protestando o absurdo de se conservar um corpo saudável e bonito se o destino de todos é, irremediavelmente, a morte. Mas, calma, minha cabeça funciona de um jeito muito divertido no fim das contas.

Este questionamento me levou até o Absurdo de Albert Camus. Lembrei de O estrangeiro e a indiferença de Mersault. Só que, uma coisa leva a outra. Será que a condição em que nos encontramos agora, enquanto sobreviventes, nos coloca mais de encontro à perguntas como: será que essa vida está valendo a pena? Será que vale a pena exercer o mesmo trabalho e com o mesmo resultado? Minha opinião é que o medo ou a iminência da morte nos coloca de cara com a vida. Nos faz perceber melhor a passagem do tempo e até tentamos criar uma maneira melhor de aproveita-lo, as vezes. Então, será a morte ou o tempo o nosso problema?

Na canção A lua e eu, Cassiano traz o trecho ’’...Quando olho no espelho, estou ficando velho e acabado’’. Vamos avançar um pouco no tempo e ouvir a banda Kid Abelha cantando: ‘’As entradas do meu rosto e os meus cabelos brancos, aparecem a cada ano no final do mês de agosto”. O que tudo isso tem em comum? Creio eu que, o tempo. Aquele que é percebido com os pelos brancos, uma ruga a mais na testa ou com o sua filha te perguntando o que é outsiders. Mas, acima de tudo, é o tempo.

O filosofo Henri Bergson diz que somos criaturas feitas para desaparecer e que, na vida, tudo que muda, muda em direção ao seu desaparecimento através de um processo, e o tempo é este processo. Albert Eistein disse que o tempo é relativo e varia com a velocidade e a gravidade de quem o observa. Desvende agora você, o que um físico quis dizer. O fato é que o tempo é quem nos leva rumo ao fim da história, e quanto mais caminhamos nele, nos deparamos mais de perto com o a face do fim, do desconhecido.

Sendo assim, somos forçados a voltar a Camus, mais precisamente no mito Sísifo, que tem o castigo de rolar a pedra até o topo da montanha e, após todo trabalho da subida, a ver cair novamente, repetindo assim o mesmo trabalho, todos os dias e pela eternidade. E neste instante a gente se pergunta: tá valendo a pena?

É importante esclarecer que Camus escreveu este ensaio em 1942, em plena segunda guerra mundial. O absurdo das coisas, o absurdo da guerra e, ouso atualizar para sensações vigentes e atuais, o absurdo da pandemia. Seria eu, como em A Náusea de Sartre, apenas contingente? E, portanto, através do tempo, me encontro com o outro desconhecido; a morte.

Como em a Tabacaria de Fernando Pessoa, a dinâmica acelerada de Álvaro de Campos, busca por uma verdade, um porto seguro. Uma verdade permanente e eterna que preencha sua vida sem sentido. E acredito que, talvez seja assim que nos vemos mediante o correr do relógio. Seria e lá se vai mais um dia, ou e lá se vai menos um dia? Minha opinião é que tudo isso seja acelerado pelo que disse Suassuna, por aquilo que reúne tudo que é vivo em um só rebanho de condenados.

Exatamente porque a morte é inerente á vida. Algo que é parte fundamental da existência humana, e da qual, nada sabemos. E não é nada confortável concluir que sabemos tão pouco de algo que é a única real certeza da vida. E, voltando em Camus, acho que ele tinha muita razão quando disse que ‘’… Cultivamos o hábito de viver antes de adquirir o de pensar. Nesta corrida que todo dia precipita um pouco mais em direção a morte’’’. Será que estes questionamentos estão percorrendo um número maior de mentes porque hoje somos todos semelhantes em desgraça? Memento mori?

Eu revisei toda minha vida por conta de um brigadeiro. Escutei Beto Guedes e lembrei da sala da minha infância em Belém (PA). Percorri uma época e vi muitas vidas, não só a minha, mas de muitos. Vi seus amores e suas despedidas. Momentos e amores que só vivem ainda através das lembranças que um cheiro ou uma música trazem. Acredito que isso seja um singelo exemplo de eternidade.

O que eu concluo de tudo isso é bem pessoal. E devo lhe adiantar que eu, na verdade, nunca fui uma boa influência, mas creio que é válido dizer que, seria sensato agora parafrasear Nietzsche e dizer que, o que importa não é a vida eterna, mas a eterna vivacidade.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site.

Os 76 anos da Biblioteca Pública Elcy Lacerda e a importância dela para o Amapá – Por Paulo Tarso Barros – @paulotbarros

Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda – Foto: Maksuel Martins

Por Paulo Tarso Barros

Uma das instituições educacionais e culturais mais tradicionais do Amapá completa 76 anos de existência. Afinal, são mais de sete décadas de funcionamento contínuo. Nela já atuaram, como gestores, nomes importantes da educação e da cultura do nosso Estado (Lauro Chaves, Aracy de Mont’Alverne, Ângela Nunes, dentre outros), pessoas que deixaram sua marca e que hoje são relembradas pelo muito que contribuíram com várias gerações de alunos que passaram pela Biblioteca, seja fazendo pesquisa ou lendo obras literárias, biográficas, ensaios, manuseando jornais, revistas e outras publicações.

Fundada em 20 de abril de 1945, desde então a Biblioteca vem cumprindo seu papel como entidade que abriga um valioso acervo responsável pela formação educacional de milhares de pessoas e de suporte à pesquisa. Aberta das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira, sempre recebeu os estudantes e a comunidade com muita atenção. Seus funcionários, a maioria oriundos da SEED, têm experiência e treinamento para orientar, apoiar e encaminhar todos os usuários aos locais mais adequados a cada tipo de pesquisa que se faz necessário, da mais simples à mais complexa.

Fachada principal da Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda vista do alto do Teatro das Bacabeiras – Foto encontrada no site Literatura do Amapá

Atualmente, em pleno século XXI, a Biblioteca está cada vez mais sintonizada com as demandas da modernidade, sendo um dos points mais frequentados por escolas, entidades culturais e educacionais, associações, Academia de Letras, professores em busca de mestrado e doutorado e alunos de todos os níveis que encontram o espaço adequado para suprir as suas necessidades num mundo em que o conhecimento e a pesquisa ocupam cada vez mais um lugar relevante.

A Biblioteca conta com um acervo de aproximadamente 60 mil itens, entre livros, CDs, DVDs, revistas, panfletos, jornais (inclusive os primeiros jornais que circularam no Amapá, desde 1895 – no caso o Pinsônia) e os seguintes espaços: Sala Amapaense (livros e documentos com assuntos e temáticas do Amapá e da Amazônia); Sala Afro-indígena; Sala do Ensino Médio e Superior (que serve também como local de estudos e pesquisas); Sala Circulante (com obras literárias nacionais e estrangeiras disponíveis para leitura e empréstimo domiciliar); Sala de Artes; Sala Infanto-juvenil (que conta com o Grupo de Contadores de Histórias) e duas Salas com Jornais e Periódicos (com destaque para a Sala de Obras Raras); uma Sala de Braille e a Reserva Técnica (onde os livros são recebidos e distribuídos às salas).

A Biblioteca Estadual Elcy Lacerda é um espaço aberto, dinâmico, efervescente, muito democrático e o mais representativo das ações educacionais e culturais do Amapá. Seu atual gerente é o professor e escritor José Queiroz Pastana, que pela segunda vez ocupa o cargo.

*Paulo Tarso Barros é escritor, editor e professor e funcionário da Biblioteca há 17 anos.

A esperança não morre sem ar (pequena crônica sobre eu ter sido vacinado hoje)

 

Foto: Alvani Melo

Sem nenhuma pretensão ou gabolice, digo-vos: graças a Deus, tenho uma sorte dos diabos. E como nada é de todo ruim, por ser gordo, hoje, 19 de abril, recebi a primeira dose da vacina Oxford/AstraZeneca. Fui vacinado na cota dos obesos. Nem senti a agulha, de tão feliz que estava.

2020 não foi fácil pra ninguém. 2021 não está diferente. Cada um de nós perdeu um amigo, parente ou conhecido que gostava. Estamos há mais de um ano travando uma guerra desleal contra esse vírus. E com baixas demais, além da conta. O que a vida reservou pra gente, hein?

O escritor Rubem Alves disse: “a gente fala as palavras sem pensar em seu sentido. ‘Bênção’ vem de ‘bendição’. Que vem de ‘dizer o bem ou bem dizer’. De bem dizer nasce ‘Benzer’. Quem ‘bem diz’ é feiticeiro ou mágico. Vive no mundo do encantamento, onde as palavras são poderosas. Lá, basta dizer a palavra para que ela aconteça”. Pois é, essa vacina é uma benção nestes tempos difíceis.

Nossos planos e sonhos estão todos guardados para depois da pandemia e seguimos obstinadamente lutando por nossas vidas. Talvez, depois que tudo isso passar – e VAI PASSAR -, eu escreva sobre esse período sofrido. O título será: “Depois do Fim do Mundo – Uma crônica para sobreviventes”.

Resumindo, continuo em frente e com a força de sempre. Sempre correndo atrás e com cada vez mais motivos pra permanecer sorrindo. Ser imunizado renovou minhas esperanças. Aquele sentimento de nem tudo está perdido. Apesar do nosso presidente genocida (quem não entendeu isso até agora, nunca entenderá).

Continuo grato a Deus. Pois a esperança, queridos leitores, não morre sem ar. É isso!

Valeu, God!

Elton Tavares

 

 

 

Hernani Victor Guedes: 97 anos de paixão musical – Por Fernando Canto

Por Fernando Canto

Hoje uma das maiores personalidades musicais do Amapá completa 97 anos de existência. O ilustre cidadão Hernani Victor Guedes carrega no peso da idade avançada o leve fardo de um legado musical que se espalhou pelos quatro cantos desta imensa plateia que é o Amapá, terra que escolheu para viver desde o início do Território Federal.

Há quatro anos, a convite falei sobre sua vida musical e outros aspectos biográficos na sua casa. Foi algo terno e verdadeiro, que contou com a presença de outros depoentes como seu irmão Luiz Guedes, o cunhado Adamor Oliveira e músicos que fizeram parte de do conjunto Os Mocambos, que ele criou e liderou por muitos anos, nos quais diversos músicos o integraram, como o Joãozinho Batera, o Paulo Bezerra e eu.

Espero que o filme-documentário fique logo pronto para que possamos nos deleitar com as histórias contadas por todos, inclusive por seus filhos, meus amigos de longa data, pois a minha grande lembrança do seu Hernani é vê-lo tocando seu violino e comandando os músicos no prefixo musical “Sinfonia Nº 40 em Sol Menor de Mozart”, com arranjos super-contemporâneos que fazia ao misturar música erudita com ritmos brasileiros.

*Texto do ano passado adaptado e republicado.

Bora ser mais Zé – Por Orlando Júnior (@Orlando_Fla_Jr), sobre o Zé Ricardino (@Ze_Ricardino), que fez a passagem hoje

Por Orlando Júnior

O início desse texto era pra exaltar uma figura que se tornou tão presente no nosso cotidiano: o amigo virtual. Exato. Não era pra lembrar de alguém que está conosco dia e dia, algumas vezes à noite, mas sim por um cidadão que eu pouco conhecia pessoalmente, mas quase que somente de redes sociais.

Esse “fenômeno” é bom pra qualquer perspectiva, vejamos a cidadã conhecida como “Vih Tube”, hoje participante do reality show “Big Brother Brasil”, é uma das youtubers mais conhecida do público infantil brasileiro. Entretanto, no game presencial e transmitido 24 horas para o país inteiro: é uma jovem recém saída da adolescência que não admite ser contrariada, extremamente mimada e que usa qualquer forma de ação para estar em evidência ou pra ser admirada, sem escrúpulo algum, pois dificilmente deve ter sido contrariada alguma vez pelos pais.

De outro lado temos o Zé. Sim, nosso Zé, o cara rabugento e correto, sendo que um defeito não anula a qualidade, ao contrário, só reforça a ideia de que deixamos pra trás nossa humanidade. Porque era isso que o Zé era, humano, e acima de tudo, humilde.

Eu conheci a família do Zé ainda criança, frequentei a casa dele por duas vezes, tanto o meu pai quanto o pai dele sempre foram extremamente católicos, não a toa que o Zé sempre preservava a Quaresma, como todo católico fervoroso.

Já fui reencontrá-lo no twitter, mas sem muitas interações, até porque eu sempre fui avesso às amizades feitas em redes sociais e ele sempre foi “rabugento”.

Em 2019 passamos a ter mais contato, mas sempre bem superficial, mas ele passou a me mostrar uma faceta do twitter que eu não conhecia: a da solidariedade. Foi daí que passei a interagir com outros “tuíteiros” assíduos, entre eles a Kayser, não a cerveja, chegando a apresentá-la a vários amigos no Brasil inteiro para ajudarem na época do apagão (um viva para a Kayser – não a cerveja).

Hoje, no dia que o Zé fez a passagem, que não era dele, deve ter pego de alguém pela educação que lhe era peculiar, eu não tenho lágrimas, pois tive dois parentes e três amigos que faleceram recentemente pelo mesmo vírus e isso me deixa cada vez mais com o “coro curtido”, só consegui olhar para as mensagens e lembrar do dia em que convidei o Zé pra almoçar em casa.

Ele tinha elogiado um prato que eu havia feito num domingo para almoçar, achei de dizer “vou fazer um pra tu e a Nega depois desse lockdown”, ele, com a sutileza peculiar do cidadão respondeu: nem quando acabar a pandemia. Esse era o Zé, um cara, um zé, um amigo, sem ser conhecido, um cidadão que você gosta porque ele era exatamente isso, um cidadão, que cuidava da família e do trabalho, que lhe tratava como amigo dentro dos limites da amizade virtual.

Hoje lamentei tanto a morte dele quanto a do meu tio, meu coração tá pesado, e não é virtualmente.

*Orlando Júnior é professor, servidor de carreira da Justiça Eleitoral e amigo do Zé.

Seles Nafes gira a roda da vida. Feliz aniversário, amigo! – @selesnaf

Tenho alguns companheiros (brothers e brodas) com quem mantenho uma relação de amizade e respeito, mesmo a gente com pouco contato. E, como todos os leitores deste site sabem, gosto de parabenizar os amigos em seus aniversários. Quem roda a roda da vida neste oitavo dia de abril é o querido Seles Nafes e lhe rendo homenagens.

Seles é um renomado jornalista paraense radicado  no Amapá.  É editor e dono de site, ex-âncora da TV Globo local, pai e marido dedicado é profissional competente. O manda-chuva da página eletrônica homônima a ele é um cara que respeito e nutro amizade.

Em 2016, após 18 anos de atuação no jornalismo da Rede Amazônica, o cara se despediu da empresa. Lá ele foi repórter, editor, produtor e apresentador dos jornais da emissora. Seles é paraense e mora em Macapá desde os anos 90. Para cá ele veio, viu e venceu. Na mesma década em que começou a trabalhar em jornais impressos da capital amapaense.

Seles Nafes sempre foi bacana comigo. Tive uma passagem curta pela Rede Amazônica, mas ele nunca me tratou como foca (jornalista iniciante). Ao contrário, costumava repetir que gente nova traz inovações e me deu dicas importantes na época. Por conta do gosto comum por Rock e cinema, começamos a bater papos descontraídos.

Claro que, ao longo dos anos, discordamos. Certa vez, discutimos e nos “encaralhamos” um com o outro, mas isso faz parte. Volto a dizer: gosto do cara. Como não dar valor a alguém que te apoia sem ganhar nada em troca? Reconhecimento não é uma regra geral, infelizmente.

Seles, mano velho, que teu novo ciclo seja ainda mais paid’égua. Que sigas com essa sabedoria e coragem pisando forte em busca de seus objetivos, Que tudo que couber no teu conceito de sucesso se realize. Que a Força sempre esteja contigo. Que tua vida seja longa. Saúde e sucesso sempre. Parabéns pelo teu dia, brother. Feliz aniversário!

Elton Tavares

Túlio Balieiro gira a roda da vida. Feliz aniversário, amigo!

Eu e Túlio, numa reunião memorável com outros doidos varridos. Foto: Anderson Miranda

Tenho alguns companheiros (brothers e brodas) com quem mantenho uma relação de amizade e respeito, mesmo a gente com pouco contato. E, como todos os leitores deste site sabem, gosto de parabenizar os amigos em seus aniversários. Quem roda a roda da vida neste sétimo dia de abril é o Túlio Balieiro, um brother querido e lhe rendo homenagens.

Túlio é o chef de cozinha, bibliotecário, cinéfilo, roquista, militante da Cultura, maluco das antigas, humornegrista, grande sacana e um cara consideradão por mim.

Não lembro o momento exato em que conheci o Túlio, mas faz tempo. Trata-se de um dos seis filhos da dona Thereza, entres eles as queridas Rúbia e Paola. Um sujeito com inteligência acima da média, caráter incorruptível, bem humorado, observador e sobretudo, um homem de bem.

É muito porreta conversar com o Balieiro. Ele saca de tudo. Quando o assunto é Rock and Roll, argumenta admiravelmente sobre bandas clássicas e alternativas como poucos. Se o tema for Cinema, manja demais e contextualiza com referências e demais tópicos. Isso incluem séries também. E se o papo for Literatura, fudeu, sibixo parecer já ter lido tudo que gosto. É sempre um aprendizado papear com o Túlio.

E se a conversar sobre cultura geral e bobagens paid’éguas for regada a vinho ou cerveja, a gente vai longe. Os cara tem conhecimentos gerais e específicos sobre arte, política, história, biologia e etecéteca e tals. Ele é Phoda mermo!

Nem sempre ando com o Túlio, mas nossos encontros rendem boas resenhas, muitas risadas e presepadas. Gosto demais desse figura. Assim como eu, ele exercita a sensatez, senão a nossa maluquês crônica torna tudo um divertido caos eterno (risos).

Túlio, mano velho, “tu saaaabes”, Patinhas! Que a força sempre esteja com você. Que teu novo ciclo seja ainda mais produtivo, próspero e que tenhas sempre saúde e sucesso junto dos teus amores.

Parabéns pelo teu dia e feliz aniversário!

Elton Tavares

Resenha do livro “Torto Arado”, de Itamar Vieira Júnior – (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

Torto Arado é uma obra recente e publicada pela primeira vez em Portugal. O livro também foi o ganhador do prêmio LeYa em 2018, vindo posteriormente a ser publicado no Brasil. Esta obra de Itamar Vieira Júnior já tem cheiro e jeito de clássico.

O enredo trata das vidas de uma família composta por pessoas fortes. Pretos, mulheres e homens que carregam ainda o orgulho e o fardo de sua ancestralidade. O pai desta família é Zeca chapéu grande, marido da guerreira Salu e, curandeiro que emprestava seu corpo como cavalo nas noites de Jarê, religião de matriz africana, mais especificamente um candomblé de caboclo, exclusivo da Chapada Diamantina. Zeca é filho de Donana, mulher forte que sobreviveu a três maridos e que, transmitia aos seus a força que era evocada nas horas difíceis. Zeca, Salu e Donana são, respectivamente, pai, mãe e avó de Bibiana e Belonísia, personagens que, sob sua ótica, a trama irá se desenrolar. O livro ainda conta com uma terceira personagem narrando, mas disso evitarei falar, pois seria um spoiler bem desagradável.

As irmãs Bibiana e Belonísia cresciam em uma fazenda no interior do sertão brasileiro. Certo dia, as irmãs ainda crianças, mexem em uma mala velha onde sua vó Donana guardava alguns pertences. Lá encontram uma faca que, não era guardada por Donana como um mero souvenir, aquele objeto guardava uma importância e simbologia para aquelas pessoas, mesmo que elas ainda não soubessem disso. A curiosidade das irmãs, mediante ao metal brilhante encontrado na mala, causa um acidente, deixando muda uma das irmãs. Assim, as meninas selam um pacto silencioso, onde uma seria a voz da outra.

O mais interessante neste livro é que ele não precisa em que época a trama se passa. Em algum momento você faz um cálculo, pois, Zeca chapéu nasceu apenas trinta anos após a abolição da escravatura. O mais estarrecedor é que, independente de você se localizar ou não no tempo histórico, você se depara com uma realidade que ainda perdura nos tempos atuais. A família de Zeca chapéu grande morava em uma fazenda chamada Água Negra. As pessoas dessa comunidade viviam em situação análoga à escravidão, não recebiam salário ou alguma folga. Os fazendeiros “cediam” parte da terra para que, quem lá quisesse viver, construísse sua casa e cultivasse seu sustento. Ocorre que, o cobrado em troca era trabalho duro no cultivo das terras do fazendeiro. Moravam em casas de barro, proibidos de construir casas de tijolo, pois assim não se fixariam no local.

Então, de tempos em tempos, tinham que erguer outra casa, pois as enchentes e a ação do tempo, deterioravam as casas de barro. Estas pessoas quase não tinham tempo de cultivar na terra o seu sustento, a vida difícil que consumia a saúde e antecipada a velhice. Passavam por longos períodos secas e enchentes, que se alteravam como uma dança de má sorte. Sorte essa que era pedida que se afastasse através das súplicas aos encantados. E quando conseguiam fazer brotar da terra o que comer, os fazendeiros, através de seus empregados, efetuavam saques nas casas destas pessoas. Em determinado momento, quando há um questionamento sobre a posse da terra, fica muito claro no trecho as injustiças que ainda estão incrustadas em nossa sociedade: “Que chegou um branco colonizador e recebeu dádivas do reino. Chegou outro homem branco e foram dividindo tudo entre eles. Os índios foram sendo afastados, mortos, ou obrigados a trabalhar para esses donos da terra. Depois chegaram os negros de muito longe, para trabalhar no lugar dos índios. Nosso povo que não sabia o caminho de volta para sua terra, foi ficando”. Dentro deste panorama é impossível não lembrar Rosseau quando disse que, “o verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro homem que, tendo cercado um terreno, disse: isso é meu. E encontrou pessoas suficientemente ingênuas para respeita-lo. Quantos crimes, guerras e assassinatos, misérias e horrores teria evitado à humanidade aquele que, arrancando as estacas desta cerca tivesse gritado: não escutem este impostor, pois os frutos são de todos e a terra é de ninguém. “

Somos convidados não só a refletir sobre como se deu de forma injusta a posse de terras, como também perceber essa população que nunca teve permissão da sociedade para sair da escravidão. Índios expulsos de suas terras que se unem aos pretos sequestrados para trabalhar e servir aos ladrões das citadas terras roubadas. Outro trecho que esclarece com muita precisão essa condição : ” Os donos já não podiam ter mais escravos, por causa da Lei, mas precisavam deles. Então, foi assim que passaram a chamar os escravos de trabalhadores e moradores. Não podiam arriscar, fingindo que nada mudou…Passaram a lembrar para seus trabalhadores como eram bons, porque davam abrigo aos pretos sem casa”.

Este livro mostra uma parte esquecida do país que, apesar de fazer parte de suas entranhas, é veementemente desconhecida ou ignorada por uma boa parcela da população. Sei que é incômodo à algumas pessoas, lembrar que, talvez a casa onde mora, o terreno que habitamos, foi roubo em sua origem. Lá no começo, quando o sujeito achou de cercar tudo e acabou por fazer raiva a Rosseau. Ou talvez seja mais incômodo ainda, pensar que boa parte da população preta e indígena se encontram entre os mais pobres por questões que vigoram desde nossa colonização. Mas esse é um povo forte, acostumados ao sofrimento que seus ancestrais e descendentes carregam, tais como bambus que vergam mas não se quebram, carregando através dos tempos sua religião, suas crenças e seus costumes. Teimando em não deixar suas raízes morrerem como vítimas do preconceito.

Não, caro leitor, minha intenção não é deixá-lo deprimido ou culpado, ao contrário, quero que você sinta o que eu senti lendo esta obra, quero ainda, apenas parafrasear Belchior : ” Eu quero é que este canto torto,feito faca, corte a carne de vocês. “

* Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site.

O Craque Dener – Por Marcelo Guido (republicado por conta que hoje, se vivo, o jogador faria 50 anos)

Por Marcelo Guido

Dos campos de terra, ao palco celeste. Os Deuses do futebol conspiram sempre nos terrões localizados nas várzeas, “campos” onde grama é algo raro, surgem talentos natos. Em um desses veio para o mundo da bola o genial Dener.

Negro, baixo, magro como muitos de seus pares, tinha o dom de comandar a pelota como poucos. Esguio, liso como peixe ensaboado, deixava para trás seus adversários, que ficavam a mercê de seu talento como míseros “Joões” sem pai nem mãe.

Dribles desconcertantes foram sua marca maior, tal qual Umbabarauma , o ponta de lança africano de Benjor. Dener era o arquétipo máximo do bom jogador.

Honrou em sua curta passagem pela vida três dos maiores pavilhões do futebol. Portuguesa, Grêmio e Vasco. Deixou boquiaberto o grande Maradona. Don Diego teve sua reestreia no futebol portenho ofuscada pelo desempenho maior do camisa 10 de São Januário.

Foram realmente poucos títulos, a Copinha de 91 pela Lusa, o Gauchão de 93 pelo Tricolor e a Taça Guanabara de 94 pelo Gigante. Mais sua contribuição foi eterna para o espetáculo. Até hoje quem entende um pouco de futebol, não importando a identificação clubística , coloca o garoto do Canindé entre os melhores que já pisaram em um campo de futebol.

Pepe, eterno canhão da Vila, rendeu-se ao Gênio comparando ao incomparável Rei do futebol :“ foi o mais próximo que chegamos de um novo Pelé”. Pegar a bola em uma linha central, sair driblando em zigue-zague com o objetivo máximo de levar a criança para dormir no fundo das redes adversarias era sua constante dentro de campo.

Dener era o suprassumo da coerência futebolística, para ele um drible bonito era sim, mais bonito que um gol. Ele era o espetáculo.

Calou críticos, que ousaram dizer que o campeonato gaúcho era muito pesado para ele, levou o Maracanã ao delírio em um inesquecível Vasco x Fluminense, onde a torcida Vascaína bradou em alto e bom som, “E cafuné , o Dener é a mistura do Garrincha com Pelé”, fez o gol mais bonito já feito no solo sagrado do Canindé , contra a Inter de Limeira, virou musica na voz de Luiz Melodia, “ se vocês querem um conselho vou dar, deixem o menino driblar” e literatura nas mãos de Luciano Ubirajara Nassar autor de “ Dener , o Deus do Drible”.

Sua vida passou como ele passava pelos beques , seu drible mais desconcertante foi com certeza na miséria e sua carreira foi rápida como um raio. Dener Augusto de Sousa deixou órfãos os amantes do bom futebol no dia 19 de abril de 1994, em um fatídico acidente automobilístico na lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.

Talvez o próprio Deus, boquiaberto com tanto talento daquele menino negro, resolveu escala-lo para seu time celeste para o jogo de domingo.

Ficou a história de um dos que, em pouco tempo, provou ser um dos melhores no mundo da bola.

Dener, Deus e Drible, os “D” em caixa alta, atitude mais que correta.

* Marcelo Guido é Jornalista, Pai da Lanna Guido e do Bento Guido. Maridão da Bia.

**Republicado por conta que hoje, se vivo, o jogador faria 50 anos.